Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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11/06/2019 (Nº 68) EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS: UMA REFLEXÃO SOBRE A IMPORTÂNCIA DA COLETA SELETIVA DE LIXO E RECICLAGEM
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EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS: UMA REFLEXÃO SOBRE A IMPORTÂNCIA DA COLETA SELETIVA DE LIXO E RECICLAGEM



Viviane Proto Ferreira¹

Dayana Cardoso Cruz2

Alline da Silva Moureira3

Alex da Silva Moureira4



Mestrandos pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Agrícola da UFRRJ

Resumo:

O estudo apresenta uma revisão de literatura a respeito da educação ambiental nas escolas bem como sobre a importância da coleta seletiva de lixo e da reciclagem. Assim como, uma análise das ações educacionais que podem ser implementadas em relação ao tema.

Palavras-chave: educação ambiental; coleta seletiva; reciclagem;

Abstract:

The study presents a review of the literature on environmental education in schools as well as on the importance of selective waste collection and recycling. As well as, an analysis of the educational actions that can be implemented in relation to the theme.

Keywords: environmental education; selective collect; recycling.



  1. Afiliação: Instituto Federal Goiano Campus Rio Verde. Email: viviane.proto@ifgoiano.edu.br

  2. Afiliação: Instituto Federal Goiano Campus Rio Verde. Email: dayana.cruz@ifgoiano.edu.br

  3. Afiliação: Instituto Federal Goiano Campus Rio Verde. Email: alline.moureira@ifgoiano.edu.br

  4. Afiliação: Instituto Federal Goiano Campus Rio Verde. Email: alex.moureira@ifgoiano.edu.br



Introdução

Ao longo da história da humanidade o lixo sempre esteve presente no cotidiano das pessoas, uma vez ser produto resultante do consumo de recursos naturais. Todavia, o lixo produzido pelos povos que nos antecederam era totalmente biodegradável, isto é, completamente absorvido pelas ações de decomposição, bem como pelo processo natural de ciclagem das substâncias.

A partir da Revolução Industrial, no final do século XVIII e meados do século XIX, as fábricas começaram a produzir bens de consumo em grandes proporções e inserirem novas embalagens no mercado, o que ocorre até os dias presentes, acarretando no crescimento desmedido da quantidade e diversidade de tipos de resíduos, principalmente com características não-biodegradáveis. Nas palavras de Silva Neto (2013), o homem vive “a era dos descartáveis, em que grande parte dos produtos é inutilizado e desprezado com enorme rapidez no meio ambiente”.

Vive-se atualmente uma grave crise ambiental ocasionada pela degradação do meio ambiente através da ação humana, consequência da insustentabilidade do crescimento populacional, da produção de alimentos desproporcional a capacidade produtiva do ecossistema, do consumo descomedido de energia produzida a partir de combustíveis fósseis e de usinas hidrelétricas, da gigantesca produção industrial para atender o consumo inconsciente e desenfreado, entre outros.

Posto isto, tem-se o ser humano como agente responsável pelo o que acontece a sua volta e, a não ser que ocorra uma transformação em seu comportamento predatório, valores e hábitos, improvavelmente encontrar-se-á uma solução eficaz para a sobrevivência.

Felizmente, a gravidade dos problemas ambientais tornou-se visível para a sociedade, que atualmente procura, através de ações positivas, recuperar e/ou diminuir os impactos ambientais negativos.

Neste contexto, a educação voltada ao meio ambiente surge como uma nova forma de encarar o papel do ser humano no mundo, buscando apresentar uma postura de integração e participação, onde cada indivíduo é estimulado a exercitar plenamente sua cidadania, despertando assim uma nova consciência solidária a um todo maior.

O desenvolvimento de uma educação ambiental envolve um conjunto de fatores no universo educativo, diversos sistemas de conhecimento e o envolvimento de toda a sociedade. Ocorre a necessidade de reflexão e mudanças de hábitos, de pensar e agir em torno da questão ambiental.

Sabendo-se que a educação se constitui na mais poderosa de todas as ferramentas de intervenção no mundo para a construção de novos conceitos e, consequentemente, mudança de hábitos. Assim, o melhor caminho é começar a implementar essa consciência desde cedo, sendo a escola o ambiente mais propício para isso.

