EXPERIÊNCIA
DE ENSINO-APRENDIZAGEM SOBRE PROBLEMÁTICAS AMBIENTAIS URBANAS NO CORREDOR
ECOLÓGICO URBANO DO IGARAPÉ DO MINDÚ, MANAUS, AM
Alexandra Nascimento de Andrade1
Augusto Fachín Terán2
Elder Tânio Gomes de Almeida3
Geysykaryne Pinheiro de Oliveira4
Erika da Costa Batista5
Clorijava de Oliveira Santiago Júnior6
2Professor Doutor do Programa de
Pós-Graduação em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia. Universidade do
Estado do Amazonas. Líder do GEPENCEF. Manaus, Amazonas, Brasil, e-mail:
fachinteran@yahoo.com.br
Resumo: Os Espaços Não
Formais podem ser definidos como ambientes fora da sala de aula, que apresentam
condições para a construção de conhecimentos por meio de práticas e observações
direcionadas, a desenvolver conteúdos do currículo. Neste trabalho relatamos
uma experiência de ensino-aprendizagem no Corredor Ecológico Urbano do Igarapé do Mindú. A experiência ocorreu
durante uma atividade prática realizada no período vespertino e noturno, com 23
estudantes da turma 2016 do Mestrado em Educação em Ciências da Universidade do
Estado do Amazonas (UEA).
A atividade permitiu um contato direto com problemáticas relacionadas às
questões ambientais urbanas. A presença de um professor qualificado com
experiência foi o fator mais importante para que esta experiência de
ensino-aprendizagem fosse bem sucedida. Trabalhar de forma dinâmica e prazerosa
os conteúdos em diferentes contextos educacionais e espaciais, como por
exemplo, os Espaços Não Formais, promove uma aprendizagem significativa,
emergindo reflexões mediante as observações e vivencias adquiridas.
Palavras-chave: Espaços Não Formais. Corredor Ecológico.
Ensino de Ciências.
Introdução
Os
espaços educativos podem ser definidos como locais onde ocorre o ensino -
construção de conhecimentos - independente de serem, Formais, Não Formais e Informais.
Vários são os espaços educativos que contribuem para divulgar o conhecimento
científico e desenvolvê-lo por meio de vivências e experiências. O Corredor
Ecológico Urbano do Igarapé do Mindú (CEM) é um desses espaços educativos, com
uma ampla alternativa e possibilidade para desenvolver o ensino de ciências, tanto
na teoria como na prática. O objetivo deste trabalho é relatar uma experiência
de ensino-aprendizagem no CEM com problemáticas relacionadas às questões
ambientais urbanas.
A
pesquisa abordará a importância de atividades pedagógicas desenvolvidas nos Espaços
Não Formais e o que é um corredor ecológico, já que o lócus do trabalho é o
Corredor Ecológico Urbano do Igarapé do Mindú, que está localizado no Parque
das Nascentes da cidade de Manaus, AM, tendo início na Zona Leste, seguindo o
curso do Igarapé do Mindú em direção o Parque dos Bilhares, na Zona Centro Sul
da cidade.
Atividades de
Ciências em Espaços Não Formais
Existem
vários espaços para desenvolver o ensino de ciências em diferentes contextos
educacionais e espaciais, como por exemplo, os Espaços Não Formais. Esses
lugares são definidos como qualquer espaço diferente da escola onde pode
ocorrer uma ação educativa (JACOBUCCI, 2008). Entre esses espaços temos:
Museus, Zoológicos, Jardins Botânicos, Planetários, entre outros.
As
estratégias pedagógicas desenvolvidas nesses espaços podem fazer emergir um
significado diferenciado para os educandos, conforme a metodologia empregada
pelo professor. Para programar uma atividade em um Espaço Não Formal, o docente
deve ter clareza a respeito dos objetivos e do planejamento pedagógico, para
que a atividade seja coerente e em consonância com o conteúdo curricular. Este
cuidado pedagógico propiciará uma prática com maior sentido, trazendo resultados
significativos para os alunos.
