Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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06/12/2018 (Nº 66) ANÁLISE AMBIENTAL DE TRATAMENTO DOS RESÍDUOS OLEOSOS DE UMA OFICINA MECÂNICA NO MUNICÍPIO DE NOVA VENÉCIA-ES
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ANÁLISE AMBIENTAL DE TRATAMENTO DOS RESÍDUOS OLEOSOS DE UMA OFICINA MECÂNICA NO MUNICÍPIO DE NOVA VENÉCIA-ES



Ediu Carlos Lopes Lemos1, Silma Rodrigues Sandes2

ediulemos@hotmail.com; silmasandes@hotmail.com

1Coordenador da Pós-graduação em Gestão Ambiental, Instituto Federal do Espírito Santo – Campus Nova Venécia

2Pós-graduada em Gestão Ambiental, Instituto Federal do Espírito Santo – Campus Nova Venécia

Resumo: Este trabalho fez uma análise ambiental do sistema separador água e óleo utilizado em uma oficina na cidade de Nova Venécia-ES. O objetivo do trabalho é gerar dados que possam ser aplicados em campanhas de educação ambiental para o setor. O resultado demonstrou que a empresa atende as exigências legais ao instalar o separador e a qualidade da água ao final do processo está dentro dos padrões legais embora, não signifique dizer que a eficiência do sistema esteja satisfatória.

Palavras-chave: Oficina, Resíduos Oleosos, Nova Venécia

Abstract: The present work treats of an environmental analysis of the system of collection of solid residues in a workshop in the city of Nova Venécia-ES. The result demonstrated that the company assists the legal demands when installing the sifter and the quality of the water at the end of the process is inside of the legal patterns away, don't mean to say that the efficiency of the system is satisfactory

Keywords: garage, oily residues, Nova Venécia



Introdução

A água é um recurso hídrico com caráter renovável e é indispensável à existência de vida na Terra. É utilizada pelo homem para satisfazer as suas necessidades metabólicas e em quase todas as suas atividades.

Com o grande desenvolvimento industrial, a contaminação das águas e os problemas ambientais têm se tornado cada vez mais constantes, levando as empresas a aplicarem novas tecnologias e se tornarem mais rígidas com seus descartes de efluentes.

O descarte de efluentes industriais e urbanos sem tratamento vem comprometendo a qualidade dos mananciais dos grandes centros. Em algumas regiões no Brasil o tratamento de esgoto sanitário já se faz presente, porém ainda em processo de implantação, não atendendo à grande maioria da população (BOHN, 2014).

Neste propósito (LOPES, 2007), argumenta que a falta de um gerenciamento adequado de resíduos, especialmente por parte das empresas, é um problema ambiental extremamente grave em virtude dos diferentes compostos químicos oriundos deste meio.

Para a conservação de nossa herança ambiental e recursos naturais para as futuras gerações, soluções economicamente viáveis devem ser desenvolvidas com o objetivo de reduzir o consumo de recursos, deter a poluição e conservar habitats naturais.

Este trabalho avaliou as atividades desenvolvidas por uma oficina mecânica que pode vir a serem consideradas potencialmente poluidoras. Como exemplo, podemos citar a lavagem de veículos, peças e a troca de óleo, que podem contaminar o solo e as águas, quando não há o devido tratamento da água contaminada com óleo. Para evitar o descarte de águas contaminadas as empresas utilizam um sistema de caixa separadora de água e óleo conforme prevê a Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) nº 430/2011.

Segundo Gonçalves et al. (2016) o descarte de forma inadequada do óleo é considerado crime, pois o óleo é classificado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT como resíduo perigoso de classe I, representando grande potencial de risco ao meio ambiente e à saúde pública.

No município de Nova Venécia onde está localizada a empresa pesquisada, existem aproximadamente 47 oficinas mecânicas, sendo que 90% dessas, utilizam as caixas coletoras de óleo pelo método convencional como forma de tratamento dos resíduos oleosos produzidos.

