Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Práticas de Educação Ambiental
13/03/2019 (Nº 67) ANÁLISE DE PROJETOS EDUCACIONAIS COM TEMAS EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL SEGUNDO A CONCEPÇÃO DE FERNANDO HERNÁNDEZ
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ANÁLISE DE PROJETOS EDUCACIONAIS COM TEMAS EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL SEGUNDO A CONCEPÇÃO DE FERNANDO HERNÁNDEZ



Miriam Regina de Araujo Cremonese

Pós-graduanda em Docência no Ensino Técnico

SENAC Santo Amaro SP

miriam.cremonese@hotmail.com



Valdir Lamim-Guedes

Doutorando em Educação FEUSP;
Professor no Centro Universitário Senac-Santo Amaro (São Paulo- SP).

e-mail: lamimguedes@gmail.com



Resumo: O presente artigo tem por objetivo analisar projetos educacionais com temas ambientais desenvolvidos na rede escolar baseados na concepção de Fernando Hernández para a adoção da pedagogia de projetos que difundam a educação ambiental na escola e na sociedade em geral. O estudo apresenta uma apreciação dos trabalhos selecionados na internet e breve discussão baseada nos referenciais teóricos citados. O resultado do trabalho possibilita um novo perfil de ensino-aprendizagem e, consequentemente, transforma e preserva o mundo que nos cerca.

Palavras-chave: Análise; Projetos educacionais; Educação ambiental; Fernando Hernández

Abstract: This article aims to analyze educational projects with environmental themes developed in the school network based on the conception of Fernando Hernández for the adoption of pedagogy of projects that disseminate environmental education in school and society in general. The study presents an appreciation of the works selected on the Internet and a brief discussion based on the theoretical references cited. The result of the work enables a new teaching-learning profile and consequently transforms and preserves the world around us.

Key words: Analyze; Educational projects; Environmental education; Fernando Hernández

INTRODUÇÃO

O presente trabalho busca analisar a adoção da pedagogia de projetos em relatos de experiência na área de educação ambiental. Inicialmente, será apresentado o referencial teórico e metodológico que serviu de base para a análise realizada dos projetos escolhidos para esta atividade e, a seguir, a análise dos trabalhos selecionados. Segundo Hernández (1998), um projeto educacional não pode ser considerado um método, que dita regras para os alunos, as quais eles devem cumprir para atingir determinado objetivo e chegar a um aprendizado final. Essa crença torna o projeto uma atividade inerte e inflexível.

Essas ideias equivocadas foram surgindo e sendo modificadas durante décadas até chegarmos aos tempos atuais, onde a concepção ideal de projeto vem sendo fortalecida. Neste ponto de vista, tomamos por objetivo analisar projetos na temática ambiental, por se constituir este um tema atual que vem se difundindo mundialmente e que se faz necessário em ambiente escolar e familiar, desde suas bases, de uma forma interativa e colaborativa, extrapolando limites curriculares, e, sempre que possível, atingindo sua realidade social.

REFERENCIAL TEÓRICO

Conforme Almeida (1999), a pedagogia de projetos envolve alunos, professores, recursos disponíveis e tecnologias, sendo essa interatividade chamada de ambiente de aprendizagem. Isso promove a autonomia do aluno e a promoção de conhecimentos integrados a partir da solução de uma situação- problema definida no contexto social em que estão inseridos.

