PERCEPÇÃO
AMBIENTAL DE AGRICULTORES SOBRE USO SUSTENTÁVEL DO SOLO E OS
RECURSOS HÍDRICOS DO RIO PIANCÓ, POMBAL, PARAÍBA
José
Lucas dos Santos Oliveira1;
Cynthia Arielly Alves de Sousa2;
Marcio Cleber Palmeira3;
Thayanna Maria Medeiros Santos4,
Edevaldo da Silva5
1Mestrando
do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento
e Meio Ambiente pela Universidade Federal da Paraíba e
Especializando em Ecologia e Educação Ambiental na
Universidade Federal de Campina Grande, lucasoliveira.ufcg@gmail.com
2Mestranda
do Programa de Pós-Graduação em Horticultura
Tropical e Especializanda em Ecologia e Educação
Ambiental pela Universidade Federal de Campina Grande,
cynthiaarielly@gmail.com
3Graduando
em Ciências Biológicas, Universidade Federal de Campina
Grande, marciovyda@gmail.com
4Mestranda
do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento
e Meio Ambiente, Universidade Federal da Paraíba,
thayannamdrs@gmail.com
5Professor
do Programa de Pós-Graduação Desenvolvimento e
Meio Ambiente pela Universidade Federal da Paraíba e Professor
Adjunto e Coordenador do Programa de Pós-Graduação
em Ecologia e Educação Ambiental da Universidade
Federal de Campina Grande. UFCG, edevaldos@yahoo.com.br
Resumo:
As
ações antrópicas relacionadas à
exploração intensa dos recursos naturais e o aumento
populacional nas últimas décadas têm contribuído
para a crise ambiental da atualidade. Essa pesquisa objetivou avaliar
a percepção de agricultores residentes as margens do
Rio Piancó, Paraíba quanto aos recursos hídricos
e uso sustentável do solo. Na pesquisa de campo com famílias
de agricultores (n = 8), foi realizada uma entrevista com
questionário com 15 questões subjetivas, além de
17 objetivas, no modelo da escala de Likert, todas relacionadas à
relação dos agricultores, e suas atividades, com uso da
água do rio e do solo. Os dados reportaram que a água
do Rio Piancó é importante para a região, pois,
a partir dela, os agricultores subsistem. Os entrevistados, em boa
parte (63,5%) não se considera agente poluidor do rio,
compreendem que a urbanização compromete a qualidade da
água (62,5%) e sabem qual o órgão é
responsável pela fiscalização do rio (50,0%).
Somente 25,0% faz uso de defensivos naturais nos cultivos, os demais
usam agrotóxicos. Assim,
para a prática de agricultura em todo o perímetro que
margeia o Rio Piancó são necessárias ações
de conservação para mitigar os efeitos das atividades
antrópicas e lançamentos de efluentes que contribuem
para a degradação do rio. Ações de
Educação Ambiental podem sensibilizar os agricultores
para que contribuam com a conservação e preservação
da área, reduzindo o uso de agrotóxicos ou sendo
capacitados para práticas agroecológicas.
Palavras-chave:
Agricultura. Agroecologia. Educação Ambiental.
Abstract:
Anthropogenic actions related to the intense exploitation of natural
resources and the population increase in the last decades have
contributed to a current environmental crisis. This
research aimed to evaluate the perception of resident farmers on the
banks of the Piancó River, Paraíba, about water
resources and sustainable land use. The
research involved farmers' families (n = 8) with a interview
questionnaire with 15 subjective and 17 objective questions in the
Likert scale model, all related to their relation and activities
about use of river water and soil. The data reported that the water
of the Piancó River is important for the region, because from
it the farmers subsist. The interviewees, in part bpa (63.5%) are not
considered polluting agent of the river and understand that
urbanization compromises the quality of water (62.5%) and know which
body is responsible for monitoring the river (50, 0%). Only 25.0% use
natural pesticides in the crops, the others use agrochemicals.
Thus,
for the practice of agriculture around the perimeter that borders the
Piancó River, conservation actions are necessary to mitigate
the effects of anthropic activities and releases of effluents that
contribute to the degradation of the river.
Environmental
education actions can sensitize farmers to contribute to the
preservation of the area, reducing the use of pesticides or being
trained in agroecological practices.
