Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 42) HORTA ESCOLAR: UM LABORATÓRIO VIVO
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HORTA ESCOLAR: UM LABORATÓRIO VIVO

 

Raphael Jonas Cypriano,

Adriano Fernando Zito

Maria do Carmo Fontes e

Fernando Antônio Pereira da Silva

 

RESUMO

            Novas práticas que integram saúde, meio ambiente e desenvolvimento comunitário vêm surgindo no meio educacional; a horta inserida no ambiente escolar é uma destas possibilidades. Esse espaço pode servir como um laboratório vivo, permitindo o incremento de diversas atividades pedagógicas em Educação Ambiental, unindo teoria e prática de forma contextualizada e auxiliando no desenvolvimento de atividades inter e transdisciplinares. O presente projeto foi feito com duas turmas do Ensino Fundamental na Escola Estadual Cônego José Ermelindo de Souza, Araponga (MG). Foram realizadas 13 oficinas utilizando a horta escolar como instrumento de aprendizagem. Foram abordados temas transversais que contemplam elementos da agroecologia, das ciências naturais e da realidade dos estudantes, buscando experiências do manejo de seus quintais. Ao final deste projeto, os educandos cultivaram plantas medicinais, temperos, leguminosas, construíram composteiras e minhocários, além disso, plantaram mudas de ornamentais e frutíferas no quintal de suas casas. O aspecto central deste projeto foi a criança, em seu desenvolvimento como ser humano, compreendendo a horta como um ecossistema dinâmico, onde plantas, animais e microorganismos convivem juntos numa complexa cadeia de interações. Os resultados deste trabalho apontam algumas das múltiplas possibilidades de utilização da horta, demonstrando sua importância no contexto escolar.

Palavras-chave: Cultivo de plantas, Educação Ambiental, Ensino de Ciências, Transdisciplinaridade.

 

INTRODUÇÃO

A Educação Ambiental postula-se dentro de uma concepção de construção transdisciplinar do conhecimento, visando à consolidação da cidadania a partir de conteúdos vinculados ao cotidiano e aos interesses dos estudantes. Esta forma de educar pretende ser um dos elementos de um projeto educacional que almeje não só incluir a discussão ambiental no currículo escolar, mas, principalmente, que consiga estabelecer relações sociais e éticas de respeito às outras pessoas, à diversidade cultural e social e ao meio ambiente (Mininni-Medina, 1996; Dias, 2003).

Neste contexto de adoção de um novo enfoque sistêmico da educação, o Ministério da Educação considera fundamental que as escolas proporcionem uma alimentação adequada e saudável, que propicie as condições necessárias ao desenvolvimento e aprendizagem dos educandos, bem como o exercício profissional eficaz dos educadores. Também pondera a centralidade de atividades para melhoria das condições ambientais e a conscientização sobre temas como água, compostagem, agricultura orgânica e agroecologia. Para tanto, é importante que se estabeleçam novos paradigmas educacionais que integrem a saúde, o meio ambiente e o desenvolvimento comunitário (Fernandes, 2005).

A horta inserida no ambiente escolar pode ser um laboratório vivo que possibilita o incremento de diversas atividades pedagógicas em Educação Ambiental e Alimentar, unindo teoria e prática de forma contextualizada. Este espaço auxilia no desenvolvimento de atividades inter e transdisciplinares, contribui para a melhoria das condições nutricionais das refeições e estreita relações sociais a partir da promoção do trabalho coletivo e cooperado entre educadores, educandos, funcionários e seus familiares (Morgado, 2006).

  Além disso, a utilização desta área escolar como recurso didático propicia aos professores uma fuga da educação tradicional baseada em aulas expositivas, onde os conhecimentos são transmitidos aos educandos, “estáticos” em suas carteiras. Dentro da horta, ao ar livre, o saber pode ser construído junto com eles, num compartilhar de experiências cotidianas de seus quintais, estimulando o pensamento unido à prática (Freire, 1987; Fernandes, 2005).

