Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Relatos de Experiências
05/03/2018 (Nº 63) DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: CONTEÚDOS COGNITIVOS DE ALUNOS DE ENGENHARIA AMBIENTAL E SANITÁRIA SOB A ÓTICA DO COGNITIVISMO
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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL:

CONTEÚDOS COGNITIVOS DE ALUNOS DE ENGENHARIA AMBIENTAL E SANITÁRIA SOB A ÓTICA DO COGNITIVISMO.



Maikon de Sousa Michels1

Marilia Bonelli Lima2

Nathallya de Aguiar3



1Professor do Curso de Psicologia da Universidade da Região de Joinville, UNIVILLE

Joinville, SC, Brasil

End. Eletrônico: maikon_michels@yahoo.com.br



2Acadêmica do Curso de Psicologia da Universidade da Região de Joinville, UNIVILLE

Joinville, SC, Brasil

End. Eletrônico: mariliabonellipsi@gmail.com





3Acadêmica do Curso de Psicologia da Universidade da Região de Joinville, UNIVILLE

Joinville, SC, Brasil

End. Eletrônico: nathallyadeaguiar@gmail.com









RESUMO:

Este artigo tem como objetivo central Investigar os conteúdos cognitivos de acadêmicos do 1° e 5° ano de Engenharia Ambiental e Sanitária da Universidade da Região de Joinville – Univille, relacionadas ao desenvolvimento sustentável. Foram aplicados questionários semi-abertos com 28 alunos do quinto ano e 9 do primeiro ano com questões sobre os conteúdos cognitivos dos alunos quanto ao desenvolvimento sustentável, quanto a carreira do engenheiro ambiental e sanitário e sobre ética profissional. Fundamentaram teoricamente esta pesquisa os seguintes autores: Alves (2009), Dobson & Dobson (2009) e Jacobi (2000). Mediante a análise dos dados coletados foi possível identificar crenças intermediárias relacionadas a valores e princípios e características da profissão, demonstrando traços comuns relacionados ao engenheiro ambiental e sanitarista nos conteúdos cognitivos apresentados por esses alunos.

PALAVRAS CHAVE: desenvolvimento sustentável; cognitivismo; engenharia ambiental e sanitária.



USTAINABLE DEVELOPMENT:

COGNITIVE CONTENTS OF STUDENTS OF ENVIRONMENTAL AND SANITARY ENGINEERING UNDER THE OPTICS OF COGNITIVISM.

ABSTRACT:

The main objective of this article is to investigate the cognitive contents of academics from the 1st and 5th year of Environmental and Sanitary Engineering of the University of the Region of Joinville - Univille, related to sustainable development. Semi-structured questionnaires were applied with 28 students from the fifth year and 9 from the first year with questions about the students' cognitive contents regarding sustainable development, the career of the environmental and health engineer and professional ethics. The following authors were theoretically based on this research: Alves (2009), Dobson & Dobson (2009) and Jacobi (2000). Through the analysis of the collected data it was possible to identify intermediate beliefs related to values and principles and characteristics of the profession, showing common traits related to the environmental and sanitary engineer in the cognitive contents presented by these students.

KEY WORDS: sustainable development; cognitivism; environmental and sanitary engineering.





INTRODUÇÃO

Esse artigo visa, baseando-se no Cognitivismo, identificar fatores relevantes em relativos aos conteúdos cognitivos dos acadêmicos do 1° e 5° ano de Engenharia Ambiental e Sanitária da Universidade da Região de Joinville – UNIVILLE, associados ao desenvolvimento sustentável, tendo em vista que a cognição serve como mediadora do comportamento, ou seja: há um processamento cognitivo e uma avaliação de eventos constante mediando nossas respostas emocionais e comportamentais.

Muitas abordagens têm sido propostas para explicar o fenômeno da cognição, para Dobson & Dobson (2009, p.13)



O modelo cognitivo-comportamental não endossa a ideia de que as pessoas simplesmente tenham uma resposta emocional a um acontecimento ou situação, mas que o modo como nós construímos ou pensamos o acontecimento é central para a maneira como nos sentimos. Da mesma forma, são nossas cognições ou pensamentos que influenciam fortemente nossos padrões comportamentais em várias situações da vida.



