Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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05/03/2018 (Nº 63) IMPACTO AMBIENTAL DA POLUIÇÃO SONORA NA INDÚSTRIA TÊXTIL
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FACULDADE DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS SANTO AGOSTINHO

12



Impacto ambiental da poluição sonora na indústria têxtil


Luiz Henrique Rodrigues de Souza 1, Luiza Augusta Rosa Rossi-Barbosa 2, Lucineia de Pinho 2


1 Faculdades Santo Agostinho (FASA), Montes Claros, MG, Brasil.

2 Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), Montes Claros, MG, Brasil.


Resumo


A exposição ao ruído é um dos problemas de saúde ocupacional mais prevalente nos ambientes industriais e tem sido considerada um dos grandes males do século por ser uma das ameaças ao habitat devido ao perigo ambiental significativo para a saúde pública. O objetivo deste estudo foi avaliar o impacto ambiental provocado pela poluição sonora em uma indústria têxtil. Os trabalhadores foram avaliados por meio de um questionário e o ruído no ambiente foi medido por um dosímetro em uma jornada de trabalho de oito horas. Observou-se que a maioria dos trabalhadores é homem, média de idade de 37 anos e com ensino médio. Os níveis de ruído variaram de 97,8 a 104 dB(A) e para a dose observou-se os valores 5,92 a 8,58, entretanto, não foram autorrelatados agravos auditivos e extra-auditivos. Todos relataram utilizar protetores auriculares, sendo que 96,6% usam simultaneamente o tipo inserção e concha. Os níveis de ruído foram consideravelmente elevados nas na indústria têxtil avaliada, mas os trabalhadores não queixaram de problemas de saúde relacionados ao ruído, provavelmente por terem sido atenuados por meio de um conjunto de boas práticas, como a seleção correta e a utilização constante dos protetores auriculares.

Descritores: Ruído; Indústria Têxtil; Poluição Sonora.


Abstract


Exposure to noise is one of the most prevalent occupational health problems in industrial environments and has been considered one of the great evils of the century as one of the threats to habitat due to the significant environmental hazard to public health. The objective of this study was to evaluate the environmental impact caused by noise pollution in a textile industry. The workers were evaluated by means of a questionnaire and the noise in the environment was measured by a dosimeter in an eight-hour working day. It was observed that the majority of workers are male, average age 37 and with high school. Noise levels ranged from 97.8 to 104 dB (A) and for the dose the values were 5.92 to 8.58, however, auditory and extra-auditory disorders were not reported. All reported using ear protectors, with 96.6% using both the insert and the shell type. Noise levels were considerably high in the evaluated textile industry, but workers did not complain about noise-related health problems, probably because they were attenuated by a set of good practices such as correct selection and constant use of protectors headphones

Keywords: Noise; Textile Industry; Sound Contamination.



INTRODUÇÃO


A revolução tecnológica, ocorrida nos últimos anos, transformou a economia mundial levando a mudanças e adaptações de forma direta e indireta o modo de produzir nas indústrias. Com essas mudanças houve necessidade de legislações de segurança ocupacional, sendo fundamentais para a criação de agências responsáveis ​​pela definição e aplicação de padrões de saúde e segurança no local de trabalho, bem como na realização de pesquisas, tendo como exemplo a Occupational Safety and Health Administration (OSHA) e o National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH) (Hofmann et al., 2017).

A exposição ao ruído é um dos problemas de saúde ocupacional mais prevalente nos ambientes industriais (Rabbani, 2016; Alves et al., 2016) e tem sido considerada um dos grandes males do século por ser uma das ameaças ao habitat devido ao perigo ambiental significativo para a saúde pública (Vlachokostas et al., 2012; Basner et al., 2014). É um dos principais perturbadores da qualidade de vida dos cidadãos, causando efeitos negativos à saúde (Rabbani, 2016).

O ruído, seja ambiental ou ocupacional, é uma forma de poluição com grande participação nas sociedades industrializadas e tem provocado perdas auditivas significativas. Acarreta, também, comprometimento físico geral e emocional dos indivíduos (Ferrandis et al., 2010), tais como, mau humor, perturbação do sono, sonolência diurna, aumento da ocorrência de hipertensão e doenças cardiovasculares (Basner et al., 2014).

