Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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11/09/2016 (Nº 57) MORCEGOS: DIAGNÓSTICO DO CONHECIMENTO DA POPULAÇÃO EM ÁREAS ENDÊMICAS DA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO
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MORCEGOS: DIAGNÓSTICO DO CONHECIMENTO DA POPULAÇÃO EM ÁREAS ENDÊMICAS DA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO

 

Andréia Maria Martarello Gonçalves, Professora Titular da Faculdades Metropolitanas Unidas e Universidade Paulista, andreiamartarello@gmail.com.

Priscila da Silva Sepúlveda, Bacharel em Ciências Biológicas, pri_splvd@hotmail.com.

Nayane Sales de Carvalho, Bacharel em Ciências Biológicas, nanny_san@hotmail.com.

Leonice Araújo da Silva, Bacharel em Ciências Biológicas, discente Curso de Medicina Veterinária das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), leonnycy@yahoo.com.br.

 

Resumo:

Os morcegos são importantes ao ecossistema, porém algumas espécies estão ameaçadas de extinção. Com objetivo de conservar esta espécie, a população de quatro áreas endêmicas da metrópole de São Paulo foi entrevistada, e constatou-se a falta de conhecimento e a necessidade de práticas de educação ambiental.

 

Palavras chave: Quiróptera, Educação ambiental, Conservação.

 

Abstract:

Bats are very important for the ecosystem, however, some species are threatened of extinction. To conserve this species, the population of four Endemic Areas of Sao Paulo was interviewed and the results show a deficiency of knowledge and the need to develop practices of environmental education.

 

Keywords: Chiroptera, Environmental Education, Conservation

 


INTRODUÇÃO

Os morcegos são mamíferos e pertencem à ordem Chiroptera cuja origem da palavra é derivada do grego cheir (mão) e pteron (asa) (PERACCHI et al., 2006). A palavra morcego pode remeter a maioria das pessoas a figura de um rato alado, noturno e sugador de sangue. A etiologia é derivada do latim muris (rato) e coecus (cego). Entretanto os morcegos não são cegos, sua retina é formada por poucos cones o que acarreta pouca acuidade visual, além disso, possuem hábitos noturnos e se orientam por meio da ecolocalização (FINDLEY, 1993; NOWAK, 1999).

Na língua tupi recebem outros nomes, como andirá, guandirá ou guandiruço (REIS et al., 2007). O desconhecimento sobre esses animais não se limita aos nomes, mas a diversidade de espécies, a complexidade biológica e ao valor que representam ao sistema ecológico (PERACCHI et al., 2006; REIS et al., 2007).

Segundo EMMONS; FEER (1990) é uma das ordens mais importantes para as florestas tropicais, sendo que aproximadamente de 88% das espécies são exclusivamente tropicais (FINDLEY, 1993).

No Brasil são conhecidas nove famílias (REIS et al., 2007) e na Região Metropolitana de São Paulo são encontradas apenas quatro: Molossidae, Vespertilionidae, Noctilionidae e Phyllostomidae (Silva et al., 1996).

As famílias Molossidae e Vespertilionidae são essencialmente insetívoras (BREDT, 1996; REIS et al., 2007). A Noctilionidae é insetívoras, porém complementam sua dieta com pequenos peixes e crustáceos. E a Phyllostomidae alimenta-se de insetos, flores, folhas, frutos, artrópodes, pequenos vertebrados e sangue de vertebrados endotérmicos, portanto única considerada hematófaga  (EMMONS; FEER, 1990; FINDLEY, 1993; BREDT, 1996).

Destacam-se na importante manutenção das florestas tropicais por sua dispersão de sementes que ao passarem no trato digestivo, aumentam a taxa e velocidade da germinação (SATO et al., 2008). E há uma variedade de plantas neotropicais, por exemplos, Cecropia glazioui, Solanum sp., Fícus sp., que são dependentes dos morcegos para regeneração natural (GRUENER et al., 2003). Os insetívoros atuam no controle de insetos, incluindo espécies prejudiciais às lavouras (PERACCHI et al., 2006). Ainda, o guano (fezes) é utilizado como fertilizante (REIS et al., 2007).

