MUNDO
AGRÁRIO BRASILEIRO E A GLOBALIZAÇÃO GENERALIZADA
Willian
Viera da Silva
Resumo:
Este
artigo trata das transformações do mundo agrário
brasileiro tendo em vista os apontamentos do sociólogo Octavio
Ianni. Segundo o autor, a globalização generalizada
ocorrida na virada do século XX e XXI obrigou
involuntariamente o sujeito do campo a se adaptar à nova
conjuntura do capitalismo global. Este novo senário provocou
uma desigualdade no campo em relação à cidade.
Palavras-chave:
Campo. Brasil. Globalização. Impactos.
Abstract:
This article deals with the transformations of the Brazilian agrarian
world in view of the notes of the sociologist Octavio Ianni.
According to the author, the generalized globalization that took
place at the turn of the XX and XXI century involuntarily forced the
rural subject to adapt to the new conjuncture of global capitalism.
This new senate provoked an inequality in the field with respect to
the city.
Introdução
O
mundo agrário brasileiro desde a revolução verde
iniciada nos anos sessenta no Brasil, passa por transformações
que acabaram resultando na desigualdade do campo em relação
a vida na cidade. A agricultura artesanal foi sendo gradativamente
substituída pela agricultura industrial buscando aumentar a
produção para atender os interesses do mercado global.
As famílias camponesas que não conseguiram ou não
podiam mecanizar sua produção, foram gradativamente
sendo excluídas da lógica do capital.
De
acordo com Octávio Ianni (1997), oriunda do desenvolvimento do
sistema capitalista, a globalização generalizada,
transformou os espaços das cidades e do campo. Para o autor,
“na base da globalização está o
desenvolvimento extensivo do capitalismo no mundo” (IANNI,
Octávio, 1997, p.37). Este desenvolvimento altera a relação
entre as forças produtivas e consequentemente modifica os
espaços por elas incorporados.
Neste
sentido, o campo vai gradativamente perdendo suas características
primárias de outrora e adquirindo uma nova configuração
que altera não somente o espaço, mas também a
forma de se cultivar e produzir. Sobre isso Ianni (1997) afirma:
[...]
à medida que se desenvolvem e generalizam, as forças
produtivas e as relações de produção
capitalistas assinalam condições, tendências,
modos de produzir e reproduzir material e espiritualmente. A própria
cultura de massa, de origem material e espiritual, espalha-se por
todos os cantos e recantos. Modos de vestir, falar, agir, pensar,
lutar, imaginar são impregnados de signos do mundo urbano, da
cidade global. O que permanece é o bucólico, a
nostalgia da natureza, a utopia da comunidade agrária,
camponesa, tribal, indígena, passada, pretérita,
remota, imaginária. (1997, p. 56).
Portanto,
o campo vai deixando de ser o lugar da vida simples, da produção
artesanal, do tempo natural e vai se transformando em nova fonte de
renda e de lucro a serviço do capital financeiro. Não
se vive para satisfazer a necessidades básicas da família
e da comunidade, e sim, para atender ao mercado urbano e global. Aos
sujeitos que não conseguem acompanhar estas transformações
consequentemente estão condenados a viverem submissos às
cidades.
Nesse
contexto, como destaca Ianni (1997), “o mundo agrário
descresse de importância ou simplesmente deixa de existir, se
trata de avaliar sua importância na organização e
dinâmica das sociedades nacionais e da sociedade global”
(Ianni, Octávio, 1997, p. 40).
No
entanto, é evidente que o campo não irá
desaparecer de forma geral como se as novas forças produtivas
o exterminassem, como salienta o próprio autor, “é
claro que o mundo agrário continua a existir, estar presente e
até mesmo revelar-se indispensável, mas diverso,
transformado, transfigurado” (IANNI, Octávio, 1997, p.
40). Porém, o arado manual perde espaço para o
mecânico, o irrigador para os sistemas mecânicos de
irrigação, as enxadas para os tratores, os braços
pelos robores.
Ao
fazermos uma reflexão prática, de fato, estas
substituições produtivas vão promover o aumento
da produção e consequentemente o barateamento dos
produtos, seria ótimo para alimentar a humanidade, no entanto,
nem todo o produtor rural tem incentivo e verba para acompanhar o
processo de mudança. O que se tem na maioria dos casos é
o aumento da desigualdade social no campo em relação à
cidade.