Através da escola verifica-se a possibilidade de orientação para uma conscientização do meio ambiente, do valor da natureza, com métodos interdisciplinares e produção de novos conhecimentos a respeito da preservação ambiental. A educação ambiental nas escolas propicia mudanças na forma de pensar e agir, transforma conhecimento e promove a geração de práticas educativas sustentáveis que buscam o envolvimento da comunidade ali presente.

A preocupação com o meio ambiente vem à tona a partir da conscientização de que cenário atual do desenvolvimento socioeconômico da humanidade representa uma ameaça crescente a vida no planeta, exigindo sua complexa transformação com ações concretas nos campos político, social, ambiental e cultural em torno do princípio da sustentabilidade.

Metodologia

Trata-se de uma pesquisa de caráter bibliográfico, uma vez que esse tipo de pesquisa nos permite fazer uma análise crítica a partir das amplas publicações sobre determinada área do conhecimento.

Para Martins (2001) a pesquisa bibliográfica procura explicar e discutir um tema com base em referências teóricas publicadas em livros, revistas, periódicos e outros. Busca também, conhecer e analisar conteúdos científicos sobre determinado tema.

Nesse entendimento, para Ferreira (2002), as pesquisas de cunho bibliográfico:



[…] parecem trazer em comum o desafio de mapear e de discutir uma certa produção acadêmica em diferentes campos do conhecimento, tentando responder que aspectos e dimensões vêm sendo destacados e privilegiados em diferentes épocas e lugares, de que formas e em que condições têm sido produzidas certas dissertações de mestrado, teses de doutorado, publicações em periódicos e comunicações em anais de congressos e de seminários (FERREIRA, 2002, p. 258).

Para Gil (2014), “A pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”.

Assim, a elaboração desse trabalho envolve importantes autores que discorrem sobre a temática do presente artigo, bem como documentos relacionados, a exemplo, a Lei 9.795/1999 (Política Nacional de Educação Ambiental - PNEA), os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997, 1999), Agenda 21, entre outros.

Discussão

O aumento da população mundial e a expansão global do consumo resulta na dilatação das cidades e tem como consequência a produção de enormes quantidades de resíduos resultando em problemas ambientais e urbanísticos. Decorrente disso, temos a produção exagerada de lixo que, em sua maioria, tem destinação inadequada, aumentando cada vez mais a degradação do meio ambiente.

O crescimento econômico aliado à dinâmica da urbanização e da expansão demográfica têm agravando os problemas ambientais, dentre eles podemos destacar: o excesso de consumo de energia elétrica (e a consequente necessidade de construção de novas usinas hidrelétricas), o desmatamento, o consumismo acelerado, as enchentes, a contaminação da água, a destinação dos resíduos sólidos domésticos e industriais, a poluição do ar, e o aumento da quantidade de lixo produzido e descartado no meio ambiente são alguns exemplos desse problema (JACOBI, 2003).

Segundo Simonato et al (2010), o aumento do consumismo, muitas vezes influenciado pela mídia, tem elevado a quantidade de lixo produzida nos centros urbanos. A intensa produção de lixo gera inúmeros problemas ambientais e, entre eles, destaca-se: o esgotamento dos recursos naturais, já que há a necessidade de utilização de mais matérias-primas pelas indústrias para a produção de mercadorias e a ocupação do meio ambiente pelo lixo em espaços para depósito, causando poluição do solo, da água e do ar.

Nesse sentido percebe-se a crescente preocupação com o meio ambiente em decorrência do estilo de vida inconsequente da sociedade. Segundo Costa (2008) “mais do que uma época de crise, estamos vivendo a crise de uma época”. A relação do ser humano consigo mesmo, com os outros homens, com a natureza e com a dimensão transcendente da vida está passando por amplas e profundas modificações.

No Brasil, a composição do lixo é de aproximadamente 60% de matéria orgânica, e quase 40% de materiais recicláveis como papel, embalagens cartonadas (longa vida), vidros, plásticos e metais ou resíduos especiais como lâmpadas fluorescentes e baterias de celulares (NANI, 2008). Dessa forma, a conscientização da população para os benefícios da redução do lixo efetivamente jogado fora, da reutilização de tudo o que for possível e da reciclagem de materiais tornam-se de suma importância na resolução deste problema.

