Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
Início Cadastre-se! Procurar Área de autores Contato Apresentação(4) Normas de Publicação(1) Dicas e Curiosidades(7) Reflexão(3) Para Sensibilizar(1) Dinâmicas e Recursos Pedagógicos(6) Dúvidas(4) Entrevistas(4) Saber do Fazer(1) Culinária(1) Arte e Ambiente(1) Divulgação de Eventos(4) O que fazer para melhorar o meio ambiente(3) Sugestões bibliográficas(1) Educação(1) Você sabia que...(2) Reportagem(3) Educação e temas emergentes(1) Ações e projetos inspiradores(25) O Eco das Vozes(1) Do Linear ao Complexo(1) A Natureza Inspira(1) Notícias(21)   |  Números  
Artigos
16/09/2018 (Nº 65) ANALISES FÍSICO-QUÍMICAS DA NASCENTE E DO POÇO DE ABASTECIMENTO DA VILA DE ÁGUA BOA, SALVATERRA-PA
Link permanente: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=3402 
  

ANALISES FÍSICO-QUÍMICAS DA NASCENTE E DO POÇO DE ABASTECIMENTO DA VILA DE ÁGUA BOA, SALVATERRA-PA

Heraldo da Silva Sousa1; Saulo de Tarso Rodrigues de Freitas1; Júlio César da Silva Cardoso2,a; Túlio da Fonseca Santos2,b; José Diogo Evangelista Reis3; Abraão de Jesus Barbosa Muribeca4,a; Johan Carlos Costa Santiago4,b; Paulo Wender Portal Gomes 5; Nilson Santos Trindade6

1Graduados em Ciências Naturais - Biologia, Universidade do Estado do Pará, Campus XIX, PA 154, CEP 68860-000, Salvaterra, PA.

2Graduandos em Química Industrial, Universidade Federal do Pará, Guamá. CEP 66075-110, Belém, PA. E-mail: ajuliocesarjc95@gmail.com/ btuliosantos33@gmail.com

3Graduando em Ciências Naturais - Química, Universidade do Estado do Pará, Campus XIX, PA 154, CEP 68860-000, Salvaterra, PA. E-mail: reis.diogo190@gmail.com

4Mestrandos em Química Orgânica, Universidade Federal do Pará, Guamá. CEP 66075-110, Belém, PA. E-mail: aabraao_muribeca@hotmail.com/ bjohansantiago@hotmail.com.br

5Doutorando em Química Orgânica, Universidade Federal do Pará, Guamá. CEP 66075-110, Belém, PA. E-mail: wenderufpa@hotmail.com

6Doutor em Ciências da Educação pela Universidad Americana, UA, Paraguai. Professor da Universidade Federal do Pará, Guamá. CEP 66075-110, Belém, PA. Email: nilsonufpa17@gmail.com



Resumo: O consumo de água potável na comunidade de Água Boa, no município de Salvaterra/PA é precário, devido o bombeamento de água de poços, os quais estão localizados nas proximidades de fossas residenciais. Uma fonte secundária de água, é a nascente (olho d’água), localizada na praia próxima a comunidade e que por muitos anos foi a única fonte de água “potável”. Diante do exposto, este trabalho descreve as condições físico-químicas da nascente e do sistema de abastecimento de água da vila de Água Boa. Estes resultados foram comparados com os padrões estabelecidos por meio da legislação nacional, que estabelece valores aceitáveis de potabilidade de água destinada para o consumo humano. As análises físico-químicas foram realizadas através de metodologias recomendadas pelo fabricante do kit profissional de análise de potabilidade da água. Os resultados obtidos das análises do poço de abastecimento e da nascente, demonstraram que para amônia, cloreto, cloro residual, cor e dureza total, os valores encontrados são coerentes com o permitido pela portaria do Ministério da Saúde. Entretanto, para pH os valores encontram-se inferiores aos valores estipulados pela legislação, ressaltando o caráter ácido das amostras estudadas. Assim, concluindo-se que as duas fontes possuem 80% dos parâmetros em conformidade com os padrões de qualidade, entretanto na percepção dos habitantes da comunidade, o sistema de abastecimento apresenta ausência de tratamento para que apresente boa qualidade química e microbiológica, com isso faz-se necessário à implementação de políticas que visem o melhoramento no processo de distribuição.

Palavras-chave: Abastecimento de água; potabilidade da água; Marajó.