Outro importante papel dos morcegos é no estudo sobre a circulação sanguínea, estudos realizados com a saliva do morcegos hematófagos que contém substâncias anticoagulantes salvam a vida de pacientes cardíacos (CIPRANDI et al., 2003), além disso, por suas asas serem transparentes, ajudam a entender o efeito da inalação de fumaça e tempo de eliminação de drogas (REIS et al., 2007).

Apesar de fundamental importância ao ecossistema, algumas espécies estão extintas e, outras ameaçadas, principalmente, devido à perda de habitats (PACHECO, 2003; SILVA et al, 2014).

Atualmente, os morcegos são considerados animais sinantrópicos por habitarem as cidades e sua interação com a população humana não é bem vinda, podendo ser transmissor de doenças ao homem ou a outros animais (SÃO PAULO, 2013), ou seja, há muitas espécies que vivem em ecossistemas urbanos devido aos recursos fornecidos direta ou indiretamente pelo homem, como edificações, jardins e iluminação artificial noturna que atrai um grande número de insetos voadores. Estes insetos são uma grande fonte de alimentação para os morcegos que invadem áreas urbanas e causam muitos transtornos, dependendo dos locais dos seus abrigos, do tamanho de suas colônias e das doenças por eles transmitidas, como por exemplo, histoplasmose e a raiva, entre outras (UIEDA,1995; REIS et al., 2007; SILVA et al, 2014).

Entretanto, estes animais realizam importantes funções no equilíbrio do ecossistema e conservação da biodiversidade, disseminando sementes, polinizando, no controle de insetos e pequenos vertebrados. Estas espécies são vítimas de preconceitos, mitos e crendices, que os associam às forças malignas e descarta sua importância positiva, o que dificulta as ações de conservação (SIGRIST, 2012; SILVA et al, 2013). Além disso, a degradação do seu habitat fragmenta as populações remanescentes em áreas restritas e às vezes até isoladas, o que torna sua a condição de extinção mais crítica (SIGRIST, 2012; SILVA et al, 2013).

Vários autores (UIEDA, 1995; SILVA et al, 1996; SIGRIST, 2012; SÃO PAULO, 2013) apontam a importância do monitoramento e controle dos morcegos, como bioindicadores da biodiversidade, além da vigilância epidemiológica para a saúde pública. Principalmente, devido ao crescimento desordenado de Metrópoles como São Paulo e à destruição de ecossistemas naturais próximos das cidades desencadeou uma invasão das áreas urbanas pelos morcegos.

O que se torna necessário à conscientização da sociedade a conservação desta espécie. Importância esta citada na Lei nº 5.197, artigo 1º, de 3 de janeiro de 1967:

Os animais de quaisquer espécies, em qualquer fase de seu desenvolvimento ou que vivem naturalmente fora do cativeiro, constituindo a fauna silvestre, bem como, seus ninhos, abrigos e criadouros naturais, são propriedade do Estado, sendo proibida sua utilização, perseguição, destruição, caça ou apanha (BRASIL, 1997).

No entanto somente na Eco-92,  a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), realizada no Rio de Janeiro, ocorreu à Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), um dos mais importantes tratados internacionais sobre biodiversidade, principalmente para o Brasil, tendo como objetivo a conservação da diversidade biológica, a utilização sustentável de seus recursos e a repartição equitativa dos benefícios derivados do recurso genético (BRASIL, 1992; ANDELMAN, 2001).

A CBD reconhece a necessidade de políticas ambientais que envolvam a participação da sociedade para obter resultantes eficazes, uma vez, que existe grande dificuldade de inclusão de todos os atores relacionados com as diversas atividades e áreas ambientais. E para isso, ressalta que o uso de ferramentas de intervenção social é essencial, como a comunicação e educação ambiental (ANDELMAN, 2001; GONZÁLES-GAUDINO, 2002).