  Nas aulas de Ciências (Biologia, Química e Física) estuda-se a vida e os fenômenos naturais que ocorrem a sua volta, desta forma é de extrema importância o seu ensino em espaços onde os alunos possam relacionar sua aprendizagem com seu cotidiano e sua vida. A observação dos tipos de organismos e de suas funções ecológicas, da composição e estrutura do solo e de processos que ocorrem na horta, como plantio, germinação, crescimento, propagação e colheita de plantas contribui de modo significativo para a aprendizagem e facilita o trabalho do educador (Morgado, 2006).

            O aproveitamento do ambiente da horta depende das técnicas aplicadas para a organização e manutenção deste espaço. Nesse contexto, surge a Agroecologia, uma abordagem agrícola que incorpora cuidados relativos ao ambiente e aos problemas sociais, mantendo em primeiro plano a preocupação com a manutenção equilibrada e sustentável do sistema de produção. A Agroecologia recebe valiosas contribuições de diversas áreas do conhecimento, tais como Ecologia, Agronomia, Antropologia, Sociologia, Botânica e Entomologia (Altieri, 2002).

Importante destacar que com o auxílio da horta, a educação acontece além dos seus espaços tradicionais. Os conhecimentos obtidos na escola podem ser relacionados com os adquiridos fora dela, na vivência diária de cada um. No meio escolar, há a possibilidade de trabalhar os assuntos sobre o plantio de hortas e correlacioná-los com as diversas disciplinas. Na comunidade, há a continuidade dessa ação no cotidiano das crianças que podem trabalhar em suas casas, as técnicas sustentáveis aprendidas e construir novos conhecimentos. Estas hortas escolares podem servir como unidades de experimentação participativa para o desenvolvimento de hortas comunitárias (Fernandes, 2005).

O presente trabalho teve por objetivo dinamizar as aulas de Ciências, utilizando a horta escolar como ferramenta pedagógica para a Educação Ambiental, o ensino das Ciências Naturais e de técnicas agroecológicas.

 

CONSTRUINDO A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COM A HORTA ESCOLAR       

            Este trabalho foi realizado na Escola Estadual Cônego José Ermelindo de Souza, na cidade de Araponga. O município se insere na Zona da Mata de Minas Gerais e 80% de sua população habita a zona rural, inclusive a maioria dos estudantes desta escola (Campos & Ferrari, 2008).

Em novembro de 2009, a direção do colégio mostrou interesse pela realização do projeto em sua escola; na época, a horta escolar estava abandonada. Em Março de 2010, o trabalho começou com duas turmas do Ensino Fundamental, um 6º Ano, com 32 estudantes, e um 7º Ano, com 25 estudantes. Paralelamente, o Sr. Ladário, funcionário da escola, iniciou o manejo da horta, o qual facilitou o desenvolvimento do projeto ao longo do ano.

            As metodologias contemplaram elementos da agroecologia, do ensino de ciências e da realidade dos estudantes, que possuíam vários conhecimentos referentes às experiências de manejo dos quintais de suas casas. As oficinas eram divididas, em sua maioria, numa discussão com os educandos sobre um tema que englobasse os três eixos geradores, e numa atividade prática, onde os estudantes colocavam em prática na horta o que era abordado na parte teórica.

            A seguir são descritas as experiências do projeto.

 

 Meio Ambiente

            No primeiro contato com os educandos, buscamos expor os objetivos do projeto, explicitando a centralidade da horta como um ambiente a ser estudado. As duas oficinas iniciais procuraram discutir o conceito de meio ambiente, com o objetivo de relacioná-lo com o ecossistema da horta.

            Na primeira aula, propomos aos estudantes fazer um desenho livre sobre Meio Ambiente. Todas as ilustrações foram coladas no quadro (Figura 1), sendo utilizadas em uma conversa com as seguintes perguntas geradoras: O que é meio ambiente? Quais são os ambientes que eles conhecem e quais as inter-relações entre eles? Quais destes são ambientes naturais? Houve poucos desenhos de hortas, isto gerou um debate construtivo sobre o caráter deste espaço.

