Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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11/09/2016 (Nº 57) EDUCAÇÃO AMBENTAL E TURISMO: PERCEPÇÃO CONCEITUAL
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EDUCAÇÃO AMBENTAL E TURISMO: PERCEPÇÃO CONCEITUAL

 

Autora IEDA MARIA LIMA NICACIO SOUZA

Contato: 92 3324-1244 / 992193061

msc.iedanicacio@hotmail.com

 

RESUMO:

 

A Educação Ambiental e o turismo devem andar juntas construindo conceito que conscientizem o homem quanto sua ação no meio ambiente. A qualidade de vida nas grandes metrópoles tem sido perquirida pela população em geral. Assim, o homem tem buscado com maior frequência espaço natural, principalmente os destinados ao empreendimento turístico.

                                 

Palavras-chave: Educação Ambientale Atividades Turísticas

 

 

1. CONSERVAÇÃO DE ESPAÇOS NATURAIS E ATIVIDADES TURÍSTICAS

 

O turismo é considerado um fenômeno ligado à civilização moderna. É entendido como uma atividade temporal do homem fora de sua residência habitual, por razão diferente daquela de exercer uma atividade remunerada. (SATOR, 1977, p. 19)

 

A qualidade de vida nas grandes metrópoles tem sido perquirida pela população em geral, pois diversos são os fatores que levam a uma queda vertiginosa do ideário de se viver bem em uma cidade. A poluição sonora, a poluição visual e a poluição da água, entre outras, alertam a população para a busca de espaços que realcem, ou prometam, um bem-estar. Assim o homem tem buscado com maior frequência espaço natural, principalmente os destinados aos empreendimentos turísticos.

 

1.1 Problemática Ambiental e Conservação de Espaços Naturais

           

            A problemática ambiental pressupõe ações que priorizem a conservação de espaços naturais, contexto este que tem sido dinamicamente discutido mundialmente para que se possa avaliar as causas e as consequências, sendo local ou global, a fim de subsidiá-los às tomadas de decisões referentes às questões ambientais. Há casos irreversíveis que afetarão várias gerações (VALLE, 2004).

            Na visão de Santos (2007, p.16):

 

A crise ambiental, tal qual a percebemos, leva-nos a questionar suas raízes epistemológicas, bem como suas interações e intervenções na sociedade em que vivemos e a permanência de uma nova forma de pensar, em que a ética, a diversidade e a complexidade(grifo nosso) sejam elementos construtores de uma história.

 

            Assim podemos iniciar essa questão evidenciando a ética, a diversidade e a complexidade. A ética segundo Martins (1999, p.11) nos deveria dar a sensação de que qualquer homem deve ter, nos seus instintos, uma certeza de sua superioridade intelectual sobre os demais seres:

 

No sentido mais simples, a ética faz parte de toda ação humana.  Ou seja, qualquer ação do homem tem um conteúdo moral, e é isso que nos distingue dos demais seres vivos, que se orientam apenas por seu próprio desejo de sobrevivência. O homem é um ser moral, que antes de agir mede as possibilidades e as consequências de suas ações. A ética e a moral não são meros enfeites, que usamos ou deixamos de usar nas relações com outras pessoas, é a parte essencial da nossa própria humanidade.

 

A ética, dessa forma, alarga as expectativas quanto ao poder racional pertinente ao ser humano de que esse é capaz de viver de forma harmônica, respeitando os limites impostos pela natureza.

O termo diversidade diz respeito à variedade e convivência de ideias, características ou elementos diferentes entre si, em determinado assunto, situação ou ambiente que pode ser contemplada de forma individual ou coletiva, contudo a crise ambiental nos traz uma realidade onde os espaços devem ser ocupados e respeitados a partir de um pensar global, embora esse processo ainda esteja em fase de disseminação.

Não há no mundo alguém que seja totalmente igual a outro alguém. Pelo que dizem, ainda não há ninguém clonado entre nós e, mesmo que tivéssemos, duvido que fosse igual ao original porque viveria num outro tempo e lugar, passaria por outras experiências, conheceria outras pessoas, ouviria outras músicas, enfim, teria outra interação com as pessoas e seus costumes. (BULGARELLI, 2009, p.11).

E, por conseguinte a complexidade que aliada às demais - ética e diversidade – suscita uma inter-relação de modo a despertar a potencialidade da razão humana, que por sua vez se identifica com a crise de civilização.

 

A crise ambiental é a primeira crise do mundo real produzida pelo desconhecimento do conhecimento; da concepção do mundo e do domínio da natureza [...]. Os problemas ambientais são fundamentalmente problemas de conhecimento [...]. A crise ambiental constitui um chamado à reconstrução social do mundo: apreender a complexidade ambiental (LEFF, 2002, p.207- 218).

 

Assim, realizar um reconhecimento do mundo, dentro deste contexto, a partir da caracterização dos espaços naturais, do mapeamento, do monitoramento dos espaços naturais, bem como dos recursos naturais são estratégias para um bom uso, manejo e conservação ambiental.

            Ainda destacamos que aprendizagem de técnicas de caracterização dos espaços naturais ou sistemas naturais, o conhecimento das variáveis ambientais, e as diferentes formas de uso e ocupação dos espaços, com ênfase na característica geomorfológica, a apreenção das técnicas de monitoramento dos recursos naturais, a elaboração de prognósticos sobre as formas de conservação e preservação de acordo com as características do meio e, a priori, o conhecimento da legislação básica sobre as questões ambientais, são práticas que dão suporte aos profissionais e/ou aprendentes da Educação Ambiental, quanto à sua participação nos processos de conservação de espaços naturais e, consequentemente, nas práticas turísticas.

 

OS ESPAÇOS NATURAIS: TIPOS E PROCESSOS: A utilidade e a importância do estabelecimento de uma classificação de espaços naturais são inegáveis, pois implicam que se conheçam as grandes semelhanças na Terra em detrimento das pequenas diferenças. Desta forma, são estabelecidos critérios para identificação dos aspectos coincidentes entre estas áreas naturais, permitindo a classificação. Abordam-se também os processos ecológicos que ocorrem na natureza, e que se têm revelado essenciais à preservação da diversidade biológica e da conservação dos espaços naturais. (FUNIBER, 2007, p.56).