A comunicação ambiental compreende de um processo participativo que requer técnicas de diagnóstico e de avaliação decorrentes do diálogo e intercâmbio de conhecimento entre grupos sociais. Muitas experiências comprovam ser uma forma eficaz de desenvolver as responsabilidades necessárias para que haja o uso sustentável e a conservação da biodiversidade (ANDELMAN, 2001)
O que torna a relação entre a comunicação e a educação ambiental ainda mais estreita, visto como o processo educativo desenvolve estratégias que promovam ações de dimensão social que abordem o problema de forma a conscientizar a sociedade de suas responsabilidades quando utilizam estes recursos biológicos ou cujas atividades impactam direta ou indiretamente na biodiversidade (ANDELMAN, 2001), cujo referencial não é apenas ensinar os conceitos, mas envolve-la de forma atuante nas questões ambientais, participando da tomadas de decisões, a fim de promover o interesse na resolução dos problemas ambientais, não apenas aqueles correlacionados a conservação da biodiversidade, mas também os de caráter sociais, econômicos e culturais (BRASIL, 1999; ANDELMAN, 2001; DORADO et al., 2002; GONZÁLES-GAUDINO, 2002).
Destarte que estas relações sociais devem respeitar as diferenças e liberdades individuais, assim como os deveres para com a comunidade (ARAÚJO, 2001; BONOTTO, 2008). E são construídas “a partir do diálogo e da qualidade de trocas que são estabelecidas com as pessoas, grupos e instituições em que se vive” (ARAÚJO, 2001, p. 15). 

A Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), Lei 9.795/1999, Art. 2º, estabelece que:

[…] a Educação Ambiental é um componente essencial e permanente na educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal (BRASIL, 1999).

MARTINS e OLIVEIRA (2015) ressalta que políticas públicas e práticas educativas em ambientes formais e não-formais são indispensáveis para a construção de novos valores e mudanças na realidade socioambiental da sociedade contemporânea para a conservação da biodiversidade, cuja ação antrópica acelera a crise ambiental.

Segundo Pegoraro e Sorrentino (1998) “Ninguém pode proteger uma coisa que não conhece...". A valoração e a conservação da flora e da fauna estão diretamente associadas ao conhecimento das particularidades e espécies encontradas no meio ambiente. No caso dos morcegos, esta espécie é muito acometida pela falta de informação, ou pela forma bem negativa que a mídia a explora, estes fatores tem como consequência, um enorme preconceito de diversas culturas com relação a estes animais (SILVA et al, 2013).
Para isso, a educação ambiental com a contextualização utilizando elementos regionais, facilita o aprendizado por estimular a conhecer a biodiversidade local e o orgulho regional, visto que, sua participação é essencial na sua conservação (DORADO et al., 2002).
Atualmente, os centros urbanos são referências para da grande maioria das pessoas que habitam este planeta, e os espaços verdes exercem um importante papel na educação ambiental como recurso para implantação dos programas ambientais, estudos ou locais de revitalização que pode contar com a participação da comunidade (ÁLAMO, 1999).

Baseado nos princípios da educação ambiental apontados anteriormente, este trabalho pesquisou o grau de conhecimento da população sobre os morcegos em regiões endêmicas da metrópole de São Paulo, e observou que a população desconhece sua importância e o procedimento correto ao encontrar um morcego. Logo, existe uma necessidade de desenvolver ações educativas ambientais visando à conservação dos morcegos e o ecossistema que habitam.

 

Metodologia

A pesquisa realizou-se em 2 parques municipais e 2 áreas residenciais. O parque do Ibirapuera com área de 15.840m², considerado o pulmão da cidade de São Paulo. O parque do Guarapiranga com 152.600m² de eucaliptos de reflorestamento anterior à sua criação, grandes extensões de gramados e pequena mata até a margem da represa. O bairro Campo Belo, distrito da região centro-sul com 8.800m², área residencial da classe média e médio-alta que mantem área arborizada. E a Capela do Socorro, ao sul do município, que estende-se por vasta área dos rios Jurubatuba e Guarapiranga, formada pelos distritos de Socorro, Cidade Dutra, Grajaú, com 134.000, sendo 90% área de proteção aos mananciais, e responsáveis pelo abastecimento de 30% da região metropolitana de São Paulo.

