Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
Início Cadastre-se! Procurar Área de autores Contato Apresentação(4) Normas de Publicação(1) Dicas e Curiosidades(7) Reflexão(3) Para Sensibilizar(1) Dinâmicas e Recursos Pedagógicos(6) Dúvidas(4) Entrevistas(4) Saber do Fazer(1) Culinária(1) Arte e Ambiente(1) Divulgação de Eventos(4) O que fazer para melhorar o meio ambiente(3) Sugestões bibliográficas(1) Educação(1) Você sabia que...(2) Reportagem(3) Educação e temas emergentes(1) Ações e projetos inspiradores(25) O Eco das Vozes(1) Do Linear ao Complexo(1) A Natureza Inspira(1) Notícias(21)   |  Números  
Artigos
11/09/2016 (Nº 57) VIVÊNCIA DE UM PROJETO DIDÁTICO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL UTILIZANDO A TEMÁTICA DA RECICLAGEM DE ÓLEOS E GORDURAS RESIDUAIS
Link permanente: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=2414 
  

VIVÊNCIA DE UM PROJETO DIDÁTICO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL UTILIZANDO A TEMÁTICA DA RECICLAGEM DE ÓLEOS E GORDURAS RESIDUAIS

 

Rosângela Assunção Gomes1, Claudia Cristina Cardoso2, Angela Fernandes Campos3

1Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências - UFRPE

(rosa_biologia@yahoo.com.br)

2,3Departamento de Química - UFRPE,

(afernandescampos@gmail.com), (claudiacardoso75@gmail.com)

- Universidade Federal Rural de Pernambuco/UFRPE

Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, CEP: 52171-900, Recife-PE

 

 

 

 

Resumo: Este estudo consistiu em avaliar um plano de ação em Educação Ambiental sobre o tema reciclagem de óleos e gorduras residuais e seu uso como matéria prima na produção de sabões. Os resultados apontaram uma boa participação dos estudantes e  sensibilização deles acerca do descarte dos OGR.

 

Palavras–chave: Óleo residual de fritura, educação ambiental, projeto didático.

 

 

 

 

Introdução

 

As atividades humanas causam muitos danos ao ambiente natural, estes impactos são provocados principalmente pelo descarte inadequado de resíduos, tornando-se um fator agravante que contribui para o aumento da poluição ambiental e compromete a qualidade dos recursos naturais e a sobrevivência dos seres vivos, inclusive do próprio homem. Assim como afirma Capra (2002), estamos esgotando nossos recursos naturais e reduzindo a biodiversidade do planeta, rompemos a própria teia da vida da qual depende o nosso bem estar, prejudicamos entre outras coisas os preciosos serviços ecossistêmicos que a natureza nos oferece. Corroborando com a mesma ideia Scarlato (2009) diz:

 

...tanto pela alta densidade de ocupação quanto pela sofisticação de seus hábitos, modernas populações produzem dejetos em tal quantidade que torna impossível para os sistemas naturais decompor esses refugos da civilização na velocidade necessária de torná-los inócuos e assim não comprometê-los. Como resultado, tais resíduos tornam os reservatórios naturais impróprios, sendo um dos maiores responsáveis pela poluição ambiental (SCARLATO, 2009, pág. 57).

 

Como exemplo disso, temos os óleos vegetais e gorduras animais residuais de cocção de alimentos, também denominado óleos e gorduras residuais (OGR), que geralmente são despejados inadequadamente nos ralos e no lixo, permitindo a proliferação de pragas urbanas e causando danos às redes de esgoto. Uma vez jogado na rede de esgoto, o OGR encarece o tratamento de resíduos em até 45%, e o que permanece nos rios provoca a impermeabilização dos leitos e terrenos adjacentes, o que contribui para que ocorram enchentes (MOHR e VERAS, 2007). Outro fator, é que o processo de decomposição dos OGR nestes ambientes, resulta na liberação do gás metano na atmosfera, altamente tóxico, levando ao aumento do aquecimento global (FREITAS, 2008). Segundo a Companhia de Saneamento de Pernambuco – COMPESA, os OGR se petrificam dentro das tubulações impedindo a passagem dos dejetos. Cerca de 70% dos serviços de manutenção nas redes de esgoto são provocados por este tipo de problema, que acarreta em obstruções, esgotos escorrendo nas vias e alagamentos nas ruas (Aesbe, 2016).

