Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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16/09/2018 (Nº 65) EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO FUNDAMENTAL: REVITALIZAÇÃO DO ESPAÇO ESCOLAR COM O PLANTIO DE FRUTÍFERAS E MEDICINAIS
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EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO FUNDAMENTAL: REVITALIZAÇÃO DO ESPAÇO ESCOLAR COM O PLANTIO DE FRUTÍFERAS E MEDICINAIS





José Alex da Silva CUNHA1; Maria Pessoa da SILVA2; Roseli Farias Melo BARROS3.

1. Biólogo. Doutorando em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Federal do Piauí (PRODEMA/TROPEN), j.alexbio@gmail.com.

2. Bióloga. Prof.ª Doutora em Desenvolvimento e Meio Ambiente e professora da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), cruzinhabio@yahoo.com.br

3. Bióloga. Prof.ª do Departamento de Biologia da UFPI e dos Programas de Mestrado e Doutorado em Desenvolvimento e Meio Ambiente (MDMA/DDMA) /PRODEMA/UFPI. Curadora do Herbário Graziela Barroso (TEPB), rbarros.ufpi@gmail.com.



Resumo:

O estudo sobre o meio ambiente tem sido objeto de diversas investigações que visam dar suporte às propostas de educação ambiental, visando principalmente encontrar soluções as necessidades que não estavam sendo satisfeitas pela educação formal. Neste sentido, este trabalho tem como objetivo estimular nos estudantes do ensino fundamental da Unidade Escolar Municipal Maria de Lourdes Pinheiro Machado no município Ilha Grande/Piauí, a responsabilidade pelo meio ambiente, ressaltando o cuidado e preservação do mesmo por intermédio do plantio mudas de plantas em práticas de educação ambiental. O Universo amostral da pesquisa abordou 81% dos alunos do turno vespertino. O primeiro encontro foi realizado no dia 25 de maio de 2017, constando da apresentação em slides projetados em Datashow utilizando-se de imagens para discutir os elementos que fazem parte do meio ambiente, recursos naturais (água, fauna, flora, solo) e as relações sociais (casa, escola, ser humano e suas interações). No segundo encontro, realizado no dia 5 de junho de 2017 em comemoração ao dia mundial do meio ambiente foi realizado o plantio de espécies de plantas frutíferas e medicinais, na tentativa de tornar a escola um ambiente mais agradável buscando aumentar a diversidade e enfatizar a responsabilidade dos educandos com o crescimento e o desenvolvimento das mudas. Realizou-se o plantio de 20 mudas sendo de cinco espécies diferentes de frutíferas enxertadas com cerca de 1m de comprimento e 10 espécies de plantas medicinais. Na reflexão sobre a importância das árvores na escola, foram relatados pelos educandos aspectos estéticos, ambientais e sociais, reafirmando a importância de preservá-las. Já em relação às plantas medicinais, é possível inferir que o canteiro implantado na escola estimulou a curiosidade, fato este muito importante para o processo de ensino e aprendizagem. As atividades desenvolvidas neste trabalho podem contribuir de forma lúdica em ações que possam colaborar com a preservação do meio ambiente.

Palavras-chave: Educação Ambiental, Arborização, Atividade lúdica.





Abstract:

The study on the environment has been the object of several investigations that aim to support the proposals of Environmental Education, aiming mainly to find solutions to the needs that were not being satisfied by the formal education. In this sense, this work aims to stimulate the responsibility for the environment in the elementary school students of the Maria de Lourdes Pinheiro Machado Municipal School in Ilha Grande / Piauí, emphasizing the care and preservation of the same through plant planting seedlings in environmental education practices.The sample universe of the survey was of 81% of the students of the afternoon shift. The first encounter was held on May 25, 2017, consisting presentation was made in slides in Datashow using images to discuss the elements that are part of the environment, natural resources (water, fauna, flora, soil) and social relations (home, school, human being and their interactions). In the second meeting, held on June 5, 2017 in commemorate World Environment Day, the planting of fruit trees and medicinal plant species was carried out in an attempt to make the school a more pleasant environment in order seek increase diversity and emphasize responsibility of the students with the growth and development of the seedlings. Planting of 20 seedlings was carried out, being five different species of fruit trees grafted with about 1m in length and 10 species of medicinal plants. In reflecting on the importance of trees in school, the students described the aesthetic, environmental and social aspects, reaffirming the importance of preserving them. Regarding medicinal plants, it is possible to infer that the plant bed implanted in the school stimulated curiosity, a fact that is very important for the teaching and learning process. The activities developed in this work can contribute in a playful way in actions that can collaborate with the preservation of the environment.

