Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Relatos de Experiências
05/03/2018 (Nº 63) ELABORAÇÃO DE HORTAS SUSTENTÁVEIS EM ONG VOLTADA A CRIANÇAS EM SÃO CARLOS (SP) COMO MÉTODO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
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ELABORAÇÃO DE HORTAS SUSTENTÁVEIS EM ONG VOLTADA A CRIANÇAS EM SÃO CARLOS (SP) COMO MÉTODO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL



Caio Lima Reis Souza¹. caiolrsouza@hotmail.com

Leticia Gasparin². leticiagasparini@hotmail.com

Lorenza Lana Volpe ³. lorenzalvolpe@gmail.com

Vitoria Albuquerque Bueno4. vitória_albuquerque@hotmail.com



1,2,3,4 Graduando em Gestão e Análise Ambiental na Universidade Federal de São Carlos – UFSCar.



RESUMO

O presente relato de experiência trata da elaboração de pequenas hortas sustentáveis com as crianças da Casa da Criança em São Carlos – SP como forma de ensinar e educá-las ambientalmente. A Casa da Criança é uma Organização Não Governamental que abriga crianças em situação vulnerável social ou economicamente durante o período diurno, realizando diversas atividades e aulas. A realização dessa horta procurou sensibilizá-las em relação a boas práticas ambientais de forma prática e que atrelasse o lazer ao ensinamento, sendo utilizado assim como método de educação ambiental. Conclui-se que essa ação educativa auxilia na formação da consciência ambiental da criança, proporcionando o desenvolvimento da vivência com o meio ambiente e sua preservação, bem como a formação de hábitos alimentares mais saudáveis.

Palavras-chave: horta, educação ambiental, sensibilização, Casa da Criança.



ABSTRACT

The present report of experience deals with the elaboration of small sustainable gardens with the children of Casa da Criança in São Carlos - SP as a way of teaching and educating them about the environment. Casa da Criança is a Non-Governmental Organization that shelters children in a vulnerable situation, socially or economically, during the daytime, performing several activities and classes. The realization of this garden sought to make them aware of good environmental practices in a practical way and that linked the leisure to the teaching, and used as well as a method of environmental education. The conclusion is that this educational action support the formation of environmental awareness of the child, providing the development of the experience with the environment and its preservation, as well as the formation of healthier eating habits.

Keywords: garden, environmental education, awareness, Casa da Criança.

INTRODUÇÃO

A educação ambiental é uma prática que vem ganhando reconhecimento e importância no cenário brasileiro. No final do século XX, com a Lei Nº 9795/99 – Política Nacional de Educação Ambiental, instituiu-se no art 1º que “entendem-se por Educação Ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente” (BRASIL, 1999).

A partir disso, a educação ambiental tem se configurado como um processo contínuo, que possui caráter provisório, porém resultados permanentes. Ela envolve a conscientização, percepção, planejamento e aprendizagem, os quais se interligam por uma via de mão dupla entre o educador e o educando, além da conexão com o meio circundante (GUISSO; BAIÔCO, 2017).

Em um mundo que possui um sistema econômico que se pauta na produção e consumo ilimitados, atrelado à rápida obsolescência dos produtos, gera-se uma produção exacerbada de resíduos sólidos, e a necessidade de uma mudança no pensamento e o costume de práticas como reciclagem e reutilização tem se tornado cada vez mais necessária (GUISSO; BAIÔCO, 2017).

A educação ambiental, assim, vem como maneira e método de tornar essa mudança de pensamento possível, visto que é um instrumento que desenvolve valores e fomenta a sensibilização de forma sutil e muitas vezes atrelada ao lazer, gerando uma consciência ambiental conjunta e disseminando o conhecimento. Se aplicada a educação infantil, torna-se muito mais eficiente e duradoura pois, visto que nessa fase do desenvolvimento os indivíduos ainda estão formando seu pensamento, é possível construir uma verdadeira ordem socioambiental composta pela ação-reflexão e uma conexão entre o ser humano e o meio ambiente como parte de um todo (TORRES, 2013).

A horta vertical feita com garrafa pet, utilizada para cultivo de pequenos vegetais e hortaliças e presas em paredes ou apoiadas em suportes, além de ser uma ferramenta pedagógica também é uma forma de diminuir os impactos ambientais, proporcionando a compreensão da necessidade de preservar o meio ambiente através do reaproveitamento de materiais descartáveis.

