Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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26/01/2018 (Nº 62) A ESCOLA PREPARANDO A SUSTENTABILIDADE. ESTUDO SOBRE A PRÁTICA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM UMA ESCOLA MUNICIPAL NO MUNICÍPIO DE NOVA MAMORÉ
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A Escola preparando a Sustentabilidade. Estudo sobre a prática da Educação Ambiental em uma escola municipal no município de Nova Mamoré

FEITOSA, Monica Gomes Monteiro1; MORET, Artur de Souza2;BRANDÃO JAQUELINE3; LYRA, Jussilaine4

1Professora, Fundação Universidade de Rondônia – monica.gomes@unir.br;

2Professor titular, Fundação Universidade de Rondônia – amoret@unir.br;

3Discente DACA, Fundação Universidade de Rondônia – jaquelinejbm22@gmail.com;

4Mestranda, PGDRA da Fundação Universidade de Rondônia – jussilainelyra@gmail.com.

RESUMO

A pergunta deste artigo perpassa pela compreensão de como segue a atuação da escola na Educação Ambiental, partindo do pressuposto de que a visão (visão de desenvolvimento) dos gestores da Escola interfere na atuação da Escola. Para se chegar aos resultados foram aplicados questionários com os gestores de uma escola na cidade de Nova Mamoré, Estado de Rondônia. Esta cidade é um polo importante de análise, porque seu território tem muitas áreas de reserva (Indígenas, Extrativistas e Ambientais), faz parte da bacia Amazônica e é vizinha do município de Guajará-Mirim, fronteira do Brasil com a Bolívia, bem como nos últimos tempos figurou como um dos municípios que mais desmatou na Amazônia. Portanto, a implementação da Educação Ambiental pode servir de referência ou não para o Desenvolvimento equilibrado daquele território. Da mesma forma, o grau de implementação da Educação Ambiental serve para demonstrar a baixa capacitação dos professores no tema, o baixo interesse político dos órgãos de gestão com a Educação Ambiental e, sobretudo, que a sociedade não tem preocupação com o Meio Ambiente.

Palavras-chave: Educação Ambiental; Amazônia; capacitação de professores.

ABSTRACT

The question of this article is based on the understanding of how the school operates in Environmental Education, starting from the assumption that the vision (development vision) of the School administrators interfere in the performance in the School. In order to arrive at the results, questionnaires were applied with the managers of a school in the city of Nova Mamoré, State of Rondônia. This city is an important pole of analysis, because its territory has many reserve areas (Indigenous, Extractive and Environmental), is part of the Amazon basin and is neighboring the municipality of Guajará-Mirim, border of Brazil with Bolivia, as well as recent times figured as one of the most deforested municipalities in the Amazon. Therefore, the implementation of Environmental Education can serve as a reference or not for the balanced Development of that territory. Likewise, the degree of implementation of Environmental Education serves to demonstrate the low capacity of teachers in the subject, the low political interest of the management bodies with Environmental Education and, above all, that society has no concern for the Environment.

Keywords: Environmental Education; Amazônia; Teacher training.

1- INTRODUÇÃO

O Desafio da implementação da Educação Ambiental- EA é grande, seja porque as instituições que devem/poderiam ser as precursoras não tem ferramentas institucionais e metodológicas e, tampouco, vontade políticas para tal. Na Amazônia não deveria haver dificuldade para a inserção de ações ambientais, sendo a Educação Ambiental uma importante ferramenta para a formação escolar e da sociedade, isso porque a Amazônia aos olhos do mundo é um ambiente importante. Entretanto, no Brasil a Amazônia é vista como um local pulsante e com muitos recursos naturais que precisam ser utilizados e gerar riqueza, demonstrado pelo desmatamento que acontece há décadas e a introdução de atividades agrícolas que precisam de grandes extensões de terra (desmatamento), produzem impactos ambientais pela monocultura (contaminação ambiental) e consequente perda de biodiversidade.

Este texto aborda a relevância e o papel da Educação Ambiental no processo formativo numa escola da Amazônia. Como relevância se entende o que e como as instâncias oficiais ligadas a Educação (Secretarias Estaduais e municipais) desenvolvem ações visando a implementação da Educação Ambiental nas escolas; bem como, quais a ações que a Escola, como ente de formação institucionalizado, desenvolve em EA. Como processo formativo entende-se quais as capacitações que os professores tem no tema Educação Ambiental.

Os resultados mostram que não há nenhuma preocupação com a Educação Ambiental nas Instituições oficiais que se ocupam da Educação, entretanto no âmbito escolar há preocupação e ações esparsas sejam desenvolvidas, mesmo essas tenham pouco resultado efetivo no que tange a EA. Algumas explicações podem ser dadas para as falhas na formação de professores, a mais usual é a baixa importância que as Universidades/faculdades dão ao tema Educação Ambiental, a segunda pode ser a falta de interesse político dos gestores frente a Educação Ambiental, entretanto há uma terceira justificativa que é a relação entre a sociedade e a questão ambiental na Amazônia, ou seja, a sociedade não se importa com a questão ambiental porque vê a Amazônia como área de ampliação de negócios com uso dos recursos naturais disponíveis sem se importar com a perda da Biodiversidade; mais grave é a situação em alguns locais da Amazônia (caso do município onde foi realizada a pesquisa) que histórico de desmatamento acelerado transformando floresta em área de pastagem.

O texto está dividido em três partes que se complementam visando chegar a resposta a indagação do texto: como está a atuação da escola na Educação Ambiental. A primeira parte é a conceituação da Educação ambiental, seguindo pela apresentação dos procedimentos metodológicos para a realização da pesquisa e por fim a apresentação dos dados da pesquisa realizada.