Nessa
perspectiva, o sistema capitalista encontra-se representado pela
criação das empresas urbanas que vão monopolizar
e gerir o processo produtivo, obrigando os camponeses a se adequarem
as suas exigências de mercado. Sobre isso, Ianni (1997)
ressalta:
[...]
ocorre que o mundo agrário já esta tecido e emaranhado
pela atuação das empresas, corporações e
conglomerados agroindustriais. São núcleos ativos e
predominantes, articulando atividades produtivas e mercados,
geopolíticas mercantis e marketings, modalidades de produtos e
ondas de consumismo. Ainda que subsistam e se recriem as mais
diversas modalidades de organização do trabalho e
produção, muito do que se faz no mundo agrário
está formal ou realmente subsumindo pelo grande capital
flutuando pelo mundo afora. (IANNI, Octávio, 1997, p. 40).
O
que se busca nessa lógica produtiva é quase que
exclusivamente o lucro e não a qualidade do produto. Evidente
que classificamos como qualidade do produto o fato do mesmo
contribuir para o bom funcionamento do corpo humano, ou seja, a saúde
humana e não os aspectos físicos e nem sua durabilidade
da mercadoria.
Entrevistas
realizadas com produtores rurais revelou que tempos atrás,
aproximadamente uns trinta anos, uma vaca cuidada de forma artesanal
produzia cerca de vinte litros de leite diários. Hoje em dia,
devido a mecanização do meio rural, buscando atender os
interesses do mercado global uma vaca chega produzir aproximadamente
cem litros diários. A questão é, como isso é
possível? Segundo Ianni 1997:
[...]
conhecimentos científicos que se traduzem em tecnologias no
âmbito da indústria. Esta provoca frequentes surtos de
tecnificação de processos de trabalho e produção,
mobilizando conhecimentos das ciências físico-naturais e
sociais. Aí está a origem da maquinização
e quimificação que se intensificam e generalizam nas
atividades agropecuárias, na industrialização do
mundo agrário. (IANNI, Octávio, 1997, p.49).
Porém,
o preço a pagar é colocar a saúde em risco
devido aos efeitos nocivos que a maquinização e
quimificação dos gêneros alimentícios
causam a saúde humana. Para efeito de análise, o autor
elenca os diversos tipos de modernização do campo
decorrente da generalização da globalização
capitalista.
[...]
também a informática invade esse mundo. Os meios de
comunicação generalizam-se pelas mais diversas
atividades. O computador, o fax, o telefone celular, a internet e
outras tecnologias são incorporados na produção
e comercialização. Mesmo sem desmontar do cavalo, em
meio ao rebanho, o pecuarista abre o alforje e retira o lap-top, um
indispensável computador portátil. Registra ali a
situação do gado consulta via satélite as
condições climáticas e fica sabendo os preços
da carne nos mercados nacionais e mundial. Depois saca o telefone e
determina ao interlocutor o fechamento de operações de
compra e venda de soja. A visão futurística do
empresário rural retrata a presença da informática
no agribusiness. (IANNI, Octávio, 1997, p. 50).
Portanto,
mesmo “sem querer”, o produtor incorpora toda essa
evolução tecnológica e transforma meio que de
forma “cociente” todo espaço do campo. A questão
é, e aos pequenos produtores que por diversos motivos como,
falta de recursos financeiros, matérias e os muitas vezes
sujeitos a variações climáticas desfavoráveis
se enquadram neste novo cenário? A resposta está na
cidade. Favelização urbana e desemprego.
O
pequeno produtor de antes que não conseguiu acompanhar o
“progresso” do campo, encontra como única opção
para não viver na miséria e escassez no campo, a busca
de uma nova vida na cidade, totalmente fora do contexto social a qual
viveu a maior parte da sua vida.
Ao
se deparar com o mundo novo urbano, encontram nesse mesmo espaço,
as tecnologias que já usara no campo, porém, desta vez
num cenário totalmente montado para fora da sua realidade de
vida. E o que discutiremos no outro capitulo ao falar da fome.
