Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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16/09/2018 (Nº 65) ASPECTOS HISTÓRICOS, INSTITUCIONAIS E INTERDISCIPLINARES DA EDUACAÇÃO AMBIENTAL
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ASPECTOS HISTÓRICOS, INSTITUCIONAIS E INTERDISCIPLINARES DA EDUACAÇÃO AMBIENTAL



Vital José Pessoa Madruga Filho¹



¹ Advogado. Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela UFPB. E-mail: vitalpessoa@bol.com.br



RESUMO

O presente estudo aborda a imprescindibilidade da educação ambiental nos tempos hodiernos. Objetiva-se refletir acerca da percepção do homem sobre o mundo e o futuro que lhe espera. A EA deve irromper com os padrões da educação formal. Assim, analisa-se a forma com que o homem trata o desenvolvimento sustentável.

Palavras-Chave: Educação Ambiental. Agenda 21. Interdisciplinaridade.



ABSTRACT

The present study addresses the indispensability of environmental education in modern times. It aims to reflect on the perception of man about the world and the future that awaits him. EA must break with the standards of formal education. Thus, the way in which man deals with sustainable development is analyzed.


Keywords: Environmental Education. Agenda 21. Interdisciplinarity.



1. INTRODUÇÃO



Ao suscitar o pensamento em Educação Ambiental, de modo geral, faz-se uma remissão à ideia aos impactos ambientais causados pela presença e intervenção antrópica do meio em que o homem está inserido. Dessa forma, as discussões políticas atreladas à temática da educação ambiental, devem ser conjugadas com outras tantas dimensões que são elaboradas pela educação ambiental.

Conforme os objetivos pretendidos no presente estudo, é necessário que se faça uma alusão histórica das teorias e práticas que permearam a educação ambiental, sob um enfoque multidisciplinar, que é o método mais adequado para a abordagem apropriada do tema.

Nesse sentido, a educação ambiental deve ser observada como fenômeno decorrente de uma ferramenta formal, informal e não formal no processo educativo, na medida em que a escola deve formalizar os aspectos teóricos e doutrinais, aliando tal modalidade às práticas institucionais e sociais, a fim de fomentar uma mentalidade sólida fincada nos mais nobres valores ambientais.

Assim, pretende-se estabelecer como objetivo do presente estudo, conexões sobre os significados da Educação Ambiental, a partir de uma análise crítica e atualizada da AGENDA 21, idealizada no âmbito da ECO-92.

Destarte, após o decurso de mais de 20 anos do evento que idealizou a Agenda 21, é preciso indagar quais os avanços idealizados e alcançados pela Conferência no contexto mundial? O Brasil vem desempenhando bem com as intenções e metas então propugnadas?



2. EDUCAÇÃO AMBIENTAL: CONCEITO, ACEPÇÕES E CARACTERÍSTICAS



Inicialmente, é imprescindível discernir sobre a definição do que importa ser a educação ambiental, além das linhas e pensamentos capazes de individuá-la e que promovem sua construção na sociedade.

Como é palmar, toda conceituação deve ser realizada com muito esmero, sob pena de comprometer o verdadeiro significado do instituto a que se pretende definir. Todavia, AMACIO (2001a, p. 50) carreia um conceito bastante apropriado para o tema, na medida em que



Há relatos de que o termo ‘educação ambiental’ surgiu na Grã Bretanha na década de 60, no entanto, outros autores afirmam que o termo surgiu nos Estados Unidos na mesma época. Porém, o que importa para a discussão do momento seria a situação espaço-temporal de quando se iniciaram as discussões sobre a importância de se trabalhar a educação ambiental no mundo”.



Para Dias (2004), com a Fundação do Clube de Roma, nos idos de 1968, alguns especialistas provenientes das mais diversas áreas de formação, começaram a debater questões referentes à crise mundial, de modo que



Patrick Guedes, escocês, considerado o ‘Pai da Educação Ambiental’, já expressava a sua preocupação com os efeitos da revolução industrial, iniciada em 1779, na Inglaterra, pelo desencadeamento do processo de urbanização e suas consequências para o ambiente natural. O intenso crescimento do pós guerra acelerava a urbanização, e os sintomas da perda de qualidade ambiental começavam a aparecer em diversas partes do mundo” (DIAS, 2004, p. 76).