Sobre
esse assunto, Cabral e Fachín-Terán (2011, p.3) nos alertam:
[...]
que não é somente retirando os alunos de sala de aula e conduzindo-os a esses
espaços, sem ter clareza dos fundamentos que sustentam aquela forma de ensinar,
que resultará no êxito da aprendizagem dos alunos. Por isso, acreditamos que a
Aprendizagem Significativa, como epistemologia, pode servir de subsídio para
essa situação.
O
professor deverá ter conhecimento sobre como realizar práticas em Espaços Não
Formais, para que tenha êxito na aprendizagem de seus alunos. Para isso,
precisará fazer um planejamento cuidadoso sobre o que será feito nas aulas
nesses espaços. Sendo assim, é necessário antes de executar a atividade, fazer
um reconhecimento do local e planejar as atividades em sintonia com o mesmo.
Corredores
ecológicos
Os
Corredores ecológicos são áreas conservadas por Lei Federal a qual abrigam
ecossistemas naturais e seminaturais para a conservação da fauna e flora
nativa. A Lei n° 9.985 de 18 de julho de 2000, que institui o Sistema Nacional
de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), no seu Artigo 2º, inciso XIX,
define os corredores ecológicos como:
[...] porções de ecossistemas naturais
ou semi
naturais,
ligando unidades de conservação, que possibilitam entre elas o fluxo de genes e
o movimento da biota, facilitando a dispersão de espécies e a recolonização de
áreas degradadas, bem como a manutenção de populações que demandam para sua
sobrevivência áreas com extensão maior do que aquela das unidades individuais.
A Lei
Municipal n° 671, de 04 de novembro de 2002, que regulamenta o Plano Diretor
Urbano e Ambiental Municipal de Manaus, define a implantação dos corredores
ecológicos para a preservação e valorização da biodiversidade.
Segundo
Ayres (2005) o conceito de corredores ecológicos permite o incremento do grau
de conectividade entre as áreas naturais remanescentes, em diferentes
categorias de proteção e manejo, através de estratégias de fortalecimento e
expansão do número de unidades de conservação, incluindo-se aqui a Reserva Particular
de Patrimônio Nacional (RPPNs), além da recuperação de ambientes degradados,
quando considerado compatível. Para este autor:
Os Corredores Ecológicos se traduzem
em espaços físicos florestais ininterruptos, interligando Unidades de
Conservação (UC’s), concebida a ocupação humana, e a utilização da terra nos
seus mais diversos modos, objetivando o bem estar da população no que se refere
à qualidade de vida, a proteção da diversidade biológica, o resgate ecológico
da região territorial, a melhoria do clima, a retenção de água das chuvas e a
proteção dos recursos hídricos (AYRES, 2005 p.23).
Mediante a visão do
autor supracitado, esses espaços visam à proteção da diversidade biológica e o
resgate ecológico local, o que nos remete ser um ambiente adequado para
desenvolver atividades de ensino de ciências, principalmente aqueles
relacionados a problemas ambientais urbanos.
Procedimentos
Metodológicos
A
pesquisa foi realizada por integrantes do Grupo
de Estudo e Pesquisa em Ensino de Ciências em Espaços Não Formais (GEPENCEF), do
Programa de Pós-Graduação em Educação do Ensino de Ciência na Amazônia
(PPGEEC), da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). A experiência
educativa ocorreu no Corredor Ecológico Urbano do Igarapé do Mindú, e o Conjunto
Villar Câmara. Ambos localizados no Bairro Aleixo na Zona Leste de Manaus. A coleta de dados ocorreu durante uma aula
prática no dia 29 de abril de 2016, no período vespertino e noturno, com
participação de 23 estudantes da turma 2016.
