Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
Início Cadastre-se! Procurar Área de autores Contato Apresentação(4) Normas de Publicação(1) Dicas e Curiosidades(7) Reflexão(3) Para Sensibilizar(1) Dinâmicas e Recursos Pedagógicos(6) Dúvidas(4) Entrevistas(4) Saber do Fazer(1) Culinária(1) Arte e Ambiente(1) Divulgação de Eventos(4) O que fazer para melhorar o meio ambiente(3) Sugestões bibliográficas(1) Educação(1) Você sabia que...(2) Reportagem(3) Educação e temas emergentes(1) Ações e projetos inspiradores(25) O Eco das Vozes(1) Do Linear ao Complexo(1) A Natureza Inspira(1) Notícias(21)   |  Números  
Artigos
12/12/2009 (Nº 30) LUDICIDADE: APRENDENDO A CONSERVAR O PARQUE AMBIENTAL DE BELÉM PARA NÃO ACABAR
Link permanente: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=795 
  
Educação Ambiental em Ação 30

LUDICIDADE: APRENDENDO A CONSERVAR O PARQUE AMBIENTAL DE BELÉM PARA NÃO ACABAR

Este artigo relata ações lúdicas de Educação Ambiental que visam sensibilizar alunos do ensino fundamental de escolas públicas do entorno do Parque Ambiental de Belém para a sua importância como Unidade de Conservação.

 

Maria da Conceição Ferreira Baía

concebaia@gmail.com

  Vívian Ribeiro Santos

vivian.rsantos@gmail.com  

André Ribeiro de Santana

mestredeo@yahoo.com.br.

Allan Keller Rawietsch

rawietsch@yahoo.com.br

Luiza Nakayama

 sverdepororoca@ufpa.br 

1. INTRODUÇÃO

A partir do século XVIII, o acelerado desenvolvimento industrial em todos os setores da sociedade acarretou grandes transformações, contribuindo significativamente para o acirramento da crise ambiental que perdura até hoje. Um dos instrumentos utilizados para minimizar essa realidade é a Educação Ambiental (EA), que de acordo com Medina (2002):

 

[...] é um instrumento imprescindível para a consolidação dos novos modelos de desenvolvimento sustentável, com justiça social, visando à melhoria da qualidade de vida das populações envolvidas, em seus aspectos formais e não-formais, como processo participativo através do qual o indivíduo e a comunidade constroem novos valores sociais e éticos, adquirem conhecimentos, atitudes, competências e habilidades voltadas para o cumprimento do direito a um ambiente ecologicamente equilibrado em prol do bem comum das gerações presentes e futuras. (MEDINA, 2002, p. 52).

 

Lynch et al. (2005), a partir da análise de entrevistas realizadas com moradores do entorno do Parque Ambiental de Belém (PAB), e da observação direta, consideraram que o maior fator impactante na área é a ação antrópica, a qual vem causando males progressivos e irreparáveis, capazes de comprometer o fornecimento de água potável para toda a área metropolitana de Belém – Pará.

Carvalho et al. (2008) realizaram também atividades lúdicas no PAB, tendo como instrumentos os peixes ornamentais encontrados no local. Concluíram que a programação das atividades em campo foi importante, pois: 1) facilitou descobertas pessoais; 2) favoreceu a compreensão direta, empírica e intuitiva de problemas observados no PAB; 3) oportunizou o conhecimento de aspectos ecológicos dos peixes coletados e dos transtornos causados por ações antrópicas e 4) desenvolveu o comprometimento pessoal com os ideais ecológicos.

Assim, cabe aqui uma reflexão: Como podemos enfrentar ou superar os desafios ambientais e como praticar a EA? Que outras formas lúdicas poderiam ser utilizadas para, se não acabar, pelo menos diminuir a ação antrópica no PAB? Como criar uma relação de convivência harmônica entre os moradores do entorno/usuários e os ecossistemas do PAB?

