Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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11/09/2016 (Nº 57) A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA CIDADE DE JAGUARIBE - CEARÁ: UMA ANÁLISE DAS PERCEPÇÕES E PRÁTICAS DESENVOLVIDAS PELOS PROFESSORES DAS ESCOLAS PÚBLICAS DE ENSINO FUNDAMENTAL.
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A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA CIDADE DE JAGUARIBE - CEARÁ: UMA

ANÁLISE DAS PERCEPÇÕES E PRÁTICAS DESENVOLVIDAS PELOS PROFESSORES DAS ESCOLAS PÚBLICAS DE ENSINO FUNDAMENTAL.

 

Maria DaucicleideBezerra Galdino¹; Francisco Holanda Nunes Junior²; Denise de Araújo Silva Holanda3

1Graduada em Ciências Biológicas – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – Campus Jaguaribe(marigaldinojbe@hotmail.com).

2Mestre em Energias Renováveis - Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Ceará - Campus Jaguaribe (holandajrb@gmail.com).

3Assistente Social, Especialista em Educação Ambiental - Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Ceará - Campus Cedro (denise.sholanda@gmail.com)

Resumo - O presente estudo buscou analisar as percepções e as práticas metodológicas desenvolvidas por docentes das escolas públicas de ensino fundamental da cidade de Jaguaribe Ceará, quanto à abordagem das temáticas ambientais, verificando até que ponto tais práticas pedagógicas podem influenciar na construção do saber ambiental. A pesquisa foi de base quali-quantitativa, cujo percurso metodológico se constitui de pesquisa bibliográfica e de campo, adotando-se como técnica de coleta de dados, questionários semiestruturados aplicados a um total de vinte e um professores, nas quatro escolas públicas de ensino fundamental II, situadas na zona urbana da cidade. Através das observações feitas no estudo, foi possível verificar que as metodologias aplicadas no desenvolvimento da EA pelos professores, ainda não são satisfatórias no que tange à sensibilização dos educando quanto às suas relações com o meio ambiente. Sendo, portanto, necessárias intervenções no sentido de aperfeiçoar essas metodologias atualmente empregadas, através de políticas de incentivo à qualificação dos profissionais, assim como o fornecimento de apoio financeiro e estrutural no desenvolvimento de tais atividades.

Palavras chaves – Educação ambiental, escola, sensibilização.

1-    INTRODUÇÃO

Nas últimas duas décadas, temos presenciado um significativo crescimento dos movimentos ambientalistas e do interesse pela preservação ambiental. A população mundial tem se mostrado cada vez mais consciente da relação existente entre o modelo atual de crescimento econômico e a degradação ambiental, bem como os impactos negativos que este vinculo tem ocasionadono dia-dia da população, pondo em risco a sobrevivência da espécie humana (MARCATTO, 2002).

Mais recentemente, as discussões em torno de problemáticas ambientais tais como: poluição atmosférica, extinção de espécies, escassez de recursos naturais, dentre outras se tornaram comuns na maioria dos setores da sociedade, sendo, portanto, imperativo o desenvolvimento de uma educação que sensibilize as pessoas em relação ao ambiente em que vivem na busca por um equilíbrio com a natureza, possibilitando o acesso a uma melhor qualidade de vida (MEDEIROS et al., 2012).

A Educação Ambiental (EA) surge pela primeira vez e assume esse papel perante a sociedade através das discussões realizadas na conferência intergovernamental sobre EA realizada pela UNESCO em 1977 (Tbilisi – Geórgia – URSS). Nessa conferência foram propostos os princípios, estratégias e ações que fundamentaram a forma como a EA deveria ser trabalhada no processo de sensibilização da sociedade. (NUNES JUNIOR et al., 2012).

No Brasil, a maneira como deve ser trabalhada a EA está previstapor meio da Política Nacional de Educação Ambiental lei nº 9.795/99 (BRASIL,1999).  Em seu artigo 1º, a política estabelece que a EA deva ser o meio através do qual, o indivíduo e a coletividade possam construir seus valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio natural. Esta ainda estabelece que ela não se constitua uma disciplina específica na educação brasileira, mas que seja trabalhada dentro da transversalidade.

