Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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26/01/2018 (Nº 62) CONCEPÇÕES PRÉVIAS DOS ALUNOS DO OITAVO E NONO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL ACERCA DOS ANFÍBIOS E RÉPTEIS
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CONCEPÇÕES PRÉVIAS DOS ALUNOS DO OITAVO E NONO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL ACERCA DOS ANFÍBIOS E RÉPTEIS

Fernanda de Fátima Souto Araújo1, Luciano de Brito Junior2, Marinaldo Magalhães Dantas3, Carolina dos Santos Guedes4

  1. Especializanda em Ecologia e Educação Ambiental, Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Saúde e Tecnologia Rural; fernandasoutobio@gmail.com

  2. Mestre em Zootecnia; Professor Assistente, Unidade Acadêmica de Ciências Biológicas, Centro de Saúde e Tecnologia Rural, Universidade Federal de Campina Grande; lbritojunior@gmail.com

  3. Mestrando em Ensino de Ciências e Matemática, Universidade Estadual da Paraíba; marinaldomagalhaesdantas@gmail.com

  4. Especializanda em Ecologia e Educação Ambiental, Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Saúde e Tecnologia Rural; Carol.guedes26@hotmail.com

RESUMO: O presente estudo teve como objetivos identificar quais são os conhecimentos prévios que os alunos do ensino fundamental têm acerca dos anfíbios e répteis; verificar quais os possíveis mitos relacionados a estes animais estão presentes no cotidiano escolar e social dos alunos e, mostrar aos discentes o papel ecológico desempenhado por estes animais no ambiente. O estudo foi realizado com alunos do 8º e 9º ano do ensino fundamental sendo aplicado um total de 100 questionários, o qual constou com perguntas objetivas e discursivas sobre a compreensão, imagem e os conhecimentos que os alunos têm acerca da biologia e importância da herpetofauna para o meio ambiente. Questões em escala de Likert também foram utilizadas baseadas em cinco níveis de concordância com as afirmativas. A pesquisa realizada demonstrou que os alunos analisados neste trabalho apresentam conhecimentos significativos referentes aos anfíbios e répteis, bem como aos mitos e crenças que permeiam esses animais. Os alunos também mostraram ter conhecimento acerca do papel ecológico e da importância destes animais no ambiente.

Palavras-chave: herpetofauna, mitos, crenças

ABSTRACT: Preliminary conceptions of eighth and ninth grade students on amphibians and reptiles. The present study had as objectives to identify the previous knowledge that elementary school students have about amphibians and reptiles; to verify the possible myths related to these animals are present in the school and social daily life of the students and, to show students the ecological role played by these animals in the environment. The study was carried out with 8th and 9th grade students, and a total of 100 questionnaires were applied, which consisted of objective and discursive questions about the students' understanding, image and knowledge about the biology and importance of the herpetofauna to the environment. Likert scale questions were also used based on five levels of agreement with the assertions. The research carried out showed that the students analyzed in this work present significant knowledge regarding amphibians and reptiles, as well as the myths and beliefs that permeate these animals. Students also learned to be knowledgeable about the ecological role and importance of these animals in the environment.

Keywords:herpetofauna, myths, beliefs

INTRODUÇÃO

Os conhecimentos adquiridos, durante a vida escolar podem contribuir para a tomada de consciência, construção de valores, e para a mudança de mentalidade e atitudes na vida adulta (NORONHA-OLIVEIRA, 2010). Desse modo, pode-se dizer que as escolas são espaços privilegiados para a implementação de práticas educativas relacionadas à Educação Ambiental (REIGOTA, 1994; ZEPPONE, 1996), pois, estabelece as conexões e informações, alem de condições que possibilitam e estimulam os alunos a aprenderem mais sobre o meio ambiente, tomando consciência da sua importância (LIMA, 2004).

Segundo Abílio (2008) a Educação Ambiental contribui para o surgimento de uma nova ética a qual está relacionada a mudanças de valores, atitudes e práticas tanto individuais quanto coletivas. Dessa forma a Educação Ambiental deve gerar mudanças de caráter urgente na qualidade de vida e de conduta pessoal, assim como harmonia entre os seres humanos e destes com outras formas de vida (CANDIANI, 2004).