O Programa Nacional de Meio Ambiente (PNMA) exige que esse tipo de sistema seja licenciado e implantado em locais com solos impermeáveis, sendo necessária a presença de caixas de areia para a retenção do material mais pesado, gerado pela lavagem dos automóveis e caixas separadoras de água e óleo.

De acordo com os parâmetros legais de exigência ambiental, a consciência ecológica e social, desse tipo de empreendimento como os demais, precisa estar em paralelo com a legislação, e procurar se adequar para manter o desenvolvimento de forma sustentável.

Metodologia

O trabalho apresenta a verificação técnica ambiental da oficina mecânica, localizada no município de Nova Venécia, no período de fevereiro a outubro de 2016, sendo que o foco estava em acompanhar o tratamento da caixa separadora de água e óleo. A pesquisa, com o contexto voltado a educação ambiental teve início com uma entrevista junto ao gerente da oficina para se ter um conceito da situação.

Posteriormente, foram realizadas etapas de campo, onde foi possível se perceber que a empresa não apresenta processos formalmente definidos nas atividades dos funcionários. Em um primeiro momento, a rotina da oficina mecânica foi acompanhada para identificação dos processos que geram efluentes que são destinados à caixa separadora de água e óleo, em seguida foi apresentado ao gestor da oficina possibilidade de reúso das águas tratadas.

Resultados

A oficina pesquisada, localiza-se no município de Nova Venécia – ES, possui 23 funcionários, atuando com atividades em serviços de manutenção e reparo mecânico de veículos automotores e de tratores agrícolas além, do comércio de peças e acessórios novos e usados.

A pesquisa focou na área interna da oficina, bem como, a área da lavagem de peças. Na área interna da oficina o piso é revestido de cerâmica, mas, percebe-se derramamento de óleo das peças retiradas dos veículos, porém, estes óleos são removidos com pó de serra e ao final da semana de atividades da oficina é feita a lavagem do piso (Figura 5).

A limpeza das peças da empresa ocorre em área separada das demais atividades, onde os solventes e desengraxantes utilizados para tal finalidade são recolhidos em uma pia que succiona o efluente (Figura 6).

Na área da lavagem das peças, notam-se os pontos de coleta de efluentes encaminhados até a caixa separadora. O primeiro coletor está situado na área da oficina conforme Figura 6, o segundo coletor está localizado no final do box de lavagem. Conforme observado no plano, o coletor da oficina está interligado ao coletor da lavagem das peças e após junção, ambos passam para a caixa separadora.

O sistema adotado pela empresa foi de separação convencional, que consiste em um sistema formado por várias caixas e tem por finalidade separar óleos e impurezas da água, conforme Figuras 7 e 8.

Segundo Leppa (2015), o funcionamento de uma caixa separadora acontece pelo seguinte modo, ela recebe água da lavagem de peças e mãos dos funcionários contendo resíduo de óleo, este resíduo não pode ser lançado diretamente na rede de esgoto.

A caixa separadora contém três repartições que funcionam da seguinte maneira:

I - Caixa retentora de areia: Tem como objetivo fazer com que decante todo lodo presente na água contaminada, a passagem da primeira para a segunda repartição acontece por gravidade onde duas caixas são separadas por uma parede e conforme vai enchendo irá transpor a barreira.

II - Caixa separadora de óleo: Para que o óleo sobrenadante se separe novamente através do efeito da gravidade, onde ao meio se encontra um cano que conforme há o abastecimento do efluente, o cano fará a coleta deste óleo sobrenadante para um recipiente de coleta, este resíduo é enviado para uma empresa autorizada que dará o devido tratamento.

III - Caixa de inspeção: Ainda, na segunda repartição, ao fundo dela, são colocados tijolos do tipo furado e pedras tipo brita, que diminuem a velocidade na qual há a passagem do efluente para a terceira repartição. Essa passagem ocorre pelo fundo justamente por não haver camada de óleo superior na anterior. Podendo, ainda, haver passado algum óleo sobrenadante ao final, onde se encontra um joelho que serve justamente para coletar o efluente mais a abaixo do nível (LEPPA, 2015).

