Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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13/03/2019 (Nº 67) TRILHA ECOLÓGICA EM ESPAÇO NÃO FORMAL COMO ESTRATÉGIA DE ENSINO-APRENDIZAGEM NO MUNICÍPIO DE ABAETETUBA, PARÁ
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TRILHA ECOLÓGICA EM ESPAÇO NÃO FORMAL COMO ESTRATÉGIA DE ENSINO-APRENDIZAGEM NO MUNICÍPIO DE ABAETETUBA, PARÁ

Karla Maria Moraes Carneiro1, Beatriz Silva Quaresma2, Bianca Almeida Matos3, Alexia Sena da Costa4, Paulo Weslem Portal Gomes5, Ronilson Freitas de Souza6, João da Silva Carneiro7

1Graduanda em Ciências Naturais – Química, Universidade do Estado do Pará, carla.maria17@hotmail.com

2Graduanda em Ciências Naturais – Química, Universidade do Estado do Pará, biasilva2008@live.com

3Graduanda em Ciências Naturais – Química, Universidade do Estado do Pará, biam961107@gmail.com

4Graduanda em Ciências Naturais – Química, Universidade do Estado do Pará, alexiasena17@gmail.com

5Mestrando em Ciências Ambientais, Universidade do Estado do Pará, weslemuepa@hotmail.com

6Doutor em Química, Professor do Departamento de Ciências Naturais do Centro de Ciências Sociais e Educação da Universidade do Estado do Pará, ronilson@uepa.br

7Doutor em Química, Professor do Departamento de Ciências Naturais do Centro de Ciências Sociais e Educação da Universidade do Estado do Pará, joaocarneiro@uepa.br

Resumo: As trilhas ecológicas vêm se tornando uma importante estratégia para facilitar os processos de ensino, pois proporcionam aulas dinâmicas que estimulam a aprendizagem e a valorização dos recursos naturais da área estudada. Assim sendo, este trabalho objetivou realizar ações que contribuam na formação acadêmica dos alunos do 1º ano do curso de licenciatura em química da Universidade do Estado do Pará, por meio da construção do conhecimento científico a partir da biodiversidade observada na trilha ecológica do Sítio Radini, Abaetetuba-PA. Foi realizado o mapeamento do local, a construção da trilha ecológica, a aplicação de um questionário prévio, em seguida o passeio na trilha ecológica com os alunos e a aplicação de um questionário de avaliação final da trilha. Verificou-se que esta atividade contribuiu de forma expressiva na construção de habilidades, atitudes e competências voltadas à conservação do meio ambiente e consequentemente ao avanço do conhecimento científico dos alunos, os quais ressaltaram a importância da trilha ecológica como facilitadora de aprendizagem e essencial para preservação de áreas naturais. Com isso, espera-se que este estudo se torne mais um passo para impulsionar mudanças gradativas em atitudes ambientais, aumentando o interesse da comunidade pela preservação de áreas naturais protegidas e que estão ameaçadas.

Palavras-chave: Educação Ambiental, Espaço não formal, Ensino-aprendizagem.

Abstract: The ecological trails are becoming an important strategy to facilitate the processes of education, because they provide dynamic classes that stimulate the learning and appreciation of the natural resources of the area studied. Thus, this work aimed to carry out actions that contribute to the academic formation of the students of the 1st year of the bachelor's degree in chemistry from the University of the State of Pará, through the construction of scientific knowledge from the biodiversity observed in the eco-trail Site Radini, Abaetetuba-PA. Mapping was done of the site, the construction of the eco-trail, the application of a questionnaire prior to, then the ride on the eco-trail with the students and the application of an evaluation questionnaire end of the trail. It was found that this activity has contributed significantly in building skills, attitudes and competences aimed at the conservation of the environment and consequently to the advancement of scientific knowledge of the students, which underscored the importance of the eco-trail as a facilitator of learning and essential to the preservation of natural areas. With this, it is hoped that this study will become one more step to drive change are graduated in environmental attitudes, increasing the interest of the community for the preservation of protected natural areas that are threatened.