A etnozoologia refere-se ao estudo dos conhecimentos, significados e usos dos animais nas sociedades humanas (OVERAL, 1990). Diz respeito ao conhecimento que o homem tem sobre os animais, dando ênfase aos processos de interação das sociedades com sua fauna local (POSEY, 1986; BEGOSSI et al. 2002).

Diversos autores têm abordado a ideia de que a falta de conhecimento que uma sociedade apresenta sobre determinadas espécies pode ser um contribuinte para o seu extermínio (POUGH et al., 2001, BARBOSA et al., 2007, BAPTISTA et al., 2008) principalmente aquelas caracterizadas como peçonhentas. De acordo com Moura e colaboradores (2010) a Educação Ambiental faz-se necessário, pois tem auxiliado na conservação da biodiversidade promovendo uma conscientização e reflexão a cerca da sua importância o que resulta na diminuição das espécies extintas resultante do pouco conhecimento destas e do seu papel na natureza.

Dentre as diversas razões que tem levado ao extermínio destas espécies pode-se dizer que a perseguição humana está entre as principais causas que tem colaborado com o declínio de diversos grupos de animais e que conforme mencionado por Ceríaco e colaboradores (2011), isso se deve a existência de um grande número de mitos, histórias e equívocos que foram criados acerca destes organismos.

A interpretação equivocada que se faz de certos organismos devido aos mitos e crenças associados a eles, somado a falta de conhecimento cientifico é uma problemática que segundo Souza & Souza (2005) deve ser trabalhada pelos professores de ensino fundamental e médio. Como os conhecimentos dos discentes em estudo a cerca desse grupo de animais influencia na preservação dos mesmos? Existe algum mito e/ou crença que fazem com que os alunos tenham alguma atitude adversa para com esses organismos?

Os conhecimentos gerados por meio da Educação Ambiental no ensino formal consistem em uma das principais ferramentas que gera uma mudança efetiva, permitindo aos discentes terem um olhar crítico e, consequentemente, atitudes mais conscientes para com os organismos que compõem a herpetofauna. Diante disso, pode-se dizer que a educação tem a capacidade de promover valores, pois, trata-se de um processo que resulta na transformação do sujeito em relação a sua forma de ser e de atuar no mundo (MEDEIROS et al., 2011).

Com o intuito de contribuir para uma melhor aprendizagem e conscientização, visando uma melhor compreensão acerca da importância destes animais em estudo, este trabalho contribui para o esclarecimento a respeito de questões relacionadas à herpetofauna, uma vez que há muitas ideias e mitos relacionados a estes animais.

O presente estudo teve como objetivos: a) identificar quais são os conhecimentos prévios que os alunos do ensino fundamental têm acerca dos anfíbios e répteis, b) verificar quais os possíveis mitos relacionados a estes animais estão presentes no cotidiano escolar e social dos alunos e c) mostrar aos discentes o papel ecológico desempenhado por estes animais no ambiente visando uma mudança de comportamento e atitude dos mesmos para com este grupo de animais.

METODOLOGIA

Área de estudo

O estudo foi realizado no segundo semestre do referente ano, com alunos do 8º (Turmas “A” e “C”) e 9º ano (Turmas “A”, “B” e “C”) do ensino fundamental da Escola Municipal de Ensino Fundamental e Médio Profª Fildani Souto Gouveia (Figura 1), localizada no município de São Mamede, Paraíba. A escola é composta em sua totalidade por 352 alunos abrangendo alunos de diferentes faixas etárias e de situação econômico-social.

Figura 1. Escola Municipal Profª Fildani Souto Gouveia, localizada no município de São Mamede/PB, onde o estudo foi realizado. Fonte: http://escolafildanigouveia.blogspot.com.br/

Análise dos dados

Esta pesquisa apresenta natureza quali-quantitativa. Com o intuito de investigar os conhecimentos prévios dos alunos acerca da herpetofauna foi aplicado um total de 100 questionários (pré-teste) a alunos do 8º e 9º ano o qual constou com perguntas objetivas, e discursivas sobre a compreensão, imagem e os conhecimentos que os alunos têm acerca da biologia e importância da herpetofauna para o meio ambiente.

