Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Relatos de Experiências
11/06/2019 (Nº 68) AVALIAÇÃO E APLICABILIDADE DE UMA CARTILHA VOLTADA À COMUNIDADES PESQUEIRAS NA AMAZÔNIA PARAENSE
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AVALIAÇÃO E APLICABILIDADE DE UMA CARTILHA VOLTADA À COMUNIDADES PESQUEIRAS NA AMAZÔNIA PARAENSE



EVALUATION AND APPLICABILITY OF A PRIMER AIMED AT FISHING COMMUNITIES IN THE PARAENSE AMAZON

Priscila de Lima e Silva Dutra1, Manoel Márcio M. Borges², Nivia Maria V. Costa³

1 Professora de Língua Portuguesa. Especialista em Ciências Ambientais e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia, Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologias do Pará – IFPA. E-mail: prisciladlimaesilvadutra@gmail.com

2 Especialista em Ciências Ambientais e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia, Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologias do Pará – IFPA. E-mail: marciocn2012@gmail.com

³ Pós-doutoranda em Educação/ Universidade de Coimbra - Professora doutora do Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologias do Pará – IFPA. E-mail: nivia.costa@ifpa.edu.br



Resumo: A pesquisa em questão propõe discutir a educação ambiental em áreas de manguezal na Amazônia Paraense através da aplicação em sala de aula da cartilha “Ecologia Costeiro-Estuarina e os Saberes Pesqueiros Locais”. O objetivo da pesquisa foi avaliar a cartilha como recurso metodológico para a Educação Ambiental voltada às áreas de manguezal, na Região dos Caetés, Amazônia Paraense, pretendendo-se compreender de que modo ela pode de fato contribuir no entendimento das espécies, natureza e preservação do meio ambiente local. A abordagem utilizada foi à qualitativa, com aplicação de questionários, antes e após o uso da cartilha, com análise de conteúdo dos dados apresentados. Os resultados indicaram que os alunos apresentaram uma visão comum sobre o que é preservação, referindo-se à poluição do lixo descartado. Ao final, obteve-se um avanço do conhecimento no que tange as questões da ecologia do sistema local, além da valorização do ecossistema que por eles não era percebido de maneira crítica.

Palavras-chave: Cartilha. Educação Ambiental. Comunidades Pesqueiras.



Abstract: The research in question proposes to discuss environmental education in mangrove areas in the Paraense Amazon region through the classroom application of the booklet "Coastal-Estuarine Ecology and Local Fishing Knowledge". The objective of the research was to evaluate the primer as a methodological resource for Environmental Education focused on the mangrove areas, in the Caetés Region, Amazon Paraense, aiming to understand how it can in fact contribute to the understanding of species, nature and preservation of the local environment. The approach used was qualitative, with the application of questionnaires, before and after the use of the booklet, with content analysis of the presented data. The results indicated that the students presented a common view on what is preservation, referring to the pollution of discarded garbage. In the end, there was an advance of knowledge regarding the issues of the ecology of the local system, besides the appreciation of the ecosystem that was not perceived by them in a critical way.



Keywords: Booklet. Environmental education. Fishing Communities.



INTRODUÇÃO



O uso de cartilha como instrumento de base para o desenvolvimento de temas transversais, como educação ambiental, é um meio prático, de fácil compreensão e interação no ensino e aprendizagem devido sua linguagem e estrutura ilustrativa. Diferentemente ocorre ao se trabalhar educação ambiental através de um livro didático que possui em sua estrutura uma linguagem menos interativa, colocando o aluno como ser secundário no processo de ensino e aprendizagem.

Se devidamente manuseada pelo professor em sala de aula e utilizada adequadamente, a cartilha pode ser um material com grande potencial na educação, proporcionando interação e metodologias de ensino em que o aluno, com o auxílio do docente, passe a ser o sujeito no processo da construção do conhecimento. Geralmente, a cartilha é pensada e elaborada com a finalidade de atingir seu público alvo,partindo do conhecimento com base no senso comum à construção do conhecimento científico, em que o aluno terá a oportunidade de dialogar de maneira produtiva.

A cartilha “Ecologia Costeiro-Estuarina e os Saberes Pesqueiros Locais”, da coleção “Da Pesca à Escola”, surgiu a partir de um conjunto de atividades de ensino, pesquisa e extensão desenvolvidos pelo grupo ESAC – Estudos Socioambientais Costeiros da Universidade Federal do Pará/ Campus de Bragança, na Amazônia Oriental. Este material didático-pedagógico foi construído com base nos Conhecimentos Ecológicos Pesqueiros Locais (CEL). O diferencial do material encontra-se na sua elaboração que partiu de pessoas da própria comunidade para qual ela foi pensada, na Escola Municipal Domingos de Sousa Melo, localizada na comunidade da vila de Bonifácio, município de Bragança, Pará. Dentre seus autores que compuseram a cartilha, contou-se com a participação dos alunos da educação básica, pescadores (as), docentes da educação e os próprios pesquisadores, condutores do projeto. O objetivo desse artigo foi avaliar a aplicação dessa cartilha como recurso metodológico para a Educação Ambiental voltada para áreas de manguezal, na Região dos Caetés, Amazônia Paraense. Pretendeu-se compreender de que modo a cartilha pode de fato contribuir para o entendimento das espécies, natureza local e preservação do meio ambiente.

A pesquisa mostra-se relevante para a comunidade científica pois traz elementos relacionados ao homem, mulher, jovem e criança de uma comunidade pesqueira, a Vila do Castelo em Bragança-PA, e sua relação com o meio ambiente, respeitando os saberes dos povos tradicionais. A pesquisa é pioneira por ser o primeiro estudo realizado da aplicação e avaliação da cartilha “Ecologia Costeiro-Estuarina e os Saberes Pesqueiros Locais”, da coleção “Da Pesca à Escola”. Seus resultados visam contribuir na reelaboração das próximas edições, a partir das contribuições dos alunos e alunas de outra comunidade da região, bem como nos ajudará a compreender como os eles percebem o meio ambiente e de que modo contribuem para sua preservação.



A CARTILHA “ECOLOGIA COSTEIRO-ESTUARINA E OS SABERES PESQUEIROS LOCAIS”: CRIAÇÃO, APLICAÇÕES E REFLEXÕES



A cartilha “Ecologia Costeiro-Estuarina e os Saberes Pesqueiros Locais” surgiu a partir da necessidade de desenvolver um material didático pedagógico específico para alunos da comunidade pesqueira na Vila do Bonifácio, localidade situada na Península de Ajuruteua, na cidade de Bragança, estado do Pará. A Península possui uma extensa área de manguezal que compreende ao entorno 95% da região (SOUZA FILHO, 2001 apud BARBOZA; VIEIRA, 2018), composta por três comunidades: Vila do Meio, Vila dos Pescadores e Comunidade do Bonifácio (KRAUSE; GLA-SER; SOARES, 2005 apud VIEIRA; SIQUEIRA; PAOLO, 2014).

A cartilha advém da construção coletiva entre as pesquisadoras Barboza e Vieira (2018) e seu público alvo: pessoas da comunidade, pescadores e pescadoras e alunos da Escola Municipal de Educação Infantil Fundamental Domingos de Souza Melo, todos localizados na Vila dos Pescadores e Comunidade do Bonifácio. A comunidade do Bonifácio fica a aproximadamente 35km da cidade de Bragança, situada ao nordeste do Pará, no oriente da Amazônia, região popularmente conhecida como Salgado Paraense, tendo como principal fonte de renda da população a pesca artesanal, que se configura além da pesca de peixes, a captura também de crustáceos e moluscos (VIEIRA; SIQUEIRA; PAOLO, 2014).

