PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE AGRICULTORES SOBRE USO SUSTENTÁVEL DO SOLO E OS RECURSOS HÍDRICOS DO RIO PIANCÓ, POMBAL, PARAÍBA



José Lucas dos Santos Oliveira1; Cynthia Arielly Alves de Sousa2; Marcio Cleber Palmeira3; Thayanna Maria Medeiros Santos4, Edevaldo da Silva5



1Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal da Paraíba e Especializando em Ecologia e Educação Ambiental na Universidade Federal de Campina Grande, lucasoliveira.ufcg@gmail.com

2Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Horticultura Tropical e Especializanda em Ecologia e Educação Ambiental pela Universidade Federal de Campina Grande, cynthiaarielly@gmail.com

3Graduando em Ciências Biológicas, Universidade Federal de Campina Grande, marciovyda@gmail.com

4Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Federal da Paraíba, thayannamdrs@gmail.com

5Professor do Programa de Pós-Graduação Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal da Paraíba e Professor Adjunto e Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Educação Ambiental da Universidade Federal de Campina Grande. UFCG, edevaldos@yahoo.com.br



Resumo: As ações antrópicas relacionadas à exploração intensa dos recursos naturais e o aumento populacional nas últimas décadas têm contribuído para a crise ambiental da atualidade. Essa pesquisa objetivou avaliar a percepção de agricultores residentes as margens do Rio Piancó, Paraíba quanto aos recursos hídricos e uso sustentável do solo. Na pesquisa de campo com famílias de agricultores (n = 8), foi realizada uma entrevista com questionário com 15 questões subjetivas, além de 17 objetivas, no modelo da escala de Likert, todas relacionadas à relação dos agricultores, e suas atividades, com uso da água do rio e do solo. Os dados reportaram que a água do Rio Piancó é importante para a região, pois, a partir dela, os agricultores subsistem. Os entrevistados, em boa parte (63,5%) não se considera agente poluidor do rio, compreendem que a urbanização compromete a qualidade da água (62,5%) e sabem qual o órgão é responsável pela fiscalização do rio (50,0%). Somente 25,0% faz uso de defensivos naturais nos cultivos, os demais usam agrotóxicos. Assim, para a prática de agricultura em todo o perímetro que margeia o Rio Piancó são necessárias ações de conservação para mitigar os efeitos das atividades antrópicas e lançamentos de efluentes que contribuem para a degradação do rio. Ações de Educação Ambiental podem sensibilizar os agricultores para que contribuam com a conservação e preservação da área, reduzindo o uso de agrotóxicos ou sendo capacitados para práticas agroecológicas.



Palavras-chave: Agricultura. Agroecologia. Educação Ambiental.



Abstract: Anthropogenic actions related to the intense exploitation of natural resources and the population increase in the last decades have contributed to a current environmental crisis. This research aimed to evaluate the perception of resident farmers on the banks of the Piancó River, Paraíba, about water resources and sustainable land use. The research involved farmers' families (n = 8) with a interview questionnaire with 15 subjective and 17 objective questions in the Likert scale model, all related to their relation and activities about use of river water and soil. The data reported that the water of the Piancó River is important for the region, because from it the farmers subsist. The interviewees, in part bpa (63.5%) are not considered polluting agent of the river and understand that urbanization compromises the quality of water (62.5%) and know which body is responsible for monitoring the river (50, 0%). Only 25.0% use natural pesticides in the crops, the others use agrochemicals. Thus, for the practice of agriculture around the perimeter that borders the Piancó River, conservation actions are necessary to mitigate the effects of anthropic activities and releases of effluents that contribute to the degradation of the river. Environmental education actions can sensitize farmers to contribute to the preservation of the area, reducing the use of pesticides or being trained in agroecological practices.



Key words: Agriculture. Agroecology. Environmental Education.



Introdução

Diversas são as insustentabilidades que tem permeado a relação homem e natureza, gerando impactos ao meio ambiente ocasionadas por ações antrópicas que degradam de forma intensa os recursos naturais (SUESS; BEZERRA; SOBRINHO, 2013).

