Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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16/09/2018 (Nº 65) SUSTENTABILIDADE NO AMBIENTE DO AGRONEGÓCIO
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SUSTENTABILIDADE NO AMBIENTE DO AGRONEGÓCIO

Patrícia KISCHNER1, Cristiane Ivete Bugs VIONE2, Sandra Beatriz Vicenci FERNANDES3, Nelson José THESING4



RESUMO

O artigo tem como objetivo verificar o processo de sustentabilidade no agronegócio, para responder ao desafio proposto, o caminho metodológico segue uma análise descritiva, alimentada pela pesquisa qualitativa, tendo como contorno as investigações teóricas que alimentam e interpretam o complexo setor do agronegócio.

Palavras-chave: Agronegócio. Sustentabilidade. Políticas Públicas.



ABSTRACT

The current article has as purpose to verify the sustainability process in agricultural business, when researching theoretical conceptions that base the main approaches that work the sustainability, its evolutional history in the Brazilian context. In order to respond to the proposed challenge, the methodological path follows a descriptive analysis, fed by the qualitative research, having as a background the theoretical investigations that feed and interpret the complex agricultural business sector.

Key words: Agricultural Business. Sustainability. Public Policy.



1 INTRODUÇÃO



O agronegócio pode ser compreendido como um conjunto de atividades econômicas e sociais relacionadas principalmente à produção agropecuária e agroindustrial. Trata-se de um processo que envolve desde a produção dos insumos até o consumo dos produtos agropecuários. No cenário brasileiro o agronegócio é considerado um dos motores da economia nacional, representando importantes avanços quantitativos e qualitativos. Atualmente, o setor é responsável por 21,58% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil (CEPEA, 2017).

Esse cenário ascendente do setor no contexto da economia brasileira é resultado do processo de modernização da agricultura iniciado em meados da década de 1960, com a chamada Revolução Verde, em que foram introduzidos diversos avanços científicos e tecnológicos à agricultura, ocasionando ganhos sucessivos de produtividade e consequentes impactos sociais e ambientais.

Considerando que o Brasil apresenta um desenvolvimento econômico fortemente alimentado por atividades agrícolas, é crescente o debate acerca dos aspectos econômicos do agronegócio brasileiro e a preocupação com a sustentabilidade dessa atividade. Assim, as questões pertinentes nesses debates vão além dos aspectos econômicos para abordar a dimensão socioambiental desta atividade. As questões centrais, presente nos estudos, são as ambientais e sociais, por um lado e, de outro, a viabilidade econômica do setor.

Assim, os desafios indicam, por um lado, o crescimento populacional, que necessita de níveis cada vez mais elevados na produção de alimentos, de outro, uma produção cada vez com menos agroquímicos. Esse caminhar indica, aumento dos níveis produtivos, com a otimização dos recursos disponíveis, a ampliação da produtividade do trabalhador, tendo presente sua qualificação, a implantação de novas tecnologias, possibilitando o desenvolvimento equilibrado e sustentado do agronegócio.

Portanto, esse estudo busca trabalhar as evidências cientificas que fundamentam a sustentabilidade no contexto do agronegócio nacional, para em seguida indicar os aspectos metodológicos para realização do mesmo, o que permite apontar na terceira seção, as principais discussões relacionadas ao crescimento do setor, seus aspectos econômicos, socais e ambientais, para trabalhar o processo de sustentabilidade no agronegócio. Finalmente, na quarta seção são apresentadas as conclusões da investigação, bem como suas limitações e oportunidades para estudos futuros.

Em suma, o artigo objetiva trabalhar a importância da sustentabilidade no agronegócio nacional, que é um desafio no campo acadêmico, empresarial e público.



2 METODOLOGIA



O presente artigo caracteriza-se como uma pesquisa qualitativa. Collis e Hussey (2005) afirmam que uma abordagem qualitativa é mais subjetiva, envolvendo o exame e as reflexões sobre as percepções, de forma a obter um entendimento de atividades sociais e humanas. Assim, a pesquisa trabalha o campo descritivo, expõe características de determinado fenômeno e pode também estabelecer correlações entre variáveis e definir sua natureza (VERGARA, 2009).

Ainda, a presente pesquisa se apresenta como descritiva, ao identificar as características básicas da sustentabilidade, em suas mais variadas dimensões, no complexo do agronegócio. Portanto, as informações e os dados da pesquisa estão alicerçados em referências bibliográficas sobre a temática em estudo.



