FACULDADE DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS SANTO AGOSTINHO
Impacto
ambiental da poluição sonora na indústria têxtil
Luiz
Henrique Rodrigues de Souza 1,
Luiza Augusta Rosa Rossi-Barbosa 2,
Lucineia de Pinho 2
1
Faculdades Santo Agostinho (FASA), Montes Claros, MG, Brasil.
2
Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), Montes Claros,
MG, Brasil.
Resumo
A exposição ao ruído
é um
dos problemas de saúde ocupacional mais prevalente nos
ambientes industriais e tem sido considerada um dos
grandes males do século por ser uma das ameaças ao
habitat devido ao perigo ambiental significativo para a saúde
pública. O objetivo deste estudo foi
avaliar o impacto ambiental provocado pela poluição
sonora em uma indústria têxtil. Os
trabalhadores foram avaliados por meio de
um questionário e o ruído no
ambiente foi medido por um dosímetro em uma jornada de
trabalho de oito horas. Observou-se que a maioria dos trabalhadores é
homem, média de idade de 37 anos e com ensino médio. Os
níveis de ruído variaram
de 97,8 a 104 dB(A) e para a dose observou-se os
valores 5,92 a 8,58, entretanto, não foram autorrelatados
agravos auditivos e extra-auditivos. Todos
relataram utilizar protetores auriculares, sendo que 96,6%
usam simultaneamente o tipo inserção
e concha. Os níveis de ruído
foram consideravelmente elevados nas na
indústria têxtil avaliada, mas os trabalhadores não
queixaram de problemas de saúde relacionados ao ruído,
provavelmente por terem sido atenuados por meio de um conjunto de
boas práticas, como a seleção correta e a
utilização constante dos protetores auriculares.
Descritores:
Ruído;
Indústria Têxtil; Poluição Sonora.
Abstract
Exposure
to noise is one of the most prevalent occupational health problems in
industrial environments and has been considered one of the great
evils of the century as one of the threats to habitat due to the
significant environmental hazard to public health. The objective of
this study was to evaluate the environmental impact caused by noise
pollution in a textile industry. The workers were evaluated by means
of a questionnaire and the noise in the environment was measured by a
dosimeter in an eight-hour working day. It was observed that the
majority of workers are male, average age 37 and with high school.
Noise levels ranged from 97.8 to 104 dB (A) and for the dose the
values were 5.92 to 8.58, however, auditory and extra-auditory
disorders were not reported. All reported using ear protectors, with
96.6% using both the insert and the shell type. Noise levels were
considerably high in the evaluated textile industry, but workers did
not complain about noise-related health problems, probably because
they were attenuated by a set of good practices such as correct
selection and constant use of protectors headphones
Keywords:
Noise;
Textile Industry; Sound Contamination.
INTRODUÇÃO
A
revolução tecnológica, ocorrida nos últimos
anos, transformou a economia mundial levando a mudanças e
adaptações de forma direta e indireta o modo de
produzir nas indústrias. Com essas mudanças houve
necessidade de legislações de segurança
ocupacional, sendo fundamentais para a criação de
agências responsáveis pela definição
e aplicação de padrões de saúde e
segurança no local de trabalho, bem como na realização
de pesquisas, tendo como exemplo a Occupational
Safety and Health Administration
(OSHA) e o National
Institute for Occupational Safety and Health
(NIOSH)
(Hofmann
et
al.,
2017).
A
exposição ao ruído é
um dos problemas de saúde ocupacional mais prevalente nos
ambientes industriais (Rabbani,
2016; Alves et
al.,
2016) e tem
sido considerada um dos grandes males do século por ser uma
das ameaças ao habitat devido ao perigo ambiental
significativo para a saúde pública (Vlachokostas et
al.,
2012; Basner et
al.,
2014). É um dos principais perturbadores da qualidade de vida
dos cidadãos, causando efeitos negativos à saúde
(Rabbani,
2016).
O
ruído, seja ambiental ou ocupacional, é uma forma de
poluição com grande participação nas
sociedades industrializadas e tem provocado perdas auditivas
significativas. Acarreta, também, comprometimento físico
geral e emocional dos indivíduos
(Ferrandis et
al.,
2010), tais
como, mau humor, perturbação do sono, sonolência
diurna, aumento da ocorrência de hipertensão e doenças
cardiovasculares (Basner
et
al.,
2014).