A criação do material didático pedagógico surgiu com base nos Conhecimentos Ecológicos Locais (CEL) compartilhados/coletados entres os pescadores e pescadoras da Península de Ajuruteua. A publicação deste material ocorreu através de duas pesquisas de mestrado do Programa de Pós Graduação em Biologia Ambiental – UFPA/Campus de Bragança. As pesquisadoras perceberam que na escola, localizada na comunidade do Bonifácio, havia uma disparidade dos conteúdos escolares com a realidade local, assim como a ausência de materiais pedagógicos que dessem embasamentos aos trabalhos com na realidade amazônica encontrada.

Com isto, as pesquisadoras buscaram recolher os CEL através dos relatos orais de pescadores e pescadoras, reunindo informações da complexa relação do homem camponês com o meio ambiente costeiro praiano cercado da evidente presença de manguezais. A partir das histórias coletadas e a participação de cerca de 30 alunos da escola Domingas de Sousa, que participaram ativamente no processo de ilustração, surgiu o material paradidático com os conteúdos compilados pelas mestrandas, transformando-se numa cartilha voltada às comunidades costeiro-estuarino de característica pesqueira, em forma de retorno à localidade gênese dos trabalhos ali desenvolvidos.

A cartilha reúne assuntos sobre o ciclo da maré conforme as fases da lua; a comedia dos peixes; a cadeia alimentar; as relações ecológicas; comportamentos dos peixes; animais nativos; algumas curiosidades, entre outros. A ilustração a seguir foi escolhida, dentre tantas produzidas pelos alunos da escola, para ser a capa da cartilha. A ilustração é de autoria do aluno Eduardo Bandeira (BARBOZA, 2017).

Na ilustração percebeu-se que o aluno conseguiu representar a vida do pescador e sua relação com o mar, ao reproduzir o trabalho de pesca, com uma rede de malhadeira, e ao fundo, no canto direito, enxerga-se timidamente a representação do mangue, ou seja, os elementos naturais mais presentes em seu cotidiano foram incluídos na sua arte.

A representativa da relação dos seres vivos é outra imagem encontrada na cartilha, ilustrada pela cadeia alimentar, que reúne elementos e relações conhecidas pelas crianças, sendo a maioria delas filhos e filhas de pescadores da comunidade. As pesquisadoras relatam que eles só tiveram dificuldade em desenhar os animais não tão próximos a sua convivência, como o peixe boi e o búfalo, como vemos no relato a seguir,

A grande dificuldade do grupo esteve relacionada ao desenho de animais pouco visualizados por eles, como o peixe boi e búfalos. Por outro lado, animais e vegetais mais comuns, como árvores do mangue – mangue vermelho (Rhizophoramangle),mangue branco (Avicenniagerminans), pescada amarela (Cynoscionacoupa), corvina(Cynoscionvirescens) e sardinha(Anchoviaclupeoides; Cetengraulisedentulus), eram mais facilmente desenhados. (BARBOZA; VIEIRA, 2018, p. 7)

Com base nas coletas à construção da cartilha, as autoras fazem as seguintes assertivas:

Alicerçado na referida discussão e cenário de estudo, percebeu-se que um material didático, abrangendo os saberes ecológicos locais, possibilitaria aproximar, de certa forma, a vivência local dos pescadores artesanais, seja com o mangue ou com o mar, no ensino de Ciências, Biologia, Geografia e outras disciplinas do currículo escolar. Assim, a cartilha foi desenvolvida, como dito acima, a partir de relatos dos pescadores e das pescadoras. Desses relatos, foram reunidos diversos temas (interações tróficas, relações ecológicas entre os seres vivos, fenômeno da maré, aporte de nutrientes dos rios, cuidado parental, importância dos manguezais e o tópico curiosidades) acompanhados de desenhos de crianças e jovens, alunos da Escola Municipal de Educação Infantil e Fundamental Domingos de Souza Melo, confeccionados no ano 2015. (BARBOZA; VIEIRA, 2018, p. 6)

Uma cartilha como esta produzida com base na coleta das histórias dos próprios pescadores e pescadoras da comunidade é um material riquíssimo em elementos da realidade do próprio indivíduo, tanto para a escola dessa comunidade em questão como para outras escolas com semelhantes características na região. Construir este material a serviço da Educação Ambiental na região da Amazônica Paraense dá subsídios às novas pesquisas das realidades socioterritoriais encontradas no Pará e na própria região de Bragança, que não possui só áreas pesqueiras, mas de campos, colônias, e de outros povos tradicionais.

A autora deste artigo esteve presente na cerimônia de lançamento do material produzido, que ocorreu dia 25 de janeiro do ano de 2018, na Escola Municipal de Ensino Infantil e Fundamental Domingos de Sousa Melo, onde reuniu a comunidade local, alunos, o corpo docente, gestão escolar, os pesquisadores e demais pessoas que prestigiaram o lançamento da cartilha. No dia, foram distribuídos alguns exemplares, deixados no acervo da biblioteca escolar para utilização dos alunos e incrementação do trabalho dos professores em escola. Nas imagens seguintes seguem alguns momentos do lançamento.

Fotografia 1: Imagem do lançamento da cartilha pelas autoras (Janeiro/2018)

Fonte: Página virtual da EMEIF Domingos de Sousa Melo (2018)

O recebimento do produto final ilustrado pelos alunos da escola foi recebido com muita estima. Ter um material produzido por eles, a partir da realidade deles, em que os próprios foram participantes autores no processo da construção da cartilha, lhes trouxe uma significação a mais, estimulando o sentimento de pertencimento e valorização dos saberes local e sua localidade, tudo isto fruto no processo educacional. Isto faz com que o aluno se enxergue através do material e do conteúdo produzido.

Fotografia 2: Recebimento da cartilha e apreciação do material

pelos alunos da Escola Domingo de Sousa Melo

Fonte: Página virtual da EMEIF Domingos de Sousa Melo (2018)

Observou-se durante o lançamento que o material ainda não havia sido aplicado como recurso metodológico em sala de aula por professores das disciplinas regulares. Esta lacuna despertou o interesse de investigar de que maneira a cartilha seria recebida por alunos de outra comunidade tradicional pesqueira e como este material e o conteúdo produzido poderiam acrescentar no conhecimento de alunos com semelhantes características de vivência além do que compreender quais conceitos/concepções sobre a biodiversidade local e a preservação do meio são mais recorrentes entre os alunos que moram em vila de pescadores.

Mediante esses pontos levantados, surgiu a inquirição de se fazer uma pesquisa experimental da aplicação da cartilha voltada à educação ambiental em comunidades tradicionais pesqueiras da Amazônia paraense.



METODOLOGIA DA PESQUISA

ABORDAGEM METODOLÓGICA E INSTRUMENTOS DA PESQUISA



Tratou-se de uma investigação social, pois se estava interessado “[...] na maneira como as pessoas espontaneamente se expressam e falam sobre o que é importante para elas e como elas pensam sobre suas ações e as dos outros”(BAUER E GASKELL, 2002, p.20). Optou pela abordagem qualitativa uma vez que o pesquisador social ao fazer uso dessa abordagem deve empenhar-se em “torna-se capaz de ver através dos olhos daqueles que estão sendo pesquisados" (BRYMAN, 1988, p.61), visto que é necessário compreender as interpretações que os atores sociais possuem do mundo que os cerca.