Em seu livro “Alfabetização Ecológica”, Duailibi. (2006, p. 19) afirma que:

 

[...] é preciso promover uma reforma sistêmica nas escolas e que essa reforma passa prioritariamente pela compreensão de que o currículo deve ser construído com base no próprio lugar onde a aprendizagem se dá, ou seja, é o ambiente em que a escola está inserida – a sua geografia, a sua história, a cultura das comunidades do entorno – que deve determinar os conteúdos a serem apreendidos.

 

O teólogo Leonardo Boff (1999) destaca o fato de que o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUD-MA), o Fundo Mundial para a Natureza (WWF) e a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) elaboraram uma estratégia minuciosa para o futuro da vida na Terra, na qual são estabelecidos nove princípios de sustentabilidade, fundamentados no cuidado: dentre eles destacamos: “Permitir que as comunidades cuidem de seu próprio meio-ambiente.”

 

Por outro lado, de acordo com Berna (2004):

Também não podemos cometer o erro de subordinar a luta em defesa da natureza às mudanças nas estruturas injustas de nossa sociedade, pois devem ser lutas interligadas e simultâneas, já que de nada adianta alcançarmos toda a riqueza do mundo, ou toda a justiça social que sonhamos, se o planeta tornar-se incapaz de sustentar a vida humana com qualidade.

 

Em vista de este trabalho abordar EA para crianças e jovens utilizando atividades lúdicas, salientamos alguns autores que tratam desse tema.

 

Oliveira (1993) constatou que:

 

A promoção de atividades que favoreça o envolvimento da criança em brincadeiras, principalmente aquelas que promovam a criação de situações imaginárias, tem nítida função pedagógica. A escola e, particularmente, a pré-escola poderiam se utilizar deliberadamente desse tipo de situações para atuar no processo de desenvolvimento das crianças (OLIVEIRA, 1993, p. 67).

Neste sentido pretendemos descrever neste artigo como o uso do lúdico pode ser utilizado como metodologia alternativa no processo de ensino-aprendizagem em EA, para alunos de três escolas públicas de ensino fundamental, situadas no entorno do PAB.

 

2. DESENVOLVIMENTO

2.1. Metodologia

A ONG Novo Encanto executou, em parceria com a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEMA-PA), uma ação educativa no PAB, envolvendo várias escolas públicas de ensino fundamental do entorno, por ocasião dos festejos do Dia Mundial da Água, no dia 20 de março de 2008.

Nesse dia, as crianças, auxiliadas pelos monitores, realizaram as seguintes atividades: 1) pintaram desenhos ecológicos; 2) construíram um painel utilizando gotas de água de papel, no qual escreveram o que poderiam fazer para preservar a água; 3) assistiram a uma peça de teatro de fantoches apresentada pela Companhia de Saneamento do Pará (COSANPA); 4) deram um abraço simbólico nos lagos Bolonha e Água Preta, os mananciais que abastecem Belém.

Em outro momento, enviamos ofício à direção das escolas de Ensino Fundamental João XXIII, Escola Cristo Rei e Escola Municipal Terezinha Souza, solicitando autorização para realizar ações, as quais seriam operacionalizadas no ambiente escolar, durante as aulas.

Efetivamos diagnose nesse primeiro contato, identificando aspectos como infra-estrutura, atuação pedagógica e os problemas ambientais vivenciados. A partir dessas informações, planejamos ações para alunos da 1ª à 3ª séries.

Dando continuidade ao trabalho, elaboramos o planejamento das atividades: agendamento de datas, a forma de realização do trabalho, aspectos infra-estruturais e materiais (de consumo e permanente) necessários.

Nesse artigo, por questões didáticas, dividiremos as atividades desenvolvidas nas três escolas em momentos, embora algumas tenham sido efetivadas simultaneamente. Salientamos também que a Roda de Conversa[i] foi realizada, após cada atividade, pois foi o momento de avaliação e reflexão do conteúdo ministrado.

Ressaltamos que cada momento de ação foi descrito considerando-se: a apresentação, a interação, a participação, a reação, enfim, tudo que aconteceu durante o processo. Foi construído um roteiro de observação para servir de guia.

Para coletar informações e impressões dos alunos fizemos perguntas para a turma ao término de cada atividade. Solicitamos também que realizassem desenhos focalizados no tema abordado. Os professores participaram ativamente das atividades, esclarecendo dúvidas dos seus alunos.