Keywords: Environmental Education, Non-formal, Teaching-learning.

INTRODUÇÃO

O processo de ensino aprendizagem pode ocorrer pela educação escolar formal, não formal e informal (GOHN, 2011). A primeira consiste na aquisição e construção do conhecimento científico em instituições de ensino com o acompanhamento pedagógico, a segunda ocorre fora dos espaços escolares, ou seja, no próprio local de interação dos indivíduos e pouco assistida pelo ato pedagógico e a terceira é caracterizada pelas experiências e ações que permeiam o dia a dia do indivíduo, em casa e no ambiente familiar (ALMDEIDA; OLIVEIRA, 2014).

Vieira, Bianconi e Dias (2005) reforçam a ideia de que existem múltiplos caminhos para uma educação de qualidade e nesse sentido, a utilização de espaços não formais pode representar uma importante estratégia de ensino e de aprendizagem, na tentativa de despertar o interesse, a motivação e a contextualização dos saberes associados à escola. Queiroz et al. (2011) ressaltam a importância do espaço não formal na perspectiva da aprendizagem como o afetivo, o emotivo e o sensorial se tornado um importante método para a educação cientifica e construção do conhecimento.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, a implementação das atividades em espaços não formais é fundamental para desenvolver no indivíduo habilidades para a observação e a problematização dos assuntos abordados (BRASIL, 1998). Desse modo, as trilhas ecológicas (TE) constituem excelentes ambientes para programas de educação ambiental (EA), pois possibilitam o contato direto entre o visitante e os elementos naturais do ambiente, o que proporciona a conscientização na preservação do meio ambiente (ROCHA et al., 2010). A EA tornou-se uma ferramenta para inserção do conhecimento a respeito da importância dos recursos naturais aos visitantes de qualquer espaço de ambiente natural (PIROLI; SANTOS, 2010).

As TE são previstas na Política Nacional de Educação Ambiental, Lei Federal nº 9.795, de 27 de abril de 1999 (BRASIL, 1999), a qual vêm se tornando uma importante estratégia para facilitar os processos de ensino (GUIMARÃES, 2011), pois proporcionam aos alunos aulas dinâmicas que estimulam a aprendizagem e a valorização dos recursos naturais da área estudada (ARAÚJO; FARIAS, 2010). Nesse sentido, Steffani (2011) afirma que os espaços não formais têm por objetivo mostrar ao discente outras formas de concepção, uma vez que estes espaços podem ser as vezes mais interessantes do que a sala de aula.

O uso de ambientes naturais como espaços não formais tem se tornado áreas que apresentam potencial para o desenvolvimento de diversas atividades educativas e em diferentes níveis escolares (VIEIRA; BIANCONI; DIAS, 2005), e dentro do bioma Amazônia, se destaca sua grande diversidade biológica e as relações entre os indivíduos e com a natureza, bem como a importância de se conhecer os processos básicos que este bioma desempenha para ser autossustentável e a manutenção da vida (MMA, 2007).

Neste sentido, este trabalho teve por objetivo realizar uma trilha ecológica para promover aprendizagem sobre a temática biodiversidade, bem como, este material científico remete as atividades de extensão e as estratégias de ensino desenvolvidas dentro do projeto da Residência Pedagógica para o ensino de Ciências e Química desenvolvidas no Município de Abaetetuba.

METODOLOGIA

Tipo de pesquisa

A interpretação dos dados foi realizada utilizando a técnica quanti-qualitativa, em que de acordo com Creswell (2010), a qualidade de ambos os métodos produz uma popularização de método misto, e evidência os pontos fortes tanto da abordagem qualitativa quanto quantitativa. Desse modo, de acordo com Silva e Simon (2005), a pesquisa quantitativa deve ser utilizada quando há se conhecimento e o controle de qualidade do que será estudado. Já na pesquisa qualitativa, Silva, Lopes e Braga-Junior (2014) afirmam que as abordagens qualitativas são direcionadas as áreas pouco estudadas e tem por objetivo ter informações empíricas da realidade.

