Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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26/01/2018 (Nº 62) PROJETO JOVEM DE FUTURO NUMA PESPERCTIVA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL: ESTUDO DE CASO NUMA ESCOLA DO MUNICÍPIO DE VILA VELHA/ES
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PROJETO JOVEM DE FUTURO NUMA PESPERCTIVA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL: ESTUDO DE CASO NUMA ESCOLA DO MUNICÍPIO DE VILA VELHA/ES

Angela Maria Soares, graduada em Letras (FAFIC faculdade de ciências de LETRAS de Colatina ES, Pós Graduada (UFES) Universidade Federal do Espirito Santo. Escola de Gestores), Mestre (FVC Faculdade Vale do Cricaré, São Mateus ES. Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Regional),e-mail: angelamsbaptista@hotmail.com.

Désirée Gonçalves Raggi, Doutora, professora e orientadora (FVC Faculdade Vale do Cricaré, São Mateus ES)

RESUMO

O estudo objetivou investigar se a intervenção promovida pelo Projeto Jovem de Futuro (PJF), a partir do Curso de Gestão Escolar para Resultados de Aprendizagem contribuiu para o fortalecimento dos alunos na perspectiva da educação ambiental na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Adolfina Zamprogno, localizada em Vila Velha – ES. O PJF foi concebido e desenvolvido pelo Instituto Unibanco para contribuir com uma educação pública de qualidade e visa atender ao Ensino Médio com foco no aprimoramento da gestão escolar, que deve elaborar novas possibilidades de atuação no âmbito ambiental. É um estudo de cunho qualitativo, metodologicamente caracterizado como pesquisa-ação. Os resultados demonstraram que o Projeto Jovem de Futuro (PJF), a partir do Curso de Gestão Escolar para Resultados de Aprendizagem contribuiu para o fortalecimento dos alunos na perspectiva da educação ambiental.

Palavras Chave: Prática de ensino; Construção de conhecimento; Percepção Ambiental.

ABSTRACT

The study aimed to investigate whether the intervention promoted by the Young Future Project (PJF) of the School Management for Learning Outcomes Course contributed to the strengthening of students in an environmental education perspective at the Adolfina Zamprogno School Primary and Secondary Education State, located in About Us The PJF was conceived and developed by the Unibanco Institute to contribute to a quality public education and to attend High School with a focus on the improvement of school management that would elaborate new possibilities of action in the environmental scope. The study was methodologically characterized as the action research, with a qualitative character. The results demonstrated that the action-research technique was used to obtain the environmental perceptions of students and teachers.

Keywords: Eaching practice; Knowledge construction; Environmental Perception.

1. INTRODUÇÃO

Problemas dessa natureza são recorrentes no bairro onde a escola se situa. Esse contexto leva a um contingente de jovens menores de idade a deixar de frequentar a escola. Além disso, abandonam os estudos motivados pela necessidade de se inserir no mercado de trabalho ou por outras causas de caráter familiares e sociais. A escola está situada em uma área de conflito no qual se observam fenômenos presentes nas áreas periféricas das grandes cidades, um cenário marcado pela violência, onde são recorrentes os problemas: dificuldades de relacionamento entre professores e alunos; crescimento do tráfico de drogas; jovens portando armas; prostituição infantil; “guerra de gangues”; pais ausentes.

Preocupado com o cenário escolar vivido pelos jovens adolescentes de baixa renda, o Instituto Unibanco criou o Projeto Jovem de Futuro (PJF) que visa dar formação e apoio aos atores escolares - gestor, coordenador e professores - em parceria com as Secretarias de Educação, a fim de promover formação adequada para que se possa melhorar o nível de aprendizagem, pela via da gestão democrática com ações controladas e integradas. Porquanto, o desenvolvimento desta investigação tomou como campo de estudo o desenvolvimento do PJF na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Adolfina Zamprogno, desde sua implantação, passando pelo monitoramento e execução, até a avaliação.