A reciclagem do lixo se apresenta como medida de grande importância na preservação do meio ambiente pois trata de recuperar os materiais que possam ser utilizados para a fabricação de novos produtos.

Nesse contexto a coleta seletiva representa um dos primeiros passos para a reciclagem.

A Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010, estabelece, no capítulo II, art.3 e inciso V, coleta seletiva como: coleta de resíduos sólidos previamente segregados conforme sua constituição ou composição.

Segundo Ribeiro e Besen (2007)

A coleta seletiva consiste na separação de materiais recicláveis, como plásticos, vidros, papéis, metais e outros, nas várias fontes geradoras – residências, empresas, escolas, comércio, indústrias, unidades de saúde –, tendo em vista a coleta e o encaminhamento para a reciclagem. [...] A separação dos materiais recicláveis cumpre um papel estratégico na gestão integrada de lixo sob vários aspectos: estimula o hábito da separação do lixo na fonte geradora para o seu aproveitamento, promove a educação ambiental voltada para a redução do consumo e do desperdício, gera trabalho e renda e melhora a qualidade da matéria orgânica para a compostagem.



Nesse mesmo entendimento, Brum (2010), destaca que a coleta seletiva é relevante, já que coaduna múltiplas políticas públicas concernentes à educação, ao meio ambiente, à saúde e ao trabalho, devendo, assim, “ser mais bem compreendida, divulgada e otimizada em relação aos resultados positivos, para que se possa melhorar as experiências, sanando possíveis falhas” (BRUM, 2010).

Ainda seguindo os dizeres de Brum (2010), a coleta seletiva vem sendo considerada uma solução para o problema do lixo, uma vez que através dela podemos separar os materiais recicláveis dos não-recicláveis. Isto é, “parte do lixo pode ser reaproveitada, deixando de se tornar uma fonte de degradação para o meio ambiente e tornando-se uma solução econômica e social, passando a gerar empregos e lucro” (BRUM, 2010).

A implantação de um modelo de coleta seletiva em ambiente escolar se torna em uma ferramenta de grande importância educativa, pois permite ao aluno um despertar para a questão dos problemas ambientais do planeta e promove novo pensar sobre a questão do lixo produzido em suas casas, em seu bairro, na sua comunidade e como podem cuidar da destinação correta dos diversos materiais que compõe esse lixo sendo que o objetivo maior é a preservação do meio ambiente.

Raz (2007) considera que

A proposta da coleta seletiva do lixo escolar é uma ação educativa que visa investir numa mudança de mentalidade como um elo para trabalhar a transformação da consciência ambiental” uma vez que o consumismo aumenta a produção de lixo comprometendo a sustentabilidade do planeta, faz-se necessário educar a população para estimular o alcance de um nível de consciência que contribua para que o quadro atual de degradação ambiental seja amenizado.

Nesse contexto, Monteiro (2001), assevera que

A educação ambiental na instituição escolar pode trabalhar com propostas pedagógicas que sensibilizem os estudantes para a redução do consumismo e consequentemente para redução da produção de lixo. Além disso, a educação ambiental pode conscientizar a comunidade escolar para a importância da coleta seletiva e da reciclagem e reutilização de materiais.

Nesse sentido, temos o entendimento de Pestana (2008) que diz que

A implementação de propostas de educação ambiental na escola que discutam com a comunidade escolar a importância da coleta seletiva, da reciclagem e da reutilização possui grande relevância visto que os sujeitos que constituem a comunidade escolar são produtores de lixo. Durante o intervalo do lanche, por exemplo, são descartados materiais como latinhas, guardanapos, canudos de refrigerante e papéis de bala, que são transformados em lixo. Dessa forma é imprescindível que os estudantes reflitam sobre o seu papel na preservação do meio ambiente e sejam indivíduos conscientes e que possuam atitudes éticas.

Ainda nesse entendimento, Andrade (2013) assegura que

Implantar a coleta seletiva no ambiente escolar implica, em primeira instância, percebê-la como instituição social responsável pela transformação dos indivíduos e que, por isso, necessita oferecer mecanismos para essa transformação. No caso da coleta seletiva, propiciar aos educandos condições para participar e manifestar suas opiniões através da formação da consciência ambiental.

