Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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13/03/2019 (Nº 67) ABORDAGEM SOBRE SEXO E SEXUALIDADE NO CONTEXTO FAMILIAR DO MUNICÍPIO DE SALVATERRA, ILHA DE MARAJÓ, PARÁ
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ABORDAGEM SOBRE SEXO E SEXUALIDADE NO CONTEXTO FAMILIAR DO MUNICÍPIO DE SALVATERRA, ILHA DE MARAJÓ, PARÁ

Marcelo Coelho Simões1, Joelma Gonçalves Aranha Vasconcellos2, Paulo Weslem Portal Gomes3, Marcos Felipe Bentes Cansanção Pereira4, Rodrigo Soares de Lima5, Luiza Helena da Silva Martins6, Altem Nascimento Pontes7, Cléa Nazaré Carneiro Bichara8, Vanessa Cavaleiro Smith9

1Mestrando em Ciências Ambientais, Universidade do Estado do Pará, marcelo.uepa14@gmail.com

2Graduada em Ciências Naturais com habilitação em Biologia, Universidade do Estado do Pará, joelmaaranhavasconcellos@gmail.com

3Mestrando em Ciências Ambientais, Universidade do Estado do Pará, weslemuepa@hotmail.com

4Mestrando em Ciências Ambientais, Universidade do Estado do Pará, marcosfelipebentes@gmail.com

5Graduando em Enfermagem, Faculdade Uninassau, rodrigolima454@gmail.com

6Doutora em Engenharia Química, Universidade do Estado do Pará, luhelemarte@gmail.com

7Doutor em Ciências, Universidade do Estado do Pará, altempontes@hotmail.com

8Doutora em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários, Universidade do Estado do Pará, cleabichara@ig.com.br

9Doutoranda em Virologia, Instituto Evandro Chagas, vanecavaleiro@gmail.com

Resumo: A sexualidade se constrói e se aprende socialmente, compõe-se numa extensão essencial no desenvolvimento da personalidade humana. Desse modo, objetivou-se analisar a abordagem sobre sexo e sexualidade no contexto familiar com moradores do município de Salvaterra-PA, para o desenvolvimento de condutas em Educação Ambiental atrelada a saúde e as questões sociais. As entrevistas foram realizadas por meio de visitas domiciliares no período de outubro de 2018 em cinco bairros do município de Salvaterra-PA, onde foram selecionadas 50 famílias. Foi utilizada a pesquisa descritiva que se baseia na observação do grupo estudado através da aplicação dos questionários abertos. As entrevistas ocorreram primeiramente com os pais, e em seguida, separadamente, com os filhos. Notou-se que o diálogo entre pais e filhos ou é ausente ou insuficiente, e quando ocorre, acontece de forma confusa e superficial. Como consequência, os adolescentes tornam-se vulneráveis a falsas informações, as quais são por muitas vezes de meios eletrônicos não confiáveis. Com isso, a abordagem sobre sexo e sexualidade se faz de grande importância por estar relacionada diretamente com o comportamento e desenvolvimento social das pessoas, mesmo inerente à condição humana e evidente nos dias atuais, é reprimida no ambiente familiar.

Palavras-chave: Educação Sexual, Educação Ambiental, Desafios.

Abstract: Sexuality is built up and learns socially, it consists in an extension essential in the development of the human personality. In this way, the objective was to analyze the approach on sex and sexuality in the family context with residents of the municipality of Salvaterra-PA, for the development of pipelines in environmental education tied to health and social issues. The interviews were conducted through home visits in the period October 2018 in the five districts of the municipality of Salvaterra-PA, where they were selected 50 households. It was used the descriptive, based on observation of the group studied through the application of the questionnaires open. The interviews took place first with the parents, and then, separately, with the children. It was noted that the dialogue between parents and children, or is absent or insufficient, and when it occurs, happens so confusing and superficial. As a consequence, adolescents become vulnerable to false information, which are for many times of electronic media can't be trusted. With this, the approach on sex and sexuality is of great importance for being related directly with the behavior and social development of the people, even inherent to the human condition and is evident in the present day, is repressed in the family environment.

Keywords: Sex Education, Environmental Education, Challenges.

Introdução

Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), todo e qualquer indivíduo com idade entre 12 a 18 anos é considerado adolescente (BRASIL, 2006). Essa fase é marcada por novas descobertas, experiências, mudanças físicas e emocionais, repletas de atitudes e desejos estimulados pela ação hormonal característica da puberdade (CAMPOS, 2011; WEEKES; HAAS; GOSSELIN, 2014). Em que, a sexualidade destaca-se como uma transformação marcante na adolescência, por isso, as abordagens a respeito da Educação Sexual (ES) necessitam ser trabalhada nas escolas e no meio familiar na perspectiva da Educação Ambiental (MOREIRA, 2008), a qual consiste em proporcionar uma compreensão de forma crítica do problema e desenvolver atitudes, como uma posição consciente e participativa dos valores que são dados para uma melhor qualidade de vida à todos (BRANCALIONE, 2016).