3 DESENVOLVIMENTO, RESULTADOS E DISCUSSÕES



3.1 Agronegócios: conceito e importância



A agricultura mundial passou, a partir da segunda guerra mundial, por uma série de transformações decorrentes do processo de modernização, conhecida como Revolução Verde. Esse processo consistiu na utilização de máquinas, insumos e técnicas produtivas que permitiram aumentar a produtividade do trabalho e da terra, possibilitando o aumento da oferta mundial de alimentos, em um período que a população mundial crescia em nível elevado e a preocupação com o problema tornava-se cada vez mais sério.

Esse processo de modernização da agricultura foi analisado primeiramente pelos autores americanos Davis e Goldberg (1957), ambos criaram o termo agronegócio como um novo conceito para compreender as novas características e realidades da agricultura mundial, a ideia central do estudo realizado pelos autores é de que o campo estaria passando por grandes transformações a partir da revolução tecnológica, tendo como base o progresso científico utilizado na agricultura

Davis e Goldberg (1957) definiram o termo agronegócio, como sendo a soma total das operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas, as operações de produção nas unidades agrícolas, o armazenamento, o processamento e a distribuição dos produtos agrícolas e itens produzidos por eles.

Nesta perspectiva, o agronegócio, passou a incluir todos os fornecedores de bens e serviços à agricultura, os produtores, os processadores, transformadores e distribuidores envolvidos na geração e no fluxo dos produtos agrícolas até o consumidor final. Ainda, integram esse ambiente, as entidades que coordenam e regulamentam este processo, tais como o governo, os mercados, as entidades comerciais, financeiras e de serviços. Trata-se de uma nova concepção de agricultura, a mesma passou a ser pensada de forma sistêmica abrangendo todos os elos da cadeia produtiva.

No Brasil, basicamente, até metade do século XX, parte da produção agrícola era centrada em complexos rurais de pouca articulação com o mercado interno e de baixo suporte tecnológico. Foi somente a partir da segunda metade deste século que começaram a serem percebidos os avanços significativos, entre outros, os científicos e tecnológicos da Revolução Verde, além das novas técnicas de produção, um processo de redirecionamento da agricultura brasileira, com o desenvolvimento de insumos modernos (fertilizantes, defensivos, máquinas e equipamentos) e os progressos verificados na área de melhoramento genético vegetal e animal (ARAUJO, 2007). Este processo gerou uma nova configuração socioeconômica e espacial para o campo brasileiro.

A Revolução Verde emergiu no Brasil com a promessa de modernização do campo, de erradicação da fome, de aumento da produção, e, sobretudo como a nova era da agricultura e a busca de desenvolvimento aos países subdesenvolvidos. É neste período que começam a serem delineados os primeiros traços do agronegócio no contexto brasileiro, uma vez que, houve forte incremento de capital no campo, novas tecnologias, máquinas e equipamentos foram introduzidos no processo de produção, permitindo alavancar os níveis de produtividade agrícola, abrangendo uma gama maior do território brasileiro.

Apesar de proporcionar grandes benefícios para a sociedade a modernização da agricultura brasileira, evoluiu de forma desordenada, deixando em sua esteira problemas de desajustamento, econômicos, sociais e consequentemente ambientais. Para Martine (1991), a euforia das super safras contribuiu para fortalecer a imagem de uma agricultura moderna, autossuficiente, de consequências sociais inevitavelmente benéficas. Ainda que, o aumento da produtividade fosse essencial para a melhoria de vida da população, “não é condição suficiente para o bem estar geral, pois nada garante que os benefícios do crescimento serão redistribuídos entre todos os setores da sociedade” (MARTINE, 1991, p. 32).

A questão ambiental e os conflitos a ela inerentes também estão associados à modernização da agricultura, uma consequência advinda deste processo é o uso de insumos químicos e técnicas produção que não medem os impactos ambientais. Comenta Carvalho (2000) que os diversos impactos ambientais danosos, tais como o esgotamento e a perda de solos, a contaminação de alimentos, água e ar, a eliminação de inimigos naturais e o aumento da resistência de pragas e doenças aos produtos fitossanitários, são o resultado do processo de modernização da agricultura.



3.1.2 Impactos socioeconômicos e ambientais da modernização da agricultura brasileira



Em termos sociais, o aumento do número e utilização de máquinas e equipamentos, além de outros implementos e insumos agrícolas a partir da década de 1980, eliminou grande parte dos empregos no campo e engrossou as migrações para as cidades. Houve uma intensificação do êxodo rural, com uma população excluída se direcionando para os centros urbanos em busca de emprego.