Para o delineamento da pesquisa, optou-se pelo experimento com a utilização da cartilha “Ecologia Costeiro-Estuarina e os Saberes Pesqueiros Locais” em uma turma de alunos do 8º e 9º ano da Vila do Castelo/Bragança-PA, com intervenções antes e depois da sua aplicação. Para tal foi utilizado como instrumento de pesquisa o questionário, denominado aqui de pré-teste e pós-teste e a observação direta. O questionário teve o propósito de “[...] coletar dados que devem ser respondidos por escrito” (MARCONI & LAKATOS, 1999, p.100) e a observação direta foi um instrumento utilizado “pois permite que o observador chegue mais perto da perspectiva dos sujeitos” (LUDK e ANDRÉ,1986, p.26).

Antes do início da aplicação do primeiro questionário, foi perguntado aos alunos se eles estavam de acordo em contribuir com uma pesquisa voltada à aplicação da cartilha “Ecologia Costeira Estuarina e os Saberes Pesqueiros Locais”, os alunos disseram que sim e participaram voluntariamente da pesquisa.

Aplicou-se o questionário inicial para coleta de dados para se fazer um levantamento prévio dos conhecimentos acerca da concepção de meio ambiente; de quais formas eles adquirem informação a respeito do meio ambiente; quais problemas existentes em sua comunidade e cidade; qual a compreensão sobre seres vivos, exemplificando alguns; quais seres vivos eles identificam ao seu redor; e, qual a compreensão sobre os animais e plantas nativas, exemplificando na resposta. O pré-teste foi elaborado a partir de uma proposta dos autores Gonçalves e Diehl (2012), na qual eles utilizaram a pesquisa como diagnóstico dos conhecimentos básicos que os alunos trazem à sala de aula.

Utilizou-se em seguida a cartilha com os alunos e posteriormente aplicou-se o segundo questionário que buscou verificar a funcionalidade da cartilha no ensino da ecologia estuarina, a qual envolve animais da realidade local, coletou-se a avaliação dos alunos sobre a cartilha, se ruim, regular, boa ou excelente, justificando a escolha feita; sobre o que o aluno aprendeu com a cartilha; sobre o que mais gostou; o que menos gostou ou o que mudaria no material; a opinião sobre a linguagem da cartilha, se de fácil entendimento ou difícil entendimento; se o material atende a realidade em que mora, assinalando sim ou não e justificando sua escolha; e, por fim, se a cartilha ajudou na formação da consciência ambiental para preservação do ambiente local, assinalando sim ou não e justificando a resposta.

A pesquisa desenvolveu-se em dois momentos distintos, sempre com uma hora de duração, das 11h às 12h00, tempo cedido pela direção escolar durante a disciplina modular de Ciências. A primeira etapa ocorreu em Maio de 2018, inicialmente com a apresentação da pesquisa e sensibilização dos alunos para a participação, posteriormente, a aplicação do pré-teste e em seguida a utilização de parte da cartilha com a inclusão de vídeos e documentários voltados para a temática.

Em decorrência das greves nacionais e férias escolas houve a interrupção das atividades e a segunda etapa ocorreu em Agosto de 2018,após o retorno das férias escolares, quando já estava ocorrendo adisciplina de Educação artística. Dentro do mesmo horário estipulado na primeira etapa foram cedidos dois dias para finalização da intervenção pedagógica. Nos dois dias foram feitas as leituras finais da cartilha, de forma coletiva, dirigida pela pesquisadora e finalizou-se com a aplicação do segundo questionário, coletando as respectivas contribuições dos alunos que estiveram presente ao término da intervenção metodológica.

Para a análise dos dados optou-se pela análise de conteúdo, pois,

[...] assim como as pessoas expressam seus pontos de vista falando, elas também escrevem. Deste modo, os textos, do mesmo modo que as falas, referem-se aos pensamentos, sentimentos, memórias, planos e discussões das pessoas, e algumas vezes nos dizem mais do que seus autores imaginam. (BAUER E GASKELL, 2002, p.189)

Durante a aplicação da cartilha os alunos produziram textos e imagens que foram importantes para compreender os resultados da pesquisa realizada. A análise de texto faz uma ponte entre um formalismo estatístico e análise qualitativa dos materiais. (BAUER E GASKELL,2002).



cenário e lócus da pesquisa



O cenário da pesquisa foi o município de Bragança, situado no estado do Pará, na Amazônia Paraense. Bragança dista da capital do Pará a aproximadamente 200km, é uma das cidades mais antigas do estado com 404 anos de historicidade e uma população com cerca de 110 mil habitantes (IBGE,2017). A cidade é rica em cultura em que se sobressaem a culinária, os artesanatos, a religiosidade e as suas danças típicas. A economia da cidade é com base na pesca, agricultura e extrativismo e, em destaque, tem-se a produção de farinha de mandioca como elemento identitário regional que é consumido localmente e exportado para outros estados do Brasil (BORGES, 2015).

Figura 1: Mapa do estado do Pará, com destaque a Bragança-PA

Fonte: IBGE (2017)

No município de Bragança há uma comunidade chamada Vila do Castelo que fica aproximadamente a 16,5Km do centro da cidade, localizada na área rural. O povoado abriga cerca de 754 habitantes, em 171 domicílios. A Vila do Castelo é banhada pelo Rio Taperaçu e em todo entorno da comunidade o cenário paisagístico é formado por vastas extensões de manguezais. Dentre suas características destacam-se a religiosidade através dos festejos de São Pedro, São Raimundo Nonato e Círio de N.Srª das Graças, além do festival da Pescada, festa tradicional de Verão. Os habitantes possuem como fonte de renda principal a pesca artesanal, além da renda da produção pesqueira e dos materiais de manejo da pesca, acrescidos dos benefícios das bolsas distribuídas pelo Governo Federal. Outra fonte de renda secundária é a extração do caranguejo e pesca do camarão (REGINA; ROCHA, 2015).

No rio que fica às margens da comunidade e dá vazão à pesca o peixe mais capturado é a Pescada Amarela (Cynoscion acoupa), de significativo valor comercial. De frente para o rio fica localizada a escola da comunidade.

A Vila do Castelo é reconhecida como comunidade tradicional, em que a extração dos recursos naturais ali encontrados acontecem de modo equilibrado, sem prejuízos à biodiversidade local pois eles fazem parte de uma Reserva Extrativista (RESEX), demonstrando que eles possuem (intrinsecamente) a responsabilidade ecológica de preservação dos recursos ali presentes (REGINA; ROCHA, 2015). Veja a seguir nos mapas as dimensões e distâncias do centro urbano da cidade de Bragança, com fotos retiradas via satélite do Google Maps.

Figura 2: Distância de Bragança para Vila do Castelo

Fonte: Google Maps (2018)



Figura 3: Dimensões da Vila do Castelo

Fonte: Google Maps (2018)

O lócus da pesquisa foi a escola EMEIF Profª Maria Augusta Corrêa da Silva, escola que atende o ensino infantil e o ensino fundamental. A escola possui 19 funcionários, atendendo 22 alunos na pré-escola, 103 alunos nos anos iniciais (fundamental menor), 77 alunos dos anos finais (fundamental maior) e quatro alunos da educação especial. Sua estrutura está dividida em uma biblioteca, uma cozinha, sala de diretoria, sala de professores, banheiros dentro do prédio, banheiro adequado à educação infantil, despensa, pátio coberto, refeitório e seis salas de aula (SEDUC, 2017).