Key words: Environmental education. Afforestation. ludic activity.



INTRODUÇÃO



Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) apontam que o tema transversal meio ambiente, implementado no território nacional como referência de renovação da proposta curricular, deve ser trabalhado por intermédio da transversalidade. Este ressalta ainda que as atividades práticas possibilitam garantir a reflexão, o desenvolvimento e a construção de ideias por parte dos educandos sendo importante estarem em contato direto com o que estão estudando (BRASIL, 1998). Nesse sentido, Gadotti (2008) aponta que a educação possibilita ampliar conhecimentos, mudança de paradigmas, aperfeiçoa habilidades, prioriza a integração e a harmonia dos indivíduos com o meio ambiente. Paiva, Almeida e Martins (2015) mencionam que a escola é o local onde deve acontecer a articulação dos conhecimentos de diversas áreas como contexto sociocultural em que o aluno está inserido por meio de um ensino que procure dialogar com outras interpretações de mundo para formar um estudante crítico da sua realidade

A escola tem um papel importante e decisivo na mudança de comportamento da população, além de promover a elevação cultural dos estudantes, transformando sua forma de pensar e sentir o mundo (SOUZA, 2015). Por outro lado, há uma necessidade constante de pesquisas voltadas a práticas de ensino inovadoras, cujas propostas possibilitam auxiliar os professores na abordagem de temas transversais. Para Paiva, Almeida e Martins (2015), os docentes apresentam papel fundamental no desenvolvimento das práticas didáticas que estabeleçam relações entre o educando e o meio ambiente, podendo assim, sistematizar a distância entre esses saberes e favorecer a relação entre o ensino/aprendizagem e proporcionar ao estudante a construção do conhecimento.

A Educação Ambiental surge como um marco importante dentro dos movimentos ecológicos, com o intuito de despertar a preocupação na má gestão dos recursos naturais. Esta temática propõe orientar as discussões sobre a tomada de consciência frente aos problemas ambientais, e necessidade de melhoria da qualidade de vida no mundo em que vivemos (GUEDES, 2006). Nesta perspectiva, a escola tem um papel importante, devendo a temática ambiental permear todas as disciplinas de forma interdisciplinar, enfocando em temas relativos às relações socioambientais (REIGOTA, 2010). Moraes e Cruz (2015) destacam que diante das mudanças nos processos educativos, o papel do professor na educação ambiental ganha especial destaque cabendo-lhe a responsabilidade de despertar nos alunos valores com os quais poderão exercer sua cidadania.

Por outro lado, as práticas de ensino em sua maioria utilizadas, são consideradas sem relevância para os estudantes devido à utilização de métodos pedagógicos tradicionais. Segundo Castoldi e Polinarski (2009), grande parte dos professores tendem a adotar métodos mais tradicionais de ensino pelo receio do novo ou também por estar muito acostumados com o velho sistema educacional, que não favorece a motivação do educando. A busca por ferramentas de ensino que possam deixar o processo de ensino-aprendizagem mais motivador tem sido uma das grandes dificuldades encontradas por parte dos professores (SOUZA; NASCIMENTO JUNIOR, 2005).

Sendo assim, Behrens e Rodrigues (2015) ressaltam que é necessário romper com o modelo da educação tradicional e desenvolver uma educação ambiental que seja crítica e emancipatória. O professor deve priorizar o desenvolvimento de atitudes e valores, que são essenciais no aprendizado utilizando metodologias que promovam o questionamento, o debate, e a investigação, superando desta maneira as limitações de um ensino passivo ainda presente no contexto escolar (KLEIN et al., 2005). Para Guimarães (2004) a Educação Ambiental deve ter um caráter crítico, além de se apresentar como emancipatória e transformadora, permitindo mudanças de paradigmas. Não obstante, nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), é claro quando ressalta que os trabalhos com o tema Meio Ambiente nas séries iniciais devem contribuir para que os educandos tenham uma noção integradora e sistêmica (BRASIL,1997). Assim o objetivo deste trabalho foi estimular nos estudantes do ensino fundamental da Unidade Escolar Municipal Maria de Lourdes Pinheiro Machado, município Ilha Grande de Santa Isabel/Piauí a responsabilidade pelo meio ambiente, ressaltando o cuidado e preservação do mesmo, por intermédio do plantio de mudas em práticas de educação ambiental.