A modernização agrícola revela por meio dos processos históricos que a propriedade da terra foi sendo subordinada ao capital. Uma vez que, o progresso técnico não está sendo uniformemente difundido, mas, sim, ocorre uma concentração espacial e setorial. Nesta perspectiva, considera-se que não há um futuro promissor para aquelas unidades de produção que até agora não conseguiram se modernizar e que se concentram nas regiões menos desenvolvidas do país. Ou seja, criou-se um cenário de concentração de terra através da utilização de capital e implantação da base técnica no campo, agricultores com baixo poder aquisitivo, pequenos proprietários e agricultores familiares com área restrita foram vitimados neste processo, em muitos casos sendo obrigados a se desfazer de parte da terra por falta de condições econômicas para tecnificação dos processos produtivos.

Desta maneira, é possível perceber que o objetivo principal do processo de modernização agrícola está atrelado basicamente à maximização da produção e do lucro, não atentando para as consequências sociais e ambientais inerentes desse processo. Assim, além dos impactos sociais indesejáveis, a evolução agrícola também trouxe diversos danos ao meio ambiente, os problemas ambientais mais frequentes provocados por este novo padrão produtivo foram: a destruição das florestas e da biodiversidade genética, a erosão dos solos, surgimento de pragas cada vez mais resistentes a insumos químicos e a contaminação dos recursos naturais e dos alimentos.

Um dos recursos naturais mais afetados pela agricultura é o solo, uma vez que, o uso intensivo de inseticidas, adubos químicos, máquinas inadequadas, entre outros, aceleraram a sua erosão física e biológica. Além disso, o novo aspecto demográfico dos centros urbanos também é resultado desse processo, pois se tem percebido nos últimos anos uma concentração populacional próximo a encostas de rios e córregos, contribuindo para a degradação ambiental. Os recursos hídricos também sofreram consequências graves, especialmente pelo uso intensivo de fertilizantes, adubos inorgânicos e agrotóxicos, elementos que tem grande participação na contaminação das águas.

Um exemplo decorrente dos malefícios gerados pela modernização da agricultura e consequentemente do agronegócio é a degradação da Floresta Amazônica. Por se tratar de um vasto território, tornou-se um atrativo para o aumento da produção agrícola. Grandes áreas de floresta foram devastadas para a inserção de novos modelos de produção, especialmente a agropecuária. Isto desencadeou diversos efeitos negativos a região, uma vez que, gerou vários problemas aos agricultores locais, comunidades ribeirinhas e indígenas foram excluídos e ou retirados do seu habitat, por conta da crescente expansão da agropecuária na região. Muitos agricultores foram expulsos de suas terras por grandes fazendeiros e latifundiários que se apropriaram das mesmas, sem aparato legal, muito famílias foram obrigadas a se deslocar para os meios urbanos, contribuído assim, para o êxodo rural.

Além dos impactos sociais inerentes, inúmeros impactos ambientais foram desencadeados. Dentre os quais: desmatamento em massa, grande número de queimadas, uso intensivo de agrotóxicos, utilização de mananciais de água, alterando todo o contexto da flora e fauna local. O manuseio inadequado do solo ocasionou a erosão em muitas áreas, contribuído para o processo de desertificação da terra.

Assim, se por um lado à utilização de novas técnicas de produção, especialmente o uso de agrotóxicos favoreceu a intensificação da produção de alimentos seus efeitos se fazem sentir cada vez mais na saúde humana e no meio ambiente. O uso indiscriminado que vem ocorrendo nas últimas décadas, apesar de seus efeitos benéficos em termos de ganhos produtivos tem trazido grandes prejuízos e efeitos indesejáveis à saúde humana e do meio ambiente (RANGEL; ROSA; SARCINELLI, 20011).

Sob este enfoque, é importante destacar que além do uso de agrotóxicos e inseticidas de modo geral, os chamados Organismos Geneticamente Modificados (OMGs) ou transgênicos também são o resultado do processo de modernização da agricultura e exercem influência de magnitude ainda pouco conhecida sobre a saúde humana e o meio ambiente. Essa tecnologia e difundida como uma alteração genética nos genes das plantas com o intuito de crias espécies vegetais melhoradas, para tornar as plantas mais resistências a pragas e erva daninhas, além aumentar a produtividade por área plantada.