Realizamos também pesquisas in loco, conversas informais com professores, alunos, funcionários, membros da direção e coordenação da escola. Todos esses dados foram registrados em um “diário de bordo” e em fotografias.

Para preservar a identidade dos alunos e professores que participaram deste estudo, todos os nomes de pessoas citadas são fictícios, mas os nomes das escolas são reais.

A metodologia utilizada na investigação foi à pesquisa qualitativa do tipo pesquisa ação participativa, analisada de acordo com Brandão (2006), porque esta prevê o envolvimento efetivo dos sujeitos, participantes na dinâmica da pesquisa.

 

2.2. Atividades nas escolas

 

As atividades pedagógicas utilizadas, com a participação dos membros da ONG Novo Encanto e professores das turmas envolvidos, para abordar o tema da preservação do PAB, estão sumarizados na Tabela 1.

 

Tabela 1. Atividades de EA desenvolvidas nas escolas do município de Ananindeua – Pará, no ano de 2008.

Escola

Atividade Desenvolvida

Série

N

CH

Escola João XXIII

Exibição de vídeo, mímica, gincana, e roda de conversa.

27

30min

26

50min

35

60min

Escola Cristo Rei

Jogo do passa bola, contação de histórias, roda de conversa.

 

Exibição de vídeo, gincana, mímica e roda de conversa.

EI

23

30min

30

50min

36

40min

Escola Terezinha de Souza

Teatro de fantoches

27

60min

26

60min

35

60min

Total

 

265

440min

N= número de participantes; CH= Carga Horária; EI= Educação Infantil.

 

2.2.1. Vídeos

O vídeo, como ferramenta no processo de ensino e aprendizagem vem sendo muito utilizado. Parra e Parra (1985, p. 38) acreditam que: “se bem produzidos e utilizados, os auxiliares audiovisuais podem criar uma atmosfera que envolve emocionalmente o aluno, quase um pré-requisito para conseguir levá-lo a um trabalho ativo e auto-iniciado”.

Vale ressaltar a importância dos sentidos na comunicação para o processo de ensino e aprendizagem. Neste contexto, Parra e Parra (1985, p. 42) comentam que “a audição e a visão são responsáveis por 70% da nossa comunicação diária e nesse sentido poderia ser usado o vídeo ou filme educativo, de modo que favoreça uma contribuição efetiva à aula.”.

Utilizamos este recurso audiovisual com as turmas de 1ª a 3ª séries, como elemento introdutório em sala de aula, para transmitir a mensagem da conservação do PAB e dos mananciais, funcionando como um instrumento de apoio em todas as atividades.

As luzes apagadas e o clima de cinema dentro da sala de aula colaboraram para gerar uma grande expectativa nas turmas. Além disso, os atrativos das imagens e do som da natureza do PAB, sem dúvida, fascinaram os alunos que, com o olhar atento, assistiram à exibição do vídeo. Percebemos que os alunos receberam bem a transmissão da mensagem.

 

2.2.2. Mímica ou linguagem gestual

A mímica ou linguagem gestual foi também um dos recursos que utilizamos com os alunos de 1ª a 3ª séries, visando chamar atenção para a importância da água nas atividades de EA. Prado (2009, p. 2) em seu artigo: “A utilização da mímica como recurso psicopedagógico” relata que: “a linguagem gestual nasceu com o homem primitivo e renasce todos os dias como parte da necessidade do mesmo se expressar, comunicar e ajudar no desenvolvimento geral da comunidade.”

Para esta atividade quatro alunos se prontificaram espontaneamente a dramatizar as seguintes frases para turma adivinhar:

“Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.”

“Águas passadas não movem moinho.”

“Uma mão lava a outra e as duas lavam a cara.”

“Quem vai pra chuva é pra se molhar”.