Tal esquema implica numa revisão da forma como o currículo é organizado, porém, em uma perspectiva a instrumentalizar o aluno, a facilitar a sua socialização e dar conhecimentos práticos para a vida” (BIN, 2012, p. 99). Segundo a autora, é uma ideia em consenso entre Hernández e Kilpatrick, ao fazer um estudo comparativo entre suas teorias. Hernández (1998), em sua teoria, defende que o papel do professor deve ser o de mediador da aprendizagem, permitindo que os alunos levantem as questões a serem discutidas, facilitando assim a construção do próprio conhecimento pelo aluno, que buscará e pesquisará soluções de formas variadas e de maneira compartilhada e colaborativa. O conhecimento construído em um projeto deverá assumir uma dimensão inter e transdisciplinar na escola, de forma que envolva toda a comunidade escolar e transmita esses conhecimentos à sociedade que com ela está interligada, garantido mudança de comportamento e melhoria na qualidade de vida. Isso pode ocorrer de diversas formas, a partir dos resultados do trabalho pelos alunos, da interação entre escola e comunidade, sendo que as mídias colaboram para isso, especialmente as digitais, pois estão altamente difundidas em nossos dias. Esse trabalho deverá ser dinâmico e flexível, prevendo as adversidades do caminho.

Todavia, Hernández (1998), afirma que os projetos não se constituem em uma saída milagrosa para a educação ou para os problemas levados pelos alunos até ela e que o papel da escola não é só transmitir conteúdos, encaixados em compartimentos divididos por disciplinas e desvinculado da realidade local.

[...] quando falamos de projetos, o estamos fazendo porque supomos que possam ser um meio que nos ajude a repensar e a refazer a escola. Entre outros motivos, porque por meio deles, estamos tentando reorganizar a gestão do espaço, do tempo, da relação entre os docentes e os alunos, e, sobretudo, porque nos permite redefinir o discurso sobre o saber escolar (aquilo que regula e o que se deve ensinar e como se deve fazê-lo) (HERNÁNDEZ, 1998, p. 65).

METODOLOGIA

Este trabalho trata-se de uma pesquisa qualitativa focada na análise da adoção da pedagogia de projetos em ações de educação ambiental. A pesquisa qualitativa “envolve a obtenção de dados descritivos sobre pessoas, lugares e processos interativos pelo contato direto do pesquisador com a situação estudada, procurando compreender os fenômenos segundo a perspectiva dos sujeitos”, sendo estes os participantes da situação em estudo (GODOY, 1995, p. 58). Portanto, trata-se de uma metodologia basicamente descritiva.

A construção do corpus da pesquisa foi realizada a partir da busca pelas palavras-chaves “projeto”, “pedagogia por projetos”, “projetos educacionais”, acompanhando da expressão “educação ambiental”. As buscas foram realizadas utilizando o site google. Após o acesso ao texto, realizou-se uma primeira análise sobre a adoção ou não da pedagogia por projetos, mas em vários casos, o texto era o relato de um projeto, não uma adoção pedagógica de uma metodologia específica. Nestes casos, os textos não atendiam ao nosso objetivo. Após a identificação da adoção de projetos educacionais, partiu-se para a análise de seu conteúdo. Primeiramente foi analisada a estrutura geral do trabalho, para depois compará-lo com os preceitos da pedagogia de projetos fundamentada na bibliografia citada. A seguir são apresentados os resultados obtidos de dez artigos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nesta seção apresentamos a análise dos dez projetos selecionados. Um aspecto comum a todos é a utilização do referencial teórico de Hernández para a aplicação da pedagogia de projetos. No quadro 1 apresentamos uma tabela sucinta dos projetos, especificando os nomes dos autores, títulos dos trabalhos e o referencial teórico utilizado nos estudos. Abaixo comentamos cada artigo citado na tabela e que seguiram essa linha de pensamento. Em seguida fizemos alguns comentários acerca da pedagogia de projetos preconizada por Hernández que está presente em todos os trabalhos, exemplificando com citações dos textos.

Quadro 1: Lista de artigos analisados que adotaram pedagogia de projetos (cf. HERNANDEZ, 1998).