Foram analisados os registros do Sistema de Gerenciamento de Projetos (SGP), que permitiram acompanhar a frequência dos alunos no período compreendido entre meados de 2015 e todo o ano de 2016, bem como todas as ações executadas, sobretudo práticas de educação ambiental com a utilização de espaços não formais. Também foram investigados os grupos de sujeitos diretamente envolvidos com o PJF.

O PJF tem como proposta contribuir para a qualidade do Ensino Médio Regular por meio do aprimoramento da gestão escolar, mantendo as diretrizes de forma estruturada e participativa, com alta qualidade técnica e orientada para a melhoria dos resultados de aprendizagem dos estudantes.

Portanto, este artigo discute um recorte de uma pesquisa mais ampla, na medida em que propõe investigar se a intervenção promovida pelo PJF, a partir do Curso de Gestão Escolar para Resultados de Aprendizagem contribuiu para o fortalecimento dos alunos numa perspectiva de educação ambiental.

2. O PROJETO JOVEM DE FUTURO

O Projeto Jovem de Futuro converge suas ações com o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), alcunhado no Compromisso Todos Pela Educação, o qual prevê a mobilização de Municípios, Estados e União para progressos da qualidade da educação básica, aferida por meio do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (INSTITUTO UNIBANCO, 2015).

Dados do Relatório Educação para Todos (BRASIL, 2014) revelam que mais de 15% da população entre 15 e 17 anos de idade (faixa etária considerada ideal para a frequência ao Ensino Médio) não frequenta a escola. A adolescência é uma fase de transição delicada que pode comprometer a vida dos cidadãos inseridos em bairros periféricos, onde os problemas sociais e ambientais são mais prementes. Nas escolas, bairros e cidades, os índices de violência, óbitos e agressões revelam a grave situação de vulnerabilidade de grande parte dos jovens no país (INSTITUTO UNIBANCO, 2015).

O afastamento da escola, nessa fase da vida, para se submeterem à fragilidade da relação entre trabalho, escolaridade e renda, pode acarretar enorme desperdício de potencial produtivo dos jovens que se encontram em situação de vulnerabilidade. Isso propicia a criação de um círculo vicioso perverso, pois os jovens deixam de estudar para exercer ocupações temporárias, informais e mal remuneradas. Tal cenário reduz ainda mais suas chances profissionais e, consequentemente, sua renda e o pior, impede esses jovens de enxergar a perspectiva de um futuro melhor (INSTITUTO UNIBANCO, 2015).

Mediante essa realidade, o Instituto Unibanco criou o Projeto Jovem de Futuro, pois acredita que pode contribuir para minimizar a reprodução das desigualdades, apostando na valorização da aprendizagem dos estudantes, por meio da formação da gestão escolar, superando assim, [...] a lógica de que a escola também é agente de reprodução das desigualdades no país (INSTITUTO UNIBANCO, 2015, p. 7).

No Estado do Espírito Santo, o projeto foi iniciado em 2015 (na terceira fase de vigência), junto com novas escolas do Pará e do Piauí. Nas etapas posteriores, o projeto teve seu formato aprimorado com base na experiência acumulada e no conhecimento acumulado. No Mato Grosso do Sul, o projeto foi interrompido. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, as últimas escolas da fase piloto concluíram o ciclo. Neste mesmo ano foi lançado o Sistema Instituto Unibanco de Análise da Rede Estadual de Ensino Médio (SITUA), que disponibiliza informações educacionais para as Secretarias de Educação. Até o ano de 2018 o Instituto Unibanco pretende alcançar 2500 escolas e atingir 2 milhões de estudantes. A Figura 1 apresenta os estados contemplados pelo PJF.

Figura 1: Estados contemplados pelo PJF até o ano de 2015.

Fonte: http://www.jovem-de-futuro/GOOGLE MAPS/2016.

2.1 Projeto jovem de futuro numa perspectiva de educação ambiental

O PJF foi o principal projeto concebido pelo Instituto Unibanco. Trata-se de uma ferramenta tecnológica educacional desenvolvida em 2007 que pretende estimular o contínuo aprimoramento da gestão escolar, visando à melhoria dos resultados de aprendizagem, que além de outras perspectivas, aborda a educação ambiental de estudantes das escolas públicas de ensino em nível médio.