Com vistas a reduzir os impactos causados pelos OGR, propostas educacionais que visem o desenvolvimento de ações de conscientização quanto aos problemas do cotidiano e que estimulem a aquisição de competências, habilidades e atitudes, relacionadas com a preservação ambiental, são muito bem vindos e nessa perspectiva, este estudo pode contribuir.

A Política Nacional de Educação Ambiental, por meio da Lei no 9.795/99, afirma que todos têm direito à Educação Ambiental (EA), incumbindo ao Poder Público, nos termos dos art. 205 e 225 da Constituição Federal, definir políticas públicas que incorporem a dimensão ambiental. Esta mesma lei ainda nos informa que, a EA deve ser desenvolvida como prática educativa integrada, contínua e permanente, promovida em todos os níveis e modalidades de ensino formal ou não formal, envolvendo processos que promovam o engajamento da sociedade na conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente (BRASIL, 1999).

Layrargues (2004) afirma que a EA é uma prática educativa que busca desenvolver no educando uma mudança de valores e comportamentos, uma educação que vai além do processo de ensino e aprendizagem, abrangendo a compreensão da estrutura, funcionalismo e interação dos sistemas ecológicos e sociais, através da construção de sociedades sustentáveis, ou seja, ecologicamente prudentes, economicamente viáveis, socialmente justas, culturalmente diversas e politicamente atuantes.

Assim, a EA não surge como uma nova disciplina a ser vivenciada no ensino básico, mas também como uma temática possível e necessária que perpassa por todas as disciplinas, sendo trabalhada de forma articulada com os conteúdos ministrados durante as aulas e, neste sentido, a realização de projetos didáticos pode ser uma boa alternativa para trabalhar as questões ambientais na escola. Sob essa perspectiva, os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN (BRASIL, 1998) afirmam que a utilização de projetos se constitui em uma alternativa pedagógica promissora, pois organiza o trabalho didático ao contrapor-se à organização educacional tradicional, que está alicerçada nos conteúdos específicos, estabelecidos nos programas de cada disciplina do currículo escolar. Este documento recomenda que a escola trabalhe com atitudes, formação de valores, de habilidades e procedimentos, superando a divulgação de informações e definições, em que a questão ambiental deve ser trabalhada de forma contínua e sistemática, abrangente e integrada. Desta forma, os projetos de Educação Ambiental desenvolvidos nas instituições de ensino devem ser trabalhados de forma contextualizada, associando os conteúdos programáticos com aspectos tecnológicos e ambientais, integrando a aprendizagem das Ciências, com as questões problemáticas do meio em que estão inseridas, conforme sugerem os PCN:

 

... reconhecida a complexidade das Ciências Naturais e da Tecnologia, é preciso aproximá-las da compreensão do estudante, favorecendo seu processo pessoal de constituição do conhecimento científico e de outras capacidades necessárias à cidadania. Por meio de temas de trabalho, o processo de ensino e aprendizagem na área de Ciências Naturais focalizando o ambiente pode ser desenvolvido dentro de contextos social e culturalmente relevantes, que potencializam a aprendizagem significativa. Os temas devem ser flexíveis o suficiente para abrigar a curiosidade e as dúvidas dos estudantes, proporcionando a sistematização dos diferentes conteúdos e seu desenvolvimento histórico, conforme as características e necessidades das classes de alunos, nos diferentes ciclos. O interesse e a curiosidade dos estudantes pela natureza, pela Ciência, pela Tecnologia e pela realidade local e universal, conhecidos também pelos meios de comunicação, favorecem o envolvimento e o clima de interação que é preciso para que ocorra a aprendizagem (BRASIL, 1998, pág. 35).

Como proposta de uma temática que atende as orientações contidas nos PCN, temos a produção de sabão, que por sua vez, pode ser obtido a partir do OGR, dentre outras matérias primas. Considerada a mais simples produção tecnológica de reciclagem, por exemplo, o sabão de óleo reciclado produz menos espuma necessitando assim de menos água para enxaguar o local (DIÁRIO DE NATAL, 2007), implicando em uma maior economia dos recursos hídricos.

