Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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11/09/2016 (Nº 57) PERFIL AGROSSOCIOECONÔMICO DE PRODUTORES RURAIS NOS SÍTIOS DO CARDOSO I E II NO MUNICÍPIO DE IGUATU-CE
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PERFIL AGROSSOCIOECONÔMICO DE PRODUTORES RURAIS NOS SÍTIOS DO CARDOSO I E II NO MUNICÍPIO DE IGUATU-CE

 

 

Francisco Márcio Lopes Araújo

Graduando em Tecnologia em Irrigação e Drenagem pelo IFCE

marcioeaefi@hotmail.com

 

Anny Kariny Feitosa

Doutoranda em Ambiente e Desenvolvimento pela UNIVATES

Mestre em Economia pela Universidade Federal do Ceará - UFC

Professora de Ensino Básico e Tecnológico do Instituto Federal do Ceará, IFCE

akfeitosa@hotmail.com

 

Maria de Nazaré Antão de Alencar

Especialista em Geografia e Meio Ambiente pela URCA

Docente na Secretaria de Educação do Estado do Ceará – SEDUC CE

mnazareaalencar@hotmail.com

 

 

RESUMO

 

O presente estudo objetivou analisar o perfil agrossocioeconômico de produtores rurais nos sítios do Cardoso I e II, localizados no município de Iguatu, CE. Para tanto, procedeu-se com uma pesquisa de campo, por meio do contato direto com 13 trabalhadores rurais e aplicação de questionários. Como resultados, observou-se que existem inúmeras dificuldades dentro da agricultura nas localidades do Cardoso I e II, no município de Iguatu, no interior do Ceará, tais como: a falta de assistência técnica, falta de acesso à linha de crédito específica e no escoamento da produção. Diante das produções agrícolas, os agricultores não conseguem agregar valor de mercado ao seu produto, tanto pela dificuldade de escoamento e, principalmente, pelo preço de mercado atribuído ao que é produzido na região. Constatou-se, ainda, que a maioria dos entrevistados vive apenas da agricultura, outros possuem trabalhos informais para complementar a renda ou possuem benefícios sociais.

 

Palavras-Chave: Produção Rural; Economia; Agricultura Irrigada.

 

ABSTRACT

 

This study aimed to analyze the agrossocioeconômico profile of farmers in the Cardoso I and II sites, located in the city of Iguatu, CE. Therefore, we used a qualitative and quantitative approach, through direct contact with 13 rural workers and questionnaires. As a result, it was observed that there are numerous difficulties in agriculture in the localities of Cardoso I and II in the city of Iguatu, in Ceará, such as the lack of technical assistance, lack of access to specific credit line, and the flow of production. On agricultural production, farmers can not add market value to your product, because of the difficulty of flow and mainly by the market price assigned to that produced in the region. It found also that most respondents live only from agriculture, others have informal jobs to supplement income or have social benefits.

 

Keywords: Rural Production; Economy; Irrigated Agriculture.

 

 

1. INTRODUÇÃO

 

 

Durante muito tempo, a agricultura familiar foi considerada um segmento de pouca importância, quando se tratava de interesses econômicos de uma sociedade capitalista, onde observava lucros exorbitantes da conhecida agricultura de grande porte ou mesmo de exportação, como os plantios da cana-de-açúcar, trigo, café, soja, dentre outros (CASTELÕES, 2005). O agricultor familiar era considerado irrelevante à tomada de decisões envolvendo o desenvolvimento de seu meio de sobrevivência. O poder público pouco demonstrava interesse voltado à promoção de políticas engajadas para o desenvolvimento da agricultura familiar da sociedade.

Neste sentido, especialmente a população rural do semiárido nordestino brasileiro sofria com condições precárias, em consequência direta da falta de políticas públicas específicas; e da escassez dos recursos hídricos, incluindo o mau uso destes recursos, que por sua vez demonstra e aponta grandes fragilidades em determinadas regiões (MOURA, 2004).

Gomes (2009) observou que essa falta de apoio, principalmente a falta de estrutura para desenvolvimento do campo, provocou a migração em direção às cidades, o chamado êxodo rural, de modo a provocar aglomeração nas periferias dos grandes centros, tornando piores as condições de sobrevivência desta população, que sofria todo tipo de exclusão.