            A segunda oficina teve como eixo gerador os conceitos de rural e urbano. Foram amostradas imagens de diferentes ambientes, numeradas de 1 a 10, aos educandos. Eles foram divididos em trios e foi solicitado que qualificassem os locais mostrados como rural e/ou urbano, escrevendo sete características de cada um destes ambientes. Logo após, discutimos os mais diversos conceitos sobre estes termos, bem como suas relações. Uma das imagens representava Araponga (MG) e, curiosamente, os estudantes do 6º Ano ficaram bem divididos sobre a classificação de sua própria cidade.

            É importante destacar que os conceitos trabalhados nestas oficinas foram construídos juntos com os educandos, numa ideia Freiriana de educação, partindo de seus pensamentos, sem impor conclusões e mostrando que cada um tem seu modo de interpretar o mundo e de conceituá-lo.

 

Conhecimentos Botânicos

            A terceira oficina teve como eixo gerador os conhecimentos dos estudantes sobre as plantas normalmente encontradas nos quintais da região de Araponga (MG). Vinte e nove amostras de plantas, incluindo partes vivas (flores e ramos) e fotos, foram apresentadas aos educandos (Figura 2). Cada um recebeu uma tabela (Quadro I) a ser preenchida.

            Após completarem a tabela, conversamos sobre cada planta, o que proporcionou o compartilhar de conhecimentos entre os educandos e os educadores. Posteriormente, foram feitas estacas com seis plantas amostradas, duas de cada planta, uma colocada num “saquinho” com areia e a outra com a terra da horta, a fim de comparar o enraizamento dos vegetais em diferentes substratos.

                    

Figura 1: Desenho dos estudantes do 7º Ano               Figura 2: Educandos do 7º Ano durante a

sobre Meio Ambiente durante a 1ª Oficina.            3ª Oficina sobre Conhecimentos Botânicos.

 

 

 

Quadro I: Tabela utilizada na terceira oficina sobre Conhecimentos Botânicos.

 

 

Nome

Classificação

Utilização

Tem em casa?

1

 

 

 

 

Até 29

 

 

 

 

           

 

           Os dados da 7º Ano foram interpretados em relação ao nome popular e a presença das plantas na casa dos estudantes, como descrito a seguir.

            Das 29 espécies, 10 apresentaram um consenso igual ou maior que 90% em seu nome popular, com destaque para quatro – “Mangueira” (Mangifera indica L.), “Mandioca” (Manihot esculenta Krantz.), “Mamona” (Ricinus communis L.) e uma espécie de “Bambu” que apresentaram 100% de consenso. Não obstante, os discentes tiveram dificuldade ao denominar outras espécies, como Angico-vermelho (Anadenanthera peregrina (L.) Speg.), Erva-cidreira-de-arbusto (Lippia lba (Mill.) N. E. Br.), Poejo (Mentha pulegium L.) e Vique (Mentha arvensis L.), as quais registraram mais de 30% de respostas em branco e divergências em suas denominações, com quatro ou mais nomes diferentes. As espécies com maior freqüência de ocorrência na casa dos estudantes foram Cebolinha (Allium schoenoprasum L.), com 90%, seguida de Mamona (R. communis), Couve (Brassica oleracea L. var acephala) e Rosa (Rosa sp.), com 86% cada.

 

Solos: Composição e Adubação

            Os solos têm um papel fundamental em qualquer sistema vivo, especialmente na horta. As aulas descritas a seguir almejaram desenvolver uma visão geral sobre a física, química e biologia dos solos, destacando a vivacidade deste meio ambiente e trabalhando técnicas sustentáveis de manejo e adubação.

            A quarta oficina teve como objeto de pesquisa a composição e estrutura dos solos. Construímos um experimento com dois tubos de ensaio grandes e dois substratos: areia e argila; colocamos, então, água e fomos acompanhando a velocidade de penetração do líquido. Essa prática permitiu o desenvolvimento nos educandos de uma argumentação sobre a estrutura e compactação dos solos, relacionando com a retenção da água em diferentes substratos.