Os Separadores água-óleo ou simplesmente os SAO, são usados para receber efluentes e águas contaminadas com óleos e graxas de áreas de manutenção, lavagem de veículos, máquinas em oficinas mecânicas, etc. Os separadores água-óleo empregam métodos físicos e trabalham por densidade, usando a tendência de o óleo flutuar na água. Uma gota de óleo com 100 micra (0,1 mm) sobe na água a uma velocidade de 1,5 cm/min, entretanto, uma gota de 20 micra, demora 2 horas para percorrer a mesma distância. (BOHN, 2014). Para evitar que gotas menores sejam arrastadas pelo fluxo sem tratamento, se usam recheios coalescentes que capturam as gotas e as agregam em gotas maiores com maior velocidade de ascensão. Usam-se, para este efeito materiais óleo-fílicos tipo pratos inclinados corrugados e outros recheios às quais as gotinhas de óleo aderem quando a água contaminada passa. (BOHN, 2014).

Os tipos básicos de projetos de separadores água e óleo são listados abaixo (ARIZONA DEPARTMENT OF ENVIRONMENTAL QUALITY, 1996):

  • Separador convencional ou spill control;

  • Separador de placas coalescentes ou coalescing plate (CP);

  • Separador API ou American Petroleum Institute Separator.

Nas atividades automotivas em operação no país, a utilização dos separadores convencionais, unidades feitas em concreto, ocorre com muito mais frequência em relação aos demais sistemas de separação e materiais empregados. Em muitos casos, esses separadores são projetados e construídos sem critérios técnicos adequados, de forma empírica, com utilização de mão-de-obra não qualificada (FEEMA/COPPETEC, 2003).

A destinação final do efluente gerado, após o tratamento, pode ser o reaproveitamento, o lançamento na rede coletora, ou corpo receptor, respeitando os limites estabelecidos na legislação ambiental pertinente (GIORDANO, 2004).

De forma a avaliar a eficiência da caixa separadora utilizada pela oficina em estudo, a empresa apresentou um relatório de análise de água da saída final do sistema e que foram colhidas pela própria empresa. Essas amostras foram analisadas em dezembro de 2015 e janeiro de 2016 pelo Laboratório de Análise Agronômica e Ambiental FULLIN, em que os resultados são apresentados na tabela 1:

Tabela 1 - Resultados da análise de água da empresa.

Parâmetro Analisado

Unidade

LQ

Resultado da Análise

VPM CONAMA

430/2011

Método utilizado

Data do ensaio

Óleos e Graxas Vegetais e Animais

mg/L

7

11

50

SMEWW5520 D

06/01/2016

Óleos Minerais

mg/L

7

12

20

-

06/01/2016

PH

-

2 a 13

6,44

5.0 a 9.0

SMWW4500 H* B

28/12/2015

Sólidos Sedimentáveis

ml/L

0,2

˂ 0,2

1

SMWW2540 F

30/12/2015

Sólidos Suspensos Totais

mg/L

12

38

n.e

SMWW2540 D

29/12/2015

Surfactantes (como LAS)

mg/L

0,11

14,25

n.e

SMWW5540 C

29/12/2015

Fonte: Laboratório de Análise Agronômica e Ambiental FULLIN.

LQ: Limite de Quantificação

VMP: Valor Máximo Permitido de acordo com a Resolução CONAMA Nº 430, artigo 16, de 13 de maio de 2011-Padrão de lançamento de efluentes.

n.e: Não especificado.

O resultado da análise dos óleos e graxas vegetais e animais obtidos, apresentou um resultado de 11 mg/L quando o valor máximo permitido é de 50 mg/L, encontrando-se dentro do limite estabelecido.

O resultado da análise dos óleos minerais observados do sistema separador água e óleo, obteve um valor de 12mg/L, indicando um valor dentro do limite de lançamento, estabelecido pela CONAMA Nº 430/2011 que é de 20 mg/L.