Porém, nos últimos anos, algumas políticas públicas voltadas para a agricultura familiar vêm sendo implementadas, provocando uma mudança no cenário do semiárido nordestino do Brasil. A agricultura irrigada, aliada à modernização agrícola, bem como assistência técnica e extensão rural atuantes na referida região, têm sido consideradas alternativas viáveis para o desenvolvimento de várias culturas produtivas (FRANÇA, 2001), contribuindo com o desenvolvimento rural, especificamente de atividades agropecuárias (PEIXOTO, 2008).

Diante do exposto, esta pesquisa tem por objetivo analisar o perfil agrossocioeconômico dos produtores rurais dos sítios Cardoso I e II, situados no município de Iguatu, Ceará. Pretende-se conhecer como as políticas para o desenvolvimento rural têm surtido efeito nestas localidades, por meio de um diagnóstico socioeconômico e produtivo, com base em uma amostra da população.

 

 

2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

 

 

O estudo foi desenvolvido nas localidades do Cardoso I e II, distantes aproximadamente 9 km da sede do município de Iguatu, no interior do Ceará. As localidades têm cerca de 100 famílias, dependendo de forma direta da agricultura irrigada.

Para a realização desta pesquisa, foram aplicadas 13 entrevistas com produtores rurais, relacionadas ao perfil agrossocioeconômico, tais como: composição familiar, gênero, idade, estado civil, escolaridade, exercício de outra atividade econômica além da agricultura, renda total da família na agricultura, tipo de cultivo e manejo trabalhado, área total irrigada, método de irrigação, tamanho da área de cultivo, implementos agrícolas usados na propriedade, doenças e pragas que afetam a produção, o destino da produção, dentre outros aspectos.

Os dados coletados foram analisados pelo método de análise de conteúdo (BARDIN, 2011).

 

 

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

 

Com base nas entrevistas aplicadas aos 13 produtores, foi possível observar que, dentre os entrevistados, havia apenas uma mulher e doze homens produtores. Este resultado representa o perfil de gênero da agricultura brasileira, predominantemente masculino.

Com relação à idade dos produtores, no Gráfico 1, a seguir, observa-se que, dos  entrevistados, 6 possuem entre 41 e 60 anos; 5 pessoas encontram-se entre 25 a 40 anos; e, apenas dois dos produtores afirmaram possuir idade entre 61 a 80 anos.

 

 


 

 

Gráfico 1 - Representação da idade dos entrevistados

 

           

            Observando-se o estado civil dos entrevistados (GRÁFICO 2), percebe-se um número mais representativo de indivíduos casados (8), seguido de 4 solteiros e apenas uma pessoa como viúva.

 

 


 

 

Gráfico 2 - Estado civil dos produtores rurais

 

 

Encontrou-se diante dos dados coletados, um número de 11 produtores rurais com casa própria, mostrando ser um número significativo para as regiões. Esse número representa um fato importante atribuído a não preocupação com o aluguel residencial. Os outros 2 produtores afirmaram residir com os pais. Esta informação retrata a condição de moradia multifamiliar, muito comum na região. O Gráfico 3, a seguir, demonstra a condição residencial dos entrevistados.

 

 


 

 

Gráfico 3 - Grau de posse das residências dos entrevistados

 

 

A pesquisa relacionou aspectos de acessibilidades das residências, relacionadas à existência de energia elétrica, água encanada, água de poço, fossa e banheiro interno. As respostas podem ser observadas no Gráfico 4.

 


 

Gráfico 4 - Serviços encontrados nas residências dos produtores

 

O Gráfico 5 apresenta a escolaridade. Dos entrevistados, 7 possuem apenas com o ensino fundamental incompleto (até a 4º série), revelando um baixo índice de escolaridade na região. Apenas 1 dos entrevistados afirmou possuir o ensino fundamental completo e 5 produtores possuem o ensino médio completo (2º grau). Os produtores afirmaram, ainda, que entre seus familiares há pessoas com nível superior completo, especialmente com licenciatura e se ocupam como professor em escolas do Estado. Sobre a educação dos filhos, afirmaram que estão estudando em escolas públicas, municipais e estaduais. Em apenas uma das famílias os filhos estudam em escola particular.

 

 


Gráfico 5 - Grau de estudo dos entrevistados.

 

 

O Gráfico 6 apresenta a composição familiar, no tocante ao número de membros de cada família.