O reaproveitamento das garrafas pets gera uma redução dos impactos ambientais negativos causados por essas embalagens, visto que quando são descartadas de forma inadequada, ou seja, diretamente na natureza, as garrafas vão parar em corpos d’água, agravando a poluição hídrica e causando enchentes. Outra questão problemática relacionada às embalagens de PET diz respeito ao seu tempo de degradação, o qual demora mais de 100 anos para se decompor, podendo ocasionar até a perda de biodiversidade, uma vez que os animais consomem fragmentos de plástico ao confundir com comida, levando-os à morte.

A atividade de desenvolver uma horta vertical com crianças contribui para conscientizá-las a respeito da questão ambiental, pois a horta proporciona o exercício de respeito ao meio ambiente e um maior interesse no conhecimento e nas relações estabelecidas com o mesmo, levando a criança a vivenciar atitudes mais responsáveis para a construção de um mundo mais sustentável. Essa atividade também promove a construção de valores mais humanizados, boas atitudes, a percepção do cuidado e a sensibilidade necessária para a busca de soluções para os problemas ambientais.

Além da horta contribuir para uma consciência ambiental e sustentável, também incentiva uma modificação dos hábitos alimentares, proporcionando uma alimentação saudável, nutritiva e acessível a todos e, assim, uma melhor qualidade de vida às crianças.

O presente relato de experiência teve como objetivo ensinar as crianças da Associação “Casa da Criança” construírem uma horta vertical com garrafa PET, uma atividade relacionada à educação ambiental, de forma que elas se divirtam e adquiram conhecimento sobre a importância da horta vertical, um bem sustentável que visa ocupar da melhor maneira o espaço físico, materiais orgânicos e qualidade de vida.



DESENVOLVIMENTO

A Casa da Criança, criada pela Associação da Missão Evangélica de Assistência à Criança, é uma Organização Não Governamental, sem fins lucrativos e que tem reconhecimento municipal, estadual e federal. Foi fundada em 1994 a fim de atender crianças e adolescentes em situações de risco, ou seja, que sofrem agressão, maus tratos, abandono, rejeição e fome, crianças de rua e com desestrutura familiar.

A Casa tem dois períodos de atendimento: manhã ou tarde; sendo que em um período permanece na ONG e no contra turno deve estar matriculada e frequentando uma escola. Lá, as crianças lancham, almoçam, realizam atividades de higiene pessoal e, além disso, realizam atividades como o Projeto Leitura e o ensino da palavra do Senhor. Ademais, auxiliam no cumprimento de seus deveres, assegurando assim, seu desenvolvimento integral, convivência social e familiar.

Entretanto, para oferecer o serviço gratuito às crianças, a entidade depende de colaborações. Segundo o presidente da ONG, a manutenção da Casa só é possível devido às doações de pessoas físicas e jurídicas, que doam roupas, alimentos, produtos de higiene e de limpeza, móveis, materiais de construção, até mesmo mão de obra voluntária. Mas, apesar dessas doações serem de extrema importância, não são suficientes para dar continuidade ao projeto; assim, é necessário apoio dos Poderes Executivo e Legislativo, que contribuem com verbas.

Além disso, a Casa conta com iniciativas externas, vindas de escolas, universidades, outras entidades ou até mesmo de pessoas físicas, que aplicam suas pesquisas ou projetos com essas crianças, visando incrementar conhecimento, realizar novas atividades, trazer resultados para pesquisa pessoal e também, trazer novas experiências de convivência social. Assim, para a disciplina de Educação Ambiental, realizamos um projeto de elaboração de hortas sustentáveis com as crianças.

Neste projeto, visamos aplicar conhecimentos de sustentabilidade para com a construção da horta, utilizando os princípios da Educação Ambiental. Para isso, fornecemos os materiais que foram usados, são eles: garrafas pets, terra para plantio, mudas de variadas plantas (tomilho, alecrim, manjericão, hortelã, orégano e cebolinha), tesouras, estilete e bolinhas de isopor.

A atividade foi realizada no período de férias escolares, porém na Casa das Crianças há atividades no turno vespertino nessa época, funcionando como uma colônia de férias, onde os alunos praticam atividades lúdicas na maior parte do tempo, como assistir filmes, oficinas etc. Este fato foi bastante pertinente para a aplicação da atividade, pois a oficina de hortas verticais se encaixa como uma atividade lúdica em educação ambiental para crianças na faixa etária presente no local.