A implantação do sistema de coleta seletiva nas escolas, de acordo com Trindade (2011), traz, como vantagens, o incentivo, a orientação e a conscientização dos alunos no sentido de demonstrar que a escola é um espaço de aprendizagem, vivência e convivência do homem com o meio ambiente, além de fomentar a preservação do mesmo, tornando o ambiente escolar agradável e limpo. A implantação desse sistema de manuseio dos resíduos empreende no aluno a compreensão de que as pequenas práticas cooperam “com a melhoria do meio ambiente e que devem partir de cada um, pois a Escola é também um ambiente de aprendizagem e conscientização” (TRINDADE, 2011).

A reciclagem se levanta como uma importante aliada da Educação Ambiental e na redução da degradação do meio ambiente, visto que ela:

traz vários benefícios, tais como: diminuição da quantidade de lixo destinado aos aterros sanitários em até 70%; preservação de recursos naturais; economia de energia; redução dos impactos ambientais e geração de empregos diretos e indiretos, o que qualifica a coleta seletiva como prática sustentável, como instrumento de Educação Ambiental para a preservação do meio ambiente, a ser iniciada no ambiente doméstico e escolar (ANDRADE, 2013).

Nas palavras de Brum (2010), “reciclar é economizar energia, poupar recursos naturais e trazer de volta ao ciclo produtivo o que jogamos fora”.

Marques (2005) entende que

A reciclagem é processo que interessa ao meio ambiente, constituindo em instrumento eficaz para a preservação dos recursos naturais, pois implica a reintrodução dos materiais no processo produtivo, reduzindo o desgaste físico do meio (MARQUES, 2005).

Outra vantagem da reciclagem, segundo Brum (2010), “é a quantidade de empregos que ela tem gerado nas grandes cidades. Muitos desempregados estão buscando trabalho neste setor e conseguindo renda para manterem suas famílias. Cooperativas de catadores de papel e alumínio já são uma boa realidade nos centros urbanos do Brasil”.

Nessa percepção, Marques (2015) coloca que

Fazendo ponte entre os depósitos de lixo e a reciclagem, surge um personagem de grande importância para o meio ambiente: o catador de lixo, que promove a separação de materiais que serão posteriormente comercializados junto a empresas que os reciclam.

Todavia, para que se implante os sistemas de coleta seletiva e reciclagem, é necessário primeiramente conscientizar as pessoas da importância desses processos. E que essas ações são vitais para reverter a atual e grave devastação do meio ambiente.

Em busca da conscientização das pessoas, a educação ambiental torna-se essencial, uma vez que ela assume uma função transformadora, na qual possibilita sensibilizar e motivar a sociedade a transformar o seu modo de vida voltado para a destruição dos recursos ambientais e acúmulo de lixo em um pensamento e ações preservacionistas que contribuam para o equilíbrio do meio ambiente, em prol de uma vida sustentável no planeta.

A educação ambiental é um tema muito discutido atualmente devido ao fato de se perceber a necessidade de uma melhoria do mundo em que vivemos, pois é facilmente notado que estamos regredindo cada vez mais em nossa qualidade de vida de um modo geral, nos deixando levar por nossas obrigações diárias. Nosso tempo nos parece cada vez mais curto porque temos cada vez mais compromissos (GUEDES, 2006).

No contexto histórico, a Educação Ambiental surgiu nas décadas de 1950 e 1960 na Europa e nos Estados Unidos, fruto de movimentos ecológicos, com características quase que exclusivamente políticas e sociais. No Brasil, seus primeiros passos foram dados nas décadas de 1970 e 1980, cujo fim era provocar a crítica à sociedade material e de consumo, objetivando uma organização social mais consciente, preocupada com a preservação da natureza e voltada para o que se denomina hoje de sustentabilidade (CARVALHO, 2006). A partir da década de 1990, começou a ser mais fortemente disseminada no Brasil, ocorrendo à época uma expansão desse campo do conhecimento, com o aparecimento de vários cursos de graduação e pós-graduação em Educação Ambiental.

A Educação Ambiental defende uma ética renovada, que seja eficaz na sensibilização e conscientização no intuito de transformar a relação integrada do ser humano, da sociedade e da natureza, pretendendo o equilíbrio local e global como caminho para melhorar a qualidade de vida em todos os níveis (CARVALHO, 2006).