Pelo exposto, o referido trabalho tem como objetivo analisar como uma estratégia de ensino de caráter ambiental, com ações relacionadas a reciclagem do OGR e seu uso como matéria prima na produção de sabões a fim de promover a reflexão dos educandos e despertar o comportamento deles no sentido de promoção de medidas preventivas, contribuindo dessa forma para a manutenção do equilíbrio ambiental.

 

Produção de sabão a partir de OGR

 

De acordo com Rabelo e Ferreira (2008) a alternativa de reaproveitamento do óleo para fazer sabão tem sido considerada a mais simples produção tecnológica de reciclagem fazendo com que haja um ciclo de vida desse produto. Entre as tantas vantagens do sabão produzido a partir do óleo de cozinha, está a economia de água.  O sabão de óleo reciclado produz menos espuma necessitando assim de menos água para enxaguar o local.

Franco et al (2009) reforça a ideia quando destaca que uma das alternativas para minimizar o impacto ambiental provocado pelo descarte do óleo comestível é reaproveitar o óleo de cozinha para fazer sabão. Quanto mais o cidadão evitar o descarte do óleo no lixo comum, mais estará contribuindo para preservar o meio ambiente. Uma das soluções é entregar o óleo usado a um “catador” de material reciclável ou diretamente a associações que façam a reciclagem do produto.


Do ponto de vista químico, o sabão é um sal de ácido graxo, resultado da reação conhecida como saponificação (FRANCO et al, 2009), ou seja, uma interação química que ocorre entre um ácido graxo existente em óleos, como por exemplo, o óleo vegetal (líquidos) ou gorduras (sólidas) com uma base inorgânica forte, como por exemplo, o hidróxido de sódio ou potássio, sendo destinado à limpezas em geral (VERANI et al, 2000).

 

Figura 1. Reação genérica que descreve o processo de saponificação

(RABELO e FERREIRA, 2008).

 

De acordo com uma antiga lenda romana, a palavra saponificação tem a sua origem no Monte Sapo, onde eram realizados sacrifícios de animais. A chuva levava uma mistura de gordura animal derretida, com cinzas e barro para as margens do Rio Tibre. Essa mistura resultava numa borra (sabão). As mulheres descobriram que usando essa borra, as suas roupas ficavam mais limpas. Os romanos passaram a chamar essa mistura de sabão e à reação de obtenção do sabão de saponificação (RABELO e FEREIRA, 2008).

Segundo Verani et al (2008) as moléculas de sabão são anfipáticas, isto é, possuem uma porção polar solúvel em água (aquofílica) e uma cadeia apolar apta a dissolver-se em gordura lipofílica). Geralmente, sujeiras são ou contêm gordura e, desta forma, a porção lipofílica do sabão se dissolve nessas partículas de sujeira, formando agregados esféricos denominados micelas. A superfície da micela é formada pela porção polar da molécula e, por isso, solúvel em água, desta maneira, a parte apolar agrega-se às gorduras enquanto que a região polar da molécula é carreada pela água, permitindo assim a eficiência da limpeza.

Segundo Franco (2009) o sabão sendo um sal de ácido carboxílico de longa cadeia carbônica em sua estrutura molecular, é capaz de se solubilizar tanto em meios polares, como por exemplo, a água, figura 2, quanto em meios apolares, como por exemplo, as gorduras. Além disso, o sabão é um tensoativo, ou seja, reduz a tensão superficial da água fazendo com que ela "molhe melhor" as superfícies.

 


Figura 2.  Molécula do sabão.

(http://www.brasilescola.com/quimica/como-sabao-limpa.htm)

 

 

Metodologia

 

Sujeitos da pesquisa

O projeto foi desenvolvido com alunos do ensino fundamental II de uma escola da rede pública municipal, localizada na cidade do Cabo de Santo Agostinho, região metropolitana do Recife, distante 33 km da capital Pernambucana. Cada uma das cinco turmas participantes eram compostas por uma média de 40 alunos, totalizando 200 alunos. Estas turmas foram selecionadas por ter uma das autoras desse estudo como parte do quadro efetivo de professores, tendo desta forma maior acessibilidade aos participantes.