O trabalho constituiu-se na aplicação de questionários com seis questões de múltipla escolha (Anexo 1) em 30 participantes de cada área totalizando 120 entrevistados, para avaliar o grau de conhecimento sobre estes animais. A seguir, de maneira não-formal, após estabelecer uma relação cordial com o entrevistado através de diálogo, abordou-se os pontos que os entrevistados demonstraram interesse em conhecer. E introduziu-se conceitos relevantes para a conservação da espécie, como a conscientização da importância do morcego para a dispersão das sementes, polinização, controle de insetos, procedimento ao encontrar um morcego, na tentativa de desmistificar as ideias errôneas e preconceitos sobre os morcegos, como os mitos trazidos pelas pessoas.
Este tipo abordagem vem de encontro com Bonotto (2008) que ressalta a interação entre cognição e afetividade são fundamentais para desenvolvimento humano e grande valia na construção dos valores. E baseou-se em Dorado et al. (2002) que a utilização de elementos regionais na contextualização da educação ambiental, facilita o aprendizado por estimular a conhecer a biodiversidade local, além do orgulho regional, visto que os entrevistados são moradores e/ou frenquentadores de áreas endêmicas de morcegos, portanto, sua sensibilização é essencial para a conservação da espécie. 

Os resultados dispostos em tabelas ou gráficos foram analisados com o objetivo de estabelecer os parâmetros de conhecimento da população, e compará-los conforme a região endêmica e nível socioeconômico. E os valores em porcentagem de erro variam em até 1% para mais ou menos.

 

 

 

RESULTADOS e DISCUSSÃO

Ao analisar os resultados dos quatro locais da região metropolitana de São Paulo observou-se que aproximadamente 76,66% dos entrevistados viram um morcego (Tabela 1). Sendo que cerca 55,95% já viram mais de três vezes (Gráfico 1), o que confirma a presença desta espécie em ecossistemas urbanos (UIEDA, 1995), em busca dos recursos fornecidos pelo homem, como edificações, árvores e pela oferta de alimentos devido a iluminação noturna que atraem insetos.

 

Tabela 1: Relação dos entrevistados que já viram um morcego. N = número de respostas afirmativas dentre as 30 realizadas em cada localidade na cidade de São Paulo.

Locais

Sim

N -%

Não

N - %

Parque Ibirapuera

23 – 76,6

7- 23,3

Parque Guarapiranga

20- 66,6

10- 33,3

Campo Belo

21- 70,0

9- 30,0

Capela do Socorro

20 – 66,6

10 – 33,3

 

Gráfico 1: Porcentagem da quantidade de vezes que os entrevistados já viram um morcego na cidade de São Paulo.

 

Confirmando os resultados obtidos por vários autores (SILVA et al, 1996; BREDT, 1996; NOWAK, 1999 e  REIS et al., 2007; RUCKERT, 2011) que relatam que a maioria das espécies encontradas as região metropolitana são  insetívoras.

Deste modo, a perda de habitats natural com a migração para centros urbanos é a principal causa para que algumas espécies estejam ameaçadas de extinção (PACHECO, 2003; SIGRIST, 2012; SÃO PAULO, 2013, SILVA et al, 2014). Verificou-se que apenas 13,33% dos entrevistados tentaram matá-los, a grande maioria tentou espantá-los com objetos, ou acendeu as luzes, ou entrou em contato com o centro de controle de zoonoses (Tabela 2), portanto a maioria da população busca alternativas para conservação da espécie.

 

Tabela 2: Relação das atitudes dos entrevistados ao ver o morcego no município de São Paulo. (N = número de registros das ações).