Nesse sentido, temos as considerações de Layrargues (2006), que explicita que a Educação Ambiental surge como uma alternativa na geração de valores atribuídos ao meio ambiente em que a mudança cultural pode influenciar a mudança ambiental, sendo que “a cultura aparece como o elemento mediador da relação humana com a natureza, e, portanto, são os valores culturais que assumem a centralidade na dinâmica pedagógica da educação ambiental” (LAYRARGUES, 2006).

Assim a educação ambiental deve ser acima de tudo um ato político voltado para a transformação social. O seu enfoque deve buscar uma perspectiva holística de ação, que relaciona o homem, a natureza e o universo, tendo em conta que os recursos naturais se esgotam e que o principal responsável pela sua degradação é o homem (JACOBI, 2003).

A Educação Ambiental, de acordo com o art. 1º da Lei 9.795/1999 (PNEA), é compreendida como um conjunto de processos, a partir dos quais os indivíduos e a coletividade constroem valores sociais, habilidades, atitudes e competências.

Uma das finalidades da Educação Ambiental é educar as novas gerações para uma maior conscientização em relação à esgotabilidade dos recursos naturais e acerca da responsabilidade que cada um possui de proteger o meio em que se vive (BRUM, 2010).

As práticas para se ter uma educação ambiental devem estar alicerçadas em uma perspectiva integradora, fortalecendo o direito e acesso à informação, partindo da premissa de que um maior nível de conhecimento e discussão sobre o assunto, implica numa maior conscientização ambiental, fortalecendo a participação da população na conservação e controle dos agentes de degradação ambiental.

Nesse entendimento, a escola se destacada como o lugar mais propício para as propostas de educação ambiental, sendo que o processo educativo no qual uma comunidade escolar, pais e educadores participam juntos, gera uma eficiência pedagógica que atinge não só a educação ambiental, mas toda a educação. A educação ambiental na escola pode proporcionar uma mudança comportamental na sociedade, visto que ela tem papel de instituição formadora e transformadora.

Segundo Bueno e Arruda (2013) a escola se constitui em um ambiente que poderá influenciar a criação de uma nova mentalidade na relação ser humano com o meio natural, contribuindo na construção da cidadania ambiental. Traz a oportunidade de reflexão sobre os problemas gerados pelo modo de vida atual e as possíveis soluções para se ter um ambiente equilibrado com melhor qualidade de vida.

Colaborando com esse pensamento, Jacobi (2003) afirma que a escola pode transformar-se no espaço em que o aluno terá condições de analisar a natureza em um contexto entrelaçado de práticas sociais, parte componente de uma realidade mais complexa e multifacetada. Através do diálogo e da interação na escola, tem-se um constante processo de recriação e reinterpretação de informações, conceitos e significados, que podem se originar do aprendizado em sala de aula ou da experiência pessoal do aluno.

A proposta da educação ambiental nas escolas surge como um mecanismo para a criação de práticas pedagógicas centradas na conscientização, acesso a informação e conhecimento, a fim de que se tenha uma mudança de valores, comportamento, desenvolvimento de competências e habilidades, e de uma participação e integração mais efetiva dos indivíduos com o meio ambiente.

A formação de indivíduos engajados com as questões ambientais depende da realização de propostas pedagógicas capazes de gerar mudanças significativas. Neste sentido a educação ambiental precisa ser trabalhada na escola por meio de metodologias motivadoras e que envolva os estudantes com a temática discutida (FREIRE, 2002).

De acordo com Leff (2001), há uma impossibilidade de resolver os crescentes e complexos problemas ambientais e reverter suas causas sem que ocorra uma mudança radical nos sistemas de conhecimento, dos valores e dos comportamentos gerados pela dinâmica de racionalidade existente. A sociedade precisa estar motivada e mobilizada para assumir um papel mais propositivo, com atitudes concretas sobre a conservação do meio ambiente.

Assim, uma das formas de levar este tipo de conscientização à comunidade é pela ação direta na escola, principalmente, pela ação do educador ambiental em sala de aula, com atividades nas quais os alunos participem. Essas atividades podem ser realizadas através de leitura de textos e livros, debates, pesquisas, experiências, dentre outras, desenvolvendo reflexões críticas, que possam despertá-los para uma visão acerca dos problemas que afetam a comunidade onde vivem, como também possam propiciar mudanças.