Abstract: The consumption of drinking water in the community of Good Water, in the municipality of Salvaterra/PA is precarious, due to the pumping of water from wells, which are located in the vicinity of drains residential. A secondary source of water is the spring (eye of water), located on the beach next to the community and who for many years was the only source of water to “potable”. In view of the above, this work describes the conditions of the physical-chemical of the spring and of the water supply system of the village of Good Water. These results were compared with the standards established by national legislation, that establishes acceptable values of potability of water intended for human consumption. The physico-chemical analyses were performed using methodologies recommended by the kit manufacturer, professional analysis of the potability of the water. The results obtained from the analyses of the well supply and the rising, have shown that for ammonia, chloride, chlorine residual, color, and total hardness, the values found are consistent with the allowed by the ordinance of the Ministry of Health. However, pH values are lower than the values stipulated by law, underscoring the acid character of the samples studied. Thus, concluding that the two sources have approximately 80% of the parameters in accordance with the quality standards, however in the perception of the inhabitants of the community, the supply system has no treatment to provide good quality chemical and microbiological, with this it is necessary the implementation of policies aimed at improving the process of distribution.

Keywords: Supply of water; potability of the water: Marajó.



Introdução



O consumo de água potável é de fundamental importância para a sadia qualidade de vida e de proteção contra as doenças, sobretudo aquelas evitáveis, relacionadas a fatores ambientais e que têm afligido populações em todo o mundo (BRASIL, 2010). Pesquisas demonstram que as doenças de veiculação hídrica emergiram como um dos principais problemas de saúde pública nos últimos 25 anos (FRANCO, 2007). No planeta Terra, de sua total reserva de água, apenas 3% é constituído de água doce ainda existentes, desse total, apenas 0,3% pode ser aproveitado para consumo humano, sendo 0,01% de origem superficial (rios e lagos) e 0,29% subterrâneas. A mais difundida distribuição de água potável se dá através das unidades de tratamento de água e posteriormente sua eventual distribuição a população, em comunidades rurais de diversos estados, dentre outras formas de adquirir água potável, destaca-se a utilização de poço comunitário e reservatórios de tanques.

A utilização de mananciais superficiais e subterrâneos

A água dos poços comunitários (subterrâneos) segundo Eckhardt et al. (2009), geralmente, são menos contaminadas, por fatores biológicos e químicos em relação aos mananciais superficiais (conhecidas como: nascentes, olho d’água etc.), pois não ficam expostas aos diversos agentes poluentes. No entanto, as atividades humanas representam um elevado risco aos aquíferos e às águas subterrâneas. A qualidade das águas nos rios, córregos e lençóis freáticos é precária, uma vez que as poluições se lançam diretamente nesses corpos d'água com elevada carga poluidora, resíduos tóxicos e materiais de difícil biodegradabilidade, comprometendo, assim, a qualidade da água até mesmo para as gerações futuras. É neste cenário que se encontra a comunidade de Água Boa, no município de Salvaterra/ PA, onde o abastecimento de água da população ocorre sem tratamento prévio, por meio do bombeamento de água do poço subterrâneo, o qual está localizado nas proximidades das fossas residenciais. Na ausência deste abastecimento, a população utiliza como alternativa a água da nascente (mananciais superficiais), que está localizada na praia próxima a comunidade. Diante de todo o exposto, esta pesquisa descreve resultados físico-químicos dá água desta comunidade rural, com objetivo de contribuir para informações científicas acerca da qualidade da água da nascente e do poço de abastecimento de acordo com a Portaria n° 2914 do Ministério da Saúde.

Metodologia

Área de estudo

A comunidade de Água Boa está localizada a cerca de 18 km da sede do município de Salvaterra, Marajó-PA, figura 01. Delimitou-se a área de estudo em três pontos de coleta referentes ao sistema de abastecimento de água e três pontos referente a nascente utilizada pela comunidade. O ponto PA01 corresponde à residência mais próxima do sistema de abastecimento; o ponto PA02, uma residência intermediaria escolhida aleatoriamente; o ponto PA03 à residência mais afastada do sistema de abastecimento e o ponto PN representa o local de coleta na nascente localizada na praia da comunidade.

Figura 01. Mapa de localização do Marajó e o município de Salvaterra-PA, com destaque para os pontos de coleta. Fonte: Gomes et al. (2017); Google Earth, (2018).