Segundo Reigota (2009), o Clube de Roma verificou a imprescindibilidade de se buscar meios e promover a proteção dos recursos naturais, além da necessidade de praticar controle de natalidade da população, sem desprezar a importância de conscientizar as pessoas acerca da mentalidade consumista imposta pelo mundo globalizado.

As pessoas que participaram do Clube de Roma elencaram o ideal de que o homem deveria fazer uma auto avaliação crítica, acerca dos seus objetivos e valores, como forma de assegurar a manutenção da vida na Terra. Diante de tal desiderato, a partir dos debates travados, a ONU realizou a Conferência Mundial do Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, Suécia, no ano de 1972 (DIAS, 2004).

Para Dias (2002), essa conferência mundial foi capaz de reunir líderes de 130 nações, voltados e preocupados com a situação crescente e desenfreada dos níveis de degradação ambiental, quando restou patente que a Educação Ambiental é o instrumento hábil de para a promoção das mudanças que se faziam necessárias.

Nesse pórtico, a Educação Ambiental foi conceituada na Conferência de Tbilisi, promovida pela UNESCO, nos idos de 1997, da seguinte forma:



[...] um processo contínuo no qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência de seu ambiente e adquirem o conhecimento, os valores, as habilidades, as experiências e a determinação que os tornem aptos a agir – individual e coletivamente – e resolver os problemas ambientais presentes e futuros (DIAS, 2002, p.66).



Nesse norte, é imprescindível estimular e motivar o exercício da cidadania, como forma de resgatar os mais nobres valores, tendentes ao direcionamento da sociedade por um prisma mais justo, solidário e fraterno. Todavia, para que isso possa de fato acontecer, é necessário incentivar e estimular o pensamento acerca dos valores ambientais em sua totalidade e voltado para as pessoas de forma impessoal, sem distinção, para que dessa forma, a sustentabilidade humana se torne o ponto nodal das discussões sobre a vida e o meio ambiente.

Nesse cenário, a fim de agregar mais valor ao conceito de Educação Ambiental, importa trazer à baila o conceito oferecido por Tristão (2008, p. 39):



A educação ambiental tem sido vinculada em termos teóricos-práticos à reformulação de valores éticos, individuais e coletivos. Assim, foge do reducionismo técnico da ciência tradicional. Aí está sua profunda correspondência com a produção de sentidos em direção a um processo de aprendizagem comprometido com uma cultura sustentável do desenvolvimento. Portanto, é importante examinar como esses sentidos vêm sendo disseminados na dinâmica das sociedades.



Nesse sentido, é cristalino que a implementação da educação ambiental experimenta obstáculos e caminhos possíveis para o seu fomento, através do expoente da sustentabilidade. Desse modo, é importante suscitar a educação ambiental como forma de disseminar os saberes socioambientais, motivando o raciocínio e a consciência dos indivíduos nas suas interações com os processos circundantes.

Assim, é importante estruturar a educação ambiental num contexto social, de modo que na antemão dos problemas e conflitos ambientais, gerados pelas poluições, degradações, lixos, agrotóxicos, é imperioso realizar um planejamento para o presente e futuro, que pode ser sintetizado pela educação formal e informal, na relação sociedade e natureza, nas políticas públicas, no desenvolvimento social, cultural e econômico, e, sobretudo, na percepção e conhecimento da realidade. Esse dito planejamento favorecerá uma sociedade consciente e sustentável, que culminará num expressivo melhoramento da qualidade de vida.

No entanto, o grande obstáculo ao planejamento acima afirmado, diz respeito ao analfabetismo ambiental, que “representa a maior ameaça à sustentabilidade da civilização humana. O seu antídoto é a Educação Ambiental e a Ética” (DIAS, 2002, p. 85).