Inicialmente os alunos estavam um pouco tímidos, mas, gradativamente, entraram em um clima de entusiasmo expressando-se por meio dos gestos e estabelecendo, dessa forma, um canal de comunicação entre os colegas da turma, construindo um ambiente de amizade e alegria. Neste sentido, Prado (2009, p. 3) corrobora afirmando que: “O gesto aliado ao que se quer dizer é o meio pelo qual se propaga à afetividade e em si abre canais de comunicação entre o ambiente e o sujeito que uma vez ‘entusiasmado’ torna-se mais receptivo às novas informações ou ao confrontamento de opiniões.”.

Os alunos acertaram a maior parte das mímicas e comentaram uns com os outros sobre os cuidados para evitar o desperdício no uso da água.

 

2.2.3. Gincana

Felicio et al. (2008), em seu artigo “Gincana lúdica ambiental interdisciplinar: analisando interações e movimentos”, se reportam à gincana afirmando que ela pode ser considerada uma atividade lúdica com características intrínsecas ao jogo. No mesmo trabalho, os autores mencionam que “a gincana [...] é uma atividade livre, conscientemente tomada ‘não séria’ e exterior à vista habitual, mas ao mesmo tempo capaz de absorver o jogador de maneira intensa e total.”.

Escolhemos esta modalidade de brincadeira, a qual consistia em responder adivinhações sobre a água, com premiação de brindes, para os acertos. Para esta brincadeira dividimos a turma de 3ª série, aleatoriamente em dois grupos.

Os alunos participaram da gincana de modo intenso e com entusiasmo se esforçando para acertar as perguntas: todos queriam falar ao mesmo tempo, ansiosos para ganhar os brindes. Na Tabela 2 estão listadas as perguntas que nortearam a gincana.

 

Tabela 2. Conteúdo da brincadeira da gincana desenvolvida em escolas públicas de Ananindeua – PA, em 2008.

 

PERGUNTAS

RESPOSTAS

1. Por que os oceanos não merecem confiança?

Porque eles gostam de fazer onda.

2. Quem é que com o calor fica aguado?

O gelo.

3. O que é que entra na água sem se molhar?

A sombra do sol.

4. Diga uma queda sem conseqüência? 

A queda d' água.

5. Fale três dicas preciosas para economizar água.

Diversas respostas a respeito da economia de água.

6. Quais os lagos que abastecem a cidade de Belém?

Bolonha e Água Preta.

7. Por que os lagos Bolonha e Água Preta são importantes para a nossa vida?

Porque fornecem água para a população.

 

Entre as perguntas feitas a que houve maior número de acertos foi: Fale três dicas preciosas para economizar água. Entre as diferentes respostas, os participantes citaram: fechar as torneiras enquanto escovam os dentes, tomar banhos rápidos, fechar o chuveiro quando enquanto está se ensaboando, cuidar dos vazamentos.

Ao procurar falar dos problemas ambientais, alguns alunos apontaram aspectos clássicos da poluição em geral, principalmente os relacionados ao ambiente no qual vivem, como tratamento inadequado do lixo e da água.

 

2.2.4. Contação de histórias

Para algumas atividades foram realizadas pequenas modificações de acordo com o público-alvo, por exemplo: na Escola João XXIII, para atender a turma de crianças especiais, foi utilizado a contação de história da Gotinha Plim-plim, de autoria de Gerusa Rodrigues Pinto (2004).

A contação de história estimula a imaginação e desperta o interesse para a leitura, segundo Nakayama et al. (2007, p. 5): “ao contar histórias estamos estimulando a criança à leitura como algo indispensável e natural em sua vida.” Ao nosso redor, percebemos que os alunos permaneceram em silêncio, ouvindo o desenrolar da história e prestando atenção às figuras do livro. Ao final da história, os alunos se emocionaram com a gotinha e declaravam, “ah, eu gosto tanto da gotinha Plim-plim, ela é importante para mim.”

Perguntamos quem tinha dúvidas sobre o que ouviu e avisamos que seria melhor que se manifestassem um de cada vez, mas, ansiosos, falavam todos ao mesmo tempo. As perguntas formuladas pelos alunos eram do tipo: Por que a gotinha Plim-plim desceu da nuvem? A gotinha Plim-plim é a água que bebemos?

