Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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O que fazer para melhorar o meio ambiente
13/03/2023 (Nº 82) O QUE É AGRICULTURA URBANA E QUAIS SÃO SEUS BENEFÍCIOS?
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O QUE É AGRICULTURA URBANA E QUAIS SÃO SEUS BENEFÍCIOS?

Por Christina Pontes



 

Imagem: Freepik

Será que a vida no campo é necessariamente uma oposição ao estilo de vida urbano? A própria expressão “Agricultura Urbana” já é um ponto de partida para desconstruir tal ideia. Mas o que seria agricultura urbana? Como implantá-la? E por que adotar ou fomentar esta cultura na sua cidade?

Conceito de Agricultura Urbana:

A agricultura urbana pode ser conceituada como um conjunto de técnicas e adaptações urbanísticas objetivando levar o cultivo de alimentos às cidades. Os benefícios de tal medida são diversos, porém, iremos elencar e contextualizar a importância da prática atualmente.



Principais problemas no microclima urbano

Desde o ensino básico escolar é comum ouvir que os grandes centros urbanos sofrem com muitos problemas ambientais. Inúmeras são as razões como ausência de vegetação, poluição do ar por gases tóxicos, crescimento desordenado etc. Se você não está lembrado das principais consequências da desordem ambiental urbana, vai aqui um breve apanhado.

Ao passar algum tempo numa cidade grande e verticalizada, é fácil notar que a temperatura em dias quentes fica bastante elevada, com pouco vento e sensação térmica de um forno a céu aberto.

Este fenômeno conhecido como “Ilha de Calor” ocorre pelo excesso de concreto e asfalto, pouca vegetação e adensamento de prédios. Tais elementos absorvem muito calor e reunidos em um só lugar não deixam espaço para a circulação de ar.

Já no caso de inversão térmica, a retenção do ar frio fica próxima à superfície. Junto ao ar acumulam-se elementos tóxicos emitidos com a poluição atmosférica, dificultando sua dispersão. O seu maior problema são os danos causados ao sistema respiratório dos habitantes e isso é potencializado nos meses mais frios.

Por falar em elementos tóxicos no ar, outro fenômeno pode ser gerado a partir deles, a chuva ácida. Esta é uma reação causada pela grande quantidade de toxicidade emitida no ar com a poluição atmosférica.

A combinação não é nada boa, provocando a formação de uma precipitação com nível alto de acidez. Isso pode ser prejudicial para plantas, além de causar corrosão de equipamentos e comprometer a qualidade de água potável disponível.

Diante de tantos malefícios, rever o estilo de vida e buscar soluções para melhorar a qualidade de vida nas cidades é essencial. O ideal mesmo é que seja uma iniciativa de caráter universal estimulada por meio da conscientização ambiental nas instituições de ensino.

A agricultura urbana como uma aliadaa ao combate à poluição

A necessidade de áreas verdes para a melhoria da qualidade do ar é uma realidade. Inclusive, no Brasil, muitos planos diretores tentam estimular e até exigir um mínimo de área verde em empreendimentos de construção civil.

Em outros países, a tendência é muito forte. O governo de Vancouver se comprometeu com um projeto chamado Greenest City 2020, que propõe uma transformação verde. A iniciativa pública tornou-se causa coletiva e a cidade já conta com mais de 40 hortas urbanas.

O projeto adotado partiu da premissa que se alimentar localmente diminui gastos com embalagens, desperdícios de alimentos no transporte até a capital e reduz a poluição. Além disso, garante acesso a uma grande diversidade de hortaliças e frutas frescas.

Com tantas vantagens, pode-se dizer que a Agricultura Urbana é uma aliada da sustentabilidade ambiental. Ou mais que isso, é uma forte aliada na persecução dos objetivos para o desenvolvimento sustentável estipulados pela Organização das Nações Unidas – ONU.