 

 


Gráfico 6 – Composição das famílias.

 

 

Constatou-se que a maioria das famílias são compostas por 3 a 4 membros. Existem casos de famílias com 6 e 9 membros. A maioria comentou que para sustentar seus familiares sobrevivem dos ganhos provenientes da agricultura irrigada. Contudo, segundo os agricultores, têm tido dificuldades, conforme afirmam “que hoje o dinheiro que conseguem através da agricultura irrigada dá somente para o sustento familiar”.

No gráfico 7 observar-se a renda total familiar de cada membro entrevistado. Para 11 entrevistados, a renda se encontra entre 2 a 4 salários. Essa renda familiar torna-se insuficiente, comparando-a com o número de pessoas existentes nas famílias dos produtores. De acordo com os produtores, essa renda total está relacionada com outras atividades exercidas fora da agricultura por alguns membros familiares, que possuem trabalhos informais para complementar a renda ou possuem benefícios sociais.

 

 


Gráfico 7 - Renda total familiar dos entrevistados

 

A renda oriunda apenas da atividade da agricultura, nas localidades do Cardoso I e II, encontra-se apresentada no gráfico 8. Os agricultores entrevistados falaram da dificuldade na agricultura onde o “lucro muitas vezes não paga o próprio trabalho que tiveram”. Dos 13 produtores entrevistados, 10 dos mesmos encontram-se com renda de apenas 1 salário mínimo, o que mostra uma certa deficiência na agricultura dessas regiões.

 

 

 


 

 

Gráfico 8 - Renda total oriunda da agricultura

 

 

Quando perguntados sobre a posse das terras utilizadas para o manejo agrícola, 11 dos entrevistados admitiram que trabalham em terras próprias. Apenas em 2 casos as terras são arrendadas. Os trabalhadores rurais de propriedade particular falaram da importância em trabalhar em terras próprias apesar da pouca renda no campo. Ainda que, em terras arrendadas se precisa ter uma boa produção, para poder compensar gastos e, principalmente na hora da renda, a qual será dividida. Nestas terras, são vários os cultivos implantados, onde muitos deles são consorciados pelos agricultores para ter-se uma melhor renda e para compensar gastos de cultivos principais, pelos quais, muitos deles demoram a dar lucros. Destacam-se: maracujá, banana, boiaba, mamão e gerimum.

A banana é o principal cultivo da região, explorada por 10 produtores no Cardoso I e II. Além da venda para atravessadores, a banana é muito útil para o consumo humano onde todos os produtores disseram consumir muito por toda família. Observa-se na Figura 1, a seguir, o cultivo da banana nas localidades do Cardoso II. Várias dessas áreas têm o seu manejo manual, com sistemas de irrigação por microaspersão e também por inundação, que é o mais comum em ambas as localidades. Contudo, tal prática pode culminar em grande perda de água, bem como prejudicar o solo.

 

 


 

Figura 1 - Cultura da banana

 

A goiaba também faz parte de algumas das produções para ambas as localidades. No Cardoso I, por exemplo, encontra-se uma área de 1 hectare, sendo consorciada com mamão e maracujá. Já na localidade do Cardoso II, encontra-se uma área maior, de 3 hectares. A goiaba também é consorciada com o jerimum. Observa-se na Figura 2 o cultivo da goiaba na localidade do Cardoso I, com sistema de irrigação por microaspersão. Geralmente, nas regiões abordadas, o manejo das culturas é manual, principalmente da goiaba, pois ocorrem em pequenas propriedades.

 


 

 

Figura 2 - Cultura da goiaba

 

Os cultivos com as maiores áreas se deram em duas propriedades, com área total cultivada de 6 a 12 hectares (GRÁFICO 9), utilizada apenas ao cultivo da banana. Áreas de 0,5 a 2 hectares obtiveram maior número de cultivo, sendo 8 hectares no total e de 3 a 5 hectares com 3 das áreas cultivadas.             

 


Gráfico 9 - Tamanho da área total cultivada em hectares

 

A irrigação por superfície (inundação) é a mais utilizada nas regiões, atuando em 9 áreas de cultivo. De acordo com esse método, pode-se ter um alto desperdício de água, os agricultores o utilizam nas regiões, mas para o cultivo da banana. Em 4 cultivos se tem a irrigação por microaspersão, que segundo os agricultores é um sistema eficiente e prático dentro da área cultivada, sendo mais utilizado nos cultivos da goiaba, mamão e jerimum. Contudo, observou-se que existe cultivo de banana irrigado por microaspersão nas localidades do Cardoso I e II.