A escola surgiu devido à necessidade de atender as crianças que já haviam iniciado a vida escola na Praia do Picanço. Em 1980, o prefeito Emílio Dias Ramos, conhecido como Zebú, à pedido de um representante da comunidade, construiu uma creche de um único compartimento, que funcionava nos horários da manhã e da tarde. Já na sede de eventos festivos, as crianças de 1ª a 3ª série (1º/9 ao 3º/9) frequentavam as aulas neste espaço. A escola inicialmente foi batizada por um pedreiro que a chamou de Monte Castelo, mas nos documentos escolares a partir de 2012 a escola foi reconhecida pelo nome de Prof.ª Maria Augusta Correa da Silva, em homenagem a primeira professora que lecionava desde a Praia do Picanço (REGINA; ROCHA, 2015).

A escola atende do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental pelo sistema regular de ensino com professores lotados e efetivos do município. As turmas de 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental possuem aulas pelo sistema modular de ensino, com professores geralmente contratados pela Secretaria Municipal de Educação (SEMED).Nesse modelo de ensino o professor é enviado para diversas localidades rurais para ministrar a disciplina na qual é graduado, possuindo uma carga horária estabelecida pela SEMED para ministrar suas aulas “blocadas” no período estipulado, assim as disciplinas ocorrem apenas uma vez durante o ano letivo, havendo o curso e recuperação dentro do período ofertado.

Na escola, existem duas turmas multisseriadas de 8º e 9ª ano na escola, turma intitulada aqui como A que possui 12 alunos e turma B que possui 22 alunos. Na turma A estava sendo ofertada a disciplina de Educação Física e na turma B a disciplina de Ciências. O critério de seleção dos alunos do 8º e 9º ano se deu pela cartilha ser indicada ao 2º ciclo do Ensino Fundamental e considerando a linguagem e o conteúdo do material optou-se pelos alunos que estavam no final do Ensino Fundamental.

A turma selecionada foi a que estava ocorrendo à disciplina de Ciências, levando em consideração o uso da cartilha e os assuntos convergentes com a disciplina. Desse modo os sujeitos da pesquisa foram os 22 alunos do 8º e 9º ano da turma B, sendo que 17 participaram do primeiro questionário e os demais foram incluídos ao longo da pesquisa.

RESULTADOS E DISCUSSÕES



Dos 17 alunos participantes do primeiro questionário, dois possuem 12 anos seis têm 13 anos, oito com 14 anos e, apenas um possui 15 anos. Com relação a localidade em que eles moram, todos são residentes da Vila do Castelo.A divisão por sexo está distribuída da seguinte maneira, nove são do sexo masculino e oito do sexo feminino. Como a sala é multisseriada, oito alunos são do 8º ano e nove são do 9º ano.

A primeira coleta de informações elucida o grau de vínculo destes indivíduos com a realidade local, que precisa ser alvo de discussões interdisciplinarmente, cabendo ao professor, em cada disciplina, destacar e valorizar esses elementos locais e nativos; assim como a maneira de trabalho; como deve funcionar o nível de relação do homem com a natureza; entre outros aspectos socioambientais.

A primeira questão do pré-teste foi “O que você entende por meio ambiente”? Em respostas, tem-se de modo geral que, “Nós temos que preservar o manguezal” (ALUNO 01); “Cuidar do meio ambiente é não jogar lixo na rua, não jogar lixo no mangal. Nós temos que cuidar da nossa comunidade, jogar lixo no lixo, preserve o meio ambiente, não jogando: vidro, garrafa, papel, plástico, porque causa, muita tristeza para nosso meio ambiente” (ALUNO 09.)

As respostas dadas à questão correlacionam-se às palavras ‘preservar, cuidar e zelar’. A ideia de preservação e a poluição pelo lixo foi algo muito presente em suas respostas. Como moradores de uma comunidade tradicional, a primeira forma de compreensão da poluição, e a mais citada nos relatos, foi à questão do lixo,problemática comum na comunidade. A concepção e vivência contrastam com moradores de grandes centros urbanos que vivenciam a poluição em muitos outros aspectos, sonora, visual, sensorial, entre outros.

A ideia de preservação justifica-se, também, pelo próprio ambiente onde vivem, no caso em uma Reserva Extrativista RESEX, área de preservação ambiental, que visa limitar as interferências antrópicas no meio. A respeito da preservação os PCNs nos trazem o conceito do que é preservar,

[...] é a ação de proteger contra a destruição e qualquer forma de dano ou degradação um ecossistema, uma área geográfica ou espécies animais e vegetais ameaçadas de extinção, adotando-se as medidas preventivas legalmente necessárias e as medidas de vigilância adequadas. O Código Florestal estabelece áreas de preservação permanente, ao longo dos cursos d’água (margens de rios, lagos, nascentes e mananciais em geral), que ficam impedidas de qualquer uso. Essas áreas se destinam, em princípio, à vegetação ou mata ciliar especialmente importante para garantir a qualidade e a quantidade das águas, prevenindo assoreamento e contaminação. A Constituição brasileira impõe, também, a preservação do meio ambiente da Serra do Mar, da Floresta Amazônica, da Mata Atlântica, do Pantanal Mato-Grossense e da Zona Costeira (Constituição Federal, art. 225, § 4o) (BRASIL, 1997, p.29).

A preservação é o primeiro conceito vivo na concepção dos alunos, mas como residentes em áreas de RESEX, planos de conservação devam ser mais trabalhados pela escola de maneira conjunta e interdisciplinarmente. Entende-se por conservação como sendo,

[...] a utilização racional de um recurso qualquer, de modo a se obter um rendimento considerado bom, garantindo-se, entretanto sua renovação ou sua auto-sustentação. Analogamente, conservação ambiental quer dizer o uso apropriado do meio ambiente dentro dos limites capazes de manter sua qualidade e seu equilíbrio em níveis aceitáveis (BRASIL, 1997, p.29).

Em se tratando, de comunidades pesqueiras em áreas de manguezais, a ideia de conservação deve ser fortemente trabalhada para que a flora e fauna local encontrem meios apropriados para reprodução e ciclo de vida.

Além dos manguezais possuírem vital importância para o meio ambiente, eles são ecossistemas bastante vulneráveis pelas ações externas, com processos de destruição através das ações humanas, tanto pela ação predatória da flora e fauna, como pela poluição das águas dos rios, e em descarte pelo descarte inapropriado do lixo. Com esta delicada situação, a falta de conhecimento sobre a relevância ecológica é um dos maiores obstáculos para conservação (RODRIGUES; FARRAPEIRA, 2008).

A segunda questão foi objetiva e indagou “Como você fica sabendo das informações a respeito do meio ambiente?”, tendo como opções para serem assinaladas: TV; jornais; disciplinas da escola; livros; revistas; internet; família; palestras; amigos; observando a cidade; pesquisas; panfletos; nenhum; e, outros. Com a possibilidade de marcas mais de uma questão, os alunos assim fizeram várias marcações. As respostas mais assinaladas foram: TV e jornais.

Pelo resultado, a maioria dos alunos obtém informações através do aparelho televisivo, revelando que nesta comunidade a presença da mídia televisiva é o meio de comunicação mais expressivo na aquisição de informações. Quando os alunos assinalaram que adquirem informações através de jornais, estes jornais não são os impressos, porque na comunidade não há distribuição e venda de jornal, logo o jornal marcado também é o televisivo, ressaltando o meio principal do povoado na obtenção de informações sobre temáticas ambientais.

Quando se analisou a questão do ambiente formal escolar, a qual deveria ser a principal precursora nos trabalhos com meio ambiente, poucos alunos assinalaram que adquirem conhecimento através das disciplinas escolares. Assim como, poucos marcaram o quesito livros e pesquisas, demonstrando uma escassa leitura e pouco interesse nesta questão. Novamente, merece destaque o fato da comunidade estar situada numa RESEX, e não existir o trabalho escolar ou do poder público em ações que apropriem os indivíduos a se informarem e compreenderem as dimensões socioambientais da sua localidade.