Segundo Jacobi (2003), os professores devem estar cada vez mais preparados para reelaborar as informações que recebem, e dentre elas, as ambientais, a fim de poder transmitir e decodificar para os alunos a expressão dos significados sobre o meio ambiente e a ecologia nas suas múltiplas determinações e intersecções.

Incrementar a corresponsabilidade nos alunos quanto a importância de formar cidadãos cada vez mais comprometidos com a defesa da vida se faz necessária, sendo que através de pequenas ações, pode-se gerar possibilidade de transformação desse cenário alarmante de degradação do meio ambiente.

Contudo, a Educação Ambiental no ensino formal enfrenta vários obstáculos, destacando-se a sua inserção no âmago das práticas escolares considerando sua condição de transversalidade, conforme consagrado pelos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN (MEC, 1997).

Nesse contexto, conforme o PCN (1999)

Trabalhar de forma transversal significa buscar a transformação dos conceitos, a explicitação de valores e a inclusão de procedimentos, sempre vinculados à realidade cotidiana da sociedade, de modo que obtenha cidadãos mais participantes. Cada professor, dentro da especificidade de sua área, deve adequar o tratamento dos conteúdos para contemplar o Tema Meio Ambiente, assim como os demais Temas Transversais. Essa adequação pressupõe um compromisso com as relações interpessoais no âmbito da escola, para haver explicitação dos valores que se quer transmitir e coerência entre estes e os experimentados na vivência escolar, buscando desenvolver a capacidade de todos para intervir na realidade e transformá-la, tendo essa capacidade relação direta com o acesso ao conhecimento acumulado pela humanidade.

Nessa perspectiva, Carvalho (2006), discursa que “para a Educação Ambiental constituir-se como temática transversal pode tanto ganhar o significado de estar em todo lugar quanto, ao mesmo tempo, não pertencer a nenhum dos lugares já estabelecidos na estrutura curricular que organiza o ensino”.

Macedo (1998) destaca que a ideia de temas transversais, proposta pelos PCN, “é mais uma tentativa de articulação entre as diferentes atividades escolares e entre elas e a sociedade”. Seguindo esse entendimento, ele defende que para que os temas transversais, destacando nesse estudo o uso dos recursos naturais, “funcionassem como eixo integrador das diferentes áreas do currículo e deste com a realidade social seria necessária uma articulação entre as áreas e os temas transversais”. Explica ainda que “a seleção e organização do conhecimento em cada área deveria ter por fundamento os temas transversais, defendidos pelo próprio documento como tendo uma importância inegável na formação dos jovens”.

A Educação Ambiental precisa ser “desenvolvida como uma prática para a qual todas as pessoas envolvidas estejam preparadas. Não basta que seja acrescentada como uma disciplina em si, mas como prática que precisa estar interligada ao nosso dia-a-dia” (Fermiano e Fofonka, 2011).

Conforme texto acerca de ensinar e aprender em Educação Ambiental nos Parâmetros Curriculares Nacionais de 1999, destaca que:

A principal função do trabalho dentro da escola com o tema Meio Ambiente é contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos a decidirem e a atuarem na realidade socioambiental de modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade, local e global. Para isso, é necessário que, mais do que informações e conceitos, a escola se proponha a trabalhar com atitudes, com formação de valores, com o ensino e a aprendizagem de habilidades e procedimentos. Esse é o grande desafio para a educação. Comportamentos ambientalmente corretos serão aprendidos na prática do dia-a-dia na escola: gestos de solidariedade, hábitos de higiene pessoal e dos diversos ambientes.

Enfatiza também que:

O tema Meio Ambiente pode ser mais amplamente trabalhado, quanto mais se diversificarem e intensificarem a pesquisa de conhecimentos e a construção do caminho coletivo de trabalho, se possível, com interações diversas dentro da escola e desta com outros setores da sociedade (PCN,1999).

Atualmente a Educação Ambiental vem sendo amplamente aceita como conceito de educação para o desenvolvimento sustentável e, por conseguinte, a introdução de projetos que promovem essa temática faz-se importante para o currículo escolar, de maneira interdisciplinar, em todas as práticas cotidianas da escola (PESTANA, 2008).

