Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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11/09/2016 (Nº 57) RIO JUARY: VIDA E MORTE
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RIO JUARY: VIDA E MORTE

 

Lucimar Vieira França¹ : Graduada em Pedagogia pela UFPA, Mestrandaem Ciência da Educação pela Universidade World Einstein University . Marcio José S. Mariano² : Graduado em Pedagogia pela Faculdade Evangélica Cristo Rei, especialista em Docência do Ensino Superior gestão escolar pela faculdade Esea e Mestrando em Ciência da Educação pela Universidade World Einstein University.Sangela Lima Rodrigues³: Graduada em Letras pela faculdade., Mestranda em Ciência da Educação pela Universidade World Einstein University.Sonia Teixeira Pimenta4: Graduada em Pedagogia pela faculdade Flated, especialista em gestão escolar pela faculdade Faiara, e em psicopedagogia pela Faculdade Fadiree  Mestranda em Ciência da Educação pela Universidade World Einstein University.

 

RESUMO

O objetivo deste trabalho é mostrar a realidade do percurso do rio Juary, especificamente a região do baixo Araguaxin, em Ourilândia do Norte, Pará, dominada pelos garimpos e a poluição antrópica oriundas destas atividades. Percorrer  à história deste rio, mostrando sua realidade atual, onde a atividade garimpeiro vem dia a dia seifando sua natureza exuberante e à vida que habita no mesmo, é o objetivo principal deste trabalho, que para sua elaboração contou com pesquisa de campo, pesquisa bibliográfica e conversa informal com moradores mais antigos da região. Sendo os mesmos sabedores da realidade atual, se compadecem do rio que definha a olhos visto, porém, impotentes,sendo alguns contra e outros dependentes da renda financeira que a atividade extrativista de ouro traz a região. Este trabalho se faz de relevância social mediante a grandeza da destruição tanto da vida aquática quanto da atividade recreativa do rioJuary, sendo estas dependentes das águas limpas e da natureza exuberante que o mesmo apresentava, e consecutivamente proporcionavam aos moradores e forasteiros que vinha das regiões no entorno para recrearem e pescarem nas águas limpas e tranquilas deste gigante, que impotente mediante a fúria da caça ao ouro teve suas águas, leitos e matas ciliares destruídas.

 

PALAVRAS CHAVES: Rio Juary. Garimpo. Destruição.

 

 

 

 

 

 

INTRODUÇÃO

            Falar sobre a devastação incontrolável da natureza e os efeitos avassaladores que o ser humano vem causando ao meio ambiente já se tornou algo comum em todo o mundo. Os gritos de socorro que o planeta Terra vem ecoando ao longo dos anos devido às práticas de extração incontrolável e desordenada (ilegal) de seus recursos naturais são horripilantes e estarrecedores. Cruzar os braços, e assistir sentado aos impactos ambientais e, esses, em quantidades cada vez mais constantes e com poderes de destruição cada vez maiores, parece ser a única resposta que tem o único ser vivo capaz de, com toda sua “racionalidade”, destruir o meio em que vive. No entanto, torna-se necessário enfatizar a importância de atitudes drásticas serem tomadas imediatamente em relação a esse tipo de prática irresponsável que, infelizmente, ainda tem quem a defenda, por ser, segundo seus defensores omissos, a forma de sustentar suas famílias. Embora seja fato que não há como sobreviver se o planeta morrer, isso parece virar lenda quando o que se está em jogo são interesses gananciosos pelo ouro, madeira (árvores centenárias), florestas que abrigam inúmeras espécies de animais, matas ciliares que antes protegiam as margens dos rios que, em sua maioria, hoje têm aspectos semelhantes à de pequenos igarapés ou afluentes. Um exemplo é o que podemos chamar de“morte do Rio Juary”, história que veremos a partir de agora.

 

 POR AQUI EU TE VI PASSAR, E SOBRE TI EU TAMBÉM PASSEI.

            O Rio Juary tem a nascente de sua foz na região denominada de Araguaxim,  município de Ourilândia do Norte, região sul do Pará. Ele é responsável pela divisa intermunicipal entre os municípios de Ourilândia do Norte e Bannach, municípios esses que têm suas sedes distantes aproximadamente 160 km uma da outra.

 

 

 

 

 

 

 

Mapa de uma parte do percurso do rio Juary.

Fonte :Googlesmaps ( 2016)

Assim como os demais rios da região amazônica, esse também, por sua vez, sempre foi usado como meio de transporte, manancial de água limpa e potável para saciar a sede de muitas famílias e animais, além de oferecer muitas variedades de peixes, como alimento. Ao longo de seu percurso o Rio Juary sempre esbanjou formosura esplêndida em suas águas limpas e transparentes que serviram de abrigo para inúmeras espécies vivas da nossa fauna e flora terrestre, aquática e especialmente da região amazônica do Brasil.         Em meio a sua vegetação típica da região, o Juary, como é chamado por todos que o conhecem, vai agregando em seu leito os pequenos igarapés que de seus lugares vão saindo a sua procura, como se nele confiassem de entregar com total segurança toda sua água, toda sua existência.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O rio Juary antes da degradação, águas limpas e tranquilas.