Segundo Carter (2012) e Macedo et al. (2013), a sexualidade se constrói e se aprende socialmente por meio do desenvolvimento da personalidade humana, a qual envolve práticas e desejos ligados à satisfação, ao exercício da liberdade e a saúde. Segundo Gonçalves, Faleiro e Malafaia (2013), a Educação Sexual (ES) deve estar presente no convívio dos adolescentes, e ao ser trabalhada formalmente, estimula o crescimento moral e intelectual, não devendo ser ensinada de maneira superficial e confusa. Para isso, Savegnago e Arpini (2016) ressaltam que para dialogar sobre sexualidade é essencial ir além da simples transmissão de informações, é preciso que os pais ultrapassem várias barreiras na perspectiva de alcançar uma proximidade com as experiências do adolescente.

O bem-estar no âmbito da sexualidade constitui um dos principais critérios de saúde mental e de satisfação interpessoal (MOIZÉS; BUENO, 2010). Desse modo, de acordo com o Estudo e Comunicação em Sexualidade e Reprodução Humana (2001), a ES deve ser um direito do adolescente em conhecer seu próprio corpo e ter uma visão positiva da sua sexualidade, de modo que possa aprimorar o conhecimento crítico na comunicação e em relações interpessoais.

No meio familiar, os pais ainda se sentem tímidos e incomodados ao abordar o assunto da sexualidade e por muitas vezes optam pela omissão das informações (GONÇALVES; FALEIRO; MALAFAIA, 2013), desse modo, a carência do diálogo têm contribuído fortemente no início de uma vida sexual precoce, assim como outros aspectos errôneos, o que provavelmente resultará em relações sexuais desprotegidas (SCHIFFMAN et al., 2003), bem como a maior vulnerabilidade as Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), a gravidez não planejada e muitas vezes ao aborto (ARAÚJO et al., 2015).

Desse modo, sabe-se que mesmo em uma sociedade moderna, falar de sexualidade ainda é repleto de crenças, mitos e tabus, tanto em espaço formais de ensino, quanto no ambiente familiar (SOUSA; FERNANDES; BARROSO, 2006). A consequência é que mediante ao silêncio dos pais, os jovens acabam por buscar outras fontes de informações e diálogos (SAVEGNAGO; ARPINI, 2013; NERY, 2015). Diante disso, a família, que seria, o eixo fundamental para associar a ES com aspectos de saúde, responsabilidade e valores, de modo que não estimule a antecipação da vida sexual (GARCIA, 2003), passa a se descontextualizar como fonte de informação segura.

Gonçalves, Faleiro e Malafaia (2013) ressaltam que nas instituições de ensino, essa temática é mais abordada nas aulas de biologia ou ciências, limitando o conhecimento apenas na vertente reprodutiva, não suprindo os anseios dos adolescentes sobre possíveis dúvidas e questionamento relacionados à sexualidade recém-despertada. Para isso, é fundamental que na adolescência os indivíduos tenham o autoconhecimento através da Educação Ambiental, sendo o corpo como o primeiro ambiente do ser humano nessa importante fase da vida.

Por isso, Ricardo e Lorencini-Júnior (2009) afirmam que para tornar a ES eficaz, o diálogo familiar é primordial, se possível com o auxílio de um profissional da saúde, pois, para Savegnago e Arpini (2016), é no diálogo com os pais que os adolescentes terão mais segurança e confiança para falar de um tema tão íntimo. Dessa forma, a Educação Ambiental na área da sexualidade proporciona a formação de sujeitos autônomos e competentes que possibilitem uma melhoria na qualidade de vida, visto que, a concepção de educação ambiental vem se expandido a novos rumos, onde o meio ambiente não é visto apenas como a natureza e os recursos naturais, mas como qualquer ambiente que se relacione com o homem, bem como as abordagens do sexo e sexualidade.

Para isso, é primordial que pais e educadores desenvolvam no adolescente a educação pautada na ES, discutindo a valorização da vida e os direitos humanos (CASTRO; RIBEIRO, 2011). Desta forma, este estudo teve por objetivo analisar a abordagem sobre sexo e sexualidade no convívio familiar de adolescentes do município de Salvaterra-PA, para o desenvolvimento de condutas em educação ambiental atrelada a saúde e as questões sociais.

Material e métodos

Área de estudo

O trabalho foi desenvolvido no período de outubro de 2018, em cinco bairros localizados no município de Salvaterra, Ilha de Marajó, Pará, a saber: Cajú, Paes de Carvalho, Nova Colônia, Marabá e Centro (Figura 1). Estes bairros foram selecionados principalmente por estarem próximos ao centro da cidade, o que facilitou o acesso. O alvo principal desta pesquisa foram 50 famílias, escolhidas aleatoriamente, as quais possuem residências fixas distribuídas nesses locais.

Figura 1: Mapa da Ilha de Marajó, destacando o município de Salvaterra e os respectivos bairros em que realizou o estudo.



Tipo de pesquisa utilizada

Foi utilizado o método de estudo descritivo e exploratório transversal de abordagem qualitativa, a qual se fundamentou nos estudos de Barbosa (2008) e Gonçalves et al. (2012). Segundo Gil (2002), a pesquisa descritiva baseia-se por meio da observação do grupo estudado e a exploratória através da aplicação dos questionários abertos. De acordo com Marconi e Lakatos (2011), o método de entrevista permite que o pesquisador tenha mais liberdade para propor situações em direção ao assunto investigado, o que possibilita a obtenção de dados.