2 - BREVE CONCEITOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

A compreensão da Educação Ambiental como conceito e prática é complexa, e entendo como complexa a concepção de Morin (2015), onde não há apenas uma variável ou ator que tenha influência no território seja o delimitador do conceito. Seja porque a Educação não é um conceito e prática inerte, tampouco inercial no sentido Físico da Lei de Newton, ou seja, à Educação é necessária a constante crítica do e no campo (MORET, 1994) que atua, visando não permanecer no estado de repouso, ou como diz no jargão popular na zona de conforto.

A Educação Ambiental não é desconectada da Educação, tampouco um campo distinto, mas sim uma categoria capaz de mirar com mais detalhe a prática conectada com o ambiente. Entretanto, a definição para a Educação Ambiental proposta por Luz e Tonso (2015) dá a dimensão desse campo científico:

a compreensão e superação das questões ambientais tem componentes indissoluvelmente relacionados à Educação, em especial à Educação Ambiental. Assim, educar ambientalmente implica a mobilização de estratégias para criar as condições para a formação, individual e coletiva, de sujeitos autônomos e emancipados, a partir de uma visão de mundo sobre a qual os danos ambientais e as degradações da vida humana têm uma mesma origem, qual seja, uma mesma concepção de mundo, de desenvolvimento e de progresso humano baseados em valores como o materialismo, o individualismo, a competitividade, o mecanicismo, a fragmentação dos saberes, entre tantos que fundamentam a sociedade de consumo atual (LUZ e TONSO, 2015; p.2).

Dentro dessa concepção complexa da EA, buscar o perfil da atuação requer um arcabouço também complexo pelas multiplicidades de variáveis medidas ou não. Entretanto, fazer esforços para isso é um desafio científico que merece ser encarado pelos cientistas, entendo que este ator (Cientista) seja aquele que seja capaz de entender a complexidade e apresenta-la. Um dos desafios é buscar a medição do perfil através de indicadores diretos da EA (Quadro a seguir) ou aqueles indiretos que compõem as concepções: de mundo, de desenvolvimento e de progresso. Assim, fica explícito o caráter complexo da Educação Ambiental (EA) como influência da visão de mundo, não apenas do indivíduo como agente social, mas sobretudo do modus operandis da sociedade, princípios e valores, ou seja, entendendo a sociedade como a união de todos os atores que tem ou não interesses na EA. Da mesma forma, buscando Freud (1921, p.42) que destacou: “...é preciso se recordar em primeiro lugar da constatação feita pela psicologia moderna de que os fenômenos inconscientes desempenham uma papel preponderante não apenas na vida orgânica, mas também nas funções intelectuais.”. Esses fenômenos inconscientes aparecem nas visões de mundo, efetivando-se nas práticas dos atores, principalmente os gestores dos territórios, entretanto há estreita relação entre as ações dos gestores e os anseios da sociedade, seja porque os dois requerem que haja/surja/exista desenvolvimento no Território e os recursos naturais devem ser o insumo para chegar a isso; esse fato é mais evidente em Territórios que tem migração mais recente, como é o caso da Amazônia e, sobretudo, Rondônia.

Quadro 01: Indicadores da Educação Ambiental

Indicador

Parâmetro

a compreensão sobre as origens ou as causas dos problemas ambientais.

explica a questão ambiental como resultados da relação intrínseca entre o modo de produção e consumo e os processos de degradação ambiental

a articulação da dimensão técnica com a dimensão social.

relaciona as disciplinas do conhecimento ou o saber científico com o saber popular ou não científico

a participação dos educandos na escolha dos saberes e conteúdos

prioritários

o fato dos participantes apontarem suas prioridades e desejos de aprendizagem, bem como os métodos para tal, é um mecanismo para a transformação, a autonomia e emancipação porque posiciona o conhecimento no interior da vida e aponta para a vida cotidiana, a realidade social concreta do indivíduo ou do grupo.

os conteúdos do trabalho pedagógico que dialoguem com a realidade socioambiental local.

reconhecimento das características locais, das especificidades culturais, produtivas, organizacionais, por meio de um mapeamento ou diagnóstico

a identificação dos educandos com a comunidade a que pertencem

a criação e o fortalecimento de laços comunitários aparece como uma estratégia para romper com o individualismo

a ação coletiva

a relação com o outro, individual e coletivamente, é um mecanismo pedagógico que permite aumentar a capacidade de criação solidária do conhecimento, por meio de uma construção baseada na troca, multiplicando os saberes dos grupos presentes

o papel da avaliação na ação educativa

a avaliação pode ser entendida como um mecanismo de reflexão sobre a prática, e essa reflexão, por sua vez, um meio para fornecer elementos para melhorar a prática,

Fonte: Luz e Tonso, 2015.

Segundo Layrargues (2009) a educação ambiental é aquela que articula a discussão da relação entre o ser humano e a natureza inserida no contexto das relações sociais. É aquela que propicia o desenvolvimento de uma consciência ecológica no educando, mas que contextualiza seu projeto político-pedagógico de modo a enfrentar também a padronização cultural, exclusão social, concentração de renda, apatia política, além da degradação da natureza: “o contexto (político, cultural, socioeconômico) desponta como elemento estruturante para ressignificar o atributo ambiental a não ficar reduzido à sua dimensão natural” (LAYRARGUES, 2009, p. 23).