Área de estudo

O sítio Radini é uma propriedade particular de 33 hectares, porém com total abertura para as atividades de ensino e extensão de escolas públicas do município de Abaetetuba e da Região. Como citado o sítio Radini está situado no município de Abaetetuba, região nordeste do estado do Pará (Figura 1) e fica as margens da PA-252 no Km 6, estrada Dr. João Miranda, próximo à entrada da cidade. O terreno do sítio tem grande parte inalterada e outra menor, em que foram plantadas espécies frutíferas típicas da região amazônica. O sítio abrange 165 espécies vegetais, sendo 163 nativas e duas de origem africana, dentre elas se destaca as árvores de mari-mari, guaraná, açaí, araçá, abricó, bacuri, tucumã e pés de umarirana, gogó-de-guariba, sapota-de-solimões, castanha-de-cutia e fruta-violeta, e dentre outras (AMAZÔNIA VIVA, 2015).



Figura 1: Área de entrada do Sítio Radini no município de Abaetetuba, Pará.

Fonte: Autores.

Trilha ecológica

A trilha ecológica ocorreu no período da manhã no dia 28 de março de 2018 com 31 alunos do 1º ano do curso de licenciatura em química da Universidade do Estado do Pará, Campus de Barcarena. O primeiro momento ocorreu com a visita prévia no local, onde se deu a formação da trilha ecológica de 500 metros a partir de espécies das plantas mais conhecidas na região e também de pontos estratégicos como a coleção Entomológica (Figura 2-a) e o Igapó (Figura 2-b), este último conhecido na região amazônica como igarapé. Essa estratégia teve por objetivo motivar a interação dos alunos com a natureza por meio do contato direto com a fauna e flora locais e ainda as características abióticas que estão inerentes ao ambiente de estudo. Dessa forma, buscou-se contextualizar e relacionar os assuntos abordados em sala de aula com aqueles que estavam sendo observados em campo, visando a formação de cidadãos críticos e conscientes no que diz respeito a temática ambiental.

Figura 2: a. Caixa entomológica e b. Igapó no sítio Radini, município de Abaetetuba, Pará.

Fonte: Autores.

O segundo momento foi dedicado a uma discussão a respeito do conhecimento da área do sítio Radini, em que foi ressaltado a biodiversidade local de um remanescente de floresta primária que ainda se encontra em estado de conservação e também foram destacadas as principais abordagens que seriam discutidas durante a trilha (Figura 3-a e b).

Figura 3: Alunos reunidos na área do sítio Radini no momento da discussão do que seria abordado durante a trilha ecológica.

Fonte: Autores.

No terceiro momento, foi aplicado um questionário semiestruturado a respeito dos conhecimentos prévios dos alunos (Tabela 1), onde foi possível escrever e emitir livremente, usando linguagem própria, suas opiniões a respeito da importância da trilha ecológica atrelada a educação ambiental.



Tabela 1: Questionário sobre conhecimentos prévios dos alunos em relação a trilha ecológica.

Perguntas

O que você entende por trilha ecológica?

Em sua concepção, qual é a importância da trilha ecológica como método de ensino?

Para você é importante realizar atividades relacionadas ao meio ambiente em espaços naturais preservados?

Você considera importante a inclusão de uma disciplina de educação ambiental na grade curricular do seu curso? Por quê?