Desse modo, para combater o analfabetismo ambiental, é preciso construir uma educação ambiental calcada em parâmetros éticos, através da educação formal, não formal e informal. Essas modalidades devem orientar todos os trabalhos e projetos voltados à educação ambiental, haja vista que por meio delas, é possível identificar os problemas ambientais , para que assim se possa efetivar a conscientização das pessoas e, principalmente, aplicar a intervenção necessária e cabível à mitigação dos efeitos da degradação da natureza.

Na visão de Dias (2004), a evolução conceitual dos termos da educação ambiental é diretamente proporcional ao aperfeiçoamento do conceito de meio ambiente e na forma de como este era retratado, ou seja, minimizado a aspectos meramente naturais, incapaz de contemplar as vastas relações e interdependências do homem para com o seu ambiente. Nesse modelo, é objetivo da educação ambiental fomentar conhecimento, habilidade, compreensão e estímulos à aquisição de valores, mentalidade e atitudes, fundamentais para a solução dos conflitos ambientais, na esperança de alcançar uma solução sustentável.

Nessa seara, a Conferência de Tbilisi ensejou um reconhecido progresso para a educação ambiental, esculpindo-lhe uma visão multidisciplinar, na medida em que é “[...] comum a uma série de disciplinas mutuamente relacionadas, em níveis hierárquicos com um sentido de finalidade” (SATO, 1997, p. 18).

Com efeito, Sato (1997, p. 19-20) elenca alguns objetivos que devem permear a interdisciplinaridade afeta à educação ambiental e garantir a sua eficácia, pelos quais deve-se;



- Não considerar somente as relações entre as disciplinas, mas, fundamentalmente, considerar o objetivo do curso em si com as pessoas responsáveis pelas disciplinas;

- Reagrupar as disciplinas em torno da proposta pedagógica (processo ensino aprendizagem);

- Considerar a comunicação entre os professores e os alunos, ao invés da possibilidade de envolvimento dos alunos;

- Equilibrar as diferentes áreas de conhecimento, na base da heterogeneidade (humanas, exatas, biológicas, etc.); e

- Considerar os objetivos do curso, em detrimento do excessivo conteúdo que cada especialista tende a exaltar;



Nessa ótica, Miranda in FAZENDA, 2008, p. 118 ensina que



A interdisciplinaridade se sustenta na base da leitura da realidade tal como ela é, assumindo suas nuances e singularidades, bem como a diversidade presente. Assim, age como transgressora, abrindo brechas às formas estabelecidas e enraizadas, colocando as certezas no cenário da temporalidade e da dúvida. A interdisciplinaridade, portanto, convive com a diferença, com a impotência, com a hegemonia e com o poder, e dá um salto de possibilidades, agindo nas brechas.



Diante da explanação acima, resta evidente que a interdisciplinaridade maximiza os horizontes do tema, além de se mostrar como elemento imprescindível para o favorecimento da educação ambiental em plano mundial, edificando um altruísmo sustentado pelos valores da responsabilidade e solidariedade das nações.

Fazenda (in FAZENDA, 2008, p. 17), festejada estudiosa da temática interdisciplinar, assevera que



Se definirmos interdisciplinaridade como junção de disciplinas, cabe pensar currículo apenas na formatação da sua grade. Porém, se definirmos interdisciplinaridade como atitude de ousadia e busca frente ao conhecimento, cabe pensar aspectos que envolvem a cultura do lugar onde se formam professores.



Assim, a educação ambiental deve manter um olhar fito para o futuro, a fim de incutir uma visão holística dos problemas que causam a degradação ambiental, através dos aspectos naturais, sociais, econômicos, ecológicos, políticos, técnicos e científicos, como forma de suscitar a interdisciplinaridade.

Acerca desse caráter interdisciplinar, é imperioso destacar a Política Nacional para a Educação Ambiental, erigida pela Lei nº 9795/99, que insere o meio ambiente como temática obrigatória em todos os níveis educacionais, de forma integrada e interdisciplinar, fazendo com que a matéria seja abordada e tratada em todas as disciplinas curriculares.



3. OBJETIVOS E FINALIDADES DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL



Conforme ensinamento de Reigota (2009), a Carta de Belgrado (1975) elencou seis objetivos inerentes à Educação Ambiental, quais sejam: conscientização, conhecimento, atitude/comportamento, competência, capacidade de avaliação e participação.