O pH obtido nesta análise foi considerado satisfatório, chegando ao valor de 6,44 comparado ao valor máximo permitido pela CONAMA 430/2011 que é de 5.0 a 9.0.

O valor dos sólidos sedimentáveis encontrado foi de ˂ 0,2, sendo que o valor máximo permitido pela CONAMA Nº 430/2011 é de 1.

Em relação aos sólidos suspensos totais e surfactantes, o resultado foi de 38 e 14,25mg/L respectivamente.

Discussão

A partir desse estudo verificou-se que a eficiência desse sistema está diretamente ligada à quantidade de material oleoso presente no efluente a ser tratado e a vazão do efluente para não comprometer a eficiência do sistema. Entretanto, é importante entender que o efluente em questão não ficará totalmente tratado, por isso é muito importante que ocorra um controle no sistema de tratamento, sendo, ainda sim, a prevenção a melhor maneira de conservar o meio ambiente.

Os resultados obtidos permitiram concluir que as etapas de gerenciamento dos resíduos da caixa coletora de óleo da oficina mecânica pesquisada, apresentaram resultados satisfatórios comparados com normas e resoluções vigentes, como a Resolução CONAMA nº 430/2011.

Em relação à investigação dos procedimentos atuais de gerenciamento de separadores de água e óleo mais usados, constatou-se que no município onde está localizada a oficina pesquisada, existem aproximadamente 47 oficinas, sendo que 90% dessas, utilizam as caixas coletoras de óleo pelo método convencional.

Uma alternativa para a melhoria seria que os órgãos ambientais do município realizassem visitas técnicas periódicas aos estabelecimentos para avaliar o sistema de caixa separadora de água e óleo, de forma que se tornem conhecedores da realidade encontrada no empreendimento, e diversos outros, no entanto o que acontece não é exatamente isso. E antes do desenvolvimento completo do sistema, verificar se ele é eficaz na sua técnica empregada.

Após o estudo realizado, apresenta-se como recomendações para melhoria no sistema que, na caixa separadora de saída, a água do processo final que seria lançada para o esgoto, poderia ser reutilizada para a manutenção das caixas de descargas dos sanitários masculinos e femininos da empresa, visto que a mesma possui 23 funcionários e gasta em média por dia, 1.500 litros de água por dia.

Bibliografia

ARIZONA DEPARTMENT OF ENVIRONMENTAL QUALITY. Badct guidance document for pretreatment with oil/water separators draft. USA, 1996. 34p.

BOHN, Fernando P. Tratamento do efluente gerado na lavagem de veículos. 2014. 48f. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução n° 430, de 13 de maio de 2011. DOU de maio de 2011.

FEEMA/SEMADS/COPPETEC. Programa de capacitação técnica e gerencial de órgãos ambientais Fase II. Módulo 8: Controle de efluentes líquidos em atividades potencialmente poluidoras de Pequeno Porte. Rio de Janeiro, 2003.

GIORDANO, Gandhi. Tratamento e controle de efluentes industriais. Apostila de Curso. Departamento de Engenharia Sanitária e do Meio Ambiente/UERJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2004.

GONCALVES, J. C.; PINTO, M. J.; OLIVEIRA, C. N. C.; COSTA, W. J. V. Estratégia e viabilidade econômica no processo de regeneração do óleo lubrificante mineral usado em equipamentos industriais. IN: XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO. Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

LEPPA, Adriano. Sistema de separação de água e óleo em atividades automotivas: considerações gerais. 2015. Disponível em: https://www.univates.br/tecnicos/media/artigos/adriano.pdf. Acesso em: 15 Ago. 2016.

LOPES, G. V.; KEMERICH, P. D. da C.. Resíduos de Oficina Mecânica: Proposta de Gerenciamento. Disciplinarum Scientia: Ciências Naturais e Tecnológicas, Santa Maria, v. 8, n. 1, p.81-94, 2007.

Ilustrações: Silvana Santos