Questões em escala de Likert também foram utilizadas baseadas em cinco níveis de concordância com as afirmativas: 1 (discordo completamente), 2 (Discordo em grande parte), 3 (Indiferente), 4 (Concordo em grande parte) e 5 (Concordo completamente) para questões positivas. Já para as questões negativas as afirmativas se invertem: 1 (Concordo completamente), 2 (Concordo em grande parte), 3 (Indiferente), 4 (Discordo em grande parte) e 5 (Discordo completamente). A aplicação dos questionários teve duração de 30 minutos, o qual se exigiu total individualidade por parte destes quanto as suas respostas.

O uso de questionários possibilitou quantificar e qualificar o conhecimento e as concepções prévias dos alunos a respeito do assunto. Os dados dos questionários em escala de Likert foram contabilizados e transferidos para planilhas no Excel e a análise dos dados foi realizada com o programa Statistical Package for the Social Science V.20 para Windows, os quais foram transformados em gráficos para uma melhor compreensão. Já as respostas às perguntas discursivas foram analisadas e utilizadas nas palestras, a fim de promover uma maior comunicação com os alunos.

Após a aplicação dos questionários foram feitas palestras visando mostrar aos alunos o papel ecológico que estes animais (anfíbios e répteis) desempenham no ambiente, buscando desmistificar os mitos e crenças existentes relacionados à herpetofauna. As palestras tiveram duração de cerca de 90 minutos (duas aulas) e contou com o uso de data show o que permitiu aos alunos conhecerem e aprenderem mais sobre os animais em estudo. Foi promovidas discussões durante as palestra no qual o alunado pode fazer seus questionamentos, esclarecendo as dúvidas e/ou curiosidades existentes acerca destes animais.

Para avaliar o grau de confiabilidade do trabalho foi feito a aplicação do coeficiente Alfa de Cronbach. Através do programa (Statistical Package for the Social Science V.20 para Windows) foi gerado a média, mediana e moda total referente aos 100 questionários aplicados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foi entrevistado um total de 100 alunos pertencentes às séries do 8º e 9º ano do ensino fundamental II dos turnos da manhã e tarde. Destes, 45% cursam o 8º ano (A/C) e 55% cursam o 9º ano (A/B/C). Quanto ao sexo dos entrevistados, 46% são do sexo masculino e 54% do sexo feminino, residindo, a maioria (77%) na zona urbana. A faixa etária dos entrevistados variou entre 13-19 anos como mostra a Figura 2.

Foi observado que durante a aplicação do questionário os alunos mostraram sentir dificuldade para responder perguntas básicas como, por exemplo, Quem são os repteis?” (Questão 1) e “Quem são os anfíbios?” (Questão 2). Essa dificuldade de o aluno expressar seus conhecimentos também foi observada por Oliveira & Silva-Santana (2015) em seu trabalho que avaliou a percepção dos alunos acerca dos anfíbios. Este trabalho objetivou-se em analisar os conhecimentos prévios dos alunos acerca da fauna de anfíbios e répteis e a dificuldade em responder tais questões mostra a carência do ensino e aprendizagem do aluno nas aulas de ciência.

Figura 2. Faixa etária dos alunos entrevistados (n=100) nas turmas do oitavo e nono ano do ensino fundamental da E.E.E.F.M. Fildani Souto Gouveia, munícipio de São Mamede, Paraíba.

Quanto às questões objetivas, foi perguntado inicialmente aos alunos “Quem são os répteis?” (Questão 1) e “Quem são os anfíbios?” (Questão 2). Na primeira questão, 62% dos alunos acertaram corretamente ao assinalarem como exemplo as cobras, lagartos, tartarugas e jacarés. No entanto, a diferença entre anfíbios e répteis parece não ser clara entre os alunos, o que pode ser explicado pelo fato de 25% dos entrevistados terem marcado os sapos, rãs e pererecas como sendo exemplos de répteis.

Na segunda questão, 47% dos alunos acertaram corretamente quem são os anfíbios, entretanto também houve confusão entre os alunos em identificar estes animais, dos quais, 16% confundiram-nos com outros grupos de animais, como invertebrados e até mesmo moluscos ao assinarem como exemplo de anfíbios a alternativa que trazia minhocas e lesmas como exemplo; 12% consideraram tartarugas como exemplo de anfíbios; 14% indicaram tartarugas, jacarés, lagartos e serpentes como sendo anfíbios e 11% não souberam responder a esta questão.