Key
words:
Agriculture. Agroecology. Environmental Education.
Introdução
Diversas
são as insustentabilidades que tem permeado a relação
homem e natureza, gerando impactos ao meio ambiente ocasionadas por
ações antrópicas que degradam de forma intensa
os recursos naturais (SUESS; BEZERRA; SOBRINHO, 2013).
As
atitudes do ser humano com o meio ambiente são definidas a
partir da percepção de cada indivíduo e, essa
percepção, pode ser influenciada por características
pessoais como processos cognitivos e expectativas que irão
refletir nos tipos de comportamentos voltados ao meio ambiente
(COSTA; MAROTI, 2013). Por isso, os indivíduos podem ter
percepções diferentes sobre a mesma realidade.
Embora
a percepção ambiental tenha muitas definições,
de forma geral, pode ser conceituada como a capacidade que o
indivíduo tem de perceber o ambiente que o rodeia por meio da
recepção de estímulos externos (MARIN, 2008).
Contudo, a percepção do indivíduo pode ser
determinada também por influencias socioculturais (GONÇALVES;
GOMES, 2014).
Assim,
o diagnóstico de uma realidade por meio percepção
ambiental pode identificar as fragilidades existentes na relação
do homem com o ambiente, e contribuir para o melhor direcionamento
das ações de Educação Ambiental, buscando
a sensibilização do indivíduo sobre as questões
ambientais (OLIVEIRA; CORONA, 2008).
A
Educação Ambiental no âmbito formal ou não
formal tem sido amplamente discutida em diferentes ambientes, na
busca de estratégias e métodos que propiciem a sua
inclusão na escola e na comunidade e a redução
dos problemas ambientais (OLIVEIRA; JACOBUCCI; JACOBUCCI, 2008).
Por
meio da Educação Ambiental, os sujeitos podem
participar ativamente da construção de soluções
para os problemas que afetam diretamente a comunidade,
contextualizando a realidade local e ampliando a visão sobre o
ambiente e suas relações (ANDRADE et al., 2016).
Dessa
forma, a Educação Ambiental tem muito a contribuir para
a redução dos impactos ambientais aos recursos
hídricos. Visto que, os impactos das ações
antrópicas aos corpos de água em suas nascentes e na
mata ciliar, estão entre os principais problemas que
comprometem a disponibilidade hídrica (GONSALVES; GOMES,
2014).
Os
recursos hídricos são essenciais para a manutenção
da vida e para o desenvolvimento econômico, como a irrigação
de culturas em comunidades rurais (COSTA; MAROTI, 2013). Deste modo,
a sensibilização dos agricultores por meio da Educação
Ambiental pode contribuir para atitudes mais conscientes dos
agricultores com os recursos hídricos e meio ambiente.
A
sub-bacia do Rio Piancó, integra a bacia hidrográfica
Piranhas-Açu, localizada nos estados da Paraíba e Rio
Grande do Norte com capacidade de armazenamento média de
1.846.126.108 m3 (CRISPIM et al., 2015), possuindo
nível de ocupação urbana em estágio
avançado, onde 62,85% de toda a área total da sub-bacia
já foi ocupada (SOUSA et al., 2014), elevando os níveis
de degradação ambiental, principalmente pelo
desenvolvimento de atividades antrópicas (FERREIRA et al.,
2014).
Essa
pesquisa objetivou avaliar a percepção de agricultores
residentes as margens do Rio Piancó, Paraíba quanto aos
recursos hídricos e uso sustentável do solo.
Metodologia
A
pesquisa foi desenvolvida em comunidades ribeirinhas, próximas
ao trecho do Rio Piancó que compreende a zona urbana do
município de Pombal, Paraíba.
O
município de Pombal possui 889,491 Km² e população
estimada de 32.766 habitantes, está localizado no estado da
Paraíba, inserido na Mesorregião do Sertão e
dentro do bioma Caatinga (IBGE, 2017).
Foram
realizadas entrevistas seguindo a sequência de perguntas
dispostas em um questionário, de forma aleatória, a
famílias de agricultores que residiam em comunidades
ribeirinhas às margens do Rio Piancó, Paraíba.
Para as questões em Likert, os itens eram explicados e
mostrados aos entrevistados para melhor compreensão das
questões no momento da entrevista.
