Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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16/09/2018 (Nº 65) PERCEPÇÕES AMBIENTAIS DE ESTUDANTES DO INSTITUTO ESTADUAL PAULO FREIRE DE URUGUAIANA, SOBRE O TRABALHO DOS CATADORES/AS DE RESÍDUOS SÓLIDOS
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PERCEPÇÕES AMBIENTAIS DE ESTUDANTES DO INSTITUTO ESTADUAL PAULO FREIRE DE URUGUAIANA, SOBRE O TRABALHO DOS CATADORES/AS DE RESÍDUOS SÓLIDOS





Luci Paola Paré da Rosa- Universidade Federal do Pampa, Campus Uruguaiana/RS (lu_pare@hotmail.com)

Edward Frederico Castro Pessano- Universidade Federal do Pampa, Campus Uruguaiana/RS (edwardpessano@unipampa.edu.br)



Resumo

Os resíduos em geral tem contribuído para o agravamento da crise socioambiental, influenciada por um sistema capitalista, o qual estimula de diferentes formas a produção, o consumo e a geração de resíduos, descartados indiscriminadamente no ambiente, sem receber o tratamento adequado. Os catadores/as de resíduos sólidos, que contribuem neste processo para sua reciclagem e sua subsistência, embora seja considerada uma classe de trabalhadores/as excluída da sociedade. A presente investigação, tem como pressuposto, identificar a percepção ambiental de estudantes do ensino médio, em relação ao trabalho desenvolvido pelos catadores/as de resíduos sólidos, buscando a partir deste diagnóstico, delinear estratégias em Educação Ambiental. Os resultados permitirão a elaboração de estratégias que contribuirão para a valorização destes profissionais e da política de destinação dos resíduos. O trabalho foi desenvolvido na cidade de Uruguaiana, onde foram investigadas duas turmas de segundo ano da escola Instituto Estadual Paulo Freire por meio de questionário semiestruturado. Foi possível constatar que as percepções dos educandos/as sofre forte influência dos meios de comunicação que, contribuem para construções sociais e culturais, principalmente ao consumismo ao revelarem percepções antropocêntricas em relação ao ambiente e resíduos, embora evidenciem a percepção política social, fundamental para a formação de sujeitos críticos. Consideramos a temática trabalhada de extrema importância, reveladora politica e socialmente das injustiças ambientais. Sendo assim, é preciso cada vez mais efetuar uma ampliação dos processos educacionais para com a realidade dos estudantes, proporcionando uma interação entre a formação escolar e a sociedade. Desta forma será possível atingirmos os principais objetivos dos processos educacionais e possibilitar a construção de novos conhecimentos e formação de sujeitos, cheios de significados e com estudantes alfabetizados cientificamente e preparados para a vida em sociedade.

Palavras-chave: percepção, catadores/as, resíduos.

Environmental perceptions of students of Institute State Paulo Freire in Uruguaiana, on the work of collectors solid waste

Luci Paola Paré da Rosa (lu_pare@hotmail.com)

Edward Frederico Castro Pessano (edwardpessano@unipampa.edu.br)



Abstract

Waste has generally contributed to the aggravation of the socio-environmental crisis, influenced by a capitalist system, which stimulates production, consumption and generation of waste in different ways, discarded indiscriminately in the environment without receiving adequate treatment. Solid waste pickers, who contribute in this process to their recycling and subsistence, although it is considered a class of workers excluded from society. The present investigation has as presupposition to identify the environmental perception of high school students in relation to the work done by solid waste collectors, seeking from this diagnosis, to outline strategies in Environmental Education. The results will allow the elaboration of strategies that will contribute to the valorization of these professionals and the policy of destination of the residues. The study was carried out in the city of Uruguaiana, where two second-year classes of the Paulo Freire State Institute were investigated through a semi-structured questionnaire. It was possible to verify that the students' perceptions are strongly influenced by the media, which contribute to social and cultural constructions, mainly to consumerism, by revealing anthropocentric perceptions regarding the environment and waste, although they show the social political perception, fundamental for the training of critical subjects. We consider the thematic work of extreme importance, revealing politically and socially the environmental injustices. Therefore, it is increasingly necessary to open the educational processes to the reality of the students, providing an interaction between school education and society. In this way it will be possible to reach the main objectives of the educational processes and enable the construction of new knowledge and formation of subjects, full of meanings and with students scientifically literate and prepared for life in society.