As atitudes do ser humano com o meio ambiente são definidas a partir da percepção de cada indivíduo e, essa percepção, pode ser influenciada por características pessoais como processos cognitivos e expectativas que irão refletir nos tipos de comportamentos voltados ao meio ambiente (COSTA; MAROTI, 2013). Por isso, os indivíduos podem ter percepções diferentes sobre a mesma realidade.

Embora a percepção ambiental tenha muitas definições, de forma geral, pode ser conceituada como a capacidade que o indivíduo tem de perceber o ambiente que o rodeia por meio da recepção de estímulos externos (MARIN, 2008). Contudo, a percepção do indivíduo pode ser determinada também por influencias socioculturais (GONÇALVES; GOMES, 2014).

Assim, o diagnóstico de uma realidade por meio percepção ambiental pode identificar as fragilidades existentes na relação do homem com o ambiente, e contribuir para o melhor direcionamento das ações de Educação Ambiental, buscando a sensibilização do indivíduo sobre as questões ambientais (OLIVEIRA; CORONA, 2008).

A Educação Ambiental no âmbito formal ou não formal tem sido amplamente discutida em diferentes ambientes, na busca de estratégias e métodos que propiciem a sua inclusão na escola e na comunidade e a redução dos problemas ambientais (OLIVEIRA; JACOBUCCI; JACOBUCCI, 2008).

Por meio da Educação Ambiental, os sujeitos podem participar ativamente da construção de soluções para os problemas que afetam diretamente a comunidade, contextualizando a realidade local e ampliando a visão sobre o ambiente e suas relações (ANDRADE et al., 2016).

Dessa forma, a Educação Ambiental tem muito a contribuir para a redução dos impactos ambientais aos recursos hídricos. Visto que, os impactos das ações antrópicas aos corpos de água em suas nascentes e na mata ciliar, estão entre os principais problemas que comprometem a disponibilidade hídrica (GONSALVES; GOMES, 2014).

Os recursos hídricos são essenciais para a manutenção da vida e para o desenvolvimento econômico, como a irrigação de culturas em comunidades rurais (COSTA; MAROTI, 2013). Deste modo, a sensibilização dos agricultores por meio da Educação Ambiental pode contribuir para atitudes mais conscientes dos agricultores com os recursos hídricos e meio ambiente.

A sub-bacia do Rio Piancó, integra a bacia hidrográfica Piranhas-Açu, localizada nos estados da Paraíba e Rio Grande do Norte com capacidade de armazenamento média de 1.846.126.108 m3 (CRISPIM et al., 2015), possuindo nível de ocupação urbana em estágio avançado, onde 62,85% de toda a área total da sub-bacia já foi ocupada (SOUSA et al., 2014), elevando os níveis de degradação ambiental, principalmente pelo desenvolvimento de atividades antrópicas (FERREIRA et al., 2014).

Essa pesquisa objetivou avaliar a percepção de agricultores residentes as margens do Rio Piancó, Paraíba quanto aos recursos hídricos e uso sustentável do solo.



Metodologia

A pesquisa foi desenvolvida em comunidades ribeirinhas, próximas ao trecho do Rio Piancó que compreende a zona urbana do município de Pombal, Paraíba.

O município de Pombal possui 889,491 Km² e população estimada de 32.766 habitantes, está localizado no estado da Paraíba, inserido na Mesorregião do Sertão e dentro do bioma Caatinga (IBGE, 2017).

Foram realizadas entrevistas seguindo a sequência de perguntas dispostas em um questionário, de forma aleatória, a famílias de agricultores que residiam em comunidades ribeirinhas às margens do Rio Piancó, Paraíba. Para as questões em Likert, os itens eram explicados e mostrados aos entrevistados para melhor compreensão das questões no momento da entrevista.

O público alvo foram famílias (n = 8) de agricultores que usam a água do rio em algum momento durante a sua produção agrícola e/ou para qualquer outro tipo de uso relacionado à agricultura.