Desenvolvimento
Capitalismo
e Desigualdade
Há
tempos nos debates historiográficos, se discute a
responsabilidade do sistema econômico capitalista sobre a
desigualdade entre os povos. Os fundamentos de sustentação
do capitalismo – liberdade total dos mercados, preservação
da propriedade privada, livre concorrência, lucro/concentração
de riquezas – são responsáveis pela disseminação
da pobreza no mundo contemporâneo. Sobre isso Piketty (2013)
afirma que:
Quando
a taxa de remuneração do capital ultrapassa a taxa de
crescimento da produção e da renda, como ocorreu no
século XIX e parece provável que volte a ocorrer no
século XXI, o capitalismo produz automaticamente desigualdades
insustentáveis, arbitrárias, que ameaçam de
maneira radical os valores de meritocracia sobre os quais se fundam
nossas sociedades democráticas (PIKETTY, 2013, p. 10).
Portanto,
o aumento da pobreza e da fome está diretamente ligado ao
crescimento e concentração do capital. Os países
periféricos do capitalismo, países como Brasil, têm
que vivem essa problemática em maior profundidade, visto que a
distância entre ricos e pobres é muito mais acentuada do
que aquelas verificadas em países desenvolvidos
economicamente. Garantir a produção e a distribuição
equitativa de alimentos para o sustento básico da população
pobre em contraposição ao atendimento das demandas
requeridas pelo capital nacional e internacional não é
tarefe simples ou fácil de administrada.
O
problema não é a falta de recursos, visto que no
Brasil, por exemplo, a produção agrícola tem
grande importância na economia interna e externa de nosso país,
constitui característica história brasileira. A questão
remete à forma com que os recursos são distribuídos,
ou seja, o problema consiste na distribuição de
recursos e renda. Nesse contexto, Faria (2000) salienta que a
desigualdade em nosso país “não só é
uma das mais elevadas em todo o mundo, mas contribui também
para entender como um país com renda per capita relativamente
elevada pôde manter, nos últimos 20 anos, em média,
cerca de 40% da sua população abaixo da linha de
pobreza” (FARIA, 2000, p. 21).
A
disparidade entre arrecadação e distribuição
pode estar alinhada ao sistema econômico capitalista praticado
pelo Brasil, que busca atender aos interesses do capital, que
privilegia o agronegócio em detrimento da agricultura
praticada por pequenos e médios produtores, tendo em vista
maior obtenção de lucros às aos grandes
conglomerados empresariais. Nesse sentido, Piketty (2013) recorda
que:
[...]
as realidades econômicas sociais haviam mudado profundamente:
não se tratava mais de saber se a agricultura poderia
alimentar uma população crescente ou se o preço
da terra aumentaria até chegar ao céu, mas, sobretudo,
de entender a dinâmica de um capitalismo industrial a pleno
vapor (MARX apud PIKETTY, 2013, p. 16).
No
Brasil, encontramos a partir da década de 1960, um fator
preponderante como consequência dessa mudança, o advento
da “revolução verde” que para Mazoyer e
Roudart (2010) se trata de:
uma
variante da revolução agrícola contemporânea
desprovida de motorização-mecanização,
desenvolveu-se muito mais amplamente. Baseada na seleção
de variedades com bom rendimento potencial de arroz, milho, trigo,
soja e de outras grandes culturas de exportação,
baseada também numa ampla utilização de
fertilizantes químicos, dos produtos de tratamento e,
eventualmente, em um eficaz controle da água de irrigação
e da drenagem, a revolução verde foi adotada pelos
agricultores que eram capazes de adquirir esses novos meios de
produção e nas regiões favorecidas, onde era
possível de rentabilizá-los (MAZOYER; ROUDART, 2010, p.
28).
Este
fenômeno que já se encontrava a todo vapor, sobretudo,
nos países latino-americanos em vias de desenvolvimento. Nessa
época, boa parte dos camponeses não conseguiu se
adequar às novas técnicas de produção e
ficaram relegados ao “atraso produtivo”.
Nessa
perspectiva, Mazoyer e Roudart (2010) observam que:
[...]
os produtores beneficiários da revolução
agrícola ou da revolução verde só podem
ganhar parcelas de mercado, ou se manter, se contarem com alguns
latifundistas agroexportadores sul-americanos, zimbabuenses e, agora,
ucranianos, russos, que não somente estão bem
equipados, mas que, além disso, dispõem de vastos
espaços pouco dispendiosos e de uma mão de obra que
está entre as mais baratas do mundo (MAZOYER; ROUDART, 2010,
p. 31).