 

            Todos os seres humanos têm um ciclo de vida que pode ser esquematizado como: nascimento, desenvolvimento, envelhecimento e morte. O homem tem, em muitos casos, opções para a sua sobrevivência com qualidade e expectativa de vida, porém, por sua vez sofre a ação dos males que assolam a existência da humanidade que podem acarretar danos irreversíveis ao seu organismo e propriamente ao meio em que esteja inserido.

            Um organismo maltratado se deteriora mais rapidamente e pode ter a sua vida útil abreviada. Outros fatores que podem trazer consequências, por vezes irremediáveis, e que diminuem o tempo de vida humana são os acidentes aos quais os homens estão sujeitos no seu dia-a-dia. A longevidade vai depender de cuidados e atenções que o indivíduo proporciona a si mesmo e a seus semelhantes. Analogamente ao homem, a natureza também tem o seu ciclo de vida, sofrendo desgaste natural ou intencional.

            Assim como o homem, a natureza pode sofrer alterações irreversíveis. Os excessos como: temperatura alta ou baixa, agentes químicos, gases poluentes, desmatamentos, queimadas, degradações desordenadas, em geral, são os maiores danos que podem ser ocasionados à natureza, que na maioria das vezes são produzidos pelo próprio homem que dela se utiliza, bem como a inutiliza.

            O conhecimento das causas que diminuem a vida do homem e da degradação da natureza permitirá que se tome decisão no sentido de favorecer a preservação, a conservação e recuperação dos espaços naturais, que por sua vez será retomado como ambiente que possa oferecer qualidade a existência de ambos. Assim, cabendo aos agentes sócios ambientalistas posturas de tratamento emergenciais compreendendo e buscando coletivamente uma relação gradual da percepção da diversidade socioambiental num universo multicultural, porém, de exploração do intelecto humano, destacando pontos que motivem os organismos a pensarem e agirem, mesmo nos momentos de hesitação.

            Araújo Jorge apud Morin (1996) sintetiza a necessidade das idéias de auto-organização e complexidade, de modo a avançar quanto à compreensão da vida, sua evolução biológica, “é a urgência de um conhecimento do conhecimento”. (grifo nosso)

Se for possível que estejamos ainda na era bárbara do conhecimento porque estamos na , como diz Morin, estamos certamente, numa fase primitiva, pelo menos, num plano bem mais modesto, e que é o da simples colocação metodológica dos problemas da cognição. (JORGE apud MORIN, 1996, p.81).  

 

            Assim compreendemos que para se preservar, conservar e recuperar são necessários, a priori, conhecer, compreender o espaço em questão, tanto do ponto de vista do conhecimento comum, quanto ao conhecimento cientifico. Para ilustrar Jorge apud Morin (2006) destaca:

Hoje, o sentido do esforço epistemológico parece-me, pois, residir não já na denúncia de um cientismo arrogante e inconsciente, mas na recuperação da idéias de ciência=conhecimento. Para mim, como para alguns, é possível mostrar que a chegada à Ciência, mesmo que realizada <à maneira ocidental>, pode ser realmente a nossa esperança, sendo o nosso destino. (JORGE apud MORIN, 2006, p. 93).

 

            Frente a esse raciocínio a problemática e a conservação de espaços naturais, podem consumir, assumir e associar conceitos históricos quanto à conservação da natureza. Durante muito tempo a conservação da natureza contemplava a defesa dos animais e vegetais ameaçados de extinção, culminando com o movimento de “naturalistas”, nos Estados Unidos, por volta de 1872, ano em que foi criado o Parque Nacional de Yellowstone. Porém foi a publicação do livro “Primavera Silenciosa”, em 1960, nos Estados Unidos, pela bióloga norte-americana Rachael Carson, que fez despertar nas pessoas a preocupação com questão ambiental. Em 1969 surge, em São Francisco, nos Estados Unidos, o movimento dos “Friends of the Earth”. No ano seguinte nasce, no Canadá, por iniciativa de um pequeno grupo de ecologistas americanos e canadenses, a organização “Greenpeace”. (AÇORES - MEMÓRIA ECOLÓGICA, 2007, p. 08).

            Assim, a problemática ambiental deve ser assumida não apenas de interesse local, mas sim global onde a história faz seu papel de registro das ações do homem e seus resultados: social, cultural, natural, econômico, político entre outros, possibilitando o diálogo para a formação de valores alicerçados por conteúdos, a priori, conceituais, seguido pelos procedimentais e, por conseguinte atitudinais.

 

O modelo de desenvolvimento econômico predominantemente na sociedade contemporânea está fortemente relacionado com os problemas ambientais que, por sua vez, geram a perda da qualidade ambiental. É um modelo de desenvolvimento ecologicamente predador, socialmente perverso, e politicamente injusto (EVASO et. al. 1996). Nele ocorre um abusivo e indiscriminado dos recursos naturais, que caracteriza uma crise civilizatória, de caráter ambiental, onde não se consegue criar soluções culturais em relação aos problemas evidenciados (RODRIGUEZ apud JENASEN, 1997 p. 56).

 

            O conceito de conservação deve ser mais amplo do que o ato de preservar a natureza: deve ser um cuidado constante com o ecossistema. O respeito é uma atitude, e a sua prática envolve técnica, esforços em educação e persistência em enfrentar hábitos arraigados, promovendo desenvolvimento com alto respeito ao meio ambiente, sendo necessário, ainda o tripé: preservação, proteção e manutenção, conservar bens naturais é defendê-lo da ação dos agentes físicos, químicos e biológicos que os atacam. O principal objetivo, portanto, da conservação deve ser de estender a vida útil dos recursos naturais. Para isso é necessária permanente fiscalização das condições ambientais, manuseio e exploração, bem como uma sólida educação ambiental.

               

O conservacionismo é a luta pela conservação do ambiente natural, ou de partes e aspectos dele, contra pressões destrutivas das sociedades humanas. Os motivos que podem inspirar esse tipo de luta são os mais diversos. Alguns lutam pela conservação da natura devido à consciência de sua importância para o bem-estar e a sobrevivência da espécie humana. Outros [...] por razões estéticas, científicas, econômicas e até afetivas. (LAGO; PÁDUA, 1991, p. 33-34)

 

            Vale ressaltar, que na contratação da conservação há a restauração/revitalização que tem por objetivo prover a concepção original. A restauração é uma atividade que exige vários profissionais com grande habilidade, para um único problema ambiental. Em uma restauração nenhum fator pode ser negligenciado, é preciso levantar a história, revelar a tecnologia necessária, entre outras, porém, o espaço natural em alguns casos não reage, logo, por estes fatores podemos dizer que a melhor opção ainda é conservar e/ou preservar.