O conceito de família contemporânea adotado neste estudo, foi o mesmo empregado por Maluf (2010), o qual a define como o conjunto de pessoas ligadas pelo casamento, pela união estável ou pelo parentesco, resultante este da consanguinidade, da doação ou da socio afetividade. Desse modo, segundo Gueiros (2002), foi empregado o conceito de família nuclear aquela que compõe pai, mãe e filhos; família nuclear estendida aquela que é formada por pai, mãe, filhos e outro membro com nível próximo de parentesco e família mononuclear a qual possuem apenas o pai/mãe e o filho, tendo apenas um responsável pelo núcleo familiar.

Realização das entrevistas e análise de dados

Foram selecionadas 50 famílias para as entrevistas de caráter voluntário, sendo este estudo aprovado em comitê de ética com Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE): 01680918.9.0000.8767. Para a aplicação dos questionários, foi repassado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) que foi assinado por todos, desse modo, foi preservada a identidade dos entrevistados (TEIXEIRA, 2011). As famílias foram codificadas com denominações F1, F2, F3 e sucessivamente para os demais núcleos familiares, até a quinquagésima (F50). Os trechos em itálico são transcrições das falas dos sujeitos, os quais foram identificados pela letra inicial de cada categoria: A – adolescente; M – mãe; P – pai, e numeradas de acordo com a família entrevistada.

As entrevistas foram realizadas por meio de visitas domiciliares e ocorreu em dois momentos, o primeiro com os pais e/ou responsável e o segundo destinado aos adolescentes. Ressalta-se que ambas as entrevistas foram realizadas individualmente, gravadas com auxílio de telefone celular e transcritas, posteriormente, na íntegra. Para tal interlocução, utilizou-se a entrevista formalizada com perguntas abertas e de múltipla escolha, baseada nos principais questionamentos discutidos na literatura a respeito da ES familiar.

Segundo Brasil (2006), a realização de visitas domiciliares apresenta vantagens no sentido de conhecer melhor o contexto familiar de cada entrevistado e assim estabelecendo a oportunidade de identificar situações de risco. Com isso, na análise de dados de natureza qualitativa, as respostas de ambos os grupos analisados foram ponderadas por meio da análise de conteúdo empregada por Bardin (2011).

Resultados e discussão

Perfil das famílias

Das 50 famílias entrevistadas, 66% fazem parte do grupo familiar nuclear, 23,5% corresponde a família nuclear estendida e 10,5% a família mononuclear. Sendo a faixa etária de idade dos pais entre 28 a 64 anos, com média de 39 anos e os filhos com 12 a 18 anos, e média de 15 anos, estes últimos, de acordo com a faixa etária estabelecida pelo ECA. Dos adolescentes entrevistados, 63,6% foram do sexo feminino e 36,4% masculino.

Apesar da maior representatividade da família nuclear, para Christiano e Nunes (2013) novos modelos familiares estão surgindo na sociedade e aos poucos a família nuclear foi deixando de ser dominante. Além disso, segundo o último censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) (2010), os novos arranjos familiares eram superiores a 50,1% as famílias nucleares. Desse modo, Maluf (2010) ressalta que a composição familiar se faz importante, uma vez que é a base primordial para constituição de sociedade e que haja maiores subsídios na educação dos filhos, independentemente de sua constituição.

Quanto ao aspecto religioso, todas as famílias entrevistadas se consideram cristãs, destas, 62,7% afirmaram ser evangélicas (protestante), 31,5% católicas e 5,8% não são adeptos de religião. Notou-se que a religião exerce grande influência na construção de princípios e valores das famílias, pois, frequentemente foi citado pelos entrevistados que o que consideravam certo ou errado estava de acordo com as doutrinas religiosas. Silva e Silva (2002), afirmam que a religião exerce influência no núcleo familiar, bem como no desenvolvimento e construção de sociedade, pois está diretamente ligada à educação de grupos sociais e a ES.

Em relação ao nível de escolaridade dos pais, 43% possuem ensino fundamental incompleto, seguido de 25,2% com ensino médio completo, 8% com ensino fundamental completo, 6% ensino fundamental completo, 10,8% ensino médio incompleto e 7% possuem ensino superior completo. Quanto a escolaridade dos adolescentes, 18% das meninas afirmaram que não concluíram os estudos devido à gravidez precoce, pois não conseguiram conciliar as obrigações da maternidade com a escola. Por outro lado, os outros 82% frequentam regularmente as instituições de ensino, destes, 53,2% estão no ensino fundamental e 46,8% no ensino médio.

Notou-se que o grau de opiniões e conceitos atribuídos a ES está ligado ao nível de instrução educacional de cada família, visto que, quanto maior o nível de escolaridade dos pais, maior era o domínio sobre o assunto, e também estes apresentaram uma postura mais flexível quanto as novas posturas da sociedade a respeito da sexualidade de seus filhos, comparados àqueles que afirmaram ter nível educacional mais baixo. Já com relação aos adolescentes, há uma distinção de comportamento e conhecimento acerca da ES entre as variações de idades e séries escolares; cerca de 21% que estão no ensino fundamental e 39,4% que cursam o ensino médio demonstraram maior conhecimento e informações quanto ao entendimento da sexualidade em suas vidas, os demais ainda necessitam amadurecer a visão em relação ao assunto.