Todos os procedimentos realizados para fazer a horta com as crianças foram supervisionado pelos professores de lá, pois além de trabalharmos com materiais cortantes e que poderiam causar algum dano, também era necessário manter a ordem e acalmar os ânimos das crianças durante a aplicação da atividade.

Como uma introdução, foi feita uma explicação de maneira bem simplificada sobre a importância da reutilização dos resíduos (mais especificamente da garrafa pet), tratando de salientar os pontos positivos e utilidades para reuso, bem como dos impactos negativos no meio ambiente que o material em degradação pode causar.

A partir disso começamos a montar a horta vertical, distribuindo uma garrafa pet para cada criança e, com nossa ajuda e dos professores, elas cortaram ao meio com tesoura (Figura 1) e fizeram um furo na tampa que seria onde passaria a água proveniente da rega. Depois disso foram distribuídas quatro bolinhas de isopor para colarem dentro da garrafa (parte do bico) que serviria como um filtro, não deixando vazar terra junto com a água utilizado quando fosse regar. Posteriormente foram distribuídas as mudas (Figura 2), sendo uma para cada criança, e com nossa ajuda eles colocaram a terra para o plantio das mudas dentro das garrafas (Figura 3).


Figura 1. Processo de corte da garrafa ao meio


Figura 2. Colocação das mudas nas garrafas


Figura 3. Colocação de terra para cobrir a muda

Para finalizar foram feitas algumas explicações sobre a importância da utilização de hortas em casa, seja para consumo próprio, ou até então para comercialização. Além de uma explicação de como cuidar e manter a horta na garrafa.



CONSIDERAÇÕES FINAIS

A atividade de elaboração de uma horta sustentável auxilia na formação integral da criança, visto que a prática desenvolvida permite percepção educativa no âmbito ambiental com maior abrangência, desenvolvendo tanto a cidadania e a formação de hábitos alimentares saudáveis, quanto a preservação do meio ambiente.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Lei nº 9.795 de 27 de abril de 1999, Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 28 abril, 1999.

CAJAIBA, R. L. Horta orgânica escolar como contributo para desenvolvimento da educação ambiental em uma escola pública rural no município de Uruará–PA. In: Anais do IV Congresso Brasileiro de Gestão Ambiental, Salvador, BA. 2013.

Casa da Criança. Disponível em: <http://www.casadacriancasc.org.br/index.html>. Acesso em: 01 de fevereiro de 2017.

DANTAS, M. M. M.; GUIMARÃES, M. L. C.; ARNAUD, D. K. L. Produção de horta suspensa com utilização de garrafas PET. In: VII CONNEPI - Congresso Norte Nordeste de Pesquisa e Inovação. 2012.

LIMA, E. C. de. Horta Suspensa em Garrafas PET: uma alternativa para a Educação Ambiental e Sustentabilidade. In: III CONEDU - Congresso Nacional de Educação, 3., 2016.

GOMES, H. P.; MACENA, V. C.; CHAVES, S. G. Horta Vertical: estratégia para o destino de garrafas Pets e alimentação saudável. Cadernos de Agroecologia, v. 7, n. 2, 2012.

GUISSO, L. F.; BAIÔCO, V. R. M. A educação ambiental e o papel do educador na cultura da sustentabilidade. Educação Ambiental em Ação, n. 58, ano XV, 2017.

LIMA, A. S. D.; DUARTE, K, L, de S.; ARAÚJO, E. P. Confecção de uma horta vertical utilizando garrafa pet na Escola Estadual Clóvis Pedrosa, Cabaceiras-PB. In: V Congresso Brasileiro de Gestão Ambiental, 5., 2014.

SOUZA, C M. de. Promovendo aprendizagens significativas em Educação Ambiental através da horta. Monografia de conclusão de curso em Ciências Biológicas. Formosa: Universidade de Brasília / Universidade Estadual de Goiás, 2011. Disponível em: <http://bdm.bce.unb.br/bitstream/10483/2010/1/2011_CleideMariadeSouza.pdf> Acesso em: 28 de março de 2017

TORRES, M. B. R. A interface entre educação ambiental e gestão ambiental numa perspectiva das ciências sociais. REMEA-Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, v. 18, 2013.

Ilustrações: Silvana Santos