            As atividades turísticas em áreas naturais estão intrinsecamente relacionadas à problemática ambiental, pois não é necessário um estudo aprofundado para comprovar esta realidade, basta buscar na história grandes perdas naturais a partir da exploração desmedida do homem, por conta, muitas vezes de crescimento econômico.

 

São Vicente, [...] há muito tempo consagrou-se como estância balneária. Momentos de apogeu e de declínio marcaram o desenvolvimento turístico desse município que, através dos anos, teve a sua imagem associada ao turismo de sol e mar, que é, ainda, o maior atrativo. No decorrer dos anos, a multiplicação de problemas concorreu para deteriorar a imagem local. A falta de oportunidades de emprego, a proliferação de favelas, o descaso do Poder Público, a inoperância política e as agressões ambientais, contribuíram para transformar São Vicente em cidade-dormitório de Santos e Cubatão. [...] a imagem dessa estância balneária esteve ligada à poluição das praias e à degradação ambiental, à falta de segurança e à pobreza. (ROQUE, 2009, p.34).

 

            Essa é a parte que deve ser considerada quando se trata de turismo, onde a exploração é baseada na economia unilateral, porém, esses estudos, conceitos, planejamentos já possibilitam uma maior segurança, ou seja, conservação dos espaços destinados à atividade turística, em especial aos espaços naturais.

            Como exemplos têm as florestas que são elementos fundamentais da paisagem, que servem de cenários e atrativos aos turistas. Elas enquadram e defendem os outros tipos de ocupação do solo, criam áreas de recreio e lazer, de grande valor, sobretudo nas proximidades dos aglomerados urbanos, salvaguardando as riquezas biológicas existentes, conservando fauna e flora. A importância destas “manchas verdes” na vida dos cidadãos excede o simples valor estético e recreativo. Com efeito, as zonas verdes têm um papel fundamental na filtração dos poluentes e libertação do oxigênio, no isolamento sonoro das áreas residenciais, no conforto ambiental, devido à redução das amplitudes térmicas e manutenção do teor de umidade do ar, na circulação da água, na criação de habitat (biodiversidade e ativação biológica), proteção dos ventos, possibilidade de contato com a natureza e contemplação da paisagem.

            A problemática ambiental e a conservação de espaços naturais, ainda são pontos que podem convergir a partir de uma racionalidade humana. 

 

A questão da competência epistêmica é, a meu ver, esta: não há nenhuma competência superior e suprema. Direi que o cientista deve julgar o filósofo, que deve julgar o cientista. Eles devem entrejulgar-se e, por essa via, tentar comunicar. A ideia fundamental é que o conhecimento é uma estratégia que deve trabalhar na incerteza e na dificuldade.  (MORIN, 1996, p.113)

 

1.2 Turismo como alternativa de desenvolvimento sustentável

 

            O Brasil sempre foi visto como um país com grande potencial quanto aos seus recursos naturais, logo essa amplitude vista de forma “ilimitada” induziu o homem a recorrer de forma desordenada às grandes extensões de terra, aos minerais, aos vegetais, aos animais, e principalmente a água sem uma política com estratégica mínima que protegesse o meio dos impactos/desastres ecológicos. Por tudo isso o quadro ambiental sinalizou a necessidade de uma política que despertasse na sociedade, tanto pública quanto privada, ações que defendessem o interesse coletivo da humanidade, com mudanças de valores condizentes com a conservação e aproveitamento dos espaços naturais.

 

O turismo no Brasil se caracteriza por oferecer tanto ao turista brasileiro quanto ao estrangeiro uma gama mais que variada de opções. Nos últimos anos, o governo tem feito muitos esforços em políticas públicas para desenvolver o turismo brasileiro, com programas como o Vai Brasil procurando baratear o deslocamento interno, desenvolvendo infra-estrutura turística e capacitando mão-de-obra para o setor, além de aumentar consideravelmente a divulgação do país no exterior. É notáveis a procura pela Amazônia na região Norte. (GUERRA; GUIMARÃES, 2007, p.04).

 

 

            Antes de discutir o turismo como alternativa para o desenvolvimento sustentável, é imperativo elencar situações que fizeram do turismo uma oportunidade educacional/cultural despertando no homem a diferença entre o aproveitamento do ambiente natural unicamente econômico e o aproveitamento do ambiente natural para melhor qualidade de vida das espécies do planeta.

            Em se tratando da Amazônia esse contexto desperta, nas diversas autoridades, tomadas de decisões emergenciais, pois em épocas remotas no Brasil já houve posições jurídicas quanto à solução dos problemas ambientais, mesmo que a ação não fosse explicitamente à conservação ambiental.

               

Foi na Carta régia de 17 de maço de 1796 criada a figura do “Juiz Conservador das Matas”. Cabia a esse julgador de antanho prender e julgar os criminosos que de forma desmedida destruíam as preciosas árvores e lesavam a Coroa. É claro que o intuito, na ocasião, residia predominantemente na salvaguarda dos interesses econômicos do Rei, abarcando a defesa das matas propriamente considerada de forma indireta. (ANTONIO, 2000, p.21).

 

            Ainda nesse crescente interesse pelos recursos naturais e, consequentemente, seu possível esgotamento, o homem tem atentado e buscado propostas que respaldam suas ações no presente para aliviar, num futuro próximo, as intempéries da natureza que têm dizimado, de forma traumática, algumas culturas e espaços ocupados pelo ser humano, animal, vegetal e mineral, como por exemplo: Chuva ácida, Desertificação, Efeito Estufa, El Niño, Destruição de Florestas, Inversão Térmica, Camada de Ozônio. (BRASIL ESCOLA, 2008).

            A necessidade de reforçar as informações ratifica que a humanidade deve abusar das cautelas que por hora são fortemente defendidas e apresentadas na forma legal, contudo, ainda há um longo caminho entre a teoria e a prática. Conforme Leff (2001, p. 239): “[...] os avanços teóricos, epistemológicos e metodológicos no terreno ambiental foram mais férteis no terreno da pesquisa do que eficazes na condução de programas ambientais”.