METODOLOGIA



A escola onde se deu as atividades encontra-se na Ilha Grande de Santa Isabel (2º51’S e 41º49’W), considerada a maior Ilha inserida na Área de Proteção Ambiental (APA) Delta do Parnaíba, criada por meio do Decreto S/Nº de 28 de agosto de 1996, compreendendo um perímetro de 460.812 m. Esta Ilha possui aproximadamente 134 km², e população estimada de 9.242 habitantes (IBGE, 2018). Faz parte da Reserva Extrativista (RESEX) Marinha do Delta do Parnaíba criada em 16 de novembro de 2000, de acordo com o Decreto S/Nº da Presidência da República a qual possui aproximadamente 27.022 ha, sendo 96,5% pertencente a este município. A escola visitada para o desenvolvimento do trabalho, está inserida na comunidade do Labino, zona rural do município, considerada uma área rica em recursos naturais e por isso é residida, em sua maioria, por pescadores e extrativistas.

As atividades foram desenvolvidas na Unidade Escolar Municipal Maria de Lourdes Pinheiro Machado (MDPM) a qual funciona em dois turnos, matutino e vespertino e atende um total de 173 alunos matriculados regularmente. A pesquisa foi submetida e aprovada pelo comitê de ética da Universidade Federal do Piauí UFPI-CEP (CAAE 70052017.1.0000.5214). Após a identificação da escola e planejamento prévio, foi realizada uma análise conjunta da proposta com a direção escolar, sendo as atividades organizadas a partir das ideias discutidas.

Nesta escola os alunos do turno vespertino (81%) dos alunos matriculados, participaram efetivamente das atividades, cuja proposta foi desenvolver o estudo sobre a Educação Ambiental, ressaltando o contexto das transformações que o meio ambiente vem sofrendo devido a intervenção humana. Além da discussão do conceito de educação ambiental e de meio ambiente, foi realizada a atividade prática, através do plantio de mudas de plantas frutíferas e medicinais.

A primeira atividade foi realizada no dia 25 de maio de 2017, destinada aos alunos do ensino fundamental (5º ao 9º ano). Foi utilizado apresentação em slides projetados em Datashow em um primeiro momento com alunos do 5º e 6º ano, e posteriormente, com os alunos de 7º, 8º e 9º ano. Nesta etapa foram utilizadas imagens, para discutir os elementos que fazem parte do meio ambiente, como os recursos naturais (água, fauna, flora, solo) e as relações sociais (casa, escola, ser humano e suas interações) existentes. Na seleção das figuras, para a composição dos slides, buscaram-se imagens conhecidas e comuns na realidade dos alunos.

A partir da reflexão da interação do ser humano e seus ambientes, os alunos foram estimulados a ter cuidado e responsabilidade com o mesmo. Para o exercício desta atividade prévia, foi direcionado aos alunos, como produzir adubação orgânica em casa, ressaltando o ambiente propício para o desenvolvimento de nutrientes e microrganismos benéficos às plantas, bem como o reaproveitamento da matéria orgânica normalmente descartada.

A segunda atividade realizada foi o plantio de espécies de plantas frutíferas e medicinais, na tentativa de tornar a escola um ambiente mais agradável, buscando aumentar a diversidade e enfatizar a responsabilidade dos educandos com o crescimento e o desenvolvimento das mudas. Os cuidados com as mudas plantadas foram assumidos pelos educandos no sentido de evitar injúrias como a quebra e falta d’água, e o apoio da direção no sentido de irrigar as mudas durante o período pós-plantio e férias escolares. Esta atividade foi realizada no dia cinco de junho de 2017, em comemoração ao dia mundial do meio ambiente, onde alguns alunos fizeram o plantio das mudas em áreas localizadas nas laterais, frente e fundos da escola. Os alunos envolveram-se na atividade, por meio do plantio, capinando, irrigando, abrindo as covas, distribuindo adubo etc. Uma prática importante de conscientização ambiental.