O questionário foi constituído de 32 questões sobre temáticas que envolveram os recursos hídricos e uso do solo, distribuídas entre questões subjetivas (15) e objetivas (17). As questões objetivas foram construídas segundo o modelo da escala de Likert, com cinco níveis de respostas.

A análise dos dados coletados nas entrevistas (questionários) foi realizada de forma qualitativa (questões abertas), com base na literatura atual e específica na tentativa de analisar possíveis conhecimentos e práticas dos agricultores sobre o tema pesquisado. Seguindo os princípios descritos na metodologia de Campos e Turato (2009), foram realizadas, para algumas questões abertas, a análise de conteúdo.

As análises foram de maneira quantitativa (para questões no modelo em Likert), por meio da estatística descritiva, calculando a frequência percentual para cada alternativa de respostas.



Resultados e Discussão

Os agricultores entrevistados apresentaram idades variando entre 23 e 72 anos de idade, sendo, 25,0% do gênero feminino e 75,0% do gênero masculino. Dos entrevistados, 75,0% possui escolaridade até o ensino fundamental incompleto e, 12,5% ensino médio completo ou não teve a oportunidade de estudar (12,5%).

A renda mensal das famílias é de até um salário mínimo (62,5%), para o sustento médio de três moradores por cada residência e, dentre esses, 31,8% é estudante, dona de casa (27,3%), agricultor (18,2%) ou trabalham com outras atividades (13,6%), os demais não estudam ou estão desempregados (9,1%).

A maioria dos entrevistados moram as margens do Rio Piancó a mais de 15 anos (62,5%), apenas 37,5% possui casa própria e algum tipo de benefício social pelo governo, como bolsa família (62,5%) ou aposentadoria (12,5%).

A água do Rio Piancó é utilizada por todos os entrevistados para atender necessidades domésticas no cotidiano, como cozinhar, tomar banho, lavar louça e roupa, ou para o trabalho, usando-a na irrigação. Para beber, 75,0% das famílias usa a água da cisterna proveniente da chuva, ou compra água purificada (25,0%), a água do rio só é usada para consumo humano quando existe a falta de água em épocas de seca visto que o rio é perene, fazendo uso de cloro como tratamento alternativo para consumir essa água.

Apesar dos problemas ambientais existentes nas margens do Rio Piancó serem percebidos pela comunidade ribeirinha entrevistada, boa parte (62,5%) não se considera agente poluidor do rio, mas acredita que o rio pode veicular doenças. Embora existam períodos de seca que afetam diretamente a produtividade agrícola dessas famílias, todos os entrevistados se consideram satisfeitos em morar na região (Tabela 1).

Todos os agricultores compreendem que o Rio Piancó está poluído, contudo só 25,0% concorda que a água do rio pode interferir na produtividade agrícola. Essa percepção dos agricultores pode ser justificada devido a agricultura ser uma forma de subsistência dessas famílias no campo.

Tabela 1. Frequência de respostas dos entrevistados sobre aspectos relacionados a sua relação, características e qualidade da água do Rio Piancó, Pombal, Paraíba.

Itens

Respostas (%)

1

2

3

A urbanização compromete a qualidade da água do Rio Piancó

37,5

62,5

0,0

Considera que suas atividades poluem/contaminam o Rio Piancó

62,5

0,0

37,5

A água do Rio Piancó pode veicular doenças

0,0

0,0

100,0

O Rio Piancó está poluído

0,0

0,0

100,0

A água do Rio Piancó é imprópria para ser usada na agricultura

50,0

25,0

25,0

A água do Rio Piancó pode interferir na produtividade agrícola

50,0

25,0

25,0

Está satisfeito com a qualidade da água do Rio Piancó

62,5

37,5

0,0

Está satisfeito em morar na região onde vive

0,0

0,0

100,0

A agricultura é uma forma de subsistência no campo

0,0

12,5

87,5

Legenda: 1. Discorda totalmente ou discorda; 2. Nem discorda, nem concorda; 3. Concorda ou concorda totalmente.