            Depois, fomos para o pátio da escola onde cortamos um barranco para mostrar a divisão dos horizontes do solo. A terra retirada foi utilizada para verificar a estrutura, textura, plasticidade e pegajosidade do solo, numa prática de fazer uma “minhoca” com o solo molhado (Figura 3).

            Encerrando o dia, plantamos um canteiro com as mudas de medicinais produzidas na última oficina (Figura 4), comparando o enraizamento no solo arenoso e argiloso e relacionando-o com o experimento do começo da aula. As plantas cultivadas foram: Alfavaca (Ocimum gratissinum L.), Manjericão (Ocimum basilicum L.), Hortelã-pimenta (Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng), Erva-cidreira-de-arbusto (Lippia lba (Mill.) N. E. Br.), Vique (Mentha arvensis L.) e Poejo (Mentha pulegium L.).

 

 

Figura 3: Estudantes do 6º Ano                      Figura 4: Educandos do 6º Ano plantando um

durante a prática da 4ª Oficina.                     canteiro de medicinais durante a 4ª oficina.

 

            A compostagem foi o próximo assunto desenvolvido. Neste dia, os estudantes iniciaram as atividades retirando os “matinhos” dos canteiros e, durante este trabalho, recolheram os animais que foram encontrando (Figura 5). A conversa iniciou-se com base nestes seres vivos, debatendo a importância deles dentro da horta e no meio ambiente como um todo. Um destaque foi feito para os que vivem em baixo da terra, chegando, desta forma, ao tema composteira.

            A técnica da compostagem foi discutida dentro do viés da adubação dos solos, reiterando esta prática, em detrimento da utilização de fertilizantes. Foi desenvolvida junto com os estudantes a ideia do que é uma composteira, como é construída, sua importância para a reciclagem do lixo orgânico e o enriquecimento do solo, como os micro-organismos atuam no processo de decomposição e quais os cuidados necessários. Posteriormente, construímos uma composteira na horta, utilizando os restos alimentares da refeição escolar.

            A atividade descrita acima abriu uma discussão que continuou três aulas mais tarde, na 8ª oficina, com a construção de um minhocário. Conversamos com os estudantes sobre a morfologia e fisiologia das minhocas, reiterando sua importância para a adubação e aeração dos solos.

            Para a parte prática foram necessários os seguintes materiais: minhocas vermelhas-da-Califórnia (Lumbricus rubellus Hoff.), caixa transparente, esterco e terra. Os educandos se dividiram em três grupos: um procurou as minhocas dentro de uma sacola com terra, outro esfarelou o esterco, enchendo a caixa, e o último colocou terra no recipiente (Figura 6).

                

Figura 5: Estudantes do 7º Ano retirando os               Figura 6: Educandos do 7º Ano construindo

“matinhos” dos canteiros durante a 5ª oficina.              um minhocário durante a 8ª oficina.

 

            Terminada a atividade, destacamos os cuidados necessários com o minhocário e questionamos os estudantes sobre os resultados esperados, mostrando, ao final, um húmus de minhoca pronto. Este foi utilizado para adubar o canteiro de medicinais cultivado durante a 4ª oficina.

 

Plantas: Cultivo, Morfologia e Reprodução

            A 6ª Oficina foi o ponto de partida para o estudo dos organismos vegetais. Ela teve como eixo gerador o tema germinação de sementes e produção de mudas. Na conversa, discutimos o que significa a semente para as plantas: como ela surge, o que tem dentro dela, como se transforma numa planta adulta, o que precisa para germinar, do que necessitamos para produzir mudas, quais plantas germinam facilmente no solo e quais devem ser cultivadas na sementeira.

            Durante a prática, foram disponibilizadas aos estudantes sementes de 12 espécies diferentes de plantas ornamentais. Eles encheram um saquinho com a terra da horta e plantaram a semente escolhida (Figura 7). Os educandos levaram de presente para casa os futuros vegetais. Esta metodologia proporciona o envolvimento dos estudantes com a prática de cultivar plantas, além de possibilitar o intercâmbio da atividade na escola com o plantio em seus quintais.