Nascentes (olho d´agua)

A nascente está situada no meio da praia da vila de Água Boa, popularmente denominada pelos moradores de “olho d´agua”, a coleta das amostras no local foi realizada por meio da delimitação de três pontos específicos desta, como mostra a figura 02. Para Machado et al. (2012), as nascentes localizam-se em encostas ou depressões do terreno ou ainda no nível da base representado pelo curso d’água local; podem ser perenes, temporárias ou efêmeras.

Figura 02. Nascente e pontos de coleta. Fonte: Sousa et al. (2018).

Coleta das amostras

Foram entrevistados 60 moradores a respeito da qualidade da água proveniente do sistema de abastecimento e da nascente, a fim de saber as opiniões sobre a qualidade desses dois meios de captação de água, foram 9 amostras de água do sistema de abastecimento e 9 da nascente em observação de 3 meses consecutivos. Os métodos de coleta das amostras foram adaptados dos procedimentos adotados por Parro (2011).

Kit básico de potabilidade (Alfakit®)

Os testes foram realizados através do método colorimétrico com uso de kit básico de potabilidade da marca Alfakit® que permite a avaliação de oito parâmetros físico-químicos (alcalinidade, amônia, pH, dureza total, cloro residual, cloretos, cor e turbidez). Para determinação de potabilidade, cada parâmetro possui seus respectivos e exclusivos reagentes, identificados com o nome do parâmetro a ser analisado.

Para as coletas das amostras nas residências contempladas pelo sistema de abastecimento, foram utilizados os seguintes procedimentos: Abriu-se a torneira na vazão máxima, deixando a água vazar de 2 a 3 minutos, embebedou-se o algodão com álcool (70% v/v) para higienização da torneira e abriu-se novamente a torneira deixando a água vazar de 2 a 3 minutos, por fim realizou-se a coletas das amostras.

Para a coleta da amostra na nascente, submergiu-se o frasco a uma profundidade de 20 cm, inclinou-se a boca do frasco para cima contra a correnteza e realizou-se a coleta das amostras. Após a coleta, o material coletado foi acondicionado em uma caixa térmica de isopor com gelo para análise em até 24h após a coleta.

Análises físico-químicas

As análises físico-químicas foram realizadas no Laboratório de Ciências Naturais da Universidade do Estado do Pará, Campus XIX - Salvaterra (Figura 3).

Figura 3. Realização de testes e leituras de resultados. Fonte: Sousa et al. (2018)

Para a análise de alcalinidade transferiu-se 10 mL da amostra para um tubo de ensaio, posteriormente adicionou-se a reagente alcalinidade 2, em seguida a solução foi agitada. A leitura correspondeu a 10 mg.L-1 de CaCO3.

No teste de amônia, foram transferidos 5 mL de amostra para uma cubeta, posteriormente adicionou-se três gotas do reagente amônia indotest 2, esta foi vedada e agitada. Em seguida foram adicionadas três gotas do reagente amônia indotest 3 e novamente a cubeta foi fechada e agitada. Fez-se necessário aguardar 10 minutos para leitura dos resultados valorados em mg.L-1 N-NH3.

O teor de cloretos foi determinado com a adição de 10 mL de amostra em um tubo de ensaio e acrescentou-se duas gotas do reagente cloreto 1 e, posteriormente, homogeneizou-se com movimentos circulares. Após, fez-se necessário o gotejamento do reagente cloreto 2 na amostra, até a mudança de cor amarela para amarela tijolo. Cada gota equivalente a 10 mg.L-1 de Cl-. Para cloro residual, transferiu-se 5 mL da amostra para uma cubeta onde foram adicionadas dez gotas do reagente cloro 1. Houve a adsorção de 0,06 g do reagente cloro 2, este foi agitado até total dissolução e posteriormente posicionou-se sobre a cartela para fazer a leitura, o resultado foi expresso em mg.L-1 de Cl2.

Na análise de cor, transferiu-se 50 mL de amostra para uma proveta de vidro, que foi posicionada sobre a cartela de comparação visual, para obtenção dos resultados. Os valores foram expressos em mg.L-1 Pt/Co. Para dureza, transferiu-se 10 mL da amostra para um tubo de ensaio e foram adicionadas quatro gotas do reagente dureza 1 sob agitação com movimentos circulares. Adicionou-se 0,06 g do reagente dureza 2 em seguida agitou-se, o reagente dureza 3 foi gotejado na amostra até atingir a cor azul, sendo cada gota corresponde a 10 mg.L-1 de CaCO3. A cor foi determinada com adição de 5 mL de amostra em um tubo de ensaio, onde foi adicionado uma gota do reagente pH e posteriormente fez-se o posicionamento sobre a cartela de comparação visual de cor.