Infelizmente, não tem sido dessa forma que a EA ambiental vem sendo trabalhada na maioria das escolas brasileiras (NARCIZO, 2009). Portanto, torna-se imprescindíveluma percepção do que acontece nas escolas com relação a temática de maneira a tornar possível uma reflexão lobal acerca dos problemas que tem gerado essa não consonância com a legislação ambiental vigente.

De acordo com Lima e Azevedo (2014), os critérios para eleição dos temas transversais, devem levar em consideração a urgência social, a abrangência nacional, a possibilidade de ensino e aprendizagem no ensino fundamental e o favorecimento da compreensão da realidade e participação social do indivíduo. Visando nortear essas premissas, os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs, conjunto de documentos preparados pelo MEC em 1997 estabelecem que as questões sociais sejam apresentadas para a reflexão dos alunos podendo ser contextualizadas e priorizadas de acordo com as diferentes realidades locais e regionais.

Relacionar a EA com os primeiros anos de aprendizagem justifica-se pelo fato de ser o caminho mais fácil e rápido de transformação social das questões ambientais.Adicionalmente, trabalhar no contexto da criança em formação, torna a EA um futuro exercício de cidadania (PRUDENTE, 2013). Schunemann e Rosa (2010)corroboram com tal premissa e enfatizam a importância do processo da sensibilização ocorrer nas séries iniciais, devido a facilidade que as crianças possuem em aprender novos hábitos e terem a possibilidade de transformar a sociedade, tornando-se adultos cientes do seu papel em um novo contexto de responsabilidade e valorização da causa ambiental.

Diante do exposto, e como previamente mencionado, torna-se importante verificar a forma como a EA vem sendo trabalhada no contexto atual. Visando a percepção sobre o planejamento e execução das metodologias empregadas em sala de aula, principalmente no que tange as séries iniciais. Assim sendo, o presente trabalho objetivou analisar as percepções e práticas metodologias efetuadas por docentes das escolas públicas de ensino fundamental do município de Jaguaribe, Ceará, Brasil, acerca das temáticas ambientais.

2-    MATERIAL E MÉTODOS

A presente pesquisa foi realizada nas escolas de ensino fundamental localizadas na cidade de Jaguaribe-Ceará, o município possui área de 1.876,806 km², com uma população de 34.409 habitantes, distante 292 km da capital do estado, Fortaleza. (IBGE, 2010).

De acordo com as informações obtidas junto à secretaria municipal de educação de Jaguaribe, o município possui onze escolas de ensino fundamental, sendo, sete entre a zona rural e os distritos do município, e quatro na zona urbana. Foram utilizadas na pesquisa todas as escolas da zona urbana (EEI Alice Diógenes Pinheiro, EEIEF Luíza Távora, EEF Gutenberg Barbosa Lima e EEF Franklin Monteiro Gondim).

A metodologia utilizada nessa pesquisa foi do tipo quali-quantitativa, onde se priorizou a pesquisa bibliográfica e de campo. Na pesquisa bibliográfica,adotou-se referenciais teóricos relacionados à temática em questão, com o intuito de entendermos o histórico e o contexto atual da Educação Ambiental.

A pesquisa foi integrada por 21 professores que se fizeram voluntários nas quatro escolas públicas de Ensino Fundamental II, compreendido pelas seguintes séries, 6º, 7º, 8º e 9º anos. Assim, o instrumento de coleta de dados dessa amostra foram questionários semiestruturados realizados de forma individual, sendo respeitadas as condições éticas e técnicas, com a utilização de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, prezando pela não identificação dos nomes dos questionados.

Vale salientar que o questionário foi composto por perguntas sobre o perfil sócio demográfico dos professores, percepção sobre as temáticas ambientais e metodologias das quais se serviam os profissionais na sensibilização dos educandos.

Com relação à análise dos dados, estes foram tabulados, utilizando-se como recursos os programas Word e Ecxel da Microsoft.Alinhados aos objetivos propostos no estudo e confrontados com base no referencial teórico acerca da temática em questão.

3-    RESULTADOS E DISCUSSÃO

         3.1 – Perfil dos sujeitos da pesquisa

A analise dos dados obtidos durante a pesquisa, revelou, conforme representado  através da figura 01, que,  nas escolas  de ensino fundamental do município de Jaguaribe, é  predominante profissionais do sexo feminino na docência, sendo este dado representado por 95% dos entrevistados, com faixa etáriaentre 31 e 40 anos de idade.