Neste aspecto, Nakayama et al. (2007) acreditam que a história infantil alimenta a imaginação, aprimora o pensamento e amplia na criança sua compreensão de mundo, uma vez que incorpora o texto literário na sua própria realidade.

 

2.2.5. Jogo do passa a bola

Em vista de Kishimoto (2002) afirmar que: “A utilização do jogo potencializa a exploração e a construção do conhecimento, por contar com a motivação interna, típica do lúdico” (2002, p. 37), escolhemos o “Jogo do passa bola” com as turmas de alunos de Educação Infantil.

Nesse jogo, a bola era passada de mão em mão ao som da música. Quando esta era repentinamente interrompida, a criança que estivesse com a bola na mão, teria que “pagar a prenda”, respondendo uma pergunta sobre a preservação do PAB e seus mananciais, conforme roteiro a seguir:

1.     Quais os lagos que abastecem a cidade de Belém?

2.     Como podemos preservar a água?

3.     Como devemos economizar água?

4.     Por que os lagos Bolonha e Água Preta são importantes para a nossa vida?

No início dessa atividade, as crianças se mostraram tímidas, mas após alguns momentos tiveram boa interação e passaram a bola com pressa para não “pagar a prenda” de responder as perguntas.

O clima era de gargalhadas, quando a bola caía ou alguém recebia castigo. Ouvíamos com frequência a expressão: “passa a bola, passa a bola!” ou “ah! Agora vai ter que responder a pergunta.”.

Verificamos que as atividades desenvolvidas foram bem aceitas para as crianças da faixa etária de 08 a 12 anos, entretanto, as crianças com idade inferior a 07 anos tiveram dificuldades de compreender o conteúdo, pois na hora de responder às perguntas da brincadeira do passa bola, relativas à mensagem exibida no vídeo, poucos acertaram.

A partir desta constatação as instituições responsáveis pela ação decidiram utilizar uma abordagem por meio da arte lúdica teatral.

 

2.2.6. O Teatro de Fantoches

O primeiro passo foi à elaboração do conteúdo do texto da peça intitulada: “Naturinha, Quika e João Divino fazem um passeio no Parque Ambiental de Belém”, assim como o estabelecimento da forma como o tema seria trabalhado em sala de aula.

Apresentamos o Teatro de Fantoches em duas ocasiões, em cinco sessões para crianças de primeira a terceira séries totalizando oitenta e oito alunos.

Em todas as apresentações, a participação das crianças foi muito animada e espontânea, como já haviam relatado Ladeira e Caldas (1989, p. 16): Através do boneco, elas expressam as suas próprias emoções, aliviam suas tensões, agem espontaneamente, pondo à mostra sua verdadeira personalidade ao fazer o boneco falar, cantar ou brincar.

Além disso, os alunos interagiram com os bonecos, influenciando no desenvolvimento do enredo da peça em uma linguagem simples e humorística. Neste aspecto, citamos as contribuições de Guerra et al. (2007, p. 7): Apesar de haver um roteiro básico como guia a ser seguido, as falas e o comportamento de cada personagem podiam ser diferentes de acordo com a reação dos espectadores.

Ao final das apresentações, coletamos alguns depoimentos de alunos, os quais expressaram bem o entendimento da mensagem:

“Eu gostei muito do teatro. Aprendi que a gente não pode comprar muitas coisas, só o necessário, porque causa muito prejuízo no meio ambiente e também muito lixo.” (Marina, 09 anos 2ª série).

Aprendi que no Parque a gente pode passear e que não pode jogar lixo na escola, no parque e nos lagos” (Maria Eduarda, 08 anos 2ª série).

Neste aspecto, Ladeira e Caldas (1989, p. 16) afirmam que o teatro de bonecos na escola pode proporcionar ao aluno uma rica e significativa experiência, podendo abrir caminhos para as descobertas e a exploração do mundo que o rodeia.

Aliado a esse fato, o teatro de fantoches cria a possibilidade de colocar os alunos, em um mundo imaginário, mas real conforme nos relatam Guerra et al. (2007, p. 7): Não era raro ouvirmos, entre os alunos dessas escolas, frases como “Não jogue esse papel no chão, você não ouviu o que o Ronaldinho disse?”

