Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Contribuições de Convidados/as
05/12/2005 (Nº 14) RESSIGNIFICAÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
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Michèle Sato (michele@ufmt.br)
Facilitadora da Rede Mato-Grossense de Educação Ambiental-REMTEA
Líder do Grupo Pesquisador em Educação Ambiental-GPEA
Universidade Federal de Mato Grosso


A arte é sempre um consenso, tocando corações e mentes de várias áreas do conhecimento. Uma das maiores expressões culturais de uma Nação, mistura-se com a filosofia dando um sentido polissêmico de difícil exposição. Na página do nosso grande epistemólogo Hilton Japiassu, por exemplo, encontramos Friedrich Nietzsche ao lado de Fernando Pessoa; e também de Cecília Meireles abraçada com Marilena Chauí. Mergulhar no universo da cultura é um desafio imenso, e que talvez só seja possível lançar esta abordagem num pequeno recorte singular e, incondicionalmente, declarar que não desejamos estabelecer nenhuma verdade universal. São olhares situados no mundo, que insistem em “jamais perder a ternura” na luta ecológica que nos move, impulsiona e inspira à trajetória da Educação Ambiental. No vasto campo cultural, resgatamos a arte ressignificando a EA, talvez sem versos e rimas, mas adentrando-se na moldura do sensível.

Isso nos convida a iniciar este texto na pintura de René Magritte, um pintor belga favorito que se destaca na longa galeria pessoal de anos de acervo digital. Intitula-se “condição humana” e, embora surrealista, ainda reflete marcas impressionistas de olhar o mundo pela janela e compreendê-lo no interior de nossa própria existência. Ao externalizar a nossa percepção, aliamos o impressionismo com o expressionismo, pois carregadas de símbolos e adensamento de uma leitura particular, evidenciamos uma guinada conceitual da fenomenologia interpretativa à hermenêutica compreensiva. Os antigos filósofos afirmavam que era necessário viajar para poder filosofar. Na era pós-moderna de ruptura espaço-temporal, um livro, um museu ou imagens pela internet também possibilitam o mesmo sobrevôo, mesmo que se perca o contato, o toque ou o abraço. Obviamente, perde-se a práxis. E por isso mesmo, gera latente a teimosa pergunta de Nietzsche ao isolamento de Schopenhauer: o cuidado na vizinhança, ou como diria Merleau-Ponty, a alteridade cívica que situa o ser no mundo em suas relações com o outro e destas relações, com o mundo. É na viagem deste mundo que as palavras aqui expressas imprimem a paisagem interna, na combustão do oxigênio que se lança em chamas à paisagem externa, intersectada, conectada, com uma pequena linha tênue que segrega estas duas paisagens de fogo e fumaça. Poderemos evocar o escândalo de Dada para o convite surrealista, na figura de um dos grandes pintores mato-grossenses, Clóvis Irigaray, que possui tatuagens em todo corpo, inclusive em seu rosto. Serrando os dentes para todos se tornarem caninos, sua docilidade interna contradiz sua aparência externa.

Viajar na EA não é apenas usar a visão, sentido mais nobre das ciências. Como na pintura de Makart (cinco sentidos), é preciso mergulhar no cheiro das manhãs e no toque da textura das gotas do orvalho. Ouvir o canto dos pássaros e saborear a fruta proibida ofertada pelo cupido de Eros. O conceito do belo marcado pela luz, beleza e prazer foi gradativamente mesclado com a escuridão, feiúra e dor. Provavelmente foi Goubert, ao trazer a primeira pintura de uma mulher com pernas abertas ao sexo que trouxe novas formas de se pensar os conceitos de beleza e de selvageria. É fato, entretanto, que não há como estabelecer consensos acerca do que consideramos bonito. A estética, desta forma, revigora suas características para além dos cinco sentidos, exigindo que a paixão embrenhe-se no mundo da racionalidade, temperando as esperanças através da poiesis (criação) e também da poietike (poética). Na polissemia da EA, talvez o que realmente nos mova é a força da paixão em se tentar grandes mudanças, ao lado de gestos ou fenômenos singulares que vivenciamos cotidianamente, ou no silêncio inefável daquilo que Oswald de Andrade se referia na poesia Pau Brasil: vivências e sabedorias dos doutores anônimos e da riqueza de todos os erros gramaticais.