Essa confusão também foi registrada em outros trabalhos (VILELA et al., 2009; LUCHESE, 2013; OLIVEIRA & SILVA-SANTANA, 2015) onde os alunos mostraram dificuldade em relação aos conteúdos de zoologia, uma vez que, não souberam distinguir corretamente estes grupos de animais, o que de acordo com Oliveira & Silva-Santana (2015) se deve à escassez de informações a respeito destes animais. Todavia, não se pode negar a possibilidade de estes alunos não saberem a categoria taxonômica correspondente a todos estes animais, o que mais uma vez ressalta a deficiência no ensino e/ou assimilação dos mesmos.

Ao perguntar ao aluno a frequência com que ele via algum desses animais (cobra, sapo, lagarto, jacaré) ou qualquer outro réptil ou anfibio, 34% responderam ver esses animais sempre; 33% vêem ocasionalmente; 30% vêem raramente e apenas 3% relataram nunca ver esses animais, o que pode significar um erro na compreensao e/ou interpretação da questão por parte do aluno (Figura 3).

Também foi perguntado, na questão, onde eles avistavam esses animais e 52% dos entrevistados disseram encontrar esses animais na rua; 32% os viam nos sítios e 16% afirmaram os encontrarem nas suas residências ou próximo a ela. Alguns alunos responderam, ainda, que esses animais podiam ser encontrados nas trilhas”, em qualquer canto”,nos becos mais escuros e molhados”, nos rios e matas fechadas”, no mato” e em terrenos baldios”.

Figura 3. Frequência com que os alunos vêem os animais referentes a herpetofauna (Questão 3).

Na questão quatro foi perguntado aos alunos o que estes faziam quando avistava algum desses animais (anfíbios e/ou répteis). Nesta questão mais de uma alternativa poderia ser marcada caso o aluno quisesse. Supondo eventuais encontros, as alternativas que tiveram o maior número de citações foram: fica observando de longe” (n=42); nada” (n=36); sente medo” (n=22) e foge” (n=20) (Figura 4). A maioria dos entrevistados (73%) não demonstrou comportamento agressivo para com estes animais.

Dos entrevistados, apenas nove alunos afirmaram matar algum desses animais caso o avistassem. Quando perguntados o porquê dessa atitude estes deram a entender que se referiam as serpentes, o que mostra que eles consideram todas as serpentes como sendo peçonhentas. Essas percepções equivocadas somadas aos conflitos existentes entre o ser humano e serpentes estimulam atitudes negativas que resulta, muitas vezes, no abate desses animais, conforme sugere Fernandes-Ferreira e colaboradores (2011).

Figura 4. Atitudes e reações dos entrevistados mediante o avistamento de anfíbios e/ou répteis (Questão 4).

Esse número embora pequeno ainda é algo a se preocupar, pois a falta de compreensão sobre estes animais contribui para o seu desaparecimento e redução na população. A aversão as serpentes também foi registrado por Silva (2013) a qual trata deste problema como algo comum na região Nordeste, onde a maioria das pessoas demonstra certo desprezo e possuem uma ideia equivocada a respeito destes animais.

Alguns animais como é o caso dos sapos, cobras, alguns invertebrados, como aranhas, baratas e outros, são erroneamente “classificados” como feio, nojentos, perigosos, nocivos a saúde humana, etc. Essa separação entre o que é “feio” e “bonito” tem alterado a ordem natural, onde o organismo mais bem adaptado sobrevive em dado lugar, ao que Santos (2000) considera como sendo uma nova lei: a dos animais mais bonitos e/ou atrativos. Para Razera e colaboradores (2007) essa seria a seleção artificial, fruto da ação e interferência humana sobre as comunidades.