Nesse interim, a Carta de Belgrado (2011), desenvolve e aprimora os objetivos da educação ambiental, nos moldes a seguir delineados:

A tomada de consciência tem por escopo auxiliar os indivíduos e os grupos sociais a absorver maior sensibilidade e consciência acerca do meio ambiente, em seus aspectos gerais e nos problemas que lhe são afetos (CARTA DE BELGRADO, 2011).

O conhecimento deve ser caracterizado pelas noções básicas do meio ambiente em sua amplitude, além dos problemas e conflitos socioambientais a ele atrelados, bem como a intervenção antrópica na natureza, que requer um mínimo de senso crítico (CARTA DE BELGRADO, 2011).

A atitude propicia um maior engajamento das pessoas para com as causas ambientais, impulsionando-os a uma participação ativa na proteção e melhoria do meio ambiente (CARTA DE BELGRADO, 2011).

Com relação a capacidade de avaliação, é preciso considerar os programas de educação ambiental, através dos filtros ecológicos, políticos, sociais, econômicos, culturais e educativos (CARTA DE BELGRADO, 2011).

Já a participação favorece o exercício da cidadania, na medida em que auxilia as pessoas a desenvolver o senso de responsabilidade e alertá-las aos problemas ambientais, a fim de garantir a adoção de decisões adequadas (CARTA DE BELGRADO, 2011).

Dessa forma, fica evidente que os objetivos que regem a educação ambiental estão atrelados à sua própria meta, que pode ser resumida através de uma garantia de que a população mundial, dotada de conscientização acerca das causas e problemas ambientais, possa se preocupar e assumir atitudes tendentes ao arrefecimento dos danos causados ao meio ambiente. Todavia, é preciso considerar a paulatina e crescente agregação de valores comportados à Educação Ambiental, que desde a Conferência de Tbilisi, foi possível fixar propostas voltadas ao processo dinâmico integrativo, de transformação, participação, amplo, globalizador, transversal e contextualizador dos enlaces relacionados à educação ambiental (MACEDO, 2005). Diante disso, resta patente que os valores agregados à Educação Ambiental advêm dos inúmeros eventos nacionais e mundiais que se comprometeram a discutir o tema, os quais devem privilegiar uma visão humanista, holística e democrática.

Destarte, é preciso apontar como finalidade da educação ambiental a compreensão da própria existência e da vida no mundo, além de se fazer necessária a demonstração da interdependência econômica, política, social e ambiental entre os meios urbanos e rurais, além de viabilizar o acesso ao conhecimento, voltado para uma conscientização protetiva da natureza e um melhoramento do meio ambiente para as presentes e futuras gerações (REIGOTA, 2009).



4. A AGENDA 21 NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL



A Agenda 21 pode ser considerada como um planejamento para o século 21, com vistas ao desenvolvimento sustentável e em prol de uma sociedade justa, solidária e fraterna.

Os capítulos que compõem a Agenda 21 revelam os múltiplos cuidados que a sociedade deve deter para a viabilização de um plano arraigado às ações presentes e futuras, diante dos interesses da humanidade. Resta perceptível que os itens que a estruturam depende muito das peculiaridades de cada localidade, cujas medidas devem ser ponderadas por sua exequibilidade em determinados lugares. Desse modo, a Agenda 21 deve ser suscitada em três níveis, quais sejam:

AGENDA 21 GLOBAL, que deve ser observada como meio de planejamento para a construção de sociedades sustentáveis, a partir das diversas bases geográficas, capazes de concatenar e harmonizar os pilares do desenvolvimento sustentável, são eles: proteção ambiental, desenvolvimento econômico e social (BRASIL, 2011b).

AGENDA 21 BRASILEIRA, que emoldura um planejamento participativo, em prol do desenvolvimento sustentável do país, cujo resultado foi obtido por intermédio de consulta à população brasileira. Sua confecção foi coordenada pela Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e Agenda 21 (CPDS), além de ter sido orientada pelas diretrizes da Agenda 21 Global e foi entregue à sociedade em 2002 (BRASIL, 2011b).