Seria isso ciência? Indagariam as mentes cartesianas, a mercê do exemplo platônico que questionava a função do riso na racionalidade. No genial livro de Umberto Eco, o “Nome da Rosa” foi brilhantemente protagonizado por Sean Connery, que interpreta um monge franciscano que carrega consigo sabedorias árabes desconhecidas pelos cristãos, astrolábio e quadrante, numa sofisticada busca científica para desvendar os mistérios teológicos nos territórios de um mosteiro beneditino. O enredo retrata as mortes relacionadas com o livro desaparecido de Aristóteles, que aborda o riso como instrumento da verdade, e que teve suas páginas envenenadas por um monge que odiava a comédia e via no riso uma possibilidade de dúvida sobre Deus. O mentor da cruel inquisição, Papa Inocênio X, era condecorado na pintura de Velásquez, mas também denunciado na dramática releitura de Bacon, que oferece uma nova interpretação através da repintura da mesma obra e com o mesmo título. Daumier foi um dos pioneiros a denunciar a situação política na arte, na metáfora da obra: “queremos Barrabás”. A arte coaduna, ora com a burguesia, ora com o proletariado. Pinturas de operários revolucionários como retratados por Delacroix (liberdade de um povo) eram rejeitadas por um quadro patético dos camponeses passivos (Millet, Ângelus). Diversas táticas são utilizadas na tentativa de demolir os obstáculos que segregam a cultura acadêmica e a popular, como é o caso dos cordéis nordestinos. Na abertura de um evento em Mossoró, um cordelista nos arrepiava na sua narrativa em encontrar a fome. Sua busca obstinada justificava-se na certeza de que a Fome era tão perversa que merecia morrer. Buscou nas favelas, nas beiras dos mangues ou nos sertões do Seridó. Nada encontrando, retornava para sua casa quando avistou uma sofisticada mulher num casarão luxuoso. O enredo revelava que a fome poderia refletir desastrosamente na pobreza, mas sua gênese estava nas mãos dos poderosos. Além da seca, o problema era a cerca - esta era a trama que nos emocionava na platéia. A arte, assim como a maioria das coisas, situa-se em pólos opostos e co-existem entre os mais e os menos poderosos - entre brigas de foices e escândalos políticos ao desespero de muitos em se recusar a perder o direito de sonhar nas esperanças de uma Nação.

Recentemente, em Mato Grosso, a nobreza sai de sua corte da “Tradicional Família e Propriedade (TFP)” lançando suas vozes a favor dos latifúndios mato-grossenses e da plantação acelerada da soja. Criticando a Reforma Agrária, acusando o Movimento dos Sem Terra e chamando os ecologistas de “loucos”, o príncipe direto da linhagem da família real portuguesa dá sinais fortes que a luta está longe de ser finalizada. “A burguesia fede. Enquanto houver burguesia, não haverá poesia”, cantaria Cazuza. A tessitura é intrincada e apresenta-se com muito mais nós embaraçados do que franjas livres. Os bordados se perdem em labirintos, oferecendo um mosaico de difícil saída, como no filme “O Iluminado”, trazendo o arrepio num simples olhar congelante do ator Jack Nickolson na interpretação aterrorizante de Stephen King. Na mesma simbologia, a organização da EA em redes também pode-se revelar como uma patologia, crônica ou sistêmica, de um universo ainda a ser desvelado, com muito mais tentativas do que concreção. Como ressignificar a EA na cultura de um povo, ou de sociedades plurais como as existentes nesta imensidão verde e amarela chamada Brasil? Os problemas da vanguarda ainda revelam nossa inabilidade em conciliar prática com teoria. A pressa estóica vem ao lado do processo lento de sermos protagonistas da história. É preciso ter paciência para não cair na armadilha do imediatismo irresponsável. Os dez anos da UNESCO que espera eliminar os dilemas sociais e ambientais na orientação do Desenvolvimento Sustentável pode assemelhar-se a uma crônica da morte anunciada de Garcia Marquez. Uma década é pouco para se reverter o maldito círculo vicioso da água que mata a sede e do ser que mata a água. Ainda é cedo, mas é possível que cantemos com Chico Buarque no final desta década: “morreu na contramão atrapalhando o tráfego”.