Keywords: perception, waste pickers, waste.



Introdução



Os resíduos sólidos são considerados um grande problema social, econômico e ambiental para a sociedade e por contribuir em muito para o agravamento da crise ambiental, ganhou diferentes aliados, entre estes os catadores de materiais recicláveis. Esses atores sociais são considerados por muitos especialistas, como imprescindíveis para a realização de serviços de limpeza das cidades, colaborando ao efetuar a coleta seletiva e impedindo que parte dos resíduos recicláveis siga para os lixões, contribuindo assim para a preservação ambiental e para a reciclagem (BORTOLI, 2013).

A presente investigação foi desenvolvida na escola Instituto Estadual Paulo Freire, localizada no bairro União das Vilas, da cidade de Uruguaiana/ RS, em virtude, de a escola estar inserida em uma comunidade periférica e de caráter carente no município de Uruguaiana, RS. Na referida localidade existem muitas famílias que realizam a atividade de catadores de materiais recicláveis, tanto de forma individual ou através de associações.

Podemos destacar ainda, que esta escola apresenta uma proposta pedagógica baseada na perspectiva Freireana, a qual valoriza a preparação dos educandos/as para a vida partindo de um processo de construção cognitiva alicerçada na realidade do educando. O Instituto segue os preceitos do educador Paulo Freire que, através dos seus princípios inseridos na filosofia e no cotidiano da escola, busca uma formação mais Humanizadora e de cidadãos/ãs capazes de interagir na sociedade. Conforme afirma Paulo Freire (1996):

Educação é uma forma de intervenção no mundo. Intervenção que além do conhecimento dos conteúdos bem ou mal ensinados e/ou aprendidos implica tanto o esforço de reprodução da ideologia dominante quanto o seu desmascaramento.

A abordagem da educação ambiental na escola deve buscar uma maior participação de educandos na solução de problemas ambientais, equilibrando atitudes humanas com os demais seres vivos em conjunto com os fatores ambientais, conforme já citado na literatura por Ruiz et al. (2005), estes salientam a importância da sensibilização e da mobilização, para a compreensão do processo de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos. Ainda, Silva e Leite (2008) destacam a necessidade da efetivação da implantação da Lei nº 12.305 (BRASIL, 2010), a qual institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos.

A educação reconhece a capacidade e o potencial do educando, que se empodera como sujeito na procura de, e não como reprodução do efeito do educador” (FREIRE, 2001).

Fica evidenciada a escola, como um espaço para construção da cidadania e da utilização da Educação Ambiental, como importante ferramenta de construção de uma aprendizagem crítica, permitindo aos sujeitos compreenderem seu ambiente e a sua sociedade e assim proporcionar o potencial de transformação do ambiente, em busca do seu equilíbrio.

A Educação Ambiental desempenha relevante papel na educação, proporcionando aos educandos/as novos meios de perceber o ambiente, contextualizando as diferentes realidades, os saberes da comunidade, discutindo temáticas que tenham sentido, reconhecendo sua cultura e transformando sua própria realidade (SILVA, 2011).

Cabe destacar ainda, a existência de documentos legais que reconhecem a relevância e a obrigatoriedade de se incluir em todas as etapas e modalidades as premissas de Educação Ambiental no ambiente escolar como: a Lei Federal nº 9.795, de 27 de abril de 1999, que institui a “Política Nacional de Educação Ambiental” que trata do enfoque interdisciplinar indispensável para o desenvolvimento da Educação Ambiental no Brasil e a Resolução nº 2, de 15 de junho de 2012 que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental que tem como um objeto possibilitar a contextualização com a realidade de forma reflexiva enquanto seres políticos.

Art. 6º A Educação Ambiental deve adotar uma abordagem que considere a interface entre a natureza, a sociocultural, a produção, o trabalho, o consumo, superando a visão despolitizada, acrítica, ingênua e naturalista ainda muito presente na prática pedagógica das instituições de ensino.

O presente trabalho teve como objetivo central, identificar e analisar as percepções dos educandos/as sobre o trabalho dos catadores/as de resíduos sólidos, buscando a partir deste diagnóstico, delinear estratégias em Educação Ambiental na busca da valorização de um melhor entendimento do papel destes profissionais, visando a compreensão destas ações para a formação dos estudantes.