Ações

Parque Ibirapuera

N   -  %

Parque Guarapiranga

N   -  %

Campo Belo

N   -  %

Capela do Socorro

N   -  %

Total

N   -  %

Tentou matá-lo

1 – 3,3

3 – 10,0

5 – 16,6

7 – 23,3

16 – 13,3

Tentou espantar

com objeto

5 – 16,6

9 – 30,0

10 – 33,3

7 – 23,3

31 – 25,9

Acendeu todas as luzes

5 – 16,6

7 – 23,3

2 – 6,6

7 – 23,3

21 – 17,5

Entrou em contato com a Zoonose

8 – 26,6

7 – 23,3

10 – 33,3

7 – 23,3

32 – 26,6

 

Quanto à importância dos morcegos, segundo Sato et al (2008) e Gruener et al (2003) as sementes dos frutos digeridos pelos morcegos aumentam sua velocidade de germinação, além de serem excelentes dispersores de sementes e exercerem um papel fundamental na regeneração de florestas, principalmente das tropicais, e na reestruturação de ecossistemas (EMMONS; FEER, 1990; FINDLEY, 1993; NOWAK, 1999; PERACCHI et al., 2006, SIGRIST, 2012; SÃO PAULO, 2013; SILVA et al, 2014). Os resultados demonstram que 59,16% da população reconhecem o valor desta espécie ao ecossistema como dispersores de sementes, porém o restante cerca de 40% ainda os associa as pragas, vampiros ou sem importância para o ecossistema (Tabela 3), coincidindo com os resultados obtidos por Silva et al (2014).

 

Tabela 3: Relação das opiniões sobre a importância dos morcegos. (N = número de respostas)

Importância

Parque Ibirapuera

N  -  %

Parque Guarapiranga

N  -  %

Campo Belo

N  -  %

Capela do Socorro

N  -  %

Total

N  -  %

Dispersor de sementes

21 – 70,0

16 – 53,3

21 – 70,0

13 – 13,3

71 – 59,1

Praga

4 – 13,3

4 – 13,3

2 – 6,6

9 – 30,0

19 – 15,9

Vampiro

4 – 13,3

4 – 13,3

4 – 13,3

5 – 16,6

17 – 14,1

Sem importância

1 – 3,3

6 – 20,0

3 – 10,0

3 – 10,0

13 – 10,9

 

É evidente a importância do monitoramento das espécies de morcegos e de seus hábitos alimentares nas áreas urbanas, como ferramenta de fundamental importância nas informações bioecológicas, educação ambiental e saúde pública (UIEDA, 1995; SILVA et al, 1996; SIGRIST, 2012; SÃO PAULO, 2013), bem como, a instalação da vigilância epidemiológica efetiva contribuiria na  conservação da espécime. Principalmente pelo fato dos morcegos também ocuparem posição de destaque no controle das populações de insetos que podem ser nocivos à agricultura e ao homem (PERACCHI et al., 2006) entretanto 15,83% dos entrevistados julgam que estes animais  sejam pragas (Tabela 3), logo desconhecem que por serem insetívoros,  contribuem no equilíbrio do ecossistema.

Aos entrevistados serem questionados sobre os morcegos transmitirem doença ou não, 86,66% julga que os morcegos transmitem alguma doença e 13,33% acredita que não transmitem doenças (Gráfico 2).

 

Gráfico 2: Porcentagem dos entrevistados em relação a transmissão ou não de doenças pelos morcegos.

 

Estes resultados confirmam que esta espécie não é bem vinda pelas pessoas das cidades e causam problemas ao invadirem áreas urbanas, principalmente pelo desconhecimento da sociedade sobre as doenças por eles transmitidas, como por exemplo, histoplasmose e a raiva (UIEDA,1995; REIS et al., 2007; SILVA et al, 2014). A maioria dos entrevistados acredita que os morcegos transmitam a raiva em relação às outras doenças (Tabela 4).