Para sua execução, o Instituto Unibanco programou parcerias com a Secretaria Estadual de Educação do Espírito Santo-SEDU, a fim de oferecer assessoria técnica, formação, instrumentos e sistemas aos diversos agentes da educação (professores, diretores, pedagogos e coordenadores). Ao iniciar os trabalhos nas instituições, foram definidas as metas para cada escola contemplada, juntamente com os gestores locais e técnicos da respectiva Secretaria Estadual. Incialmente foi produzido um diagnóstico a partir dos dados do contexto relativo aos resultados de aprendizagem e posteriormente foram elaborados os planos de ações.

Tais reflexões se debruçam sobre os processos que compõem e organizam a gestão escolar, visando novas possibilidades de atuação nos processos administrativos e pedagógicos das respectivas escolas. O Instituto pontua que, por meio do diálogo e da formação apropriada dos gestores, existe grande chance de se alcançar a qualidade da gestão da educação fazendo vinculação entre as três instâncias envolvidas (Secretaria, Diretoria Regional e Unidade Escolar). Esse é o ponto de partida essencial para a melhoria de uma cultura escolar voltada para o direito à aprendizagem dos estudantes e na orientação para políticas inclusivas e democráticas (INSTITUTO UNIBANCO, 2015).

Considerando ser a aprendizagem dos jovens, a finalidade principal da escola, o diagnóstico e o estabelecimento de metas são medidas necessárias, pois trazem à tona elementos e dados que subsidiam a comunidade escolar para a compreensão da sua realidade. Essa compreensão permite uma análise do quanto o currículo praticado está favorecendo ou não à aprendizagem dos jovens.

A Educação Ambiental é abordada como tema transversal na prática curricular. Nessa perspectiva, os problemas ambientais são assumidos como conteúdos centrais a serem discutidos por todas as áreas de estudo. Para Reigota (1997), a Educação Ambiental seja de caráter formal ou informal só é completa quando a pessoa toma consciência que os recursos naturais são finitos, escassos e distribuídos de maneira desigual e fragmentados nos diferentes espaços geográficos. Constituindo nessa premissa básica como referência, propõe-se que a Educação Ambiental seja um processo de formação contínuo, dinâmico, significativo, interativo, permanente e participativo, no qual os sujeitos tornam-se agentes transformadores e são estimulados a buscar alternativas sustentáveis para a redução de impactos ambientais e para o controle social do uso dos recursos naturais (REIGOTA, 1997).

Paralelamente no estado do Espírito Santo, a Política Estadual de Educação Ambiental, tratada na Lei nº 9.265/2009, define os princípios, objetivos, competências e habilidades que dão suporte à Secretária Estadual de Educação (SEDU, 2016). Conforme menciona a Lei, em seu artigo 14, estabelece que a Política Estadual de Educação Ambiental, na educação, básica será organizada mediante os currículos e atividades extracurriculares em instituições públicas oficiais e privados, englobando as importantes modalidades de ensino como: i - educação básica (educação infantil, ensino fundamental e médio); ii - educação especial, educação à distância, educação profissional e tecnológica, educação de jovens e adultos, educação do campo e educação indígena.

O Artigo 16 da referida lei define que a Educação Ambiental deve estar articulada “em todos os níveis e modalidades de ensino, constituindo-se uma prática educativa contínua, permanente e integrada aos projetos educacionais e incorporado ao Projeto Político Pedagógico das unidades de ensino” (SEDU, 2016).

Nessas alternativas sustentáveis de grande importância, podemos elencar a utilização de espaços não formais de ensino, pois, segundo Keller (2016), essa proposta transcende os limites físicos da escola explorando a sensibilização e conscientização do contato e envolvimento dos alunos com a natureza que os rodeiam. Nesse sentido, Santos (2000) retrata que as contribuições dos espaços não formais de ensino institucionais promovem o interesse, provocando a curiosidade e permitindo novas formas de aprendizagens, na medida em que as trocas de experiências e vivências conduzidas pelos professores possibilitam uma inovação de interação entre o conteúdo de sala de aula com a prática social na construção de conhecimento.