 

 

Desenvolvimento do Projeto Didático em Educação Ambiental

O tema foi abordado utilizando-se duas aulas de 50 min, uma vez por mês, durante um período de dez meses, de março a dezembro de 2011. As aulas foram realizadas com abordagem teórica e prática, buscando a interação e participação dos alunos nas atividades propostas (Quadro 1).

 

Quadro 1 - Plano de ação com o cronograma de atividades realizadas mês a mês na escola.

Meses

Ações

Objetivos

Março/2011

·         Questionário diagnóstico

·         Análise e interpretação da música:  A mancha.  Disponível em: http://letras. mus.br/lenine/ 1338098/

·         Coleta de óleo.

 

Analisar o comportamento dos estudantes com relação ao óleo de fritura produzido no ambiente doméstico

Sensibilizar os alunos e despertar o interesse sobre o tema.

Abril/2011

·         Questionário sobre o uso do OGR.

·         Coleta de óleo.

 

Avaliar o nível de conhecimento dos alunos a respeito do tema e identificar como o OGR é descartado nas residências.

Maio/2011

·         Entrega de panfleto informativo.

·         Coleta de óleo.

Divulgar o projeto e debater alguns conteúdos associados ao tema, tais como: sustentabilidade, reciclagem, consequências do descarte inadequado dos resíduos (poluição, enchentes, doenças, desequilíbrio dos ecossistemas).

Junho/2011

·         Fixação do ponto de coleta escolar

·         Coleta de óleo.

 

Aprender a armazenar e recolher o óleo adequadamente, depositando-o no ponto de coleta escolar.

Julho/2011

·         Conversa informal.

·         Coleta de óleo.

Reforçar as ações de recolhimento do óleo e avaliar o andamento do projeto.

Agosto/2011

·         Análise de vídeos:

Vídeo 1 - Reciclagem de óleo. Disponível em: 

http://www.youtube.com/watch?v=HbpPPhFNmuI

Vídeo 2 - Produção de Sabão. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=iQeJLsW99vw&feature=fvsr

·         Coleta de óleo.

 

Compreender a importância da reciclagem do OGR na obtenção de alguns produtos como sabão.

Setembro/2011

·         Conversa informal com os pais e responsáveis dos alunos.

·         Coleta de óleo.

Esclarecer as ações do projeto e incentivar a participação.

Outubro/ 2011

·         Experimento: Produção de sabão.

·         Coleta de óleo.

 

Vivenciar na prática a reciclagem do OGR por meio da fabricação de sabão.

Novembro/ 2011

·         Coleta de óleo.

Recolher o óleo adequadamente depositando-o no ponto de coleta escolar e enviá-lo para a reciclagem.

Dezembro/ 2011

·         Coleta de óleo.

Recolher o óleo adequadamente depositando-o no ponto de coleta escolar e enviá-lo para a reciclagem.

 

As atividades expostas no quadro 1 foram realizadas durante as aulas de ciências no turno e horário normal das turmas participantes. Esse horário foi pré-definido pela Gerência de Ensino da Secretaria Municipal de Educação sendo organizado pela escola de acordo com a disponibilidade dos professores.

É importante esclarecer que, no ensino fundamental II, a disciplina de ciências conta com quatro aulas semanais, deste modo, a realização do projeto utilizando-se, apenas, de duas aulas mensais não comprometeu a vivência dos conteúdos programáticos, isto porque, buscou-se sempre, durante a realização do projeto, a integração e relação do tema com os conteúdos vivenciados na disciplina de ciências. Neste caso, o tema da reciclagem do OGR foi trabalhado de forma correlacionada e contextualizada, complementando os assuntos ministrados e servindo como ações voltadas para a melhoria ambiental.

Para a realização do projeto foram utilizados recursos didáticos, questionários, panfletos informativos, cartazes, músicas e vídeos. Após a exposição do tema iniciava-se uma conversa informal no sentido de instigar os alunos para que eles questionassem e expressassem seus conhecimentos prévios e experiências cotidianas.