O
público alvo foram famílias (n = 8) de agricultores que
usam a água do rio em algum momento durante a sua produção
agrícola e/ou para qualquer outro tipo de uso relacionado à
agricultura.
O
questionário foi constituído de 32 questões
sobre temáticas que envolveram os recursos hídricos e
uso do solo, distribuídas entre questões subjetivas
(15) e objetivas (17). As questões objetivas foram construídas
segundo o modelo da escala de Likert, com cinco níveis de
respostas.
A
análise dos dados coletados nas entrevistas (questionários)
foi realizada de forma qualitativa (questões abertas), com
base na literatura atual e específica na tentativa de analisar
possíveis conhecimentos e práticas dos agricultores
sobre o tema pesquisado. Seguindo os princípios descritos na
metodologia de Campos e Turato (2009), foram realizadas, para algumas
questões abertas, a análise de conteúdo.
As
análises foram de maneira quantitativa (para questões
no modelo em Likert), por meio da estatística descritiva,
calculando a frequência percentual para cada alternativa de
respostas.
Resultados
e Discussão
Os
agricultores entrevistados apresentaram idades variando entre 23 e 72
anos de idade, sendo, 25,0% do gênero feminino e 75,0% do
gênero masculino. Dos entrevistados, 75,0% possui escolaridade
até o ensino fundamental incompleto e, 12,5% ensino médio
completo ou não teve a oportunidade de estudar (12,5%).
A
renda mensal das famílias é de até um salário
mínimo (62,5%), para o sustento médio de três
moradores por cada residência e, dentre esses, 31,8% é
estudante, dona de casa (27,3%), agricultor (18,2%) ou trabalham com
outras atividades (13,6%), os demais não estudam ou estão
desempregados (9,1%).
A maioria dos entrevistados moram as margens do Rio Piancó a
mais de 15 anos (62,5%), apenas 37,5% possui casa própria e
algum tipo de benefício social pelo governo, como bolsa
família (62,5%) ou aposentadoria (12,5%).
A
água do Rio Piancó é utilizada por todos os
entrevistados para atender necessidades domésticas no
cotidiano, como cozinhar, tomar banho, lavar louça e roupa, ou
para o trabalho, usando-a na irrigação. Para beber,
75,0% das famílias usa a água da cisterna proveniente
da chuva, ou compra água purificada (25,0%), a água do
rio só é usada para consumo humano quando existe a
falta de água em épocas de seca visto que o rio é
perene, fazendo uso de cloro como tratamento alternativo para
consumir essa água.
Apesar
dos problemas ambientais existentes nas margens do Rio Piancó
serem percebidos pela comunidade ribeirinha entrevistada, boa parte
(62,5%) não se considera agente poluidor do rio, mas acredita
que o rio pode veicular doenças. Embora existam períodos
de seca que afetam diretamente a produtividade agrícola dessas
famílias, todos os entrevistados se consideram satisfeitos em
morar na região (Tabela 1).
Todos
os agricultores compreendem que o Rio Piancó está
poluído, contudo só 25,0% concorda que a água do
rio pode interferir na produtividade agrícola. Essa percepção
dos agricultores pode ser justificada devido a agricultura ser uma
forma de subsistência dessas famílias no campo.
Tabela
1. Frequência de respostas dos entrevistados sobre aspectos
relacionados a sua relação, características e
qualidade da água do Rio Piancó, Pombal, Paraíba.
Itens
|
Respostas
(%)
|
1
|
2
|
3
|
A
urbanização compromete a qualidade da água
do Rio Piancó
|
37,5
|
62,5
|
0,0
|
Considera
que suas atividades poluem/contaminam o Rio Piancó
|
62,5
|
0,0
|
37,5
|
A
água do Rio Piancó pode veicular doenças
|
0,0
|
0,0
|
100,0
|
O
Rio Piancó está poluído
|
0,0
|
0,0
|
100,0
|
A
água do Rio Piancó é imprópria para
ser usada na agricultura
|
50,0
|
25,0
|
25,0
|
A
água do Rio Piancó pode interferir na produtividade
agrícola
|
50,0
|
25,0
|
25,0
|
Está
satisfeito com a qualidade da água do Rio Piancó
|
62,5
|
37,5
|
0,0
|
Está
satisfeito em morar na região onde vive
|
0,0
|
0,0
|
100,0
|
A
agricultura é uma forma de subsistência no campo
|
0,0
|
12,5
|
87,5
|
Legenda:
1. Discorda totalmente ou discorda; 2. Nem discorda, nem concorda; 3.
Concorda ou concorda totalmente.