Além disso, o uso da água do Rio Piancó para atender necessidades humanas torna-se um problema por deixar essas famílias vulneráveis a contaminantes e microrganismos presentes na água poluída.

No que compete a qualidade microbiológica da água do rio, Lacerda; Silva; Medeiros (2016) identificaram a presença de elevados níveis de coliformes totais e fecais, o que torna o uso dessa água imprópria para o consumo humano, podendo acarretar em doenças na população que faz o uso da água sem tratamento adequado.

Na pesquisa de Andrade et al., (2009) também foi identificado grande quantidade de bactérias patogênicas como Escherichia coli e Vibrio cholerae, tornando essa água imprópria para suprir necessidades humanas, sem tratamento prévio adequado.

Segundo a pesquisa de Lacerda; Silva e Medeiros (2016), as famílias que residem aos arredores do Rio Piancó tem conhecimento sobre o potencial patogênico que a água do rio pode exercer sobre a saúde humana, citando algumas doenças, que de acordo com a percepção dos entrevistados, estão relacionadas a má qualidade da água desse corpo de água, como diarreia (45,0%) e viroses em geral (15,0%).

Os agricultores percebem que o Rio Piancó mudou ao longo do tempo, e que as mudanças comprometeram a qualidade da água do rio, destacando ações de recuperação e preservação que poderiam minimizar esses impactos (Tabela 2).

Tabela 2. Principais mudanças ocorridas no Rio Piancó, Paraíba percebidas pelos agricultores em sua vivência com o rio, e principais ações de recuperação e preservação que poderiam ser desenvolvidas.

Principais mudanças

n

Ações de recuperação e preservação

n

Aumento da poluição e contaminação

6

Limpeza/Não jogar lixo e produtos químicos

7

Diminuição na quantidade de água

2

Conscientização das pessoas

1

Assoreamento

1

Reflorestamento da margem

1

Mudança na cor da água

1

Fiscalização mais eficiente

1

n: número de vezes que cada item foi citado pelo entrevistado.



Os agricultores, apesar dos impactos que causam ao Rio Piancó, conseguem identificar e perceber mudanças no rio e propor possíveis soluções para esses problemas. Ou seja, existe uma lacuna entre o que os agricultores pensam e fazem, que poderia ser trabalhada por meio de ações educativas.

A percepção dos moradores locais sobre as mudanças causadas ao longo do Rio Piancó é observada em outras pesquisas, onde os principais impactos citados estiveram relacionados a construção de granjas as margens do rio, dentre outras atividades antrópicas, que intensificaram a degradação da mata ciliar e da vegetação nativa, que em alguns trechos corresponde a apenas 10% da vegetação original existente (ARAÚJO et al., 2010).

Extração de lenha e a expansão de áreas agrícolas próximas ao Rio Piancó também são outras atividades antrópicas identificadas na região que favorecem a degradação do solo e assoreamento do rio (SOUSA et al., 2014).

Nesse contexto, diante dos impactos derivados de ações antrópicas que tem impactado nos recursos hídricos, esse cenário tem se tornando preocupante, demonstrando a necessidade de ações de preservação, principalmente, nas margens dos rios (TORRES et al., 2017).

Metade dos agricultores afirmaram que o órgão responsável por fiscalizar e proteger o Rio Piancó é a ANA (Agência Nacional de Águas), 25,0% acreditam ser o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e outros 25,0% não soube responder a essa pergunta.

A vivência dos agricultores com o Rio Piancó recebe influência da presença de órgãos ambientais que fiscalizam o rio, impondo restrições para assegurar a disponibilidade de água a todos, evitando que o rio seja ainda mais degradado.

A bacia hidrográfica do Rio Piancó-Piranhas-Açu, compreende dois estados brasileiros, por isso, é considerada como domínio da União e é regulada pela ANA, que objetiva, por meio do monitoramento, dentre outros pontos, manter a qualidade e quantidade de água em padrões satisfatórios para atender as necessidades dos seus respectivos usos (ANA, 2000).