RESULTADOS E DISCUSSÃO



Para realização do plantio das mudas, os alunos trouxeram de suas casas, adubação orgânica preparada e acondicionadas por eles, como combinado e trabalhado no primeiro encontro. Realizou-se o plantio de 20 mudas, distribuídas em 9 famílias e 11 gêneros entre frutíferas, enxertadas adquiridas em mercado público com cerca de 1m de comprimento, e medicinais de tamanho e desenvolvimento relativo a dois meses adquiridas da estufa do projeto Farmácia Viva em parceria com o instituto Floravida. O plantio das arbóreas foi realizado pelos alunos de 7º, 8º e 9º ano enquanto as medicinais pelos alunos do 5º e 6º ano, totalizando 20 mudas divididas entre frutíferas e medicinais (Tabela 1).



Tabela 1 - Plantas medicinais e frutíferas utilizadas nas atividades de educação ambiental na Unidade Escolar Municipal Maria de Lourdes Pinheiro Machado, zona rural do município de Ilha Grande de Santa Isabel/PI.

FAMÍLIA E ESPÉCIE

NOME VULGAR

Acanthaceae



Justicia pectoralis var. latifolia Bremek

Chambá ou Anador

1

Aloaceae



Aloe vera (L.) Burm. f.

Babosa

1

Anacardiaceae



Anacardium occidentale L.


Caju

2

Mangifera indica L.

Manga

2

Annonaceae



Annona muricata L.

Graviola

2

Lamiaceae



Mentha arvensis L.

Hortelã, vique ou japonesa

1

Mentha x vilosa Huds

Hortelã- rasteira

1

Plectranthus amboinicus (Lour) Spreng

Malvarisco

1

Plectranthus barbatus Andrews

Malva-santa ou Boldo-nacional

1

Lauraceae



Persea americana Mill.

Abacate

2

Poaceae



Cymbopogon citratus (DC.) Staph.

Capim santo

1

Cymbopogon winterianus Jowitt ex Bor

Citronela

1

Sapotaceae



Manilkara zapota (L.) P. Royen.

Sapoti

2

Verbenaceae



Lippia alba (Mill.) N.E. Br. ex Britton & P. Wilson

Erva cidreira

1

Lippia sidoides Cham

Alecrim-pimenta

1

Total

15

20



Na reflexão sobre a importância das árvores na escola durante o primeiro encontro após a apresentação dos slides, foram relatados pelos educandos aspectos estéticos, ambientais e sociais, reafirmando a importância de preservá-las, como em algumas falas: “As arvores são importantes porque dão frutos”; “Elas promovem sombra para gente” “Elas melhoram o clima da cidade”; “Servem de casa para vários animais” Por outro lado, ficou claro durante as indagações levantadas, uma necessidade de interação dos conteúdos ministrados nas aulas e o contato direto com áreas externas, ambientes naturais práticos. Andrade e Silva (2008) em atividade similar verificaram que o plantio de árvores foi uma atividade inédita para os alunos, representando novidade e oportunidade para satisfazer inúmeras curiosidades.

Uma das discussões levantadas pela direção da escola, mediante manifestação dos educandos, foram as altas temperaturas nas salas de aula, o que de certa forma atrapalha a concentração dos alunos durante as aulas ministradas. Assim, a principal proposta durante a realização da atividade foi propiciar um microclima agradável na escola (Figura 1). O microclima proporcionado pela vegetação é influenciado diretamente por suas características e composição. Ao utilizar-se da arborização, as contribuições e benefícios são estratégias de resfriamento, umidificação, melhoramento do microclima, além é claro, de um ambiente externo mais atrativo e adequado ao uso (RIBEIRO at al., 2015).