De acordo com Valle (2000), uma estratégia de EA pode ser definida como um modelo teórico, metodológico e prático que transcende o sistema. Exige uma concepção integral sobre os processos ambientais e de desenvolvimento, por meio da introdução da dimensão ambiental nos processos educativos. Esta dimensão só pode ser alcançada com a prática da interdisciplinaridade ou da transversalidade. O mesmo autor compartilha com a ideia de que a interdisciplinaridade é concretizada quando diversas disciplinas contribuem para o tratamento de um tema ou a resolução de um problema, aportando seus próprios esquemas conceituais e metodológicos. Essa concepção pedagógica requer interdependência e diálogo entre as disciplinas, para integrar o conhecimento num todo harmônico e significativo.

A Educação Ambiental deve ser tratada de forma holística. Holismo tem origem do grego hollos, que significa totalidade. Assim, uma visão totalizadora de mundo resulta numa forma de compreensão da realidade em função de totalidades dos processos integrados, cujas propriedades não podem ser reduzidas a unidades menores, como ensina (VALLE, 2000). Portanto, o ensino contextualizado e problematizador que se propõe, deve integrar diferentes áreas de conhecimento. Tal integração é possível de ser realizada, desde que ações curriculares sejam planejadas, discutidas e executadas, no sentido de tornarem-se atividades interdisciplinares.

Nas palavras de Japiassu (1976), a interdisciplinaridade exige uma reflexão profunda, inovadora e problematizadora sobre o conhecimento de forma articulada. Para tanto, o contexto da interdisciplinaridade revigora no avanço em relação ao ensino memorístico tradicional, para constituir num ensino que atua de forma crítica construtivista sobre a própria estrutura do conhecimento, com o intuito de superar o isolamento entre as disciplinas e repensar no papel dos professores para o contexto atual em que estamos inseridos.

EA também deve ser tratada como tema transversal do currículo, ou seja, deve ser abordada em diferentes níveis, disciplinas, atividades extra e intra-classe, permeando todo o processo pedagógico. Para isso, é interessante efetuar a abordagem curricular proposta por Diaz (2002), que propõe a ambientalização do currículo. Um currículo ambientalizado deve ser: contextualizado, coerente, sistêmico, voltado para o desenvolvimento dos alunos, aberto ao entorno ambiental, flexível, dinâmico e centrado nos processos, problematizador, globalizador e interdisciplinar, deve promover a equidade, a cooperação e a participação dos educandos. Um currículo com tais características requer mudanças nas estratégias metodológicas utilizadas atualmente.

3. MATERIAS E MÉTODOS

O rigor teórico e metodológico pretendido nessa pesquisa se impôs pela necessidade de se fazer o levantamento teórico conceitual das áreas de conhecimento: gestão escolar democrática, educação ambiental, utilizando os espaços formais e não formais de ensino. Para tanto foram pesquisados periódicos, dissertações, teses, livros, dados de instituições públicas oficiais, boletins e informações institucionais obtidos em meio eletrônico e uma pesquisa de campo.

Este estudo é metodologicamente caracterizado como pesquisa-ação, um método em que o pesquisador é, concomitantemente, sujeito investigador e sujeito investigado, pois participa, observa, registra, analisa, ou seja, faz uma investigação científica da realidade em que está inserido, de forma planejada e sistematizada. Ao mesmo tempo em que promove intervenções no campo e no objeto da pesquisa, lança seu olhar observador, registra e discute os dados produzidos, analisa e constata os resultados dos trabalhos concretizados.

Tripp (2005, p. 446) menciona que por esse método os sujeitos investigadores planejam, programam, descrevem e avaliam “[...] uma mudança para a melhoria de sua prática, aprendendo mais, no correr do processo, tanto a respeito da prática quanto da própria investigação.” Na experiência vivida no decorrer do PJF essas ações foram empreendidas, pois pesquisador e grupo pesquisado puderam se colocar ativos no papel de investigadores, fizeram reflexões interessantes e lançaram um olhar crítico e atento sobre a própria prática educacional e sobre os resultados dela decorrentes.