Material e métodos



A presente pesquisa apresenta caráter exploratória quali-quantitativa e seu desenvolvimento ocorreu no mês de Janeiro de 2018 em uma escola pública de ensino médio chamada Instituto Estadual Paulo Freire, situada na cidade de Uruguaiana/RS. Trata-se de uma investigação que buscou obter um panorama das percepções dos estudantes da escola sobre o trabalho de catadores/as de resíduos sólidos. Para isso, foram selecionadas duas turmas de 2º ano desta instituição, totalizando 25 educandos/as, sendo 11 educandos e 14 educandas, a escolha dessas turmas decorreu no sentido de adequar o tema desta pesquisa aos conteúdos trabalhados neste ano do ensino.

Para diagnóstico utilizou-se um questionário semiestruturado (figura 01) e as respostas passaram pela análise de conteúdo Bardin (2011), com a finalidade de verificar a percepção ambiental dos educandos/as sobre o tema. As análises de percentuais dos dados contemplaram a porção quantitativa da pesquisa.

Figura 01. Questionário semiestruturado aplicado com os educandos/as do 2º ano do Instituto Estadual Paulo Freire.

Resultados e Discussão



O conhecimento prévio dos educandos/as é de fundamental importância para um processo mais participativo e reflexivo crítico de uma Educação Ambiental transformadora, como afirma Paulo Freire (1996, p. 33) “ensinar exige respeito aos saberes”. Portanto, ao conhecermos a realidade existente, é possível agirmos em favorecimento da melhoria dos processos educacionais, visando uma formação dos sujeitos de acordo com o preconizado na legislação, onde os indivíduos construirão novos conhecimentos que possibilitem ações transformadoras da sua realidade.

Loureiro (2002) destaca a relevância da abordagem conceitual baseada na realidade do estudante, de forma a articular com as problemáticas socioambientais existentes. Sendo assim, se deve considerar as particularidades ambientais dos indivíduos, suas interações e percepções, das quais surgem diferentes interpretações, interesses e necessidades, produzindo a partir de então as divergências, tratativas e diálogos sobre pertencimento e utilização do ambiente de forma educativa, direcionada para a condução de atitudes democráticas do ambiente.

Dos 25 estudantes investigados, 44% destes consideraram que o ambiente é um lugar para se viver, quando questionados sobre o significado de meio ambiente, podendo ser observado na resposta de uma educanda que descreveu: “Meio ambiente para mim é onde vivemos e o que está ao nosso redor”. Indicando que os educandos/as não se reconhecem como parte integrante do ambiente.

Resultado semelhante foi encontrado por Costa et al. (2012) ao realizar pesquisa com educandos/as de uma escola de ensino fundamental em que 33,4% destes/as concebia o Meio Ambiente como o meio que os cerca. Essas compreensões provavelmente decorrem da interpretação de o ser humano ser superior (visão antrópica), estando à parte do ambiente e podendo utilizar seus recursos sem controle, tornando-o como algo separado do ambiente. Retratando ainda esta percepção antropocêntrica, salientamos que 20% dos educandos/as consideram o ambiente como algo preservado, outros 20%, um local com elementos naturais, 8% como fonte de recursos e 4% para efetuar a separação dos resíduos (figura 02).

Figura 02- Visão dos educandos/as expressas em categorias de acordo com Bardin (2011). 1= É lugar para se viver; 2= É um ambiente preservado; 3= É um local com elementos naturais; 4= É fonte de recursos; 5= É para efetuarmos a separação de resíduos; 6= Nenhuma categoria. Fonte: Dados da Pesquisa.



Os Educandos/as revelaram em sua maioria, 36%, desconhecerem a diferença entre os termos lixo e resíduo, acreditando que resíduo é o que vai para o lixo, percebido na resposta de uma educanda: “Resíduo são restos de produtos que são jogados fora”. Logo, 24% descreve como o que polui e apenas 20% acredita que resíduos são materiais recicláveis, seguido de 8% que se contrapõem ao considerar que não tem utilidade, com o mesmo percentual também argumentam ser produto da atividade humana e 4% como sobras de alimentos (figura 03).

Esse resultado é interessante, pois a maioria da população não faz distinção entre lixo e resíduo e, considera tudo lixo, acreditando que não tem mais utilidade conforme já salientado por Silva (2007). O resultado deste desconhecimento é o destino inadequado e o desperdício de materiais recicláveis e reaproveitáveis.