De
fato, mesmo aqueles agricultores que, de certa forma, conseguiram
algum tipo de benefício com essa mudança no cenário
agrícola, não passaram de meros instrumentos de
manipulação dos grandes produtores e nenhuma alteração
significativa ocorreu em suas rendas.
As
nossas referências teóricas reforçam a ideia
inicial de que as mudanças nas políticas de produção
que visavam atender somente ao sistema econômico capitalista,
contribuíram diretamente para o crescimento e manutenção
da pobreza, bem como para a disseminação da fome,
conforme argumentam Mazoyer e Roudart (2010):
Nessas
condições, compreende-se porque as políticas de
desenvolvimento que consistem em levar adiante a revolução
agrícola contemporânea e a revolução verde
nas regiões favorecidas, e as políticas alimentares que
consistem em suprir cidades e povoados com gêneros alimentícios
a preços sempre mais baixos, são particularmente
contraindicadas para lutar contra a fome. De fato, essas políticas
empobrecem ainda mais os camponeses e os mais pobres, que constituem
a maioria das pessoas subnutridas no mundo (MAZOYER; ROUDART, 2010,
p. 32).
Considerando
esse contexto em que sobressai a desigualdade social e a manutenção
da pobreza, decorrência direta do modelo econômico
capitalista praticado na contemporaneidade, que modificou e modifica
na razão de seus interesses vários setores da cadeia
produtiva, inclusive o alimentício. Os únicos
beneficiários são os grandes produtores e os pobres
continuam desprovidos de qualquer sorte para assegurar efetivamente a
sua subsistência, permanecem às margens do sistema,
conforme exemplificação da revolução
verde.
Distribuição
da Pobreza
(A
vida pobre no campo. Fotografia retirada do site Funding Aid
Strategies Investments. Disponível em:
https://www.fasi.biz/it/notizie/investimenti/12850-cooperazione-cdp-nuova-istituzione-finanziaria-allo-sviluppo.html)
A
superação da pobreza é um problema enfrentado
principalmente por países “subdesenvolvidos” ou em
“vias de desenvolvimento”. No entanto, não é
possível discutir as formas de superação, sem
antes entender as suas causas. De acordo com Dupas (2012):
A
população latino-americana abaixo da linha de pobreza
evoluiu sucessivamente de 41% do total em 1980 (136 milhões de
pessoas) para 43% em 2000 (207 milhões); e em 2003 ela já
alcançava 44% (237 milhões). Já o índice
de população indigente crescia de 19% em 2001 para 20%
em 2003. Esse número teve forte influência da Argentina,
onde a taxa de pobreza quase duplicou de 1999 a 2003 (de 20% para
42%) e a indigência quase quadruplicou (de 5% para 19%) (DUPAS,
2012, p. 82).
Podemos
observar que a pobreza ao invés de diminuir, segue crescendo
nos países latino-americanos, considerados nações
em vias de desenvolvimento. No caso do Brasil, fatores que
contribuem para o aumento dos índices de empobrecimento da
população são o desemprego e o trabalho
informal. Dupas (2012, p. 82) afirma que o “aumento da pobreza,
da indigência e da fome em muitas regiões da América
Latina esteve atrelado a um fator alarmante: a contínua
elevação dos níveis de desemprego e a
informalidade no mercado de trabalho nas últimas décadas”.
Soma-se
a isso, a baixa ou má qualificação da mão
de obra, o permanente processo de urbanização sem
planejamento adequado, que caracteriza boa parte das cidades
brasileiras. É extremamente comum, quando viajamos pelo país
nos deparar com alto número de favelas, que não dispõe
de condições mínimas para o cidadão levar
uma vida digna e saudável. Além disso, outro fator
preocupante oriundo do crescimento da pobreza e das péssimas
condições de vida é o crescimento da
criminalidade, como observado por Dupas (2012):
O
número de homicídios cresceu 40% na América
Latina durante a década de 1990, atingindo um índice
seis vezes maior que o observado nos países da Europa
Ocidental. Esse aumento contínuo tornou a região a
segunda maior do mundo em criminalidade, somente atrás da
África subsaariana. Esse contexto de “nova pobreza”
também tem criado uma onda de migração –
incluindo os indivíduos da classe média – sem
precedentes nos países latino-americanos. A questão da
imigração está se tornando, na agenda
continental, um problema de graves proporções, caso não
seja enfrentado o mais breve possível (DUPAS, 2012, p. 83).