Quatro dimensões de fundamentam, somam-se e divorciam-se naquilo que pode fortalecer a EA num processo permanente de temporalidade subversiva. Primeiramente, uma dimensão científica, tipicamente de uma representante acadêmica. Na época pós-moderna, o conhecimento tem gerado mal estar e, não raro, a universidade tem sido objeto de descrédito e modelo de autoritarismo. Parece haver uma ausência de comunicação entre a realidade e o entusiasmo pela ciência. Construímos pesquisas alienadas da realidade e negamos as inúmeras vozes silenciadas pelas nossas verdades. Entretanto, não conseguimos sobreviver neste mundo competitivo com a corajosa atitude de rasgar nossos diplomas. Realizamos leitura, fazemos descobertas e ainda mentimos dizendo que somos “autodidatas”. Ora, Paulo Freire já nos dizia que ninguém aprende sozinho. Os seres humanos aprendem em comunhão - ou os livros que estudamos, mesmo que sozinhas na solidão das noites, não têm assinaturas? O diálogo entre academia e sociedade só será possível na mediação pedagógica que respeita e acata campos distintos de saberes, inclusive aqueles além dos muros universitários que se manifestam na pulsação da vida comunitária.

Caminhamos, assim, à segunda dimensão que se fundamenta na interlocução e comunicação social. E de fato, as representações sociais, hoje no cenário brasileiro, ocorrem pela existência das inúmeras redes de EA. E de forma exatamente arrogante, pousamos de democratas, agarramos aos discursos dos fóruns mundiais sociais e decretamos horizontalidade sem nunca ter vivenciado este novo tipo de arranjo assimétrico. Evocamos certa “facilitação”, mas no fundo, ainda conservamos o mesmo autoritarismo de níveis hierárquicos da sociedade Moderna. Mas é igualmente verdade que, mesmo tateando e acumulando erros, a paixão da militância ainda é a força reveladora que vai demolir os muros e forçar uma nova configuração dos movimentos sociais organizados. É a luta generosa, quase imperceptível, que dá vazão às tentativas de nossas utopias. Num esforço sobre-humano, tentamos acolher as diferenças e mais do que respeitar a pluriculturalidade, exercemos a difícil tarefa de conviver na tensividade. Enfrentamos aqui um imenso desafio: manter as diferenças num mundo globalizado. Relacionar, dialógica e dialeticamente, o eu-outro-mundo fenomenológico. No acelerado movimento da homogenização e do grito neoliberal que coloca a figura do poder como forma central, as redes aceitam o desafio de fazer emergir a tragédia do singular no plural e vivermos impetuosamente o dilema de Platão: “se uno, como múltiplo?”. As redes, portanto, ainda representam um enorme laboratório de experiências, vivências, descobertas e também de construção e desconstrução para novas reconstruções.

Um terceiro enfoque é governamental. Equivocadamente, atribui-se ao governo o papel de políticas públicas e passivamente, damos a desculpa que um país que deseja transformar a secretária do maior golpista do Estado em coelhinha da Play Boy não pode ser sério. Políticas transitórias se acumulam e, certamente, estamos tratando do organismo mais autoritário e engessado de todos. Mas fazemos questão de esquecer que o Estado foi estabelecido por nós mesmos e que o retorno da monarquia pode ser muito mais cruel, como atestamos nas aterrorizantes declarações da realeza em Mato Grosso. Aceitar os diferentes não significa aceitar as violências. Estas últimas devem ser denunciadas porque uma Nação não pode ser governada apenas pelos lucros transacionais. Na temporalidade da EA, os espaços se rearranjam conferindo novas territorialidades. O Estado deve ser revisto, mas não podemos afastá-lo no momento histórico que mais precisamos dele. Ainda que de longe possa estar nossa capacidade de conjugar o verbo amar, Thiago de Mello poderá declarar que se trata de ir ao encontro - trata-se de abrir o rumo.

Finalmente a última abordagem endereça novamente à dimensão cultural, desde que se situa na ancoragem pessoal da cultura das diferenças. Todo ser humano representa um movimento de diferença. E essa diferença se expressa e se visibiliza no campo da cultura. Num recorte antropológico, Clifford Geertz nos pediria para refletir sobre meras atitudes triviais perante o mundo. Novamente resgatamos as singularidades num universo plural e retornamos o círculo que abriu este pequeno texto. A arte aqui reivindicada tem o caráter de aliar a ordem na desordem, de aceitar a crise sem temer a metamorfose. É a esperança de que os conhecimentos construídos na academia tenham relações com as sociedades, orientando-se pela democracia e participação na formulação de políticas públicas e que jamais se despeça dos campos particulares existentes nos desejos, manifestações, valores e opções ideológicas dos sujeitos da EA.