O uso de sementes transgênicas na agricultura tem sido defendido no Brasil como uma alternativa para aumentar os níveis de produtividade, aliados a significativa redução de custos de produção menores impactos ambientais, estes últimos pela suposta diminuição do uso de agrotóxicos, por se tratar de plantas mais resistentes a eventuais pragas. Além disso, os transgênicos contribuiriam para aumentar nossas divisas, por proporcionarem maior participação de nossos produtos no mercado internacional. Ainda, como fim social, as sementes transgênicas contribuiriam para resolver o problema da fome nos países em desenvolvimento (PREMEBIDA; SILVEIRA, 2014)

Porém, o que se percebe no Brasil, é exatamente o contrário do explanado no parágrafo anterior. Pois, o crescente plantio de variedades transgênicas de soja, milho e outros cultivos trouxe não uma diminuição, mas um aumento extremamente alto da utilização de agrotóxicos, uma vez que, segundo estudo realizado pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA, 2015) o país é considerado o principal mercado de agrotóxicos do mundo, consumindo mais de um milhão de toneladas por ano, equivalente a 5,2 kg por habitante.

Além disso, novas pragas mais resistentes têm surgido no decorrer dos últimos anos, demandando o desenvolvimento de novos venenos mais eficazes e imediatos. Isto resultou no aumento de resíduos nos alimentos, nos rios e no solo, prejudicando ainda mais o equilíbrio do meio ambiente e a saúde da população. Dado que, o uso intensivo de agrotóxicos podem causar diversas doenças nos seres humanos tais como: cânceres, má-formação congênita, distúrbios endócrinos, neurológicos e mentais.



3.2 Sustentabilidade (Triple Buttom Line) e o ambiente do agronegócio



Uma das questões presentes no debate atual sobre o agronegócio é a sustentabilidade, uma vez que, novas exigências estão sendo colocadas pela sociedade aos sistemas de produção agropecuária. Isto inclui a diminuição dos impactos sociais e ambientais nos processos produtivos, especialmente no que tange a degradação ambiental e a saúde humana.

Assim, a necessidade de estabelecimento de sistemas de produção sustentáveis surgiu das disfunções e externalidades causadas pelos sistemas de produção desenvolvidos com a chamada “revolução verde”, que preconizou a modernização da agricultura a partir da utilização intensiva de melhoramento genético, mecanização e insumos químicos (fertilizantes e defensivos agrícolas). Com o estabelecimento da revolução verde, a agricultura atingiu níveis de produção elevada, porém sem um controle incisivo dos impactos ambientais gerados por este processo (AZEVEDO 2002). Em consequência disso, surgiram severos problemas ambientais, como perda de biodiversidade e sociais, como a concentração fundiária e o êxodo rural.

No contexto internacional, o aprofundamento do debate acerca da sustentabilidade ocorreu principalmente a partir do Relatório Brundtland publicado em 1987, produzido pela Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMD) e define oficialmente o conceito de desenvolvimento sustentável, estabelecendo que o ser humano deva “satisfazer as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades” (CMMD, 1987, p 46).

A grande preocupação dos envolvidos neste debate estava relacionada à falta de limites de utilização dos recursos naturais existentes, uma vez que, as organizações não detinham controle sobre os mesmos, o que poderia ocasionar danos irreversíveis para a população mundial, como o esgotamento de alguns recursos naturais considerados fundamentais para a sobrevivência das gerações futuras. Assim, questões relacionadas aos aspectos econômicos, sociais e ambientais, passaram a fazer parte do debate sobre desenvolvimento sustentável.

De maneira geral estes aspectos fundamentam o conceito de desenvolvimento sustentável, uma vez que, o mesmo passa a ser compreendido como, sendo mais que a simples racionalização e utilização de recursos naturais, passando a envolver não somente questões ambientais, mas também questões econômicas e sociais. Sob este enfoque, através dos estudos realizados por Elkington (1994), surge o conceito Triple Bottom Line, estabelecendo a relação entre as dimensões econômicas, sociais e ambientais no contexto da sustentabilidade.

Portanto, análise do tripé no âmbito das organizações estabelece a necessidade de melhorar a gestão dos recursos naturais, estruturais e comportamentais dos atores envolvidos dentro do ambiente interno e externo das empresas, de forma que possam obter resultados positivos e significativos em longo prazo.