Optamos neste estudo por não detalhar todas as ações realizadas, por isso fizemos um recorte da pesquisa e elencamos os instrumentos e procedimentos utilizados em quatro dos diversos momentos vivenciados. As atividades selecionadas foram: questionário diagnóstico, entrega do panfleto informativo, experimento envolvendo a produção de sabão e fixação do ponto de coleta. Estas atividades estão detalhadas a seguir:

 

a) Questionário diagnóstico: foi elaborado um questionário com questões abertas que envolveu: (i) A obtenção de dados de identificação, importante para reconhecimento do público alvo; (ii) Coleta de informações referentes ao uso e a destinação do OGR; (iii) Referiu-se aos conhecimentos prévios dos alunos em relação ao tema trabalhado. As questões são apresentadas a seguir: 1) Quantas garrafas de óleo são gastas em sua casa durante o mês? 2) Na sua casa o que é feito com o óleo de fritura após o uso? Explique. 3) Você acha que o óleo de fritura despejado no ambiente pode causar algum tipo de poluição? Explique. 4) Na sua opinião, como óleo de fritura deve ser descartado? 5) Você acha que o óleo de fritura após o uso possui alguma utilidade? Durante a aplicação do questionário determinou-se um período de 30 minutos para que os alunos respondessem as questões e entregassem os questionários.

 

b) Panfleto informativo: Um panfleto (Figura 3) foi elaborado e confeccionado com o intuito de divulgar o projeto e reforçar as ideias da reciclagem do OGR, permitindo assim a sensibilização e esclarecimento sobre o tema. Foi entregue durante a aula para cada aluno, em seguida, foi realizada uma leitura coletiva. Cada tópico foi explicado de modo que os alunos repassassem as informações neles contidos para os integrantes de suas residências a fim de mobilizar a participação de todos.

 


Figura 3. Panfleto informativo

 

 

c) Fixação do ponto de coleta: foi estabelecido na escola um local de coleta do óleo de fritura. Incentivou-se a participação dos alunos para recolherem e armazenarem em garrafas plásticas óleo utilizado em suas residências (Figura 4). O ponto de coleta foi colocado no pátio da escola, em uma área visível e de grande circulação, seguida de uma comunicação oral em todas as turmas salientando a importância do projeto. O óleo depositado no coletor era semanalmente transferido para uma área reservada aos professores.

ponto de coleta.jpg

Figura 4. Ponto de coleta.

 

 

d) Experimento: produção de sabão: a aula foi iniciada através de uma exposição oral abordando a origem e classificação de óleos vegetais. Discutiu-se quanto às formas de obtenção do sabão e matérias primas utilizadas.  Em seguida, iniciou-se o experimento de acordo com o procedimento exposto a seguir:

- Medir 75 g de soda cáustica, NaOH; transferir a soda para o bécker de 100 mL; acrescentar 75 mL de água até dissolver completamente a soda e reservar; filtrar o óleo utilizando a peneira; medir com o bécker 250 mL do óleo filtrado; colocar na bacia 250 mL do óleo filtrado, 75 mL da soda dissolvida em água e uma tampinha da essência. Mexer a mistura por 2 min; despejar a mistura na fôrma para endurecer; reservar em local seco e a sombra; aguardar por uma semana para utilizar o sabão.

- Logo após a atividade experimental os estudantes responderam às seguintes questões de múltipla escolha: 1) A reação de produção de sabão é: (a) endotérmica; b) esterificação; c) saponificação; d) não sei. 2) Os cuidados que devemos ter na produção de sabão são: (a) usar luvas e óculos de proteção; (b) não usar bata; (c) não requer cuidados; (d) não sei. 3) Além do óleo de fritura outro reagente utilizado para produzir sabão é: (a) ácido clorídrico; (b) bicarbonato de sódio; (c) soda cáustica (d) não sei. 4) Além do óleo de fritura outra matéria prima utilizada para produzir sabão é: (a) óleo de coco; (b) óleo de motor; (c) etanol; (d) não sei.

 

 

Resultados e discussão

 

Questionário diagnóstico

 

O questionário diagnóstico foi aplicado no segundo encontro em cada turma do ensino fundamental. Responderam às questões 142 estudantes.

            Quando questionados sobre a utilização mensal de óleos vegetais, a quantidade de três garrafas, em média, teve um maior percentual de respostas dos estudantes (Figura 5), confirmando assim a grande demanda de resíduo orgânico produzido nas residências.