Autores

Título

Referencial citado (pedagogia de projetos e educação ambiental)

Caldeira et al. (2012)

Mapeamentos de projetos de educação ambiental do ensino fundamental

Hernández e Ventura, Dewey e Kilpatrick, Cardoso, Carvalho, Di Giorgi

Santana; Valentim (2004)

Projetos de educação ambiental no contexto escolar: mapeando possiblidades

Hernández e Ventura, Dewey e Kilpatrick, Alves-Mazotti e Gewandsznargder, Boutinet e outros

Santana (2013)

Projetos de educação ambiental na rede municipal de ensino de Mogi Mirim: Desafios à prática pedagógica

Hernández e Ventura, Freire, Medina, Grun, Schumacher, Layrargues, Loureiro, Mendonça, Ludke e André, Demo, Oliveira apud Fracalanza, e outros

Orrego e Carniatto (2016)

Escolas sustentáveis e educação ambiental: Impactos ambientais do lixo doméstico no ecossistema urbano

Hernández e Ventura, Freire, Boff, Arantes, Almeida e outros

Virgens (2011)

A educação ambiental no ambiente escolar

Hernández e Ventura, Hutchinson, Libâneo, Guimarães, Gadotti e outros

Guerra et al. (2015)

Construção de projetos em educação ambiental: Desafios para professores e gestores da bacia hidrográfica Gravataí

Hernández, Freire, Layrargues, Loureiro e Luck

Silva; Carniatto; Polinarski (2009)

Projeto político-pedagógico como instrumento para a educação ambiental formal

Hernández e Ventura, Freire, Veiga, Klein, Gadotti e outros

Seibert; Groenwald (2004)

Trabalhando com o tema educação ambiental na matemática, através de projetos de trabalho, no ensino fundamental

Hernández e Ventura, Rocha, Pires, Morin, Machado e outros

Matos (2015)

A metodologia de projetos, a aprendizagem significativa e a educação ambiental na escola

Hernández, Dewey e Moreira (aprendizagem significativa)

Amaral e Carniatto (2011)

Concepções sobre projetos de educação ambiental na formação continuada de professores

Hernández, Brugger, Capra, Carneiro e outros

Caldeira et al. (2012), em “Mapeamentos de projetos de educação ambiental do ensino fundamental”, realizaram pesquisa em Pós-Graduação em Educação com o tema projetos de educação ambiental em escolas estaduais através de pesquisa e entrevistas. Análise de projetos fundamentados nas concepções de Hernández, monitorada pela observação e questionários. Após o diagnóstico inicial, os projetos de educação ambiental citados pelos autores possibilitaram o desenvolvimento de ações interdisciplinares na escola, envolvendo as disciplinas de ciências, português e geografia, estendendo-as ao contexto da comunidade onde a escola está inserida, intervindo de forma crítica e atuante nos problemas levantados com parceria das famílias. Houve também escolha de temas a serem abordados onde alunos, pais e professores puderam escolher a temática do projeto com a realização de fóruns, e obtiveram apoio financeiro do setor privado para a solução dos problemas. Os resultados estão sendo analisados, mudanças sugeridas e acompanhados pela Universidade. O estudo continua em desenvolvimento.

Valentim e Santana (2004), emProjetos de educação ambiental no contexto escolar: mapeando possibilidades” dissertam em pesquisa de mestrado acerca de projetos desenvolvidos no ensino fundamental, destacando-se um onde os alunos escolheram o tema com a mediação da professora, problematizaram, definiram estratégias, buscaram fontes de informações, registraram as atividades, encerraram com produção de materiais a partir do conhecimento adquirido. O trabalho foi baseado numa avaliação diagnóstica inicial e depois na avaliação formativa e foi desenvolvido de forma interdisciplinar e contextualizada entre os professores.

Santana (2013), emProjetos de educação ambiental na rede municipal de ensino de Mogi Mirim: Desafios à prática pedagógica”, faz pesquisa de mestrado baseada em observação participante de um grupo. O tema foi escolhido e fundamentado teórica e historicamente, a pesquisa realizada por três anos com alunos de ensino fundamental, professores, funcionários e equipe diretiva. Foi realizada uma avaliação diagnóstica inicial baseada na análise documental dos projetos político - pedagógicos das unidades escolares e nas entrevistas com as equipes diretivas. A partir disso, surgiram formações de grupos de estudos e discussões com produção de projetos voltados à realidade local, com atividades e estratégias diversificadas, organizadas em cronogramas. Na sequência foram promovidos encontros de formação continuada para a equipe escolar, com recursos audiovisuais. Formularam ideias, definiram indicadores e parâmetros para o trabalho. A autora sugere acompanhamento e subsídio das atividades propostas pelos projetos, envolvendo a comunidade escolar, familiar e local, socializando as informações através de diferentes mídias.