A maioria dos alunos quando indagados do porquê de sentirem medo ou o porquê de fugirem desses animais responderam sinto nojo” o que corrobora com o pensamento citado anteriormente. Isso faz com que diversos animais corram o risco de entrarem em extinção, pela falta de conhecimento da população e principalmente no ensino escolar a respeito da importância (ecológica, socioeconômica, etc.) destes animais para o meio ambiente. Segundo Oliveira & Silva-Santana (2015) esse ato de sentir nojo está fortemente relacionada aos conhecimentos populares e as experiências que são transmitidos ao longo das gerações, sendo fortalecidos pelas crenças e mitos muitas vezes associados ao folclore.

Na questão cinco foi perguntado aos alunos: “Às vezes durante a noite, ou até mesmo de dia, é possível ouvir anfíbios cantando, você sabe por quê?” Nessa questão o aluno poderia (se assim julgasse correto) marcar mais de uma alternativa. Apenas duas alternativas estavam corretas: i) “machos cantam para atrair as fêmeas” e v) “machos cantam para marcar território”. Cerca de 52% dos alunos acertaram ao marcar a alternativa i, mas apenas 8% marcaram a segunda alternativa corretamente. Dos entrevistados, 14% não sabiam que os anfíbios podiam cantar (Figura 5).

Em seu trabalho com alunos do ensino fundamental, Stahnke e colaboradores (2009) relataram que cerca de 55,4% dos entrevistados (n=231) nunca ouviram o canto de um anfíbio anuro. Tendo em vista o alto índice de erro acerca do canto dos anfíbios nesse trabalho, pode-se supor que poucos alunos têm conhecimento sobre a vocalização, nesse caso sobre o canto territorial e, a biologia reprodutiva dos anfíbios.

Figura 5. Conhecimento acerca da vocalização dos anfíbios por alunos do oitavo e nono ano do ensino fundamental da E.E.E.F.M Profª Fildani Souto Gouveia em São Mamede, Paraíba. Legenda: a) machos cantam para atrair as fêmeas; b) fêmeas cantam para atrair os machos; c) não sabia que os anfíbios podiam cantar; d) para se localizar por ecolocalização, igual aos morcegos e golfinhos; e) machos cantam para marcar território (Questão 5).

No que diz respeito à questão seis Muitos anfíbios, lagartos e cobras são bem coloridos, por quê?”, mais de uma alternativa poderia ser escolhida pelos entrevistados. As alternativas verdadeiras consistiam nas letras icomo camuflagem dependendo do ambiente em que estiverem”, iii para afastar os predadores, mostrando que podem ser perigosos” e, v geralmente só o macho é colorido para atrair a fêmea”.

Um total de 49% (n= 88) marcou a alternativa i, outros 41% (n=73) dos alunos entrevistados marcarem a alternativa iii e apenas 7% (n=12) marcaram a alternativa v como sendo verdadeira (Figura 6). Isso mostra que os alunos possuem um bom conhecimento acerca dos mecanismos de camuflagem, aposematismo e mimetismo que dizem respeito a esses animais, porém demonstraram ter pouco conhecimento no que se refere ao dimorfismo sexual existente entre diversas espécies.

O fato de nem todos os entrevistados acertarem essa questão pode estar relacionada ao fato de os alunos conhecerem pouco sobre o aposematismo, mimetismo e dimorfismo sexual entre as espécies estudadas neste trabalho e o fato de associarem o padrão de coloração a camuflagem demonstra que ainda há confusão a respeito dos termos e seus respectivos significados.

Luchese (2013) em seu trabalho sobre a herpetofauna no ensino fundamental em Bento Gonçalves mostrou, também, uma baixa porcentagem de alunos que acertaram a esta questão e, de acordo com a autora isso se deve ao fato destes conceitos fazerem parte de assuntos abordados no ensino médio, sendo, portanto, desconhecido entre os alunos no nível escolar em que se encontram.

Figura 6. Conhecimento sobre a coloração de anfíbios e répteis por alunos do oitavo e nono ano do ensino fundamental da E.E.E.F.M Fildani Souto Gouveia em São Mamede, Paraíba. Legenda: a) como camuflagem dependendo do ambiente em que estiverem; b) para serem admirados pelas pessoas; c) para afastar os predadores, mostrando que podem ser perigosos; d) para serem usados como animais de estimação; e) geralmente só o macho é colorido para atrair a fêmea (Questão 6).