Segundo Vieira e Matsukura (2017), a escolaridade é primordial no desenvolvimento intelectual do adolescente, pois auxilia no processo de instrução sobre sexo e sexualidade, possuindo uma crescente influência, não como disciplinadora de conduta, mas como propiciadora de novas interações entre pessoas. Por isso, Mantovani et al. (2014) ressaltam que a falta de informações tanto dos pais na orientação dos filhos como dos próprios adolescentes, acaba se tornando uma problemática na educação sexual, pois agravam a vulnerabilidade dos adolescentes e prejudicam tomadas de decisão, bem como o início da vida sexual sem proteção, expondo-se a uma gravidez indesejada ou às Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST’s).

Sexo e sexualidade na visão dos pais

Foi questionado aos pais sobre o que eles entendiam a respeito da ES, notou-se o desconforto dos mesmos ao falar deste tema, assim como na dificuldade em entender o termo. Cerca de 68,8% deles afirmaram que não sabiam, no entanto, no discorrer da entrevista percebeu-se que existia um conhecimento prévio do assunto em relação a prevenção de doenças, gravidez precoce e o ato sexual, como na fala das mães:

Minha conversa é a respeito de doenças e ter filhos, pois ele é muito novo. É só assim que a gente conversa, fico muito preocupada com isso” (F1-M).

Prevenir, porque quando chega à primeira menstruação a mulher está preparada para receber uma criança, então ‘desde daí’ a gente tem que ter preocupação em saber com quem a gente tá lidando..., e minha preocupação maior é com a gravidez na adolescência, até porque eu passei por essa experiência” (F5-M).

Converso sobre gravides. Não quero filho meu sendo pai novo” (F35-P).

Notou-se que as famílias ainda apresentam resistência à abordagem da ES, assim como foi notado por Ribeiro (2004). Para Bomfim (2009), a ES está ligada a vários elementos que compõem a estrutura biológica e psicológica do ser humano, na qual esses princípios são determinantes para compreensão da sexualidade humana. Além disso, Silva, Costa e Müller (2018) ressaltam que a ES não se limita aos órgãos e ao ato sexual, mas sim diz respeito à experiência pessoal, ao conjunto de valores assimilados pela pessoa, através da família, do ambiente social, dos meios de comunicação e de tantos outros meios de informação, o que compõe a Educação Ambiental.

Por mais que a maioria dos entrevistados tenha afirmado saber sobre a temática, seus conhecimentos se limitavam apenas ao ato sexual e prevenção de doenças e/ou gravidez precoce, entretanto, segundo Silva, Costa e Müller (2018), para tal discussão é necessário ir muito além desses aspectos, uma vez que a ES é um processo amplo e informal. Com isso, Silva e Leite (2008) afirmam que na ausência de Educação Ambiental e sem mudanças nos modelos educacionais predominantes na sociedade contemporânea, não haverá mudanças nas discussões mais primitivas da sociedade quanto as questões da ES.

Quando indagados se eles receberam orientação sexual de seus responsáveis na adolescência, apenas 8% responderam que sim, os demais (92%) disseram que não e também justificam por meio das falas, como:

Não, eu fui criada numa família tradicionalíssima. Esse tema era..., só fui começar a falar sobre isso com minha mãe depois de mãe, na verdade” (F10-M).

Não, porque era aquele caso, muito fechado, os pais não dialogavam com a gente. A gente já pegava experiência de ver, de ouvir na escola com os colegas comentando e aí a gente já ia tendo uma noção do que era o sexo, né. Como se praticava, sempre fora do ambiente familiar” (F20-M).

Nem pensar, nessa época era pedir pra apanhar” (F41-M).

Por muitos anos, a ES ainda não era considerada como algo necessário e importante para a vida do homem, visto que, após o surgimento e disseminação de doenças relacionadas ao sexo, se fez fundamental desenvolver projetos educacionais voltados para prevenção e cuidado com a saúde (ARAÚJO et al., 2015). Os órgãos públicos iniciaram em meados de 1980 uma demanda de trabalhos na área da sexualidade nas escolas, na perspectiva de conscientização do comportamento sexual dos adolescentes, devido ao aumento da gravidez e também da contaminação pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) (RIBEIRO, 2004).

Quando foram questionados a respeito da dificuldade em que enfrentam para abordar a temática com seus filhos, cerca de 55% dos pais afirmaram não haver dificuldades, destes, é importante ressaltar que 33,5% orientam apenas a respeito da gravidez precoce e IST’s. Aproximadamente 32,4% disseram que só falam desse assunto quando os filhos perguntam e 29% afirmaram que não orientam seus filhos pela timidez e vergonha em falar de sexualidade no convívio familiar, assim como é evidente nas falas:

Tudo que ela me pergunta eu respondo, sobre homossexualidade, a respeito do corpo, várias coisas” (F8-M).

Falamos abertamente, sobre tudo” (F35-M).

A dificuldade é a timidez, porque a gente se sente um pouco retraída em falar do assunto e elas também têm” (F25-P).

O fato da gente ser evangélico, a gente fala o básico, esse negócio de prevenção pra gente que é evangélico essas coisas não faz sentido porque o sexo que a gente ensina é depois do casamento, então depois do casamento ela é livre, faz o que quer, a gente orienta segundo a bíblia nos ensina que o sexo é uma benção e tudo, mas casado” (F6-P).