O principal motivo que levou os agricultores a trabalhar com a agricultura foi a atividade ter passado de geração em geração (50,0%), entretanto, 62,5% deseja que os filhos estudem para conseguir um emprego melhor e não continuem na profissão. Se o Rio Piancó deixasse de existir, secasse, 75,0% dessas famílias afirmaram que a situação ficaria muito difícil, e que a solução seria mudar de local. Apenas 25,0% dos entrevistados acredita que o rio não se manterá para as gerações futuras.

Na região, a desvalorização das atividades desenvolvidas pelos agricultores, o pouco retorno financeiro e as condições de trabalho têm contribuído para que os agricultores não queiram que seus filhos deem prosseguimento as atividades ribeirinhas, o que afeta também a cultura e os costumes locais com a saída das famílias e jovens para os centros urbanos.

Os costumes e, principalmente, os bens materiais de pessoas que residem as margens do Rio Piancó são hereditários e, é possível observar em algumas localidades que as gerações mais atuais contribuíram para a modificação da estrutura física natural em vários níveis ao entorno do rio (ARAUJO et al., 2010).

Embora, boa parte dos entrevistados acreditem que nenhuma das suas atividades possa exercer algum impacto no rio, 37,5% dos agricultores afirmaram lançar o esgoto das residências diretamente no rio ou a céu aberto. Essa é uma percepção limitada sobre os impactos da presença das comunidades ao rio.

Nesse contexto, Lacerda; Silva e Medeiros (2016) identificaram que cerca de 60% das pessoas entrevistadas na pesquisa sabem que os efluentes são lançados diretamente no Rio Piancó, sem nenhum tratamento, e que essas ações contribuem ainda mais para a degradação do rio.

Os agricultores que acreditam prejudicar o rio em algum nível (37,5%), tenderam a associar os impactos ao uso da água para irrigação, desmatamento, ou ao despejo de lixo no rio, não percebendo a relação entre o lançamento de esgotos de suas residências e qualidade da água. Todos os entrevistados afirmaram nunca ter participado de nenhum programa ou atividade que tivesse objetivo de preservar ou conservar o Rio Piancó.

Os principais cultivos que são produzidos pelos agricultores são: milho e feijão (24% dos agricultores os produzem); melancia (13%); alface (12%); banana (8%); cebola (6%) entre outras culturas cultivadas por 4% dos agricultores (goiaba, manga, acerola, jerimum, melão, caju, batata e capim). Todos os entrevistados consomem com frequência os alimentos produzidos utilizando a água do rio como fonte para irrigação das culturas.

Os agricultores cultivam diversos tipos de cultura que são importantes para o sustento financeiro das famílias, bem como, as necessidades alimentícias, corroborando com a interdependência existente entre os agricultores e os benefícios oferecidos pelo rio.

A agricultura na região é uma das atividades que mais contribui para o sustento das famílias ribeirinhas, representando uma renda per capta de R$ 100,00 para uma comunidade rural localizada as margens do Rio Piancó, e este valor está acima de benefícios sociais recebidos pelo governo, como a aposentadoria, por exemplo, que representa renda per capta de R$ 60,00 nessa área (ALMEIDA et al., 2010).

Apenas 12,5% dos entrevistados soube conceituar o que é a agroecologia, definindo-a como uma agricultura sustentável. Nesse contexto também foi identificado que a relação predominante dos agricultores com a terra é somente plantar, não exercendo nenhuma atividade de cuidado da terra.

Este é um cenário preocupante, pois denota que o agricultor como homem do campo, tem perdido ao longo do tempo a percepção da importância da sua relação com a natureza, o que pode inclusive, ser justificado pelas técnicas degradantes de produção que muitos deles adotam.