O coeficiente de Cronbach foi de 0,277, o que indica que houve uma considerável significância para um pré-teste de 12 questões em escala do tipo Likert. Medidas como média, mediana e moda também foram feitas para os 12 itens em escala do tipo Likert (Tabela I).

Tabela I. Média, mediana e moda equivalente as doze questões da escala de Likert.

A análise dos dados em escala de Likert mostrou que a maioria dos alunos possui conhecimento sobre os anfíbios e répteis. Quando perguntado se os alunos achavam esses animais feio (questão 7), 66% não concordaram com essa afirmativa. O fato de nem todos discordarem com essa afirmativa talvez se deva ao fato de que animais tais como os citados nesse trabalho são em sua maioria, considerados por muitos como feios, nojentos, transmissores de doenças, perigosos, venenosos, sujos etc., dificultando a compreensão acerca de sua importância não sendo, pois, considerados “dignos” de sobreviverem (SANTOS, 2000).

Dos entrevistados, 62% disseram conhecer a utilidade desses animais (questão 8) bem como a importância (ecológica, cultural, econômica ou médica) destes no meio ambiente (questão 9; 67%). O fato de alguns animais não possuírem uma “utilidade aparente” para o ser humano é de acordo com Araújo e colaboradores (2011) e Santos & Bonotto (2012) decorrência da maneira como estes animais são apresentados nos livros didáticos de Ciências que acabam classificando os animais em úteis ou nocivos. Essa classificação pode levar ao aluno a entender que estes animais nocivos não possuem importância na natureza, devendo assim ser eliminados.

Embora 55% dos alunos terem afirmado sentir medo desses animais (questão 11), cerca de 87% afirmaram que gostariam de conhecer mais a respeito dos anfíbios e répteis (questão 10), o que pode ser explicado pelas dúvidas e curiosidades que foram levantadas pelos alunos no momento da ministração da palestra.

Os alunos levam seus conhecimentos prévios para a sala de aula e, por isso, cabe aos professores entenderem a realidade em que seus alunos se encontram e compreender que de acordo com sua cultura, cada um traz um pouco de seu entendimento para a sala de aula (DELIZOICOV; ANGOTTI; PERNAMBUCO, 2002, p.84). O modo como o alunado vêem os animais, em especial o grupo em estudo, influencia em suas atitudes para com os mesmos, o que pode levar a uma aproximação ou repúdio a esses organismos.

A variedade de mitos, lendas e crendices relacionadas à herpetofauna são oriundas da assimilação de fatos e equívocos observados pelos antepassados e que são repassadas ao longo das gerações por meio da cultura popular, o que contribuem para que as pessoas se distanciem desses animais, em especial dos ofídios (serpentes) impedindo-os de aprenderem a respeito do papel ecológico que estes desempenham no ambiente, comprometendo, assim, a relação da espécie humana com estes animais (FERNANDES-FERREIRA et al., 2011).

Neste trabalho observou-se que os alunos conhecem os mitos e crenças existentes a esses animais, porém, a grande maioria dos alunos (69% e 88% - Questões 12 e 15 respectivamente) não concordou com tais ideias.

CONCLUSÕES

A pesquisa realizada demonstrou que os alunos analisados neste trabalho apresentam conhecimentos significativos referentes aos anfíbios e répteis, embora haja confusão em identificar corretamente os dois grupos de animais aqui mencionados.

Verificou-se, também, que o alunado está ciente e tem conhecimento dos mitos e crenças que permeiam esses animais, contudo, a grande maioria não toma como verdadeiro as ideias criadas em torno desses animais.

Pode-se observar que os alunos mostraram ter conhecimento acerca do papel ecológico e da importância destes animais no ambiente e que as palestras ministradas em sala de aula contribuíram para ressaltar esse conhecimento que por vezes é esquecido, levando informações sobre os procedimentos que devem ser tomados no contato com os mesmos.

A educação ambiental é uma ferramenta importante no ensino formal, uma vez que contribui para que concepções errôneas, nesse caso relacionadas à herpetofauna sejam mudadas. Assim, espera-se que tais conhecimentos obtidos através destas palestras resultem em uma mudança de comportamento e atitude para com estes grupos de animais, tendo em vista a sua importância nos diversos ecossistemas.

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Ilustrações: Silvana Santos