Considera-se que nas fábricas, em especial na indústria têxtil, o trabalho das máquinas, no setor de produção, produz ruídos indesejáveis, que quando muito intensos podem causar danos na audição dos trabalhadores (Caldart et al., 2006). Após obter as fibras de algodão cru, ocorre o processo da fabricação dos tecidos que compreende a fiação, malharia, beneficiamento, talharia, estamparia, confecção e embalagem sendo um dos ramos industriais com maiores níveis de ruído (Bonatti & Martín, 2017).

A fim de reduzir esses níveis, a empresa deve obrigatoriamente oferecer protetores auriculares, que são barreiras físicas colocadas diretamente no canal auricular externo (protetores tipo plugue), na entrada do canal (protetores tipo inserção) ou sobre a orelha (protetores tipo concha). Esses Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) devem reduzir o ruído a valores abaixo de 80 dB(A) (Medeiros, 2011).

O potencial preventivo de reduzir a exposição ao ruído levou a programas obrigatórios de conservação auditiva (Tikka et al., 2017), porém os avanços legislativos nacionais acompanham inercialmente o desestímulo científico, de conhecimentos e prevenção da lesão nos trabalhadores brasileiros (Régis et al., 2014).

É de fundamental importância avaliar o nível de ruído a que o trabalhador é exposto no ambiente de trabalho e assim analisar e compreender essa complexa realidade e adotar medidas destinadas à atenuação da poluição sonora em limites não prejudiciais à saúde humana. Portanto, o objetivo desse estudo foi avaliar o nível de ruído em uma indústria têxtil por meio da medição de níveis de pressão sonora.


MÉTODOS


Trata-se de um estudo transversal aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob o número de protocolo 1.321.788.

Foi realizado um estudo no setor de tecelagem em uma indústria têxtil. A escolha desse setor ocorreu em virtude do alto grau de ruídos nesse ambiente. Como critério de inclusão, participaram do estudo os trabalhadores com tempo superior a cinco anos e que possuíam a função operacional de tecelão executada em 80% da sua carga horária na indústria.

Para a coleta dos dados foi aplicado um questionário com as variáveis: idade, sexo, escolaridade, estado civil e perguntas referentes às características do trabalho (tempo e frequência de trabalho na tecelagem, se a poluição sonora causa perturbação, se fica exposto ao ruído) e características de saúde (tipo de Equipamento de Proteção Individual - EPI, presença de ruído próximo à orelha e sintomas autorrelatados).

Para a análise do ruído, utilizou-se o dosímetro Simpson® modelo 897 devidamente calibrado pelo calibrador acústico Simpson® 887-2 e certificado pelo IMETRO. Este instrumento emite um sinal de amplitude e frequência (1 kHz) definidos, que permitiu fazer a aferição antes de sua operação.

O dosímetro Simpson® 897 é um aparelho digital portátil, fácil de operar e preciso, designado para atender a Occupational Safety and Health Administration (OSHA), que regulamenta internacionalmente a exposição ao ruído. Este mesmo aparelho mede o ruído contínuo, intermitente e impulso em escala padrão de 80 dB(A) a 130 dB(A), mas também oferece uma escala mais baixa de 50 a 100 dB, quando um nível de som mais baixo é detectado. Neste aparelho foram captados os valores de pressão sonora durante toda a rotina de trabalho incluído também as oscilações, inerentes às funções laborais.

A metodologia de medição foi fundamentada na norma de Higiene Ocupacional NHO 01, desenvolvida pelo Fundacentro, que avalia a exposição ocupacional ao ruído (Brasil, 2001). O dosímetro foi afixado ao trabalhador, com o microfone próximo ao seu plano auditivo, acompanhando-o na jornada de trabalho. Foi registrada a dose de ruído na memória do instrumento, para leitura posterior, tendo sido anotadas as atividades do operador no período. As avaliações de ruído cobriram toda a jornada de trabalho conforme recomendado pela IN 84/2002 do INSS.