Figura 01- Gênero dos participantes da pesquisa. Jaguaribe- CE-2015.

Até o final do século XIX, no Brasil, o magistério se configurava em exercício praticado, em maior número, por profissionais do sexo masculino. A presença feminina na docência, foi, aos poucos, tomando lugar na educação, a partir de uma visão reducionista baseada em costumes morais da época, que consideravam inadequado que as meninas fossem educadas por professores do sexo masculino (CUNHA, 2012).

Destaca-se que a predominância do sexo feminino revelado nos dados, pode ser relacionada ao fato de que, no decorrer do século passado, houve uma maior incorporação de mulheres na docência, que passou a adquirir um caráter eminentemente feminino, chegando a ser,atualmente , uma profissão expressivamente desenvolvida por mulheres. Os dados apresentados pela sinopse dos professores da educação básica (MEC, 2014), corroboram com tal afirmação ao exporem que o percentual de mulheres atuando no ensino fundamental abrange cerca de 80% do total de professores. .

Com relação à formação acadêmica dos docentes entrevistados, 38% apresentam ensino superior completo e outros 47,5% têm ensino superior completo acrescido de formação complementar em nível de especialização, dois dos entrevistados afirmaram possuir apenas o 2º grau completo e apenas um ainda está com a formação superior em andamento. Esses dados podem ser mais bem visualizados na Figura 02.

Figura 02- Formação acadêmica dos docentes. Jaguaribe- CE -2015.

A lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira – LDB, Lei 9.394 de 1996, deixa explícito que são considerados profissionais da educação escolar básica os que nela, estando em efetiva atividade, tenham sido formados em cursos reconhecidos e que sejam professores habilitados para o exercício da docência na educação infantil e nos ensinos fundamental e médio.

Para Albano et al., (2010), a formação é um processo contínuo e que nunca estará totalmente concluído. Portanto, ao longo da carreira profissional, o professor deve aprimorar conhecimentos e competências que constituíram sua formação inicial. Atualmente, a pós-graduação tornou-se algo mais próximo da realidade de muitos destes profissionais, pois pode ser feita a distância através de cursos semi presenciais.Tais aspectos são capazes de explicar, portanto, os 47,5% dos professores que buscaram uma formação continuada, e possuem algum tipo de especialização.

Em relação ao tempo de atuação no magistério, 66,7% dos docentes pesquisados, apresentam mais de 10 anos de atuação (Figura 03). Esse dado demonstra que a maioria dos professores tem muita experiência no trabalho em sala de aula.

Figura 03- Tempo no magistério- Jaguaribe – CE -2015

 

3.2 – Percepções e Metodologias empregadas sobre EA.

As percepções e práticas dos professores sobre EA, dentro do âmbito escolar, assumem destaque nesse estudo, pois é importante entender e analisar de que maneira esses docentes concebem a EA e sua ações pedagógicas, de modo a perceber a conexão desta com as atividades desenvolvidas por eles dentro desse cenário.

            De modo geral, a maioria dos professores entrevistados quando indagados sobre a percepção que tem sobre a EA, a compreendem de forma naturalista e de cunho preservacionista.Esta corrente de pensamento ecológico possui uma visão do meio ambiente romantizada, defendendo a ideia de que a natureza não deve servir aos interesses exploratórios do ser humano, mas sim ser preservada (LIMA, 2012). Esse pensamento é bem expresso pelas falas dos professores[1]mostradasabaixo:

“Deve constituir em debates sobre o meio ambiente em que vivemos, observando os problemas relacionados à poluição, desmatamento, procurando soluções”. “(Professor João)”.

“É quando o ser humano assume e pratica uma mentalidade consciente procurando soluções para os problemas e conservando o meio ambiente corretamente.” (Professora Luíza).

 “São medidas preventivas que visam à preservação do meio ambiente através da educação e conscientização das pessoas.” (Professora Clara).

           Ramos (2006)afirma que, apesar da diversidade de tratamentos da questão ambiental, as pesquisas mostram que predomina uma abordagem naturalista dos problemas socioambientais. Ainda segundo o autor, esta perspectiva se concretiza na priorização de atividades extraescolares, ou aulas ao ar livre, que propõem, principalmente, à sensibilização para com os problemas socioambientais e à preservação da natureza, sem levar em conta os aspectos sociais, econômicos, políticos, éticos e culturais que envolvem o tema.