O tipo
da pesquisa é qualitativo, e é fundamentalmente interpretativa, pois inclui o
desenvolvimento da descrição, caracterizando-se como uma análise de dados, para
identificar temas ou categorias, a fim de tirar conclusões sobre seus
significados (CRESWELL, 2007).
Corredor Ecológico
Urbano do Igarapé do Mindú (CEM)
O CEM está
localizado no Parque das Nascentes da cidade de Manaus, AM. Tem início na Zona
Leste, seguindo o curso do Igarapé do Mindú em direção o Parque dos Bilhares,
na Zona Centro Sul da cidade. Neste Percurso, conecta duas Unidades de Conservação
(Parque Municipal do Mindú e Reserva Particular do Patrimônio Natural Honda),
além de áreas verdes dos conjuntos habitacionais que fazem parte do percurso. Foi
criado pela Prefeitura de Manaus, mediante Decreto n.9.329, de 26 de outubro de
2007, sendo o primeiro corredor ecológico criado na zona urbana de Manaus (Fig.
1). Tem entre seus objetivos a preservação da fauna e flora local, bem como a
viabilização do fluxo de espécies e de genes, com intuito de desenvolver na
população local uma consciência ecológica e preservacionista.

Figura 1:
Corredor Ecológico Urbano
do Igarapé do Mindú (Satélite)
Fonte: www.blogdosarafa.com.br
Resultados
e Discussão
A
pesquisa identificou vários problemas relacionados ao meio ambiente e a
presença de uma variada fauna. Destacamos a continuação, as seguintes: problemática
do lixo; presença do "caramujo africano" (Achatina fulica); presença
de "jacarés" no igarapé do Mindú; insetos (saúva); e encontro com o “sapo
cururu”.
Problemática
do lixo
No
caminho percorrido observamos grande quantidade de lixo presente na beira da
floresta e no igarapé. O professor relatou a necessidade das pessoas terem
consciência ecológica, ressaltando que não há sensibilização por parte dos que frequentam
ou residem no local.
O
"Caramujo Africano" (Achatina fulica)
Este
molusco foi observado no corredor ecológico do Mindú. O habitat desta espécie
são os locais úmidos. Com a ajuda de lanternas e à luz dos celulares foi
possível observá-los alimentando-se de "tucumãs" (Astrocaryum
aculeatum) (Fig. 2).

Figura 2: Achatina
fulica se alimentando de “tucumãs”
Fonte: Andrade, 2016
Queiroz e
Fachín-Terán (2013) fazem uma descrição mais ampla sobre este molusco:
O Achatina em seu tamanho
adulto pode alcançar até 15 cm de comprimento de concha e mais de 200g de peso
total. É uma espécie parcialmente arborícola, isto é, pode se alimentar sobre
as árvores e escalar edificações e muros. É extremamente prolífica, produz
muitos ovos por ano, de 50 a 400 ovos por postura e cerca de 500 ovos por ano.
Seus ovos são de cor branca e ficam enterrados na terra, possuem
aproximadamente 5-6 mm de comprimento por 4-5 mm de largura (p.51).
Observamos
que este molusco se alimenta de diversas espécies vegetais e de restos de alimentos
jogados pelos moradores. Eles utilizam um órgão chamado de rádula para se
alimentar. Vários exemplares foram observados nos galhos de plantas de jardim,
árvores e muros das casas próximas do local, o que preocupa a proliferação de
doenças causadas por essas espécies.
Os Jacarés
Foram
observados durante a noite no Igarapé do Mindú, na ponte localizada na estrada
dos japoneses. Os répteis foram identificados, mediante ao brilho dos seus
olhos, avistando-os melhor por meio das lanternas, que o professor havia
solicitado para a aula. A espécie observada foi identificada como “Jacaré-tinga”
(Caiman crocodilos) (Figura 3).
Percebemos
que o Igarapé do Mindú, habitat destes répteis, está bastante poluído por diversos
tipos de lixos que são jogados pela população que moram próximas ou que
transitam na ponte.