Considera-se
que nas fábricas, em especial na indústria têxtil,
o trabalho das máquinas, no setor de produção,
produz ruídos indesejáveis, que quando muito intensos
podem causar danos na audição dos trabalhadores
(Caldart et
al.,
2006). Após obter as fibras de algodão cru, ocorre o
processo da fabricação dos tecidos que compreende a
fiação, malharia, beneficiamento, talharia, estamparia,
confecção e embalagem sendo um dos ramos industriais
com maiores níveis de ruído (Bonatti & Martín,
2017).
A
fim de reduzir esses níveis, a empresa deve obrigatoriamente
oferecer protetores auriculares, que são barreiras físicas
colocadas diretamente no canal auricular externo (protetores tipo
plugue), na entrada do canal (protetores tipo inserção)
ou sobre a orelha (protetores tipo concha). Esses Equipamentos de
Proteção Individual (EPIs) devem reduzir o ruído
a valores abaixo de 80 dB(A) (Medeiros,
2011).
O
potencial preventivo de reduzir a exposição ao ruído
levou a programas obrigatórios de conservação
auditiva (Tikka et
al.,
2017),
porém
os avanços legislativos nacionais acompanham inercialmente o
desestímulo científico, de conhecimentos e prevenção
da lesão nos trabalhadores brasileiros (Régis et
al.,
2014).
É
de fundamental importância avaliar o nível de ruído
a que o trabalhador é exposto no ambiente de trabalho e assim
analisar e compreender essa complexa realidade e adotar medidas
destinadas à atenuação da poluição
sonora em limites não prejudiciais à saúde
humana. Portanto, o objetivo desse estudo foi avaliar o nível
de ruído em uma indústria têxtil por meio da
medição de níveis de pressão sonora.
MÉTODOS
Trata-se
de um estudo transversal aprovado pelo Comitê
de Ética em Pesquisa sob o número de protocolo
1.321.788.
Foi
realizado um estudo no setor de tecelagem
em uma indústria têxtil. A
escolha desse setor ocorreu em virtude do
alto grau de ruídos nesse ambiente.
Como critério de inclusão,
participaram do estudo os trabalhadores com tempo
superior a cinco anos e que possuíam a
função operacional de tecelão
executada em 80% da sua carga horária na indústria.
Para
a coleta dos dados foi aplicado um questionário com as
variáveis: idade, sexo, escolaridade,
estado civil e perguntas referentes às características
do trabalho (tempo e frequência de trabalho na tecelagem, se a
poluição sonora causa perturbação, se
fica exposto ao ruído) e características de saúde
(tipo de Equipamento de Proteção Individual - EPI,
presença de ruído próximo à orelha e
sintomas autorrelatados).
Para
a análise do ruído, utilizou-se o dosímetro
Simpson® modelo 897 devidamente calibrado pelo
calibrador acústico Simpson® 887-2
e certificado pelo IMETRO. Este instrumento
emite um sinal de
amplitude e frequência (1 kHz) definidos, que permitiu fazer a
aferição antes de sua operação.
O
dosímetro Simpson® 897 é um aparelho digital
portátil, fácil de operar e
preciso, designado para atender a Occupational
Safety and Health Administration
(OSHA), que
regulamenta internacionalmente a exposição
ao ruído. Este mesmo aparelho mede
o ruído contínuo,
intermitente e impulso em escala padrão de 80 dB(A)
a 130 dB(A), mas
também oferece uma escala mais baixa de 50 a 100 dB, quando um
nível de som mais baixo é detectado.
Neste aparelho foram captados os valores de
pressão sonora durante toda a rotina de trabalho incluído
também as oscilações, inerentes às
funções laborais.
A
metodologia de medição foi
fundamentada na norma de Higiene Ocupacional NHO 01,
desenvolvida pelo
Fundacentro, que avalia a exposição
ocupacional ao ruído (Brasil, 2001). O
dosímetro foi afixado ao trabalhador, com o microfone
próximo ao seu plano auditivo, acompanhando-o na jornada de
trabalho. Foi registrada a dose de ruído
na memória do instrumento, para leitura posterior, tendo sido
anotadas as atividades do operador no período. As avaliações
de ruído cobriram toda a jornada de trabalho conforme
recomendado pela IN 84/2002 do INSS.
Dose
é o parâmetro utilizado para caracterização
da exposição ocupacional ao ruído, expresso em
porcentagem de energia sonora. O critério de referência
que embasa os limites de exposição diária
adotados para ruído contínuo
ou intermitente corresponde a uma dose de 100% para exposição
de 8 horas ao nível de 85 dB(A).