Orrego e Carniatto (2016), em “Escolas sustentáveis e educação ambiental: Impactos ambientais do lixo doméstico no ecossistema urbano”, propõem um projeto onde houve uma problematização em duas fases e a aplicação em vários momentos. Primeiramente foi coletado material para análise e elaboração da proposta de intervenção pedagógica e da produção didático- pedagógica. Foram realizados encontros com professores e agentes educacionais onde surgiram propostas temáticas. O projeto foi efetivo na mobilização, organização e aplicação prática de forma interdisciplinar na escola. As atividades promoveram mesa redonda para ampliar o conhecimento no ambiente escolar, a elaboração de uma síntese do conhecimento gerado através de debate, em seguida uma abordagem teórica- conceitual que gerou produção e exposição de materiais pelos alunos, execução de vídeo, elaboração de temas e sugestões de atividades didático- pedagógicas. O trabalho foi organizado por um cronograma e mediado pelos autores da pesquisa, envolvendo a comunidade e mídia local, criando eventos, estabelecendo parceria com universidade e favorecendo grupos definidos da comunidade.

Virgens (2011), em “A educação ambiental no ambiente escolar” elabora monografia argumentando sobre projetos criados para o plano de desenvolvimento e para o projeto político-pedagógico da escola. Os alunos trabalham diversos temas, constroem conhecimento colaborativo reproduzido em materiais concretos através da mediação do professor, que participa do aprendizado. Essas atividades melhoram a qualidade do ambiente que os cerca, transformando-o através de um trabalho contextualizado e integrado entre disciplinas.

Guerra et al. (2015), em “Análise de projetos realizados por professores de seis municípios da bacia hidrográfica do Rio Gravataí” discutem a necessidade de construir um futuro sustentável através da formação continuada com os professores proporcionando o referencial de Hernández como suporte aos projetos por eles desenvolvidos nas escolas. Foram assessorados pela equipe técnica do curso de formação, elaboraram artigos que deram origem a pôsteres para serem utilizados nos projetos. O registro fotográfico foi realizado com a participação da comunidade. A avaliação foi baseada em tabelas com categorias de classificação.

Silva, Carniatto, e Polinarski (2009), emProjeto político-pedagógico como instrumento para a educação ambiental formal” concebem monografia com análise documental de projetos político-pedagógicos que se propõem a desenvolver projetos de educação ambiental, observando justificativas, objetivos, população alvo, entrevistas com a coordenação da escola, participação da comunidade, se apresenta caráter interdisciplinar, metodologia, ações a serem desenvolvidas, período e tempo de realização, cronograma, resultados esperados. Verificou-se a viabilidade de execução e forma de planejamento. O estudo deixa clara a necessidade de constante revisão dos projetos escolares.

Seibert e Groenwald (2004), emTrabalhando com o tema educação ambiental na matemática, através de projetos de trabalho, no ensino fundamental”, desenvolvem um projeto envolvendo 54 alunos, entre 12 e 15 anos, de março a dezembro de 2003. As turmas foram divididas, optaram pelos temas, executaram pesquisas, orientados pelo professor. O professor e os grupos possuíam um diário de bordo, realizaram avaliação da equipe pedagógica da escola e dos alunos frente ao projeto. Também registraram em vídeos e áudios cada etapa dos projetos. O tema foi discutido, pesquisado, desenvolvido em um trabalho científico, confeccionados pôsteres e ao final do ano letivo os trabalhos foram apresentados aos pais e comunidade em geral. Foram utilizadas novas tecnologias, produzidos textos e compartilhados os conhecimentos construídos. Os grupos interagiram e colaboraram entre si.