Dose é o parâmetro utilizado para caracterização da exposição ocupacional ao ruído, expresso em porcentagem de energia sonora. O critério de referência que embasa os limites de exposição diária adotados para ruído contínuo ou intermitente corresponde a uma dose de 100% para exposição de 8 horas ao nível de 85 dB(A).

A avaliação considera, além do critério de referência, o incremento de dose (q) igual a 3 (três) e o nível limiar de integração igual a 80 dB(A). Foi possível obter o nível de exposição ao ruído a partir porcentagem da dose diária mediante à expressão matemática: 16,61 x log (Dose x 8 / tempo medição) +85. Os dados obtidos foram registrados, analisados e confrontados com as disposições legais do Ministério do Trabalho de acordo com a NR 15 (Brasil, 1978).



RESULTADOS


Participaram do estudo 230 trabalhadores, sendo a maioria do sexo masculino, com média de idade de 37,2 anos. Há prevalência do ensino médio, e quanto ao estado marital a maioria com companheiro. As características sociodemográficas estão na Tabela 1.



Tabela 1- Características sociodemográficas dos trabalhadores da tecelagem em uma indústria têxtil.

Características sociodemográficas

N

%

Sexo



Masculino

173

75,0

Feminino

57

25,0

Faixa etária



25-35

57

25,0

36-40

76

33,0

41-50

57

25,0

>51

40

17,0

Escolaridade



Ensino Fundamental

19

8,3

Ensino Médio

173

75,0

Ensino Superior

27

11,7

Não informado

11

5,0

Estado Civil



Com companheiro

192

83,5

Sem companheiro

38

16,5


A jornada de trabalho é de 44 horas semanais no mesmo ambiente. Quanto ao tempo de atuação profissional na empresa verificou-se que 38,3% dos tecelões trabalham por mais de 10 anos em ambiente com exposição ao ruído ocupacional. Em relação ao fator que causa maior perturbação no ambiente de trabalho, a minoria indicou a poluição sonora e percebe-se que 90,0% relatou não estar exposto ao ruído ou o ruído é pouco intenso. As características em relação ao trabalho se encontram na Tabela 2.


Tabela 2- Características de trabalho dos trabalhadores da tecelagem em uma indústria têxtil.

Variáveis

N

%

Tempo de Trabalho na empresa



< 10 anos

142

61,7

> 10 anos

88

38,3

Frequência de trabalho no mesmo ambiente



Todos os dias

207

90,0

3 vezes por semana

11

5,0

2 vezes por semana

8

3,5

1 vez por semana

4

1,5

Se a poluição sonora causa perturbação



Sim

19

8,3

Não

211

91,7

Exposição a ruídos



Não

111

48,3

Sim, pouco intenso

96

41,7

Sim, intenso

19

8,3

Sim, muito intenso

4

1,7



No que diz respeito ao uso de EPI, 96,6% utilizam protetores auriculares com frequência do tipo inserção e concha, simultaneamente. Grande parte dos entrevistados não relataram queixas de sintomas que provavelmente poderiam estar correlacionados à presença de ruído ocupacional (Tabela 3).


Tabela 3- Características de saúde dos trabalhadores da tecelagem em uma indústria têxtil.

Características

N

%

Tipo de Equipamento de Proteção Individual (EPI)



Nenhum

0

0,0

Concha

4

1,7

Inserção

4

1,7

Concha e inserção

222

96,6

Presença de ruído próxima a orelha



Sim

4

1,7

Não

226

98,3

Sintomas autorreferidos



Dor no ouvido

4

1,7

Plenitude auricular

4

1,7

Tontura

4

1,7

Dificuldade para escutar

0

0,0

Zumbido no ouvido

0

0,0

Dificuldade de compreensão da fala

0

0,0

Cefaleia

19

8,3



A respeito dos resultados dos níveis de ruído efetuada nas unidades da tecelagem foram obtidos valores que variaram de 97,8 dB(A) a 100,4 dB(A) (Tabela 4).