A
avaliação considera, além do critério
de referência, o incremento de dose (q) igual a 3 (três)
e o nível limiar de integração igual a 80
dB(A). Foi possível obter o nível de
exposição ao ruído a partir porcentagem da dose
diária mediante à expressão matemática:
16,61 x log (Dose x 8 / tempo medição) +85.
Os dados obtidos foram registrados,
analisados e confrontados com as disposições legais do
Ministério do Trabalho de acordo com a NR 15
(Brasil, 1978).
RESULTADOS
Participaram
do estudo 230 trabalhadores, sendo a maioria do sexo masculino, com
média de idade de 37,2 anos. Há prevalência do
ensino médio, e quanto ao estado marital a maioria com
companheiro. As características sociodemográficas estão
na Tabela 1.
Tabela 1-
Características sociodemográficas dos trabalhadores
da tecelagem em uma indústria têxtil.
Características sociodemográficas
|
N
|
%
|
Sexo
|
|
|
Masculino
|
173
|
75,0
|
Feminino
|
57
|
25,0
|
Faixa etária
|
|
|
25-35
|
57
|
25,0
|
36-40
|
76
|
33,0
|
41-50
|
57
|
25,0
|
>51
|
40
|
17,0
|
Escolaridade
|
|
|
Ensino
Fundamental
|
19
|
8,3
|
Ensino
Médio
|
173
|
75,0
|
Ensino
Superior
|
27
|
11,7
|
Não
informado
|
11
|
5,0
|
Estado Civil
|
|
|
Com companheiro
|
192
|
83,5
|
Sem companheiro
|
38
|
16,5
|
A
jornada de trabalho é de 44 horas semanais no mesmo ambiente.
Quanto ao tempo de atuação profissional na empresa
verificou-se que 38,3% dos tecelões trabalham por mais de 10
anos em ambiente com exposição ao ruído
ocupacional. Em relação ao fator que causa maior
perturbação no ambiente de trabalho, a minoria indicou
a poluição sonora e percebe-se que 90,0%
relatou não estar exposto ao ruído ou o ruído é
pouco intenso. As características em
relação ao trabalho se encontram na Tabela 2.
Tabela 2-
Características de trabalho dos trabalhadores da
tecelagem em uma indústria têxtil.
Variáveis
|
N
|
%
|
Tempo de Trabalho na empresa
|
|
|
< 10 anos
|
142
|
61,7
|
> 10 anos
|
88
|
38,3
|
Frequência de trabalho no mesmo
ambiente
|
|
|
Todos
os dias
|
207
|
90,0
|
3
vezes por semana
|
11
|
5,0
|
2
vezes por semana
|
8
|
3,5
|
1
vez por semana
|
4
|
1,5
|
Se
a poluição sonora causa perturbação
|
|
|
Sim
|
19
|
8,3
|
Não
|
211
|
91,7
|
Exposição
a ruídos
|
|
|
Não
|
111
|
48,3
|
Sim,
pouco intenso
|
96
|
41,7
|
Sim,
intenso
|
19
|
8,3
|
Sim,
muito intenso
|
4
|
1,7
|
No que
diz respeito ao uso de EPI, 96,6% utilizam protetores auriculares com
frequência do tipo inserção e concha,
simultaneamente. Grande parte dos entrevistados não relataram
queixas de sintomas que provavelmente poderiam estar correlacionados
à presença de ruído ocupacional (Tabela 3).
Tabela
3- Características de saúde dos trabalhadores da
tecelagem em uma indústria têxtil.
Características
|
N
|
%
|
Tipo de Equipamento de Proteção
Individual (EPI)
|
|
|
Nenhum
|
0
|
0,0
|
Concha
|
4
|
1,7
|
Inserção
|
4
|
1,7
|
Concha e inserção
|
222
|
96,6
|
Presença de ruído próxima
a orelha
|
|
|
Sim
|
4
|
1,7
|
Não
|
226
|
98,3
|
Sintomas autorreferidos
|
|
|
Dor
no ouvido
|
4
|
1,7
|
Plenitude
auricular
|
4
|
1,7
|
Tontura
|
4
|
1,7
|
Dificuldade
para escutar
|
0
|
0,0
|
Zumbido
no ouvido
|
0
|
0,0
|
Dificuldade
de compreensão da fala
|
0
|
0,0
|
Cefaleia
|
19
|
8,3
|
A
respeito dos resultados dos níveis de ruído efetuada
nas unidades da tecelagem foram obtidos valores que variaram de 97,8
dB(A) a 100,4 dB(A) (Tabela 4).