Notou-se que os pais têm insegurança ao falar da ES no ambiente familiar, e o nível de escolaridade é um dos fatores que influencia na hora de orientar. Além disso, a religião tornou-se a base para educar sexualmente os jovens conforme seus preceitos, em alguns casos relacionados com o tema pecaminoso, não havendo necessidade para tal orientação. Tal abordagem, pode ainda ser vista como apenas a transmissão do conhecimento na área científica, por isso deve-se levar e, conta os aspectos políticos, socioeconômicos e culturais para que a Educação Ambiental possa ser realmente percebida, a qual faz parte de todos os cidadãos (BRANCALIONE, 2016).

Desse modo, Maluf (2010) ressalta que em uma sociedade, há a diversidade de costumes em cada ambiente familiar, e todas elas carregam consigo uma forma específica de educação passada pelos pais, seja com doutrinas religiosas, costumes, cultura local e/ou experiência de vida. Assim, é fundamental que no desafio educacional o objetivo seja aprender a ver o ambiente e a sociedade como um sistema único e não de forma fragmentada, o que interfere na Educação Ambiental dos jovens ligada à sua educação sexual.

No questionamento de qual seria a idade ideal para iniciar o diálogo com os filhos sobre sexo e sexualidade no ambiente familiar e na escola, 45% dos pais afirmaram que 12 anos seriam o ideal. Em seguida, com 26,6% afirmaram não haver idade definida, 18,4% ressaltam a partir dos 14 anos para os meninos e conforme o primeiro fluxo menstrual para as meninas. Por fim, 10% disseram ser com 18 anos ou mais. As famílias ainda estabelecem critérios e idades para a abordagem do tema, tendo em vista que o sexo e a sexualidade estão ligados aos processos das leis naturais da vida, as quais podem ter uma abordagem mais contextualizadas e simples dentro da Educação Ambiental ((SAYÃO, 1997).

Percebe-se que a maioria dos pais possui alguma dúvida em relação ao início da ES dos filhos, tanto dentro de casa quanto na escola. Para Quintella e Dietrich (1992) e Foucault (1997), a ES deve se iniciar nos primeiros anos de vida e permanecer, quando as crianças passam a questionar sobre aspectos da anatomia de seu corpo, como “entrou” na barriga da mãe, dentre outros questionamentos. São nesses momentos que os pais devem iniciar a orientação, por meio de uma metodologia de acordo com o nível de cognição da criança, e com o passar do tempo às curiosidades tendem a diminuir, e aumentar as dúvidas devido mudanças comportamentais, biológicas e psicológicas.

Quando foram questionados em relação a sua percepção a respeito da homossexualidade, 61% dos entrevistados responderam que aceitariam qualquer orientação sexual de seus filhos, mesmo que isso fosse contra a doutrina religiosa, como na fala:

É normal, cada um tem seu livre arbítrio, eu não posso escolher aquilo que gosta e na minha casa eu aceitaria, meu esposo que não, porque a gente mãe consegue entender um filho mais do que o pai... eu não teria esse preconceito mesmo indo de contra a minha religião” (F2-M).

Se isso acontecer eles terão meu apoio, eu aceitaria... na minha família eu tenho uma irmã que está amigada com uma mulher e vejo normal apesar da minha religião evangélica” (F3-M).

Eu jamais excluiria meu filho ou minha filha por causa da opção sexual deles, nunca é ponto principal... eu aceitaria da mesma maneira, é claro que nem uma mãe quer... porque a gente cresce... e a gente cria a menina pra ser menina e o menino pra ser menino, pra mim seria uma dificuldade muito grande se meu filho dissesse que queria se transformar em uma mulher” (F10-M).

Aceitaria sim, isso ta tão normal hoje em dia, quem sou eu pra julgar isso” (F28-M).

Por outro lado, 39% dos entrevistados afirmaram que não aceitariam filhos homossexuais:

Eu mesmo não aceitaria, não aceito na minha família, eu não acho bonito essa questão de homossexual... não é normal pra mim, mas jamais eu tenho direito de julgar, cada um faz o que quer” (F3-P).

A orientação se daria voltado para a bíblia, nós somos evangélicos, iriamos mostrar por ali, então a gente sabe que Deus criou homem e mulher, mostrar o correto no caso”. E a mãe ressaltou: “se não desse jeito eu só ia amar” (F6-M).

“Não acho certo, né... no momento a gente não aceita logo de primeira a gente tem uma dificuldade, mas eu não ia poder fazer nada, poderia mandar ele procurar uma igreja, conversar com ele, não acredito que isso seja coisa da cabeça da pessoa é falta de Deus no coração da pessoa, porque existe o mal e o bem e isso é mal” (F9-M).

De jeito nenhum, isso é errado e ponto final. Na minha casa não” (F50-P).

Mediante a fala dos pais, é perceptível como a religião influencia na educação das famílias entrevistadas. De acordo com Coutinho e Miranda-Ribeiro (2014), os valores culturais e doutrinas religiosas dominam e determinam o padrão de comportamento da sociedade, e por mais que em alguns aspectos como normas e valores a respeito de sexo e sexualidade já tenham sido vencidos no campo da educação e da saúde, tais vertentes ainda dominam o ambiente familiar.

Quando questionados se há diferenças no diálogo entre meninos e meninas sobre sexualidade, cerca de 74% dos pais afirmaram não existir.

Não, porque o homem você está prevenindo de engravidar alguém mais cedo e tá prevenindo-o de doenças e a mulher a mesma coisa” (F2-M).