A maioria nunca percebeu nenhuma interferência da água do rio na germinação das sementes (75,0%), enquanto que 25,0% acredita que raramente interfere, mas, não souberam explicar como e em que nível ocorre esta interferência.

Nesse contexto, é provável que a água do Rio Piancó, em determinados períodos do ano, apresente nível de contaminação elevado e, pela falta de chuva, aumente a carga de contaminantes na água, esse fato pode ter influenciado em algum nível na germinação de sementes, sendo percebida por esse percentual de agricultores entrevistados.

Os agrotóxicos foram definidos pela maioria dos agricultores como sendo um tipo de veneno usado nas plantações para matar as pragas (62,5%), enquanto que 25,0% não soube conceituar, e apenas 12,5% usou o termo: “defensivos agrícolas”.

Apesar de apresentar uma maior tendência em caracterizar o agrotóxico como veneno, poucos agricultores (25,0%) fazem uso de técnica natural para combater as pragas sem o uso de agrotóxicos, por meio da utilização da espécie Azadirachta indica A.Juss., popularmente conhecida como nem, com finalidade de uso de inseticida.

É possível que a facilidade na técnica de produção com agrotóxicos, bem como a falta de conhecimento e incentivo sobre técnicas de produção mais sustentáveis tenha influenciado esses agricultores ao uso de agrotóxicos nos seus métodos de cultivo.

Na pesquisa de Sobrinho e Mota (2016), os agricultores afirmaram ter alcançado bons resultados após o uso da A. indica, como defensivo natural para o controle biológico, visto que, 95% desses entrevistados faziam uso de defensivos agrícolas sintéticos.

Sendo assim, a Agroecologia se faz importante, pois pode articular incentivos e métodos de produção que façam uso desses defensivos naturais. Considerando ainda que há notadamente um crescimento na preferência dos consumidores por alimentos que sejam mais saudáveis e que façam menos uso de agrotóxicos na produção dos alimentos, como também dos benefícios ambientais adquiridos nesse método de produção (FERNANDES, 2006).

Foram citados três tipos de agrotóxicos comprados em farmácias veterinárias no município de Pombal, Paraíba, onde recebem as instruções de uso, utilizados nos cultivos pelos agricultores: U46 BR (herbicida – classe toxicológica III), Decis 25 EC (inseticida – classe toxicológica III) e ACTARA 250 WG (inseticida – classe toxicológica I).

A aplicação dos agrotóxicos é realizada a cada 8 ou 15 dias, borrifando a substância sobre as culturas. A compra desses agrotóxicos é realizada em farmácias veterinárias do município de Pombal, por qualquer agricultor, sem restrições de venda.

Os agrotóxicos vêm causados problemas ambientais diversos, como também a saúde humana, esses impactos estão relacionados, principalmente, com o uso inadequado que visa exclusivamente obter lucros com a produção da lavoura (SANTOS TMM et al., 2017).

Dessa forma, embora o uso dos agrotóxicos constitui importante estratégia para a produção agrícola no contexto econômico, ações de Educação Ambiental são necessárias para que se possa repensar esse modo de ver e perceber também os impactos gerados a natureza (NUNES; SIMÕES, 2012).



Conclusão

É veemente a necessidade de ações locais visando a conservação e preservação do Rio Piancó, além disso, a Educação Ambiental pode sensibilizar os agricultores em atitudes de cuidado com o rio e, por meio da Agroecologia é possível que os métodos de produção se tornem mais sustentáveis e menos degradantes.

Ações de Educação de Ambiental com os agricultores são necessárias, visando melhores práticas agrícolas e consequentemente uma minimização da contaminação do solo e do rio por metais e agrotóxicos.

Essa pesquisa fornece diagnóstico das vulnerabilidades presentes na comunidade estudada e, pode servir de base para que órgãos públicos e organizações sociais possam atuar na área.

É veemente a necessidade de ações locais visando a conservação e preservação do Rio Piancó, além disso, a Educação Ambiental pode sensibilizar



Agradecimento

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela concessão de bolsas de estudos de mestrado.



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