Pressupõe-se que quando há indivíduos inseridos em um mesmo contexto acadêmico, há a tendência a compartilhar entre si certos conteúdos cognitivos, sendo que as vivências individuais trarão percepções singulares, e o meio acadêmico as amplia, o que pode gerar ressignificações ao longo do processo de formação. O estudo sobre a formação desses profissionais que futuramente se vincularão a práticas voltadas ao meio ambiente, serve de parâmetro para identificar nesse coletivo quais são seus conteúdos cognitivos mais relevantes em relação ao desenvolvimento sustentável.

Furtado (1994) explica o termo desenvolvimento sustentável através do Relatório Brundtland: Desenvolvimento sustentável seria a forma de desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações também alcançarem a satisfação de suas necessidades. Constatando a relevância da importância que a concepção profissional sobre o tema impacta em ações.

O presente artigo está estruturado da seguinte forma: na primeira parte, delinearam-se os aportes teóricos sobre desenvolvimento sustentável, conteúdos cognitivos e sobre definições da profissão do engenheiro ambiental e sanitarista. Em seguida descreve-se o percurso metodológico e logo após são apresentados e discutidos os resultados desta pesquisa, estes oriundos das análises dos questionários aplicados com os alunos. Por fim, são apresentadas algumas considerações que se revestem em uma síntese dos principais achados da pesquisa.



APORTE TEÓRICO:

Dentro dos moldes de uma sociedade capitalista tem-se o consumo e a produção em massa como focos centrais e dentro dessa mesma ótica a natureza é encarada como uma fonte utilitária e inesgotável recursos. Os ideais de progresso, inovação, expansão e o consumismo exacerbado geraram diversas transformações ambientais, e por consequência, as múltiplas degradações que configuram a crise ambiental atual. Segundo Foladori (1999,p. 31):

Para qualquer espécie viva, o ambiente é a inter-relação com o meio abiótico e com as outras espécies vivas. Entre estes três grupos, espécie, meio abiótico e outras espécies, estabelece-se uma inter-relação de dependência dinâmica. Qualquer espécie extrai recursos do meio e gera dejetos. Quando a extração de recursos ou a geração de dejetos é maior do que a capacidade do ecossistema de reproduzi-los ou reciclá-los, estamos frente à depredação e/ou poluição, as duas manifestações de uma crise ambiental.



De acordo com Jacobi (2000) as agressões ao meio ambiente repercutem de forma interdependente em escala planetária, mediados por processos sociais, como a consciência ambiental que se constrói um entendimento de que as transformações ambientais de hoje são ameaças cada vez mais latentes. Santos et al. (2016, p.160) trás uma correlação considerada primordial dentro de nossa pesquisa:

A ênfase dada a área de Engenharia, deve-se à sua importância correlacionada com a temática Educação Ambiental, visto que a engenharia em si, é sinônimo de desenvolvimento econômico e social de qualquer país, entretanto, ao mesmo tempo em que se elevam os índices de desenvolvimento, aumenta o consumo de recursos naturais e também a geração de resíduos, gerados pelas obras necessárias ao desenvolvimento. Diante deste grande desafio, a educação ambiental é a principal ferramenta para equalizar este problema e deve ser incorporada aos currículos dos cursos de engenharia desde os primeiros semestres, para que desta forma, possa, ainda na universidade, despertar o interesse dos futuros engenheiros, para a grande questão da preservação ambiental.



No âmbito acadêmico e científico a preocupação com a crise ambiental não teve início nessa década, mas na década de 70 quando as questões ambientais passaram a serem problemáticas mundiais. Em 1975 foi criado o primeiro curso de Ecologia, na Universidade Estadual Paulista (Unesp) onde haviam perspectivas interdisciplinares com outros cursos já existentes como Ciências Biológicas com habilitação em Ecologia. Em 1977, foi criado na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) o primeiro curso de Engenharia Sanitária, voltado para questões do saneamento básico, e a partir dos anos 90 o termo “ambiental” começou a ser vinculado a esses cursos, conforme Reis (2005).