Essa afirmação reflete a partir da ação humana, nessa pesquisa, em especial ao do turista, no qual ainda pode-se observar que há uma necessidade de conscientização quanto à utilização dos espaços culturais e naturais para o lazer e, consequentemente, bem-estar de todos, no presente e no futuro.  E essa situação já vem sendo amparada por programas públicos, privados, e em alguns casos individuais para a implantação do turismo como uma prática que possa desenvolver a economia, de modo autossustentável.

Segundo Donaire (2000, p.81): “A sociedade atual está cada vez mais convicta de que é possível uma nova gestão dos recursos naturais, que possibilite ao mesmo tempo eficácia e eficiência na atividade econômica e, que se possa manter a diversidade e estabilidade do meio ambiente”.

            O interesse crescente por espaços naturais que possibilitam atividades recreativas com fim de arrefecer o stress causado pelo cotidiano das grandes cidades tem feito o setor de entretenimento natural investir no espaço físico e na qualificação da mão de obra.  O avanço tecnológico, a mudança de valores sociais e a busca pela qualidade de vida coincidem e/ou despertam para a assunção de um sujeito socioambiental.

            No avançar dos conceitos e atitudes, turismo tem hoje como definição:

 

As atividades que as pessoas realizam durante suas viagens e permanência em lugares distintos dos que vivem, por um período de tempo inferior a um ano consecutivo, com fins de lazer, negócios e outros, e turista é um visitante que se desloca voluntariamente por período de tempo igual ou superior a vinte e quatro horas para local diferente da sua residência e do seu trabalho sem, este ter por motivação, a obtenção de lucro. (WORLD TURISMO, 2008, p. 05) .

 

 

            Numa relação analógica entre turismo e desenvolvimento sustentável, buscou-se no passado a compreensão dessa provável aproximação/conscientização:

Segundo autores, existem duas linhas de pensamentos, no qual a História do Turismo se divide. A primeira seria que o Turismo se inicia no Século XIX como deslocamento cuja finalidade principal é o ócio, descanso, cultura, saúde, negócios ou relações familiares. Estes deslocamentos se distinguem por sua finalidade dos outros tipos de viagens motivados por guerras, movimentos migratórios, conquistam comércio, etc. Não obstante o turismo tem antecedentes históricos claros. Depois, se concretizaria com o então movimento da Revolução Industrial. A segunda linha de pensamento se baseia em que o Turismo realmente se iniciou com a Revolução Industrial, visto que os deslocamentos tinham como intuito o lazer. (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE TURISMO, 2008, p.25).

 

            Dentro dessa perspectiva compreende-se que o turismo não nasceu de uma necessidade comercial planejada que mantivesse a ordem, bem como o equilíbrio natural do ambiente. Por conseguinte, cabe, numa nova ordem, a implantação de programas dirigidos que proporcionem uma justa adequação das necessidades humanas ao comodismo que a natureza pode oferecer.

            Muitas são as programações, hoje, onde o turismo tem harmonizado, através de rede de hotelaria, comerciantes que experimentaram através da massificação de campanhas e cursos a importância da qualidade, do atendimento e do preço justo do produto oferecido ao turista. Entre outras conquistas no ramo do turismo podem-se destacar os guias formados e experientes, dotados de saberes que podem providenciar ao turista uma conduta de respeito durante a sua interação com o meio natural/cultural.

            Por conseguinte, a oferta e a demanda do turismo podem alicerçar de forma ética as diretrizes que promovam a sustentabilidade do meio e dos recursos naturais e culturais, conforme previsto no artigo 3º do Código Mundial de Ética do Turismo da Organização Mundial do Turismo (2008):

1) O conjunto dos atores do desenvolvimento turístico tem o dever de salvaguardar o ambiente e os recursos naturais, na perspectiva de um crescimento econômico é, contínuo e sustentável, capaz de satisfazer equitativamente as necessidades e as aspirações das gerações presentes e futuras; 2) Todos os tipos de desenvolvimento turístico que permitam economizar os recursos naturais raros e preciosos, nomeadamente a água e a energia, bem como evitar na medida do possível a produção de dejetos, devem ser privilegiados e encorajados pelas autoridades públicas nacionais, regionais e locais; 3) A repartição no tempo e no espaço dos fluxos de turistas e de visitantes, especialmente o que resulta das licenças de férias e das férias escolares, e um melhor equilíbrio entre locais frequentados devem ser procurados por forma a reduzir a pressão da atividade turística sobre o meio ambiente, e a aumentar o seu impacto benéfico na indústria turística e na economia local; 4) As infraestruturas devem estar concebidas e as atividades turísticas ser programadas por forma a que sejam protegidos o patrimônio natural constituído pelos ecossistemas e a biodiversidade, e que sejam preservadas as espécies ameaçadas da fauna e flora selvagens; os atores do desenvolvimento turístico, nomeadamente os profissionais, devem permitir que lhes sejam impostas limitações ou obstáculos às suas atividades quando elas sejam exercidas em zonas particularmente sensíveis: regiões desérticas, polares ou de alta montanha, zonas costeiras, florestas tropicais ou zonas úmidas, propícias à criação de parques naturais ou reservas protegidas; 5) O turismo de natureza e o ecoturismo são reconhecidos como formas de turismo especialmente enriquecedoras e valorizadoras, sempre que respeitem o patrimônio natural e as populações locais se ajustem à capacidade de acolhimento dos lugares turísticos.

 

Essa compreensão ao desenvolvimento de ações comerciais turísticas permanentes, remonta à história antiga que registra a importância que os gregos davam ao turismo, principalmente no período destinado às olimpíadas, que ocorriam a cada quatro anos na cidade de Olímpia. Já os romanos frequentavam águas termais, onde aconteciam grandes espetáculos. Esses acontecimentos fortaleciam o comércio, como por exemplo, as hospedarias. (FOLHA ONLINE, 2009, p. 02). 

            Porém, o turismo tem na sua história fatos que exigem um presente atento às oscilações e movimentações sociais, quanto a isso se destaca a evolução do turismo segundo Molina (1998, p.40).