Tabela 4- Distribuição
dos níveis de ruído realizada na tecelagem em uma
indústria têxtil.
|
% Dose
|
Nível de ruído
|
Nível de exposição em
dB(A)
|
|
Mínimo
|
Máximo
|
Unidade I
|
857,7
|
<50
|
127,8
|
100,4
|
Unidade II
|
591,5
|
<50
|
124,2
|
97,8
|
Unidade III
|
628,0
|
<50
|
119,5
|
98,1
|
Unidade IV
|
819,3
|
<50
|
130,0
|
99,7
|
DISCUSSÃO
O
setor industrial possui alta porcentagem de trabalhadores expostos ao
ruído de 85,0 dB(A) ou superior (Noweir et
al., 2014). O
presente estudo realizado na tecelagem verificou o alto nível
de ruído. Pesquisa nacional retrata que, do ponto de
vista ambiental, destacam-se os impactos
associados à produção na indústria têxtil
(Caldart et al., 2006).
Em
estudos internacionais esse cenário também é
observado. Uma indústria têxtil na República do
Congo foi submetida a medições para determinar o nível
de ruído nos setores de produção, fiação,
tecelagem e manutenção e das 99 estações
de trabalho, 87,9% emitiram ruído entre 86,0 a 105,0 dB(A)
(Kitronza & Philippe, 2016).
Outros
dois estudos realizados em indústrias têxteis
apresentaram altos níveis de ruído. Na indústria
situada no sudoeste do Irã, os setores de fiação
apresentaram 90,0 e 97,0 dB(A) e o de tecelagem um nível de
ruído de 99,0 e 100,0 dB(A) (Roozbahani
et
al.,
2009) e o estudo realizado nos setores de fiação,
tecelagem e acabamento de dez empresas têxteis na Tunísia,
o ruído
foi reconhecido como
um problema grave, particularmente nas oficinas de fiação
e tecelagem, onde os
níveis de ruído estavam
na ordem de 100 dB(A) e 120 dB(A) devido
à velocidade de rotação das máquinas
(Amri
et
al.,
2009).
O
ruído na tecelagem da indústria têxtil do
presente estudo esteve acima dos limiares do estudo realizado em 28
indústrias metalúrgicas e madeireiras
da Arábia Saudita. A maior exposição ao
ruído nas indústrias de metalurgia foi no setor de
fabricação de latas de bebidas, cujo Nível
de Ruído Contínuo Equivalente (Leq) foi 98,3
dB(A). Tal fato foi atribuído ao alto ruído
emitido durante o processamento de chapas finas de aço e
alumínio e para as máquinas utilizadas, especialmente
uma prensa hidráulica de alta velocidade. A segunda maior
exposição foi na formação de reforço
de aço para concreto, onde o ruído foi de
95,0 dB(A), devido à natureza das operações
industriais (Noweir et
al., 2014).
No
presente estudo a minoria dos trabalhadores indicou a poluição
sonora como fator de maior
perturbação no ambiente de
trabalho e grande parte relatou não estar
exposto ao ruído, provavelmente pelo
fato de todos utilizarem EPI
para a audição e
inseridos adequadamente na orelha.
Sabe-se
que na indústria, o risco de ruído ocupacional é
grave e eminente, por
isso torna-se obrigatória a utilização de
proteção auditiva
como forma de garantir a saúde ocupacional dos
trabalhadores durante a execução de
suas tarefas (Filipe et
al., 2014)
quando a eliminação dos riscos ou medidas coletivas são
inviáveis. Porém, há necessidade de critérios
e métodos para a seleção à implantação
dos protetores como medida de controle individual (Medeiros, 2011). O
ruído além de prejudicar a audição, pode
acarretar a alterações extra-auditivas, e compromete o
sistema nervoso, cardiovascular, pulmonar, metabólico e
endócrino (Nunes et al.,
2011).
Sobre
os sintomas autorreferidos, verifica-se prevalência de
cefaleia, mas, neste estudo, não se pode afirmar a existência
de correlação com o ruído. Dados de uma pesquisa
em indústria têxtil mostrou que 85% dos trabalhadores
têm dor de cabeça temporária e 10% têm dor
de cabeça permanente (Roozbahani
et
al.,
2009). Em
levantamento dos riscos ambientais realizados em uma lavanderia, a
avaliação dos níveis de pressão sonora
ficou entre 77,0 a 99,0 dB(A) e 45,3% dos trabalhadores relataram
cefaleia, possivelmente decorrente da exposição ao
ruído, pois 74,7% não utilizavam o
protetor auricular (Fontoura et
al., 2014).