Para descrever o PJF, foram analisados os conteúdos programáticos estudados e disponíveis na Plataforma do Curso de Gestão do Instituto Unibanco, bem como as atividades propostas nos Planos de Ação implantados. Os funcionários administrativos da escola faziam a alimentação da plataforma com dados do Diário de Bordo, por isso tiveram controle sobre os indicadores avaliados, pois foi este um dos principais instrumentos que alimentam o Sistema de Monitoramento de Avaliação e Resultados – SMAR. Esses registros facilitaram em grande medida a coleta dos dados. A Figura 2 apresenta o Diário de Bordo.

No ano letivo de 2016 foram atendidas 14 de turmas na Escola que totalizaram 445 alunos matriculados. O período letivo foi iniciado em fevereiro e se encerrou em dezembro. Essas turmas eram assim distribuídas: seis de primeira série, com 199 alunos matriculados no primeiro trimestre e no segundo trimestre esse número diminuiu para 185 alunos, pois houve casos de transferência e evasão; Cinco turmas de segunda série totalizavam 155 alunos; três turmas de terceira série, sendo constituídas de 90 estudantes no primeiro trimestre e 91, no segundo. Essa pesquisa focou alunos do ensino médio, sobretudo os alunos das 3ª séries do turno matutino.

Figura 2: Plataforma onde estão inseridos os indicadores do diário de bordo.

Fonte: Plataforma do curso de gestão do escolar do UNIBANCO/2015.

Para verificar se o PJF fortaleceu a Educação Ambiental, de forma articulada e interdisciplinar, como recomendam os experts, investigou-se uma das visitas técnicas previstas no Plano de Ação. A proposta de educação ambiental, como prática interdisciplinar no parque estadual Paulo César Vinha/ES, teve início por causa da necessidade de articular as áreas de conhecimento ciências humanas (Geografia), ciências da natureza (Biologia) e (Matemática), com base numa perspectiva interdisciplinar. Nesse caso específico, relacionar o PJF com o tema Educação Ambiental com a construção de conhecimento como prática social. Essa prática pedagógica está descrita de forma objetiva na (Tabela 1).

Tabela 1: A prática da Educação Ambiental em duas visitas técnicas promovidas durante a implantação do PJF

Ação a ser executada

1ª Visita institucional acompanhada pelo monitor e os professores envolvidos no Parque Estadual Paulo César Vinha.

2ª Visita institucional Jardim Botânico da Companhia Vale do Rio Doce.

Disciplinas envolvidas

Geografia, Biologia e Matemática.

Tema Interdisciplinar

Educação Ambiental.

Habilidades interdisciplinares

  • Explicar as principais mudanças ocorridas no meio natural do Parque.

  • Explicar as principais mudanças ocorridas na Vale do rio Doce.

  • Avaliar propostas de intervenção no ambiente, considerando a qualidade da vida e medidas de conservação, preservação e recuperação da biodiversidade.

  • Introduzir questões interdisciplinares.


Competência interdisciplinar

  • Analisar as questões que envolvem o meio ambiente, compreendendo suas complexidades e processos.

  • Associar intervenções que resultam na conservação ambiental e das coleções associadas a elas.

  • Analisar as questões que envolvem a história natural do Parque e Vale do Rio Doce.

  • Avaliar a Educação Ambiental de forma articulada entre os conhecimentos teóricos e práticos.

Referências Bibliográficas

  • BRASIL, Ministério da Educação e do Meio Ambiente. Consumo sustentável: manual da educação. Brasília. 2005.

  • SEDU. Situando a EA na SEDU. Disponível em:

. Acesso em 30 agosto de 2016.

Fonte: Currículo Básico Comum para o Estado do Espírito Santo (2016).

Elaboração: as autoras/2017.