Resultados e Discussão

Condições físico-químicas da água da comunidade Água Boa

Os resultados das análises físico-químicas de água da nascente e do poço de abastecimento da vila de Água Boa estão elencados na tabela 01. Esses resultados foram comparados com os parâmetros estabelecidos pela portaria n º 2.914 de 2011 do Ministério da Saúde.

Tabela 01. Tabela de resultados (Média ± Desvio padrão) dos valores obtidos para os parâmetros físico-químicos.

Amostra

Alcalinidade

Amônia

Cloreto

Cloro res.

Cor

Dur. total

pH

PN01MANASC

0,0 ± 0,00

0,12 ± 0,00

40,0 ± 0,00

0,0 ± 0,00

3,0 ± 0,00

13,3 ± 5,70

5,5 ± 0,00

PN02MANASC

0,0 ± 0,00

0,12 ± 0,00

20,0 ± 0,00

0,0 ± 0,00

3,0 ± 0,00

10,0 ± 0,00

5,0 ± 0,00

PN03MANASC

0,0 ± 0,00

0,12 ± 0,00

20,0 ± 0,00

0,0 ± 0,00

3,0 ± 0,00

10,0 ± 0,00

5,0 ± 0,00

PN01JNNASC

0,0 ± 0,00

0,24 ± 0,10

20,0 ± 0,00

0,0 ± 0,00

3,0 ± 0,00

10,0 ± 0,00

5,1 ± 0,28

PN02JNNASC

0,0 ± 0,00

0,12 ± 0,00

20,0 ± 0,00

0,0 ± 0,00

3,0 ± 0,00

10, 0± 0,00

5,0 ± 0,00

PN03JNNASC

0,0 ± 0,00

0,12 ± 0,00

23,3 ± 5,70

0,0 ± 0,00

3,0 ± 0,00

10,0 ± 0,00

5,3 ± 0,28

PN01JLNASC

0,0 ± 0,00

0,18 ± 0,10

36,6 ± 5,70

0,0 ± 0,00

3,0 ± 0,00

10,0 ± 0,00

5,1 ± 0,28

PN02JLNASC

0,0 ± 0,00

0,18 ± 0,10

40,0 ± 0,00

0,0 ± 0,00

3,6 ± 1,55

10,0 ± 0,00

5,5 ± 0,00

PN03JLNASC

0,0 ± 0,00

0,12 ± 0,00

36,6 ± 5,70

0,0 ± 0,00

3,0 ± 0,00

10,0 ± 0,00

5,5 ± 0,00

Média

0,0 ± 0,00

0,14 ± 0,05

28,5 ± 2,88

0,0 ± 0,00

3,0 ± 0,38

10,3 ± 1,92

5,2 ± 0,14

Leg. 2.914 MS

**

1,5 mg.L-1

250 mg.L-1

5 mg.L-1

15 μH

500 mg.L-1

6,0 a 9,5

PA01MAABAS

0,0 ± 0,00

0,12 ± 0,00

33,3 ± 5,77

0,1 ± 1,69

3,0 ± 0,00

16,6 ± 5,77

5,0 ± 0,00

PA02MAABAS

0,0 ± 0,00

0,12 ± 0,00

30,0 ± 0,00

0,1 ± 1,69

3,6 ± 1,15

16,6 ± 11,5

5,5 ± 0,00

PA03MAABAS

0,0 ± 0,00

0,12 ± 0,00

33,3 ± 5,77

0,1 ± 1,69

3,0 ± 0,00

20,0 ± 0,00

5,3 ± 0,28

PA01JNABAS

0,0 ± 0,00

0,12 ± 0,00

26,6 ± 5,77

0,1 ± 1,69

3,0 ± 0,00

10,0 ± 0,00

5,0 ± 0,00

PA02JNABAS

0,0 ± 0,00

0,12 ± 0,00

23,3 ± 5,77

0,1 ± 1,69

3,0 ± 0,00

10,0 ± 0,00

5,0 ± 0,00

PA03JNABAS

0,0 ± 0,00

0,12 ± 0,00

23,3 ± 5,77

0,1 ± 1,69

3,0 ± 0,00

10,0 ± 0,00

5,5 ± 0,00

PA01JLABAS

0,0± 0,00

0,30 ± 0,00

30,0 ± 0,00

0,1 ± 1,69

3,0 ± 0,00

16,6 ± 5,77

5,1 ± 0,28

PA02JLABAS

0,0± 0,00

0,20 ± 0,24

36,6 ± 5,77

0,1 ± 1,69

3,0 ± 0,00

13,3 ± 5,77

5,0 ± 0,00

PA03JLABAS

0,0± 0,00

0,30 ± 0,00

36,6 ± 5,77

0,7 ± 1,09

3,0 ± 0,00

10,0 ± 0,00

5,0 ± 0,00

Média

0,0 ± 0,00

0,16 ± 0,08

30,3 ± 2,54

0,2 ± 0,02

3,0 ± 0,38

13,7 ± 4,19

5,1 ± 0,12