Em
estudo epidemiológico com trabalhadores de indústrias
mais de 87,0% referiram estar expostos ao ruído (Sakae
et al.,
2006), dado divergentes ao estudo atual, o que pode ter ocorrido em
função de realidades ambientais de trabalho
diferenciadas. O ambiente protegido de altos níveis de ruído
tem um impacto positivo na saúde auditiva dos trabalhadores
(Tikka et al., 2017).
Levantamento
realizado em empresas do Distrito Federal,
Brasil, nos ramos de
marmorarias, madeireiras e metalúrgicas
apresentou resultados quanto ao uso do EPI. Os indivíduos das
indústrias madeireiras são os que menos utilizam este
equipamento, sendo que 48,1% assumiram que não usam e 29,6%
que usam raramente. As indústrias metalúrgicas e
marmorarias se destacaram no uso do EPI 94,5% e 91,5% respectivamente
(Boger et al.,
2009).
Em
pesquisa realizada nas indústrias têxteis, foi observado
que a maioria dos trabalhadores não usava os protetores
auriculares
por considerar seu uso inadequado devido o
ambiente de trabalho ser
empoeirado,
podendo
causar problemas como
infecções de ouvido,
e pelo fato de impedir a comunicação
(Amri
et
al.,
2009).
Em
indústrias em que a dose de exposição aos ruídos
é superior aos limites estabelecidos na legislação
vigente no país é imprescindível a presença
de ações preventivas
e corretivas para reduzir ou eliminar as
fontes de ruído
no ambiente de trabalho (Filipe et
al., 2014).
Nesse sentido, um Programa de Conservação
Auditiva em empresas cujos trabalhadores
estão expostos a altos níveis de
ruídos é
uma estratégia para minimizar ou mesmo anular os seus
efeitos nocivos à saúde geral e
melhorar qualidade de vida dos trabalhadores (Oliveira
et al.,
2015).
No
Programa de Conservação Auditiva, prevê-se o
monitoramento do ruído, o treinamento e a educação
dos trabalhadores, o uso de protetor auditivo e o monitoramento
audiométrico. Uma
intervenção promissora para aumentar a eficácia
dos programas de conservação auditiva é o
monitoramento diário que
permite a identificação
de exposições ao ruído de alto risco. A essa
prática associa-se o uso de protetores auditivos
(Sliwinska-Kowalska & Davis, 2012). Na empresa estudada,
além do monitoramento contínuo, observou-se o uso de
protetor auditivo, o que permite a atenuação de
ruído quando o seu o nível
ultrapassava os valores de segurança
(Hong et al.,
2013; Rocha et al.,
2016). Embora a atenuação de ruído pelo protetor
depende de vários parâmetros, tais como formato e
geometria do ouvido, colocação do protetor, experiência
do usuário, nível de ruído em função
da frequência, entre outras, é a solução
mais comum e usada mundialmente (Gerges,
2000). Os
protetores auriculares funcionam como barreira protegendo
a orelha interna.
Pesquisa
realizada em uma oficina de imprensa verificou que os
níveis de exposição ao ruído foram de
91,0 dB durante o turno de trabalho, ou seja, maior do que o limites
recomendado de 85,0 dB, e concluiu que o risco relativo de perda de
audição em trabalhadores com uso intermitente dos
protetores auriculares foi 3,3 vezes em relação aos que
usaram de forma contínua. Além disso, os trabalhadores
que utilizaram protetores tipo plugue
apresentaram maior risco (1,6 vezes) em
comparação com aqueles cujos principais dispositivos de
proteção eram do tipo concha (Aliabadi
et al.,
2015).
Contrário
ao presente estudo,
pesquisa constituída por 75
trabalhadores de diferentes setores, com exposição
a ruído ocupacional, pode-se observar pela
anamnese que 57,3% dos trabalhadores utilizavam EPI auricular,
destes 48,8% especificaram o uso do tipo concha, 48,8% do tipo plugue
e 2,3% ambos os tipos combinados (Sonego et
al., 2016). Mas, a conscientização
sobre a importância do uso de proteção
auditiva vem aumentando (Sonego et
al., 2016), conforme
outros estudos nos quais a totalidade (Moreira &
Gonçalves, 2014) ou
a maioria (92,3%) (Heupa et
al., 2011) vêm utilizando
efetivamente algum tipo de protetor auricular.