          Para Lima (2012), os educadores ambientais precisam refletir e superar a visão fragmentada da realidade, uma vez que considerem que para compreender a problemática ambiental, é necessária uma visão complexa do ambiente, na qual, existem as relações naturais, sociais e culturais. É fundamental, portanto, que eles desenvolvam uma percepção múltipla que englobe os aspectos socioambientais, políticos e econômicos.

Na tentativa de visualizar a forma como a EA é trabalhada nas escolas, e tendo como base o que preconiza a Politica Nacional de Educação Ambiental e os próprios PCNs, que definem que as temáticas ambientais devem ser integradas às demais áreas numa relação de transversalidade foramperguntadas aos entrevistados se estes encontravam alguma dificuldade em atuar dessa forma em suas aulas.

            Das repostas obtidas, 71,4% afirmaram que não, entretanto, quando questionados, consideravam importante à implantação da EA como disciplina curricular.Verificou-se, diante disso, uma situação contraditória no que diz respeito à transversalidade da Educação Ambiental, haja vista que 81% dos entrevistados afirmaram ser importante sua implantação na grade de disciplinas. Vejamos as falas dos entrevistados:

                        “Apesar de trabalharmos os projetos, seria muito importante trabalhar a EA como uma disciplina regular. ” (Professora Ana).

“Porque com a implantação da EA como disciplina regular, o professor pode está sempre ensinando e mostrando meios de como manter o nosso meio ambiente conservado e protegido.” (Professora Vera).

Sabemos que a lei Nº 9.795,1999, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental, regulamenta que a EA não deve ser implantada como disciplina específica no currículo de ensino, ou seja, deve está presente em todas as disciplinas e modalidades do currículo escolar. Dessa forma, a situação apresentada pelas respostas dos entrevistados demonstra um desconhecimento por parte destes da lei supracitada, uma vez que,apesar da maioria terem afirmado que não sentiam dificuldades em desenvolvê-la como tema transversal prefere trabalha-la como disciplina regular. Esse é um discurso ainda muito reproduzido no âmbito escolar, o qual revela a dificuldade de aplicar a EA na forma que preconiza a Política Nacional e os PCNs.

            Quando questionados sobre o desenvolvimento de projetos na escola voltado para EA, 90,5% dos entrevistados responderam positivamente a essa indagação, enquanto apenas 9,5% responderam que não.

 

           Esse dado revela que práticas em EA existem, inclusive foram listados pelos docentes algumas atividades voltadas à temática ambiental, que, costumeiramente, desenvolvem nas escolas. (Tabela 01).

 

Tabela 01- Projetos desenvolvidos nas escolas- Jaguaribe- 2015.

Atividade

Percentual (%)

Projeto de prevenção a dengue

13,5

Projeto saneamento

13,5

Horta na escola

47

Projeto mata branca

6,5

Coleta seletiva de lixo

6,5

Reciclagem

6,5

Limpeza do ambiente escolar

6,5

 

          Percebemos que o projeto “Horta na Escola” foi o mais citado (47%). Tal projeto normalmente é desenvolvido no próprio espaço disponível nos pátios das escolas, sendo uma boa alternativa para se trabalhar a EA, pois possibilita desenvolver noções de alimentação saudável, produção textual, conhecimentos das características do solo e até mesmo reciclagem (MORGADO; SANTOS, 2008), tudo isso fica a cargo do conhecimento e criatividade do professor.

Ressaltamos ainda, que atividades como essa, ao seremviabilizadas em espaços ao ar livre nas escolas, desenvolvem, com maior facilidade, hábitos e atitudes nos alunos da percepção que eles têm de natureza e suas múltiplas relações com ser humano (CRIBB, 2010). Desse modo, reconhecemos a importância dessa atividade, no entanto, a problemática é reduzirmos apenas a esses tipos, reforçando a visão naturalista do meio ambiente, desconsiderando os aspectos sociais, políticos e econômicos que permeiam a EA.

              No tocante as metodologias utilizadas no desenvolvimento das práticas de EA, na escola, os professores entrevistados marcaram como opções as atividades listadas na Tabela 02 abaixo com seus respectivos percentuais:

Tabela 02 - Ferramentas metodológicas utilizadas no desenvolvimento de atividades de EA[2].