A utilização do termo lixo, por ser ainda muito recorrente nas diferentes formas de comunicação da sociedade é um reflexo do que pode ser percebido na escola. A mídia contribui muitas vezes para a falta de clareza ao abordar a produção de resíduos pela sociedade, fazendo alusão aos seus índices preocupantes e ao “lixo”. Da mesma forma cria necessidades e referenciais simbólicos sobre a sociedade, estereótipos de beleza e de consumo, preponderantes para a construção de subjetividades de uma visão capitalista e consumista.

A escola tem papel fundamental de problematizar estas situações naturalizadas em nossa cultura, contribuindo para um pensar dialético, em que o sujeito reflete criticamente e consegue perceber as contradições e as lutas entre oprimido e opressor (SCHUTZ, 2015).

Figura 03 - Visão dos educandos/as expressas em categorias de acordo com Bardin (2011). 1= O que vai para o lixo; 2= Tudo que polui; 3= Materiais recicláveis; 4= O que não tem utilidade; 5= Produto da atividade humana; 6= Sobras de alimentos. Fonte: Dados da Pesquisa.



Esta percepção que se contrapõem quando educandos/as responderam que a separação de resíduos contribui com o trabalho dos catadores/as, como na resposta de um educando: “Na minha opinião é importante sim até para a separação dos lixos secos dos molhados ajuda também os catadores para terem mais facilidade na hora da reciclagem”, onde um percentual de 40% dos investigados manifesta compreensão, em virtude de muitas famílias dos próprios estudantes exercerem esta atividade na comunidade escolar (figura 04).

A existência de quatro entidades de materiais recicláveis no bairro União das Vilas em que a escola está situada é um fato bem importante. Estão referidas pelo Plano de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos Urbanos (PGIRSU, 2015) da cidade de Uruguaiana (2012) o Centro de educação Ambiental Nova Esperança II (Ceane), o Cachito Sucatas, a Associação de Materiais Recicláveis Amigos da Natureza (ACLAN) e a Associação de Catadores de Material Reciclável de Uruguaiana (ACMRU), formada recentemente, o que possibilita uma maior aproximação e reconhecimento deste trabalho.

O Ceane foi considerado como Utilidade Pública pela Lei Municipal nº 3758/2007, possui 51 famílias cadastradas e a ACLAN fundada em 09/01/2009 e declarada Utilidade Pública pela Lei Municipal nº 3.907/2009 com o intuito de organizar e representar as famílias que realizam coleta de materiais recicláveis diretamente no lixão. Sendo que o Cachito Sucatas, empresa particular, compra os materiais recicláveis destas associações e de catadores/as individuais, realizando entrega e venda diretamente para as recicladoras na região de Porto Alegre/RS (PGIRSU, 2012).

Educandos/as declaram acreditar que a separação dos resíduos é importante para nós mesmos, 20%, 12% pensam ser positivo em virtude da preservação do ambiente e redução da poluição, assim como para viver melhor no ambiente, 8% e 4% destacam ser importante para evitar doenças. Os dados demonstram ao mesmo tempo a preocupação em relação aos cuidados com o ambiente e possíveis consequências dos desequilíbrios ambientais (figura 04).

Figura 04 - Visão dos educandos/as expressas em categorias de acordo com Bardin (2011). 1= Para contribuir com o trabalho dos catadores/as; 2= Para nós mesmos; 3= Para a preservação do ambiente; 4= Para reduzir a poluição; 5= Para viver melhor no ambiente; 6= Para evitar doenças; 7= Nenhuma categoria. Fonte: Dados da Pesquisa.



Em relação ao questionamento sobre o hábito de separar os resíduos (figura 05) 60% dos educandos/as entrevistados/as responderam não realizar a separação, no entanto ao justificar demonstraram reconhecer que deveriam fazer, alguns até mesmo se comprometem a repensar e iniciar esta prática, perceptível na resposta de um educando: “Não tenho porque não sabia para que servia o separamento agora eu sei e vou começar a separar”.