 


Figura 5. Percentual da quantidade de óleo vegetal usado em um mês nas residências dos alunos.

 

            Quanto à forma de descarte do óleo nas residências foi observado que o maior percentual dos alunos descarta o óleo usado na pia ou no lixo (Figura 6), o que demonstra o desconhecimento deles quanto ao procedimento correto de descarte do óleo e as consequências do despejo de óleo na pia e no lixo para o meio ambiente. Nesta mesma análise, apenas 7,8% dos alunos, realizou a destinação correta deste resíduo, ou seja, enviando-o para a reciclagem. Quanto ao desconhecimento do destino desse óleo, como era de se esperar pelos dados do público alvo, esta parcela apresentou um índice elevado, 32,2% dos alunos desconhece a destinação dada ao óleo de fritura.


Figura 6. Percentual dos locais de descarte do óleo usado nas residências pelos alunos entrevistados.

 

            Quando os estudantes foram questionados se o óleo despejado inadequadamente no meio ambiente causava algum tipo de poluição, 84,2% dos entrevistados disseram ter ciência, enquanto 3,5% afirmaram que isso não trazia nenhum prejuízo. 12,3% disseram não saber. Em relação aos conhecimentos prévios dos alunos (3a, 4a e 5a questões) no que diz respeito às consequências geradas pelo descarte inadequado do óleo vegetal residual, o maior percentual de respostas evidenciou que os educandos acreditavam que este resíduo produziria algum tipo de desequilíbrio ao ambiente. Apesar de um público de quase 85% saber dos danos causados com o descarte inapropriado dos OGR, ao responder a 4ª questão mais de 50% desses estudantes não soube como melhor destiná-los, quase 30% acredita que despejar no lixo, pia e solo ainda é a melhor opção e apenas 20% considera que o melhor destino dado ao OGR seja a reciclagem. Dos 20% dos entrevistados que reconhecem a necessidade da reciclagem do OGR quase 8% deles já o fazem. Quando questionados se o óleo de fritura, uma vez usado, apresentaria alguma outra utilidade (5ª questão), 68,5% dos alunos responderam que o óleo usado poderia ser útil, enquanto que 20,3% desconhecem a utilidade. Este fato evidencia a necessidade de políticas públicas e de campanhas educativas em Pernambuco que estimulem a população a destinarem corretamente esses resíduos.

 

 

Coleta de óleo na escola

 

Como resposta atitudinal dos alunos frente ao projeto desenvolvido de Educação Ambiental no que tange a coleta de OGR, registrou-se o volume desse produto doado mês a mês por um período de dez meses (Figura 7). Percebeu-se um aumento da quantidade de óleo doado com o passar dos meses, sendo o maior período de doações realizado a partir de maio, quando a divulgação do projeto foi efetuada nas turmas através do panfleto informativo (Figura 3) e quando houve a fixação do banner no pátio da escola (Figura 4). Porém nos meses de julho e dezembro registrou-se diminuição nas doações, como esperado, pois nesses meses os estudantes estavam em férias escolares.

 


Figura 7. Quantidade de óleo coletado na escola.

 

O óleo de fritura coletado, durante o período de doação pelos estudantes na escola, foi previamente selecionado. Os que se apresentavam como óleo foi encaminhado ao Laboratório de Óleo e Biodiesel – LOB, (2016) de uma Instituição Federal de Ensino Superior, que por sua vez encaminhou o óleo para a Usina Experimental de Biodiesel de Caetés, localizada no agreste de PE. O OGR de menor qualidade, geralmente com aspecto sólido foi doado ao Programa Socioambiental Mundo Limpo Vida Melhor, realizado pela ASA – Indústria e Comércio Ltda em parceria com a Companhia Pernambucana de Saneamento – COMPESA. Este programa tem como objetivo coletar e reciclar óleo de fritura e destiná-lo a produção de sabão, protegendo o meio ambiente e atuando de forma social, tendo como entidade beneficiada a Fundação Alice Figueira de apoio ao Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira - IMIP.

 

 

Realização do experimento de produção de sabão

 

O experimento de produção do sabão possibilitou uma vivência instigante despertando o interesse e a curiosidade dos alunos, mostrando a aplicabilidade concreta da reciclagem dos óleos residuais, trabalhando também as ideias de sustentabilidade.

