Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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11/09/2016 (Nº 57) PERCEPÇÃO AMBIENTAL SOBRE ABELHAS NAS COMUNIDADES DO ENTORNO DO PARQUE NACIONAL DE SETE CIDADES, PI, BRASIL
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PERCEPÇÃO AMBIENTAL SOBRE ABELHAS NAS COMUNIDADES DO ENTORNO DO PARQUE NACIONAL DE SETE CIDADES, PI, BRASIL

 

Gescyla Silva do NASCIMENTO1; Kelly Polyana Pereira SANTOS 2; Wolney Mateus FONTENELE³; Roseli Farias Melo de BARROS4; Paulo Roberto Ramalho SILVA5

 

1, Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Federal do Piauí-PI (MDMA/PRODEMA/TROPEN), gescyla@hotmail.com

2, Doutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Federal do Piauí-PI (DDMA/PRODEMA/TROPEN), kellypolyana@hotmail.com

3, Graduado em Ciências Biológicas, Universidades Estadual do Piauí, wolneymateus@hotmail.com

4, Departamento de Biologia, Campus Universitário Ministro Petrônio Portela, Centro de Ciências da Natureza - UFPI, rbarros.ufpi@gmail.com.br

5, Departamento de Fitotecnia, Campus Universitário Ministro Petrônio Portela, Centro de Ciências Agrárias - UFPI, pramalho@yahoo.com.br

 

 

RESUMO

As abelhas possuem grande importância para o meio ambiente, uma vez que cumprem o papel de agentes polinizadores, contribuindo com vários serviços ecossistêmicos. O objetivo deste trabalho foi fazer uma breve análise da percepção ambiental das populações que vivem no entorno do Parque Nacional de Sete Cidades, com enfoque sobre a importância da manutenção das abelhas para o meio ambiente. A coleta de dados ocorreu em 10 comunidades dentro da Zona de Amortecimento da Unidade de Conservação. Foram utilizados os métodos de procedimento analítico e descritivo, por meio de aplicação de questionários semiestruturados aplicados de forma aleatória, sendo cinco direcionados ao gênero masculino e cinco ao feminino, por comunidade. Verificou- se diferença significativa entre os gêneros, a respeito destas abelhas. Sobre o conhecimento dos entrevistados em relação à importância de uma unidade de conservação, 59% citam a preservação. Em relação à percepção sobre as abelhas, 99% disse conhecer as abelhas, 1% afirmou não conhecer nenhum tipo de abelha, destes 94% conseguem distinguir a atividade destas no campo. Sobre sua função do meio ambiente, 48% citou a produção de mel, 24% a polinização e 4% a manutenção e equilíbrio do ambiente. Faz-se necessário divulgar para a população existente na Zona de Amortecimento desta Unidade de Conservação, os estudos realizados sobre a importância das abelhas e suas funções ecossistêmicas, para que estes indivíduos aumentem seus conhecimentos sobre estes artrópodes e compreendam de forma mais clara a importância deles no ambiente onde vivem.

 

Palavras- Chave: Percepção Ambiental, Melissofauna, Unidade de Conservação, Serviços Ecossistêmicas.

 

 

 

 

 

ENVIRONMENTAL PERCEPTION ABOUT BEES COMMUNITIES SURROUNDING THE PARQUE NACIONAL DE SETE CIDADES, PI, BRAZIL

 

ABSTRACT

Bees have great importance for the environment since they fulfill the role of pollinators, contributing several ecosystem services. The aim of this study was to make a brief analysis of environmental perception of the populations living around the Parque Nacional de Sete Cidades, focusing on the importance of the maintenance of bees for the environment. Data collection took place in 10 communities within the Buffer Zone of the Conservation Unit. Methods of descriptive and analytical procedure were used, through application of semi-structured questionnaires applied randomly, five targeted to males and five in females, by the community. There was a significant difference between genders regarding these bees. On the knowledge of the respondents regarding the importance of a conservation unit, 59 % cite preservation. Regarding perception about bees, 99 % said knowing the bees, 1 % claimed to know any kind of bee, these 94 % can distinguish the activity of these in the field. About their function in the environment, 48 % cited the honey production, pollination and 24 % to 4 % and maintaining environmental balance. It is necessary to disclose to the existing population in the buffer zone of this Conservation Unit, studies on the importance of bees and their ecosystem functions, so that these individuals increase their understanding of these arthropods and understand more clearly the importance of them in the environment where they live.