No quarto momento, ocorreu a apresentação da trilha ecológica aos alunos a fim de mostrar todos os pontos escolhidos e abordar a sua importância ecológica para a manutenção dos ecossistemas amazônicos, bem como, ressaltar a preservação e conservação ambiental dessas áreas que ainda não foram reprimidas para extração de recursos naturais. Após a trilha ecológica, aplicou-se um questionário semiestruturado (Tabela 2) para avaliar a percepção dos alunos a respeito dos assuntos que foram abordados e a construção do conhecimento científico.

Tabela 2: Questionário da avaliação final dos alunos após o passeio na trilha ecológica.

Perguntas

Como a trilha contribuiu para seu conhecimento científico?

O que mais chamou sua atenção durante o trajeto da trilha ecológica?

A trilha ecológica ajudou você a entender sobre os conceitos abordados?

Essa atividade conseguiu desperta o seu interesse pela educação ambiental? De que forma?



RESULTADOS E DISCUSSÃO

Por meio dos questionários, avaliou-se a importância da TE como estratégia de ensino-aprendizagem, bem como saber o conhecimento prévio dos alunos associado a nova informação das questões ambientais que foi repassada no decorrer das atividades, de forma que o conceito da aprendizagem fosse efetuado. Para Moreira (2011), a aprendizagem significativa ocorre com a interação de novas informações com aquelas já existentes na estrutura cognitiva do indivíduo, as quais funcionam como âncoras aos novos conhecimentos ou conceitos.

Aproximadamente 68% dos alunos ainda não tinham participado de alguma TE como método de ensino, sendo somente 32% que já haviam participado, entretanto, sem uma abordagem de contextualização dos assuntos discutidos em sala de aula. Para Eisenlohr (2013), é fundamental que mais estudos sejam realizados em TE, visando principalmente à conversação dos ecossistemas, visto que, nota-se a carência de trabalhos desta abordagem em trilhas em áreas naturais no Brasil.

Notou que na fala dos alunos existe um conhecimento prévio, o qual foi possível perceber por meio das perguntas “O que você entende por trilha ecológica?” e “Em sua concepção, qual é a importância da trilha ecológica como método de ensino?” como nas falas abaixo:

Acredito que serão abordados assunto sobre a fauna e flora que vamos encontrar no caminho e falar da importância da preservação, já que a Amazônia vem sofrendo muito com desmatamento e a floresta é casa dos animais, então serão discutidos esses conteúdos e também de educação ambiental” (Aluno).

As trilhas ecológicas são importantes para reforçar os assuntos que são discutidos na sala de aula, pois esse contato direto com o meio ambiente nos proporciona conhecer melhor tudo o que estudamos” (Aluno).

Em relação a pergunta “Como a trilha contribuiu para seu conhecimento científico?”, cerca de 98% consideraram a TE uma estratégia de ensino imprescindível tanto para o conhecimento científico acerca dos conceitos abordados como para a EA, no que tange a relação homem/natureza. Como é possível observar nas respostas de alguns alunos sobre quais as contribuições de tal prática:

Contribuiu muito para o meu conhecimento, pois despertou o meu interesse pelas plantas, preservação e a consciência a respeito do meio ambiente” (Aluno).

‘’Aprendi mais sobre as plantas da região amazônica e de outras regiões, além de contribuir muito para o meu aprendizado pois pude interagir com a natureza’’ (Aluno).

Brum e Silva (2014) reforçam a importância das abordagens em espaços não formais, de forma que relacione a teoria com a prática para que a aprendizagem se torne mais dinâmica e prazerosa, além de colaborar para a construção do conhecimento científico. Para Campos e Filleto (2011), as TE são excelentes métodos educativos para o ensino não formal na prática da EA, as quais servem para a construção de pensamentos dos visitantes quanto as relações do homem com o ambiente. Para Silva (2008), o uso de ambientes naturais para a aprendizagem proporciona aos alunos experiências que aumentam a curiosidade e iniciativa, além disso, com maiores oportunidades de formar indivíduos conscientes, do que experiências baseadas em automatismos, imposições e repetição.