Há uma forte corrente na Educação que impõe a Educação Ambiental (EA) na Escola como forma de introduzir o Meio Ambiente no conceito formativo e valorizá-lo, ou seja, há um arcabouço legal que formaliza esta obrigatoriedade.

A EA é totalmente amparada por leis, nos mais diversos fatores, aqui serão citados apenas alguns fragmentos legais que estão relacionados à Educação Ambiental formal e não formal. Desde a Constituição Federal de 1988, a lei 9.795/99, é considerada um marco importante da história da Educação Ambiental no Brasil, também a Lei nº 9.795 de abril de 1999:

Art. 1.ºEntende-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.

Art. 2.º A educação ambiental é um componente essencial e permanente da

educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal.

Outro foco da Educação Ambiental, que busca a formação do sujeito de forma continuada, e que se insere dentro do todo e qualquer sistema escolar, que então chamamos de Educação Ambiental Formal. Segundo lei 9.795/99 entende-se por educação ambiental formal e não formal: Art. 9º Entende-se por educação ambiental na educação escolar as desenvolvidas no âmbito dos currículos das instituições de ensino públicas e privadas, englobando: I - educação básica: a) educação infantil; b) ensino fundamental e c) ensino médio; II - educação superior; III - educação especial; IV - educação profissional; V - educação de jovens e adultos. A mesma lei, em seu Art. 10 garante que: “a educação ambiental será desenvolvida como prática educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal.” Os acontecimentos atuais relacionados ao meio ambiente promovem discussões e debates em diversas esferas. A educação ambiental na educação infantil é primordial, pois uma das funções da escola é formar cidadãos críticos, na idade pré-escolar a criança está formando os seus valores e conceitos.

a criança na idade pré-escolar encontra-se em formação inicial de seus conceitos e valores [...], identificando-se e envolvendo-se com sua realidade. Nesse sentido, torna-se essencial que a educação ambiental crítica, dialógica, já faça parte da sua realidade, para que a criança possa criar e se expressar nessas relações, ampliando sua rede de relações e sua visão de mundo [...]”. (RODRIGUES, 2011; p.177).

A escola tem relevância significativa na formação de uma consciência crítica do discente, de uma consciência ambiental, portanto deve fazê-la de forma que desenvolva o cognitivo e o afetivo juntos, para que provoque na criança um sentimento em relação ao meio, para que ele sinta-se incomodado. As experiências de cada um, a realidade das crianças, devem ser consideradas, para que tenham a possibilidade de debater, refletir e entender as questões ambientais. As atividades a serem trabalhadas devem ter planejamento prévio, objetivos claros. Deve ser desafiadora e problematizadora, de modo que busque proporcionar a descoberta, a criatividade, a produção e a construção do conhecimento pela criança. (RODRIGUES, 2011). Os professores devem programar atividades periódicas relacionadas com educação ambiental e não apenas esporádicas, ou como forma de informação. A linguagem e os conteúdos devem respeitar a linguagem das crianças, para que essas entendam e não apenas assimilem o que está sendo-lhes transmitido (RESENDE, 2015).

Verifica-se que na maior parte das escolas públicas e privadas não possuem um ensino de “Educação Ambiental que suscita uma vinculação mais estreita entre os processos educativos e a realidade, estruturando suas atividades em torno dos problemas concretos que se impõe a comunidade” (DIAS, 1992).

Segundo Zeppone, (1999), algumas práticas já realizadas em instituições de ensino formal, pode-se observar que as atividades desenvolvidas no âmbito escolar que propuseram o próprio ambiente escolar como objeto de observações, detectamos que o aproveitamento destes métodos foi extremamente proveitoso.

Ainda relacionado com o modos de ensinar educação ambiental, destacando a importância do reaproveitamento do lixo gerado na comunidade, algumas práticas segundo Kindel (2006), o objetivo e ensinar e conscientizar alunos de várias faixa etária de idade, o porque da reciclagem, do reaproveitamento do lixo. Desenvolvendo a capacidade de observar e classificar o lixo, e despertar em cada aluno seu lado criativo, instigando-os a fazer questionamentos e propondo sugestões e soluções; propiciando aos alunos a reflexão sobre qual material poderá ser reciclado.

Segundo Dias (1998, p.87; s.d.):

No Congresso de Moscou (1987) chegou-se à concordância de que a EA deveria, simultaneamente, preocupar-se com a promoção da conscientização, transmissão de informações, desenvolvimento de hábitos e habilidades, promoção de valores, estabelecimento de critérios e padrões, e orientações para a resolução de problemas e tomada de decisões.

Para atingir tais objetivos, consideram-se necessárias mudanças nas atividades em sala de aula, metodologia, enfim, mudanças curriculares: “Esta exigência requer uma reorganização do conjunto do processo educativo (conteúdo, metodologia, organização institucional, formação de pessoal).” (DIAS, 1998, pág. 87).

Contudo percebe-se a necessidade e importância de a Educação Ambiental fazer parte do currículo da educação infantil. Segundo Dias (1998), é fundamental, para o desenvolvimento da Educação Ambiental, que os profissionais sejam capacitados para que as informações passadas para os alunos sejam adequadas. “O treinamento do pessoal docente é o fator principal no desenvolvimento da EA. A aplicação de programas de EA e o próprio uso adequado dos materiais de ensino só serão possíveis se os docentes tiveram acesso a treinamento, tanto em conteúdos quanto em métodos [...]” (DIAS,1998; pág. 88).