Para muitos, a EA é uma utopia que vende sonhos, e acolhem a EA como um único caminho possível. Parte das promessas pode ser realizada, mas a imensa maioria é somente ilusão. Enigmática e paradoxalmente, esta maior parte que fala de esperanças é que se movimenta dando vida à Terra prometida. Sentimo-nos frágeis nos fracassos porque a sociedade não tolera os perdedores. Queremos culminar o topo das montanhas com barulho, visibilidade e reconhecimento. Entretanto, Gabriel Garcia Marques afirma que vale mais a escalada da montanha que a moradia no topo em si. Sejamos como Fênix, que ao evocar sua própria morte, ressuscita das cinzas em suas asas libertárias para novos vôos de lutas e esperanças. O cessar das lágrimas só pode acontecer com o sorriso e é mentira que não podemos falhar. Todas nossas vidas são acumuladas por muito mais fracassos do que vitórias. De tantas tentativas, é possível que tenhamos mais erros do que acertos. Goethe dá um sentido de existência ao Fausto, já quem sem Mefistófeles, ele se sucumbiria à monotonia de uma vida pacata, tipicamente de classe média, de um médico branco, ocidental e de bem estar financeiro. Precisamos de uma nova estética que incorpore a feiúra de mãos dadas com a beleza - é preciso que Eros evoque Thanatos para continuar existindo. Será incondicional resgatar Riobaldo de Grandes sertões: veredas, que enquanto protagonista e narrador, suas histórias são manhosas e tergiversadoras, mas sua travessia é intensa nos sertões. Amiúde, Guimarães Rosa encapsula a palavra travessia dos sertões no sentido existencial do processo de mudança, com todos os percalços implicados na vida.

É preciso ultrapassar nossas barreiras existenciais e saber conviver na desarmonia, na nossa in-completude e nas nossas fragilidades, como se fôssemos uma asa de pardal ferida por uma pedra a procura de seu ninho. Mas somente a paixão será capaz de alimentar nossos pensamentos em nossos mundos, e que poderá ousar a metamorfose cantada por Raul Seixas. É lutar contra o tédio, o desconforto da dor, o involuntário “desejo zero” e ousar a mutação da superação. O “tesão” não pode estar a serviço da razão e ainda que se viva a aurora de uma era tecnológica de grandes descobertas, não conseguimos definir o amor em poucas palavras. Há sempre um convite à reflexão nesta tentativa de resposta e, seguramente, só conseguiremos responder no plano existencial de nossa materialidade espiritual. E talvez seja por isso que temos dificuldade em definir a EA, porque ela ressignifica nossa existência dando vazão a um campo polissêmico de sentidos. Akira Kurosawa é espetacular em nos convidar aos cenários shakespearianos de grande coreografia, de flores róseas de pessegueiros aos fantasmas do gelo de um mesmo filme de sonhos.

De todas as educações ambientais existentes, haverá aqueles que a idealizem na natureza, a exemplo dos antigos românticos, ou até mesmo nos jardins epicuristas da paisagem idílica que assediam nossos olhos no purpúreo pôr do sol. As identidades poderão ser construídas no filme DERSU UZALA,de Vladimir Arseniev, ou na DANÇA COM OS LOBOS, na época sanguinária do massacre indígena que faz com que um soldado americano encontre a paz somente nas montanhas ou valores indígenas. A espiritualidade parece ser outra corrente que se acentua, em especial no Pantanal mato-grossense, com santos e padroeiros para chuvas, estiagem ou secas. Símbolos e mitos se confundem em santuários religiosos, criando um ente superior, porém à nossa imagem e à nossa semelhança como na PAIXÃO DE CRISTO. Esta mesma paisagem teve outra interpretação antropocêntrica e mudou de nome para “recursos naturais”, onde poder e economia estampam nossa bandeira nacional com palavras trazidas da Igreja Positivista que lançava o slogan: “o amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim”. Com nova maquiagem, apresenta-se com um novo codinome de desenvolvimento sustentável, mas escondendo que atrás deste hegemônico conceito, pode estar um ADVOGADO DO DIABO disfarçado de sucesso empreendedor. O problema deve ser resolvido, ainda que Stanley Kubrick tenha denunciado a podridão dos sistemas na metáfora de uma LARANJA MECÂNICA. Normas, regras e leis são inventadas na legalidade Kafkaniana do PROCESSO, ou do grande literário Victor Hugo, em fazer emergir a poesia na refratária lei a todo custo aos MISERÁVEIS. Alternativas surgem no mundo preconizado pela fé e razão, pelo grito da contracultura que trazia outras vozes, como o ecofeminismo como uma das opções à hegemonia da sociedade patriarcal. A vida de uma escritora inglesa, Virginia Woolf, conturba-se na imaginação aérea de desprendimento terreno. Seu fogo da paixão só encontra a liberdade na morte das águas das eternas HORAS. Recuando neste tempo, a dinastia Ming invade os mundos asiáticos e soldados coreanos são enviados para uma jornada ardente de MUSA. A princesa se recusa a aceitar a morte precoce de seu amado guerreiro, protagonizando uma história de coragem que justifica suas razões de um coração apaixonado.