Matos (2015), em “A metodologia de projetos, a aprendizagem significativa e a educação ambiental na escola”, descreve uma ação em que os alunos, divididos em grupos, escolheram subtemas dentro do tema meio ambiente que estivessem no currículo escolar (fases de escolha do tema e problematização) e depois desenvolveram as fases de etapa, pesquisa, sistematização e produção mediadas pela professora. Foram realizadas avaliação coletiva e auto avaliação.

Amaral e Carniatto (2011), em “Concepções sobre projetos de educação ambiental na formação continuada de professores”, realizaram pesquisa sobre educação escolar de nível médio em colégio estadual de Curitiba, PR. A etapa inicial da pesquisa propôs um curso de capacitação inicial com professores de diferentes áreas do conhecimento com alguns temas sugeridos pelas graduandas e utilização de recursos audiovisuais como filmes para facilitar o planejamento das atividades e da problematização da realidade escolar. Foram levantadas as características dos professores e os dados analisados através de entrevistas possibilitaram a percepção dos indicadores das dificuldades encontradas e sugeridas as mudanças necessárias para o sucesso dos projetos de educação ambiental.

Após a análise dos dez artigos selecionados, observamos sempre referência a Hernández e sua concepção da pedagogia de projetos. Para melhor organização e desenvolvimento do trabalho, Hernández propõe a divisão do trabalho em etapas, tais como, concepção (escolha do tema pelos alunos ligando o ensino a sua realidade), planejamento (a participação de todos nas atividades, de forma lógica e sequencial com o uso de um cronograma), execução (participação ativa dos alunos, que poderá ser de forma individual ou coletiva), monitoramento e avaliação (acompanhamento do projeto com avaliação diagnóstica, formativa e auto avaliação), registro (poderá ser um diário, fotografias, etc.) e encerramento (retomada das finalidades educativas).

Em todos os projetos analisados percebemos esses elementos, como podemos observar nos parágrafos acima. Talvez alguns passos não estejam bem claros, mas podemos deduzir que aconteceram e geraram um resultado positivo na instituição escolar, familiar e social. Exemplos disso percebemos em determinados trechos dos artigos, tais como:

Mas é importante que o tema a ser escolhido seja negociado com os alunos, considerando suas expectativas, potencialidades e necessidades” (SANTANA; VALENTIM, 2004).

Como resultado, desencadearam reuniões que se destinaram à organização de várias atividades didático-pedagógicas para serem realizadas com a participação de estudantes [...]” (ORREGO; CARNIATTO, 2016).

Nesse envolvimento, o educando precisa investigar, registrar dados, formular hipóteses, tomar decisões a fim de resolver o problema-alvo [...]” (ORREGO; CARNIATTO, 2016).

Muito além do conteúdo propriamente dito, é imprescindível a participação de todos no processo de elaboração, execução e avaliação de cada projeto” (SANTANA,2013).

[...] o educador passa a refletir sobre o que é e o que se deseja sobre o objeto de ensino, adotando uma prática crítica e reflexiva sobre seu trabalho” (SANTANA, 2013).

Cada estudo realizado trouxe algo fundamental à tona, deixando claro que para obtermos sucesso em um projeto educacional é necessário um trabalho integrado e contextualizado com a realidade e o cotidiano do corpo discente. E a questão da preservação ambiental depende disso para que o conhecimento gerado garanta uma aprendizagem mais significativa, contínua e permanente. A escola é o espaço ideal para a preparação para a vida e, se essa proposta for encarada de forma pedagógica–educativa, os alunos exercerão sua autonomia e sua cidadania de forma ativa.

