Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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14/06/2018 (Nº 64) OS EQUÍVOCOS DOS INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE
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Os Equívocos dos Indicadores de Sustentabilidade

Dra Danielle Thaís Barros de Souza Leite*

M.Sc. Lorena Xavier Conceição Santos**

M.sc. Rodrigo Galloti Lima***

M.Sc. Sara Julliane Ribeiro Assunção****

Dr. Adauto de Souza Ribeiro*****

Resumo

O presente artigo teve como objetivo elaborar uma discussão teórica sobre os equívocos relacionados a indicadores de sustentabilidade. Para isto foi abordado o conceito de indicadores bem como sua abordagem sistêmica. Destaca-se que nos países em desenvolvimento, as necessidades básicas de grande número de pessoas não estão sendo atendidas. A sustentabilidade ambiental originou-se da necessidade de reavaliar a forma de se realizar o desenvolvimento, que estava mais ligado à ideia de crescimento econômico. Nesse sentido, destaca-se a relação entre a sociedade e o meio ambiente que passa a ser observada de maneira mais critica e a própria concepção do problema encaminhada para uma forma mais globalizada e menos localizada, o que levou ao surgimento de novas alternativas de relacionamento com intuito de reduzir os impactos da sociedade sobre o meio. Dada à necessidade de analisar a sustentabilidade ambiental, é preciso definir indicadores, os quais podem ser entendidos como ferramentas constituídas por uma ou mais variáveis que, associados por meio de diversas formas, revelam significados mais amplos sobre os fenômenos, visando à sustentabilidade local. Mensurar a sustentabilidade requer a integração de um grande número de informações advindas de uma pluralidade de disciplinas e áreas de conhecimento. No entanto, suas limitações não podem ser ignoradas.

Palavras-Chaves: Ambiental; Enfoque Sistêmico; Desenvolvimento Sustentável.

Abstract

The present article aimed to elaborate a theoretical discussion about the misconceptions related to sustainability indicators. For this the concept of indicators as well as their systemic approach was approached. It is stressed that in developing countries, the basic needs of large numbers of people are not being met. Environmental sustainability stemmed from the need to re-evaluate the way development was carried out, which was more closely linked to the idea of ​​economic growth. In this sense, the relationship between society and the environment that is observed in a more critical way and the very conception of the problem addressed to a more globalized and less localized form is highlighted, which led to the emergence of new relationship alternatives with the aim of reducing the impacts of society on the environment. Given the need to analyze environmental sustainability, it is necessary to define indicators, which can be understood as tools consisting of one or more variables that, associated in different ways, reveal broader meanings about the phenomena, aiming at local sustainability. Measuring sustainability requires the integration of a large number of information from a variety of disciplines and areas of knowledge. However, its limitations can not be ignored.


Keywords: Environmental; Systemic Approach; Sustainable development.

* Doutora em Desenvolvimento e Meio Ambiente/UFS. Professora Adjunta da Universidade Tiradentes. Coordenadora de Administração EAD/UNIT. Integrante do Grupo LEI/UFS. E-mail: daniellethais@yahoo.com.br

**Doutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente/UFS. E-mail: lolyxavier@hotmail.com

*** Doutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente/UFS. E-mail: sarassuncao_6@hotmail.com

****Doutor em Desenvolvimento e Meio Ambiente/UFS. E-mail: florafertil@yahoo.com.br

***** Doutor e professor do Departamento de Ecologia/UFS. E-mail: adautoead@gmail.com

Introdução

O termo desenvolvimento sustentável foi criado pensando-se em melhorar as necessidades presentes sem comprometer a capacidade e as necessidades das futuras gerações, ou seja, satisfazer as necessidades e as aspirações humanas é o principal objetivo do desenvolvimento. Nos países em desenvolvimento, as necessidades básicas de grande número de pessoas – alimento, roupas, habitação, emprego – não estão sendo atendidas. Além dessas necessidades básicas, as pessoas também aspiram legitimamente a uma melhor qualidade de vida, de modo que, para que haja um desenvolvimento sustentável, é preciso que todos tenham atendido as suas necessidades básicas e lhes sejam proporcionadas oportunidades de concretizar suas aspirações a uma vida melhor.