Tabela 4- Distribuição dos níveis de ruído realizada na tecelagem em uma indústria têxtil.


% Dose

Nível de ruído

Nível de exposição em dB(A)


Mínimo

Máximo

Unidade I

857,7

<50

127,8

100,4

Unidade II

591,5

<50

124,2

97,8

Unidade III

628,0

<50

119,5

98,1

Unidade IV

819,3

<50

130,0

99,7




DISCUSSÃO

O setor industrial possui alta porcentagem de trabalhadores expostos ao ruído de 85,0 dB(A) ou superior (Noweir et al., 2014). O presente estudo realizado na tecelagem verificou o alto nível de ruído. Pesquisa nacional retrata que, do ponto de vista ambiental, destacam-se os impactos associados à produção na indústria têxtil (Caldart et al., 2006).

Em estudos internacionais esse cenário também é observado. Uma indústria têxtil na República do Congo foi submetida a medições para determinar o nível de ruído nos setores de produção, fiação, tecelagem e manutenção e das 99 estações de trabalho, 87,9% emitiram ruído entre 86,0 a 105,0 dB(A) (Kitronza & Philippe, 2016). Outros dois estudos realizados em indústrias têxteis apresentaram altos níveis de ruído. Na indústria situada no sudoeste do Irã, os setores de fiação apresentaram 90,0 e 97,0 dB(A) e o de tecelagem um nível de ruído de 99,0 e 100,0 dB(A) (Roozbahani et al., 2009) e o estudo realizado nos setores de fiação, tecelagem e acabamento de dez empresas têxteis na Tunísia, o ruído foi reconhecido como um problema grave, particularmente nas oficinas de fiação e tecelagem, onde os níveis de ruído estavam na ordem de 100 dB(A) e 120 dB(A) devido à velocidade de rotação das máquinas (Amri et al., 2009).

O ruído na tecelagem da indústria têxtil do presente estudo esteve acima dos limiares do estudo realizado em 28 indústrias metalúrgicas e madeireiras da Arábia Saudita. A maior exposição ao ruído nas indústrias de metalurgia foi no setor de fabricação de latas de bebidas, cujo Nível de Ruído Contínuo Equivalente (Leq) foi 98,3 dB(A). Tal fato foi atribuído ao alto ruído emitido durante o processamento de chapas finas de aço e alumínio e para as máquinas utilizadas, especialmente uma prensa hidráulica de alta velocidade. A segunda maior exposição foi na formação de reforço de aço para concreto, onde o ruído foi de 95,0 dB(A), devido à natureza das operações industriais (Noweir et al., 2014).

No presente estudo a minoria dos trabalhadores indicou a poluição sonora como fator de maior perturbação no ambiente de trabalho e grande parte relatou não estar exposto ao ruído, provavelmente pelo fato de todos utilizarem EPI para a audição e inseridos adequadamente na orelha.

Sabe-se que na indústria, o risco de ruído ocupacional é grave e eminente, por isso torna-se obrigatória a utilização de proteção auditiva como forma de garantir a saúde ocupacional dos trabalhadores durante a execução de suas tarefas (Filipe et al., 2014) quando a eliminação dos riscos ou medidas coletivas são inviáveis. Porém, há necessidade de critérios e métodos para a seleção à implantação dos protetores como medida de controle individual (Medeiros, 2011). O ruído além de prejudicar a audição, pode acarretar a alterações extra-auditivas, e compromete o sistema nervoso, cardiovascular, pulmonar, metabólico e endócrino (Nunes et al., 2011).

Sobre os sintomas autorreferidos, verifica-se prevalência de cefaleia, mas, neste estudo, não se pode afirmar a existência de correlação com o ruído. Dados de uma pesquisa em indústria têxtil mostrou que 85% dos trabalhadores têm dor de cabeça temporária e 10% têm dor de cabeça permanente (Roozbahani et al., 2009). Em levantamento dos riscos ambientais realizados em uma lavanderia, a avaliação dos níveis de pressão sonora ficou entre 77,0 a 99,0 dB(A) e 45,3% dos trabalhadores relataram cefaleia, possivelmente decorrente da exposição ao ruído, pois 74,7% não utilizavam o protetor auricular (Fontoura et al., 2014).