Solicitamos também que os alunos respondessem, por meio de um desenho, a pergunta: Qual a mensagem que o Teatro de Fantoches transmitiu para vocês?

Observamos que todas as representações gráficas continham elementos da natureza e do PAB, com ênfase para os lagos e elementos do meio ambiente. Alguns desenhos retrataram, além dos elementos naturais, os elementos construídos pelo homem.

Os desenhos também nos levaram a supor que o Teatro de Fantoches atingiu o seu objetivo, no sentido de sensibilizar as crianças para a necessidade da convivência em harmonia do homem com o ambiente e de conservar a natureza e o PAB.

Os relatos dos professores, da mesma forma, retratam a relevância do Teatro de Fantoches como uma metodologia que possibilita a abordagem ambiental de maneira lúdica em sala de aula, levando o aluno a relacionar a historinha com os problemas vividos no cotidiano.

Eu acho muito importante trazer o lúdico para dentro da sala de aula transmitindo o aprendizado para os alunos, porque é uma forma de penetrar no mundo da brincadeira e despertar a atenção e o interesse do aluno para a questão do meio ambiente que está aqui na nossa frente” (Lúcia, professora da 3ª série).

Eu gostei muito, prendeu o interesse e despertou a atenção. Eles ficaram atentos (as crianças) e se encaixou bem com o conteúdo de Geografia que estou ministrando sobre o meio ambiente”. (Socorro, professora da 2ª série).

“Foi ótima esta atividade! Esse recurso do Teatro de Fantoches é muito bom; a criança aprende brincando, e qualquer atividade se torna prazerosa” (Rosilete, orientadora Pedagógica).

Portanto, consideramos essencial que os professores se prepararem desde a graduação para ministrar atividades lúdicas como instrumento de ensino e aprendizagem. Por exemplo: Franzoni e Villani (2001), na disciplina Prática de Ensino em Biologia, para alunos do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal de São Carlos, verificaram que inicialmente os licenciandos se mostraram resistentes e pouco interessados em relação ao estágio que deveria ser desenvolvido. No entanto, no decorrer da disciplina, os estagiários foram propondo várias atividades lúdicas para os alunos de uma escola pública estadual, de tal forma que concluíram o estágio entusiasmados, conforme expressa este depoimento de uma estagiária (FRANZONI e VILLANI, 2001, p. 16): Conseguimos, por meio do teatro, sensibilizar os nossos alunos. Dessa vez sim, eles ficaram extremamente sensibilizados e até estão pensando no que poderá ser possível fazer para sensibilizar os seus amigos.

 

3.CONCLUSÃO

Partindo do princípio que a predisposição para brincar é parte essencial da natureza infantil, concluímos que a abordagem utilizando metodologias lúdicas possibilita transformar as aulas tradicionais em momentos de alegria e prazer.

O Teatro de Fantoche como instrumento de ensino e aprendizagem em EA foi o mais eficiente em vista de ter despertado o interesse e a participação de todos, resultando em um bom nível de compreensão dos alunos de diferentes séries, portanto, concluímos que essa ferramenta pode ser introduzida, nas práticas pedagógicas das escolas.

Assim, a ONG Novo Encanto em parceria com a SEMA-PA norteará seus futuros trabalhos lúdicos de sensibilização sobre a importância do PAB em outras escolas do entorno, enfatizando o Teatro de Fantoches, possibilitando criar condições para que a comunidade do entorno compreenda o seu papel como cidadãos e possam colaborar para o uso racional dessa Unidade de Conservação.

Salientamos, porém, que nas intervenções lúdicas é fundamental o papel do educador que precisa estar em sintonia com os alunos e disposto não só a ensinar, mas estar aberto a aprender também. Assim, acreditamos que a formação de professores deve contemplar desde a sua graduação, atividades de ensino aprendizagem com conteúdos lúdicos.

 

REFERÊNCIAS

BERNA, V. Como fazer Educação Ambiental. São Paulo: Paulus, 2001.

 

BOFF, L. Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela Terra. Petrópolis: Vozes, 1999.