A sustentabilidade ambiental, segundo Camargo (2002), originou-se da necessidade de reavaliar a forma de se realizar o desenvolvimento, que estava mais ligado à ideia de crescimento econômico. Nesse sentido, Van Bellen (2002) destaca que a relação entre sociedade e meio ambiente passou a ser observada de maneira mais critica e a própria concepção do problema foi encaminhada para uma forma mais globalizada e menos localizada, o que levou ao surgimento de novas alternativas de relacionamento com intuito de reduzir os impactos da sociedade sobre o meio.

Dada à necessidade de analisar a sustentabilidade ambiental, é preciso definir indicadores, os quais podem ser entendidos como ferramentas constituídas por uma ou mais variáveis que, associados por meio de diversas formas, revelam significados mais amplos sobre os fenômenos, visando à sustentabilidade local.

Mensurar a sustentabilidade requer a integração de um grande número de informações advindas de uma pluralidade de disciplinas e áreas de conhecimento. Comunicar tal riqueza de informações de forma coerente ao público não especialista torna-se um grande desafio, o qual se converte em expectativa pela produção de sistema de indicadores enxutos ou índices sintéticos, capazes de comunicar realidades complexas de forma resumida.

Enfoque Sistêmico e Indicadores de Sustentabilidade

A recente abordagem sobre o enfoque sistêmico tem levado a reavaliação na forma de atuação de diversos profissionais. Os termos “sistemas” e “pensamento sistêmico” eram utilizados por cientistas de diversas áreas. Porém foram as concepções de Bertalanffy de sistema aberto e de uma teoria geral dos sistemas, que estabeleceram o pensamento sistêmico como um movimento científico de primeira grandeza (CAPRA, 1996).

De acordo com Schlindwein e D’ Agostini (2003) o conceito de sistema vem sendo utilizado desde o século XIX, porem foi nas décadas de 20 e 30, com o surgimento da Teoria Geral dos Sistemas, que o conceito de sistema alcançou um estatuto mais formal (SILVA et al, 2007).

Por meio da Teoria Geral dos Sistemas houve uma possibilidade de mudança da visão disciplinar e reducionista para a holística (as propriedades de um sistema são propriedades do todo, que surgem das interações e das relações entre as partes) e multidisciplinar (PINHEIRO, 2000).

Já o reconhecimento da importância dos sistemas abertos, representados pelos sistemas biológicos, sustentados pelo fluxo de trocas de energias e matérias através das suas superfícies limítrofes, é mais recente.

A noção de sistema é aplicável a quase tudo o que existe e é complexo e organizado. Camargo (1995) entende por sistema um conjunto de elementos quaisquer ligados entre si por cadeias de forma a constituir um todo organizado. O autor ressalta ainda a importância para a Teoria Geral dos Sistemas em compreender o todo e não as partes. O objetivo é projetar uma análise visando compreender as dinâmicas sistêmicas, assim como, atuar em qualquer natureza de elementos que compõe uma relação de forças entre eles, o que inclui qualquer disciplina científica (BERTALANFLY, 1968).

Para Camargo (1995), a Ciência dos Sistemas trata-se de uma ciência multidisciplinar que estuda a relação dos sistemas e seus elementos, bem como das combinações entre os mesmos, respectivamente em super e subsistemas, suas ações e comportamentos. Os Sistemas são constituídos por componentes, interações entre componentes, entradas, saídas e limites. Os limites desses sistemas se confundem e se modificam a depender da intencionalidade do pesquisador, ao passo que os sistemas naturais são abertos, resultando em entradas e saídas dessas unidades (OLIVEIRA et al, 2007).