Em suma, a dimensão econômica sugere que uma empresa deve ser capaz de produzir, oferecer e distribuir produtos e serviços, sem necessariamente praticar formas ilícitas de competitividade. Nesse sentido, tem-se em mente que o crescimento e desenvolvimento das empresas não podem ocorrer à custa de um desequilíbrio no ecossistema local (NASCIMENTO, 2012).

A dimensão social estabelece que os seres humanos desempenhem papel determinante no desenvolvimento das organizações atuais. Francisco (1996) define sustentabilidade social como a satisfação contínua das necessidades básicas humanas como alimento, água, saúde, segurança, liberdade, emprego e recreação, fundada na melhoria da qualidade de vida da população pobre mundial. Deve-se incluir também na definição proposta por Francisco (1996), a questão educacional como uma forma de desenvolvimento individual, de cada ser humano em particular, e de desenvolvimento coletivo, quando se trata de regiões ou países. Nesse sentido, sustentabilidade social não se refere somente ao que o ser humano pode ganhar, mas à maneira como pode ser mantida decentemente sua qualidade de vida.

Além disso, é importante lembrar que para que haja a satisfação das necessidades básicas da população de maneira correta, a sustentabilidade ambiental é um pré-requisito, uma vez que essas necessidades são satisfeitas com a utilização dos recursos ofertados pelo meio ambiente.

A dimensão ambiental considera fundamental que as organizações diminuam os impactos ambientais em seus processos de produção, fazendo uso de condutas sustentáveis que possam ser mantidas no médio e longo prazo (NASCIMENTO, 2012).

De maneira geral, as empresas devem desenvolver estratégias que preservem o meio ambiente e a qualidade de vida dos seres humanos, ou seja, não basta apenas cumprir a legislação ambiental, vigente, faz-se necessário utilizar os recursos materiais disponíveis sem impedir a sobrevivência das gerações futuras.

Adams (2006) afirma que a sustentabilidade de determinado setor ou empresa depende basicamente do equilíbrio entre a dimensão econômica, social e ambiental. Para isso, considera-se necessário maior fiscalização por parte dos órgãos públicos, uma vez que, para uma empresa ser considerada sustentável é necessário que os aspectos (econômicos, sociais e ambientais) estejam sendo difundido, isto deve ser comprovado pela mesma e analisado pelos órgãos públicos de fiscalização e controle.

Com isso, pode-se auferir que o desenvolvimento sustentável exerce importante papel nas organizações, uma vez que ao desenvolver práticas sustentáveis, as empresas também estão potencializando sua imagem no mercado altamente competitivo, em que cada vez mais os consumidores estão buscando adquirir produtos advindos de empresas que desempenham funções politicamente corretas. Trata-se de uma estratégia de desenvolvimento no longo prazo que deve ser reforçada no dia a dia das empresas.

Assim, a sustentabilidade no contexto do agronegócio estabelece que é necessário obter produtividade de forma eficiente, porém sem esgotar os recursos naturais existentes. Assim, é fundamental o desenvolvimento de técnicas que satisfaçam as transformações advindas da demanda do mercado consumidor, das políticas governamentais e das tecnologias desenvolvidas.

Trata-se de um olhar sistêmico sobre o setor e os processos produtivos inerentes a ele, sob este enfoque o tripé da sustentabilidade descrito por Elkington (1994), reforça a necessidade das empresas trabalharem estrategicamente com o intuito de manter a sustentabilidade de seus processos e produtos.

Assim, a dimensão econômica estabelece que para ser economicamente sustentável a empresa deva gerar um Retorno Sobre Investimento (ROI), pagar impostos, evitar problemas nos fluxos monetários, e gerar novos empregos; a dimensão social defende o estímulo a atividades voltadas à educação, cultura, justiça social envolvendo a comunidade presente no ambiente onde a empresa está inserida. A dimensão ambiental prima pela responsabilidade com o meio ambiente, por meio de programas de reciclagem e preservação (PAZ; ISERHARD; KIPPER, 2015).

De maneira geral, a dimensão ambiental é o mais presente no ambiente do agronegócio, pois grande parte das formas de produção utilizada no setor admite a utilização de insumos e práticas intensivas, por vezes, nocivas ao meio ambiente. A preocupação das empresas, especialmente com as questões ambientais está atrelada ao mercado consumidor cada vez mais exigente as práticas de produção menos nocivas ao meio ambiente, isto fez com que, muitos negócios rurais buscassem adaptar suas formas produtivas às práticas mais limpas e sustentáveis.