Em estudo epidemiológico com trabalhadores de indústrias mais de 87,0% referiram estar expostos ao ruído (Sakae et al., 2006), dado divergentes ao estudo atual, o que pode ter ocorrido em função de realidades ambientais de trabalho diferenciadas. O ambiente protegido de altos níveis de ruído tem um impacto positivo na saúde auditiva dos trabalhadores (Tikka et al., 2017).

Levantamento realizado em empresas do Distrito Federal, Brasil, nos ramos de marmorarias, madeireiras e metalúrgicas apresentou resultados quanto ao uso do EPI. Os indivíduos das indústrias madeireiras são os que menos utilizam este equipamento, sendo que 48,1% assumiram que não usam e 29,6% que usam raramente. As indústrias metalúrgicas e marmorarias se destacaram no uso do EPI 94,5% e 91,5% respectivamente (Boger et al., 2009).

Em pesquisa realizada nas indústrias têxteis, foi observado que a maioria dos trabalhadores não usava os protetores auriculares por considerar seu uso inadequado devido o ambiente de trabalho ser empoeirado, podendo causar problemas como infecções de ouvido, e pelo fato de impedir a comunicação (Amri et al., 2009).

Em indústrias em que a dose de exposição aos ruídos é superior aos limites estabelecidos na legislação vigente no país é imprescindível a presença de ões preventivas e corretivas para reduzir ou eliminar as fontes de ruído no ambiente de trabalho (Filipe et al., 2014). Nesse sentido, um Programa de Conservação Auditiva em empresas cujos trabalhadores estão expostos a altos níveis de ruídos é uma estratégia para minimizar ou mesmo anular os seus efeitos nocivos à saúde geral e melhorar qualidade de vida dos trabalhadores (Oliveira et al., 2015).

No Programa de Conservação Auditiva, prevê-se o monitoramento do ruído, o treinamento e a educação dos trabalhadores, o uso de protetor auditivo e o monitoramento audiométrico. Uma intervenção promissora para aumentar a eficácia dos programas de conservação auditiva é o monitoramento diário que permite a identificação de exposições ao ruído de alto risco. A essa prática associa-se o uso de protetores auditivos (Sliwinska-Kowalska & Davis, 2012). Na empresa estudada, além do monitoramento contínuo, observou-se o uso de protetor auditivo, o que permite a atenuação de ruído quando o seu o nível ultrapassava os valores de segurança (Hong et al., 2013; Rocha et al., 2016). Embora a atenuação de ruído pelo protetor depende de vários parâmetros, tais como formato e geometria do ouvido, colocação do protetor, experiência do usuário, nível de ruído em função da frequência, entre outras, é a solução mais comum e usada mundialmente (Gerges, 2000). Os protetores auriculares funcionam como barreira protegendo a orelha interna.

Pesquisa realizada em uma oficina de imprensa verificou que os níveis de exposição ao ruído foram de 91,0 dB durante o turno de trabalho, ou seja, maior do que o limites recomendado de 85,0 dB, e concluiu que o risco relativo de perda de audição em trabalhadores com uso intermitente dos protetores auriculares foi 3,3 vezes em relação aos que usaram de forma contínua. Além disso, os trabalhadores que utilizaram protetores tipo plugue apresentaram maior risco (1,6 vezes) em comparação com aqueles cujos principais dispositivos de proteção eram do tipo concha (Aliabadi et al., 2015).

Contrário ao presente estudo, pesquisa constituída por 75 trabalhadores de diferentes setores, com exposição a ruído ocupacional, pode-se observar pela anamnese que 57,3% dos trabalhadores utilizavam EPI auricular, destes 48,8% especificaram o uso do tipo concha, 48,8% do tipo plugue e 2,3% ambos os tipos combinados (Sonego et al., 2016). Mas, a conscientização sobre a importância do uso de proteção auditiva vem aumentando (Sonego et al., 2016), conforme outros estudos nos quais a totalidade (Moreira & Gonçalves, 2014) ou a maioria (92,3%) (Heupa et al., 2011) vêm utilizando efetivamente algum tipo de protetor auricular.