 

Key Words: Environmental Percepção, melissofauna, Conservation Unit, Ecosystem Services.

 

INTRODUÇÃO

 

As abelhas possuem uma grande importância para o meio ambiente, cumprindo papel essencial como agentes polinizadores (BALLIVIÁN, 2008), contribuindo ainda com vários serviços ecossistêmicos, dentre estes, a produção de alimentos (RICKETTS et al., 2008), de biocombustíveis (RIZZARDO et al., 2008, DURÁN et al., 2010), e principalmente a manutenção da  biodiversidade em áreas naturais.

Diante da importância das abelhas, seja para o setor econômico, mais precisamente a agricultura que cada vez mais dependem de polinizadores (AIZEN et al., 2009), ou para a manutenção da biodiversidade, considerando que árvores dependem em 90% de algum agente polinizador (BAWA, 1990), são necessários estudos que levem em consideração a importância da percepção ambiental de comunidades dentro e no entorno de unidades de conservação, uma vez que, a problemática ambiental tem acompanhado as sociedades humanas, e estudos têm procurado avaliar os efeitos das ações antrópicas sobre o meio ambiente (HUGHES, 2001; NASH, 2001).

A percepção ambiental pode ser definida como sendo uma tomada de consciência do ambiente pelo homem, ou seja, o ato de perceber o ambiente que se está inserido, aprendendo a proteger e a cuidar do mesmo (MARIN et al., 2003). Cada indivíduo reage e responde diferentemente às ações sobre o ambiente em que vive. As respostas ou manifestações daí decorrentes são resultado das percepções dos processos cognitivos e expectativas de cada pessoa (FERNANDES et al., 2009). De acordo com Zampieron et al., (2003), é de fundamental importância o estudo da percepção, para que se possa compreender melhor as inter-relações entre o homem e o ambiente.

A percepção ambiental está relacionada com os índices de IDH da população e tem reflexo na visão de meio ambiente dentro do seu contexto social. O estudo da percepção ambiental serve de base para a melhor compreensão das inter-relações entre o homem e o ambiente, suas expectativas, satisfações e insatisfações, julgamentos e condutaS (ZAMPIERON et al., 2003).

Observa-se, também, que as atividades que ocorrem em determinado local, bem como suas dinâmicas, refletem as diferentes percepções ambientais dos atores sociais envolvidos (HOEFFEL et al., 2008). O reconhecimento de distintas abordagens sobre o mundo natural, estruturadas a partir de diferentes referenciais, torna-se extremamente relevante na resolução de conflitos, na elaboração de diagnósticos, planejamentos, políticas e programas que estimulem a participação equitativa de todos os agentes sociais (HOEFFEL et al., 2004).

Assim, a preocupação com a temática ambiental deve fazer parte da sociedade, e essa deve exercer sua participação e apoio, manutenção, conservação e valorização das unidades de conservação (TABANEZ, 2000). Assim, propôs-se um estudo com o objetivo de analisar a percepção ambiental das populações que vivem no entorno do Parque Nacional de Sete Cidades, com enfoque sobre a importância da manutenção das abelhas para o ambiente local.

 

MATERIAIS E MÉTODOS

 

O Parque Nacional de Sete Cidades (PNSC) foi criado pelo Decreto Federal n° 50.744 de 08.07.1961 (BRASIL, 1999). Localiza-se no nordeste do estado do Piauí, entre os municípios de Piracurura e Brasileira (Figura 1), cuja sede localiza-se nas coordenadas 04°02´08” S e 41°40´45” W. As principais vias de acesso são a BR-222, trecho Piripiri/Fortaleza, e a BR-343, trecho Teresina/Parnaíba (MESQUITA; CASTRO, 2007). O PNSC possui área de 6.221,48 ha, com regime hídrico irregular (CASTRO et al., 2002).