Dá mesma forma que eu crio ela, eu crio ele, apesar de ele ser homem” (F10-M).

Os demais, 26% ressaltam ser diferente o diálogo entre os gêneros.

Converso mais com meu filho, é mais fácil de homem pra homem” (F31-P).

Sim, porque mulher tem que conversar com mulher e o homem tem que conversar com o homem” (F3-P).

Essa hierarquia ainda reflete dentro do ambiente de trabalho, núcleo familiar, e outros aspectos no meio social (TONELI, 2012). Segundo Moraes (2011) e Costa et al. (2014), a falta de informação acaba implicando em vulnerabilidade social, seja em relacionamentos fechados, insegurança social ou ainda riscos às doenças físicas.

Foram indagados se a ES deva ser trabalhada exclusivamente na escola, todas as famílias participantes da pesquisa afirmaram que a temática tem que ser trabalhada principalmente em casa, e que a escola seria um complemento a mais, porém, mesmo com essa afirmação, não praticavam a mesma.

Acredito que tem que começar dentro de casa, a escola só uma orientação” (F1-M).

Exclusivamente na escola não, a ES tem que ser falada em casa, na escola, na igreja, em todos os ambientes, mas educação tem que ser dada em casa” (F10-M).

Acho que em casa por primeiro, depois fora” (F49-M).

Para Rosso (2010), a ES não deve ser trabalhada exclusivamente na escola, pois, a família deve ser a principal mediadora do problema, uma vez que está ligada diretamente a afetividade e implica no comportamento social do indivíduo. Silva, Costa e Müller (2018) afirmam que as escolas ainda trabalham na educação sexual somente com o sentido biológico, naturalizado e reprodutor, por isso é fundamental a participação da família.

Destaca-se que a ES passa a ser respaldada nas escolas a partir da criação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) (BRASIL, 1997), na perspectiva de cidadania, que busca a promoção da autonomia e considera os direitos sexuais dos adolescentes (BARREIRO; TEIXEIRA-FILHO; VIEIRA, 2006). Por isso, é fundamental o reconhecimento da potencialidade da escola como referência no processo de construção do ser humano (VIEIRA; MATSUKURA, 2017). Para Savegnago e Arpini (2013), é essencial que sejam desenvolvidas atividades relacionadas a sexualidade, drogas, doenças, entre outras, servindo-se do respeito à autonomia e reconhecimento das capacidades dos adolescentes.

Sexo e sexualidade na visão dos adolescentes

Os adolescentes foram questionados no que consistia a educação sexual para si. Destes, 89% apresentaram conhecimento prévio a respeito do assunto e 11% disseram não saber. Como consta nos comentários abaixo:

Sei sim, seria a pessoa fazer sexo no momento certo, sempre se prevenir usando preservativo para evitar doenças” (F9-A).

É quando nós temos consciência que não devemos manter relações desprotegidas, principalmente para não engravidar ou contrair doenças” (F5-A).

Seria saber sobre os perigos do sexo pra gente” (F17-A).

Dentre a maioria dos sujeitos que apresentaram algum conhecimento sobre a ES, fez-se alusão principalmente para o ato sexual e a prevenção das IST’s, tendo em vista a complexidade conceitual do termo. Com isso, percebe-se a carência da orientação familiar no que tange a importância da ES no desenvolvimento do cognitivo do adolescente. Para Fagundes (2005) e Gonçalves, Faleiro e Malafaia (2013), a ES em sua abrangência envolvem fatores biológicos, religiosos, psicológicos, socioculturais, físicos e comportamentais que desempenham forte influência na formação e no direcionamento durante o desenvolvimento da sexualidade humana.

Quando indagados se alguma vez já tiveram orientação sexual, bem como o local ocorrido, 50% afirmaram na escola nas aulas de ciências e biologia (ensino fundamental e médio), 22,5% relataram que as informações vieram por conversas entre amigos, 17,5% em sites, 5% em livros didáticos, 3% em noticiários de televisão, e 2% em igrejas e no próprio ambiente familiar.

A maior representatividade da escola como mediadora da ES, justifica-se a partir da criação dos PCNs, o qual ressalta a importância da escola para tal abordagem (BRASIL, 1997), sendo um ambiente privilegiado para discussão e problematização de conceitos com sentidos preconceituosos e heteronormativos, pois excluem e estigmatizam esses sujeitos (COELHO; CAMPOS, 2015). Para Gonçalves, Faleiro e Malafaia (2013), nas aulas de ciências e biologia, é muitas vezes a principal fonte de informação a respeito da sexualidade na maioria dos adolescentes, ainda que esteja voltada mais especificamente ao componente curricular.

Coelho e Campos (2015) afirmam que é papel do professor de Ciências levar questões relacionadas à sexualidade para as salas de aula, sendo capaz de problematizar e sensibilizar os alunos. Assim com os professores, destacando a importância de desenvolver uma ES fundada no diálogo franco, aberto e ético (SANTOS et al., 2011). Desse modo, Nunes e Silva (2000) ressaltam que o desafio do educador é proporcionar ao adolescente um melhor conhecimento de si próprio, que respeite sua autonomia e identidade.