1. O Pré-turismo - ocorrente no século XVII na Europa, onde os filhos dos comerciantes ricos viajavam para lugares de elevado nível cultural e comercial; 2. O Turismo Industrial - subdividido em três: a) O Turismo Industrial Inicial - ocorrente no século XIX até o início da segunda Guerra Mundial com o surgimento dos grandes hotéis; b) O Turismo Industrial Maduro - a grande explosão a partir dos anos 60 e fundamentada no sistema "operadora-avião-hotel-praia"; c) O Turismo Pós-industrial - que surge a partir dos anos 80 e é baseado: na diferenciação dos produtos/serviços e também na desmassificação dos mercados, atendimento personalizado e o ecoturismo que deriva as estratégias de crescimento sustentável. 3. O Pós-turismo - o deslocamento se torna desnecessário, podendo-se realizar turismo na própria cidade aonde se vive, recorrendo à mega-hotéis que têm por características: um nulo contato com indivíduos das comunidades locais; contato com cenários naturais adaptados, aplicando a alta tecnologia; substituição da mão-de-obra pela tecnologia, e, não se produz coma os recursos naturais ou culturais da região.

 

            Essas realidades sustentam que o turismo pode e deve ser uma conquista conceitual e atitudinal do homem em legislação da causa maior que é cultivar estratégias elementares à aproximação do usufruto do bem natural, principalmente, quando há uma sinalização quanto à recessão econômica e ambiental.

 

A sustentabilidade se apresenta, dessa forma, como um desafio, tanto para as autoridades como para a iniciativa privada e, principalmente, para a comunidade que normalmente é a mais prejudicada. Esse desafio se torna ainda mais marcante quando consideramos a dinâmica da atividade e a dificuldade em responder a tempo às demandas do crescimento econômico por parte dos órgãos públicos. Nesse contexto, as políticas preventivas acabam sendo mais efetivas do que as corretivas: é muito mais fácil e barato prevenir do que remediar. Entretanto, as políticas preventivas devem ser acompanhadas de uma fonte estruturada reguladora e fiscalizadora por parte do Estado e uma ativa participação das comunidades. (AMAZONAS, 2006, p.8)

           

            Contudo, na rota do turismo há várias finalidades: como descanso, trabalho, contemplação, acampamento, curiosidades, visitas religiosas, recreio, entre outros, o local de destino facilmente se fortalecerá quando há infraestrutura e programação que estimule, motive e convença o turista das vantagens do seu investimento, ou seja, a satisfação perde o custo e ganha valor coletivo, com a possibilidade de conservação do meio e seus recursos.

[...] muitos destacam a ocupação predatória, não planificada, subordinada aos interesses do máximo proveito econômico [...] Para outros, entretanto, o turismo se revela beneficiário ao meio ambiente porque, através de sua presença econômica, pode contribuir para a conservação e preservação de monumentos históricos, áreas naturais e sítios arqueológicos. Além disso, o turismo tem interesse em manter a qualidade do meio ambiente e deve promover a sua conservação, não apenas porque historicamente está ligado a ele, mas também porque sua existência depende da natureza. (TULIK, 2003, p. 35).

 

            O costume/necessidade que o homem tem de “andar” finaliza com aquisição de experiências que poderão permanecer viva em seu pensamento e como é da ordem do ser humano, consequentemente, suas experiências serão relatadas a outrem e, por fim, provavelmente, esse terá a necessidade de ter suas próprias experiências, ou seja, o turismo tem suporte numa ação cíclica onde à quantidade e a qualidade abrevia a massificação do seu produto. Vale ressaltar, que está cada vez mais comum à prática do turismo, pelo fato da viabilização de aquisição de pacotes turísticos práticos e acessível a todos que se mantêm dentro de um planejamento orçamentário e financeiro, bem como, os intercâmbios culturais são práticas cada vez mais comuns entre jovens estudantes e diversos profissionais.

            A organização do turismo e sua viabilidade econômica foram experimentadas e constadas, em 1840, com Thomas Cook:

 

[...] considerado o pai do Turismo Moderno, promove a primeira viagem organizada da história. Mesmo tendo sido um fracasso comercial é considera como um rotundo sucesso em relação à organização do primeiro pacote turístico, pois se constatou a enorme possibilidade econômicas que, este negócio, poderia chegar a ter como atividade, criando assim em 1851 a Agência de Viagens “Thomas Cook andson”. Em 1867 inventa o bono o “voucher”, documento que permite a utilização em hotéis de certos serviços contratados e propagados a través de uma agência de viagens. [1]

 

            Nessa ordem ressalta-se oportunamente a criação de Henry Wells e William Fargo:

 

Henry Wells e William Fargo criam à agência de viagens American Express que inicialmente se dedica ao transporte de mercadorias e que posteriormente se converte em uma das maiores agências do mundo. Introduzindo o sistema de financiamento e emissão de cheques de viagem, como por exemplo, o travel-check (dinheiro personalizado feito com papel moeda de uso corrente que protege o viajante de possíveis roubos e perdas). [2]

 

            Esse momento se caracteriza pela experiência, o que implica na imperativa condição do planejamento que se constrói ao fazer da demanda ou dos impactos ambientais e sociais que podem surgir com a chegada de turistas. Assim o turismo entra como parte fundamental da agenda política dos países que tem potencial quanto à promoção e comercialização do turismo. Contudo, apesar da cultura ser uma referencia para o turista é ímpar que haja a formação desenvolvendo planos de educação especializada no ramo, de como acompanhar os interesses do turista, podendo, então, alcançar um desenvolvimento turístico sustentável mediante a captação de novos mercados sem esquecer a sazonalidade. A Organização Mundial de Turismo (2008), dentro desse processo educacional/conceitual distingue o turismo:

·       Turismo receptivo - quando não-residentes são recebidos por um país de destino, do ponto de vista desse destino.

·       Turismo emissivo - quando residentes viajam a outro país, do ponto de vista do país de origem.

·       Turismo doméstico - quando residentes de dado país viajam dentro dos limites do mesmo.

            Para cada tipo de turismo há a necessidade de um conjunto de bens, serviços, infraestrutura, atrativos, que atendam as expectativas dos indivíduos. A partir, dessa inter-relação podem-se desenvolver espaços competitivos, que contemplem a população local favorecendo-a econômica e financeiramente.