Leg. 2.914 MS

**

1,5 mg.L-1

250 mg.L-1

5 mg.L-1

15 μH

500 mg.L-1

6,0 a 9,5



Legenda: Controle de análises de Alcalinidade: (mg/L CaCO3); Amônia: (mg/L NH3); Cloretos: (mg/L Cl-); Cloro: (mg/L Cl2); Cor: (mg/L Pt/Co); Dureza Total: (mg/L CaCO3); pH; PN: Ponto de coleta da nascente; PA: Ponto de coleta do sistema de abastecimento; MANASC: Maio/Nascente; JNNASC: Junho/Nascente; JLNASC: Julho/Nascente; MAABAS: Maio/Abastecimento; JNABAS: Junho/Abastecimento; JLABAS: Julho/Abastecimento; Leg: Legislação nacional; MS: Ministério da Saúde; **: Valores não estabelecidos.

Através dos dados tabelados, verificou-se que os resultados para a alcalinidade foram negativos. Segundo a Funasa (2013), quando a alcalinidade é muito baixa ou inexistente há a necessidade de se provocar uma alcalinidade artificial com aplicação de substâncias alcalinas, tal como cal hidratada ou barrilha (carbonato de sódio) para que o objetivo seja alcançado. Quando a alcalinidade é muito elevada, procede-se ao contrário, acidificando-se a água até que se obtenha um teor de alcalinidade suficiente para reagir com o sulfato de alumínio ou outro produto utilizado no tratamento da água. Ressalta-se que a portaria nº 2.914 de 2011 do ministério da saúde não estipula valores para alcalinidade. Porém, a medida da alcalinidade é de fundamental importância durante o processo de tratamento de água, pois é em função do seu teor que se estabelece a dosagem dos produtos químicos utilizados.

Os valores obtidos para o teor de amônia nas amostras da nascente, no mês de maio foram iguais a 0,12 mg.L-1 em todos os pontos; no mês junho no ponto PN01 os valores variaram de 0,12 a 0,30 mg.L-1 com média de 0,24 mg.L-1 em PN02 e PN03 os valores foram iguais a 0,12 em todas as amostras; no mês de julho o resultado em PN01 e PN02 foram iguais variando de 0,12 a 0,30 mg.L-1 e no ponto PN03 o valor das três amostras foram iguais a 0,12 mg.L-1.

Para as análises realizadas no poço de abastecimento os valores encontrados foram iguais no mês de maio e junho e todos os pontos apresentando resultado de 0,12 mg.L-1 em todas as amostras. No mês de julho o resultado em PA01 foi de 0,30 mg.L-1 em todas as amostras. Em PA02 as triplicatas apresentaram resultados diferentes, com média de 0,20 mg.L-1 e em PA03 os valores foram os mesmos encontrados em PA01 do referido mês. Diante do exposto, ressalta-se que todos os valores encontrados nos pontos de coleta da nascente e do poço de abastecimento nos meses de maio, junho e julho não ultrapassaram o valor de 1,5 mg.L-1 estabelecido pela portaria MS nº 2.914/2011.