As análises mostram que as maiores dificuldades encontradas pelos professores no desempenho de um projeto interdisciplinar provêm de sua própria formação, uma vez que o professor tende a ver o mundo sob a ótica de sua especialidade e isso gera a impossibilidade de compreendê-lo como um sistema interligado. Isso prejudica a atitude pesquisadora e reflexiva do professor, que baseia sua prática na formação inicial e sente-se despreparado para a interação coletiva cotidiana necessária à equipe escolar para a elaboração e execução dos seus projetos. Portanto, a formação continuada do docente, principalmente nestes casos é fundamental para o bom desempenho da prática pedagógica, como podemos observar nas citações extraídas dos textos, logo a seguir.

Partindo deste contexto de projetos de trabalho, o docente é desafiado a refletir sobre sua prática e sua postura enquanto educador que está em processo contínuo de transformação” (CALDEIRA et al., 2012).

A pesquisa aqui empreendida demonstrou que o desenvolvimento de atividades de educação ambiental no interior da escola, por meio de projetos, possui limitações de várias ordens, principalmente no que se refere à insuficiência de conhecimentos das pessoas nelas envolvidas, o que nos leva a reforçar a necessidade de uma formação continuada, envolvendo aspectos teóricos e metodológicos da temática ambiental no de ensino público (VALENTIN; SANTANA, 2004).

De nada adianta dizer que ‘tudo está errado’ sem que, pelo menos, sejam oferecidos subsídios e espaços de trocas para que os educadores possam se apoiar mutuamente” (SANTANA, 2013).

À luz dessa base teórico-metodológica definiu-se a proposta de formação continuada de professores e agentes educacionais da Escola [...]” (ORREGO; CARNIATTO, 2016).

Uma estratégia que contribui para mudanças na sociedade, visando melhorias nas condições de vida de todos os seres vivos em bacias hidrográficas é a promoção de aprendizagem em curso de formação de professores” (GUERRA et al., 2015).

[...] a inserção de cursos de formação continuada para professores, pode propiciar um ensino voltado à pesquisa com estímulo à produção de mudanças nas práticas de concepção [...] (AMARAL; CARNIATTO, 2011).

Dessa forma, subentende-se que os professores precisam estar melhores preparados, mais seguros, mais estimulados, detendo maior conhecimento sobre a questão ambiental, mais capacitados em formação continuada, assistidos, acompanhados e monitorados por profissionais competentes e capazes.

CONSIDERAÇÔES FINAIS

Para Hernández (1998), a pedagogia de projetos é uma forma de propiciar ao novo aluno deste século o “aprender a aprender”, e que permite o surgimento de um novo perfil de professor, de aluno, de instituição escolar e de pedagogia de ensino-aprendizagem. Isso resulta em uma concepção de construção de saberes, de vivência com as pessoas que os cercam e com todos os níveis da sociedade, seja no social, familiar, moral ou profissional, num processo contínuo de transformação. São os novos tempos e precisamos nos adaptar, pensar em qualidade de vida e garantia de futuro. Para tanto, dependemos da manutenção e preservação ambiental também.



REFERÊNCIAS

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GUERRA, Judite et al. Construção de projetos em educação ambiental: Desafios para professores e gestores da bacia hidrográfica Gravataí. In: VIII Congresso do Meio Ambiente, 2015, Porto Alegre. Anais eletrônicos...Porto Alegre: UFRGS, 2015. Disponível em: http://www.abes-rs.uni5.net/centraldeeventos/_arqTrabalhos/trab_20161220181221000000883.pdf. Acesso em 02 fev. 2019.

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ORREGO, Giovana Cleonice Bonatto; CARNIATTO, Irene. Escolas sustentáveis e educação ambiental: Impactos ambientais do lixo doméstico no ecossistema urbano. Cadernos PDE- Os desafios da escola pública paranaense na perspectiva do professor PDE- Artigos. Medianeira, V.I, ISBN 978-85-8015-093-3. 2016. Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2016/2016_artigo_cien_unioeste_giovanacleonicebonatto.pdf. Acesso em 02 fev. 2019.

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Ilustrações: Silvana Santos