Percebe-se
a partir do recorte acima, que a imigração vem se
tornando uma alternativa para os moradores das regiões pobres
na América Latina e seus fatores estão ligados às
dificuldades encontradas no mercado de trabalho. Isso se torna um
problema tanto para os países em desenvolvimento que perdem
mão de obra e, consequentemente, têm prejuízos
circulação econômica quanto para os países
desenvolvidos, que sofrem uma “invasão” ilegal por
parte desses imigrantes.
Além
disso, “a desigualdade de renda tem avançado em setores
importantes da vida dos cidadãos, tais como a dificuldade no
acesso ao consumo, ao crédito, à educação,
à saúde, à inclusão digital, entre
outras” (DUPAS, 2012, p. 83). Dentre outros fatores que
contribuem para o crescimento da pobreza está a globalização
desigual, que privilegia os países ricos e explora os pobres.
Mazoyer e Roudart (2010, p. 38) alertam “para os riscos da
globalização e da liberalização
acentuarem as desigualdades entre os países, aumentarem o
desemprego e a pobreza” nas mais diversas partes do mundo.
De
fato, o interesse dos países ricos ao buscarem uma ligação
global com os países pobres, consiste na busca por mão
de obra barata e impostos mais baixos para instalação
de suas indústrias. Quando se fala em igualdade de
oportunidades entre ambos, vemos uma política de desprezo e de
desvalorização da força de trabalho dos
imigrantes.
A
intensão dos países desenvolvidos não é o
crescimento econômico dos uma menos desenvolvidos, ao
contrário, o que se objetiva é a manutenção
da riqueza dos mais ricos e da pobreza para os mais pobres. A relação
bilateral entre eles no mundo global deixa evidente a
intencionalidade dos mais poderosos. Por vontade deles, os países
mais pobres não conseguem acompanhar o ritmo dos mais ricos.
Sobre isso, Piketty (2013) ressalta:
É
particularmente chocante constatar que os países que mais
dependem de grandes receitas fiscais para o financiamento de seu
Estado social, como os europeus, são também aqueles que
menos fazem para de fato avançar na solução do
problema, que na verdade é bem simples do ponto de vista
técnico. Isso ilustra o drama dos pequenos países na
globalização. Os Estados-nação
construídos nos séculos passados não têm o
tamanho adequado para editar e aplicar regras de tributação
no contexto do capitalismo patrimonial globalizado do século
XXI (PIKETTY, 2013, p. 661).
Portanto,
a postura dos países menos desenvolvidos na economia global
deve ser repensada uma vez que estes se encontram em plena
desvantagem em relação aos mais ricos. Usar as mesmas
técnicas de produção, não promove uma
elevação do seus status,
pelo contrário, acentua a pobreza e beneficia quase que
exclusivamente os mais poderosos.
Conclusão
Tendo
em vista os fatos analisados, vimos a mecanização no
campo pouco contrubuiu para melhoria da qualidade de vida dos
camponeses, pelo contrário, criou uma desigualdade social em
relação a vida na cidade. Segundo Octávio Ianni
a globalização generalizada oriunda da consolidação
do sistema capitalista foi o fator determinante para a mudança
no campo. Transformou este espaço num lugar totalmente
mecanizado e desigual. Esta nova forma de produzir, mecanizada, esta
alheia à maioria dos produtores rurais o que acarreta num
aumento da desigualdade no campo em relação à
cidade.
Além
disso, a questão da pobreza esta diretamente ligada à
forma que o sistema capitalista se desenvolve no mundo. O auge disso
acontece após a virada do século XX para o XXI, onde a
generalização da globalização se acentua
distribui a desigualdade no mundo. Países considerados
“subdesenvolvidos” ou em “vias de desenvolvimento”
como o Brasil são os que mais sofrem com esse sistema que
privilegia os mais ricos e explora os mais pobres. Pudemos verificar
a partir da breve análise dos textos, que a pobreza é
fruto dessa desigualdade proporcionada pelo sistema produtivo
capitalista.
Casos
como o da produção alimentícia exemplificam como
o sistema contribui para acentuação da miséria e
que sua superação passa por políticas que
procuram repensar como este modelo econômico age principalmente
em regiões periféricas do capitalismo, como a América
Latina.
Referências
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