Sete Cidades está situada dentro da região semiárida do nordeste brasileiro (também conhecido como polígono das secas), definida pelo Ministério da Integração Nacional (2005). A circulação atmosférica é influenciada pela ZCIT – Zona de Convergência Intertropical, que é a convergência dos ventos alísios dos hemisférios norte e sul, e a massa Equatorial Continental – MEC, que predomina no período do verão. Pela classificação climática de Köppen, o clima da área do tipo quente e úmido, megatérmico com médios índices pluviométricos, atingindo cotas anuais em torno de 1.200 mm, concentrados na estação chuvosa que vai de dezembro a maio e temperatura média em torno de 28º C.

 A vegetação caracteriza- se por um mosaico de tipos fisionômicos pertencentes ao bioma Cerrado, distribuídos nos tipos florestais, savânicos e campestres (OLIVEIRA et al.,2007).

 

 

 


Figura 1- Localização do Parque Nacional de Sete Cidades/PI, Brasil.

 

 


 

 
A coleta de dados ocorreu em 10 comunidades dentro da Zona de Amortecimento do Parque Nacional de Sete Cidades, sendo elas: Vamos Vendo, Mata Fria, Brasileira Velha, Oiticica, Cachoeira, Água da Abelha, Palmeira da Emília, Morada Nova e Assentamento Todos os Santos e Alto Bonito (Figura 2). Estas comunidades foram escolhidas, através de sorteio dentre as 23 comunidades presentes no entorno do Parque Nacional de Sete Cidades.

Para cada comunidade, foram aplicados 10 formulários, de forma aleatória, sendo cinco direcionados ao gênero masculino e cinco ao feminino, para que não houvesse uma disparidade grande entre os gêneros dos entrevistados. Totalizando 100 entrevistados. Para a divisão dos grupos por faixa etária, seguiu-se a delimitação utilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010): Jovens (de 18 a 24 anos), adultos (de 25 a 59) e idosos (a partir dos 60).

As coletas de dados foram realizadas entre os meses de fevereiro de 2012 a fevereiro de 2013, através de observação direta e com o auxílio de formulários semiestruturados (BERNARD, 1988). Tais entrevistas foram realizadas mediante permissão dos entrevistados através de aceite, conhecimento e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), em duas vias, uma pertencente ao entrevistado e outra ao pesquisador.

As planilhas com as transcrições estão arquivadas no núcleo de pesquisa do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN) da UFPI.

As entrevistas foram transcritas em laboratório em conjunto com os dados referentes às conversas informais registradas em diário de campo. As respostas foram transportadas em tabelas e gráficos, e analisadas por meio de estatística descritiva, e teste de Mann-Whitney, através do Bioestat 5.0 (AYRES et al., 2007) com o objetivo de verificar a relação entre as variáveis: gênero/conhecimento.

 

 

 

Figura 2- Comunidades estudadas no entorno do Parque Nacional de Sete Cidades, Piauí, Brasil.

 


 RESULTADOS E DISCUSSÕES

 

Nas comunidades estudadas, a maioria dos entrevistados possui apenas o ensino fundamental (36%), apenas 26% cursou o ensino médio e 11% de não alfabetizados. As comunidades são caracterizadas por indivíduos que não tiveram acesso permanente a escola, a baixa escolaridade é detectada como um dos principais fatores que determinam uma renda precária nas comunidades.

Em relação às atividades geradoras de renda, a agricultura é a principal atividade econômica da região (45%) (Figura 3). A renda variou de 0,5 a 1,0 salário mínimo (R$ 622,00 para o ano de 2012). Os moradores entrevistados recebem também benefícios do Governo Federal como “Bolsa Família” (Tabela 1).

 

Figura 3- Atividades ou ocupações citadas pelos entrevistados nas comunidades do entorno do Parque Nacional de Sete Cidades, Piauí, Brasil, 2012.

 

 

Tabela 1- Dados socioeconômicos dos entrevistados residentes nas comunidades do entorno do Parque Nacional de Sete Cidades, Piauí, Brasil, 2012.