Assim, quando falamos em poluição, não podemos esquecer de vários fatores indiretos que a produzem. É importante considerar o combustível para transporte, congestionamento, embalagens, desperdício de carga e descarte incorreto como fatores contributivos.

Logo, o ato de plantar o próprio alimento pode garantir segurança alimentar, fácil acesso a hortaliças e redução da pegada de carbono, buscando agir localmente para evitar um mal maior: o Aquecimento Global (clique aqui para saber mais)

Quer saber mais sobre planejamento urbano? Confira aqui o texto “Planejamento Urbano no Brasil: um breve histórico”.

Como implementar a agricultura urbana?

Muitos têm dúvida sobre como implementar no apinhado espaço urbano hortas e plantações que garantam o alimento para as pessoas.

Desde já, é preciso enfatizar que a agricultura urbana é uma produção complementar. O modelo dificilmente atenderá a demanda necessária para abastecer uma população inteira. Contudo, é um método muito eficiente para garantir a diversidade produtiva, a aproximação das pessoas com a natureza e a melhoria da qualidade do ar.

Sendo a verticalização uma realidade, o cultivo poderá ser feito da mesma forma. O aproveitamento de telhados como espaços produtivos, jardins em torres de hidroponia e varandas são as propostas mais viáveis.

Todas essas alternativas favorecem na melhoria da qualidade do ar, na utilização eficiente de água pluvial, no favorecimento do bioma local. Além de tudo, caso a produção seja feita diretamente no solo, ajuda no escoamento de água, reduzindo inundações. Vale também destacar a existência de vários mecanismos para captar chuva e usá-la na irrigação da horta.

A transformação de uma cobertura comum em um telhado verde não requer alto investimento, tendo apenas alguns elementos indispensáveis. Basicamente, é necessário que haja:

Impermeabilização da área;

Lâmina de água;

Módulos para plantar;

Membrana (pele protetora que permite às raízes chegarem na água;

Substrato (composto orgânico nutritivo);

Plantio de frutas e hortaliças.

Outra sugestão bastante atraente é restaurar terrenos baldios ociosos para transformá-los em hortas urbanas, mas muito cuidado neste momento! Em geral, esses espaços de terra são contaminados com materiais de descarte. Dessa forma, é preciso estudar, diagnosticar e restaurar o solo para começar uma plantação inofensiva ao consumo.

Iniciativas verdes só são viáveis se realizadas com responsabilidade quanto à segurança física e alimentar de todos.

O cultivo de hortaliças como ferramenta de transformação social

Sem dúvida a agricultura urbana merece ser implantada e multiplicada em vários lugares do mundo. E a sua importância não se resume à necessidade de tornar a vida nas cidades mais sustentável, mas também pela capacidade educativa que a sua prática promove.

Você sabia, por exemplo, que vários estados do Brasil já implementaram programas de agricultura urbana para detentos em presídios? Tais iniciativas, inclusive obtiveram excelentes resultados. Os apenados passaram a trabalhar em prol da melhoria de sua própria alimentação e de instituições sociais.

Além disso, aprenderam uma técnica de sobrevivência básica que pode assegurar a subsistência. Em adição a tudo isso, o trabalho realizado ajuda a abater no tempo de cumprimento da pena no presídio.

Os depoimentos sobre o cultivo são comoventes. Para muitos participantes do programa, o trabalho com a terra e a recompensa da colheita abriu uma saída para viver em sociedade longe do crime. Depoimentos semelhantes são coletados em comunidades pobres onde a horta comunitária passou a ser uma fonte básica de abastecimento alimentar.

Horta cultivada ao redor de unidade prisional

Outro projeto social de grande potencial transformador é o cultivo de horta realizado em escolas públicas, visando a educação ambiental. O envolvimento com a terra promoveria, neste sentido, uma experiência prática fomentando o engajamento, participação, responsabilidade e cooperação nos estudantes.