Os procedimentos prévios para realização do experimento foram muito importantes, pois minimizaram a ansiedade e agitação dos alunos, principalmente do ensino fundamental, conhecidos na escola como muito ativos. Assim antes do experimento a bancada foi preparada com todos os materiais que seriam utilizados na atividade experimental (Figura 8) e foi informado aos alunos os cuidados necessários quanto ao manuseio de produtos químicos bem como ao comportamento e atitudes durante a realização.

 

experiemnto óleo.jpg

Figura 8. Materiais e reagentes utilizados na produção do sabão a partir do óleo de cozinha.

 

            O debate ocorrido ao final do experimento foi bastante participativo e possibilitou o reforço das etapas relacionadas à atividade experimental que não foram bem compreendidas. A atividade foi bastante válida, produzindo repercussões positivas na escola.

            Quanto ao questionário referente ao experimento, as respostas dos estudantes mostraram que, na questão 1, a maioria deles, 78%, respondeu a letra C, ou seja, a reação de formação de sabão é uma reação de saponificação. Apenas 16% responderam de forma incorreta.

            Em relação a segunda questão, 93%, dos alunos respondeu corretamente à pergunta, ou seja, é importante utilizar luvas e óculos de proteção durante o experimento. A terceira questão também apresentou um elevado índice de acertos, 87,3%, ou seja, o sabão também pode ser obtido a partir da soda cáustica, demonstrando que os alunos estavam atentos ao que foi abordado durante a atividade experimental. Os resultados da última questão, no entanto, mostraram que os alunos apresentaram dificuldade em respondê-la. Apenas 17,5%, indicaram corretamente o óleo de coco como uma possível fonte de matéria prima para obtenção de sabão, sendo que os 72,5% dos alunos restantes não conseguiu responder corretamente a essa questão.

 

4. Considerações finais

A escola onde se realizou o Projeto Didático em Educação Ambiental apoia e permite a realização de projetos que venham a colaborar para a melhoria da qualidade do ensino e propiciar a construção do conhecimento de uma forma mais dinâmica, integrada e participativa.

O projeto didático realizado apresentou resultados positivos, havendo uma boa repercussão na escola e um significativo percentual de participação e engajamento dos alunos. Durante a execução das ações, eles puderam compreender e vivenciar na prática as ideias de sustentabilidade, por meio da temática da reciclagem do OGR, e desta maneira foi possível também estimular o fomento das informações sobre o tema entre os familiares dos educandos e comunidade em que estão inseridos.

A aplicação do questionário diagnóstico foi uma estratégia importante que evidenciou o desconhecimento dos alunos em relação a temática do descarte adequado do OGR e, desta maneira, percebemos a necessidade de trabalhar o tema com maior ênfase nas salas de aula. Esta estratégia instigou aos alunos e provocou a curiosidade dos mesmos em relação ao assunto, levando-os a refletir sobre questões que eram despercebidas ou ignoradas no cotidiano deles.

A entrega do panfleto informativo e da fixação do ponto de coleta do OGR, permitiu uma maior abrangência do projeto. Especificamente, o ponto de coleta por estar localizado em área de grande circulação (pátio da escola) promoveu o reforço das informações diariamente, estimulando espontaneamente indagações e conversas entre os alunos, bem como, incentivando-os para colaborarem e recolherem o óleo depositando adequadamente no coletor.

A produção do sabão por meio de uma atividade experimental permitiu abordar o aspecto macroscópico do conhecimento relacionado a um processo ou uma reação química, por meio da visualização da formação do sabão a partir do tratamento com produtos químicos do óleo de cozinha.

A Educação Ambiental promovida por meio da temática da reciclagem do óleo de fritura possibilitou a vivência das questões ambientais na prática, contribuiu para a sensibilização ambiental, trazendo para a sala de aula o debate de um problema que atinge toda sociedade, que até então, era desconhecido por muitos discentes na escola onde o trabalho foi realizado. Assim, permitiu a reflexão e o desenvolvimento da criticidade dos alunos, como também, estimulou mudanças atitudinais, incentivando o exercício da cidadania ambiental na compreensão da responsabilidade individual em cuidar do ambiente do qual faz parte, e, promoveu a construção de valores que, aos poucos, foram sendo assimilados e apreendidos.