Em 1992, foi formado o primeiro curso a se chamar de Engenharia Ambiental e Sanitária no Brasil, na Universidade Federal do Tocantins, que conforme Bacci e Sousa (2014) afirmam que nomes mudaram, mas os impasses continuam os mesmos, embora a degradação aumente a cada ano, gerando um saldo negativo para a regeneração do meio ambiente. Ao modificar ou agregar o nome de Engenharia Ambiental e Sanitária vinculado ao nome do curso de graduação, foi cunhado um novo significado pelo CREA-RS (2007):



Ela (a Engenharia Ambiental e Sanitária) busca conciliar de maneira harmoniosa desenvolvimento e meio ambiente, visando o levantamento e a redução de possíveis danos ocasionados pelo ser humano através de sua influência na natureza. Para isso, o profissional tem uma formação multidisciplinar, com conhecimentos de Química, Física e Matemática, além de áreas específicas como hidrologia, climatologia, saúde ambiental, tratamento de afluentes, tratamento de resíduos, avaliação de impacto ambiental, gestão ambiental, planejamento, entre outros. O engenheiro ambiental atua de maneira conjunta com profissionais de diversas áreas analisando o impacto na natureza de processos e obras, no intuito de evitar ou minimizar danos.”

O termo desenvolvimento sustentável, segundo Handmer e Dovers (1996) citado por Gremaud e Lazaro (2017, p. 58) e extraído de uma definição de desenvolvimento sustentável publicada do Relatório Brundtland, se constitui de uma expressão do princípio moral e de equidade intergeracional, de garantir que o meio ambiente natural seja mantido para que gerações futuras também possam usufruir. Constatação essa que faz parte da conjuntura do Engenheiro Ambiental, por Hori e Renofio (2008,p. 2):

Indispensável que o Engenheiro esteja consciente da importância em proteger o ambiente nas realizações de suas atividades, particularmente nos casos em que para desenvolvê-las, seja necessário alterar o ambiente natural. Entretanto, isso pode ser feito de forma ordenada, adotando-se cuidados, de modo a minimizar a manifestação dos impactos negativos. Para a correta intervenção do profissional de engenharia, há a necessidade de ter consciência que o entendimento de que os fenômenos ambientais são extremamente complexos e interdependentes, assim como as ações que desencadeiam efeitos adversos ao ambiente.



Na intervenção que o engenheiro ambiental se propõe exercendo sua profissão, suas ações passam a ter impactos ambientais diretos, e tendo isso em vista, seus conteúdos cognitivos relativos a sua profissão tem total relação com a maneira pela qual será desenvolvido seu trabalho.

Nossas interações com o mundo e as outras pessoas, também influenciadas por nossas predisposições genéticas, irão nos conduzir a determinados entendimentos da realidade a nossa volta (Beck, 2013), e por sua vez, nossos entendimentos influenciam em nossos comportamentos. O processo envolvido nesses entendimentos é denominado cognição.

A teoria cognitiva explica o papel das cognições nos inter-relacionamentos entre variáveis clinicamamente relevantes, tais como emoção, comportamento e relacionamentos interpessoais. A cognição como atualmente definida inclui todas as estruturas teóricas necessárias para apoiar o processamento de informações (BECK & ALFORD,2000, p.45).

Segundo Beck (2013), as crenças são definidas a partir dos dados relativos ao desenvolvimento, pois desde a infância se inicia a construção das crenças a respeito de nós mesmos, de outras pessoas e do mundo. Dentro dessa teoria, são denominadas crenças centrais os entendimentos mais fundamentais, nucleares e profundos de uma pessoa, consideradas verdades absolutas (porém não necessariamente condizendo com a realidade) e, por isso, dificilmente articulados por ela.

Conforme o apontamento acima, as crenças centrais se tratam de ideias rígidas e cristalizadas, enquanto as crenças intermediárias dizem a respeito das regras, atitudes e suposições do indivíduo. Os dois tipos de crenças são direcionadas a si mesmo, outras pessoas e a seus mundos.

A TCC pressupõe nosso sistema de crenças exerce um papel importante no desenvolvimento de nossos sentimentos e comportamentos, sendo assim, o sistema de crenças dos engenheiros ambientais e sanitaristas, influenciará nas suas ações enquanto profissionais, e estas por sua vez influenciarão de forma direta no meio ambiente e consequentemente nas populações por meio de seu trabalho. Tendo isso em vista, é de grande importância que seu sistema de crenças não seja pautado apenas com foco em ganhos financeiros, mas sim na ética profissional e na consciência com relação a importância da proteção do meio ambiente.

Para a construção de seu trabalho, durante o processo da graduação, os discentes se deparam com disciplinas que abordam os conteúdos referentes a técnicas de gestão ambiental, saneamento básico, avaliação de impactos e riscos ambientais, a exemplo da grade curricular do curso oferecido pela Univille, onde encontram-se algumas disciplinas como: Planejamento e Gestão Ambiental, Controle de Poluição Atmosférica; Processos Industriais, Projeto de Redes de Abastecimento de Água e Projeto de Redes de Coleta de Esgoto. Disciplinas essas que, conforme forem pautadas, podem instigar a construção de cognições quanto ao desenvolvimento sustentável de maneira equilibrada, articulada com as necessidades do meio ambiente.