O ensino em colégios visa ensinar o passo-a-passo da relação com a natureza, desde o ato de plantar até o de colher. O trabalho envolve aspectos multidisciplinares, exercitando bastante a inteligência emocional das crianças.

Afinal, para trabalhar com o solo e conseguir algum retorno é necessário exercitar a inteligência emocional. Inclusive, é um ensino sobre paciência, a lidar com impactos do clima, com frustrações quando as sementes não vingarem e com adversidades, quando pragas surgirem.

São ainda essenciais os conhecimentos sobre poda, adubação, drenagem. Mas nada se compara ao estímulo à sensibilidade que essa atividade traz. A plantação estimula a percepção sobre os sinais e linguagens dos seres vivos.



Os benefícios incomensuráveis

Ao longo do texto, pôde-se notar que a agricultura urbana tem potencial de ser aliada à profissionalização dos cidadãos, ao empreendedorismo, à melhoria da qualidade do ar, ao combate à poluição, ao apoio à educação ambiental, à luta contra as mudanças climáticas e ao embelezamento da paisagem urbana.

Entretanto, outro ponto difícil de mensurar, mas muito pertinente merece ser abordado, qual seja, a saúde mental.

Apesar da vida urbana proporcionar facilidades e oportunidades em cada esquina, muitos habitantes sofrem com angústias derivadas da agitação. A rapidez exigida, a alta competitividade e muitas outras consequências da superlotação tem desencadeado uma série de problemas psicológicos. Lidar com tanta pressão não é fácil.

Portanto, estudos feitos ao redor do mundo passaram a analisar o comportamento humano dentro e fora da cidade. Os resultados são impressionantes! Pesquisadores do Reino Unido perceberam que atividades na natureza acrescidas no cotidiano das pessoas são grandes aliados ao equilíbrio mental.

Na Escócia, alguns médicos passaram a prescrever tempo em espaços verdes aos pacientes cardíacos e com depressão. A exposição infantil à natureza também se mostrou eficiente para a melhoria da imunidade, humor, estímulo cognitivo e diversos tipos de aprendizado.

Na Universidade de Illinois (EUA), a professora Ming Kuo acompanhou estudos sobre exposição à natureza como terapia e fez grandes descobertas. Com mais de uma década de estudo, ela analisou os benefícios para a saúde, combate a infecções e doenças mentais.

Kuo defende que respirar certos micróbios encontrados no solo, com o potencial de melhorar o humor, pode ser benéfico. Além de que produtos químicos antimicrobianos liberados por plantas (os fitocidas) podem contribuir positivamente para a saúde.

E aí, depois de todas essas considerações, a agricultura urbana parece relevante pra você? Conta aqui nos comentários.

Referências:

Ecycle – Agricultura Urbana e Orgânica: entenda por que é uma boa ideia

Senado Notícias – Projeto incentiva cultivo de hortas orgânicas em presídios

CASACOR – Telhado Verde: O que é e quais são as vantagens

UOL – Mundo Educação – Problemas Atmosféricos Urbanos

UOL – Brasil Escola – Inversão Térmica

Secretaria de Educação do Governo do Paraná – O que são Ilhas de Calor?

Brasil Escola – Chuva Ácida: origem, como se forma e ocorrência

Jardim do Mundo – Hortas Urbanas e a tranformação de Vancouver em uma cidade mais verde

Revista Casa e Jardim – Médicos escoceses receitam doses de natureza como parte do tratamento de doenças

BBC News – As doses diárias de Natureza que podem reduzir seu estresse

Quem escreveu este conteúdo?

CHRISTINA PONTES

Natural de Recife, jurista, especialista em Auditoria Ambiental e Direito Público, faz hoje 2ª graduação em Marketing. É apaixonada por escrever e pesquisar desde muito cedo, acredita que, através da comunicação adequada, qualquer interesse e empatia podem ser despertados se a ideia for bem direcionada.

Fonte: O que é Agricultura Urbana e quais são seus benefícios? | Politize!



Ilustrações: Silvana Santos