Atividades

Percentual (%)

Teatro

71,5

Desenhos

42,8

Cartilhas

38

Passeios

90,5

Painéis Educativos

80,9

Vídeos

90,5

Palestras

90,5

Brincadeiras

33,3

Músicas

52,4

Debates

85,7

Coleta e separação de lixo

81

Outros

14,3

 

            Observamos que, entre as ferramentas metodológicas escolhidas, as que aparecem com maiores porcentagens são passeios, vídeos e palestras. Tais ferramentas normalmente não exigem uma grande disponibilidade de recursos financeiros para seremrealizadas, o que, provavelmente, justifica a preferência encontrada no estudo. O recurso financeiro aliado à falta de pessoas capacitadas são, hoje, as principais barreiras ao desenvolvimento de atividades de EA descritas, inclusive, pelos próprios professores (PISSATOet al., 2012).

De acordo com Knorst (2010), ao se trabalhar EA, os professores devem sempre atuar como mediadores, buscando metodologias que possibilitem aos educandos pensarem de forma crítica e reflexiva sobre o meio ambiente, tornando possível a sensibilização destes acerca das alterações que podem causar a natureza.

         O estudo buscou, também,com base na perspectiva dos professores analisar de que forma os materiais didáticos básicos trabalhados pelos professores abordam a temática ambiental. A ênfase maior foi feita no livro didático, foram levantadas de forma inicial em quais matérias o tema torna-se mais frequente, conforme descrito na Tabela 03.

Tabela 03 - Disciplinas que trazem conteúdos relacionados à EA nos livros didáticos.

Disciplinas

Percentual (%)

Ciências

76,2

Geografia

57,1

Português

33,3

História

33,3

Matemática

19

Outras

9,5

 

 

Dos resultados acima descritos, as disciplinas de ciências e geografia lideram como as matérias onde os professores visualizam uma maior quantidade de assuntos voltados às temáticas ambientais. Por outro lado, um dos maioresproblemas que a EA enfrenta é a forma como os conteúdos são abordados nos livros didáticos.Na maioria das vezes, estes, não a contemplam de forma adequada, fato que se observa quando alguns temas são mostrados de forma descontextualizada, abrangendo assuntos com pouca relevância. Outro obstáculo encontrado, nos livros, é que, majoritariamente, apresentam os conteúdos de forma fragmentada e desarticulada, focando apenas alguns itens muito específicos (MENEGUZZO; MENEGUZZO 2012).

4 - CONCLUSÃO

 Historicamente a EA tem se configurado como práticas isoladas e focalizadas, essa realidade ainda persiste dentro das temáticas ambientais desenvolvidas nas escolas de ensino fundamental de Jaguaribe- CE, apontando que a mesma ainda passa por dificuldades em ser trabalhada na transversalidade como propõe a Política Nacional de Educação Ambiental e os PCNs.

A partir do estudo, inferimos que as atividades trabalhadas, apresentam-se ainda de forma fragmentada, e, apesar de a maioria dos professores afirmarem não sentir dificuldades em realiza-las de forma transversal, as metodologias aplicadas no desenvolvimento da EA pelos professores, ainda não são satisfatórias no que tange à sensibilização dos educandos quanto às suas relações com o meio ambiente, apesar de serem bem diversificadas, ainda deixam a desejar. O fato de ser transdisciplinar na teoria é benéfico, pois permite que ela integre várias áreas, mas na prática dificulta a organização do professor a respeito, ficando muito abstrato.

Com base na leitura sobre o tema, percebe-se que a falta/insuficiência de materiais para as atividades torna-se um desafio, principalmente para o desenvolvimento de ações. Os projetos desenvolvidos nas escolas e aludidos nessa pesquisa são pontos positivos. No entanto, a maioria dos professores entrevistados ainda possui uma percepção restrita sobre meio ambiente ( visão naturalista), desenvolvendo pouco a criatividade dos alunos, e passando a ideia de que devemos “preservar por preservar”, atendendo apenas a necessidades estéticas.

Dessa forma, através dos dados obtidos no estudo, percebe-se que a EA ainda é desenvolvida de forma superficial no ensino fundamental da cidade de Jaguaribe-CE.