Quando os alunos foram questionados sobre “O que mais chamou sua atenção durante o trajeto da trilha ecológica?”, todos ressaltaram que esta atividade despertou o seu interesse pela EA, de forma que 45,4% relataram a importância da preservação dos ecossistemas amazônicos, 36,3% destacaram que essa metodologia melhora o processo de ensino-aprendizado e 18,1% a partir do contato direto com a natureza e a relação dos conteúdos que eram somente abordados em sala de aula. Abaixo, estes resultados são observados nas falas dos alunos, nas quais também foi possível observar a resposta da pergunta “A trilha ecológica ajudou você a entender sobre os conceitos abordados?”:

Aprendi que temos que preservar os nossos ecossistemas naturais, principalmente estes aqui do sítio Radini que ainda estão em estado de conservação, pois quando se perder um ambiente desse, várias funções ecológicas são perdidas e pode até surgir problemas ambientais” (Aluno).

Por meio da trilha ecológica eu consegui entender muitos assuntos não entendia em sala de aula, acho que foi porque agora eu tive o contato direto com a natureza e a partir da nossa explicação do professor eu entendi os conceitos e vi como acontecem no próprio ambiente” (Aluno).

Resultados semelhantes foram registrados no estudo de Mendes et al. (2016) ao avaliar a trilha ecológica como estratégia para educação ambiental em Salvaterra, Pará, em que o uso da TE como estratégia de aprendizagem proporcionou aos alunos experiências como o contato direto com a natureza, contribuindo na formação de uma visão crítica acerca da preservação dos recursos naturais e ecossistemas com os quais interagem em seu cotidiano. Costa-Filho, Amaral e Abreu (2014) estudaram as TE como instrumento de sensibilização para questões ambientais, onde cerca de 92% dos alunos consideraram que esta atividade se torna muito proveitosa quando ocorre de forma interpretativa, onde, o contato direto com a natureza possibilita vivenciar os conteúdos ministrados nas salas de aulas, o que facilita a compreensão da interação dos seres vivos com os processos abióticos.

Com relação a pergunta “Para você é importante realizar atividades relacionadas ao meio ambiente em espaços naturais preservados?”, 68% dos alunos enfatizaram a importância de estar em contato com a natureza para a compreensão dos conteúdos; 13,63% relataram que a visita ao Sítio Radini despertou o interesse pela preservação dessas áreas que ainda se mantem em estado de conservação; 9,09% afirmaram que esta atividade aumentou o interesse por pesquisas na área ambiental e 9,09% ressaltaram que a TE contribuiu para o maior conhecimento das espécies de plantas existentes no local. Nas expressões dos alunos é possível perceber a importância desta atividade:

Acho importante realizar atividades em locais ainda preservados, principalmente porque podemos observar as algumas coisas que já não são mais vistas nos meios urbanos e em áreas degradadas, como por exemplo o igarapé que passamos” (Aluno).

Sim, é muito importante. Porque podem ser explorados conteúdos que ainda existam em áreas preservadas e quanto mais atividades forem realizadas nessas áreas buscando a sua preservação, mais protegida ela estará” (Aluno).

Vasconcellos (2006) afirma que as áreas naturais preservadas oferecem oportunidades para a reaproximação das pessoas aos ambientes naturais, aliando conhecimento, reflexões, desafios, afetividade, curiosidade e imaginação, o que facilita o cumprimento dos objetivos da EA e da conservação da natureza. De acordo com Pinheiro et al. (2010), o contato direto com ambientes naturais pode proporcionar sensação de pertencimento ao ecossistema, a qual é essencial para a conscientização e ação da conservação de todos aqueles que frequentam locais de preservação, na perspectiva de entender que o homem faz parte da natureza. Para Costa-Filho, Amaral e Abreu (2014), as aulas em espaço não formal em área de preservação rica em flora e fauna, ressalta a sensação de bem-estar e sensibiliza para a conservação do meio.