Entender as coisas sistemicamente significa literalmente colocá-las dentro de um contexto, estabelecer a natureza de suas relações e não apenas identificar algumas possíveis relações como acontece na maioria das vezes (CAPRA, 1997).

Para entendimento dos sistemas é necessário perceber que estes podem ser abertos (sofrem a ação ou intervenção do homem), ou fechados (a sua manutenção não tem relação com ação humana). Segundo Oliveira et al (2007), um sistema aberto se caracteriza pelos seguintes aspectos: O todo é superior à soma das suas partes e tem características próprias; As partes integrantes do sistema são interdependentes; Sistemas e subsistemas relacionam- se e estão integrados numa cadeia hierárquica; Exercem auto regulação e controle, visando a manutenção do seu equilíbrio. Sua auto regulação implica na capacidade de mudar, como forma de adaptação a alteração do meio exterior; Influenciam o meio exterior e vice-versa (por meio da troca de energia).

A Teoria dos Sistemas é base teórica para a utilização de indicadores, pois para o entendimento global dos fenômenos é imprescindível à análise interligada das dimensões sociais, políticas, ambientais, culturais e econômicas de determinado ecossistema. De acordo o autor, indicador é o instrumento que permite mensurar as modificações nas características de um sistema, ou seja, os indicadores deverão estabelecer, para um dado período de tempo, uma medida de certa característica.

Para a escolha de uma característica como indicador, alguns aspectos importantes devem ser considerados, tais como ser significativo para a avaliação do sistema; ter validade, objetividade e consistência; ter coerência e ser sensível a mudanças no tempo e no sistema; ser centrado em aspectos práticos e claros, facilidade de entendimento e que contribua para a participação da população local no processo de mensuração; permitir enfoque integrador, ser de fácil mensuração, baseado em informações facilmente disponíveis e de baixo custo; permitir ampla participação dos atores envolvidos na sua definição; permitir a relação com outros indicadores, facilitando a interação entre eles.

Outro aspecto a ser levando em consideração, é a coerência entre os propósitos da avaliação, e o indicador escolhido. Deponti et al (2002) ressaltam a necessidade de ter clareza em relação a avaliação sobre a forma, o tempo, o motivo e elementos imprescindíveis a avaliação, bem como, de que maneira serão expostos, integrados e aplicados os resultados para o melhoramento do perfil dos sistemas analisados. A clareza em relação aos aspectos supracitados é fundamental, pois eles deverão orientar a definição quanto ao tipo de indicador recomendado para o monitoramento do objeto proposto. Não são raros os casos em que atividades de monitoramento geram informações que, posteriormente, são pouco utilizadas, o que pode ser explicado pelo fato do indicador utilizado para o monitoramento não retratar os anseios do grupo diretamente relacionado com o objeto.

Os indicadores têm sido utilizados, de forma conjunta, na administração, seja ela pública ou privada de vários sistemas, agregando uma série de informações, buscando uma visão integrada do objeto de estudo. Na construção de um sistema de indicadores é importante que se estabeleçam os critérios e os métodos de forma coerente com os objetivos pretendidos e também com os recursos humanos, materiais e financeiros disponíveis em um dado contexto (MIRANDA; TEIXEIRA, 2004).

Existem vários indicadores para cada ramo ou segmento que se queira analisar: indicadores de desempenho, para avaliar pessoas e projetos; indicadores econômico- financeiros, para a comparação de empresas e países; indicadores sócio-econômicos, para a análise da sociedade, indicadores de sustentabilidade para análise variadas, entre outros, resumindo uma série de informações que permitirão a tomada de decisão pelo administrador (BOSSEL, 1999).