A escola deveria ser referência dos trabalhos comunitários para desenvolvimento da percepção crítica do local de seu alunado. Mas se levamos em conta o ensino modular, em que os professores geralmente não são oriundos da comunidade, em que o tempo para repassarem todo conteúdo programático é delimitado, estes fatores podem ser considerados obstáculos que impeçam de se desenvolver um trabalho em conjunto com os docentes, sobretudo a escola não se isenta de buscar mecanismo para desenvolver projetos paralelos, que trabalhem as temáticas ambientais especificas da localidade.

A escola do campo não é uma ilha. Ao fazer parte de uma realidade comunitária, caracterizada por sua cultura específica, a escola deve dialogar com a comunidade. A ação conjunta com a comunidade (alunos, professores e funcionários da escola, pais e membros da localidade) favorece o desenvolvimento social em que todos participam e se engrandecem, e a educação ambiental do campo, ao contribuir para a criação de possibilidades de intercâmbio e de relação de colaboração da escola com a comunidade, abre um universo enorme de situações para a aprendizagem coletiva por meio do diálogo e da cooperação. (ZAKRZEVSKI, 2007, p. 204)

Implementar projetos de expansão com esses alunos e os membros da comunidade é um dever social da escola. Se de fato isto ocorrer, poderá impactar significativamente em uma das questões ambientais “básicas” da comunidade, o descarte inapropriado de seus lixos, elemento bastante destacada pelos alunos no questionário, mas que não recai a responsabilidade apenas sobre o poder público, que dispõem da coleta de lixo, mas da consciência ambiental dos moradores.

Na lacuna “observando a cidade/comunidade”, apenas seis alunos marcaram este item, assim como um aluno especificou ao marca a lacuna de “outros” o meio de aquisição de informação que se dá através da comunidade. Infere-se que apesar da comunidade estar situada numa RESEX o poder público não investe em ações que apropriem os indivíduos daquele local a se informarem e compreenderem as dimensões socioambientais da localidade. Em consequência disto as informações e relevância discursiva entre os membros da Vila do Castelo sobre as questões ambientai, é um tema secundário, isto se constata pelos cinco que marcaram o quesito “família” e, apenas três marcaram “amigos”, demonstrando pouca importância do assunto entre esses grupos.

Os meios de transmissão de informação, como “revista” e “informática” não são acessíveis a todos os membros da comunidade, demonstrado por apenas cinco alunos terem marcado estas opções, representando que poucos possuem acesso a estes veículos de informação.

Ressalta-se que existem uma ou mais maneiras de obtenção de informações pelos alunos dos temas relacionados ao meio ambiente de modo geral, mesmo que em pequena quantidade. No entanto, a aquisição de informação por “panfletos” é inexistente, isto vem corrobora a ideia de que o poder público municipal pouco ou não investe em ações informativas à esta comunidade do campo, da zona rural.

A terceira pergunta respondida pelos alunos foi se “existem problemas ambientais em sua comunidade?” e “Quais são eles?”. Do total, 11 alunos relacionaram o problema à questão do lixo e seu descarte feito inadequadamente nas ruas, nas estradas, nos rios, no mangue e na escola. Vemos isso na resposta do aluno 12 ao afirmar que,

[...] na minha comunidade existem muitos problemas, como a lixo nas ruas, no mangue, no mar, nas baixas, na escola e nas nossas casas”.Um outro aluno retrata a mesma problemática ao dizer que “os problemas da minha comunidade é que muitas pessoas não preservam o meio ambiente e jogam os lixos espalhados pelas ruas, nos rios e nos manguezais” (ALUNO 12).

O professor como articulador de conhecimentos, através de dados de um questionário como este, já possui elementos suficientes para desenvolver um trabalho em conformidade a realidade e necessidade local, atendendo assim um dos pontos do PCNs para educação ambiental, que se encontra na seção de conteúdos comuns a todos os blocos “O repúdio ao desperdício em suas diferentes formas” (BRASIL, 1997, p.46). Partindo disto, a cartilha é um instrumento que trará questões ecológicas, fenômenos naturais e situações que despertarão o aluno a enxergar o que está a sua volta de maneira reflexiva e critica.

A quarta pergunta foi “O que você entende por ser vivo? Cite alguns”, observou-se que nas questões que eles eram levados a conceituar algo que tiveram dificuldade para (des)escrever sobre o assunto. Dos 17 alunos cinco responderam não sei, dois disseram não entendo, e quatro não responderam. Os seis restantes tentaram elucidar citando o que poderia vim a ser um ser vivo, ao afirmarem que, “Os seres vivos somos nós, homens e as mulheres, os animais, os pássaros e insetos” (ALUNO 02); “Caranguejo, siri, camarão, sururu e peixe (após esta resposta riscou e escreveu: Não sei)” (ALUNO 08); “Peixe, pássaros, homem, mulher, caranguejo, siri, guará, garça. Nós somos seres vivos, sim. Saracura, são muitas pessoas e insetos” ( ALUNO 09).

Como visto são típicos os animais que vivem nesta área, devendo haver um trabalho voltado à importância de cada ser vivo para cadeia alimentar, além da visão econômica e alimentícia da espécie. Novamente, a ideia de preservação entre alguns alunos mantém-se presente do início ao fim no questionário, como demonstra a resposta do aluno a seguir, “Eu entendo por ser vivo que temos que preservar os animais” (ALUNO 01).

Na quinta questão, “Quais seres vivos você encontra perto da sua escola? E da sua casa?”, apenas o aluno 15 não respondeu. Os demais citaram os animais que encontram diariamente próximos à sua residência ou escola. Percebeu-se que eles possuem bloqueios para responderem conceitos, mas eles sabem o que são seres vivos ao exemplificarem vários encontrados como: pessoas, cachorros, galinhas, insetos, além de peixes, frutos do mar, caranguejo, siri, sururu e ostras.

Na sexta e última questão perguntou-se “O que você entende por animal ou plantas nativas? Cite alguns exemplos?”, cinco dos alunos responderam não sei, dois respondeu não entendo, três não responderam, um respondeu e apagou, e um não respondeu nada. Os que responderam disseram que, “Eu entendo que não temos que matar os animais, tem que jogar água nas plantas, tem que cuidar delas, como a nossa mãe cuida da gente” (ALUNO 02); “Os animais são nativos na floresta, eles preservam. Já as plantas elas precisam da chuva para viver, da terra para ela ficar bem” (ALUNO 12).

Conceituar é algo que eles enfrentam como obstáculos e até mesmo a palavra ‘nativa’ dificultou a compreensão e entendimento da pergunta. Vemos que a construção do conhecimento ecológico precisa partir dos conhecimentos prévios que eles já possuem para construir os novos conceitos paulatinamente de modo significativo.

Após a aplicação do primeiro questionário, iniciou-se as atividades com a cartilha, objeto desse estudo. Apresentou-se, primeiramente, três vídeos a respeito da vivência em área de manguezal. O primeiro vídeo, trata de um documentário chamado “conhecendo os manguezais”, produzido pelo projeto “água também é mar”: escola povos do mangue. O documentário vem tratar a respeito da formação do mangue, sua localização geográfica, da importância do manguezal para biodiversidade encontrada próximo a ele, tanto para alimentação, como para reprodução. Cita também algumas aves comuns que vivem perto desse ecossistema, como guarás e garças. Trata a respeito da vegetação e reprodução vegetais das espécies nativas de manguezais, assim como cita o mangue como abrigo para alimentos e para algumas espécies de animais, necessitando assim ser cuidado e preservado. O documentário alerta sobre o compromisso do cidadão de ficar em alerta para ocupações, desvios de esgotos, desmatamento, entre outras ações antrópicas que degradem o meio ambiente de manguezal, para que haja denúncias aos órgãos competentes para fiscalizarem e impedirem quaisquer tipos de obra que atinja este meio ambiente, pois afetam toda uma biodiversidade que dependem desse ecossistema para se manterem vivas.