5 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBANO, A. A. S.; BARBOZA, P. B.; CASTRO, P. V.; ZERO, M.A.. A formação de professores para a educação básica na LDB e as expectativas para a educação do futuro. Revista Científica de Letras, v. 6, p. 11-30, 2010.

BRASIL, Ministério da Educação. Lei nº 9.795 de Abril de 1999.

CUNHA, A. T. B. Sobre a carreira docente, a feminização do magistério e a docência masculina na construção do gênero e da sexualidade infantil. IX Anped sul. 2012.

CRIBB, S. L. S. Contribuições da educação ambiental e horta escolar na promoção de melhorias ao ensino, à saúde e ao ambiente. Rempec - Ensino, Saúde e Ambiente, v.3, p. 42-60, 2010.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas- IBGE. Censo demográfico, 2010.

Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anízio Teixeira- INEP. Sinopse Estatísticas da Educação Básica. Ministério da Educação, 2014.

KNORST, P. A. R. Educação ambiental: um desafio para as unidades escolares. Unoesc & Ciência – ACHS, v. 1,p. 131-138, 2010.

Lei de diretrizes e bases- LDB. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996.

LIMA, A. C. S.; AZEVEDO, C. B. A interdisciplinaridade no Brasil e o ensino de história: um diálogo possível. Revista Educação e Linguagens, v. 2, p. 128 -150, 2014.

LIMA, F. D. M. Educação ambiental e o educador ambiental: os desafios de elaborar e implantar projetos de educação ambiental nas escolas.Monografias Ambientais, v. 7,p. 1717 – 1722, 2012.

MARCATTO C. Educação Ambiental: Conceitos e princípios. 1º ed. Belo Horizonte, Feam, 2002, 64p.

MEDEIROS, M. C. S.; RIBEIRO, M. C. M.; FERREIRA, M. A. Meio ambiente e educação ambiental nas escolas públicas.Disponível em: www.ambito-juridicocom.br. Acesso em 12 de outubro de 2014.

MENEGUZZO, P. M.; MENEGUZZO, I. S. A educação ambiental nos livros didáticos de geografia do ensino fundamental e médio utilizados nas escolas públicas do Paraná. Revista do PPGEA/FURG-RS, v. 28, p. 72-84,2012.

MORGADO, F. S.; SANTOS, M. A. A horta escolar na educação ambiental e alimentar: experiência do projeto horta viva nas escolas municipais de Florianópolis. Revista Eletrônica de Extensão, v. 5, p. 1-10, 2008.

NARCIZO, K. R. S. Uma análise sobre a importância de trabalhar educação ambiental nas escolas. Revista eletrônica do PPGEA/FURG-RS, v. 22, p. 86-94, 2009.

NUNES JUNIOR,F. H.; RODRIGUES, M. A.; HOLANDA, D. A. S. O Ensino da Educação Ambiental na Escola Estadual de Ensino Médio Liceu de Iguatu- Dr. José Gondim. Enciclopédia Biosfera, v.8, p. 2158-2166; 2012.

PISSATTO M.; MERCK A. M. T.; GRACIOLI C. R. Ações de educação ambiental realizadas no âmbito de três unidades de conservação do rio grande do sul. Revista Eletrônica em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental. v5, p. 804 - 812, 2012.

PRUDENTE, S. R. Educação Ambiental e escola de Educação Infantil: mapeando propostas e perspectivas. Centro Universitário de Anápolis. Anápolis- GO, Dissertação, 2013, 149 p.

RAMOS, E. C. A Abordagem Naturalista na Educação Ambiental. Uma análise dos Projetos Ambientais de Educação em Curitiba. Universidade federal de Santa Catarina -Centro de Filosofia e Ciências Humanas Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas, Tese, 2006, 230 p.

SCHUNEMANN, D. R.; ROSA, M. B. Conscientização Ambiental na Educação Infantil.  Universidade Federal Santa Maria- UFSM, v. 1, p. 122 – 132, 2010.

 

 

 



[1] Nas falas transcritas os professores (as) receberam nomes próprios fictícios, para preservar suas identidades.

[2] A pergunta possibilita mais de uma resposta, razão pela qual os resultados ultrapassam 100%.

Ilustrações: Silvana Santos