AGENDA 21 LOCAL fica limitada a um dado território, calcado no planejamento participativo, através de um Fórum da Agenda 21. É constituído por representantes do governo e da sociedade civil organizada, e tende a elaborar um Plano Local de Desenvolvimento Sustentável, que projeta ações de curto, médio e longo prazos (BRASIL, 2011b).

Esses níveis de organização da Agenda 21 viabilizam o planejamento e atuação local e global tendente à sustentabilidade. Assim:



A conclusão dos participantes da ECO-92 foi que essa qualidade de vida seria alcançada, se todos nós nos empenhássemos por um desenvolvimento sustentável, que seria o direito de todos a se desenvolver, a crescer em termos econômicos, mas sempre garantindo-se a justiça social e o respeito aos recursos naturais, em benefícios das futuras gerações (MARTINS, 2009, p. 17).



O grande desafio tomado pela ECO-92 foi o fomento dos seus ideais através de políticas públicas voltadas para a sustentabilidade, cuja viabilidade para o desenvolvimento da Agenda 21 Local exige o êxito de parcerias público-privadas, através dos mais variados setores da sociedade civil organizada, como é o caso da comunidade, do poder público, das empresas e etc:



A Agenda 21 Local é então um caminho para que uma comunidade discuta os meios para colocar em prática o desenvolvimento sustentável, nas suas dimensões social, econômica e ambiental. Com a Agenda 21 Local, os grandes temas da sustentabilidade planetária – combate à pobreza, proteção da biodiversidade e da atmosfera, recuperação e preservação dos recursos hídricos, promoção da diversidade étnica, cultural e da igualdade de gênero – sejam discutidos em escala local, de forma próxima ao cidadão comum. Pela Agenda 21 Local, os diferentes setores de uma comunidade estabelecem metas para que todos, de forma coletiva, se empenham em sua execução, em benefício de todos. [...] Muitas empresas já impulsionaram importantes processos da Agenda 21 Local no Brasil, considerando que o desenvolvimento da comunidade onde está inserida e a proteção do meio ambiente nesse território são fundamentais para os próprios negócios (MARTINS, ANO, p. 63-64).



A visão exposta por Martins (2009) é muito aprofundada, na medida em que oferece a possibilidade na formalização de parcerias tendentes à conscientização das pessoas, como forma de importar melhoria na qualidade de vida.

A partir dessa breve explanação, destaca-se vertiginoso crescimento das relações de globalização estabelecidas pela comunidade internacional, impulsionadas pelo mercado de capitais e do investimento externo; redução das taxas de densidade demográfica em escala mundial. No entanto, tem-se que alguns pontos então preconizados ainda não conseguiram avançar à níveis satisfatórios, como é o caso do consumismo desenfreado da população planetária e os elevados índices de pobreza da população mundial, que continuam extremamente sobrelevados e insustentável, carreando consigo disparidade de rendas, além do preocupante e desmedido processo de degradação ambiental (GRACIOLLI, 2015).

Trazendo a análise dos dados no contexto da Agenda 21 Brasileira, tem-se que a responsabilidade ambiental vem sendo difundida na realidade sócio-política de forma contumaz, na medida em que a preocupação das pessoas para com o meio ambiente assume diversos campos sociais: discursos políticos, ambiente escolar, praça, empresas, universidades, enfim, como forma de galgar um pretenso equilíbrio ambiental. Nesse aspecto, há de se destacar também a criação de políticas públicas voltadas à conservação do meio ambiente, além das políticas de reciclagem assumidas em diversos cenários dos municípios brasileiros (GRACIOLLI, 2015).

Nesse cenário, outro desafio que se impõe à Agenda 21 é a sua absorção no ambiente escolar, principalmente no que tange aos educadores e na ambiência do ensino formal.