 

Dados Socioeconômicos

 Variáveis

Número de Indivíduos

 Porcentagem

Gênero

Feminino

Masculino

               50

               50

        50%

        50%

 

 

Idade

Jovens

 

Adultos

 

Idosos

           18 a 24

 

           25 a 59

           > 60

        31%

 

        52%

 

        17%

 

Estado Civil

Solteiro

Casado

União Estável

Viúvo

              30

              63

              06

              01                                          

        30%

        63%

        06%

        01%

 

Número de Filhos

01 a 05

06 a 11

12 a 17

              51

              16

              05

        51%

        16%

        05%

 

Renda Familiar Mensal

                                       >0,5 >1,0

            

              100

              

      

        100%

        

 

Principal Fonte de Renda                   

Trabalho Autônomo

Servidor Público                                                 

Aposentadoria

Outros

              49

              02

              01

              48

        49%

        02%

        01%

        48%

 

 

 

Nível de Escolaridade

Não escolarizados

              11

        11%

Alfabetizados          

              26

        26%

Ensino Fundamental Completo

             

              06

                           

       

        06%

     

Ensino Fundamental Incompleto

             30           

        30%

Ensino Médio Completo

            09

         9%

Ensino Médio Incompleto

            17

         17%

Ensino superior

            01

         1%

 

 

De acordo com a moradia, estas por estarem situadas próximas a uma Unidade de Conservação de Uso Indireto, 93% dos entrevistados afirmaram que gostam de morar próximo ao PNSC. Dentre os motivos expostos, tranquilidade e segurança do local, contato com a natureza foram os mais expressivos. Tal motivação pode estar relacionada ao fato de possuírem um contato mais direto e prolongado com o local, atribuindo-lhe um valor afetivo, que, na visão de Machado (1996), expressa um sentimento de pertencimento com o lugar de vivência. Os 7% que afirmaram não gostar de morar próximo ao Parque Nacional de Sete Cidades, alegaram fiscalização excessiva nas comunidades, impedindo-os de terem uma área para agricultura maior do que o estabelecido pelo IBAMA.

Inventariando o conhecimento das comunidades em relação à importância de uma unidade de conservação, 59% dos entrevistados incluíram a sua importância ao papel de preservação, sendo as demais relacionadas às atividades de emprego (13%) turismo (12%) e fiscalização (5%), 11% não souberam opinar. Embora o conhecimento possa refletir um maior número de pessoas que dão importância à categoria do Parque para a conservação das espécies, é preciso melhorar e difundir esse conhecimento entre as comunidades que vivem em seu entorno. Conforme Steenbock (2006), pela quase inexistência de conexão sócio- ambiental entre as comunidades, o ambiente acadêmico e a esfera administrativa, muito destes conhecimentos são perdidos ou não difundidos.

Em relação ao conhecimento sobre a melissofauna, a maioria dos entrevistados (99%) diz reconhecer as abelhas, destes 94% consegue distinguir a atividade destas no campo, sendo descritas pelos entrevistados nove espécies de abelhas comuns na região (Tabelas 2 e 3).

 

Tabela 2- Quantidade de abelhas citadas por comunidades do entorno do Parque Nacional de Sete Cidades, Piauí, Brasil, 2012. Abelhas: Ita= italiana; Ur= uruçu; Mos= mosquito; Ar= arapuá; Mod= modorongo; Ca= canudo; Tiú= tiúba; Ta= tataíra; Jan= jandaíra.

 

 

 

ABELHAS

 

Comunidades

ITA

UR

MOS

AR

MOD

CA

TIÚ

TA

JAN

Total

Vamos Vendo

10

3

3

5

2

0

0

0

2

28

Mata Fria

9

2

3

7

3

1

3

1

1

30

Brasileira Velha

6

1

2

3

2

1

0

0

0

15

Oiticica

8

3

3

5

2

3

1

3

1

29

Cachoeira

8

2

3

4

1

2

1

1

0

22

Água da Abelha

9

3

2

4

1

2

1

0

1

23

Alto Bonito

8

6

0

5

3

3

2

3

2

32

Palmeira da Emília

9

8

3

5

3

5

4

3

1

41

Morada Nova

9

5

1

2

3

4

4

0

1

29

Todos os Santos

6

7

0

6

2

4

0

2

2

29

Total

82

40

20

46

22

25

16

13

11

278


Tabela 3- Lista de espécies de abelhas citadas pelos entrevistados residentes no entorno do Parque Nacional de Sete Cidades, Piauí, Brasil, 2012.