A partir da maior representatividade dos adolescentes que buscam informações sobre a sexualidade com os amigos, ao invés do ambiente familiar, notou-se que ainda existem diversas barreiras a serem transpostas no contexto familiar. Em que pais e filhos não se sentem preparados para dialogar a respeito do assunto, e por isso preferem ignorar ou reprimir tais manifestações. A partir disso, Savegnago e Arpini (2013) ressaltam que o adolescente passa a procurar outros meios e informação, como os “amigos”, os quais também são imaturos, o que não contribuiu na formação cognitiva do indivíduo. Para Cunha e Osório (2002), há essa procura nos grupos de amigos devido se sentirem livres, sem medo de serem repreendidos ou ridicularizados, pois todos possuem dúvidas semelhantes e conseguem falar abertamente entre si.

Quando perguntado sobre quais as maiores dificuldades em falar com seus pais sobre sexualidade, notou-se a complexidade do assunto. Cerca de 62% dos adolescentes afirmaram não conversar com seus pais a respeito da sexualidade pois são os primeiros a reterem-se no assunto, 22,5% revelaram que conversam mais com a mãe e 15,5% responsabilizaram os próprios pais, alegando que eles evitam ou não gostam de abordar o assunto. Como consta abaixo:

Tenho todas as dificuldades, não converso nada com eles, sou totalmente fechado em relação às conversas com meus pais” (F2-A).

Sou muito fechada, nunca tive um relacionamento aberto com meus pais, vergonha” (F4-A).

Minha mãe e meu pai não gostam muito de falar sobre isso” (F9-A).

Não pergunto sobre isso não, tenho vergonha” (F17-A).

Percebe-se que a maioria das famílias não possuem um diálogo aberto entre pais e filhos sobre ES, e isso está intrinsicamente relacionado à vergonha e medo dos adolescentes. Para isso, de Oliveira e Dias (1998), afirmam que a falta do diálogo entre pais e filhos muitas vezes está relacionado a forma de como os pais foram criados na adolescência e também ao nível de escolaridade dos mesmos.

Em relação a qual abordagem os pais mais conversavam dentro do contexto da ES, 94% dos adolescentes disseram que o diálogo está voltado exclusivamente ao sexo desprotegido, gravidez precoce e as IST’s e 6% aos aspectos comportamentais, como nas falas abaixo:

Falam apenas sobre os cuidados com a saúde, que eu tenho que ter, e quando passei a menstruar era pra eu ter cuidado por que já poderia engravidar” (F4-A).

Na prevenção de gravidez e doenças” (F2-A).

Notou-se que a maioria dos pais abordam apenas os aspectos físicos, bem como o sexo, IST’s e gravidez precoce, e de acordo com Garcia (2003), não consideram as mudanças de comportamento ao longo do crescimento humano, assim como as novas descobertas, novas experiências e desejos, dentre outros. Para Araújo et al. (2015), muitos pais até mesmo esquecem que já vivenciaram a adolescência, e acabam por negligenciar ou obstruir informações e conselhos em uma fase da vida em que há tantos questionamentos.

Os adolescentes também foram questionados como a ES é trabalhada na escola, dentre os relatos, 88,5% afirmaram que a principal abordagem é com relação as IST’s e a gravidez na adolescência, 11,5% destacaram o estudo do sistema reprodutor masculino e feminino. No primeiro comentário abaixo, percebe-se a importância das aulas de biologia na contextualização da ES na formação dos sujeitos, na segunda fala notou-se o quão pouca é a carga horária em uma abordagem da ES na disciplina de biologia.

É bem visível, os professores de biologia trabalham bastante, principalmente o uso de camisinhas para evitar doenças, gravidez e mudanças na fase da puberdade” (F1-A).

Os professores passam alguns trabalhos uma vez por ano sobre DST, algo programático” (F3-A).

Já apresentei seminário sobre Doenças Sexuais, foi bom” (F14-A).

A professora já mostrou muitas imagens numa aula, foi forte” (F31-A).

Por mais que escola trabalhe os conteúdos da ES, muitas vezes se torna apenas um componente curricular, na qual o professor aborda apenas uma vez por ano seja em forma de palestra ou aula e os alunos aprendem naquele momento, não levando consigo tais conhecimentos, até mesmo pela falta do conhecimento prévio (TONATTO, 2002). Para isso, Santos et al. (2011), ressaltam a responsabilidade e o compromisso do professor de Biologia em atender a necessidade do adolescente referente a temas ligados à sexualidade, reprodução, métodos anticoncepcionais, IST, suicídio entre púberes, dentre outros.

A ES não fica a cargo apenas de uma disciplina, ou um determinado professor, mas sim trabalhada de forma interdisciplinar no corpo escolar, atribuindo melhor resultados na aprendizagem dos alunos. Segundo os PCN’s (BRASIL, 1998), os trabalhos de orientação sexual deverão se dar de duas formas: dentro da programação, por meio dos conteúdos transversais nas diferentes áreas do currículo e por extraprogramação, sempre que surgirem questões relacionadas ao tema.

A tabela 1 expressa uma lista com 14 valores que versam sobre a vivência da sexualidade humana e com seus respectivos significados para melhor entendimento dos sujeitos entrevistados. Cada adolescentes selecionou três valores com que mais se identificassem, face de sua experiência pessoal.

Tabela 1: Valores que versam sobre a vivência sexual humana, segundo o ponto de vista dos adolescentes.