Além
disso, o uso da água do Rio Piancó para atender
necessidades humanas torna-se um problema por deixar essas famílias
vulneráveis a contaminantes e microrganismos presentes na água
poluída.
No
que compete a qualidade microbiológica da água do rio,
Lacerda; Silva; Medeiros (2016) identificaram a presença de
elevados níveis de coliformes totais e fecais, o que torna o
uso dessa água imprópria para o consumo humano, podendo
acarretar em doenças na população que faz o uso
da água sem tratamento adequado.
Na
pesquisa de Andrade et al., (2009) também foi identificado
grande quantidade de bactérias patogênicas como
Escherichia
coli
e Vibrio
cholerae, tornando
essa água imprópria para suprir necessidades humanas,
sem tratamento prévio adequado.
Segundo
a pesquisa de Lacerda; Silva e Medeiros (2016), as famílias
que residem aos arredores do Rio Piancó tem conhecimento sobre
o potencial patogênico que a água do rio pode exercer
sobre a saúde humana, citando algumas doenças, que de
acordo com a percepção dos entrevistados, estão
relacionadas a má qualidade da água desse corpo de
água, como diarreia (45,0%) e viroses em geral (15,0%).
Os
agricultores percebem que o Rio Piancó mudou ao longo do
tempo, e que as mudanças comprometeram a qualidade da água
do rio, destacando ações de recuperação e
preservação que poderiam minimizar esses impactos
(Tabela 2).
Tabela
2. Principais mudanças ocorridas no Rio Piancó, Paraíba
percebidas pelos agricultores em sua vivência com o rio, e
principais ações de recuperação e
preservação que poderiam ser desenvolvidas.
Principais
mudanças
|
n
|
Ações
de recuperação e preservação
|
n
|
Aumento
da poluição e contaminação
|
6
|
Limpeza/Não
jogar lixo e produtos químicos
|
7
|
Diminuição
na quantidade de água
|
2
|
Conscientização
das pessoas
|
1
|
Assoreamento
|
1
|
Reflorestamento
da margem
|
1
|
Mudança
na cor da água
|
1
|
Fiscalização
mais eficiente
|
1
|
n:
número de vezes que cada item foi citado pelo entrevistado.
Os
agricultores, apesar dos impactos que causam ao Rio Piancó,
conseguem identificar e perceber mudanças no rio e propor
possíveis soluções para esses problemas. Ou
seja, existe uma lacuna entre o que os agricultores pensam e fazem,
que poderia ser trabalhada por meio de ações
educativas.
A
percepção dos moradores locais sobre as mudanças
causadas ao longo do Rio Piancó é observada em outras
pesquisas, onde os principais impactos citados estiveram relacionados
a construção de granjas as margens do rio, dentre
outras atividades antrópicas, que intensificaram a degradação
da mata ciliar e da vegetação nativa, que em alguns
trechos corresponde a apenas 10% da vegetação original
existente (ARAÚJO et al., 2010).
Extração
de lenha e a expansão de áreas agrícolas
próximas ao Rio Piancó também são outras
atividades antrópicas identificadas na região que
favorecem a degradação do solo e assoreamento do rio
(SOUSA et al., 2014).
Nesse
contexto, diante dos impactos derivados de ações
antrópicas que tem impactado nos recursos hídricos,
esse cenário tem se tornando preocupante, demonstrando a
necessidade de ações de preservação,
principalmente, nas margens dos rios (TORRES et al., 2017).
Metade
dos agricultores afirmaram que o órgão responsável
por fiscalizar e proteger o Rio Piancó é a ANA (Agência
Nacional de Águas), 25,0% acreditam ser o Ibama (Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis)
e outros 25,0% não soube responder a essa pergunta.
A
vivência dos agricultores com o Rio Piancó recebe
influência da presença de órgãos
ambientais que fiscalizam o rio, impondo restrições
para assegurar a disponibilidade de água a todos, evitando que
o rio seja ainda mais degradado.