Comunidades de aprendizagem se formam através da LÍNGUA DAS MARIPOSAS, numa belíssima literatura galega de Antonio Machado, que convida à fascinante honestidade educativa de Gregório, que para além de uma educação escolarizada, oferece a responsabilidade social da educação dialógica. O que seria da literatura se não fosse o corajoso professor Robin Williams, que ao desafiar as tradições da escola, conduz à paixão da vida nas palavras de uma SOCIEDADE DE POETAS MORTOS? Se a globalização orienta à cidadania planetária, no filme silencioso, mas de forte mensagem de BARAKA, haverá também os que evidenciam os riscos de uma invasão extraterrestre e da possível GUERRA DOS MUNDOS. Todavia, há aqueles que clamam por uma cidadania local enraizada na justiça ambiental, denunciando os racismos e os sofrimentos dos negros como o cinema de Spielberg, AMISTAD, ou nas comunidades economicamente desfavorecidas que não estão excluídas de suas VIDAS SECAS, na tessitura de Graciliano Ramos. Se Hollywood destruiu nosso grande herói nacional CHICO MENDES, na controversa semelhança de Raul Julia com o líder dos seringueiros, conseguimos recuperar nosso espírito em Glauber Rocha, que entre DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL, buscou a mensagem política da luta contra as disparidades sociais e talvez das lutas ambientais a favor da democracia.

Haveria tantos outros filmes, poesias, músicas e pinturas a considerar... Mas o tempo permitido é curto e a EA se inscreve em roteiros e dramaturgia. Somos criadores e também diretores de cenários. Inventamos cenografia, da mesma maneira que nos adaptamos aos contextos. Porque somos diversos, nossos sonhos são plurais. Inscrevemos nossas singularidades no múltiplo buscando-nos livrar da solidão, do isolamento e da indiferença. Buscamos atuar no mundo, agregando-nos aos semelhantes. Ressignificar a EA na cultura é também tentar ultrapassar a frieza dos textos frios. A tarefa de transcender a palavra até exceder os limites de suas significações ainda é um longo exercício que jamais se esgota num simples texto. Afinal, como escrever que a EA é uma flor que possui pétalas, aromas e cores e que sua textura só se representa em seus signos? Ouvindo Miles Davis, os acordes do seu saxofone nos conduzem ao título deste jazz: “magia” que possibilita que as expressões vazem de nossos sentidos, tornando-se palatáveis somente quando ressignificamos a EA na sensível diferença artística que move o mundo.

O vinho dos amantes
(Charles Baudelaire)

No espaço esplêndido de agora
sem freio nem esporas
montemos à rédea solta o daimon do vinho
para um céu feérico e divino
como dois anjos torturados
por um implacável delírio em fúria
corramos atrás da miragem do destino
baloiçando docemente sobre a asa
do turbilhão inteligente
num delírio partilhado
irmão e irmã nadando lado a lado
fugiremos sem pausa nem repouso
para o sonhado paraíso que nos chama.


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Ref.:
SATO, Michèle. Ressignificação da educação ambiental nos contextos culturais. I ENEA: A formação do sujeito ecológico como desafio da década para o desenvolvimento sustentável, agosto de 2005. Natal, Anais. Natal: I Encontro Nordestino de Educação Ambiental, 2005, 7p. [conferência].
Ilustrações: Silvana Santos