O segundo vídeo, intitulado “A vida no Mangue – Povos e Mangue” é um projeto de educação de Cariacica, em que as animações feitas no vídeo foram produzidas através de desenhos feitos por alunos do ensino fundamental da Escola “Martim Lutero”, de Cariacica, Espírito Santo. O vídeo trata sobre quatro momentos da ocupação de manguezal, em 1970 o êxodo rural, em que famílias do campo, devido o agronegócio foram “expulsas de suas terras”, consequentemente procuram outro local para morar, e este local foi o mangue. O segundo instante, em 1980,foi o momento em que várias famílias se transportaram e ocuparam desordenadamente o manguezal, e devido isto ter acontecido de forma desenfreada gerou uma intensa poluição do manguezal pelo lixo produzido por essas famílias. Terceiro momento, “O mangue também sofre”, já se pode visualizar a intensa poluição produzida pelo homem no manguezal. Em quarto instante, “a conscientização” no ano 2000, se observa nesta década as coletas de lixo, assim os morados não tinham por que descartar seu lixo no manguezal, poluindo o mangue e os rios. Com a coleta municipal, os próprios moradores reservam seu lixo para o dia da coleta de lixo.

O terceiro vídeo, “Do manguezal à escola, da cartilha à multimídia: o uso da animação no ensino da educação básica na zona costeira da Amazônia brasileira” foi elaborado por uma das colaboradoras da cartilha que utilizou os desenhos dos alunos, para produzir uma animação. O vídeo trata sobre a ecologia, os animais da animação são os mesmos dos desenhos feitos pelas crianças produtoras da cartilha, no vídeo ela explica: o que é ecologia; o que é habitat; o conceito de espécie, população e comunidade; sobre o que é um ecossistema; o que são seres vivos e não vivos; sobre a função da fêmea do caranguejo, o ciclo de reprodução e crescimento do caranguejo; outro assunto é o predatismo, canibalismo; e, por fim, o tópico cadeia alimentar.

Os vídeos foram aparatos usados para prepará-los para o trabalho com os conteúdos da cartilha. Buscou-se agregar mais informações ao arcabouço de conhecimentos que eles possuíam através de recursos audiovisuais, na intenção de despertá-los aos novos conhecimentos contidos na cartilha. Segundo Silveira Alves (2008) que aborda sobre imagens e vídeos como arte,

Além de estar presente nos materiais impressos, a arte é valorizada em muitos processos de formação em Educação Ambiental como um modo de ver e estar no mundo e de produzir leituras diversificadas e singulares sobre a existência, a partir do desenho, da pintura, do vídeo, da fotografia, entre outros. Enfim, todas essas modalidades artísticas propiciam/estimulam a integração dos sujeitos com o meio ambiente de forma lúdica, criativa, crítica e atraente (SILVEIRA e ALVES, 2008, p.136).

Todo e qualquer material que possamos empregar na metodologia de ensino e aprendizagem na área de Educação Ambiental, visa construir o conhecimentos de formas diferentes, pretendendo alcançar resultados positivos com a maioria dos educandos. Buscando abarcar todos os alunos na construção significativa do conhecimento através dos diferentes métodos empregados.

MANUSEIO DA CARTILHA



Neste tópico, adentrar-se-á na aplicação da cartilha que se encontra dividida em dois meses distintos. No mês de maio a aplicação ocorreu nos dias 23 e 25, já no mês de agosto, nos dias 20 e 21. No primeiro dia houve a apresentação da cartilha, sobre como e quem a produziu, sobre os desenhos e breve introdução dos assuntos. Em primeira instância, levaram-se os alunos a fazerem a leitura coletiva e individual com a pesquisadora, pois a intenção era fazê-los ler paulatinamente todo o material para que ao final eles sejam capazes de responder o questionário a respeito do material.

No primeiro dia, em que utilizou-se a cartilha, leu-se da página 09 à 13 onde possuem assuntos como conceitos de ecologia e interações tróficas (cadeia alimentar). A leitura coletiva aconteceu de modo a intercalar às leituras entre os alunos e a pesquisadora, sempre pausando para explicar o conteúdo e ouvi-los falar sobre os assuntos lidos, como das interações entre os seres vivos existem na cartilha com o que eles já conhecem. A interação do conteúdo lido com o conhecimento que eles trazem para sala de aula se revelou prazerosa, pois eles sentiram-se a vontade de repassar/abordar sobre os assuntos e conhecimentos vivenciados e observados em seu cotidiano. Ao final se pediu para que eles produzissem um texto referente ao meio ambiente e desenhassem uma cadeia alimentar com elementos da região.

No encontro seguinte apenas seis alunos entregaram as produções, destes dois reproduziram semelhante cadeia alimentar, mas não foi com animais da região, e apenas um produziu o texto, observando assim o já mencionado em outro tópico, a dificuldade que eles possuem na habilidade de escrever, mas a representação em desenho por si só revelou que eles compreenderam o que é uma cadeia alimentar, pois ligaram corretamente a relação de presa e predador nos seres vivos em seus desenhos, conforme imagens que seguem.

Figura 6: Temos uma representação da cadeia alimentar,

com espécies incomuns em áreas de mangue como o coelho e a raposa.

Fonte: Alunos participantes da pesquisa/2018

Figura 7: Desenho representando cadeia alimentar

com elementos da região. Temos a folha, o caranguejo, guaxinim,

garça, peixes, a lama, sururu, e o homem.

Fonte: Aluno participante da pesquisa/2018





Visualiza-se que nas três ilustrações feitas pelos alunos, a representação da cadeia alimentar origina-se do campo de visão do que os cercam. Esses dados, além de fruto da aplicação da cartilha, trazem informações relevantes quanto aos elementos de representatividade escolhidas por eles. As imagens produzidas trouxeram um dado qualitativo para a pesquisa uma vez que nos dão subsídios para identificar os conceitos de educação ambiental prévios e que estão sendo construídos. Pedrini, Costa e Ghilardi (2010) citando Reigota (2002) afirmam que,

[...] as pesquisas envolvendo representações sociais do meio ambiente tendem a adotar métodos qualitativos visando análises interpretativas (como a percepção ambiental) ede intervenção (como a educação ambiental). Qualquer que seja a forma de expressão empregada na vida cotidiana pelos sujeitos, esta pode e deve ser usada como uma fonte possível para a identificação de representações sociais, como é o caso dos desenhos. (p. 166, 2010)



Nas imagens acima (figuras 9 e 10) encontram-se elementos do paisagismo da Vila do Castelo. Elementos mais emblemáticos como o rio, o guará, as árvores do manguezal e os barcos. No segundo desenho, encontra-se o que parece ser uma representação da árvore mangue vermelho (Rhizophora mangle), identificado pelas raízes, além de possuir currais, redes, caranguejos. Pedrini, Costa e Ghilardi (2010) citando Antonio e Guimarães (2005) destacam os argumentos destes autores a respeito do desenho infantil, no qual ele é,

a) mais que uma simples imagem para a criança, pois nele materializa seu inconsciente, registrando, na folha de papel, elementos de sua vida cotidiana; b) uma representação simbólica, abrangendo uma relação de identidade com o que simboliza, apresentando uma teia de significações do seu pensamento tanto objetivo como subjetivo, e é contexto-dependente. Desse modo, o desenho infantil é a materialização do inconsciente infantil expressado de modo simbólico e também é contexto-dependente (2010, p. 167).