Em relação ao desenvolvimento sustentável temos conceitualmente, de acordo com Jacobi (2003) que este:

representa um importante avanço, na medida em que a Agenda 21 global, como plano abrangente de ação para o desenvolvimento sustentável no século XXI, considera a complexa relação entre o desenvolvimento e o meio ambiente numa variedade de áreas, destacando a sua pluralidade, diversidade, multiplicidade e heterogeneidade.



Tomando ainda a fala de Jacobi (2003), o desenvolvimento sustentável refere-se “a uma estratégia ou um modelo múltiplo para a sociedade, que deve levar em conta tanto a viabilidade econômica como a ecológica”. Ainda segundo este autor,

a ideia de sustentabilidade implica a prevalência da premissa de que é preciso definir limites às possibilidades de crescimento e delinear um conjunto de iniciativas que levem em conta a existência de interlocutores e participantes sociais relevantes e ativos por meio de práticas educativas e de um processo de diálogo informado, o que reforça um sentimento de co-responsabilidade e de constituição de valores éticos.

Conforme texto extraído da Agenda 21 Global:

O ensino, inclusive o ensino formal, a consciência pública e o treinamento devem ser reconhecidos como um processo pelo qual os seres humanos e as sociedades podem desenvolver plenamente suas potencialidades. O ensino tem fundamental importância na promoção do desenvolvimento sustentável e para aumentar a capacidade do povo para abordar questões de meio ambiente e desenvolvimento.

Nesse sentido, e nas considerações de Reigota (1998), tem-se que

[...] a educação ambiental na escola ou fora dela continuará a ser uma concepção radical de educação, não porque prefere ser a tendência rebelde do pensamento educacional contemporâneo, mas sim porque nossa época e nossa herança histórica e ecológica exigem alternativas radicais, justas e pacíficas.

Assim, a educação, seja formal, informal, familiar ou ambiental, só atinge sua completude quando o ser humano ascende os principais momentos de sua vida pensando por si próprio, agindo conforme os seus princípios, vivendo segundo seus critérios (REIGOTA, 1997).

Sorrentino (1998) destaca que os grandes desafios para os educadores ambientais são, de um lado, o resgate e o desenvolvimento de valores e comportamentos (confiança, respeito mútuo, responsabilidade, compromisso, solidariedade e iniciativa) e de outro, o estímulo a uma visão global e crítica das questões ambientais e a promoção de um enfoque interdisciplinar que resgate e elabore os saberes.

Considerações Finais

Apesar das diretrizes curriculares nacionais estabelecerem que a sustentabilidade socioambiental deve ser meta universal a ser desenvolvida como prática educativa integrada, contínua e permanente, a educação ambiental é tratada hoje no currículo escolar de forma transversal, desta forma ela pode tanto ganhar o significado de estar em todo lugar, como também não pertencer a nenhum dos lugares dentro da estrutura curricular. Sendo que os temas transversais deveriam ser o eixo estrutural do currículo, o que infelizmente não tem acontecido nos dias atuais.

Desta forma, para alcançarmos a mudança é necessário abandonarmos a antiga concepção de trabalhar a educação ambiental somente em datas comemorativas ou em forma de temas isolados como forma de sair da rotina escolar, é necessário construirmos um conhecimento conscientizador em prol de transformamos a nossa realidade.

Além disso, é relevante mostrar a importância e necessidade da temática ambiental ser incluída no projeto pedagógico da escola como uma ferramenta permanente, indo além dos temas transversais, e sim, norteando de maneira interdisciplinar e transversal as disciplinas contempladas no currículo, aproveitando o conteúdo específico de cada área, de modo que se consiga uma maior assimilação da relação entre a educação e a posição do homem dentro das interações ambientais, visando uma compreensão mais globalizada das questões ambientais.

A Educação Ambiental atualmente é a ferramenta mais eficiente para se poder criar e praticar formas sustentáveis de interação entre a sociedade e a natureza. Este é o caminho para que cada indivíduo mude de hábitos e assuma novas atitudes que suscitem a melhoria da qualidade de vida e diminuam a degradação ambiental.

Considera-se que a Educação Ambiental sozinha não é suficiente para transformar o destino do planeta, mas seguramente é condição necessária para isso. Ela será o acesso para provocar os alunos a mudarem seus hábitos errados por hábitos ecologicamente corretos, para que possam modificar o meio em que vivem na defesa da qualidade de vida.

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Ilustrações: Silvana Santos