A Política de Educação Ambiental legaliza a obrigatoriedade de trabalhar o tema ambiente de forma transversal, conforme foi proposto pelos Parâmetros e Diretrizes Curriculares Nacionais. Dias (2000), acredita que Educação Ambiental seja um processo onde as pessoas aprendam como funciona o ambiente, como dependemos dele, como o afetamos e como promovemos a sua sustentabilidade; entretanto, esse conceito defendido por Dias (2000) carece de prática, ou seja, a EA deve ser prática e não apenas conceitos estanques de aprendizado, segundo Freire (1979): a prática é emancipadora da sociedade, abrindo caminhos norteadores para a formação de sujeitos para pensar a sociedade de forma coerente.

Assim sendo, entende-se que é no projeto político pedagógico que deve aparecer os norteadores da implementação da EA. Este ponto é defendido por Eyng (2002a; p. 6) o Projeto Político Pedagógico é:

o instrumento que define mediante planejamento coletivo os processos da gestão da escola. O projeto pedagógico é, portanto, o veículo do planejamento e a principal ferramenta da gestão. Nesse são definidos, organizados, normatizados e acompanhados os processos de aprendizagem e participação, individual e coletiva, no espaço escolar.

Nas palavras de Vasconcellos (2002, p. 169), o PPP “é o processo que se aperfeiçoa e se concretiza na caminhada, que define claramente o tipo de ação educativa que se quer realizar”. Além disso, Veiga (1998, p.13) destaca:

Na construção do Projeto Político Pedagógico também é contemplada a dimensão de participação, pois sua elaboração “é co-responsabilidade dos professores, dos pais, dos alunos, do pessoal técnico-administrativo e dos segmentos organizados da sociedade local, contando ainda, com a colaboração e a assessoria efetivas de profissionais ligados à educação.

Da mesma forma, na construção de um PPP também devem ser observados os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), produzidos após a promulgação da LDB 9.394/96 que está embutido no sistema Nacional de Educação.

A elaboração do PPP traz em seu DNA (construção/criação) uma concepção de educação possibilitando que a escola se construa como um espaço de aprendizagem onde todos que nela convivem se percebam sujeitos reflexivos, capazes e atuantes. E se o PPP traduz o que a comunidade de uma determinada escola acredita, então as bases de sua elaboração estão na cultura organizacional. Como afirmam Gutierrez (2001, p. 62): “participar consiste em ajudar a construir comunicativamente o consenso quanto a um plano de ação coletiva”.

3- PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa baseou-se num estudo de caso único de uma escola pública na cidade de Nova Mamoré/RO. A escolha da E.M.E.I.F. Cel. Jorge Teixeira de Oliveira foi intencional, porque está localizada num bairro de grande vulnerabilidade econômica e social. A pesquisa foi qualitativa com estudo de caso. Segundo (BARBATO, 2008) a análise qualitativa “visa, sobretudo, gerar um conhecimento mais aprofundado de um fenômeno, as dimensões complexas de um problema ou tema, envolvendo um número restrito de participantes”. E como afirma Ludke e André (1986; p. 39):

Os documentos constituem também uma fonte poderosa de onde podem ser retiradas evidências que fundamentam afirmações e declarações do pesquisador. Representam ainda uma fonte ‘natural’ de informação. Não são apenas uma fonte de informação contextualizada, mas surgem num determinado contexto e fornecem informações sobre esse mesmo contexto.

Para a determinação dos dados foram aplicados questionários semiaberto com 12 questionamentos, com perguntas abertas (02), fechadas (06) e 4 com respostas fechadas mas com espaço para a explicação do resultado, que nomeamos como mistas. O questionário foi elaborado visando a não vulnerabilização do respondente, portanto algumas características permearam o instrumento: sem identificação do respondente, qualificava o respondente quanto ao sexo, idade, nível de formação, tempo de atuação na escola e o tempo que atua em Educação Ambiental.

O instrumento de pesquisa através de entrevista foi escolhido por possibilitar a liberdade de discursar sobre a problemática proposta. Direcionaram-se questões pertinentes no intuito de guiar a coleta de dados, utilizando perguntas abertas para completar o estudo, assim como algumas falas do próprio participante da pesquisa. Segundo CHIZZOTTI (2005, pág. 84),

a entrevista é uma forma de colher informações baseadas no discurso livre do entrevistado Procura-se compreender a experiência que eles têm as representações que forma e os conceitos que elaboram. Esses conceitos manifestos, as experiências relatadas ocupam o centro de referência das análises e interpretações, na pesquisa qualitativa.

A seguir destacam-se as perguntas constantes no questionário.

Perguntas abertas.

  • O que é educação ambiental pra você?

  • A educação Ambiental é um dos temas transversais, como ele deve ser trabalhado na sua concepção? sim/não.

Perguntas fechadas

  • Você concorda que o Desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações? sim/não.

  • Em quais disciplinas, os livros didáticos trazem conteúdos relacionados à Educação Ambiental? Ciências, Geografia, Português, História, Biologia e Outros.

  • A escola possui área arborizada, horta ou outros espaços que podem ser utilizados para trabalhar a Educação Ambiental? Sim/Não.

  • Na escola existe o processo de separação de lixo produzido pela comunidade escolar? Sim/Não

  • Dos locais abaixo relacionados, assinale quais já foram visitados pelos alunos sob orientação dos professores. Trilhas em chácaras; Trilhas em sítios;Trilhas na Serra dos Parecis; Reservas ambientais; Nascentes de rios e córregos; Sistema de Tratamento e Abastecimento de Água; As crianças já foram levadas a visitar córregos próximos a escola; As crianças já foram levadas a visitar a margem do rio madeira; Aterro Sanitário; Outros locais não citados .