As visitas técnicas institucionais foram realizadas a partir do agendamento com dois meses de antecedência no site do Instituo Estadual de Meio Ambiente - IEMA (sítio eletrônico: http://www.meioambiente.es.gov.br/) e agendamento por E-mail da Vale do Rio Doce (visitas.es.@vale.com). A escolha do Parque Estadual Paulo César Vinha, para a discussão dos resultados, levou em consideração a proximidade do município, com o intuito de promover a construção convergente de teoria com prática social, a fim de identificar a percepção social e ambiental dos alunos. A escolha dos alunos foi feita com base em sorteios durante a realização do primeiro encontro da Família na Escola totalizando 40 alunos (as) contemplados.

A visita técnica monitorada foi realizada no dia 08 de agosto de 2016, com alunos do ensino médio, com idade entre 15 a 18 anos, no período matutino da Escola de Ensino Fundamental e Médio Adolfina Zamprogno/2016. Vale ressaltar, que a aplicação do questionário socioambiental foi realizada, após a visita técnica monitorada no Parque Paulo César Vinha, na aula da disciplina de Geografia.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 PJF - Um Novo Modo de Pensar, Planejar e Agir com consciência ambiental

Optamos por separar essa análise de acordo com as percepções dos grupos investigados. Consideramos importante relatar a percepção no papel de gestora educacional, pois essa reflexão me permitiu lançar um olhar investigativo para os aspectos administrativos e educacionais, cujas transformações favoreceram mudanças em minha forma de pensar e atuar. Assim passamos a narrar tais mudanças que foram essenciais para a prática da gestão democrática, eixo estruturante do PJF e condição relevante para melhoria dos índices de aprendizagem dos estudantes. Para tanto, definimos essa análise nas categorias que seguem:

a) Envolvimento dos professores - foi quase que 100%. Inicialmente, somente um deles demonstrou resistência, mas, na medida em que percebeu o envolvimento dos colegas, esse docente foi participando trazendo informações sobre as fragilidades do processo educacional referentes aos déficits de frequências e notas. De modo geral, percebemos uma maior participação e dedicação dos professores, que, apesar de não serem remunerados por algum trabalho extra (no contraturno), empenharam-se para sanar as dificuldades dos estudantes. Em contrapartida, a escola recompensou as horas trabalhadas com períodos de folga em outras datas ou sempre que necessitavam.

b) Atividades desenvolvidas para tornar os alunos mais participativos - criar atividades diferenciadas, como seminários; passamos a ouvir alunos e melhorar pedagogicamente o formato das avaliações. Essas ações permitiram aos alunos conhecer e participar dos critérios avaliativos das atividades de modo geral (provas, exercícios e seminários). A fim de dar abertura ao diálogo e conhecer as expectativas pessoais dos alunos adotamos o hábito de ir às salas de aulas (coordenador, pedagogo e gestora) deixando claro que estamos “abertos” para ouvirem seus anseios, inquietações e sempre que sentirem necessidade, devem nos procurar para uma conversa. Eles passaram a nos contatar com mais frequência e trazer assuntos diversos, principalmente relacionados à adolescência.

Fizemos esclarecimento sobre a bolsa ofertada pelo governo (FIES) para que eles possam ingressar na faculdade e sempre alertamos sobre as possibilidades de obterem formação em cursos técnicos.

Para a promoção de atividades com práticas de educação ambiental - a cada trimestre uma área de conhecimento desenvolve um projeto em que trabalham atividades diversas, como teatros ambientais, músicas, releitura de textos e ou livros e uma feira onde representaram as culturas de vários países. A escola conta ainda com uma banda de música formada por estudantes. Essas atividades contribuem para que os alunos permaneçam mais tempo na escola e se aproximam da comunidade escolar. Além disso, os alunos participaram de duas visitas técnicas institucionais com o intuito de aproximar teoria e pratica ambiental com prática social (Figuras 3,4 e 5).

Figura 3: Dia da Família na escola, 1ª trimestre área de conhecimento (matemática).

Fonte: arquivo da escola/2016.

Figura 4: Visita ao Parque Botânico da Vale, desenvolvido pela área de conhecimento ciência humana (Geografia), 2ª trimestre.

Fonte: arquivo da escola/2016.

Figura 5: Visita ao Parque Estadual Paulo César Vinha, em Guarapari/ES, desenvolvido pela área de conhecimento ciências da natureza (Biologia).