5. AGENDA 21 NO AMBIENTE ESCOLAR



O ambiente escolar é propício à formação do cidadão, sendo palco imprescindível na agregação de saberes e valores que acompanharão e influenciarão os indivíduos durante a vida. Desse modo, valendo-se do caráter interdisciplinar que deve ser deferido à educação ambiental, é imperioso que se demonstre a influência do ambientalismo na construção de uma ética sustentável. Nesse sentido,



A educação ambiental, com sua dimensão abrangente, é uma forte aliada para reorientar a educação em direção à sustentabilidade. Além de vir alargando o seu escopo de possibilidades, de promover mudança ética, sustenta-se em uma educação voltada pela ação e para a ação. Logo, agrega e fortalece as iniciativas da chamada educação para a cidadania, da ecopedagogia, da educação para sociedades sustentáveis, da educação para a gestão ambiental, enfim, das várias denominações e representações que recebe (TRISTÃO, 2008, p. 55).



É preciso pensar a formação das crianças e adolescentes incutindo-lhes a ideia de protagonismo, e não de mero receptáculo de informações, fazendo-se romper com o antigo esteio tradicionalista, a fim de oferecer uma formação de semeadores e multiplicadores socioambientais.

Dessa forma, às ações educativas voltadas a favor do meio ambiente devem ser encaradas como um



[...] espaço de convívio democrático e aberto entre alunos, professores, funcionários, diretoria, pais e outras pessoas da comunidade. Um lugar onde haja respeito mútuo e se possam compartilhar sentimentos, desejos, ideias e expectativas por meio do diálogo, das ações e das atitudes. Infelizmente, existem escolas onde as relações são tensas, marcadas por situações de desrespeito, desentendimentos, animosidade, que tornam o convívio difícil e repleto de conflitos. Os ativistas ambientais podem ajudar a transformar a escola em um lugar de diálogo para construção da confiança, da solidariedade, da convivência de diferentes modos de sentir e pensar, de divergências e semelhanças, dúvidas e certezas. Vale a pena investir no ambiente escolar, pois é nele que passamos a juventude, que são os melhores anos de nossas vidas (CARVALHO et al., 2000, p. 56).



Assim, é preciso pensar um processo educativo e formativo capaz de transcender as desigualdades socioambientais, e principalmente, o ímpeto de uma sociedade consumista, privilegiando os princípios do desenvolvimento sustentável.



6. RELAÇÃO ENTRE ECONOMIA E MEIO AMBIENTE



Diante do imediatismo consumista da sociedade hodierna, calcada no modelo de desenvolvimento vertido ao sistema capitalista, faz dissociar, muitas vezes, a questão ambiental, resumindo-a muitas vezes à dimensão ecológica, nos aspectos referentes à fauna e flora. Dessa forma, os pilares sociais e econômicos precisam ser incorporados no bojo da proteção do meio ambiente, o que formará os reais propósitos alusivos à sustentabilidade (REIGOTA, 1998).



Muitos danos ambientais são causados por decisões políticas erradas, que ocasionam problemas sociais, econômicos, culturais, éticos, sendo que teriam outras saídas científicas e tecnológicas mais adequadas. Logo, para compreender-se a temática ambiental, faz-se necessário considerar seus aspectos políticos, éticos, econômicos, sociais, ecológicos, culturais e outros, para que se obtenha uma visão global do problema e de suas alternativas de soluções. Com isso, a própria definição de Meio Ambiente (ou simplesmente AMBIENTE) seria ampliada (DIAS, 2002, p. 31).



Nesse contexto, observa-se uma ampliação conceitual acerca do meio ambiente, além de induzir as pessoas a pensarem acerca das questões ambientais e nas soluções capazes de solvê-las. É certo que o atual modelo de desenvolvimento é por deveras segregador, ocasionando diversos impactos socioambientais, além da perda dos níveis de qualidade de vida. O sistema em questão pode ser observado na representação abaixo:



Fonte: Dias (2002, p. 33)

Figura 1 Consequências do modelo de desenvolvimento



Diante da figura 1, resta evidente que a metodologia do desenvolvimento, busca o crescimento econômico irrestrito, apresentando certa despreocupação com a disponibilidade dos recursos naturais.