Figura 3: "Jacaré-tinga”
(Caiman crocodilos) no Igarapé do Mindú
Fonte:
https://noticias.uol.com.br/album/2014/06/20/bichos-da-semana.htm#fotoNav=18
Insetos
Existe
uma grande diversidade de insetos no CEM, entretanto o que nos chamou a atenção
foi a formiga "saúva" Atta sexdens. Estes insetos estavam
cortando folhas e levando-as para o ninho, trabalhando enfileiradas em direção
ao formigueiro, o que nos foi explicado pelo professor que as “formigas
cortadeiras” usam folhas para cultivar fungos que servem para sua alimentação. As
formigas cortadeiras coletam folhas e outros elementos orgânicos, porém não se
alimentam dos mesmos diretamente. Os alimentos primeiro passam por uma
trituração misturada à sua saliva e logo depois são distribuídos em câmaras
especiais dentro de seus ninhos, na qual a umidade favorecerá que o fungo venha
surgir. Desta maneira são os fungos e as enzimas produzidas por eles que servem
de alimento para as formigas (DOUGLAS e LAGO, 2016, p. 61).
O "Sapo cururu" (Rhinella
marina)
Em
função do clima chuvoso, ouvimos o coaxar dos sapos, encontrando um exemplar no percurso. O
professor o identificou como "sapo cururu” - Rhinella marina - (Fig. 4) e explicou que: este anfíbio
possui uma fase de vida terrestre e aquática, alimentam-se de insetos
capturando-os com sua grande língua, possui glândulas na cabeça, onde produzem
um veneno tóxico para espantar ou até mesmo matar outros animais que ofereçam
algum tipo de perigo. Uma
das estudantes pegou o animal a fim de verificar suas características e relatou
que a experiência foi importante para perceber a temperatura, o comportamento,
aprendendo na prática sobre a ecologia e características morfológicas externas
do anfíbio.

Figura 4: O "sapo
cururu" (Rhinella marina) no
quintal
Fonte:
Andrade, 2016
Concorda-se com
Cazelli (2005) quando afirma que o ensino de ciências nos dias atuais não pode
estar desconectado da realidade, ou seja, somente no ambiente escolar. Dessa
forma, é importante a utilização de Espaços Não Formais, pois contribuem para o
aprendizado do estudante.
A
estratégia adotada pelo professor que conduziu a atividade no CEM, permitiu um
contato direto com o meio ambiente em suas várias formas, bem como questões
relacionadas aos problemas ambientais urbanos.
Acreditamos
que essas práticas educativas sejam uma alternativa para a sensibilização da
sociedade perante as situações encontradas, além de proporcionar aos discentes,
aproximações com a realidade local.
Considerações
Finais
O Corredor
Ecológico Urbano do Igarapé do Mindú mostrou-se como um ambiente interessante
para desenvolver atividades educativas, pois possui uma rica biodiversidade e um
ambiente onde se pode trabalhar diversos assuntos relacionadas às questões
ambientais.
O processo
ensino-aprendizagem quando bem trabalhado em espaços fora da sala de aula, são
importantes para promover uma aprendizagem significativa. Os conhecimentos
adquiridos pelos alunos nesses espaços, através de observações e vivências
contribuem para reflexões importantes sobre os conhecimentos adquiridos.
Nesta
experiência, constatamos que os Espaços Não Formais são uma possibilidade real
de promoção de aprendizagem, pois oportuniza a pesquisa e a reflexão. Destacamos
ainda, a importância de ter um professor qualificado com experiência,
conduzindo os estudantes em ambientes diferentes da sala de aula.
Agradecimentos:
Ao
líder do Grupo de Estudo e Pesquisa em Ensino de
Ciências em Espaços Não Formais (GEPENCEF), que proporcionou reflexões,
discussões e vivencias significativas, mostrando
maneiras de ensinar ciências através de práticas em Espaços Não Formais. A
CAPES e FAPEAM pelas bolsas de estudo.
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