O
uso combinado de dois protetores auriculares (proteção
dupla) aumenta a atenuação dos ruídos, de modo a
garantir uma maior efetividade no nível de redução
de ruído (Saliba, 2009). O uso do plugue e
concha, em conjunto, só é recomendado em locais onde o
nível de ruído seja acima de 100,0 dB(A) e a atenuação
de apenas um protetor seja insuficiente para atenuar o ruído
externo, conforme previstos na NR-15 (Brasil, 1978).
A
respeito dos níveis de pressão sonora, os valores
obtidos durante as medições no trabalho, apresentaram
valores intensos ocorrendo um impacto ambiental, entretanto as boas
práticas referentes à utilização de EPIs
parecem ter atenuado os ruídos a valores aceitáveis
verificadas pelas respostas dos trabalhadores, pois estes não
autorreferiram efeitos negativos sobre sua saúde auditiva,
provavelmente, o programa de proteção auditiva tem
possibilitado a adesão do uso deste equipamento.
Levantamento
realizado em revisão sistemática descreveu redução
de níveis de ruído do maquinário que variaram de
11,1 a 19,7 dB(A) com a substituição das maquinas
ruidosas e isolamento do ruído por meio de instalação
de painéis ou cortinas em torno das fontes (Tikka
et al., 2017; Noweir et
al., 2014).
Realizar um rodízio dos trabalhadores para locais silenciosos
e efetuar constantemente um monitoramento deste
agente físico por
meio de testes periódicos (Noweir et
al., 2014).
também são necessários para minimizar os níveis
elevados de ruído e proteger a saúde dos trabalhadores.
Os
resultados do presente trabalho devem ser interprestados sob a luz de
algumas limitações, podendo citar,
primeiramente, o desenho transversal descritivo que não
permite traçar uma relação de causa e efeito
entre os eventos estudados. Não foram
averiguadas as audiometrias para análise sobre a perda
auditiva e na avaliação dos sintomas entre os
trabalhadores foram utilizados dados de autorrelatos.
Porém,
o estudo tem sua relevância, dada a escassez de pesquisas
científicas na
indústria têxtil quanto
às
condições de trabalho
e a saúde do trabalhador. Esse
cenário limita
os esforços em fazer com que a saúde auditiva seja
incluída entre as prioridades da saúde pública
no Brasil
(Calvacanti et
al.,
2013). A
ausência de evidências conclusivas sobre
ruído ocupacional, impacto à saúde e
intervenções para prevenir a perda auditiva por esse
fator, suscita a importância de pesquisas futuras na área
epidemiológica e também na área experimental
(Oliveira et
al.,
2012).
Há
ainda que se considerar que há pouca
explanação sobre este ambiente no âmbito da
Fonoaudiologia, e se apresenta algum risco, em especial, à
audição do trabalhador
(Barcelos & Ataíde, 2014).
Os
resultados obtidos poderão subsidiar a
implantação das
medidas de prevenção
para do ruído ocupacional coletivo na indústria do
estudo. Os
programas de prevenção de ruído são
fundamentais para reduzir a perda
de
audição como
resultado de exposições ocupacionais
(Stucken & Hong, 2014).
CONCLUSÃO
Verificou-se
um impacto ambiental em relação aos níveis de
pressão sonora, cujos valores nas unidades de tecelagem foram
intensos durante as medições no trabalho, variando de
97,8 dB(A) a 100,4 dB(A) e de 5,92 a 8,58
para a dose. Apesar do alto nível de ruído, os
trabalhadores não queixaram de problemas auditivos e
nem extra-auditivos, provavelmente por
terem sido atenuados devido a um conjunto de boas práticas,
como a seleção correta e utilização
constante dos protetores auriculares e a conscientização
por meio de um Programa de Conservação
Auditiva.
É
necessário a interdisciplinaridade
entre a Fonoaudiologia, Engenharia de Produção e
Arquitetura e Urbanismo para uma investigação periódica
da qualidade acústica do ambiente industrial sendo
possível verificar onde e como aplicar medidas de controle do
ruído coletivo e estudar a eficácia
da proteção individual.
REFERÊNCIAS
Aliabadi,
M.; Fereidan, M.; Farhadian, M.; Tajik, L. Determining
the effect of worker exposureconditions on the risk of hearing loss
in noisy industrial workroom using Cox proportional hazard model.