A
bacia hidrográfica do Rio Piancó-Piranhas-Açu,
compreende dois estados brasileiros, por isso, é considerada
como domínio da União e é regulada pela ANA, que
objetiva, por meio do monitoramento, dentre outros pontos, manter a
qualidade e quantidade de água em padrões satisfatórios
para atender as necessidades dos seus respectivos usos (ANA, 2000).
O
principal motivo que levou os agricultores a trabalhar com a
agricultura foi a atividade ter passado de geração em
geração (50,0%), entretanto, 62,5% deseja que os filhos
estudem para conseguir um emprego melhor e não continuem na
profissão. Se o Rio Piancó deixasse de existir,
secasse, 75,0% dessas famílias afirmaram que a situação
ficaria muito difícil, e que a solução seria
mudar de local. Apenas 25,0% dos entrevistados acredita que o rio não
se manterá para as gerações futuras.
Na
região, a desvalorização das atividades
desenvolvidas pelos agricultores, o pouco retorno financeiro e as
condições de trabalho têm contribuído para
que os agricultores não queiram que seus filhos deem
prosseguimento as atividades ribeirinhas, o que afeta também a
cultura e os costumes locais com a saída das famílias e
jovens para os centros urbanos.
Os
costumes e, principalmente, os bens materiais de pessoas que residem
as margens do Rio Piancó são hereditários e, é
possível observar em algumas localidades que as gerações
mais atuais contribuíram para a modificação da
estrutura física natural em vários níveis ao
entorno do rio (ARAUJO et al., 2010).
Embora,
boa parte dos entrevistados acreditem que nenhuma das suas atividades
possa exercer algum impacto no rio, 37,5% dos agricultores afirmaram
lançar o esgoto das residências diretamente no rio ou a
céu aberto. Essa é uma percepção limitada
sobre os impactos da presença das comunidades ao rio.
Nesse
contexto, Lacerda; Silva e Medeiros (2016) identificaram que cerca de
60% das pessoas entrevistadas na pesquisa sabem que os efluentes são
lançados diretamente no Rio Piancó, sem nenhum
tratamento, e que essas ações contribuem ainda mais
para a degradação do rio.
Os
agricultores que acreditam prejudicar o rio em algum nível
(37,5%), tenderam a associar os impactos ao uso da água para
irrigação, desmatamento, ou ao despejo de lixo no rio,
não percebendo a relação entre o lançamento
de esgotos de suas residências e qualidade da água.
Todos os entrevistados afirmaram nunca ter participado de nenhum
programa ou atividade que tivesse objetivo de preservar ou conservar
o Rio Piancó.
Os
principais cultivos que são produzidos pelos agricultores são:
milho e feijão (24% dos agricultores os produzem); melancia
(13%); alface (12%); banana (8%); cebola (6%) entre outras culturas
cultivadas por 4% dos agricultores (goiaba, manga, acerola, jerimum,
melão, caju, batata e capim). Todos os entrevistados consomem
com frequência os alimentos produzidos utilizando a água
do rio como fonte para irrigação das culturas.
Os
agricultores cultivam diversos tipos de cultura que são
importantes para o sustento financeiro das famílias, bem como,
as necessidades alimentícias, corroborando com a
interdependência existente entre os agricultores e os
benefícios oferecidos pelo rio.
A
agricultura na região é uma das atividades que mais
contribui para o sustento das famílias ribeirinhas,
representando uma renda per capta de R$ 100,00 para uma comunidade
rural localizada as margens do Rio Piancó, e este valor está
acima de benefícios sociais recebidos pelo governo, como a
aposentadoria, por exemplo, que representa renda per capta de R$
60,00 nessa área (ALMEIDA et al., 2010).
Apenas
12,5% dos entrevistados soube conceituar o que é a
agroecologia, definindo-a como uma agricultura sustentável.
Nesse contexto também foi identificado que a relação
predominante dos agricultores com a terra é somente plantar,
não exercendo nenhuma atividade de cuidado da terra.
Este
é um cenário preocupante, pois denota que o agricultor
como homem do campo, tem perdido ao longo do tempo a percepção
da importância da sua relação com a natureza, o
que pode inclusive, ser justificado pelas técnicas degradantes
de produção que muitos deles adotam.