Figura 1. Plantio de espécies frutíferas e medicinais nas atividades de educação ambiental na Unidade Escolar Municipal Maria de Lourdes Pinheiro Machado, zona rural do município de Ilha Grande de Santa Isabel/PI. A. Visão geral da Escola, B. Palestra sobre meio ambiente. C. Adubação confeccionada pelos alunos. D. Plantio de espécies arbóreas, E. Preparação do canteiro de plantas medicinais, F. Plantio de espécies arbóreas, F. Plantio de medicinais.



De acordo com Marques et al. (2014), existem, ainda, os benefícios ambientais oferecidos pelas áreas verdes, relacionados diretamente como promotor da saúde. Martini et al. (2015) ressaltam que as diferentes tipologias de floresta com quantidade de vegetação mais expressiva (remanescente florestal, área verde com paisagismo e arborização) apresentam microclima distintos com menores valores de temperatura e maiores de umidade relativa. Para Sorrentino (2005) é necessário o incentivo a ações que promovam a melhoria na qualidade de vida de uma população e, ao mesmo tempo, deve-se despertar em cada indivíduo o sentimento de pertencimento ao meio ambiente para a participação e busca de resposta aos problemas ambientais.

Outro ponto levantado pelos estudantes, foi ausência de frutos diversificados na comunidade onde a escola está inserida, bem como a disponibilidade destes na escola como recurso alimentar durante o intervalo das aulas. “Seria bom um pé de abacate para gente tomar abacatada na merenda”; “Aqui tem muito pé de caju e a maioria é azedo”; “Seria bom uns pé que descem frutas para gente comer no intervalo” Dentre os temas discutidos durante a análise conjunta da proposta de atividade com a direção escolar, as espécies arbóreas escolhidas para atividade foram aquelas cujo plantio disponibilizasse frutos que poderiam servi aos alunos e a fauna local, sem deixar de lado o paisagismo natural trazido pelos elementos da paisagem. Conforme Almeida, Zem e Biondi (2009), a principal fonte de alimentação para a fauna está na vegetação, é por meio desta que vários animais adquirem os frutos, as flores, o néctar etc.

A frutificação pode representar um efeito ornamental da espécie ou um atrativo a fauna, e nestas condições, recomenda-se exploração desta característica (SANTOS, 2001). Assim a proposta desta atividade desenvolvida em parceria com a direção foi de ampliar o conhecimento dos alunos, que demonstraram interesse em plantar e cuida das espécies arbóreas. Para Santos (2007) o contato direto com a natureza, pode haver a estimulação da criatividade e o consequente interesse pelos conteúdos disciplinares, podendo facilitar o processo de ensino e aprendizagem.

Quando ao plantio das espécies medicinais, os alunos do 5º e 6º ano no caminho ao canteiro para o plantio, foram indagados se conheciam ou já tinham ouvido falar sobre plantas medicinais (Figura 2 E, G), sendo possível ouvir comentários como: “Para que serve essa planta? ”; “É com ela que é feito o chá? ”; “Minha mãe gosta muito de fazer chá!”; “Na minha casa também tem muita dessas no quintal!”. O entendimento de chá como planta medicinal pode estar atrelada ao fato de no Brasil ser comum o preparo de plantas medicinais (SILVA; MARISCO, 2012). Nesse contexto, é possível inferir que o canteiro de plantas medicinais implantada na escola estimulou a curiosidade nessas crianças, fato muito importante para o processo de ensino e aprendizagem (Figura 2).

De acordo com os PCNs, a escola, por ser uma instituição social com propósito educativo, tem o compromisso de intervir efetivamente para promover o desenvolvimento e a socialização de seus alunos (BRASIL, 1997). Freire (2003) salienta sobre o papel da curiosidade para o aprendizado, destacando que esta é fundamental para possibilidade de conhecer e aprender. Costa e Pereira (2016) ressaltam em seus resultados que os estudos com plantas medicinais com alunos do ensino fundamental contribuíram para seu aprendizado escolar, demostrando um expressivo interesse ao tema. Na mesma perspectiva, Pires et al. (2013) evidenciam que as hortas escolares podem atuar como instrumento didático, substituindo os limites físicos da sala de aula por um ambiente natural, proporcionando ao aluno uma situação interdisciplinar de aprendizagem contextualizada e problematizada.

