Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Reflexão
14/06/2018 (Nº 64) UMA PROPOSTA PARA SERMOS MELHORES
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UMA PROPOSTA PARA SERMOS MELHORES



Esta proposta é uma reflexão para os tempos atuais que, cada vez mais complexos, demandam agilidade para não sermos reféns de nós mesmos, isto é, perdermos o corpo enquanto a cabeça acredita estar tudo bem. Vou procurar não cansar o leitor com muitas citações, sem desrespeitar as fontes e outros, para que, em sendo bem sintético, poder instigar a própria busca. Aquele que encontra seu tesouro dará o valor que outro nunca poderá dar.

A leitura de “A grande degeneração” do autor Nial Ferguson, trata sobre “a decadência do mundo ocidental”, e lá na página 56 cita: “Em seu livro Antifragile, Nassim Taleb (...) faz uma pergunta maravilhosa: qual é o oposto de frágil? A resposta não é ‘forte’ ou ‘robusto’, porque estas palavras simplesmente significam menos frágil. O verdadeiro oposto de frágil é ‘antifrágil’. Um sistema que se torna mais forte quando sujeito a perturbação é antifrágil. A questão é que a regulamentação deveria ser concebida para aumentar a antifragilidade. Mas a regulamentação que estamos observando atualmente faz o oposto: por sua própria complexidade – e objetivos muitas vezes contraditórios -, é pró-frágil.”

Uma imagem a partir deste excerto foi o das construções civis. Se os altos prédios fossem construídos fortes e robustos cairiam com qualquer vento. Existe um balanço, um ir e vir projetado. Observar bambus plantados para servirem de proteção é um exemplo natural. De uma natureza que tem muito mais inteligência acumulada em seus milhões de anos. Fica claro que ser forte e robusto não é o melhor.

Lembrando Darwin, “para apreciar a luta pela existência que acontece em toda parte, com base na observação contínua dos hábitos de animais e plantas, imediatamente me ocorreu que, nessas circunstâncias, as variações favoráveis tenderiam a ser preservadas, e as desfavoráveis, destruídas. Aqui, então, eu finalmente tinha uma teoria a partir da qual trabalhar”, como Ferguson no mesmo livro citado.

As variações favoráveis são preservadas, elas são antifrágeis. E a regulamentação deveria ser concebida para aumentar a antifragilidade. Pode parecer um salto confuso, no escuro, mas fará sentido. Quando Darwin observa, ele está atento ao concreto e as leis, teorias e regras são concebidas depois. Então, sempre será preciso e a natureza funciona assim, uma grande capacidade de variações, mutações, adaptações, por recursos sempre finitos.

Muitas espécies já existiram e pela não adaptação a novas condições não existem mais. O ciclo da vida, o nascer, se desenvolver e morrer. Um serve de alimento para o outro. A vida como nós a conhecemos funciona assim.

E o passo final, nossa legislação ambiental. Temos leis bem concebidas, como já ouvi muitas vezes, de primeiro mundo. Existem leis que até se antecipam e podem morrer na gaveta. As nossas leis também seguem ciclos. Muitas delas podem ser elaboradas, defendidas, votadas e nunca serem levadas a cabo.

Precisamos de uma legislação forte e robusta ou uma legislação que permita adaptações e ser antifrágil? Nossas leis são fortes e robustas e tem comprovado e tornado nossa vida cada vez mais frágil. Exemplos não vão faltar. Temos as leis, mas não somos implacáveis como a natureza na sua cobrança. Na natureza se você não se adapta a nova condição você simplesmente está fora. Não existe quem venha em socorro para amenizar a situação.

Assim, penso que ter menos leis será muito melhor se tivermos força na sua vigência e principalmente colocá-la em prática sem deixar espaço para manobras e outros que a tornem frágil e mesmo morta. Muitos vão ser contra, mas de que adianta contarmos as belezas se não podemos apreciá-las andando alguns quarteirões em nossas cidades.

Pegando um exemplo bem fácil de ser observado. Temos leis para resíduos sólidos das melhores e muitas pessoas ainda jogam lixo por aí, queimam na madrugada, jogam em barrancos de rodovia. Os rios e mares continuam sendo nossos lixões. Para não se indispor, muitos continuam em silêncio e são até capazes de pedir leis mais rígidas ainda.

Se quisermos existir mais um pouco, ou diminuímos nossa pressão sobre o ambiente, teremos que nos adaptar para viver na lixeira, isto se conseguirmos. Porque na natureza, outras espécies também competem por recursos finitos e estão buscando se adaptar e nenhuma delas com produção de lixo.

Claudio Loes

Ilustrações: Silvana Santos