Apenas 40% dos entrevistados declaram ter o hábito de separar os resíduos em suas residências, relatando alguns que fazem a entrega diretamente para catadores/as do bairro, separando principalmente materiais como garrafas plásticas e latinhas. Podendo ser destacadas algumas respostas interessantes, reveladoras da realidade local, como: “Sim, pois minha vó era catadora daí minha mãe sempre ensinou a separar; Sim meus pais separam todo o lixo seco do molhado para facilitar o trabalho das pessoas que vivem da reciclagem; Sim tenho, pois se já não é fácil para nós separarmos nosso próprio lixo imagina quem tem que separar o lixo de todos.

A coleta de materiais recicláveis no Brasil representa 32% dos resíduos sólidos urbanos, no entanto, a coleta seletiva realizada formalmente não é representativa, em torno de 1% de metais e menos de 20% de plásticos. Contudo catadores/as informais desempenham papel importante para a reciclagem no país (BRASIL, 2012).

A coleta seletiva foi implantada no munícipio de Uruguaiana/ RS no de 2009, realizada por uma empresa terceirizada que recolhe estes materiais uma vez por semana em cada bairro. A comercialização dos materiais recicláveis da cidade é efetuada pela empresa particular Cachito Sucatas, referida anteriormente, revende aproximadamente 120 toneladas de papelão, 60 toneladas de latas (alumínio) e 25 toneladas de PET por mês (PGIRSU, 2012).

Figura 05- Visão dos educandos/as expressas em categorias de acordo com Bardin (2011). 1= Não separam os resíduos; 2= Separam os resíduos. Fonte: Dados da Pesquisa.



Quando questionados sobre a percepção em relação à atividade realizada pelos catadores/as (figura 06) educandos/as em sua maioria, 44%, reconhece o trabalho dos catadores/as como agentes ambientais, que contribuem para a redução da poluição e manutenção do ambiente limpo e equilibrado, como mencionado por um educando: “Apesar de ser uma profissão boa de querer limpar o planeta, eles recebem muito pouco para isso”. Seguido de 24% para destinar corretamente os resíduos. Através destas respostas é possível perceber que os educandos/as se preocupam com uma sociedade que desenvolva atitudes política e ecologicamente corretas para o bem estar comum. Considerando que o destino incorreto dos resíduos pode transmitir doenças pois, ao decompor-se, possibilita o surgimento de organismos patogênicos e o favorecimento e proliferação de vetores (WIRZBICKI et al., 2015).

Contudo, a visão social sobre o trabalho realizado pelos catadores/as também é observada pelos educandos/as, 4% destacam as dificuldades desta atividade e 4% como uma possibilidade de mudança ao ambiente e as pessoas, percepção notada na seguinte resposta: “Alegria, porque eles estão tratando de um trabalho muito importante que vai mudando cada vez mais o mundo”.

Figura 06 - Visão dos educandos/as expressas em categorias de acordo com Bardin (2011). 1= Redução da poluição e manutenção do ambiente limpo e equilibrado; 2= Para dar um destino correto aos resíduos; 3= Para a preservação do ambiente; 4= Para diminuir as dificuldades que enfrentam; 5= Para dar uma possibilidade de mudança ao ambiente e as pessoas; 6= Nenhuma categoria. Fonte: Dados da Pesquisa.



A figura 07 representa as respostas dos educandos/as quando questionados sobre a atividade de catador/a poderia ser considerada uma profissão e por quê. A maioria destes, 88%, considera que sim, justificando que contribui para o ambiente, ajuda na redução dos resíduos no ambiente e por ser uma profissão que contribui para a vida no ambiente. Percepções evidenciadas nas respostas, como: “O serviço de catador tem que ser considerado uma profissão tem gente que trabalha disso e pode saber mais, saber separar os resíduos todos; Sim porque cada catador pode mudar o espaço que nós vivemos e melhorar o ambiente tornar num lugar melhor e limpo para se viver; Pois é lógico que pode e deve ser considerado um trabalho digno porque são eles que limpam nossas ruas nos passam uma lição, que tudo aquilo que chamamos de ‘lixo’ é o sustento e o recomeço para quem reutiliza”.

Sendo que, os 12% dos educandos/as que não consideram a atividade de catador/a uma profissão descrevem como uma alternativa para o desemprego, uma opção para quem não finalizou o ensino básico e uma alternativa para não se envolver com a criminalidade.