  • Quais os meios utilizados pela escola, para desenvolver atividades com os alunos sobre Educação Ambiental? Teatro; Desenhos; Cartilhas; Passeios; Painéis Educativos; Vídeos; Palestras; Brincadeiras; Músicas; Debates; Coleta e separação do lixo; Outros.

Perguntas mistas

  • A escola desenvolve projetos na área ambiental? Sim/não. Quais?

  • Você considera importante a implantação da temática ambiental na grade curricular? Sim/não. Por quê?

  • Os professores são incentivados e motivados para estarem desenvolvendo pequenos projetos ou atividades ambientais com seus alunos?Sim/Não. De que forma?

  • Os professores realizam atividades com os alunos fora da escola para trabalhar a realidade local sobre as questões ambientais? Sim/Não. De que forma?

Os respondentes da escola fazem parte da equipe gestora (direção, supervisão e orientação) e professores. A resposta da Supervisora serviu como base para determinar quais os conceitos e referenciais que a escola considera na elaboração e na prática da Educação Ambiental. Essa entrevista foi realizada com perguntas abertas, oferecendo oportunidade de expressão com suas próprias palavras. Para justificar esse procedimento, segundo Martins apud Trentini (1999, p. 84) "a receptividade e a espontaneidade do entrevistador, durante a entrevista, resultará na obtenção de informações valiosas".

As perguntas para a supervisora foram:

Em quais disciplinas trabalhadas pela escola é enfocada a temática ambiental? É uma disciplina obrigatória ou optativa? A Ambiental é trabalhada na escola como um eixo transversal ou como componente curricular obrigatório e a maneira que se é trabalhada? Você acha importante que a escola promova a Educação Ambiental incluída no currículo?

Como avalia a inserção da temática ambiental no currículo da escola? se considera adequadas as fontes de informação como (Projeto Político Pedagógico, Plano Anual de Atividades, Plano de Curso e os Parâmetros Curriculares Nacionais) da área de Educação ambiental.

O universo da pesquisa

O universo da pesquisa é composto de 32 docentes e 5 servidores administrativos, e amostra foi significativa com 19 respondentes representando 51,3%. Representando erro amostral de 10% e nível de confiança de 90%. Foram encaminhados para todo o universo da pesquisa o questionário, entretanto não foi respondido por todos.

Caracterização do município e da escola

Nova Mamoré está localizada na BR 425, no km 312, que liga a cidade de Guajará-Mirim, entretanto esta cidade não é nova porque surgiu após a desativação da Estrada de Ferro Madeira Mamoré. O Censo populacional de 2000 registrou 14.769 habitantes no município. Estão sob a área de jurisdição do município de Nova Mamoré cinco distritos, que são: Vila Murtinho, Araras, Palmeiras, Nova Dimensão e Jacinópolis. Nova Mamoré, embora em escala menor, tem caracterizado sua economia considerando os ciclos de látex, castanha e cacau, bem como atualmente a atividade predominante é bovinocultura, pecuária de leite e de corte.

A agricultura é basicamente de subsistência, destacando-se a produção do café, o plantio de milho, arroz e mandioca. O extrativismo teve seu pico em meados da década de 90, havendo um declínio bastante acentuado, embora ainda seja a principal fonte de emprego para a grande maioria dos jovens.

A Escola Municipal de Ensino Infantil e Fundamental “Coronel Jorge Teixeira de Oliveira”, localiza-se à Av. Raimundo Fernandes 4312, bairro Planalto Nova Mamoré/RO, foi criada através do Decreto nº 029-GP/90, de 26 de Março de 1990, e seu nome foi dado em homenagem ao Coronel Jorge Teixeira de Oliveira (Teixeirão), governador do então Território Federal de Rondônia. A Escola foi construída para atender a comunidade do bairro Planalto, que estava em formação naquela época, mas desde então já necessitava de atendimento escolar local. Nesse período o atendimento era voltado ao Pré-escolar (Educação Infantil) e ao Ensino Primário (Anos iniciais do Ensino Fundamental). Quando construída, a estrutura física da escola constituía-se de: 04 salas de aula, 01 sala de direção e secretaria, 01 cozinha e 02 alas de banheiro. Em 1995 houve a construção de mais uma ala, mais 05 salas de aula e 01 cozinha com depósito, como também o pátio coberto, passando para um total de 09 salas de aula. Em 2016 a Escola passou por reordenamento e deixou de atender o Ensino Fundamental II de 6º ao 9º ano e nesse ano a matrícula inicial foi de 462 alunos e atende atualmente 503 (quinhentos e três) educandos, distribuídos em dois blocos distintos: do 1º ao 5º Ano 472, EJA 31 (Educação de Jovens e adultos) e todos funcionam nos períodos matutinos, vespertinos e noturnos. Totalizando 24 turmas: sendo 04 de 1º ano, 04 de 2º ano, 05 de 3º ano, 04 de 4º ano, 03 de 5º ano, 01 de 5ª série (EJA), 01 de 6ª série (EJA),01 de 7ª série ( EJA) e 01 de 8ª série (EJA) Sendo uma média de 30 alunos por sala de aula exceto o Ciclo de Alfabetização (1º ao 3º ano).

Análise de dados

A análise se deu a partir das respostas do questionário e das entrevistas, “Procura-se compreender a experiência que eles têm, as representações que forma e os conceitos que elaboram. Esses conceitos manifestos, as experiências relatadas ocupam o centro de referência das análises e interpretações, na pesquisa qualitativa” (CHIZZOTTI, 2005. p. 84).