 

Tabela 4: Relação das opiniões de 104 entrevistados que afirmam que os morcegos transmitem doenças. (N = número de respostas registradas)

Doenças

Parque Ibirapuera

N  -  %

Parque Guarapiranga

N  -  %

 

Campo Belo

N  -  %

 

Capela do Socorro

N  -  %

 

Total

N  -  %

Histoplasmose

0 – 0,0

2 – 8,3

2 – 7,5

3 – 11,1

7 – 6,7

Malária

0 – 0,0

0 – 0,0

3 – 11,1

2 – 7,5

5 – 4,5

Leishmaniose

1 – 3,9

2 – 8,3

1 – 3,7

2 – 7,5

6 – 5,8

Raiva

25 – 96,1

20 – 83,3

21 – 77,8

20 – 74,0

86 – 82,6

 

Quanto à acuidade visual dos morcegos (Tabela 5) aproximadamente metade dos entrevistados 49,16% afirmam que estes animais não são cegos e cerca de 20 por cento (19,16%) os julgam animais cegos. Os demais (21,66%) avaliam serem animais com uma pequena cegueira e outros entrevistados não sabem com exatidão (10%). Estes resultados obtidos demonstram que cerca de 50% da população desconhecem as características biológicas dos morcegos e isto pode tornar-se um indicador da necessidade de estabelecer um projeto de educação ambiental nas regiões endêmicas, enfatizando os morcegos (SILVA et al; 2013; SILVA et al, 2014).

 

Tabela 5: Relação das opiniões dos entrevistados sobre a visão dos morcegos (acuidade visual). N = número de respostas sobre se os morcegos são cegos .

Respostas

Parque Ibirapuera

N    -  %

Parque Guarapiranga

N    -  %

Campo Belo

N    -  %

Capela do Socorro

N    -  %

Total

N    -  %

Sim

10– 33,3

4 – 13,3

5 – 16,6

4 – 13,3

23 – 19,1

Um pouco

7 – 23,3

9 – 30,0

3 – 10,0

7 – 23,3

26 – 21,6

Talvez

1 – 3,3

0 – 0,0

5 – 16,6

6 – 20,0

12 – 10,0

Não

12– 40,0

17 – 56,6

17 – 56,6

13 – 43,3

59 – 49,1

 

Quanto à classificação zoológica 62,50% dos entrevistados asseguram que os morcegos são mamíferos, 9,10% acreditam ser um roedor, 6,6% julgam ser uma ave e 21,66% afirmam que são vampiros. Apesar da maioria classificar os morcegos como mamíferos, uma porcentagem ainda desconhece ou fantasia estes animais como vampiros (SILVA et al, 2013).

 

Tabela 6: Relação dos entrevistados e suas opiniões sobre a classificação zoológica dos morcegos. (N = número de respostas)

Classificação

Parque Ibirapuera

N  - %

Parque Guarapiranga

N  - %

Campo Belo

N  - %

Capela do Socorro

N  - %

Total

N  - %

Roedor

2 – 6,6

5 – 16,6

2 – 6,6

2 – 6,6

11 – 9,1

Ave

1 – 3,3

3 – 10,0

2 – 6,6

2 – 6,6

8 – 6,6

Mamífero

23 – 76,6

14 – 46,6

22 – 73,3

16 – 53,3

75 – 62,5

Vampiro

4 – 13,3

8 – 26,6

4 – 13,3

10 – 33,3

26 – 21,6

 

No final das entrevistas, de maneira não-formal, após estabelecer uma relação cordial com o entrevistado através de diálogo, abordou-se os pontos que os entrevistados(as) demonstraram interesse em conhecer, dos 120 entrevistados, 98 (81,66%) demonstraram interesse e dúvidas.

Este resultado considerado positivo é baseado em Bonotto (2008) que relata ser fundamental a interação entre cognição e afetividade na construção dos valores. E Dorado et al. (2002) que propõe a contextualização da educação ambiental com a emprego dos elementos da região, facilita o aprendizado por estimular o orgulho regional e a conhecer a biodiversidade local, visto que os entrevistados são moradores e/ou frenquentadores de áreas endêmicas de morcegos, portanto, sua participação é essencial para a conservação da espécie.

Os conceitos relevantes abordados com os entrevistados para a conservação da espécie foram: a conscientização da importância do morcego para a dispersão das sementes, polinização, controle de insetos, na tentativa de desmistificar as ideias errôneas e preconceitos sobre os morcegos, e o procedimento ao encontrar um morcego, cabe ressaltar que esta era a maior dúvida dos entrevistados.