Fonte: Os autores (2016)

Depois de “dar carona” em seu leito a todos os pequeninos de sua espécie (igarapés e afluentes) juntamente com seus habitantes, o Juary segue seu destino até encontrar-se com outro considerável rio da região: o Rio Trairão. Agora, bem mais fortes, os dois unidos, tornando-se um só, seguindo seu curso a procura do Rio Fresco que, mais adiante se encontrará com o gigante Rio Xingu.

 NO MEIO DO CAMINHO HAVIA UMA PEDRA

            Quem é que nunca ouviu dizer de alguém,ou que nunca tenha lido algo dizendo: “Faça como as águas que ao se depararem com uma pedra, ao invés de travar uma batalha de frente com ela, a contorna, deixando-a para trás.”? Pois é! Essa história muda, e não tem um final feliz, quando essa pedra chama-se homem, ser humano, pessoa, gente.Por infelicidade do Juary, lá estava ela, a pedra homem que, com toda sua dureza não se esquivou, em nenhum momento em obstruir toda e qualquer chance que o rio pudesse ter para contorna-lo e ir embora seguindo seu curso.

 

QUEM TE VIU E QUEM HOJE TE VÊ, JUARY.

            Não se trata de dois rios diferentes nas imagens aqui presentes. Pelo contrário! Tanto as imagens como a história em relato referem-se ao mesmo Rio Juary. A diferença está no antes e no depois da ação avassaladora do homem que, movido por seus interesses gananciosos não se limita a uma simples agressão ao rio, mas é capaz de fazer sumir, quase que por inteiro toda a sua água, deixando seu leito desprovido de qualquer manifestação de vida.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Águas e leito do rio Juary, depois da atividade garimpeira.

Fonte: Os autores (2016).

            A presença dos garimpeiros na região simplesmente assassina paulatinamente todos os dias o Rio Juary que, sem mais nenhuma força para brigar, sem nenhuma vida se movendo dentro de si, parece preferir se aquietar ali mesmo, esperando mais uma dose do veneno humano.Os efeitos nele causados pelo garimpo é algo revoltante e ao mesmo tempo assustador. Trata-se da morte de um importante rio da região, morte essa consentida e assistida de perto pelos fazendeiros proprietários das terras por onde o Juary passa, e pelas autoridades “competentes”. Porém, é necessário questionar se a “competência” dessas autoridades os permite enxergar que a morte de um rio é a morte de todos a sua volta?

 


Máquina nas margens do rio Juary, destruindo a matas ciliar.

Fonte: Os autores. (2016)

 

HOMEM: PROTETOR OU DESTRUÍDOR ?

            Somos sabedores de que entre todas as espécies animais existentes e extintas o “animal”  homem, é o único racional, pensante, capaz de transformar a sim e aos seus semelhantes.

            Esta transformação acima citada deveria ser transformação que viessem a contribuir para a preservação da sua espécies e das demais que vivam no seu entorno, porém o que vimos e vivemos na região  banhada pelas águas do Rio Juary é o oposto do esperando ao ser racional homem. O rio juary encontra-se submerso em um lamaçal de poluição causada pelo moradores deo seu entorno e forasteiro que chegam para poluir, desmatar e acabar com este que também é fonte de vida para moradores humanos e não humanos da região.

 

POLUIÇÃO PELO HOMEM

            De acordo com Luiz (2010) antrópico e um termo usado em ecologia que se refere a tudo aquilo que resulta da atuação humana, nas águas agora paradas e definhadas do rio Juary, vimos claramente o resultado desta ação. Quando o ser racional Homem, polui, desmata, destrói o leito dos rios, retira as matas ciliares, deixa seu lixo doméstico nas beiras e nas praias está poluindo e destruindo a natureza, sendo isto denominado de poluição antrópica.

 

GARIMPO : O GRANDE VILÃO

            A região banhada pelo rio Juary, sempre tentou escondeu do ser humano sua riqueza, pois sabia que esta era sua destruição, sob seu leito e em suas encostas o mesmo abriga-va o veneno mortal para si mesmo, o ouro, minério ambicionado por muitos, e de grande valor comercial. O garimpo no leito do rio não é novo, o Juary em décadas passadas (1970 e 1980 ) já teve seu leito ferido pelo garimpo. Porém o que se vê na atualidade é muito mais do que a retirada do tão ambicionado minério, é a ganancia do Homem se sobrepondo a preservação da sua espécie e de muitas do reino animal e vegetal.


Vista do rio Juary, com suas águas poluídas.

Fonte: Os autores (2016).

            Percebe-se a atual realidade deste pequeno grande rio, aqui a realidade hoje deste manancial de lama e poluição, o que antes era vida, agora virou morte, morte de toda a espécie viva que habitava seu leito, suas águas e suas atuais barrentas margens.


 

 


Percurso do rio, com águas poluídas e impróprias para uso humano.

Fonte: Os autores (2016).