O arcabouço analítico está focado em cinco (05) pontos fundamentais: i- a informação primária, entrevistas e questionários da amostra pesquisada, ii- o arcabouço legal que formaliza a implementação da Educação Ambiental na Escola, iii- a entrevista da Supervisora que é a responsável pela efetiva operacionalização da EA na Escola, iv- os programas e projetos Estadual e Municipal que tem como foco Educação Ambiental, e v- como pano de fundo está inserido a relação que a sociedade rondoniense tem com o ambiente.

4- APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS E INFORMAÇÕES

Caracterizando os respondentes:

  • Sexo: masculino 21% e feminino 79%;

  • faixa etária: 5% de 21-30; 37% >40; e 58% de 31-40;

  • formação: 21% Especialização, 53% 3o grau completo, 32% possuem ensino médio incompleto; 5% ensino médio completo;

  • tempo de serviço na educação destaca-se: 58% > de 10 anos; 16% de 1 a 5 anos; 5% < de 1 ano; 21% de 6 a 10 anos.

Resposta da respondente Supervisora

Na resposta da supervisora escolar, fica claro que existe uma grande deficiência para implementar os programas de educação ambiental. A seguir serão apresentadas as respostas da respondente.

Em quais disciplinas trabalhadas pela escola é enfocada a temática ambiental? É uma disciplina obrigatória ou optativa? A resposta foi: “Que a educação ambiental ainda não é um componente curricular obrigatório, mas que ela é trabalhada em todas as disciplinas, um trabalho interdisciplinar, através de projetos também”.

Se a Educação Ambiental é trabalhada na escola como um eixo transversal ou como componente curricular obrigatório e a maneira que se é trabalhada, foi respondido que:

Como eu já falei antes a educação ambiental não é um componente curricular obrigatório. É trabalhado de forma transversal nas áreas ou disciplinas já existentes. E que os temas transversais atravessam as disciplinas já existentes definidas pelos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais).

Você acha importante que a escola promova a Educação Ambiental incluída no currículo? A resposta foi: “Sim, seria um grande avanço na formação de nossas crianças, pois é através do conhecimento que podemos buscar soluções, alternativas para preservar o meio ambiente a natureza.”

Como avalia a inserção da temática ambiental no currículo da escola? Destacou-se que

A escola objetiva formar cidadãos conscientes capazes de enfrentar problema sócio ambiental... então a escola busca a melhor maneira de desenvolver esse conhecimento. E como sabemos a educação ambiental é uma ação educativa permanente, assim ela deve estar sempre fazendo parte da formação cidadã, tanto do aluno como do professor.

Ela considera adequadas as fontes de informação como (Projeto Político Pedagógico, Plano Anual de Atividades, Plano de Curso e os Parâmetros Curriculares Nacionais) da área de Educação ambiental, ela respondeu: “Sim. Pois é neles que são definidos os objetivos e prioridades estabelecidos por todos no sentido de definir as ações que serão definidas ao longo do ano”.

Os respondentes

Analisando a abordagem das entrevistas, verifica-se que no quesito, conservação do Meio Ambiente e sua importância para a vida, as respostas se mostram voltadas à realização de atividades interdisciplinares; outro posicionamento trata do estudo de conscientização e do valorizar o meio ambiente, ao que se percebe através das respostas, “não pode queimar, e não pode desmatar”, o que dá caráter superficial do que realmente implicam estas ações.

Ao serem abordados quanto às atitudes e competências e a temática de conservar e preservar o meio ambiente, vê-se que buscam ainda por soluções e se apoiam no discurso do trabalho interdisciplinar.

Na questão que trata da importância do meio ambiente, os respondentes se dividem em trazer a tona que a conscientização da importância do Meio Ambiente para a vida é primordial e se apoiam ainda na execução de projetos.

Verifica-se ainda que o entendimento sobre o que é Educação Ambiental está dissociado da prática cotidiano e, da influência deste, nos desígnios da sociedade, embora esta seja urgente e tenha sido evidenciada a cada dia, por meio de organismos governamentais e sinais do próprio planeta, com tantas instabilidades climáticas e abuso no uso dos recursos naturais, causando danos irreversíveis à natureza humana, que são comprovados por instituições científicas (HÖHNE et al, 2016).

Ao compararmos as respostas da Supervisora e dos demais respondentes, temos que a legislação proposta é incorporada ao discurso, entretanto na prática não se aplica. Pois os professores em sua maioria demonstram não possuir a consciência ambiental arraigada como prática, mas mesmo assim há no discurso indícios da sua importância. Esta afirmativa é possível, sabendo-se que a consciência ambiental é balizada no senso crítico do papel da sociedade que produz danos ou prejuízos sofridos pelo meio ambiente, pela exploração sem o devido cuidado pelos seres humanos, agudizado após a revolução industrial.

Verifica-se que o posicionamento da supervisora é divergente quando comparado com o posicionamento dos demais respondentes, a primeira, destaca que

A escola objetiva formar cidadãos conscientes capazes de enfrentar o problema sócio ambiental... então a escola busca a melhor maneira de desenvolver esse conhecimento. E como sabemos a educação ambiental é uma ação educativa permanente, assim ela deve estar sempre fazendo parte da formação cidadã, tanto do aluno como do professor.

Em contrapartida, os demais respondentes limitam a EA, para “Conservação do meio ambiente” e como sendo “importante para a vida”, outro ponto divergente que chama a atenção, e a afirmação feita pela supervisora que a EA é trabalhada na escola de forma interdisciplinar como reza o PCN, porém os demais respondentes, ao serem perguntados sobre incentivos para desenvolver projetos, ou atividades ambientais com seus alunos, deixam evidenciado que não há tal incentivo, embora reconheçam que a EA deve ser trabalhada de forma interdisciplinar.