 

BRANDÃO, C.R. Pesquisa participante. São Paulo: Brasiliense, 2006.

 

CARVALHO JR, J.R.; CARVALHO, N.A.S.S.; NUNES, J.L.G.; SANTANA, A.R.; ARAÚJO, M.L.; NAKAYAMA, L. 2008. Projeto peixes da Amazônia: relato de caso no Parque Ambiental de Belém - PA. Educação Ambiental em Ação, n.24, ano VII, junho-agosto de 2008. Disponível em: www.revistaea.org/artigo.php?dartigo=516&class=21. Acesso em: 10jun2009.

 

DUAILIBI, M. Prefácio à edição brasileira. In: Alfabetização ecológica: a educação das crianças para um mundo sustentável. São Paulo: Cutrix, 2006.

 

FELICIO, C.M.; ELIAS, A.A.A.K.; NASCIMENTO, G.B.; QUEIROZ, C.R.A.A.; PEIXOTO, A.J.; SOARES, M.H.F.B. 2008. Gincana lúdica ambiental interdisciplinar: analisando interações e movimentos. Disponível em: http://www.iesa.ufg.br/congea/cong/nupeat_TRAB/id000000000000148r0.pdf. Acesso em: 11abr2009.

 

FRANZONI, M.; VILLANI, A. Uma experiência de grupo na formação inicial de professores. In: Educação em Ciências: da pesquisa à prática docente. NARDI, R. (org.). São Paulo: Escrituras, 2001.

 

GUERRA, R.A.T.; GUSMÃO, C.R.C.; SIBRÃO, E.R. 2007. Teatro de fantoches: uma estratégia em Educação Ambiental. Disponível em: http://www.dse.ufpb.br/ea/Masters/Artigo_4.pdf. Acesso em: 29out2008.

 

KISHIMOTO, T.M. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo: Cortez, 2002.

 

LADEIRA, I.; CALDAS; S.S. Fantoche & Cia. São Paulo: Scipione, 1989.

 

LYNCH, C.F.L.; SILVA, M.M.; LOBATO, C.; ARAÚJO, M.L.; MELLO, C.F.; BELUCIO, L. F.; NAKAYAMA, L. Fatores impactantes no Parque Estadual do Utinga. I Encontro Pan-Amazônico, I Reunião CIEA’S do Norte, II Encontro Estadual de Educação Ambiental. Belém - PA. Trabalho completo. CDROM1. 2005.

 

MEDINA, N.M. Formação de multiplicadores para Educação Ambiental. In: O contrato social da Ciência: unindo saberes na Educação Ambiental. PEDRINI, A.G. (org.). Petrópolis: Vozes, 2002.

 

NAKAYAMA, L.; SOARES, S.A.; PRIETO, C.; SANTANA, A.R.; DANTAS, O.M.S. Espaço de Leitura Profa. Ana Lúcia Santos de Jesus e a formação de grandes leitores em Belém- PA. Educação Ambiental em Ação. Nº 22, 2007. Disponível em: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=516&class=21. Acesso em: 09abr2009.

 

OLIVEIRA, M.K. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento, um processo sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 1993.

 

PARRA, N.; PARRA, I.C.C. Técnicas audiovisuais de Educação. São Paulo: Pioneira, 1985.

 

PRADO, F. A utilização da mímica como recurso psicopedagógico, 2009. Disponível em: http://www.portalensinando.com.br/ensinando/principal/conteudo.asp?id=4315. Acesso em: 11abr2009.

 

RECHINELI, L.R.; FERREIRA, A.S.; FERREIRA, C.G.; ASSUNÇÃO, I.L. 2008. Vivendo o letramento: práticas cotidianas na educação infantil. EMEI “Casinha Feliz” e Secretaria Municipal de Educação de Campinas. Disponível em: http://www.alb.com.br/anais16/sem10pdf/sm10ss05_07.pdf. Acesso em: 19mar2009.

 

PINTO, G.R. A gotinha Plim Plim. Belo Horizonte: FAPI, 2004.

 



 

Ilustrações: Silvana Santos