Para o teor de cloretos na nascente, os valores encontrados nos pontos PN01, PN02 e PN03 no mês de maio correspondem a 40 mg.L-1, 20 mg.L-1 e 20 mg.L-1 em todas as amostras respectivamente. Em junho, nos pontos PN01 e PN02, os resultados das amostras foram iguais a 20 mg.L-1, para o mês de julho as três amostras em PN01 tiveram resultados de 40, 20 e 40 mg.L-1. Em PN02 os resultados em mg/L foram de 30, 40, 40 mg.L-1 nas três amostras e os valores obtidos nas amostras de PN03 foram iguais a de PN02 do referido mês. No Sistema de abastecimentos no mês de maio o resultado das medias em PA01 foi de 33,3 mg.L-1, PA02 iguais 30 mg.L-1 e PA03 33,3 mg.L-1. Para o mês de junho as medias em PA01, PA02 E PA03 foram iguais a 26,6 mg.L-1; 23,3 mg.L-1 e 23,3 mg.L-1 respectivamente. Em julho as medias foram de 30 mg.L-1 em PA01, 36,6 mg.L-1 em PA02 e 36,6 mg.L-1 em PA03.

Geralmente, os cloretos estão presentes em águas brutas e tratadas em concentrações que podem variar de pequenos traços até centenas de mg/L. Estão presentes na forma de cloretos de sódio, cálcio e magnésio (FUNASA, 2013). A Portaria nº 2.914/2011 do Ministério da Saúde estabelece o teor de mg.L-1 como o valor máximo permitido para água potável. Os métodos convencionais de tratamento de água não removem cloretos. A sua remoção pode ser feita por dessalinização (osmose reversa) ou eletrodiálise (troca iônica). Diante disso, convém enfatizar que todos os resultados em mg/L encontrados estão em conformidade com o padrão estabelecido pelo ministério da saúde.

Os resultados referentes ao teor de cloro residual mantiveram-se dentro do padrão exigido, sendo que nos pontos da nascente estes foram negativos, o que pode estar correlacionado com a sua posição na superfície, assim como fluxo permanente de água provocando a diluição deste cloro e diminuindo sua concentração. Em contra partida, no poço de abastecimento os resultados tiveram valores de 0,10 mg.L-1 em todos pontos no mês de maio, junho e nos pontos PA01 e PA02 de julho, no PA03 as amostras foram iguais a 0,10 mg.L-1; 0,10 mg.L-1 e 0,02 mg.L-1. O cloro é um produto químico utilizado na desinfecção da água e sua medida é importante para garantir a qualidade microbiológica da água, ou seja, se ela está em condições de uso (FUNASA, 2013).

Para cor, todos os valores ficaram na faixa de 3 a 4 μH, estes considerados aceitáveis para consumo. Para a dureza, sendo a soma das concentrações de íons cálcio e magnésio na água, a nascente no mês de maio em PN01 apresentou concentração igual a 10 mg.L-1, 10 mg.L-1 e 20 mg.L-1 nas três amostras coletadas nesse ponto. Em PN02 e PN03 todas as amostras foram iguais a 10 mg.L-1. No mês de junho as amostras coletadas nos pontos PN01, PN02 e PN03 foram iguais a 10 mg.L-1. Os resultados das amostras nos pontos no mês de julho foi o mesmo encontrado nos pontos no mês de junho. Os resultados das análises de água do poço de abastecimento no mês de maio apresentou média de 16,6 mg.L-1 no ponto PA01; em PA02 a média das amostras foi igual a 16,6 mg.L-1 e em PA03 o resultado médio das análises foi de 20 mg.L-1. No mês de junho o resultado das análises em PA01, PA02 e PA03 foi de 10 mg.L-1 em todas as análises. No mês de julho no ponto PA01 o valor médio das amostras foi de 16,6 mg.L-1, em PA02 a média foi de 13,3 mg.L-1 e em PA03 o valor em todas as amostras foi de 10 mg.L-1. Todos os resultados estão em conformidade com os valores estabelecidos pela Portaria MS nº 2.914/2011 que estabelece para dureza total o teor de 500 mg.L-1 em termos de CaCO3 como o valor máximo permitido para água potável.

Para pH os valores mantiveram em média na faixa de 5,0 e mostra-se abaixo do mínimo estabelecido pela legislação nacional, ressalta-se que uma água precisa ter um pH acima de 6,5 para ser potável, abaixo disso, não é água potável, podendo, inclusive, causar problemas de saúde.