International
Journal of Occupational Safety and Ergonomics,
21(2),
201-206, 2015.
Alves,
D.R.; Quintão, V.C.; Pereira, C.S. Perda auditiva ocupacional
provocada por ruído: revisão de literatura.
EFDesportes.com,
Revista Digital. 21(215), 2016. Disponível em:
http://www.efdeportes.com/efd215/perda-auditiva-ocupacional-provocada-por-ruido.htm.
Acesso 15 de agosto de 2017.
Amri,
C.; Henchi, M.A.; Abdallah, B.; Bouzgarrou, L.; Chaari, N.; Akrout,
M.; Khalfallah, L.; Malchaire, J. De´pistage participatif des
risques professionnels dans l’industrie du textile tunisienne.
Archives
des Maladies Professionnelles et de l'Environnement,
70(2), 163-172, 2009.
Barcelos,
D.D.; Ataíde, S.G. Análise do risco ruído em
indústria de confecção de roupa. Revista
CEFAC,
16(1), 39-49, 2014.
Basner,
M.; Babisch, W.; Davis, A.; Brink, M.; Clark, C.; Janssen, S.;
Stansfeld, S. Auditory
and non-auditory effects of noise on health. The
Lancet,
383(9925), 1325-1332,
2014.
Boger,
M.E.; Barbosa-Branco, A.; Ottoni, A.C. The noise spectrum influence
on Noise-Induced Hearing Loss prevalence in workers.
Brazilian Journal Otorhinolaryngology,
75(3), 328-334, 2009.
Bonatti,
G.A.; Martín, M.J.C. Reflexões sobre o desenvolvimento
sustentável e a indústria da moda. Revista
Internacional CONSINTER de Direito,
3(4), 443-469, 2017.
Brasil.
Ministério do Trabalho e Emprego. Portaria nº 3.214, de
08 de junho de 1978. NR
15: atividades e operações insalubres.
Diário Oficial da União, Brasília, 6 de julho de
1978.
Brasil.
Ministério do Trabalho e Previdência Social.
FUNDACENTRO. NHO-01:
norma de higiene ocupacional: procedimento técnico: avaliação
da exposição ocupacional ao ruído.
Brasília; 2001.
Caldart,
A.U.; Adriano, C.F.; Terruel, I.; Martins, R.F.; Caldart, A.U.;
Mocelin, M. Prevalência da Perda Auditiva Induzida pelo Ruído
em Trabalhadores de Indústria Têxtil. Arquivos
Internacionais de Otorrinolaringologia,
10(3), 192-196, 2006.
Cavalcante,
F.; Ferrite, S.; Meira, T.C. Exposição ao ruído
na indústria de transformação no Brasil. Revista
CEFAC,
15(5), 1364-1370, 2013.
Ferrandis,
X.G.; Ferrandis, I.G.; Gómez, J.G. Los efectos de la
contaminación acústica en la salud: conceptualizaciones
del alumnado de Enseñanza Secundaria Obligatoria de Valencia.
Didáctica
de las Ciencias Experimentales y Sociales,
24, 123-1237, 2010.
Filipe,
A.P.; Silva, J.R.M.; Trugilho, P.F.; Fiedler, N.C.; Rabelo, G.F.;
Botrel, D.A. Avaliação
de ruído em fábricas de móveis.
CERNE,
20(4), 551-6, 2014.
Fontoura,
F.P.; Gonçalves, C.G.O.; Lacerda, A.B.M.; Coifman, H. Noise
effects on hospital laundry workers’ hearing. Revista
CEFAC,
16(2),
395-403, 2014.
Gerges,
S.N.Y. Ruído:
fundamentos e controle.
2 ed. Florianópolis. NR, 670 p, 2000.
Heupa
AB, Gonçalves CGO, Coifman H. Effects of impact noise
on the hearing of military personnel.
Brazilian Journal Otorhinolaryngology,
77(6), 747-53, 2011.
Hofmann,
D.A.; Burke, M.J.; Zohar, D. 100 years of occupational safety
research: From basic protections and work analysis to a multilevel
view of workplace safety and risk. Journal
of Applied Psychology,
102(3), 375-388, 2017.
Hong,
O.; Kerr, M.J.; Poling, G.L.; Dhar, S. Understanding and preventing
noise-induced hearing loss. Disease-a-Month,
59(4), 110-8, 2013.
Kitronza,
P.L; Philippe, M. Facteurs
d’ambiance dans l’industrie textile en République
Démocratique du Congo: état de lieu. Pan
African
Medical Journal,
25, 44, 2016.