Figura 2 – Plantas Medicinais confeccionada na Unidade Escolar Municipal Maria de Lourdes Pinheiro Machado, zona rural do município de Ilha Grande de Santa Isabel/PI. A. Babosa, B. Malva-santa, C. Capim-santo, D. Alecrim, E. Citronela, F. Anador, G. Hortelã vique, H. Erva-cidreira, I. Hortelã rasteira, J. Malvarisco.



Quanto as ações terapêuticas das plantas medicinais disponibilizadas pelo projeto farmácia viva à escola, estas tratavam as doenças do sistema digestório (4), seguida das doenças infecciosas e parasitárias (3), sistema respiratório (2), nervoso (2), geniturinário (2) e repelentes (1) (Tabela 2). De acordo com Costa e Pereira (2016), as doenças do sistema digestório estão entre as categorias mais conhecidas em estudos relacionados a plantas medicinais. Isso ocorre provavelmente pelo fato de os transtornos ligados ao trato digestório estarem atrelados à ausência de saneamento básico adequado (GIRARDI; HANAZAKI, 2010).

Em todas as plantas medicinais disponibilizadas para o desenvolvimento desta atividade, o órgão utilizado nas preparações para consumo foram as folhas (Tabela 2). Conforme Brito e Senna-Valle (2011) isso ocorre pelo fato de esse órgão ser obtido com maior facilidade e geralmente estar disponível o ano todo, quando comparado com as flores, os frutos e as sementes. Para Moreira e Guarin-Neto (2009) a utilização de folhas como medicinal pode ser uma estratégia de manejo, uma vez que a coleta deste órgão não compromete o desenvolvimento da planta como um todo, permitindo a constante conservação do recurso.

Tabela 2 - Plantas medicinais disponibilizadas pelo projeto farmácia viva utilizadas nas atividades de educação ambiental na Unidade Escolar Municipal Maria de Lourdes Pinheiro Machado, zona rural do município de Ilha Grande de Santa Isabel/PI.



FAMÍLIA E ESPÉCIE

INDICAÇÃO

PARTE UTILIZADA

Acanthaceae



Justicia pectoralis var. latifolia Bremek

Bronco dilatadora, analgésica, inflamatória

Folha

Aloaceae



Aloe vera (L.) Burm. f.

Cicatrizante, antibacteriana e antifúngica

Folha

Lamiaceae



Mentha arvensis L.

Gases intestinais, mal estar gástrico

Folha

Mentha x vilosa Huds

Amebíase e giardíase

Folha

Plectranthus amboinicus (Lour) Spreng

Ronquidão, expectorante, inflamação da boca e garganta

Folha

Plectranthus barbatus Andrews

Gastrite, azia, mal estar gástrico

Folha

Poaceae



Cymbopogon citratus (DC.) Staph.

Calmante, analgésico, cólicas uterinas e intestinais

Folha

Cymbopogon winterianus Jowitt ex Bor

Repelentes de insetos

Folha

Verbenaceae



Lippia alba (Mill.) N.E. Br. ex Britton & P. Wilson

Calmante, analgésico, cólicas uterinas e intestinais

Folha

Lippia sidoides Cham

Impigens, acne, pano branco

Folha



CONCLUSÃO



As atividades desenvolvidas neste trabalho podem contribuir de forma lúdica em ações que possam colaborar com a preservação do meio ambiente. A proposta de estudo aponta ainda que são necessárias mais do que informações e conceitos, ou seja, o educador deve trabalhar com atitudes, com formação de valores, com o ensino e a aprendizagem procedimental. Assim, a utilização do conhecimento e sua aplicabilidade, que neste caso foi procedido por meio do plantio de mudas espécies frutíferas e medicinais, podem ser uma ferramenta de contribuição para o ensino de Ciências, pois houve interesse relevante dos discentes acerca do tema abordado.



AGRADECIMENTOS

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela bolsa concedida junto ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente ao primeiro autor deste trabalho, ao projeto Farmácia Viva em parceria com o instituto Flora Vida, por disponibilizar as mudas de plantas medicinais, aos gestores, professores e alunos da Escolar Municipal Maria de Lourdes Pinheiro Machado pela participação direta nesta pesquisa.



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Ilustrações: Silvana Santos