Correlação da água da nascente e da unidade de abastecimento



O scatterplots entre os valores médios da nascente e da unidade de abastecimento da vila de água boa ressalta uma qualidade similar entre as amostras analisadas, com um pequeno desvio em coeficientes (95% de confiança) para os valores de cloro residual, entretanto este desvio não compromete a qualidade final visto que está relacionado ao uso e não-uso deste produto químico para desinfecção da água.

Gráfico 1. Scatterplots do valor médio dos parâmetros da nascente e unidade de abastecimento.

Coleta de dados qualitativos

A partir dos resultados obtidos através do questionário aplicado a 60 moradores da vila de Água Boa, notou-se a preferência dos moradores pela água da nascente localizada no meio da praia, pelo fato que, nenhum morador rotulou a água da nascente como ruim para consumo humano, entretanto em relação a água que é distribuída pelo sistema de abastecimento há uma rejeição de 23% sobre sua qualidade, sendo relacionada a disseminação de doenças.

A água que é distribuída pelo sistema de abastecimento evidencia por parte dos moradores 33,3% alterações no sabor e cor da água, sendo a adição de hipoclorito o único método de desinfecção utilizado por uma parcela dos moradores 43,3%. Além disso, todos os moradores entrevistados já consumiram água proveniente da nascente e do total de entrevistados 66,7% relatam a qualidade da água como ótima, ficando evidente a preferência dos moradores entre a nascente e o sistema de abastecimento, ressalta-se que a maioria acredita que a água da nascente é de melhor qualidade e na ausência da distribuição da água por parte do sistema de abastecimento, 100% dos moradores utilizam a água proveniente da nascente. Em relação a doenças relacionadas a água que é distribuída, 23,3% afirmaram relacionar alguma doença adquirida com a água que é consumida da fonte de abastecimento e em totalidade mencionam a diarreia como doença de veiculação hídrica.

Considerações finais

Os resultados obtidos neste estudo, estão em maioria, corroborando com o que estabelece a Portaria nº 2.914/2011 do Ministério da Saúde, assim é possível afirmar que os valores para a Amônia, Cloreto, Cor e Dureza se encontram aceitáveis para consumo humano, bem como os valores encontrados para o cloro nos pontos referentes à água proveniente do poço de abastecimento e nascente. O resultado para o cloro residual, apresentou-se ausente nas amostras da nascente, este aspecto se dá pelo fato do cloro ser um produto químico utilizado em sistemas de abastecimento para desinfecção da água, não sendo utilizado na nascente da praia de Água Boa. Para o pH, em todas as amostras os valores se mantiveram inferiores ao valor padrão de potabilidade, sendo um pH entre 5,0 e 5,5 nos dois pontos de capitação de água da comunidade, demonstrando o caráter ácido dessas águas.

Na percepção dos moradores da comunidade, o sistema de abastecimento apresenta ausência de tratamento para que apresente qualidade, com isso faz-se necessário a implementação de políticas que visem o melhoramento no processo de distribuição, uma vez que a partir das análises físico-químicas da água distribuída na vila de Água Boa, o parâmetro pH não estivera em conformidade.

Referências

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa nacional de vigilância em saúde ambiental relacionada à qualidade da água para consumo humano. Brasília-DF, 2010.

ECKHARDT, Rafael Rodrigo et al. Mapeamento e avaliação da potabilidade da água subterrânea do município de Lajeado, RS, Brasil. Ambiente & Água: Na Interdisciplinary Journal of Applied Science, v. 4, n. 1, 2009.

FRANCO, Regina Maura Bueno. Protozoários de veiculação hídrica: relevância em saúde pública. Rev Panam Infectol, v. 9, n. 4, p. 36-43, 2007.

FUNASA (FUNDAÇÃO NACIONAL DA SAÚDE) Manual Prático de Análise de Água, 4. ed. Brasília-DF, 2013.

GOOGLE EARTH. Disponível em: http://mapas.google.com. Acesso em 23/03/2018.

MACHADO, R. P; AUGUSTO, R. S. MARTINS O. A. Análise química da água de nascentes nas cidades de Avaré e Cerqueira César, São Paulo. Revista Eletrônica de Educação e Ciência, são Paulo, v. 2, n. 3, p. 40 – 44, 2012.

PARRON, Lucilia Maria; MUNIZ, Daphne Heloisa de Freitas; PEREIRA, Claudia Mara. Manual de procedimentos de amostragem e análise físico-química de água. Colombo: Embrapa Florestas, 2011.

Ilustrações: Silvana Santos