A questão 4 aborda: Você considera importante a implantação da temática ambiental na grade curricular? Por quê?

Em relação a essa pergunta a resposta foi unânime (100%) concordam que é importante a implantação da temática ambiental na grade curricular. Como exemplo, destaca-se uma das respostas, (respondente 11): “Sim, ela já está inserida nos temas transversais, mas não é abordada com a devida atenção”. Uma vez que não há nenhuma recomendação direta no PPP, nem projetos municipais e estaduais, a impressão que cristaliza é que o PCN é vago de como operacionalizar o conteúdo de forma interdisciplinar, bem como sem nenhuma obrigatoriedade e sem o quesito formação e capacitação dos docentes. Considerando ainda, que tampouco a sociedade exige isso da escola, por falta de conhecimento e principalmente, porque está inserida numa área de expansão agrícola onde o desmatamento é prática comum para o aumento da agropecuária, bem como na região a crescente produção de soja.

Outra resposta (respondente 13): “Sim, porque como tema transversal é pouco difundido e as necessidades ambientais devem ser mais estudadas para que se possa viver mais e melhor”. Embora indique o reconhecimento, falta formação e capacitação para que a prática seja capaz de promover ações efetivas.

Como exemplo de ações no sentido da prática da Educação Ambiental na escola foi pensado o projeto Pensando o Ambiente apresentado por Silva e Calixto (2017), com o objetivo "do desenvolvimento de sujeitos ecológicos a partir da prática da educação ambiental na escola.", utilizando o procedimento de tratar dos problemas ambientais locais identificando "as principais vulnerabilidades ambientais e sociais presentes no Bairro Charrua"

Em relação a quinta pergunta: A educação Ambiental é um dos temas transversais, como ele deve ser trabalhada na sua concepção? Observa-se que as respostas são: (respondente 4): “Deve ser trabalhada de forma interdisciplinar”, (respondente 13): “Com projetos envolvendo teoria e prática para que possa mudar a forma de agir dos educandos”. As respostas indicam que os respondentes tem noção da ferramenta necessária para implementar a EA, que são projetos interdisciplinarmente nas disciplinas, entretanto não o fazem, o que é explicado pelas respostas da pergunta 4, ou seja, mesmo que haja conhecimento, falta projeto da organização Estadual e Municipal da educação propondo formação e capacitação na Educação Ambiental.

A pergunta seis foi: Em quais disciplinas, os livros didáticos trazem conteúdos relacionados à Educação Ambiental? as respostas foram: 31% Ciências, 24% Geografia, 20% Português, 13% História, 9% Biologia e 3% Outros. Estas respostas são coerentes com as correntes dos livros didáticos, bem como dos PCN´s, entretanto mais uma resposta que reafirma que os professores não são capacitados para atuar na Educação ambiental.

A questão sete aborda: Os professores são incentivados e motivados para estarem desenvolvendo pequenos projetos ou atividades ambientais com seus alunos? As respostas são significativas: 53% não são incentivados a desenvolver projetos ou atividades ambientais e o restante (47%) indicaram que são incentivados. As respostas dissertativas mais comuns giraram em torno do que foi apresentado pelo respondente 1: “Se desenvolvemos é por iniciativa individual e são apenas teorias (livros).” Esta resposta e os 53% que destacaram que não são incentivados corroboram com a tese destacada acima, que é a falta de projetos para a capacitação institucional.

Para a pergunta: Quais os meios utilizados pela escola, para desenvolver atividades com os alunos sobre Educação Ambiental? As respostas foram: 26% desenhos, 13% vídeos, 9% palestra, cartilhas e outros (9%), 7% brincadeiras e música, 6% passeios e painéis educativos, 4% debates e 2% coleta e separação do lixo. As respostas são pouco significativas, pois Dias (2004, p. 202) indica que a finalidade precípua da EA seja construir “valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente”, bem como a bibliografia destaca como ferramenta para implementação de Educação ambiental são: Segundo VASCONCELOS (1997) poderão ser feitas trilhas ecológicas em meio a fragmentos de mata que ainda persistam na comunidade e/ou em áreas de preservação próximas; Já REIGOTA (1994) aponta que a sala de aula, a escola, o bairro, a casa, o trabalho, a rua, são locais adequados para se realizar pesquisas, entrevistar pessoas, coletar dados, registrar fatos e acontecimentos, desencadeando a realização de uma pesquisa-ação. Sato (2003) sugere a realização de festivais ecológicos no ambiente escolar podendo envolver vários tipos de atividades em torno de um tema, sendo possível também a formulação de um concurso para a escolha de melhores trabalhos realizados. MACEDO (2000) propõe coleta de materiais recicláveis na comunidade em torno da escola e a posterior realização de um evento “O dia da reciclagem na escola”; CAMINHAS (1992) relata sobre o desenvolvimento de projetos de arborização, sendo iniciado com a visita dos alunos ao viveiro, subsidiado por palestra direcionada para a preservação de espécies frutíferas, visto que as mesmas atraem diversos tipos de aves típicas da região, e envolvimento dos alunos no processo de plantio de árvores em áreas degradadas da cidade e em regiões próximas a escola. Realização de um mapeamento da cidade, juntamente com os alunos, localizando pontos fortes e fracos, segundo Fellemberg (2003);Temos ainda a organização de debates subsidiados por textos previamente selecionados, Leff (1986). Outra sugestão proposta por Dorst (2002) é a projeção de vídeos, slides, documentários sobre a destruição da camada de ozônio e aquecimento global, dando ênfase nas consequências para a vida humana e posteriormente propor a realização de paródias, confecção de cartazes, elaboração de cartas a autoridades políticas e ONGs. Dubos (1995) refere-se à execução de mesas redondas promovendo a leitura de textos e discussão de temas ambientais locais, e representação teatral de cada segmento da sociedade que corresponde a uma determinada postura sobre tais danos e efeitos causados pelos agentes de destruição. De acordo com Freire (1979), a exposição dialogada de temas ambientais, permite que o aluno apresente-se como um ser ativo no processo de ensino aprendizagem, promovendo a criação de um ambiente favorável. Moradillo e Oki (2004) descrevem práticas possíveis de serem aplicadas aos graduandos do curso de química, levando a Educação Ambiental à universidade. Seminários abrangendo diversos temas focaram a interdisciplinaridade, a exemplo, o seminário sobre “fogo e energia” que possui questões norteadoras como “matriz energética atual e novas possibilidades: problemas econômicos e ambientais; classes de incêndio; o padrão de consumo energético no Brasil, a sua relação com o atual modelo econômico e tecnológico e suas consequências”. Como podemos observar, a literatura destaca muitas possibilidades para se implementar a EA. Nesta linha de ação, corrobora os Parâmetros Curriculares Nacionais que apresentam alguns temas atuais para serem trabalhos de forma transversal nas escolas. Os temas transversais correspondem “às questões importantes, urgentes e presentes sob várias formas, na vida cotidiana” (BRASIL, 1997, P. 15).