            A oficina seguinte discorreu sobre a morfologia das plantas. 12 mudas de frutíferas foram levadas para a escola, entre elas: Cidra (Citrus medica L.), Araçá (Psidium sp), Goiaba (Psidium guajava L.), Mamão (Carica papaya L.), Ameixa (Eryobotrya japonica (Thunb.) Lindl.), Pitanga (Eugenia uniflora L.), Fruta-do-conde (Annona squamosa L.), Figo (Ficus carica L.) e Amora (Morus sp).

Os estudantes, divididos em dois grupos, interagiram num passa-ou-repassa com as seguintes perguntas: Qual a divisão básica do corpo das plantas? Quais as funções das raízes? E dos caules? Dê exemplos de raízes que utilizamos na alimentação? E caules? Quais as funções das folhas? A equipe com o maior número de acertos ganhava três mudas, para serem plantadas em seus quintais. Durante a atividade, foi utilizada a ameixeira para auxiliar o raciocínio dos educandos e como modelo de explicação aos questionamentos (Figura 8).

           

  

Figura 7: Estudantes do 7º Ano enchendo        Figura 8: Discussão com a turma de 6º Ano

saquinhos com terra durante a 6ª oficina.       sobre morfologia vegetal durante a 7ª oficina.

 

            A 9ª oficina abordou a propagação de plantas. Andamos pela horta, explicando os mais diversos mecanismos de dispersão dos vegetais pelo ambiente, como propagação por sementes, por estacas, por bulbo, por divisão de touceiras e pelo rizoma, exemplificando-os com os cultivares presentes nos canteiros. Na parte prática, os estudantes plantaram feijões (Phaseolus vulgaris L.) e ervilhas (Pisum sativum L.) (Figura 9).

 

Figura 9: Educandos do 6º Ano plantando

feijão e ervilha durante a 9ª oficina.

 

            Nas duas aulas subseqüentes trabalhamos a importância das flores, dos frutos e da polinização para os organismos vegetais. Na 10ª oficina foram levadas para os educandos 30 flores e 20 frutos de diversas plantas diferentes. Dividimos a turma em dois grupos e fizemos um Quizz com as seguintes perguntas: O que significa a flor para as plantas? Qual a diferença entre flor e inflorescência? Quais as partes de uma flor e suas funções? Como surge o fruto? Qual sua função? Qual a diferença entre fruta e fruto? O grupo que acertou o maior número de perguntas ganhou as flores e frutos amostrados.

            A 11ª aula, complementando a anterior, discutiu a questão da polinização. Assistimos o filme: “A vida secreta das Plantas” que dissertava sobre este tema e posteriormente abordamos os tipos de polinização, destacando a centralidade dos animais para a produção agrícola e sua importância no contexto da horta e da agroecologia.

 

 

Monocultura e Agrofloresta

            Após toda a compreensão do que é o meio ambiente da horta escolar, a importância dos solos, seres vivos presentes nesse ecossistema, realizamos uma oficina para comparar dois diferentes sistemas de produção de alimentos.

            Na 12ª oficina, os estudantes foram questionados com as seguintes perguntas geradoras: O que é um plantio em Sistema Agroflorestal? E em Sistema de Monoculturas? Qual a diferença de cada um deles? Quais suas vantagens (benefícios) e desvantagens (malefícios)?

            Ao final da discussão teórica desta aula, retomamos o tema minhocário, o húmus de minhoca produzido na 8ª oficina estava pronto e foi utilizado na horta para adubar alguns canteiros.

 

Alimentação e Nutrição

            Este tema foi o último a ser abordado no projeto e teve como objetivo trabalhar com os estudantes as qualidades nutricionais e medicinais das plantas presentes na horta escolar.

            Num primeiro momento foi realizada uma explanação teórica sobre as principais biomoléculas de nosso corpo. Cada estudante recebeu uma tabela com as qualidades nutricionais e medicinais de todas as plantas da horta e de outras comuns em nossa alimentação. Fomos então para a horta visualizar a composição cada uma delas. Encerramos degustando um suco de couve com limão, retirados da horta, abordando suas qualidades terapêuticas (Figura 10).