Nos últimos anos o agronegócio brasileiro tem incorporado técnicas de produção menos nocivas ao meio ambiente, dentre as quais, pode-se destacar : o aumento expressivo da área plantada por meio de plantio direto, redução do consumo de diesel e de água, resultante do desenvolvimento de tecnologias sustentáveis e do crescimento da produtividade.

O sistema de plantio direto é considerado uma prática de produção conservacionista menos nociva ao meio ambiente. Segundo dados divulgados pelo Projeto Soja Brasil (2016), quando comparada a outras formas de produção apresenta menos produção de gases de efeito estufa, reduz o uso da água, possibilitando maior conservação do solo e aumento da produtividade da lavoura, os ganhos em produtividade chegam a 30% se comparado ao sistema convencional, e 50% em época de estiagens. Além disso, apresenta vantagens econômicas para os produtores, pois utiliza menos equipamentos e mão de obra, diminuído significativamente o custo de produção por hectare. Atualmente o Brasil é considerado um dos países com maior área de plantio direto do mundo, com cerca de 32 milhões de hectares de área plantada.

Em suma, à adoção de novas tecnologias no setor do agronegócio é fundamental para manter a produção mundial de alimentos em grande escala, porém os impactos gerados pela mesma podem desencadear efeitos nocivos ao meio ambiente e a população. A biotecnologia é percebida como uma ferramenta tecnológica importante, uma vez que, possibilita o aumento da produtividade, da qualidade da produção e o desenvolvimento de plantas adaptadas a diversas condições ambientais.

Além disso, atua no desenvolvimento de outras fontes de bioenergia como a produção de biocombustíveis a partir de algas transformadas geneticamente (BEER et al. 2009). No Brasil, o desenvolvimento do etanol combustível é um exemplo de implantação de biotecnologia, uma vez que mostrou ser uma alternativa viável para reduzir a dependência do petróleo. Assim, faz-se necessário o desenvolvimento de pesquisas que possam mapear os possíveis impactos sociais e ambientais da implantação de novas tecnologias no setor.

É importante destacar que outros fatores também tem contribuído para o aumento de práticas sustentáveis dentro do contexto do agronegócio brasileiro, especialmente a nova postura das empresas, que estão buscando não apenas a lucratividade, uma vez que percebem a existência de clientes interessados nas ações desenvolvidas pelas mesmas e na sua postura social e ambientalmente correta. Com isso, os aspectos sociais e ambientais desempenham fundamental importância no contexto do agronegócio atual.



4 CONCLUSÕES



A sustentabilidade é uma questão pertinente para os diferentes setores e para a sociedade de maneira geral, uma vez que, percebe-se uma postura da população cada vez mais consciente com a necessidade de melhoria nas condições econômicas, sociais e ambientais dos diferentes segmentos produtivos, o que significa uma melhor qualidade de vida de toda a sociedade.

O ambiente do agronegócio, de forma mais evidente, conquista um espaço estratégico na dimensão ambiental e social. Porém, os aspectos econômicos estão cada vez mais presentes nos estudos acadêmicos e empresariais, para além de apresentar retornos financeiros, aos agentes envolvidos, também necessita desenvolver práticas sociais benéficas à população.

Por fim, permanece como objeto de estudo a sustentabilidade no ambiente do agronegócio, o que significa a presença das políticas públicas no desenvolvimento de um espaço que incentivem as empresas a aderir às práticas mais sustentáveis de produção. Portanto, esse processo instiga as diversas correntes e matizes de pensamento que buscam a sustentabilidade ambiental, social, econômica e política.



REFERÊNCIAS



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1Estudante do Mestrado em Desenvolvimento Regional da UNIJUÍ, bolsista Capes Prosup modalidade II. E-mail: patriciakischner@hotmail.com

2Estudante do Mestrado em Desenvolvimento Regional da UNIJUÍ, bolsista Capes Prosup modalidade II. E-mail: cristianevione@gmail.com

3Doutora em ciência do solo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, (1998) e professora da UNIJUI Integra o Corpo Docente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento. E-mail: sandravf@unijui.edu.br

4Doutor em Integração Regional. Professor do Departamento de Ciências Administrativas, Contábeis, Econômicas e da Comunicação. Integra o Corpo Docente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento e faz parte do Grupo Interdisciplinar de Estudos em Gestão e Políticas Públicas, Desenvolvimento, Comunicação e Cidadania - GPDeC. E-mail: nelson.thesing@unijui.edu.br

Ilustrações: Silvana Santos