Não há nenhuma árvore que o vento não tenha sacudido - Provérbio hindu
ISSN 1678-0701 · Volume XXIII, Número 93 · Dezembro/2025-Fevereiro/2026
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COP30 Especial
08/12/2025 (Nº 93) COP30 AMPLIA VOZ E PARTICIPAÇÃO DE CRIANÇAS NA AGENDA CLIMÁTICA
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COP30 AMPLIA VOZ E PARTICIPAÇÃO DE CRIANÇAS NA AGENDA CLIMÁTICA

Diálogos, compromissos e projetos apresentados em Belém reforçam a centralidade das crianças nas decisões globais sobre o clima

Published 21/11/2025

Foto: Divulgação | Alana

Em Belém, durante a COP30, crianças e adolescentes deixaram de ser apenas público impactado pela crise climática para ocupar o centro das discussões que moldam o futuro do planeta. Da realização de um diálogo intergeracional inédito à assinatura de uma declaração nacional voltada à infância, passando pela mobilização de jovens representantes dos seis biomas brasileiros, a conferência reuniu vozes, saberes e compromissos que recolocam a proteção e a participação infantojuvenil no eixo das decisões climáticas globais.

No dia 17 de novembro, o Alana e a Presidência da COP30 conduziram o Diálogo Intergeracional de Alto Nível sobre Crianças e Clima, na Sala 2 da Zona Azul – espaço nobre da conferência. O encontro reuniu crianças, adolescentes, autoridades e representantes de organizações internacionais para fomentar compreensão mútua, troca de saberes e busca conjunta por soluções aos desafios que atravessam todas as gerações — especialmente a crise climática.

Participaram do encontro Ana Toni, diretora executiva da COP30; Marcele Oliveira, Campeã da Juventude da COP30; Mary Robinson, chair do The Elders e cofundadora do Project Dandelion; Ana Lucia Villela, presidente do Alana; Hindou Oumarou, chair do International Indigenous Peoples Forum on Climate Change; além de crianças e adolescentes representantes do UNICEF, do Plant for the Planet e do Prêmio Criativos Escola + Natureza, do Instituto Alana. O diálogo buscou incentivar decisões mais inclusivas e sensíveis às necessidades e direitos das crianças.

Segundo JP Amaral, gerente de Natureza do Alana, falou sobre a importância desse espaço intergeracional de conversa, com abertura à escuta das infâncias:: “A relevância desse formato é evidenciar que as respostas para a crise climática nascem justamente do encontro entre gerações. É uma metodologia simples, mas extremamente potente, para garantir a participação real das crianças, além de garantir que elas sejam ouvidas e colocadas no centro das negociações climáticas”.

Foto: Ricardoricardo618, CC BY-SA 3.0 | Wikimedia Commons

Um marco da participação infantil na COP30

O encontro foi considerado histórico. Crianças participaram não só como ouvintes, mas como protagonistas desde a preparação até o momento de perguntas e respostas com especialistas e lideranças. A diversidade também esteve presente por meio de crianças indígenas, quilombolas e estudantes envolvidos em projetos tecnológicos, ambientais e culturais em seus territórios — refletindo visões plurais sobre natureza, risco, proteção e pertencimento.

As falas revelaram uma mudança geracional profunda. Para muitas dessas crianças, a natureza se tornou espaço de ameaça, e não apenas de brincadeiras, memórias afetivas ou contemplação. Mesmo em regiões cercadas por florestas, os impactos climáticos já fazem parte de suas vivências. Em resposta a esse cenário, a frase de Mary Robinson, “Você nunca é muito jovem para liderar, nem muito velho para aprender”, sintetizou o espírito colaborativo e transformador desse espaço de troca.

Ana Lucia Villela, presidente do Alana, reforçou o papel da educação como base para respostas climáticas, destacando que o setor precisa estar no mesmo nível de relevância que áreas como economia, energia e transporte. Para ela, uma educação ancorada na natureza e na valorização dos saberes tradicionais deve ser central nas políticas climáticas.

O diálogo também apresentou o documento “Crianças e as COPs do Clima: uma consideração primordial para seu futuro no presente”, lançado em junho em Bonn, na Alemanha. O material aponta avanços no reconhecimento dos direitos das crianças nas negociações climáticas, mas reforça a necessidade de qualificá-los. As recomendações buscam fortalecer a importância das pautas infantojuvenis nas decisões da UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas).