De acordo com Rempel et al. (2008), a importância da pesquisa em percepção ambiental para planejamento do ambiente foi ressaltada na proposição da UNESCO (1973) a qual se destaca que “uma das dificuldades para a proteção dos ecossistemas naturais está na existência de diferenças nas percepções dos valores e da importância dos mesmos entre os indivíduos de culturas diferentes ou de grupos sócio econômicos, que desempenham funções distintas no plano social, nesses ambientes” .

O estudo sobre a formação desses profissionais que futuramente se vincularão a práticas voltadas ao meio ambiente, serve de parâmetro para identificar nesse coletivo quais suas conteúdos cognitivos mais relevantes em relação ao desenvolvimento sustentável, percebendo se há indícios que na formação desses profissionais há capacitação para lidar com problemas ambientais de forma realista e consciente, portanto, as pesquisas nessa área são tem fator de grande importância quando se pensa no desenvolvimento sustentável, visto que os engenheiros ambientais e sanitaristas tem um grande impacto tanto na preservação quanto na destruição, dependendo de quais valores irão nortear seu trabalho.



METODOLOGIA

Com o intuito de investigar os conteúdos cognitivos relacionados ao desenvolvimento sustentável de alunos do 1° e 5° ano do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, nos propusemos a evidenciar semelhanças e diferenças do começo e início da formação acadêmica ao que tange a essa temática.

. A amostra de pesquisa possuía 28 alunos do quinto ano e 9 do primeiro ano, o questionário semi-aberto continha 9 questões com temáticas sobre os conteúdos cognitivos dos alunos quanto ao desenvolvimento sustentável, quanto a carreira do engenheiro ambiental e sanitarista e sobre ética profissional.

Após a fase de aplicação dos questionários foi iniciada a fase de análise dos conteúdos das respostas abertas, que conforme Minayo e Sanches (1993, p. 244):

A abordagem qualitativa realiza uma aproximação fundamental e de intimidade entre sujeito e objeto, uma vez que ambos são da mesma natureza: ela se volve com empatia aos motivos, às intenções, aos projetos dos atores, a partir dos quais as ações, as estruturas e as relações tornam-se significativas.



Justificando que para a compreensão de relações e atividades humanas, a abordagem qualitativa se faz presente, pois no uso dela se trabalha no campo da subjetividade, no caso do presente projeto, do cognitivismo. Minayo e Sanches (1993) afirmam que esperam que nas relações sociais possam ocorrer analises mais concretas e aprofundadas em seus significados essenciais, fazendo assim o estudo quantitativo gerador de questões que podem ser aprofundadas quantitativamente.

O método selecionado para a análise dos dados será o da “análise de conteúdo” que para a autora Bardin (1977, p. 38) é “um conjunto de técnicas de análises de comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens”. Procedimentos esses que auxiliaram a construção e organização das categorias de análise que foram construídas de acordo com as análises dos conteúdos dos questionários.

A metodologia de análise de dados proporciona uma construção de categorias de análise , entretanto “deve ser considerado as condições contextuais de seus produtores e assenta-se na concepção crítica e dinâmica da linguagem” conforme Franco (2003, p. 13). Portanto, na análise de conteúdo deve ser principalmente interpretado o sentido que um indivíduo atribui às mensagens.

Conforme novamente Franco (2003, p. 21) afirma que “a mera descrição das características das mensagens contribui muito pouco para a compreensão das características de seus produtores”, entretanto ao direcionar “à indagação sobre as causas ou os efeitos da mensagem, a análise de conteúdo cresce em significado e exige maior bagagem teórica do analista”.

O método de análise proposto por Bardin (1977) segmenta-se em:

  1. Organização da Análise;

  2. Codificação;

  3. Categorização;

  4. Inferência ou descrição;

  5. Informatização da análise das comunicações.



Dessa forma, a organização da análise consistiu em preparar as informações e, identificando as diferentes amostras de informação a serem analisadas foi possível construir uma visão que englobasse todas as categorias construídas.