A única saída para salvar o mundo da catástrofe resumia-se em parar o crescimento imediatamente – eram os catastrofistas do “crescimento zero”, inspirados no Relatório do Clube de Roma (MEADOWS, 1968). Por outro lado, havia aqueles que afirmavam que a problemática ambiental foi inventada pelos países desenvolvidos para frear a ascensão do Terceiro Mundo e que, quando a renda per capita aumentasse, retomar-se-ia a discussão sobre a deterioração ambiental (AMÂNCIO in PAULA, 2001b, p. 23).



Essa ótica segue no sentido oposto ao que é apregoado pelas correntes do ecodesenvolvimento, conforme excerto abaixo transcrito:



[...] às teses do conservadorismo strictu senso e do crescimento a qualquer custo, surgiu, sob os auspícios do PNUMA, o conceito de Estratégias de Ecodesenvolvimento. Concebidas como uma nova abordagem, as quais centravam a análise na satisfação das necessidades fundamentais das populações despossuídas, na adaptação das tecnologias e dos modos de vida às particularidades dos macro-ecossistemas, na valorização dos objetos e eliminação dos desperdícios e a exploração dos recursos pela concepção de sistemas integrados. Na sua forma mais simples, o ecodesenvolvimento significa transformar o desenvolvimento numa soma positiva com a natureza, propondo que tenha por base o tripé: justiça social, eficiência econômica e prudência ecológica. A qualidade social é medida pela melhoria do bem estar das populações despossuídas e a qualidade ecológica pela solidariedade com as gerações futuras. Assim, rompe-se com a prática do crescimento selvagem baseado na apropriação predatória da natureza e com as teorias do estado estacionário, de crescimento zero, uma vez que o problema ambiental existe para todos e que os países subdesenvolvidos têm o pior dos dois mundos onde concomitantemente sofre-se da poluição da pobreza e da poluição da riqueza (AMÂNCIO in PAULA, 2001b, p. 24).



De acordo com a abordagem neoclássica, a definição de meio ambiente compõem aspectos que devem ser abordados como fonte de matérias primas, aproveitadas como insumos na produção dos bens, cujos recursos podem ser renováveis ou não. Noutra senda, a natureza é vitimada pela destinação final dos resíduos e efluentes oriundos do processo produtivo, de modo que a absorção pode ser total, parcial ou até mesmo nula, condicionada ao nível de saturação e desgaste do ecossistema. No todo, é preciso tem em mente que o meio ambiente realiza funções vitais de suporte à vida animal e vegetal, além do caráter turístico, de lazer e estético-paisagístico (AMÂNCIO in PAULA, 2001b).

Todavia, essas ponderações estão associadas à internalização das externalidades, de sorte que os custos e os benefícios do processo produtivo podem acarretar impactos negativos, que podem comprometer os níveis de qualidade de vida, o que exige das pessoas e instituições um comprometimento coletivo, calcado no espírito de solidariedade, que importará na harmonia do desenvolvimento sustentável, de sorte que o crescimento econômico e as novas tecnologias deverão atentar ao equilíbrio ecológico, para que o novel conceito de progresso seja compreendido como geração de riqueza, acompanhado de benefício social e proteção ao meio ambiente.

O paradigma da sustentabilidade se atém aos pilares do desenvolvimento sustentável, que a partir desse contexto, foi possível pensar o contexto de cidades sustentáveis, sob os auspícios das liberdades e respeito à cidadania daqueles que participam do processo de tomada de decisões, como forma de elevar os valores e níveis de bem estar humano, carreando benefícios coligados à saúde, educação, água de qualidade, ar puro e preservação das belezas naturais (paisagens) (TRISTÃO, 2008).

A partir desse contexto, salienta-se um amadurecimento das teorias acerca da sustentabilidade, que traduzem a necessidade e importância de um futuro comum, através de uma ação cidadã e consciente.

Conforme retratação na figura 2, é fácil vislumbrar a intercessão que alcança o desenvolvimento sustentável, ou seja, “[...] que atende às necessidades do presente, sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades” (COMISSÃO BRUNDTLAND – NOSSO FUTURO COMUM apud DIAS, 2004, p. 120).

Fonte: Dias (2004, p. 120).

Figura 2 O que é desenvolvimento sustentável?