Fonte: arquivo da escola/2016.

Desse modo podemos afirmar que a escola é comprometida, no sentido de ter seriedade nos processos educativos e, ao mesmo tempo, mais alegre, pelo desenvolvimento dos projetos e atividades envolvendo, sobretudo a educação ambiental que conferiram leveza ao processo de ensino. Por tudo isso, podemos afirmar com tranquilidade que o PJF é altamente positivo para o crescimento de toda comunidade escolar. Isso nos faz crer que tende a trazer melhorias contínuas e crescentes, uma vez que essa foi nossa primeira experiência e que há muito que fazer, no sentido de inserir novas ações e também pelo próprio amadurecimento do grupo de trabalho e de toda a comunidade envolvida.

4.2 Intervenção do PJF no fortalecimento da Educação Ambiental na visita técnica no Parque Paulo César Vinha

Logo abaixo, estão os gráficos obtidos com base no questionário aplicado aos alunos entrevistados após a visita institucional no Parque Estadual Paulo César Vinha. A visita institucional contou com a participação de 40 alunos (as), que foram identificados com relação ao gênero (Gráfico 1).

Gráfico 1: relações de gêneros dos participantes da visita institucional.

Elaboração: as autoras/2016.

Percebe-se que a participação do sexo feminino foi superior correspondendo a 54%, seguida dos 46% do sexo masculino. Com relação à recepção do parque, o resultado demostrou ser satisfatório, uma vez que respeitou o horário de funcionamento, a presença do monitor no horário previsto e também dos responsáveis do parque (Gráfico 2).

Gráfico 2: Dados referentes a recepção dos funcionários do parque.

Elaboração: as autoras/2016.

A pesquisa revela que os alunos consideraram a recepção do parque como excelente, representando o percentual de 63%; seguida de 32% bom; 1,9% regular e 1,9% ruim. Este percentual demonstra que o parque tem certa preocupação em atender os visitantes de forma objetiva e com certo grau de responsabilidade de funcionamento.

Com relação ao percurso do parque de 2,5 km, os alunos (as) concluíram os resultados como satisfatórios a distância desde a recepção até a lagoa dos caraís, (Gráfico 3). O gráfico mostra que 28% dos entrevistados consideraram excelente, 65% bom, 3,8% regular e 1,9% ruim. Importante ressaltar, que o percurso apresenta superfície plana, circundada por flora e fauna de ambiente de restinga e se localiza próxima ao mar, onde não identificamos problemas significativos no percurso, com ressalva apenas aos aspectos relacionados ao horário, em virtude da radiação solar e do calor acentuado.

Gráfico 3: Percurso do parque.

Elaboração: as autoras/2016.

Com relação à distribuição das lixeiras, os entrevistados concluíram o resultado (Gráfico 4). Os resultados revelaram que 36% dos entrevistados acharam excelentes as distribuições das lixeiras, seguidos de 34% bom, 23% regular e 7% ruim. Dessa forma, a distribuição das lixeiras durante o percurso não apresentou um resultado contundente, pois, as distâncias entre elas podem contribuir para uma maior produção de resíduos sólidos no parque.

No que se refere à relação interacional no parque, os entrevistados afirmaram que é um espaço satisfatório para o envolvimento social dos alunos (as) (Gráfico 5).

Verificou-se, também, que os entrevistados consideraram que 40% acharam excelentes, 52% bom, 3,8% regular e 3,8% ruim. O resultado dessa abordagem é muito interessante, pois, revela que as visitas fora do ambiente escolar, principalmente, o uso de espaços não formais de ensino institucional no parque estadual Paulo César Vinha, foram importantes para estimular a percepção e a motivação socioambiental.

Gráfico 4: Distribuição das lixeiras do parque.

Elaboração: as autoras/2016.

Gráfico 5: Interação no parque.

Elaboração: as autoras/2016.