 

RESULTADOS

            Ao final de todas estas oficinas, os estudantes fizeram na horta um canteiro de medicinais e temperos, com manjericão, hortelã-pimenta, vique, menta, erva-cidreira e alfavaca que cresceram ao longo do ano. Estes plantaram feijão e ervilha que frutificaram; construíram duas composteiras, visualizando o processo de decomposição; e produziram dois minhocários, cujo húmus de minhoca foi empregado na adubação dos canteiros.           

            Este projeto se propôs também a incentivar os estudantes a cuidarem dos quintais de suas casas, já que a grande maioria mora na zona rural de Araponga (MG). Para tanto, as crianças cultivaram mudas de ornamentais, sendo posteriormente plantadas em suas respectivas casas. Alguns estudantes ganharam mudas de frutíferas que foram plantadas em seus quintais.

 

Figura 10: Couves da horta utilizadas para fazer um suco durante a 13ª oficina

 

            Reiteramos que o aspecto central deste trabalho foi a criança, em seu desenvolvimento como ser humano, compreendendo a horta como um ecossistema dinâmico, onde plantas, animais e microorganismos convivem juntos, numa complexa cadeia de interações. Desta inter-relação surgem alimentos saudáveis para nutrir nosso organismo.

            Esta proposta educacional tentou se aproximar de um ideal Freiriano de educação (Freire, 1987), contextualizando o ensino das Ciências Naturais com a realidade local dos educandos, inseridos num município predominantemente rural. Os conhecimentos construídos com estudantes nas oficinas são úteis em seu cotidiano, sobretudo para aqueles que possuem uma horta em casa.

            A escola se envolveu nas ações do projeto e isto foi essencial para a realização do mesmo. A direção disponibilizou um funcionário, Ladário, que manejou o espaço da horta durante todo o ano, plantando diversas hortaliças. O processo de modificação e desenvolvimento da horta foi essencial para o acompanhamento da sucessão ecológica deste ecossistema.

Os estudantes mostraram interesse pelos temas trabalhados, sendo participativos e ativos no manejo da horta, auxiliando assim o desenvolvimento deste local dentro da escola.

Estes resultados apontam algumas das múltiplas possibilidades de utilização da horta, demonstrando a importância que este espaço pode desempenhar no contexto escolar.

 

AGRADECIMENTOS

            Agradecemos a toda comunidade da Escola Estadual Cônego José Ermelindo de Souza, em especial a diretoria, ao funcionário Ladário e aos estudantes e professores que se envolveram com este projeto. Agradecemos também ao Programa Institucional de Bolsas Universitárias de Extensão da Universidade Federal de Viçosa que financiou este projeto.

             

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALTIERI, M. A. Agroecologia: as bases científicas para uma agricultura sustentável. Guaíba: Agropecuária, 2002.

CAMPOS, A. P. T. & FERRARI, E. A. A conquista de terras em conjunto: autonomia, qualidade de vida e Agroecologia. Agriculturas, v. 5, nº4, 2008.

DIAS, G.F. Educação Ambiental: princípios e práticas. 8. ed. São Paulo: Gaia, 2003.

FERNANDES, M. C. de A. A Horta Escolar como Eixo Gerador de Dinâmicas Comunitárias, Educação Ambiental e Alimentação Saudável e Sustentável. Projeto PCT/BRA/3003 – FAO e FNDE/MEC: Brasília, 2005.

FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 17.ed. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra S/A, 1987.

MININNI-MEDINA, N. A educação Ambiental para o século XXI, IBAMA, Séria Meio Ambiente em Debate, Brasília, 1996.

MORGADO, S. F. A horta escolar na educação ambiental e alimentar: experiência do Projeto Horta Viva nas escolas municipais de Florianópolis. Florianópolis. 45p. (Trabalho de conclusão do curso de Agronomia): Universidade Federal de Santa Catarina, 2006.

 

 

Ilustrações: Silvana Santos