Dias (2002) ensina que o liame entre as questões econômicas, sociais e ecológicas precisam ser debatidas para uma composição salutar, no sentido de encontrar um meio capaz de extinguir e superar as diferenças socioambientais, a fim de evitar um declínio da vida sobre a Terra e uma verdadeira tragédia evolutiva.

Nesse toar, o autor pondera que:



Ou reconhecemos os limites naturais da Terra e ajustamos nossa economia, ou prosseguimos ampliando cada vez mais a nossa pegada ecológica até que seja muito tarde. Estamos envolvidos em um grande experimento global. Um dia, os recursos naturais serão reconhecidos por suas contribuições aos sistemas que mantêm a vida na Terra, e não simplesmente por seu valor como bens econômicos (DIAS, 2002, p. 86).



Dessa forma, a Educação Ambiental oferece a possibilidade de superação para todos esses conflitos e questões, na esperança de lançar um prognóstico viável de manter a sustentabilidade e a vida no planeta, em escala local e global, que indubitavelmente, requer o comprometimento indistinto de todas as pessoas.



CONCLUSÃO



Ao sopesar os resultados obtidos no curso do século XX, depreende-se que poucas contribuições foram alçadas para se garantir o futuro da humanidade e da vida na Terra. Nesse sentido, a educação se apresenta como instrumento hábil à promoção da consciência social e cultural de uma juventude afeiçoada aos princípios de justiça ambiental.

A educação ambiental deve ser encarada como elemento vital para a sociedade, na medida em que deve ser utilizada como ferramenta de reformulação do comportamento humano, quando propicia uma recuperação de valores perdidos ou nunca dantes alcançados. Dessa forma, o compromisso da educação ambiental é com as presentes e futuras gerações, na medida em que prima pelo equilíbrio do meio ambiente.

É preciso sedimentar nas pessoas uma sensibilidade apropriada para as coisas advindas da natureza, como forma de proporcionar um melhoria para a estrutura social. Logo, exige um conhecimento articulado de setores da economia, do meio ambiente e da sociedade civil organizada.

A metodologia e implementação da educação ambiental deve iniciar no seio doméstico, e suas lições alcançam às ruas e praças, e oferece uma reflexão de justeza ambiental e social.

Nesse contexto, o advento da Agenda 21 é uma estratégia fenomenal para a aplicação da educação ambiental, e assim viabilizar a construção do desenvolvimento sustentável. Todavia, sua implementação ainda dá-se de forma tímida no contexto hodierno do Brasil e do mundo, não obstante os avanços conquistados, carecendo de mais atenção por parte dos governantes, a fim de satisfazer os prazos e metas então convencionados.

O principal escopo da educação ambiental é de assegurar um meio ambiente saudável para todos os homens e espécies de vida existentes na biosfera, o que auxilia diretamente à preservação da biodiversidade, evitando intervenções danosas aos nichos e habitats essenciais à manutenção da vida das espécies neles inseridas, como forma de evitar extinções motivadas por meios predatórios, na maioria das vezes tão desnecessários e inconsequentes para a manutenção do equilíbrio ambiental.

Favorecer os indivíduos à tomada de consciência é um objetivo que exige maturidade ecológica, com base em níveis éticos e científicos, permeados de valores essenciais e necessários à afirmação da própria identidade individual e comunitária.

Com efeito, a aplicação da educação ambiental na escola exige método e escala, além de conhecimentos sobre as realidades regionais, e principalmente, uma linguagem adequada às faixas etárias dos discentes. É imprescindível que se promova uma revitalização da pesquisa de campo, por partes dos alunos e professores, através de um permanente exercício interdisciplinaridade, a fim de se alcançar uma transdisciplinaridade.

É preciso superar métodos de ensino arcaicos, baseados em teorizações elitistas e inaugurando novos pensamentos e linhas teóricas, com estruturas mais solidificadas e entendimentos mais ampliados. A educação ambiental, dessa forma, pode ser dimensionada em proveito de um liame entre a sabedoria popular (senso comum) e a consciência técnico-científica.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS



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Ilustrações: Silvana Santos