 

ESPÉCIES

NOME POPULAR

NÚMERO DE CITAÇÕES

Apis mellifera ligustica

(Spinola, 1806)

 

Italiana

82

Melipona scutellaris

(Latreille,1811)

 

Uruçu

40

Plebeia droryana

(Friesea, 1900)

 

Mosquito

20

Frieseomelita tricocerata

(Friesea, 1902)

 

Modorongo

22

Scaptotrigona depilis

(Moure, 1942)

 

Canudo

25

Melipona subnitida

(Ducke, 1910)

 

Jandaíra

11

Melipona compressipes

(Smith, 1854)

 

Tiúba

16

Oxytrigona tataíra

(Smith, 1863)

 

Tataíra

13

Trigona spinipes

(Fabricius, 1793)

 

Arapuá

46

 

Tal fato pode estar relacionado à agricultura desenvolvida por grande parte dos entrevistados, onde 68% destes encontram-se na faixa etária de 15 a 45 anos o que possibilita o contato direto dessas pessoas, via lavoura e vegetação nativa, com os artrópodes estudados. De acordo com Camphora e May (2006) o pensamento econômico aplicado à gestão do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) nos reporta ao desafio de consolidar critérios de análise compatíveis com a diversidade biológica de cada bioma. Assim, o contato direto dessas comunidades com os polinizadores, permite preservar os locais de nidificação, como troncos apodrecidos e barrancos, no caso de abelhas solitárias (FREITAS; ALVES, 2009) e árvores com ocos, no caso das abelhas sociais (CORTOPASSI-LAURINO et  al., 2009) conservando e melhorando as condições das matas.

Quanto à correlação entre gênero e número de abelhas citadas, a média alcançada pelas categorias mostrou uma diferença considerável com (homens= 19,66) e (mulheres= 10,66), o teste foi realizado com um intervalo de confiança de 95%, e o p valor atingido foi de (p=0, 316), admitindo-se p <0,05. Sendo, portanto, um valor significativo, ou seja, existe diferença significativa entre homens e mulheres, o saber sobre estes artrópodes não se encontra bem distribuído entre os gêneros nas comunidades presentes na zona de amortecimento do Parque Nacional de Sete Cidades, este fato pode estar relacionado com as ocupações distintas que exercem, pois a maioria das mulheres tem como ocupação os serviços domésticos, enquanto os homens se dedicam às lavouras (Figura 4 e Tabela 4).

 

 

Figura 4- Diferença entre os gêneros sobre o conhecimento de abelhas no entorno do Parque Nacional de Sete Cidades, Piauí, Brasil, 2012.

 

 

Tabela 5- Diferença entre o número de citações de abelhas entre o gênero masculino e Feminino. (AB= abelhas; NCI= número de citações; MASC= masculino; FEM= feminino).

 

 

 

ORDEM DECRESCENTE DE CITAÇÕES

 

 

GÊNERO

AB

NCI

 

GÊNERO

AB

NCI

 

 

 

 

 

MASC

 

 

Italiana

42

 

 

 

 

 

FEM

Italiana

40

Uruçu

29

 

Arapuá

20

 

 

 

 

 

Arapuá

26

 

Uruçu

11

Canudo

19

 

Modorongo

8

Tiúba

Modorongo

Jandaíra

Tataíra

Mosquito

11

14

10

10

16

 

Canudo

Tiúba

Mosquito

Tataíra

Jandaíra

6

5

4

5

2

Sobre a percepção dos entrevistados quanto à importância das abelhas no meio ambiente, 94% afirmam existir uma função importante destas, sendo a produção de mel (48%), polinização (24%) e equilíbrio ambiental (4%), as atividades expostas pelos entrevistados, embora não seja reconhecida e nem valorizada por todos os entrevistados, Souza et al, (2009) que afirma esse o uso de recursos provenientes das abelhas pela população brasileira é baixa, sendo o maior destaque para fins terapêuticos.

 O que reforça as considerações feitas por Yearley (2002), quando destaca que existem múltiplas maneiras de representar o meio ambiente, e que estas podem gerar conflitos entre grupos sociais distintos e visões de mundo.

De acordo com a categoria de correlação entre planta e abelha, 91% dos entrevistados afirmou existir uma íntima relação entre abelhas com a manutenção da vegetação, porém não souberam explicar com clareza esta relação, sendo citada apenas a polinização. Uma vez que, de acordo com a categoria manutenção da qualidade ambiental, 94% citou se preocupar com o meio ambiente, destes 17% preocupa-se em não desmatar, 15% em não provocar queimadas, 21% em preservar a fauna, 14% apesar de se preocupar com as questões ambientais, não soube opinar. As demais respostas (33%) estavam relacionadas a destino do lixo e economia de água. Segundo Silva (2006), a conservação dos recursos naturais pode ser justificada tanto por razões ecológicas, como pela dependência das populações do entorno das Unidades de Conservação (UC’s), assim como da obtenção dos recursos naturais e do bem-estar social.