Quando perguntados sobre a existência de assistência técnica (GRÁFICO 10), dos 13 produtores entrevistados, apenas dois afirmaram possuir: um pela EMATERCE e outro vinculado a uma associação da comunidade. As assistências são pouquíssimas, isso porque a maioria dos produtores não está inserida em programas do governo do Estado e não participam de associações, entre outros.

 

 


 

Gráfico 10 -  Tipo de assistência técnica fornecida aos produtores

 

Sobre os incentivos financeiros recebidos, 3 produtores afirmaram trabalhar com recurso governamental, onde os mesmos tiveram ajuda financeira de bancos para a implantação dos cultivos. Já os produtores que implantaram seus cultivos com recurso próprio, afirmaram que tentaram conseguir algum recurso através de empréstimos bancários, mas tiveram muita dificuldade. Por essa razão resolveram implantar seus cultivos com recurso próprio, conforme se observa no Gráfico 11.

 

 

         Gráfico 11 - Fonte dos recursos financeiros

 

Com relação ao destino da produção, os produtores afirmaram que a goiaba é consumida por familiares, comercializada em Fortaleza e em comércios da região local. Foi relatada também a existência de atravessadores, que levam a produção para outras cidades vizinhas (GRÁFICO 12).

 

 


Gráfico 12 - Escoamento da produção

 

 

Nas comunidades do Cardoso I e II existem associações, porém, segundo os moradores, não existe nenhum acompanhamento dos mesmos nas propriedades. Muitas vezes os produtores afirmaram sentir falta de um apoio ou orientação em suas produções. Vale ressaltar que dois dos agricultores envolvidos na pesquisa têm acompanhamento de associações e técnicos na área de fruticultura, que os orientam em suas produções.

 

 

4. CONCLUSÕES

 

 

Observou-se que existem inúmeras dificuldades dentro da agricultura nas localidades do Cardoso I e II, no município de Iguatu, no interior do Ceará. Tais como: a falta de assistência técnica, falta de acesso à linha de crédito específica, e escoamento da produção. Diante das produções agrícolas, os agricultores não conseguem agregar valor de mercado ao seu produto, tanto pela dificuldade de escoamento e, principalmente, pelo preço de mercado atribuído ao que é produzido na região. Constatou-se, ainda, que a maioria dos entrevistados vive apenas da agricultura, outros possuem trabalhos informais para complementar a renda ou possuem benefícios sociais. Neste sentido, urgem medidas de inclusão destes produtores nas políticas públicas existentes para o semiárido, especialmente as relacionadas à assistência técnica e creditícia. Sugere-se, ainda, que sejam realizadas capacitações voltadas para o fomento à educação cooperativista entre os produtores da região.

 

 

REFERÊNCIAS

BARDIN, L. Análise de conteúdo. SP: Edições 70, 2011

CASTELÕES, L. Agricultura familiar predomina no Brasil. Políticas públicas proteção e emancipação [Online], 2002. Disponível em: . Acessado em: 10 out. 2015.

FRANÇA, F. M. C. A importância do agronegócio da irrigação para o desenvolvimento do Nordeste. Fortaleza: Banco do Nordeste, 2001. 114p.

GOMES, M. C. B. A Percepção dos Beneficiários Sobre o Programa Bolsa Família no Município de Iguatu-CE. 2009. 151f. – Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Programa de Pós-graduação em Avaliação de Políticas Públicas, Fortaleza (CE), 2009.

MOURA, W. V. B.; LIMA, A. S.; QUEIROZ, A. F.; PINTO, C. R. S.; GURGEL, H. C. Projeto água fonte de vida/ PROASNE – gênero – meio ambiente-saúde – educação: UFC e comunidade buscando desenvolvimento ecologicamente sustentável. In: Congresso brasileiro de extensão universitária. Belo horizonte: UFMG, 2004.

PEIXOTO, M. Extensão rural no Brasil uma abordagem histórica da legislação. Brasília, outubro 2008.

Ilustrações: Silvana Santos