Existe uma grande discussão em torno da sustentabilidade rumo à construção de instrumentos que permitam mensurar as modificações nas características de um sistema bem como avaliar a sustentabilidade dos diferentes sistemas (DEPONTI et al, 2002). As dificuldades de estabelecer indicadores de sustentabilidade ocorrem por falta de um consenso no conceito de desenvolvimento sustentável e dos objetivos a serem atingidos para se chegar à sustentabilidade, pois para realidades diferentes, existem respostas diferentes. A aplicação ou não de um indicador deve-se ao seu potencial de elucidar, de maneira abrangente, o resultado exato da interação de variantes sistêmicas (SOBRAL et al, 2007).

A construção de indicadores para avaliação da sustentabilidade exige uma equipe interdisciplinar; são importantes ferramentas de avaliação, desde que seja possível relacioná-los aos conceitos e princípios de sustentabilidade, sendo capazes de avaliar e monitorar as tendências de desenvolvimento sustentável, definindo metas de melhoria dos sistemas; descrevem um processo específico e são particulares aos mesmos, por isso não há um conjunto de indicadores globais adaptáveis a qualquer realidade; e devem refletir o objetivo de seus propositores garantindo a identificação dos propositores com os indicadores selecionados (MIRANDA; TEIXEIRA, 2004).

Os indicadores fornecem informações essenciais e confiáveis sobre a viabilidade de cada um dos componentes do sistema. A gestão de atividades e o processo decisório necessitam de novas maneiras de medir e os indicadores são importantes como ferramenta neste processo. Medições são imprescindíveis para que o conceito de desenvolvimento sustentável se torne operacional. Elas podem ajudar os tomadores de decisão a definir os objetivos e as metas (BELLEN, 2005).

As medidas fornecem uma base empírica e quantitativa de avaliação da performance e permitem comparações no tempo e no espaço proporcionando oportunidades para descobrir novas correlações. O objetivo da mensuração é auxiliar os tomadores de decisão na avaliação de seu desempenho em relação aos objetivos estabelecidos e fornecedores de bases para o planejamento de futuras ações.

Para isso eles necessitam de ferramentas que conectem atividades passadas e presentes com as metas futuras, e os indicadores é o seu elemento central auxiliando os tomadores a compreender melhor, em termos operacionais o que o conceito de desenvolvimento sustentável significa funcionando como ferramenta de explicação pedagógica e educacional (BELLEN, 2005).

Sob o enfoque sistêmico, o objetivo dos sistemas de indicadores é a construção de um conjunto de indicadores que mostrem tendências vinculantes e/ou sinérgicas, variáveis que analisadas em seu conjunto possam dar conta das principais tendências, tensões e causas subjacentes aos problemas de sustentabilidade. As vantagens de tal enfoque decorrem de certo consenso internacional que vigora em torno de tal modelo, por não requer comensurabilidade ou valoração (uma dificuldade sempre presente nos indicadores monetários, por exemplo). Como uma desvantagem, eles não conseguem revelar imediata ou sinteticamente os fenômenos. A sua construção é estimulada a partir de governos e organismos internacionais, o que tem lhes conferido uma grande aceitação mundial.

O mais popular dos sistemas de indicadores ambientais de acordo com Soares et al., (2011), preocupados em representar as relações de causa-efeito existentes entre as diversas dimensões ambientais, é o PSR (Pressão, Estado, Resposta) adotado pela Organisation for Economic Cooperation and Development (OECD). O modelo foi desenvolvido e recomendado originalmente pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, 1993) e é também utilizado, com algumas alterações, por outras agências internacionais como Unstat (Divisão de Estatísticas das Nações Unidas) e Eurostat (Divisão de Estatísticas da Comunidade Européia).