 

Referências

 

AESBE. Compesa coleta mais de mil toneladas de óleo de cozinha.

Disponível em: . Acesso em julho de 2016.

 

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares Nacionais: Ciências Naturais. Brasília: MEC, 1998.

 

_______. Política Nacional de Educação Ambiental - Lei no 9.795. Brasília, 1999.

CAPRA, F. As conexões ocultas: ciência para uma vida sustentável. São Paulo: Cultrix, 2002.

 

COSTA NETO, P. R.; ROSSI, L. F. S.; ZAGONEL, G. F.; RAMOS, L. P. Produção de biocombustível alternativo ao óleo diesel através da transesterificação de óleo de soja usado em frituras. Química Nova, v. 23, n.4, p.531-537, 2000.

DIÁRIO DE NATAL. Sabão pode ser feito a partir do óleo. Cidades Pág.13. Natal-RN. 09 de dezembro de 2007. Jornal impresso.

HOEKMAN, S.K.; BROCH, A.; ROBBINS, C.; CENICEROS, E.; NATARAJAN, M. Review of biodiesel composition properties and specification. Renewable and sustainable energy reviews, v. 16, p. 143-169, 2012.

 

FREITAS, N. S. Coleta e reciclagem de óleo de fritura: saiba como contribuir com o meio ambiente e ainda ganhar em troca. Belo Horizonte: Recoleo, 2008.

Disponível em: . Acesso em julho de 2016.

 

LABORATÓRIO DE ÓLEO E BIODIESEL – LOB. Óleo de fritura - Faça sua doação ajude na produção do biodiesel e contribua para a preservação do meio ambiente

Disponível em: <http://lob-ufrpe. blogspot.com/>. Acesso em julho de 2016.

 

LAM, M.K; LEE, K.T.; MOHAMED, A.R. Homogeneous, heterogeneous and enzymatic catalysis for transesterification of high free fatty acid oil (waste cooking oil) to biodiesel: A review. Biotechnology Advances, v. 28, p. 500-518, 2010.

 

LAYRARGUES, P. P. (Org.). Identidades da educação ambiental brasileira. Brasília: Ministério do Meio ambiente, 2004.

Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/sdi/ea/og/pog/arqs/livro_ieab.pdf. > Acesso em julho de 2016.

 

RINALDI, R.; GARCIA, C.; MARCINIUK, L. L.; ROSSI, A. V.; SCHUCHARDT, U.  Síntese de biodiesel: uma proposta contextualizada de experimento para laboratório de química geral. Química Nova, v.30, n.5, p.1374-1380, 2007.

 

MOHR, A. L. B e Veras, M. Reciclagem de óleo de fritura: uma solução para o meio ambiente?, 2007.

Disponível em: <http://www.ufrgs.br/ensinodareportagem/meiob/oleofritura.html. > Acesso em julho 2016.

 

SANTOS, A. P. B. e PINTO, A. C. Biodiesel: uma alternativa de combustível limpo. Química Nova na Escola, v.31, n.1, p.58-62, 2009.

 

SCARLATO, F. C. Do nicho ao lixo: ambiente, sociedade e educação. 18º ed. São Paulo: Atual, 2009.

SILVA FILHO, J. B.; ASSIS, L. M.; BASTOS, A. M. B. Produção de biodíesel etílico de óleos e Gorduras residuais (OGR) em reator Químico de baixo custo. In: Anais do VI Congresso Nacional de Engenharia Mecânica.18 a 21 de agosto, Campina Grande-PB, 2010.

Disponível em: <http://www.abcm.org.br/anais/conem/2010/PDF/CON10-2174.pdf.> Acesso em julho de 2016

 

TAN, K. T.; LEE, K.T.; MOHAMED, A.R. Potential of waste palm cooking oil for catalyst-free biodiesel production. Energy, v. 36, p. 2085-2088, 2011.

 

ZAGO NETO, O.G. e DEL PINO, J.C. Trabalhando a química dos sabões e detergentes.

Disponível em: Acesso em julho de 2016.

 

Ilustrações: Silvana Santos