Dos dados colhidos dos respondentes nota-se a importância que o tema Educação Ambiental possui, e apesar de afirmarem que ela existe de forma interdisciplinar, ficou notadamente explícito que ela ainda é pouco praticada. Constata-se que fica à margem do interesse de cada professor o ato de desenvolver algum projeto ou atividade nesta área. É perceptível que os projetos quando idealizados são bastante pontuais, o que não corrobora com a formação de uma consciência ambiental. Vale ressaltar que o município pesquisado, está dentro da Amazônia Legal e por sua vez, demonstra não ter nenhuma preocupação. Nota-se ainda, que os professores não possuem consciência ambiental, para que possam formar sujeitos que venham a tê-la. Embora a Lei N° 9.795, de 27 de abril de 1999, preceitua no,

Art. 11 - A dimensão ambiental deve constar dos currículos de formação de professores, em todos os níveis e em todas as disciplinas. Parágrafo único. Os professores em atividade devem receber formação complementar em suas áreas de atuação, com o propósito de atender adequadamente ao cumprimento dos princípios e objetivos da Política Nacional de Educação Ambiental

Não há programas e projetos nos âmbitos Estadual-Estado de Rondônia- e Municipal- Município de Nova Mamoré- com foco na Educação Ambiental. Foram contatados a Secretaria Estadual de Educação- SEDUC e a Secretaria Municipal de Educação obtendo resultado de que não há apoio tanto na elaboração do PPP, tampouco direcionamento para a implementação da Educação Ambiental- EA.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Há que se ressaltar que a consciência ambiental, deve-se a um processo de formação e de cidadania, pois impõe que cada indivíduo adquira pensamentos que corroborem na mudança de paradigma quanto à questão ambiental, com criticidade tal que permita colocar em prática na vida cotidiana. A aplicação na Escola, que é um reflexo da mudança conceitual privada, mas não suficiente porque há outros componentes importantes, a formação e a capacitação, bem como a pressão da sociedade para que a Escola forme cidadãos e cidadãs críticos e ambientalmente conscientes. Assim, as ferramentas serão implementadas na Escola, os métodos propostos na legislação, os programas educacionais que visam incitar a prática, por meio de atividades lúdicas, cartilhas, mudança de comportamento, alertas a comunidade em que estiver inserido.

O desacerto da implementação da Educação Ambiental na escola está fincado em alguns pilares: gerência de modalidades temáticas especiais - GEMTE e um núcleo de Temas Transversais, estas são ações (ainda) pouco efetivas para implementação de uma temática tão relevante atualmente no âmbito Estadual; as escolas contam com o apoio do programa federal no programa Com vidas, que é uma extensão da Agenda 21, que há tempos deixou ser devidamente fomentado pelo Governo Federal, ainda assim é um programa que apresenta suas falhas, pois as escolas só participam espontaneamente.

Como observado, há política Estadual pouco inovadora e intimista, não há política municipal, não há formação e capacitação dos professores; entretanto os 60% dos professores com curso de graduação indica falha na formação da Universidade/faculdades no que tange a temática ambiental, e por último não há nos planos de curso das disciplinas ou mesmo no Projeto Político Pedagógico da Escola a obrigatoriedade e tampouco como os temas transversais serão trabalhados.

Conclui-se que faltam projetos para formar os professores tanto no âmbito estadual quanto municipal, para que sejam capazes de transpor as barreiras de implementação da Educação Ambiental e aplicá-la com êxito, proporcionando a formação de uma consciência ambiental crítica que corrobore com o equilíbrio do ambiente.

Por fim, não há com que esperar da Escola proeminência/prevalência na questão ambiental, porque esta é um reflexo da sociedade que não tem nenhuma preocupação e, tampouco, tem interesse, porque a sociedade em geral entende o ambiente como mero disponibilizador de recursos e insumos, não considerando-os (recursos naturais) de uso coletivo e, tampouco, passíveis e esgotamento.

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Ilustrações: Silvana Santos