De maneira geral, o modelo busca descrever a dinâmica de um problema ambiental; por exemplo, a pressão ambiental decorrente da deposição de esgotos em um rio ou a diminuição de área disponível para a vida selvagem. Tais pressões alteram o estado do sistema ambiental, reduzindo a qualidade da água ou a diversidade de espécies. Tais alterações, por seu turno, conduzem, em alguns casos, a respostas dos governos, ou das instituições (entre os quais, o próprio mercado). Medidas da condição do sistema podem ser enquadradas nestes três níveis; alguns argumentos têm sido apresentados para a necessidade de focalização nos indicadores de pressão, dado que eles permitem um alerta, gerando definição de políticas; mas, na prática, a maior parte dos indicadores se restringe ao nível de descrição de estado (Azar et al., 1996).

Destacam-se ainda dentre os sistemas de indicadores ambientais, de acordo com Soares et al., (2011), o DSR (Força Motriz, Estado, Resposta) da United Nations Commission on Sustainable Development (UNCDS) e, mais recentemente, o DPSIR (Driving Force, Pressure, State, Impact and Response), considerado uma versão mais sofisticada do modelo de PSR, em aplicação pela European Environmental Agency (EEA) (Giupponi, 2002), que vem sendo utilizada pelo PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) na elaboração da série GEO (Global Environment Outlook). O projeto GEO, iniciado em 1995, busca avaliar o estado do meio ambiente nos níveis global, regional e nacional. A variável impacto busca mensurar o impacto ou o efeito produzido pelo estado do meio ambiente sobre diferentes aspectos, como os ecossistemas, qualidade de vida humana, economia urbana local, entre outros.

Os equívocos dos indicadores de sustentabilidade

Desde o final da década de 80, surgiram as primeiras propostas de construção de indicadores ambientais. Porém foi a partir da Conferência Internacional da Organização das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992, que surgiu a necessidades de desenvolver indicadores de desenvolvimento sustentável, expressas na Agenda 21 em seus capítulos 8 e 40, onde a CSD (Comissão de Desenvolvimento Sustentável), adotou um programa de cinco anos para desenvolvimento de instrumentos apropriados para os tomadores de decisão no nível nacional no que se refere ao desenvolvimento sustentável (Bellen, 2002). O objetivo era de fornecer subsídios à formulação de políticas nacionais e acordos internacionais, bem como que servissem de referência para medir o progresso da sociedade em direção ao que se convencionou chamar de um futuro sustentável (Moldan e Billharz,1997), à tomada de decisão por atores públicos e privados, além de buscam descrever a interação entre a atividade antrópica e o meio ambiente.

O indicador é um parâmetro associado com um fenômeno ambiental que pode fornecer informações específicas, a fim de representar de forma concisa os problemas estudados (SCHMIDT, 1986). Deve este associado com um sistema de indicadores, capaz de fornecer informações sistemáticas com a finalidade de avaliação, pois sozinho, fornece poucas informações. Um sistema de indicadores é composto de diversos indicadores correlacionados a partir de uma lógica e do ponto de vista funcional, capaz de descrever e fornecer informações sobre vários fenômenos associados uns com os outros, ou que têm de ser interpretados de forma coordenada (BELLEN, 2005).

Observa-se que existem várias justificativas para que se desenvolvam sistemas de avaliação de sustentabilidade, porém segundo Meadows (1998), existem várias limitações na utilização de indicadores, e um dos principais problemas relacionados aos indicadores é a sua seleção. Um processo que leve à seleção de indicadores inadequados conduz a um sistema com problemas. Segundo Bossel (1999) a maioria dos indicadores relacionados à sustentabilidade não possui um sistema teórico conceitual que reflita a viabilidade e a operação do sistema total; eles normalmente refletem a experiência e os interesses de pesquisa dos especialistas. Desta maneira, os indicadores têm um aspecto ambíguo, são importantes e perigosos ao mesmo tempo, na medida em que estão no centro do processo decisório (BELLEN, 2002).