Entre os catadores/as, muitos são moradores de rua ou vivendo à margem da sociedade, pertencentes à classe mais pobre. Além de, em grande parte, atuarem sem vínculo empregatício, produzindo renda menor que um salário mínimo, competindo por materiais recicláveis com outros catadores/as (BORTOLI, 2009). Embora contribuam da mesma forma para o desenvolvimento econômico, porém são excluídas culturalmente, da educação, da saúde e da política (SUMAN, 2007).



Figura 07- Visão dos educandos/as expressas em categorias de acordo com Bardin (2011). 1= Atividade de catador/a pode ser considerada uma profissão e 2= Atividade de catador/a não é considerada uma profissão. Fonte: Dados da Pesquisa.



Recentemente a ocupação de catador/a de material reciclável ou reutilizável foi definida, após um período de muitas lutas sociais deste segmento, por melhores condições de trabalho e reconhecimento social.

Em 1999 organizou-se o Movimento Nacional de Catadores/as de Materiais Recicláveis com a formação de associações e cooperativas de catadores/as (MNCR, 2005) e no ano de 2002 foi identificada a profissão de catador/a pela Classificação Brasileira de Ocupação (CBO). O que vem ao encontro com a afirmação de Paulo Freire (1996, p. 114):

O operário precisa inventar, a partir do próprio trabalho a sua cidadania que não se constrói apenas com sua eficácia técnica, mas também com sua luta política em favor da recriação da sociedade injusta, a ceder seu lugar a outra menos injusta e mais humana.

Logo após, documentos legais definiram responsabilidades ao poder público sobre os resíduos sólidos e seu destino as associações de catadores/as, como o Decreto nº 5.940 (BRASIL, 2006), a Lei n. 11.445 (BRASIL, 2007) que define Diretrizes para o Saneamento Básico e a Lei n. 12.305 (BRASIL, 2010) que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, a qual possibilita ao poder público definir medidas indutoras e linhas de financiamento para atendimento das demandas das associações de catadores/as e cooperativas de materiais recicláveis.

As discussões que envolvem a educação ambiental, em diferentes espaços e através de variados meios de comunicação, atribuem os crescentes problemas ambientais à sociedade como um todo, devido ao seu crescimento populacional. No entanto, é evidente que a sociedade demonstra diferentes padrões de consumo e respectivamente seus impactos ao ambiente não são os mesmos, revelando-se através das desigualdades socioambientais e acesso aos bens naturais o que declara um preocupante cenário de injustiça ambiental (PIEPER et al., 2012, p. 702).



Considerações finais



Os dados obtidos através da presente pesquisa permitem perceber a existência de uma visão antropocêntrica dos educandos/as, provavelmente em decorrência de suas construções sociais e culturais, por influência dos meios de comunicação, os quais intensificam o sistema do modelo capitalista, no qual vivemos e da falência do sistema educacional tradicional, apresentado desde a alfabetização.

Os estudantes destacaram em suas respostas a preocupação com a preservação ambiental e o reconhecimento do trabalho dos catadores/as de resíduos sólidos, os quais segundo eles desempenham importante função nesse processo. Isso demonstra de certa forma, a existência de uma percepção política social, que é fundamental para a formação de sujeitos críticos.

A investigação demonstrou também que a escola representa um espaço de formação social e de construção da identidade dos alunos, devido sua estratégia de educação problematizadora, que busca transformar e sensibilizar os(as) educandos(as) a compreender e a refletir sobre a sociedade e o ambiente e sua inserção no contexto político social. Esses fatores podem possibilitar a reflexão crítica e a mudança de atitude e comportamento frente aos problemas encontrados.

Ainda, consideramos que a temática desenvolvida é de extrema importância, possibilitando a reflexão do papel de cada um/a no ambiente, bem como a tomada de iniciativas individuais e coletivas que visam contribuir para a manutenção do equilíbrio e do bem estar. Percebeu-se desta forma a valorização dos recursos naturais, como um sistema único de interdependência entre os seres vivos.

Portanto, o presente trabalho aponta que é preciso cada vez mais efetuar uma abertura dos processos educacionais para com a realidade dos estudantes, proporcionando uma interação entre a formação escolar e a sociedade. Desta forma, será possível atingirmos os principais objetivos dos processos educacionais e possibilitar a construção de novos conhecimentos, cheios de significados e com estudantes alfabetizados cientificamente e preparados para a vida em sociedade.



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Ilustrações: Silvana Santos