Partindo da ideia da inclusão da disciplina de EA na grade curricular, por meio da pergunta “Você considera importante a inclusão de uma disciplina de educação ambiental na grade curricular do seu curso? Por quê?”, todos os alunos acreditam ser importante a inclusão desta em sua grade curricular relatando ser imprescindível para sua relação e conscientização do meio ambiente para com a sua preservação. Em relação a importância do trabalho para a educação ambiental, foi possível perceber que por meio da pergunta “Essa atividade conseguiu desperta o seu interesse pela educação ambiental? De que forma?”, todos os entrevistados afirmaram que sim, na perspectiva de que a EA perpassa além do meio ambiente, ressaltando que o homem também faz parte do meio.

Nas falas abaixo, estão as percepções dos alunos quanto a inclusão da disciplina Educação Ambiental em seu curso:

A disciplina de Educação Ambiental, trará mais conhecimento para nós sobre o meio ambiente de maneira a ajudar-nos a entender e preservar a natureza’’ (Aluno).

‘’É importante incluir a disciplina de Educação Ambiental, pois todos os materiais que usamos vem da natureza, logo temos que aprender de que forma podemos preservar para que não venhamos destruir a natureza” (Aluno).

Delors (2012) afirma que um dos principais papeis da EA é proporcionar o envolvimento da humanidade com o meio ambiente, para que cada um faça sua parte a favor da preservação da natureza. Para Silva et al. (2012), a ótica da EA não pode estar relacionada apenas ao convívio do homem e o meio em que vive, visto que, vai além de tal perspectiva, em que deve-se refletir sobre hábitos e costumes humanos para manter a qualidade de vida, de forma que garanta a continuidade de forma sustentável. Machado e Terán (2018) afirmam que os indivíduos podem se tornar seres conscientes e sensibilizados quando são apresentadas as questões ambientais, os quais poderão pensar em novas possibilidades para materializar a EA.

A trilha ecológica realizada no sítio Radini, despertou nos alunos o interesse pelas questões ambientais. Foi possível perceber ainda a importância dessa atividade durante o percurso escolar e acadêmico, pois auxilia no ensino-aprendizagem e desperta o interesse da maioria dos alunos, daí a importância de se trabalhar conteúdos tanto em ambientes formais quanto não formais, pois essa iniciativa facilita a aproximação dos educandos com as realidades ambientais. Nesse contexto, Lima et al. (2018) afirmam que é imprescindível a discussão de introduzir no currículo escolar assuntos relacionados as questões ambientais, bem como a conservação das áreas naturais protegidas, além de discutir as questões sociais, econômicas e políticas que estão atreladas a isso.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ensino em espaço não formal é desafiador ao professor, mas têm-se resultados muito produtivo quando ao aprendizado do aluno. Por meios dos resultados, é fundamental que se seja adotada uma discussão quanto a importância da disciplina de EA na grade curricular dos cursos de graduação. Pois, além de ser uma ferramenta integradora se faz imprescindível no processo de ensino-aprendizagem.

Por meio da trilha ecológica foi possível avançar na abordagem da educação ambiental, e dessa forma percebeu-se a contribuição no desenvolvimento intelectual e o senso crítico dos discentes para se tornarem cidadãos mais conscientes em relação as questões da preservação ambiental e multiplicadores destes conhecimentos como futuros professores das ciências naturais. Assim, os novos assuntos abordados atrelados ao conhecimento prévio dos alunos, corrobora para o processo de aprendizado por meio da aprendizagem significativa, levando-os a uma postura mais participativa dentro das situações reais do cotidiano.

Com isso, espera-se que este estudo se torne mais um passo para impulsionar mudanças gradativas em atitudes ambientais, aumentando o interesse da comunidade pela preservação de áreas naturais protegidas e que estão ameaçadas.

REFERÊNCIAS

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Ilustrações: Silvana Santos