Bossel (1999) argumenta ainda que um dos sérios limitantes de indicadores de sustentabilidade é a perda de informação vital, já que é inerente ao mesmo ser o mais simples possível, criticando a abordagem que procura agregar toda a informação em apenas um índice, deixando na maioria das vezes de considerar todas as possibilidades, todas as vertentes e todas as influenciam que o indicador pode sofrer de agentes diversos (Bellen, 2002). Na vida real, segundo ele, é necessário mais do que um indicador para capturar os aspectos mais importantes de uma situação, e um indicador simples não é capaz de mostrar toda a realidade. Em contrapartida Meadows (1998) relata que alguns dos principais problemas referentes à escolha e utilização de indicadores é a superagregação que ocorre quando muitos dados são condensados num único índice, podendo levar a mensagens não interpretáveis.

Bossel (1999) afirma ainda que o fascínio contemporâneo acerca de indicadores únicos é decorrente da prevalência atual dos sistemas econômicos e suas relações com o desenvolvimento. A ação que os indicadores impulsionam está relacionada à discrepância entre os objetivos desejados e o estado percebido sobre o sistema. O estado percebido se refere ao indicador ou índice. Ele não pode ser medido precisamente, o indicador não mede o sistema atual, mas faz uma aproximação ou associação do mesmo. O indicador é uma medida do sistema no passado e possui ruídos, portanto é difícil de apurar sua tendência. Em vista disto, eles são, por vezes, extremamente densos em algumas áreas e esparsos ou inexistentes em outras áreas igualmente importantes. Os indicadores deste tipo não são sistemáticos e não refletem as interações entre sociedade e meio ambiente no sistema total (BELLEN, 2002).

A utilização de indicadores de desenvolvimento sustentável, segundo Jesinghaus (1999), envolve alguns desafios conceituais. Existem numerosos problemas de mensuração que a ciência não conseguiu resolver adequadamente. Isto abrange o desenvolvimento sustentável e sua avaliação, quando se depara com as questões metodológicas referentes ao que medir e como medir. Uma das questões principais da mensuração está em saber se um indicador deve ser quantitativo ou qualitativo para que se permita comparações. Este é um problema que tem demandado a atenção dos principais esforços internacionais para estabelecer (BELLEN, 2002).

Para Jesinghaus (1999) grande parte das dificuldades dos projetos de avaliação não se refere apenas a como medir, mas, sim, a como interpretar esta série de medidas e julgar sua significância para o sistema como um todo. Algumas metodologias de avaliação apenas fornecem uma série de indicadores sem utilizá-los para ligá-los à ação política. A interpretação dos dados é afetada tanto pelo sistema como pelo método, mas o resultado final depende do modo como o processo de medição é aplicado ao processo decisório mecanismos de mensuração (Bellen, 2002).

Outro problema é a mensuração do que é mensurável mais do que a medição do que é realmente importante, como exemplo, receitas ao invés de qualidade de vida. Também a dependência de falsos modelos que levam a resultados ambíguos como o problema da valoração monetária de recursos naturais não renováveis. Pode existir também a falsificação deliberada que ocorre quando um índice traz notícias negativas e pode-se deliberadamente alterar algumas definições metodológicas da coleta de dados. Bellen (2002), cita o exemplo do desemprego nos Estados Unidos da América que é baseado nas pessoas que, apesar de estarem desempregadas, estão procurando emprego “ativamente”. Outra questão importante é relativa ao desvio de atenção, com ferramentas e dados que deslocam o foco da observação dos atores envolvidos. Os indicadores também podem levar a sociedade a uma percepção falsamente positiva da realidade quando mal formulados ou baseados em modelos não confiáveis. Os indicadores não são a realidade, não são completos, e não contêm todos os elementos da realidade, com toda sua diversidade e possibilidades.

Bellen, (2002) considera as abordagens atuais são inadequadas uma vez que não analisam a totalidade dos problemas complexos, mais sim apenas partes de um todo. Para que a análise seja eficiente o autor propõem um modelo formal de análise deste sistema e de seus componentes, onde deve conter: a) A identificação de sistemas gerais relevantes ao desenvolvimento sustentável; b) A identificação dos indicadores e a viabilidade destes sistemas, através de uma abordagem adequada e ; c) a Reflexão de como utilizar as informações na avaliação da viabilidade e a sustentabilidade do desenvolvimento humano nos diferentes níveis da sociedade.