            É no setor terciário que está incluso o turismo e, por conseguinte, o que mais cresce no Brasil, na modalidade ecoturismo[3]. Devido a grande oferta natural, o turismo ecológico desperta nos turistas a curiosidade de contemplar o que ainda “resta” de belo da fauna e flora, pois frequentemente estão sendo lançadas listas de ameaças de extinção das diversas espécies, não só do Brasil, mas do mundo. Contudo, o Brasil, que em 2008 era a 14º nação do mundo com a maior economia de turismo, subiu para a 13º posição em 2009. O país ainda ocupa o primeiro lugar entre as 19 economias de turismo da América Latina. Essa latente tendência quanto ao crescimento econômico a partir das ações do setor terciário – Turismo – tem providenciado evolução expressiva quanto à criação de emprego e consequentemente, a geração de renda em detrimento aos demais setores conforme Figura 1.

Figura 1 - Participação do PIB setorial no PIB Total do Brasil - 1960/95 (Em %)

 

                                                     ANOS                                   SETORES

  Agropecuário     Industrial        Serviços

                                                      1960               19,2                   32,6                        48,2

1970      11,6                       35,8                       52,6

1980      10.2                       41,0                       48,8

1990      9,3                         34,2                       58,5

1995      12,3                       32,0                       55,7

Fonte: MICT/EMBRATUR - Fade UFPE (1998, p.3).

           

            O turismo tem sido fonte de inspiração para muitos brasileiros, em especial, os que estão próximos e/ou vivendo em ambientes ricos em elementos naturais, que possam servir para a implantação de projetos/programas compatíveis com o mesmo. Contudo, a sustentabilidade ainda é uma solução em experiência, pois muitas são as ações que conduzem o Turismo como alternativo de Desenvolvimento Sustentável.

            Contudo, o conceito de Desenvolvimento Sustentável segundo Barbiere (1998) se constrói por etapas a partir das preocupações ambientais no contexto local, geral e planetário, de modo a questionar a participação do homem, também, nas dimensões social, política e cultural. Para a implantação da atividade turística, como alternativa de desenvolvimento econômico e sustentável, com pouco impacto ambiental, é aconselhável estabelecer a, priori, um diagnóstico do potencial local, a partir de profissionais do setor privado ou público, bem como envolver o interesse dos comunitários, pois é desses que o empreendimento receberá, sobretudo, a mão-de-obra, que pode ser qualificada e, consequentemente, gerando satisfação a todos. Vale ressaltar, porém sem aprofundar na questão, que uma comunidade poderá ser absorvida por uma outra cultura, se esta não tiver enraizado seus costumes, ou por motivos superiores aos seus, sobretudo aos relacionados às expectativas de vida.

            Morin (1995, p.78) nos alerta para:

A ideia de desenvolvimento foi à chave dos anos pós-guerra. Havia um mundo, dito desenvolvido, dividido em dois (capitalista e socialista). Ambos apresentavam ao terceiro mundo seu modelo de desenvolvimento e geraram a crise mundial do desenvolvimento. O problema do desenvolvimento depara-se diretamente com o problema cultural/civilizacional e com o problema ecológico [...] O próprio sentido da palavra desenvolvimento, tal como foi aceito, contém nele e provoca subdesenvolvimento.

            Contudo, os desafios da sustentabilidade estão no mau uso dos recursos naturais, mas há existência da Legislação Ambiental, que:

 

É o conjunto de normas jurídicas que se destinam a disciplinar a atividade humana, para torná-la compatível com a proteção do meio ambiente. No Brasil, as leis voltadas para a conservação ambiental começaram a ser votadas a partir de 1981, com a lei que criou a Política Nacional do Meio Ambiente. Posteriormente, novas leis foram promulgadas, vindo a formar um sistema bastante completo de proteção ambiental. A legislação ambiental brasileira, para atingir seus objetivos de preservação, criou direitos e deveres para o cidadão, instrumentos de conservação do meio ambiente, normas de uso dos diversos ecossistemas, normas para disciplinar atividades relacionadas à ecologia e ainda diversos tipos de unidades de conservação. (BRASIL, 2007, p.17). 

 

            Visto deste ângulo o turismo como alternativa de Desenvolvimento Sustentável, ainda em processo de adequação, porém com pleno poder econômico, pode estar predisposto a uma ordem estrutural e de segurança, conjuntamente com a Educação Ambiental, de modo a minimizar os impactos e conservar os espaços naturais e culturais escolhidos como rota para o turismo.

O Brasil foi classificado no Índice de Competitividade em Viagens e Turismo de 2009 na posição 45 a nível mundial, mas entre os 133 países avaliados classificou na posição 2 em recursos naturais, e na posição 14 em recursos culturais, ainda se que classificou na posição 110 em infraestrutura rodoviária e no 130 em segurança pública. (TRAVEL e TOURISE, 2009, p.8).        

Portanto, o Turismo como alternativa de Desenvolvimento Sustentável pode sair das teorias, uma vez, valorizando a economia, a qualidade de vida, e as limitações dos recursos naturais, eixos básicos do desenvolvimento turístico sustentável, alicerçadas pelas políticas públicas e privadas, bem como pela participação da população local, baseada no equilíbrio das esferas da sustentabilidade, conforme Figura 2.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Figura 2: Equilíbrio das Esferas da Sustentabilidade

Fonte: Coriolano, (2003, p.165)

 

 

1.3 Impactos Socioambientais da Atividade Turística.

 

            Os atrativos turísticos são muitos em especial nas áreas as quais oferecem paisagens como: praias, rios, grutas, corredeiras, cachoeiras, vegetação rara, animais silvestres entre outros. E são especialmente por esses lugares que o homem tende a se refugiar, de modo a contemplar as maravilhas naturais, que em tempos remotos se dava, a priori, pelo desejo de conquistar os espaços naturais.

            Segundo Cousteau (1997, p.28):

Amazônia: entre o paraíso e o inferno. Assim que os europeus descobriram essa região, ficarão fascinados pela natureza e por seus habitantes. [...] A partir desse momento foram organizadas várias incursões pela selva. No começo, o objetivo eram as especiarias [...], mas logo depois as entradas passaram a ter uma finalidade colonizadora, religiosa ou escravista.

 

            Essa realidade se apresenta quando há o lançamento e a comercialização de grandes condomínios, onde um dos quesitos mais divulgados são os espaços reservados ao paisagismo, que imediatamente cria um clima para seduzir as pessoas que vivem no isolamento quanto à natureza.