RESULTADOS E DISCUSSÃO



As análises iniciais dos dados qualitativos das respostas abertas visaram encontrar a possível existência de diferentes conteúdos cognitivos relacionadas ao desenvolvimento sustentável no início e no fim da graduação e identificar quais os elementos considerados importantes pelos acadêmicos na formação de um engenheiro ambiental e sanitarista. As cognições são o que atribui significado tanto a nossas questões internas quando ao mundo que nos cerca e não necessariamente correspondem a realidade, mas sim a simbolizam, ou seja, não necessariamente darão conta de abarcar representações diretas da mesma, sendo assim, as cognições são construções, representações pessoais da realidade ordenadas a maneira de cada indíviduo. Tais representações podem solidificarem-se ao longo da vida de cada indivíduo, transformando-se então no que denomina-se crenças cognitivas, sendo estas um foco de nossa análise.

A fim de identificar e analisar quais elementos os acadêmicos consideram importantes na formação de um engenheiro ambiental e sanitarista, foram construídas categorias de análise de dados baseadas nos elementos em maior evidência em suas respostas, sendo as categorias: valores e princípios, conhecimento, características e competências e habilidades interpessoais, conforme a tabela a seguir.

Tabela 1- Comparativo: principais elementos considerados importantes na formação de um engenheiro ambiental e sanitarista.



Fonte: Autoria própria.

Quando questionados a respeito de quais elementos consideram importantes na formação de um engenheiro ambiental e sanitarista, foi possível identificar, mediante aos valores citados, semelhanças entre 1° e 5°ano, a exemplo do apontamento da necessidade de uma atuação ética e honesta.

Conforme as principais características indicadas como as que o engenheiro ambiental e sanitarista deve possuir, podemos inferir que existem crenças intermediárias semelhantes em ambos os anos relativas a este profissional precisar ter interesses e/ou preocupações relacionadas ao meio ambiente.

Também foram encontradas algumas diferenças com relação a crenças intermediárias, porém ainda com relação a um mesmo tema: a necessidade de possuir certas funções cognitivas. No 1° ano podemos citar o foco, e no 5° o raciocínio lógico.

Outra crença intermediária semelhante entre os dois anos, é relacionada às habilidades interpessoais, sendo que o saber trabalhar em equipe e a facilidade para lidar com pessoas, habilidades que exigem elementos em comum, como a comunicação.

Quanto aos conteúdos cognitivos alusivos ao desenvolvimento sustentável, analisando os dados referentes ao 1º ano, foram encontradas duas das respostas que denotam uma visão utilitarista, com foco apenas no presente e sem fazer menção ao meio ambiente, sendo que quanto ao 5º ano, não foram encontradas respostas nesse sentido, percebendo-se bastante enfoque na sustentabilidade. Podemos entender a visão da relação entre homem e natureza de diversas formas, como por exemplo, entendermos o homem como dominante em relação a natureza, ou entendê-lo como uma parte constituinte dela, dentre outras formas. Em algumas respostas pode-se perceber uma ideia utilitarista da natureza, a qual demonstra uma visão antropocêntrica, segundo Esteves (1998) apud Tracana & Ferreira et al (2012):

O antropocentrismo assenta nas relações existentes entre o Homem (anthropos) e o Universo, assumindo o Homem uma relação de dominação sobre a natureza. Esta perspectiva ambientalista caracteriza-se por uma visão instrumental da Natureza, cujos recursos servem para ser explorados pelo Homem.

Em outras 3 respostas do 1º ano a visão utilitarista ainda se fez presente, porém nessas houve também a preocupação com as gerações futuras, como na seguinte resposta: “É o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das gerações futuras”, também foram encontradas 10 respostas nesse sentido nos questionários do 5º ano.

E por fim, em outras 3 respostas o desenvolvimento foi vinculado também a algum cuidado com o meio ambiente, como na resposta a seguir: “É uma relação social, econômica e ecológica, onde visa uma produção mais rentável e sem agredir tanto o meio”. No 5º ano encontraram-se 9 respostas com o mesmo sentido, evidenciando a preocupação com o ambiente, mas ainda assim se tratando de uma preocupação marcada por uma relação utilitarista com o meio ambiente.

Para Jonas (1994) apud a Alves (2009) ‘’a preservação da natureza pelo homem é justificada devido à importância que tem para o ser humano sem a qual não pode viver.’’ No 5º ano foram encontradas respostas com visões bastante equilibradas, onde o desenvolvimento encontra ainda seu sentido de progresso em diversas áreas, porém o foco no meio ambiente é maior, como por exemplo: “Visa conciliar o crescimento da economia com a diminuição dos impactos ambientais gerados.”, esse teor economicista esteve presente em diversas respostas.