Medeiros,
J.B.
Eficiência
de protetores auditivos ao espectro de bandas de oitava e aos níveis
de pressão sonora característicos de um sistema de
tratamento da água da CORSAN – RS
[monografia] Especialização
em Engenharia de Segurança do Trabalho. Universidade Federal
do Rio Grande do Sul. Porto
Alegre 2011.
Moreira,
A.C.; Gonçalves, C.G.O. A eficiência de oficinas em
ações educativas na saúde auditiva realizadas
com trabalhadores expostos ao ruído. Revista
CEFAC,
16(3), 723-31, 2014.
Noweir,
M.H.; Bafail, A.O.; Jomoah, I.M. Noise Pollution in Metalwork and
Woodwork Industries in the Kingdom of Saudi Arabia. International
Journal of Occupational Safety and Ergonomics,
20(4), 661-70, 2014.
Nunes,
C.P.; Abreu, T.R.M.; Oliveira, V.C.; Abreu, R.M. Sintomas Auditivos e
não auditivos em trabalhadores expostos a ruído.
Revista
Baiana Saúde Pública,
35(3), 548-55, 2011.
Oliveira,
M.R.; Freitas, D.; Carvalho, A.P.; Guimarães, L.; Pinto, A.;
Águas, A.P. Exposure to industrial wideband noise increases
connective tissue in the rat liver. Noise
Health,
14, 227-229, 2012.
Oliveira,
R.C.; Silva, T.C.A.; Magalhães, M.C.; Santos, J.N. Exposição
ao ruído ocupacional pelos tripulantes de ambulâncias.
Revista
CEFAC,
17(3), 847-53, 2015.
Rabbani,
R.M.R. Poluição sonora e proteção
ambiental: intervenção estatal atual e a possiblidade
da tributação ambiental. Revista
de Direito Econômico e Socioambiental,
7(2), 03-21, 2016.
Régis,
A.C.F.C.; Crispim, K.G.M.; Ferreira, A.P. Incidência e
prevalência de perda auditiva induzida por ruído em
trabalhadores de uma indústria metalúrgica, Manaus -
AM, Brasil. Revista
CEFAC,
16(5), 1456-62, 2014.
Rocha,
C.H.; Longo, I.A.; Moreira, R.R.; Samelli, A.G. Avaliação
do protetor auditivo em situação real de trabalho pelo
método field
Microphone-in-real-ear.
CoDAS,
28(2), 99-105, 2016.
Roozbahani,
M.M.; Nassiri, P.; Shalkouhi, P.J. Risk
assessment of workers exposed to noise pollution in a textile plant.
International
Journal of Environmental Science and Technology,
6(4),
591-596, 2009.
Sakae,
T.M.; Sakae, O.; Adams, R.; Kuntze, A.C. Perfil Epidemiológico
e Audiológico dos trabalhadores atendidos pelo Serviço
Social da Indústria de Blumenau – Santa Catarina.
Arquivos
Catarinenses de Medicina,
35(2), 28-34, 2006.
Saliba,
T.M. Manual
prático de higiene ocupacional e PPRA:
avaliação e controle dos riscos ambientais. Belo
Horizonte: Labore, 2009.
Sliwinska-Kowalska,
M.; Davis, A. Noise-induced
hearing loss. Noise Health,
14(61), 274-280, 2012.
Sonego,
M.T.; Santos Filha, V.A.V.; Moraes, A.B. Equipamento de proteção
individual auricular: avaliação da efetividade em
trabalhadores expostos a ruído.
Revista
CEFAC,
18(3),
667-676, 2016.
Stucken,
E.Z.; Hong,
R.S. Noise-induced hearing loss:
an occupational medicine perspective. Current
Opinion in Otolaryngology & Head and Neck Surgery,
22(5),
388-93, 2014.
Tikka,
C.; Verbeek,
J.H.; Kateman,
E.; Morata,
T.C.; Dreschler,
W.A, Ferrite,
S.
Interventions to prevent occupational noise-induced
hearing loss. Cochrane
Database Systematic Reviews,
7(7),
CD006396, 2017.
Vlachokostas,
C.H.; Achillas, C.H.; Michailidou, A.V.; Moussiopoulos, N. Measuring
combined exposure to environmental pressures in urban areas: an air
quality and noise pollution assessment approach. Environment
International,
39(1), 8-18, 2012.
" data-layout="standard"
data-action="like" data-show-faces="true" data-share="true">