Figura 4: Produção textual com desenho da cadeia alimentar

com espécies características de manguezal.

Fonte: Aluno participante da pesquisa/2018



Dos alunos que fizeram ilustrações apenas um produziu um pequeno texto a respeito do meio ambiente. No texto ele escreve que “o meio ambiente a gente deve preservar porque sem o meio ambiente os nossos peixes, o nosso caranguejo, o sururu e todo o resto à gente precisa muito do meio ambiente até para respirar [...]”, o restante do texto foi omitido por não se compreender a escrita. O texto revela um sentimento de propriedade quando o aluno usa o pronome possessivo “nosso” em seu texto, denotando o quão próximo estão da sua vivência/realidade. Além de o desenho representar o homem como elemento do topo da cadeia alimentar revelando as espécies que são bases de sua alimentação.

Observa-se após todas as ilustrações acima que apenas com a leitura e explicação da cartilha eles já conseguiram fazer uma representação dos conteúdos abordados na aula anterior. No mesmo dia, após recolhidas as produções, a leitura da cartilha prosseguiu nas páginas 14 a 23, no qual dentre os assuntos lidos viu-se as relações entre os seres vivos: relações intraespecíficas e relações interespecíficas. Nestes conteúdos lidos, percebeu-se certo desconforto entre os alunos, que além de ser influenciado pelo horário que ficou próximo ao termino de suas aulas e almoço, os conceitos encontrados eram desconhecidos por todos. Uma novidade é que eles não sabiam que o peixe gó (macrodonancylodo) alimenta-se dela mesma.

A segunda etapa da pesquisa ocorreu no mês de agosto nos dias 20 e 21. No dia 20 fizemos um resumo dos assuntos já lidos, recapitulando a memória sobre os temas abordados e paulatinamente prosseguimos a leitura coletiva, pausando alguns momentos para explicação de alguns assuntos, neste dia leu-se da página 24 à 34. Novamente os alunos mostraram-se inquietos quanto ao horário por ser uma pesquisa visto como à parte as aulas dos alunos, este possa ser outro elemento que os inquietavam à não voltarem total atenção. Diferentemente isto aconteceria se implantado dentro dos conteúdos programáticos dos professores de sala de aula, com metodologias diferenciadas e dinâmicas que os fizessem vivência a EA de diversos ângulos.

No dia 21 finalizamos a leitura nas páginas 35 e 36, por fim aplicando-se o segundo questionário, agora com o objetivo de avaliar a cartilha. Neste dia, contou-se 22 questionários respondidos, ou seja, um número de cinco alunos excedente ao início da pesquisa que foram considerados para se avaliar se existem parâmetros de resposta semelhantes ou divergentes que contribua na utilização da cartilha.

Ao serem questionados “Qual sua relação com a pesca?’, doze não responderam,sete disseram não possuir nenhuma relação, os três restantes responderam possuir alguma relação com a pesca, como remendar rede de camarão (1), pescar (1) e possuir uma boa relação (1). Destes que responderam positivamente, os três são do sexo masculino. Em relação à identificação da profissão do pai e da mãe três não responderam; dezessete responderam que o pai é pescador; um disse que o pai é instalador de rede; e, outro disse que o pai é pedreiro. Quanto à profissão da mãe sete não responderam; doze disseram ser dona de casa; um disse que sua mãe é costureira; um disse que a mãe é artesã; e, um disse que a mãe é vendedora de catálogos de produtos de beleza.

A primeira pergunta do segundo questionário foi “Qual sua avaliação da cartilha “ecologia costeiro-estuarinos e os saberes pesqueiros locais”? para assinalarem ruim, regular, bom ou excelente, eles tinham que justificar. Um assinalou ser regular, 20 assinalaram ser boa, e um assinalou ser excelente. O que assinalou como regular, justificou que “Porque eu não sei quase nada sobre a pescaria, mas eu só estou achando regular porque meu pai é pescador” (ALUNO 22). O aluno assinante da opção excelente justificou dizendo “Exerce (ajuda) nos conhecer mais sobre o manguezal e o mar.” (ALUNO 01). Um aluno que assinalou a opção “boa” escreveu “Por que ela tem várias coisas que a gente não sabia.” (ALUNO 03). Já outro aluno assinante da mesma opção do anterior disse: “É muito bom ler alguma coisa e a cartilha é uma coisa que acontece com meu pai ele pesca muito para alimentar os filhos” (ALUNO 19).

O primeiro ponto levantado quanto à relevância da cartilha é ela como elemento identitário que valoriza aspectos próprios da realidade do educando encontrada na Amazônia Paraense. Ao aluno se enxergar nas páginas de um livro, ou na fala citada enxergar a profissão do pai tão próxima e ao mesmo tempo desconhecida, traz a significação e ressignificação de si como ser humano daquela localidade.

Etimologicamente, a palavra educação vem do verbo latim educare que significar dizer: puxar para fora, ou conduzir. Este puxar para fora é fazer com que o aluno visualize sua realidade de outro prisma, passando a aprender com ela, consequentemente valorizando seus saberes, seu local, tudo no qual o constitui. Porém o que vemos “uma extrapolação do sujeito para fora dos seus contextos sociais, culturais a qual ele está inserido, negando os fundamentos ontológicos e culturais essenciais do local onde a escola está inserido” (REIS, 2009 apud SILVEIRA, 2014, p.08). Os posicionamentos dos educandos só reforçam a valorização do material e seu potencial na educação ambiental de localidades pesqueiras próximas a manguezais.

A segunda pergunta do foi “O que você aprendeu com a cartilha?” Nesta questão apenas dois alunos não responderam. Três dos alunos participantes do primeiro questionário responderam que aprenderam a “preservar o manguezal” (ALUNO 02); “Eu aprendi que agente tem que preserva mais o ambiente” (ALUNO 03); e, “Eu aprendi que ela fala muitas coisas importantes como a importância do manguezal e de várias coisas” (ALUNO 12). A partir dessas respostas, contempla-se que o material traz uma abordagem voltada à preservação do ecossistema de manguezal, e este trabalho estendido à todas as etapas de ensino fundamental empodera o aluno de uma nova visão ambientalista sobre o local em que ele vive.

Dos alunos não participantes do primeiro questionário, temos as seguintes assertivas, “Eu aprendi que a lua cheia e nova fica bem alinhada com a terra.” (ALUNO 20); “Eu aprendi sobre a pesca” (ALUNO 20); e, “[aprendi] Muitas coisas importantes que eu não sabia sobre a pesca” (ALUNO 22). Notemos que apesar de boa parte dos alunos serem filhos de pescadores, os saberes deles sobre a pesca são poucos. Novamente, a cartilha mostra-se um material rico em saberes locais a respeito da pescaria, além de construtor do saber científico, como o alinhamento da lua com a terra nas fases citadas.

Na terceira pergunta “O que você mais gostou na cartilha?”,apenas dois alunos não responderam. De modo geral, observou-se que uma parcela significativa apreciou o poema da cartilha “O Pescador é lunar”. Em números, dos 22 alunos, oito alunos citaram em suas respostas terem apreciado o poema de Manoel Ramos. Os demais citaram terem gostados dos conteúdos sobre a natureza,dos desenhos, dos textos, e dos saberes dos pescadores de Ajuruteua.