 

CONCLUSÃO

 

A população do entorno do Parque Nacional de Sete Cidades apresenta conhecimento no tocante à melissofauna, devido às experiências vivenciadas em seu cotidiano. No entanto, quando se trata da importância ecológica das abelhas para o equilíbrio ambiental, o conhecimento da população mostrou-se superficial, devido à falsa visão de associar produtos de valor comercial à função ambiental.

Observa-se uma situação de fragilidade, quando se refere à estrutura orçamentária e educacional das comunidades do entorno do Parque Nacional de Sete Cidades, o que exige providências imediatas a fim de que lhes sejam assegurados o mínimo de conforto e qualidade de vida.

Faz-se necessário divulgar para a população existente na Zona de Amortecimento desta Unidade de Conservação, os estudos realizados sobre a importância das abelhas e suas funções ecossistêmicas, para que estes indivíduos aumentem seus conhecimentos sobre estes artrópodes e compreendam de forma mais clara a importância deles no ambiente onde vivem.

 

 REFERÊNCIAS

 

AIZEN, M.A.; GARIBALDI, L.A.; CUNNINGHAM, S.A; KLEIN, A.M. How much does agriculture depend on pollinators? Lessons from long-term trends in crop production. Biota Neotropica, v.10, n. 4, p. 1579-1588, 2009.

 

BALLIVIÁN, J. M. P. P. Abelhas nativas sem ferrão. São Leopoldo: Oikos, 2008.

 

BAWA, K. Plant-pollinator interactions in tropical rain-forests. Annual Review of Ecology and Systematics, n. 21, p. 399-422, 1990.

 

BERNARD, H.R. Research Methods in Cultural Anthropology. Sage. Newbury Park, CA, EEUU.520 p. 1988.

 

BRASIL. 1999. Ações prioritárias para a conservação da biodiversidade do cerrado e pantanal. http://www. conservation.org.br (acesso em 06/04/2012).

 

CAMPHORA, A.L.; MAY, P.H. A valoração ambiental como ferramenta de gestão em unidades de conservação: há convergência de valores para o bioma Mata Atlântica? Megadiversidade. Conservation International, v. 2, n.1-2, p. 24-38, 2006.

 

CASTRO, N. M. C. F.; PÔRTO, K. C.; YANO, O.; CASTRO, A. A. J. F. Levantamento florístico de bryopsida de cerrado e mata ripícola do Parque Nacional de Sete Cidades, Piauí, Brasil. Acta Botanica Brasilica, v. 16, n. 1, p. 61-76, 2002.

 

CORTOPASSI-LAURINO, M.; ARAUJO, D. A.; IMPERATRIZ-FONSECA, V.L.. Árvores neotropicais, recursos importantes para a nidificação de abelhas sem ferrão (Apidae, Meliponini). Mensagem Doce 100, 2009. Disponível em: http://www.apacame.org.br/mensagemdoce/100/artigo4.htm. Acesso em 28 de março de 2011.

 

DELLA FÁVERA, J.C. Parque Nacional de Sete Cidades, PI - Magnífico monumento natural. In Schobbenhaus,C.;Campos,D.A ; Queiroz,E.T.; Winge,M.; Berbert-Born,M.L.C. (Edits.) Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil. 1. ed. Brasilia: DNPM/CPRM - Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (SIGEP), 2002, v.01: 335-342. [Disponível em http://www.unb.br/ig/sigep/sitio025/sitio025.pdf] acesso em 24/05/2012.

 

DURÁN, X.A., ULLOA, R.B., CARRILLO, J.A., CONTRERAS, J.L.; BASTIDAS, M.T. Evaluation of yield component traits of honeybee pollinated (Apis mellifera L.) Rapeseed canola (Brassica napus l.). Chilean Journal of Agricultual Research, n. 70, p.309-314, 2010.

 

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Ilustrações: Silvana Santos