Governos e parlamentares firmam compromisso pela infância

No dia 12 de novembro, a Rede Nacional das Frentes Parlamentares da Primeira Infância (RNPPI) e o Alana promoveram a cerimônia “Declaração da COP das Crianças”, reunindo ministros, parlamentares, prefeitos, governadores e gestores de todas as regiões do país. O documento “Crianças no centro da ação climática: um compromisso para a COP30” marca a união de lideranças nacionais em torno da defesa da infância e do clima.

Entre as autoridades presentes estiveram Marina Helou, deputada estadual por São Paulo; Adalberto Maluf, secretário do Ministério do Meio Ambiente; Marina Bragante, vereadora de São Paulo pela bancada climática; e Raquel Teixeira, secretária de Educação do Rio Grande do Sul. A atividade integrou a programação da COP das Crianças, iniciativa do Alana para ampliar a participação infantojuvenil nas decisões ambientais. “A Declaração da COP das Crianças é o legado dos governos subnacionais e dos parlamentares brasileiros para a COP das Crianças. Foi a partir dela que parlamentares realizaram audiências, promoveram debates, destinaram emendas e apresentaram projetos de lei voltados à proteção das crianças frente à crise climática”, contou JP Amaral. 

André Corrêa do Lago, presidente da COP30, segura criança indígena do povo Munduruku durante manifestação em Belém. Foto: Felipe Werneck | Fotos Públicas

Protagonismo dos seis biomas brasileiros

Na segunda semana da conferência, crianças e adolescentes de seis projetos reconhecidos pelo Prêmio Criativos Escola + Natureza participaram de uma programação especial na COP30. Representando Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal e Pampa, os estudantes apresentaram iniciativas que unem educação, criatividade, tecnologia, saberes tradicionais e conservação ambiental. Os projetos selecionados entre 1.593 inscritos vão do reaproveitamento de resíduos ao uso de energia solar, passando pela valorização de povos indígenas, defesa de ecossistemas e uso da arte como ferramenta de mobilização climática.

A programação incluiu diálogos com líderes da COP30, participação em paineis internacionais, visita ao navio do Greenpeace, atividades culturais na Green Zone, coletiva de imprensa e a apresentação das “malas-exposição”, suportes móveis que mostram os biomas e as ações desenvolvidas pelos jovens em suas comunidades.

Para Ana Claudia Leite, gerente de Educação e Culturas Infanto-Juvenis do Instituto Alana, “Ter esses estudantes representando os biomas brasileiros na COP30 é mais do que um reconhecimento, é um chamado à escuta e à ação. Crianças e adolescentes já vivenciam os impactos da crise climática em seus territórios e estão criando soluções a partir dessas realidades. Ao participarem da Conferência da ONU com projetos que integram educação, natureza e ação ambiental, o Prêmio Criativos Escola + Natureza reforça o compromisso do Alana em garantir que suas vozes e ideias sejam protagonistas na construção de um futuro mais justo e sustentável.”

Leia também:

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2.Documentários abordam importância da natureza na infância até adolescência

Seis projetos premiados

Amazônia | “O diálogo com a natureza: Povos indígenas da Amazônia e a sustentabilidade” – Manaus (AM)
Estudantes integraram saberes indígenas ao currículo escolar, fortalecendo vínculos entre cultura, território e preservação ambiental.

Caatinga | “Filtropinha: dos resíduos aos recursos” – Carnaíba (PE)
Criaram um filtro de baixo custo com cascas de pinha e carvão ativado para reduzir a toxicidade da manipueira, protegendo a saúde da comunidade quilombola.

Cerrado | “Protótipo de Sistema de Reuso de Água” – Codó (MA)
Desenvolveram um sistema de reaproveitamento de água com sensores e energia solar, promovendo uso consciente dos recursos naturais.

Mata Atlântica | “Ecotech” – Estância (SE)
Mobilizaram a comunidade para proteger manguezais e restingas, valorizando saberes de marisqueiras e pescadores locais.

Pampa | “Colocar o coração no ritmo da Terra: reflorestando mentes e corações” – Porto Alegre (RS)
Revitalizaram o Parque Saint-Hilaire com ações educativas, artísticas e ambientais, dando visibilidade às queimadas e fortalecendo o cuidado com o território.

Pantanal | “Queimadas no Pantanal” – Corumbá (MS)
Criaram uma peça teatral autoral para conscientizar sobre os impactos das queimadas, unindo arte, educação ambiental e mobilização comunitária.

Fonte: COP30 amplia voz e participação de crianças na agenda climática - CicloVivo



Ilustrações: Silvana Santos