            Beltrão (1996), em sua obra, Turismo e Comunicação enfatizam que:

Comunicar. Esse é o caminho a ser trilhado, neste final de milênio, o qual a sociedade desenvolvida deve seguir. Compete a cada um de nós através de lutas constantes vivermos e criarmos meios de vida, para que as futuras gerações sejam mais respeitadas no que se refere aos direitos coletivos ou sociais, ao trabalho, à moradia e lazer. No caso especifico do turismo, seja oferecido trabalho com qualidade remunerativa e quantidade satisfatória.  Não existe outro meio para que a humanidade concretize seus ideais, se não pelo processo da comunicação, conquistando barreiras ideológicas, transformando a concepção alienada de alguns grupos. Com as transformações sociais no decorrer da história, a humanidade cada vez mais vem adotando maneiras de superar as adversidades que ela mesma projetou (BELTRÃO, 1996, p.18-19).

 

            Por conseguinte, os impactos ambientais da atividade turística, podem estar atrelados desde o passado onde o homem pelo desejo do poder se apossava de áreas sem nenhuma restrição e lá ia modificando, adequando o local a seu favor. No início esses impactos eram pouco visíveis, porém com o aumento da população a escassez de recursos, a natureza, começou a sinalizar que algo estava dando errado. Assim, o homem já de posse da tecnologia, das comunicações começa a compreender que suas ações mal planejadas, em especial as relacionadas ao ambiente, provavelmente teriam um retorno devastador para sua própria cultura.

            Os impactos socioambientais correspondem às alterações nas características do meio ambiente, tanto nos lugares sem a presença de seres vivos (abiótico), relativos a um ecossistema (biótico), bem como com a presença humana (antrópicos). Qualquer alteração física, química e biológica, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas e que, direta e indiretamente, afetem a saúde, a segurança e o bem-estar da população, a biota (Conjunto de seres vivos que habitam um determinado ambiente ecológico em estreita correspondência com as características físicas, químicas e biológicas), as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente e a qualidade dos recursos naturais são considerados impactos socioambientais. (SOUZA, 2000, p.332).

Contudo, os impactos socioambientais provenientes das atividades turísticas podem ter seu lado positivo. Os espaços verdes por certa época foram abandonados, principalmente durante a Revolução Industrial, que se caracteriza pela fase da passagem da oficina artesanal ou da manufaturada para a fábrica, que se estendeu do século XVIII a XIX, no primeiro momento houve corrida da zona rural para os centros onde havia a concentração econômica.  Eram homens e mulheres em busca de empregos.

 

            Hoje, as cidades, grandes metrópoles, não oferecem infraestrutura suficiente para que a população possa desfrutar de um ambiente saudável, que eleve sua qualidade de vida, logo há busca por lugares que tenham estas características e que possam de certa maneira, despertar no homem a consciência quanto à necessidade de conservar os espaços 0 que ainda se revelam como um recanto para seu lazer e descanso, entre outras opções.

            Por conseguinte, o turismo pode ser uma atividade, apesar de temporária, propícia e com condições de apoiar a conservação das áreas naturais, através do aperfeiçoamento da infraestrutura local, bem como de campanhas que elevem o conhecimento conceitual e, por conseguinte atitudinal, a priori dos moradores locais, que por sua vez terão atitudes que podem refletir nos turistas.

            Porém, o progresso oportuniza a muitos, através da comunicação, do transporte, entre outros, meios de se chegar à prática turística, logo com a massificação, que sempre está à frente do poder da ação educacional, poderá ter sempre impactos socioambientais a partir da atividade turística.

 

É evidente que há certo grau de confrontação entre racionalidade econômica e racionalidade ambiental, ainda que se tenha estendido a ideia de que o ambiente deva ser visto como uma oportunidade para a rentabilidade econômica mesmo existindo um campo para a rentabilidade de processo de reciclagem de resíduos e para as tecnologias limpas [...] Em situações onde é claramente impossível definir preço incerteza dos possíveis impactos e dos custos da irreversibilidade de certos processos ecológicos, será necessário aplicar padrões mínimo de segurança, baseados num melhor conhecimento cientifico disponível.  (FUNIBER, 2006, p.121-122).

 

            Os impactos socioculturais podem ser constituídos a partir de uma relação complexa entre os elementos que compõem essa ação como, por exemplo: o turista, o ambiente, os comunitários, os órgãos responsáveis pela legislação, aplicação e fiscalização.

            Assim cabe ao coletivo, bem como ao indivíduo uma postura de assunção de compreensão de programas turísticos que obedeçam a uma legislação, e, por conseguinte a realização de uma contabilização do valor positivo ou negativo socioambiental. Compreende-se que o valor econômico pode contribuir com a (des) valorização da cultura local.

Contudo, deve ser levado em conta conforme Doxey apud Mathieson e Wall, (1988) que o espaço destinado à comunidade que agregará a atividade poderá perpassar pelos estágios de crescente desilusão, tais como: euforia, apatia, irritação, antagonismo e por fim conscientização. Pois, são comuns ao ser humano as emoções, quando essas têm como base a expectativa na mudança de hábito, de melhoria de vida. Segundo Fonteles (2004, p.59): “Afinal quem melhor do que a própria população local para decodificar as relações sociedade/natureza? [...] Excluí-las dos projetos turísticos não é certamente o melhor caminho para a sustentabilidade”.

 

1.4 – Educação Ambiental e Turismo.

 

A Educação Ambiental já não é mais um conteúdo que deve ser tratado como uma forma de chamar atenção da população quanto à busca pela qualidade de vida, pois esta tem como um de seus objetivos formar cidadãos conscientes de sua relação com a natureza, direta e indiretamente. Direta quando o indivíduo está localizado naquele espaço de forma fixa e indiretamente quanto esse usa um determinado espaço para sua satisfação pessoal e imediata, como por exemplo, o turismo.

Assim, deve-se conforme Neimam; Rabincovici (2002, p.146): “Primar pela formação de pessoas consciente de seu papel e de sua relação com o meio ambiente de modo a primarem pela sustentabilidade, através de uso racional dos recursos naturais, para que tanto esta quanto as futuras gerações possam também deles usufruir”.