Vejamos as respostas: “O que eu gosto são do pescador lunar, manguezal, quando alimento dos peixes: tubarão, sardinha, pescada, tainha, caíca, como fala da natureza. Eu achei muito interessante essa cartilha, eles estão de parabéns.” (ALUNO 09); e, “Eu gostei porque quem fez a cartilha fez bonito. Eles falam sobre a importância do manguezal, da maré e os pescadores são profissionais. Eles entendem tudo sobre a maré” (ALUNO 12). As declarações destacam um ponto importante nesta comunidade, que apesar dessas crianças estarem inseridas em uma área pesqueira e de manguezal, a valorização desses elementos veio a partir do momento contemplaram estas informações na cartilha. O mangue, a natureza local deixou de ser um elemento qualquer, conseguiu-se fazer com que eles vislumbrassem a importância de tudo que os rodeiam. O aluno não participante da primeira intervenção da aplicação do questionário disse que “O manguezal é um ambiente muito importante, serve de abrigo a vários animais” (ALUNO 19). Esta visão de importância foi possível através do breve trabalho feito com este material paradidático.

A quarta pergunta “O que você menos gostou ou mudaria na cartilha?”, nesta questão cinco alunos se isentaram de respostas. Dos 22 alunos, seis disseram que não mudariam nada e que gostaram da cartilha. Porém, três citaram que não gostaram das cores escuras da cartilha, um aspecto importante na estética, a fim de prender mais a atenção do leitor no material. O Aluno 22 levantou outro ponto ao afirmar “O que eu menos gostei foi de algumas palavras difíceis de fala, eu mudaria com certeza”. Estas palavras na quais ele se refere são palavras pouco conhecidas por ele, de conhecimento formal, como os as definições dos tipos de relações ecológicas entre os seres vivos.

Na quinta questão “Qual sua opinião sobre a linguagem da cartilha?”, existiam duas questões para eles escolherem se de fácil entendimento ou difícil entendimento. Todos marcaram que a cartilha é de fácil entendimento.

Na sexta questão: “Você acha que a cartilha atende a realidade que você mora?”. Eles possuíam duas opções: sim ou não, além de justificar a escolha. Na resposta objetiva, dos 22 alunos, 21 marcaram que sim, apenas, um marcou não. O aluno, que assinalou a negativa, justificou em sua escrita da seguinte maneira: “Porque as pessoas daqui são muito cruéis com o manguezal” (ALUNO 20). Da totalidade, seis não justificaram suas respostas. Os demais justificaram dizendo: “Porque a cartilha fala muito de pesca. Tem tudo a ver com aqui” (ALUNO 03); “Sim, porque tem as mesmas qualidades de elementos, como caranguejos, manguezais, rios e outras coisas” (ALUNO 04); e, “Sim, porque ele fala sobre a pesca e aqui no Castelo nós vivemos da pesca” (ALUNO 05). Dos alunos que não participaram do primeiro questionário, temos a afirmação do Aluno 22 expondo que “pelo que nós lemos, algumas coisas da cartilha são parecidas com a da Vila do castelo e algumas não.”

O parecer dos alunos é positivo para o trabalho para um desenvolvimento inicial da EA para esta comunidade, pois a construção partiria do entendimento do ecossistema local, para posterior sensibilização de atitudes ecologicamente corretas identificadas no primeiro questionário, a exemplo de um deles, o descarte inapropriado do lixo.

Por último, a sétima questão: “Você acha que a cartilha ajuda na formação da consciência ambiental para preservação do seu ambiente local?”. Conforme a questão anterior, eles tinham que assinalar sim ou não e justificar. Dos 22 alunos, 17 marcaram sim, três marcaram não e dois deixaram em branco. Os três que responderam que não, um não justificou, e os outros dois enunciaram que: “Não, porque ela fala sobre pesca e não sobre o meio ambiente” (ALUNO 05); e, “Não, porque ela fala sobre a pesca” (ALUNO 07). Já os alunos que se posicionaram favoráveis, expressaram que “O que fala na cartilha aqui sofre” (ALUNO 13); “Porque a pessoa preservando o mangue, a pessoa não faz mal aos mariscos que também a gente se alimenta” (ALUNO 17); “Por que a cartilha mostra como cuida do meio ambiente” (ALUNO 20); e, “A cartilha explica muito sobre a preservação do meio ambiente, para não jogar lixo na maré e não joga lixo no manguezal porque pode prejudicar a natureza e por causa doença” (ALUNO 22).

Na última questão visualizamos, de modo geral, que a cartilha atende aspectos da educação ambiental de localidades pesqueiras, apesar de ser algo intrínseco, percebido através das discussões levantadas durante a leitura do material. Pois a titulação da própria sinaliza reunir saberes locais oriundos das dissertações de mestrados das precursoras da criação do projeto.



CONSIDERAÇÕES FINAIS



A cartilha é apenas um instrumento norteador nas aulas do professor, a qual ele pode enriquecer os momentos educacionais, tornando-os prazerosos ao trazer vídeos, metodologias lúdicas, tarefas para os alunos observarem ao entorno da escola e produzirem um relatório do ambiente que a cerca, que passa despercebido no percurso transitado por eles, da casa à escola por ser comum à sua convivência. Neste sentido, o professor é o agente que deve instigá-los a um olha crítico da sua realidade através destas e outras atividades, utilizando a cartilha como ponto de partida em suas aulas.

Nos dados iniciais constatou-se a compreensão dos alunos quanto à importância da discussão ambiental na escola para a preservação do meio em que vivem e dos recursos naturais que utilizam. Todavia, observou-se a dificuldade na elaboração de conceitos que por eles na prática são conhecidos e identificáveis, mas suas nominações são desconhecidas, revelando um déficit no trabalho formal da educação, como na apropriação do saber formal.

A cartilha mostrou-se um potente material de aprendizagem significativa para alunos que vivem em regiões costeiras, próximas a áreas de manguezais. O trabalho interdisciplinar, que contemple questões ambientais da localidade, dará possibilidades aos educandos se apropriarem dos conceitos que eles desconhecem pela nomenclatura, mas que se contextualizado na prática, em dinâmicas, em visita a estas áreas de mangues concretizar-se-á no ensino-aprendizagem.

Nos dados finais coletados, de modo geral a cartilha atende a realidade desses educandos, alguns pontos retratados por eles de modo negativo foi quanto à estética da impressão das partes externas serem em preto e branco, mas em nada interfere na aquisição dos conhecimentos. Como exposto à linguagem foi de fácil compreensão, inquietando os alunos somente algumas nomenclaturas que não são comuns no seu dia-a-dia, mas que o professor como agente na construção do conhecimento fica incumbido de trabalhar.

Somente no final, alguns alunos relataram a questão da cartilha ser voltada a questões pesqueiras, mas há subsídios suficiente para se desenvolver uma EA própria para região pesqueira de comunidades próxima a áreas de manguezais, trazendo o empoderamento do ser eco-responsável pela preservação dos recursos naturais da localidade.

A ideia de preservação, cuidado e zelo pelo patrimônio natural que os servem foram identificados nas respostas dos alunos, revelando que um trabalho interdisciplinar escolar com a cartilha, conforme cada ano e faixa etária, de modo a trabalhar, discutir e debates assuntos locais, projetando para aspectos globais, formarão alunos cidadãos conscientes e sensíveis a preservação, conservação e uso dos recursos de maneira sustentável. Além de seres humanos empoderados pelas questões políticas, ao passo de defenderem o meio ambiente de intervenções antrópicas e embargarem ações que degradem o meio ambiente em que estão inseridos.



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Ilustrações: Silvana Santos