O projeto Jovem de futuro vem de encontro com os ideais de formar comunidades sustentáveis, pois, esta junção fortalecerá o desenvolvimento e acompanhamento da educação ambiental na escola de forma permanente, envolvendo a comunidade escolar e seu entorno pensando juntos nas soluções relacionadas aos problemas atuais construindo um futuro almejado por todos sendo para isto necessário reconhecer as responsabilidades individuais e coletivas em relação a educação ambiental, propiciando mudanças na com]unidade no pais e em todo o planeta.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estamos conscientes que o processo educacional envolve aspectos multidimensionais, que demandam tempo. Tempo para reflexões, para programar novas ações, tempo para amadurecer e tempo para se obterem resultados significativos. Não se mudam valores, hábitos e cultura nesse curto espaço de tempo. Mas consideramos que houve um avanço significativo, já que observamos alterações nas atitudes e comportamentos tanto de alunos quanto de professores. Podemos perceber que o mais importante foi o aprendizado a nova consciência que desenvolvemos e sobre a importância da gestão democrática numa perspectiva de educação ambiental.

A questão ambiental está cada vez presente no cotidiano escolar, principalmente, na sociedade atual, sendo que as mudanças comportamentais, atitudinais são importantes para construirmos uma Educação Ambiental ativa, significativa, contínua e interdisciplinar. A educação escolar e familiar, enquanto forma de conhecimento, é adquirida ao longo de nossas experiências e vivências com o mundo que nos rodeiam. Dessa forma, o uso de espaços não formais de ensino institucionais estimula a curiosidade, oferecendo a oportunidade atrativa e criativa, pois, a ausência de laboratórios, quadras e áreas verdes nas escolas públicas desestimulam o interesse e o prazer pelas aulas tradicionais, ditas expositivas.

Portanto, a implantação da educação ambiental é necessária, sendo esta pautada para os usos dos recursos naturas de maneira racional, criando um controle e proteção do meio natural. Dessa forma, a implantação do Projeto Jovem de Futuro em consonância com o Parque Paulo César Vinha e Jardim Botânico da Companhia Vale do Rio Doce tiveram o papel articulado para formação e alfabetização ecológica e, juntos, têm a função de exercer o ensino e aprendizagem de maneira descentralizada, integrada e participativa, construindo uma educação ambiental, por meio de uma postura interdisciplinar de conscientização, sensibilização de todos os atores envolvidos para ruptura ou mesmo uma mudança de comportamento para criarmos o uso responsável dos recursos naturais, buscando sempre a preservação e conservação da natureza de forma equilibrada.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DIAZ, A. Pardo. Educação ambiental como projeto. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2002.

INSTITUTO UNIBANCO. Curso de gestão escolar para resultados. Módulo: planejamento. São Paulo, 2015.

JAPIASSU, H. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago, 1976.

KELLER, M. A Importância da Aula de Campo no Ensino de Ciências. Disponível em http://www.webartigos.com. Acesso em 15 de agosto. 2016.

REIGOTA, M. Desafios à educação ambiental escolar. In: CASCINO, F.; JACOBI, P.; OLIVEIRA, J. F. (orgs.) Educação, meio ambiente e cidadania: reflexões e experiências. São Paulo: SMA/CEAM, 1997.

TRIPP, D. Pesquisa-ação: uma introdução metodológica. Revista Educação e Pesquisa, São Paulo, v 31, n. 3, p. 443-466, set./dez. 2005.

SANTOS, S. A. M. Reflexões sobre o panorama da dimensão ambiental no

ensino formal. In: Oficina de trabalho Panorama da Educação Ambiental no Ensino Fundamental, 2000, Brasília: MEC, SEF, p. 33-37. 149 p.

SEDU. Situando a EA na SEDU. Disponível em: http://www.educacao.es.gov.br/default.asp. Acesso em 30 setembro. de 2016.

_________. Currículo Básico para o Estado do Espírito Santo. Disponível em: http: www.educacao.es.gov.br/default.asp. Acesso em 30 de setembro d 2016.

VALLE, Ricardo B. La educación ambiental y la redimensión del currículo escolar Instituto Superior Pedagógico Enrique José Varona. La Habana/Cuba, 2000.

Ilustrações: Silvana Santos