A Educação Ambiental é um recurso que pode ser utilizado no turismo para suavizar ou minimizar os problemas ambientais, que geralmente são criados pela ação humana, logo, evitar o desperdício de forma a não agredir o Meio Ambiente pode ser tarefa possível através da Educação Ambiental, ou seja, a Educação Ambiental pode ter fim último à preservação, a conservação e recuperação do Meio Ambiente, garantindo sua sustentabilidade.

Pode-se ressaltar, também, outro objetivo da Educação Ambiental, o desenvolvimento sustentável, onde a prática do turismo sustentável visa à melhoria da qualidade de vida tanto do turista quanto de quem oferece aos visitantes momentos inesquecíveis. Para que esta sustentabilidade ocorra é necessário que as pessoas envolvidas na prática do turismo tomem consciência de que é dever de todos preservar, conservar e recuperar o meio ambiente, através de Programas de Educação Ambiental.

É nesse sentido que a escola tem o papel fundamental, pois esta é responsável pela educação e formação do cidadão. Dias (2003, p. 178) em Turismo Sustentável e Meio Ambiente afirma:

A educação ambiental dirigida ao turismo, por conseguinte, deve ser construída com a participação da comunidade visando assim o desenvolvimento sustentável. Essa noção de sustentabilidade leva o desenvolvimento do turismo a uma perspectiva de longo prazo. Esse desenvolvimento tenta manter os costumes locais, garantir a conservação de áreas de beleza natural, objetos históricos e outros. (DIAS, 2003, p. 178);

 

A questão ambiental vem sendo considerada cada vez mais urgente e importante para a sociedade, pois o futuro da humanidade depende da relação estabelecida entre a natureza e o uso pelo homem dos recursos naturais disponíveis. Assim, os programas de Educação Ambiental devem levar em consideração os problemas dos choques culturais, o retorno financeiro, à necessidade de preservação, conservação e recuperação dos recursos naturais e culturais, e outros possíveis problemas observados pela comunidade inerentes ao local.

Para Ruschmann (1997) a educação para o turismo ambiental deverá ser desenvolvida por meio de programas não-formais, convidando o “cidadão-turista” a uma participação consciente na proteção do meio ambiente, não apenas durante as férias, mas também no cotidiano e no local de residência permanente.

 

Considerações finais

 

O turismo hoje se traduz como uma importante atividade econômica, capaz de gerar renda e emprego nos mais diferentes espaços. Segundo Coriolano (1998, p.9): “a importância e o significado do turismo no mundo tem crescido de forma tão expressiva que vem dando a esta atividade lugar de destaque na política geoeconômica e na organização espacial, vislumbrando-se como uma das atividades mais promissoras para o futuro milênio”.

 A atividade turística utiliza o Meio Ambiente como atrativo principal. A apropriação do meio ambiente pelo turismo traz, às vezes, a degradação. É neste contexto que a prática da conservação, preservação e recuperação do Meio Ambiente requer políticas públicas e privadas que eduquem e coíbam as ações humanas que possam oferecer risco à sustentabilidade.

Carneiro e Faria (2001, p.70) afirmam que: “A relação do turismo com o meio ambiente dá-se principalmente por meio da paisagem, transformada em produto a ser consumido”. É preciso que se preparem os locais visitados, bem como, os que irão conhecer e usufruir desses locais, pois, à proporção que a humanidade aumenta sua capacidade de intervir na natureza para satisfação e desejos crescentes, surgem dificuldades quanto à utilização do ambiente, bem como dos recursos disponíveis.

Segundo Neiman (2002, p.154): “um segmento que utiliza de forma sustentável o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações envolvidas”.

No contexto da pesquisa, a prática do turismo é bastante preocupante, já que o município de Presidente Figueiredo possui abundantes recursos naturais, e em sua maioria esta prática é utilizada de forma incorreta que podem causar danos irreparáveis a natureza, apesar de essa atividade ser considerada uma das alternativas mais importantes de desenvolvimento econômico sustentável local. Consequentemente, é importante considerar que as escolas têm um papel fundamental na modificação dos padrões de comportamento e consumo de uma sociedade, logo todos podem ser agentes ativos quanto à melhoria na qualidade de vida, em especial ao ambiente natural.

Segundo Reigota (1994, p.10): “a educação ambiental deve ser entendida como educação política, uma vez que prepara os cidadãos para exigir justiça social, cidadania global e planetária, autogestão e ética nas relações sociais e com a natureza“. É necessário que os moradores percebam a importância de preservar o meio ambiente, uma comunidade mais consciente estará mais preparada para receber o turista e cobrar dele o mesmo respeito que é dado pelos habitantes do local.

No intercâmbio das relações turísticas a interação entre turistas e comunidade local tem que ser satisfatória, para não aflorar ou aprofundar os problemas sociais, econômicos e culturais da comunidade. Neste sentido a questão ambiental tem que estar inserida no planejamento da atividade turística, sendo, portanto, uma atividade que requer dados econômicos, sociais, culturais e ecológicos para que seja implantado e tenha sustentabilidade. Como exemplo, destacamos os seguintes dados sociais: a mendicância, a prostituição, e consumo de drogas; o turismo pode gerar ou intensificar estes problemas sociais quando mal planejado.

Portanto, turismo e a educação ambiental estão interligados, não podendo ser realizada uma análise da atividade turística sem considerar a cultura local quanto à consciência da população local em relação ao seu meio e sua sustentabilidade. A escola presente e atuante através de programas que alicerçam a condição humana responsável pelo seu meio poderá educar para que as futuras gerações de deleitem com o que hoje está presente naturalmente no seu cotidiano.

 

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[1]           Dados retirados dos livros "El turismo explicado conclaridad" editado em 2003 por www.librosenred.com. Disponível no site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_Cook. Acessado em 15 de março de 2009.

[2]           Enciclopedia.com. Henry Wells. Disponível no site: http://www.encyclopedia.com/doc/1E1-Wells-H.html. Acessado em 15 de março de 2009.

[3]              Para a EMBRATUR (2003), uma atividade do ramo do turismo é classificada como ecoturismo quando apresenta quatro condições básicas: a) respeito às comunidades locais; b) envolvimento econômico efetivo das comunidades locais; c) respeito às condições naturais e conservação do meio ambiente; e d) interação educacional – garantia de que o turista incorpore para a sua vida o que apreende em sua visita, gerando consciência para a preservação da natureza e dos patrimônios histórico, cultural e elétrico.

Ilustrações: Silvana Santos