Também foram encontradas respostas onde o meio ambiente é o foco central. “É o desenvolvimento de práticas que sejam aplicáveis no dia-a-dia e que contribuam para mitigar impactos ambientais, acredito que reduzir ou acabar com danos ambientais.’ ’Outras 3 respostas que consideramos importante destacar adotam um sentido de utopia ao termo. ‘’Desenvolvimento sustentável é um conceito ultrapassado, uma vez que o referido desenvolvimento está intrinsecamente ligado a crescimento e, na prática, não há como crescer sem causar impactos ao meio ambiente, ou seja, não há como ser sustentável’’, o que também corrobora com nossa percepção de que esses alunos adotam uma visão mais crítica.

Em razão do nosso instrumento de coleta de dados ser um questionário no modelo semi-aberto, foi possível a construção de um gráfico para a ilustração das respostas fechadas referentes à presença da temática do desenvolvimento sustentável na grade curricular do curso de Engenharia ambiental e Sanitária:

Figura 1- Gráficos.



Fonte: Autoria própria.

Analisando os gráficos pode-se perceber que no referente as respostas do 5° ano a temática é bastante apontada como presente, visto que as pontuações altas atribuidas foram bastante recorrentes, enquanto no que se refere ao 1º ano, a incidência de pontuações medianas a baixas é maior. A partir disso, pode-se inferir que essa temática vai gradativamente sendo mais abordada ao longo do curso, podendo-se observar o reflexo disso na maior apropriação mediante ao tema nas respostas do 5° ano.



CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mediante a análise dos dados foi possível identificar semelhantes crenças intermediárias relacionadas a valores e princípios, a características e outros fatores, demonstrando que há certo ‘’perfil’’ em comum relacionado ao engenheiro ambiental e sanitarista nos conteúdos cognitivos apresentados por esses alunos.

Nas respostas do 1°ano referentes à presença da temática do desenvolvimento sustentável na grade curricular do curso, foram atribuídas pontuações baixas com relação a essa presença, demonstrando que esses alunos não percebem o tema como bem trabalhado na grade do 1° ano. Pode-se, portando, considerar que talvez seja importante trabalhar melhor o tema desde os anos iniciais, visando familiarizar os alunos com as problemáticas ligadas ao assunto, visto que este tema é amplamente interdisciplinar dentro do curso.

Ainda com relação ao 1° ano, o conceito de desenvolvimento sustentável se apresentou um tanto frágil, podendo significar muito ou pouco dependendo do olhar empregado. Sendo assim, após o levantamento das cognições desses alunos e realizada a análise destes resultados concluindo nossos objetivos iniciais, nosso próximo objetivo é o encaminhamento do artigo para os alunos participantes da pesquisa, visando promover uma reflexão através de sua leitura.

Consideramos que quaisquer conteúdos cognitivos referentes a temática irão gerar implicações na forma de atuação desses profissionais, seus conhecimentos, competências e motivações os conduzem a contribuir ou não para o desenvolvimento sustentável, e visto que o mesmo pressupõe uma mudança de valores e atitudes em relação ao meio ambiente, a educação tem um papel primordial nessa mudança, para que tanto esses profissionais quanto a população em geral tenham uma visão holística da problemática ambiental. Brügger (1994) apud Alves (2009) aponta que: “A educação é decisiva para incutir nas novas gerações práticas que conduzam ao DS. Para isso, o consenso sobre a definição do termo desenvolvimento sustentável é de grande importância, uma vez que está profundamente associado a uma nova visão de mundo que abrange os aspectos econômico, político, ecológico e educacional”.

É possível concluir que, em geral, os conteúdos cognitivos relativos ao desenvolvimento sustentável progridem do início ao fim da graduação, à medida em que em foi possível observar que em grande parte das falas do 5° ano entende-se o desenvolvimento não somente como crescimento econômico, e sim o crescimento aliado a necessidade de preservar o meio ambiente para a sobrevivência das próximas gerações no nosso planeta, havendo maior foco em minimizar impactos ambientais, avançando no sentido de não se tratar mais de uma concepção simplesmente utilitarista, mas enxergando a necessidade de utilização dos recursos naturais de forma racional, levando em conta diversos fatores a exemplo da gestão destes recursos.



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Ilustrações: Silvana Santos