Valores

Significado

Respeito

Tratar o outro com urbanidade, justiça, consideração e apreço.

Prazer

Estado afetivo agradável, satisfação, conhecimento, alegria, gosto e deleito.

Informação

Ato ou efeito de esclarecer-se sobre um determinado assunto.

Fidelidade

Relação caracterizada por uma união exclusiva entre um casal.

Liberdade

Agir livremente sem coerção e segundo a sua vontade, sempre respeitando o outro.

Amor

Sentimento que nos impele para o objeto de nossos desejos, afeição e paixão.

Despendimento

Ato ou efeito de desapego e alheamento a uma relação estável.

Proteção da saúde

Adoção de comportamentos seguros e saudáveis.

Diálogo aberto

Conversa entre duas ou mais pessoas, livre de tabus ou preconceitos.

Proteção a gravidez

Adoção de medidas específicas para prevenir a gravidez.

Sexo impessoal

Procura por parceiros sexuais sem esclarecer uma ligação efetiva.

Beleza

Qualidade do corpo formoso, belo, lindo, que é agradável a vista.

Temperança

Poder de moderar as paixões e desejos, sobriedade, moderação e moderação.

Autoestima

Possuir sentimentos positivos sobre si como, por exemplo: confiança e apreço.



Mediante as afirmativas assinaladas, 59% demostraram estar em busca ou preocupados com o Respeito, a Liberdade e a Proteção à saúde. Assim como fica claro a justificativa dos adolescentes quanto as suas respostas, por exemplo:

Marquei respeito por que é muito importante numa relação; liberdade por que mesmo que eu namore, gosto de ter meu espaço assim como dou espaço para minha parceira, e proteção à saúde sempre, não faço sexo sem camisinha, tenho esse cuidado” (F11-A).

Proteção à saúde, tem aquelas vacinas pra HPV, tomar remédio pra não engravidar e sempre se prevenir” (F5-A).

Respeito por que eu acho que o parceiro tem que respeitar, quando a menina não quer não insistir, é importante” (F4-A).

Isto mostra que os jovens têm uma preocupação e procuram o respeito em ambos, bem como a liberdade, e por mais que a maioria tenha afirmado não ter um bom diálogo referente à temática com seus pais, expressam uma preocupação com sua saúde nos relacionamentos afetivos, o que reforça a importância das abordagens da ES dentro da Educação Ambiental na escola, visto que há uma carência no diálogo no convívio familiar.

Dos demais, 24.6% se importam mais com a Prevenção da Gravidez, Amor e Fidelidade. Por outro lado, 16,4% dos adolescentes entrevistados assinalaram o Sexo impessoal, Liberdade e Prazer. Nos comentários abaixo é possível verificar a percepção dos adolescentes:

O amor é tudo numa relação, se não tiver amor dos dois não vai pra frente” (F20-A).

Não busco compromisso sério, pelo menos não agora” (F2-A).

Eu gosto de ser livre, gosto de ficar com as pessoas e isso me dar prazer” (F4-A).

É importante ressaltar que a fase de adolescência desperta novos desejos, novas experiências, e estão muito confusos em relação aos seus sentimentos, e poder verificar esses valores referentes sua busca em uma relação é muito importante, além de propiciar um conhecimento maior sobre cada um dos adolescentes.

Conclusão

A abordagem sobre sexo e sexualidade se faz de grande importância por estar relacionada diretamente com o comportamento e desenvolvimento social das pessoas, mesmo inerente à condição humana e evidente nos dias atuais, é reprimida no ambiente familiar. O modelo de família pelo Estado está em constantes mudanças devido à orientação sexual, discutida e exposta pelos meios midiáticos, e por ser a família o princípio da educação, o ambiente familiar aliado a escola têm importante influência na construção e desenvolvimento da vida sexual, desde os primeiros questionamentos do corpo quando criança, até a fase da adolescência, onde se afloram as curiosidades devido mudanças psíquicas e biológicas. Com isso, a Educação Ambiental se torna fundamental quando trabalhada de forma correta na sociedade e dentro do contexto familiar, destacando que a mesma é essencial em todos os eixos das relações humanas e não apenas ligada a natureza propriamente dita.

A retenção da temática no cotidiano familiar é um fato histórico e cultural velada através dos tempos. Ao analisar o diálogo entre pais e filhos durante as entrevistas, foi perceptível a falta de comunhão, tornando meramente superficial, onde os pais reproduzem as mesmas ações que receberam na adolescência, e não relacionam os aspectos biológicos com mudanças físicas e psicológicas do corpo; limitam- se apenas em “saúde” (IST) e “gravidez indesejada”, devido a insegurança e falta de informação dos pais.

Apesar de estar presente na sociedade e na vida cotidiana dos adolescentes, a abordagem sobre sexo e sexualidade carece de maior atenção, onde os pais e responsáveis possam estar mais atentos e percebam o que é importante na construção do homem. E na escola, o professor poderá analisar como a temática deve ser trabalhada, abordando de maneira transversal e incluindo os temas de Educação Ambiental, por exemplo, como a falta de informações a respeito da sexualidade pode influenciar nos problemas de saúde e nas questões sociais, de forma que falar a respeito do sexo e sexualidade não seja um entrave na sociedade, mas sim que contribua no processo ensino e aprendizagem dos alunos.

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Ilustrações: Silvana Santos