A
maioria nunca percebeu nenhuma interferência da água do
rio na germinação das sementes (75,0%), enquanto que
25,0% acredita que raramente interfere, mas, não souberam
explicar como e em que nível ocorre esta interferência.
Nesse
contexto, é provável que a água do Rio Piancó,
em determinados períodos do ano, apresente nível de
contaminação elevado e, pela falta de chuva, aumente a
carga de contaminantes na água, esse fato pode ter
influenciado em algum nível na germinação de
sementes, sendo percebida por esse percentual de agricultores
entrevistados.
Os
agrotóxicos foram definidos pela maioria dos agricultores como
sendo um tipo de veneno usado nas plantações para matar
as pragas (62,5%), enquanto que 25,0% não soube conceituar, e
apenas 12,5% usou o termo: “defensivos agrícolas”.
Apesar
de apresentar uma maior tendência em caracterizar o agrotóxico
como veneno, poucos agricultores (25,0%) fazem uso de técnica
natural para combater as pragas sem o uso de agrotóxicos, por
meio da utilização da espécie Azadirachta
indica
A.Juss., popularmente conhecida como nem, com finalidade de uso de
inseticida.
É
possível que a facilidade na técnica de produção
com agrotóxicos, bem como a falta de conhecimento e incentivo
sobre técnicas de produção mais sustentáveis
tenha influenciado esses agricultores ao uso de agrotóxicos
nos seus métodos de cultivo.
Na
pesquisa de Sobrinho e Mota (2016), os agricultores afirmaram ter
alcançado bons resultados após o uso da A.
indica,
como defensivo natural para o controle biológico, visto que,
95% desses entrevistados faziam uso de defensivos agrícolas
sintéticos.
Sendo
assim, a Agroecologia se faz importante, pois pode articular
incentivos e métodos de produção que façam
uso desses defensivos naturais. Considerando ainda que há
notadamente um crescimento na preferência dos consumidores por
alimentos que sejam mais saudáveis e que façam menos
uso de agrotóxicos na produção dos alimentos,
como também dos benefícios ambientais adquiridos nesse
método de produção (FERNANDES, 2006).
Foram
citados três tipos de agrotóxicos comprados em farmácias
veterinárias no município de Pombal, Paraíba,
onde recebem as instruções de uso, utilizados nos
cultivos pelos agricultores: U46 BR (herbicida – classe
toxicológica III), Decis 25 EC (inseticida – classe
toxicológica III) e ACTARA 250 WG (inseticida – classe
toxicológica I).
A
aplicação dos agrotóxicos é realizada a
cada 8 ou 15 dias, borrifando a substância sobre as culturas. A
compra desses agrotóxicos é realizada em farmácias
veterinárias do município de Pombal, por qualquer
agricultor, sem restrições de venda.
Os
agrotóxicos vêm causados problemas ambientais diversos,
como também a saúde humana, esses impactos estão
relacionados, principalmente, com o uso inadequado que visa
exclusivamente obter lucros com a produção da lavoura
(SANTOS TMM et al., 2017).
Dessa
forma, embora o uso dos agrotóxicos constitui importante
estratégia para a produção agrícola no
contexto econômico, ações de Educação
Ambiental são necessárias para que se possa repensar
esse modo de ver e perceber também os impactos gerados a
natureza (NUNES; SIMÕES, 2012).
Conclusão
É
veemente a necessidade de ações locais visando a
conservação e preservação do Rio Piancó,
além disso, a Educação Ambiental pode
sensibilizar os agricultores em atitudes de cuidado com o rio e, por
meio da Agroecologia é possível que os métodos
de produção se tornem mais sustentáveis e menos
degradantes.
Ações
de Educação de Ambiental com os agricultores são
necessárias, visando melhores práticas agrícolas
e consequentemente uma minimização da contaminação
do solo e do rio por metais e agrotóxicos.
Essa
pesquisa fornece diagnóstico das vulnerabilidades presentes na
comunidade estudada e, pode servir de base para que órgãos
públicos e organizações sociais possam atuar na
área.
É
veemente a necessidade de ações locais visando a
conservação e preservação do Rio Piancó,
além disso, a Educação Ambiental pode
sensibilizar
Agradecimento
À
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (CAPES) pela concessão de bolsas de
estudos de mestrado.
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