As diferentes metodologias utilizadas, bem como a escala aplicada pra mensuração apresenta-se como outro problema. Os dados referentes à sustentabilidade de um sistema apresentam-se de forma irregular entre diferentes programas e instituições. A maior parte dos dados e estatísticas colecionados durante o tempo foi desenvolvida em épocas anteriores ao surgimento do conceito de desenvolvimento sustentável. As técnicas analíticas, em sua quase totalidade, estão longe de serem adequadas, especialmente quando se lida com impactos cumulativos sobre o meio natural.

Outro aspecto refere-se à comparabilidade dos dados, mesmo que a maioria das questões relativas à sustentabilidade possa ser quantificada, elas não podem ser diretamente comparadas, como, por exemplo, as perdas na biodiversidade não podem ser comparadas aos ganhos econômicos. Sem dimensões compatíveis, a agregação e as comparações gerais continuarão sendo um problema para a avaliação de sustentabilidade (BELLEN, 2002).

O autor também evidencia que a análise comparativa no âmbito ambiental pode identificar sucesso ou falhas de intervenções políticas e chama a atenção para a carência de informações ambientais de qualidade no âmbito mundial. A dificuldade na obtenção de dados é problema recorrente, tanto no que se refere à mera disponibilidade dos mesmos, quanto à sua qualidade. A este respeito, Esty e Porter (2002) afirmam ser necessária a construção de mecanismos que assegurem o controle de qualidade dos dados e proporcionem algum grau de padronização, eliminando o risco de produção extensiva de dados com baixa capacidade de informação.

Uma dificuldade adicional deve ser ressaltada e se refere aos limites de recursos. Existem diversas limitações reais de recursos humanos, financeiros e de tempo para mensuração dentro de projetos de avaliação de sustentabilidade. Apesar disso, já é possível observar o estabelecimento de alguns critérios para a constituição do que venha a ser considerado um bom indicador. A OECD (1998) estabeleceu alguns critérios de seleção de indicadores de meio ambiente, sob três aspectos principais: relevância política, clareza analítica e mensurabilidade. Em todo o mundo, há um claro processo de desenvolvimento conceitual, metodológico e instrumental (BELLEN, 2002).

Considerações finais

Após análise de alguns métodos que pretendem “capturar” a sustentabilidade, é que a maioria destes se mostra inadequada para alcançar os propósitos fundamentais na avaliação de sustentabilidade. Ao analisar diversas propostas de índices e indicadores de sustentabilidade, observou-se problemas comuns aos indicadores até então construídos, tais como: ausência ou fragilidade da concepção conceitual, fragilidade dos critérios de escolha das variáveis representativas, falta de critérios claros de integração dos dados, baixa relevância dos dados utilizados.

Devido à falta de precisão em relação aos conceitos de sustentabilidade e qualidade ambiental, o processo de escolha dos dados e variáveis a serem utilizadas na mensuração dos referidos fenômenos é por muitas vezes obscuro, assim como o são as relações de causalidade que dão suporte aos sistemas de indicadores construídos. Muitos dos assim denominados sistemas de indicadores são muitas vezes meras listas de dados e variáveis. Por se tratarem de iniciativas isoladas, em geral restritas a um contexto local, a comparatibilidade dos indicadores e índices é geralmente baixa. A construção dos índices envolve ainda a complicação adicional de tornar comparáveis dados de diferentes fontes, produzidos a partir de escalas distintas, com cobertura e distribuição espacial e temporal diversas, levando à busca de formas alternativas e aproximadas para imputar dados faltantes e construir proxys adequadas e representativas de informações inexistentes.



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Ilustrações: Silvana Santos