            As imagens abaixo nos dão uma verdadeira dimensão da mudança que este lutador vem passando, antes suas águas limpas, usadas pra a sobrevivência de inúmeras espécies agora agoniza pedindo socorro.    


Rio Juary antes da atividade garimpeira na região.

Fonte: Os autores (2016).

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Peixes em uma pescaria familiar no rio Juary. Variadas espécies de pescados eram fonte de alimento a população local.

Fonte: Os autores (2016).

 

 MATAS CILIARES: ESSENCIAL

             As matas ciliares, bem exemplificada na foto abaixo tem uma função primordial na proteção dos rios. O rio Juary apresentava grandes áreas de matas ciliares nativas e preservadas por seus proprietários, porém, com o advento do garimpo a maioria destas foram exterminadas por grandes máquinas que manipuladas por seu donos destruíram sua vegetação ciliar, trazendo para a região o desmoronamento e o assoreamento das margens do Juary.

            De acordo com DURIGAN (1999), àimportância da existência de florestas ciliares ao longo dos rios, ao redor de lagos e reservatórios, fundamenta-se no amplo espectro de benefícios que este tipo de vegetação traz ao ecossistema, exercendo função protetora sobre os recursos naturais bióticos e/ou abióticos. (DURIGAN; SILVEIRA, 1999)

 

CONSCIENTIZAÇÃO: SERÁ?

            Na atualidade um assunto amplamente discutido em todos os setores da sociedade é a preservação ambiental e a importância da conscientização da população deste assunto.

            Conscientizar quem? Onde? Quando?

            É conhecedor de todos a real situação da natureza de uma forma geral, e para a região banhada pelas aguas do rio Juary, preservar é continuar a vida, dos rios, ( citamos aqui dos rios , pois o rio Juary desemboca em outros rios) dos habitantes que neste rio residem, é a continuação das tão merecidas férias de veraneio, dos banhos em família, dos acampamentos. Se preservado é a continuação da vida, que segue, lenta e calma como suas águas antes puras e cristalinas.

            A falta de consciência ecológica se faz presente nos forasteiros e não forasteiros que do rio impiedosamente retiram diariamente o seu bem mais precioso, a vida. Para estes “ destruidores” da natureza e da vida o rio somente significa riqueza, prosperidade, ouro, dinheiro.

            Conscientizar a quem? De que mesmo? Se a população que do rio necessitam para sobreviver, recrear, matar a sede de sua família e de seu rebanho,  são impotentes perto da gigantesca destruição a que veem diariamente o rio Juary ser subjulgado.

            Será que ainda podemos falar em preservação? Consciência ecológica, mediante tão devastadora realidade?

Máquinas garimpando no rio Juary.

Fonte: Os autores. (2016)

 

 CONSIDERAÇOES FINAIS

            Falar de um rio que faz parte da trajetória de uma região, de uma população, responsável por um ecossistema gigantesco, a qual somos parte integrante, é fácil , porém nos faz refletir sobre as ações do Homem mediante aquilo que ele tem de mais relevante que é a vida.

             O rio aqui descrito, nasce em sua foz puro, limpo, cristalino, pronto para saciar a sede e fome de toda uma cadeia alimentar em que nós somos a cabeça, e acima disto os únicos seres  racionais desta vasta história. E é pela mão de quem deveria ser seu bem feitor, que o rio Juary está sendo destruído. O garimpo clandestino nele existente atualmente é somente o resultado final de uma história de desmatamento e mal uso do solo e das águas do rio aqui descrito.

            É visível ao percorrer suas áreas de matas ciliares a grande extensão desmatada, poluída pelo homem, mal usada e administrada por aquele que deveria ser o seu defensor, pois somos dependentes da terra e da água para sobrevivermos e vivermos.

            O garimpo amplamente discutido acima é somente mais uma das ações destrutivas praticadas ao longo do percurso deste rio, porém o resultado do garimpo é visível para todos, a poluição da água, a morte da vida aquática existente no mesmo, as doenças de pele em quem se banha nas águas poluídas do rio Juary é uma realidade visível aos olhos de todos.

            O preocupante em tudo isto é que a população capitalista que vive no seu entorno assiste a tudo, parados inertes, embevecidos pelo brilho do ouro retirado de seus barrancos e leitos, e assistem a morte do Juary, como se fosse um acontecimento banal, normal, talvez pensando que como nos grandes sucessos das mídias televisíveis, ao desligar a televisão tudo volte ao normal. Triste ilusão.

 

REFERENCIAS

 

DURIGAN, G.; SILVEIRA, E. R. da. Recomposição de mata ciliar em domínio de cerrado, Assis, SP. ScientiaFlorestalis, São Paulo, n. 56, p. 135-144, dez. 1999.

AURÉLIO, Buarque Holanda Ferreira, Minidicionário da Língua Portuguesa, 1910, 1989.

ART, W. H. Dicionário de ecologia e ciências ambientais. São Paulo: UNESP/Melhoramentos, 1998. 583p.

DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: princípios e práticas. 9a ed. São Paulo.  Gaia, 2004.

http://www.dicionarioinformal.com.br/ < acesso em 16/06/2016.

 

Ilustrações: Silvana Santos