O uso combinado de dois protetores auriculares (proteção dupla) aumenta a atenuação dos ruídos, de modo a garantir uma maior efetividade no nível de redução de ruído (Saliba, 2009). O uso do plugue e concha, em conjunto, só é recomendado em locais onde o nível de ruído seja acima de 100,0 dB(A) e a atenuação de apenas um protetor seja insuficiente para atenuar o ruído externo, conforme previstos na NR-15 (Brasil, 1978).

A respeito dos níveis de pressão sonora, os valores obtidos durante as medições no trabalho, apresentaram valores intensos ocorrendo um impacto ambiental, entretanto as boas práticas referentes à utilização de EPIs parecem ter atenuado os ruídos a valores aceitáveis verificadas pelas respostas dos trabalhadores, pois estes não autorreferiram efeitos negativos sobre sua saúde auditiva, provavelmente, o programa de proteção auditiva tem possibilitado a adesão do uso deste equipamento.

Levantamento realizado em revisão sistemática descreveu redução de níveis de ruído do maquinário que variaram de 11,1 a 19,7 dB(A) com a substituição das maquinas ruidosas e isolamento do ruído por meio de instalação de painéis ou cortinas em torno das fontes (Tikka et al., 2017; Noweir et al., 2014). Realizar um rodízio dos trabalhadores para locais silenciosos e efetuar constantemente um monitoramento deste agente físico por meio de testes periódicos (Noweir et al., 2014). também são necessários para minimizar os níveis elevados de ruído e proteger a saúde dos trabalhadores.

Os resultados do presente trabalho devem ser interprestados sob a luz de algumas limitações, podendo citar, primeiramente, o desenho transversal descritivo que não permite traçar uma relação de causa e efeito entre os eventos estudados. Não foram averiguadas as audiometrias para análise sobre a perda auditiva e na avaliação dos sintomas entre os trabalhadores foram utilizados dados de autorrelatos.

Porém, o estudo tem sua relevância, dada a escassez de pesquisas científicas na indústria têxtil quanto às condições de trabalho e a saúde do trabalhador. Esse cenário limita os esforços em fazer com que a saúde auditiva seja incluída entre as prioridades da saúde pública no Brasil (Calvacanti et al., 2013). A ausência de evidências conclusivas sobre ruído ocupacional, impacto à saúde e intervenções para prevenir a perda auditiva por esse fator, suscita a importância de pesquisas futuras na área epidemiológica e também na área experimental (Oliveira et al., 2012).

ainda que se considerar que há pouca explanação sobre este ambiente no âmbito da Fonoaudiologia, e se apresenta algum risco, em especial, à audição do trabalhador (Barcelos & Ataíde, 2014). Os resultados obtidos poderão subsidiar a implantação das medidas de prevenção para do ruído ocupacional coletivo na indústria do estudo. Os programas de prevenção de ruído são fundamentais para reduzir a perda de audição como resultado de exposições ocupacionais (Stucken & Hong, 2014).


CONCLUSÃO


Verificou-se um impacto ambiental em relação aos níveis de pressão sonora, cujos valores nas unidades de tecelagem foram intensos durante as medições no trabalho, variando de 97,8 dB(A) a 100,4 dB(A) e de 5,92 a 8,58 para a dose. Apesar do alto nível de ruído, os trabalhadores não queixaram de problemas auditivos e nem extra-auditivos, provavelmente por terem sido atenuados devido a um conjunto de boas práticas, como a seleção correta e utilização constante dos protetores auriculares e a conscientização por meio de um Programa de Conservação Auditiva.

É necessário a interdisciplinaridade entre a Fonoaudiologia, Engenharia de Produção e Arquitetura e Urbanismo para uma investigação periódica da qualidade acústica do ambiente industrial sendo possível verificar onde e como aplicar medidas de controle do ruído coletivo e estudar a eficácia da proteção individual.




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Ilustrações: Silvana Santos