Além de esclarecer a comunidade destas regiões endêmicas que a maioria das espécies de morcegos encontradas caídas na região metropolitana de São Paulo são insetívoros, em segundo lugar são os nectarívoros e, com menor frequência, os frugívoros (RUCKERT, 2011).

Quando são hematófagos, apenas transmitem a raiva se contaminados com o vírus, através da mordedura, ao sugar o sangue de outros animais, contaminam a ferida com a saliva que tem alta concentração do vírus. Os animais mais acometidos por morcegos hematófagos são os que vivem em propriedades rurais, bovinos, equinos, caprinos, ovinos e cães. As regiões consideradas endêmicas, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), requer vacinação apropriada, além do controle das colônias de morcegos em suas cavernas (SÃO PAULO, 2013).

A indicação nos centros urbanos da presença de um morcego contaminado com o vírus é por apresentar mudanças de comportamento, como por exemplo, ser visualizado durante o dia, se aproximar demais dos humanos, movimentos repetitivos, dificuldade durante o voo, paralisia. Nestes casos, o Centro de Controle Zoonoses deve ser notificado (SÃO PAULO, 2013).

A comunicação ambiental, de acordo Andelman (2001), gera um processo participativo decorrentes do diálogo e intercâmbio de conhecimento entre grupos sociais. E comprovam ser uma forma eficaz de desenvolver as responsabilidades necessárias para que haja o uso sustentável e a conservação da biodiversidade.

Ao realizar as entrevistas, uma moradora da Capela do Socorro convidou-nos a visitar sua casa, na qual constatou-se o forro invadido por morcegos e árvores frutíferas no quintal (Figura 1).

Figura 1: Mangueira no quintal da casa de uma moradora da região da Capela do Socorro, São Paulo, na qual os morcegos se abrigam (Foto de Nayane S. de Carvalho).

 

Confirmando a existência da ocupação das áreas urbanas pelos morcegos devido aos recursos fornecidos direta ou indiretamente pelo homem, como edificações, plantas e iluminação noturna das cidades que atrai um grande número de insetos voadores, principalmente devido ao crescimento desordenado da Metrópole de São Paulo e à destruição de ecossistemas naturais na região (UIEDA,1995; SILVA et al, 1996; REIS et al., 2007; SIGRIST, 2012; SÃO PAULO, 2013; SILVA et al 2014).

 

CONCLUSÃO

Os centros urbanos estudados são ambientes propícios aos morcegos em consequência da destruição de seus habitats para dar lugar a áreas urbanas. As construções tornam-se abrigos e a iluminação artificial das cidades é atrativa para os insetos, fonte de alimento dos morcegos, assim como, as raras árvores frutíferas dos quintais, são ótimos atrativos.

A metodologia da pesquisa baseou na aplicação de uma entrevista e uma abordagem não-formal, após estabelecer uma relação cordial com o entrevistado, observou-se um processo participativo decorrentes do diálogo, e abordou-se os entrevistados que comentaram interesse em melhor conhecer, assim introduziu-se conceitos relevantes para a conservação da espécie.

Deste modo, verificou-se que a falta de informação da população e o ineficaz monitoramento e controle das espécies de morcegos existentes, assim como, a manutenção de seu habitats natural, contribuem para a extinção desta espécie.

O que torna necessário a presença de entidades responsáveis para solucionar o impasse entre morcegos versus população, a maioria da população entrevistas os julgam vetores de doenças ou os mistificam e fantasiam sua imagem, desconhecendo sua real importância ao meio ambiente, além do procedimento correto ao encontrar um morcego.

Logo, é de grande importância a implantação de práticas educativas para conservação dos morcegos em áreas endêmicas da região metropolitana de São Paulo. Abordando a importância desta espécie e desmistificando os conhecimentos e a crendices sobre esta espécie.

 

AGRADECIMENTOS

A bióloga especializada em quirópteros do Centro de Controle de Zoonoses de São Paulo, Adriana Rukert, pelo grande auxílio e material cedido.

Aos entrevistados que contribuíram com a pesquisa.

 

 

REFERÊNCIAS

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Ilustrações: Silvana Santos