Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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INTERAÇÃO SOCIOAMBIENTAL EM UMA COMUNIDADE DA REGIÃO SETENTRIONAL DO PIAUÍ
Pedro Pereira Neves- Assistente de Pesquisa na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária-(Embrapa Meio-Norte), pedro.neves@embrapa.br
Resumo:Objetivou-se promover por meio de um curso a formação da consciência ambiental dos moradores de uma comunidade do entorno de uma área de cerrado ecotonal, na parte setentrional do Piauí. Os conhecimentos transmitidos foram importantes para conjecturar a percepção ambiental dos moradores. Palavras-chave:Conservação, Percepção, Tensão ecológica, Cerrado ecotonal Abstract: The objective was to promote through a course the formation of environmental awareness of the residents of a community around an ecotonal cerrado area, in the northern part of Piauí. The knowledge transmitted was important to conjecture the environmental perception of the residents. Keywords:Conservation, Perception, Ecological tension, Cerrado ecotonal
1. INTRODUÇÃO
As áreas de tensão ecológicas na região setentrional do Piauí constituem setores prioritários para conservação, pois trata-se de áreas transicionais ou ecótonos que apresentam características específicas e geralmente estão mais suscetíveis a degradação ambiental (RIVAS, 1996; CASTRO et al., 2007; SOUSA et al., 2011). Essa diversidade de ambientes formando um complexo conjunto de mosaicos e fisionomias vegetais, amplia a necessidade de conservação das áreas heterogêneas, enriquecidas pelo contato biológico dos biomas circunvizinhos (MMA, 2006). Segundo as diretrizes estratégicas para implementação do programa cerrado sustentável, a valorização através da educação, comunicação e conscientização são meios para o fortalecimento da cultura regional, conservação das riquezas ambientais e sociais para o uso sustentável da diversidade biológica (MMA, 2006). Ao invés do isolamento entre as pessoas e a natureza, será primordial encontrar meios para manter a coexistência da natureza com o desenvolvimento econômico e tecnológico de forma harmônica (ISPN, 2016). Nesse contexto, iniciativas que fomentam a formação da consciência ambiental das populações locais contribuem para conservação e uso sustentável da vegetação (MMA, 2006). O objetivo deste trabalho foi subsidiar a formação da consciência ambientalem uma comunidade do entorno de um cerrado ecotonal da região setentrional do Piauí.
2. METODOLOGIA
A atividade sobre educação ambiental foi desenvolvida na comunidade Pé-do-Morro, localizada no entorno de uma área de cerrado ecotonal, no município de Buriti dos Lopes, pertencente a área de tensão ecológica do Piauí da região setentrional do Piauí, inserida no território de desenvolvimento da planície litorânea e na Área de Proteção Ambiental da Serra da Ibiapaba (RIVAS, 1996; PLANAP, 2006). De acordo com,o Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas a atividade desenvolvida na comunidade caracteriza-se como curso (FORPROEX, 2007). Os aspectos éticos (Conselho Nacional de Saúde, Resolução n°466/2012 e 510/16) foram obedecidos, com a pesquisa submetida à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Ministro Reis Velloso (CMRV), sendo aprovada com o número (CAAE: 51277915.3.00005669/parecer: 1393360). O curso compreende uma forma de retorno de uma pesquisa florística desenvolvida em uma área de cerrado ecotonal do entorno da comunidade Pé-do-Morro, sendo o curso realizado em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Centro de Pesquisa Agropecuária do Meio-Norte, Unidade de Execução de Pesquisa de Parnaíba-(Embrapa Meio-Norte) e ministrado em uma escola da própria comunidade.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os moradores da comunidade foram convidados a participar do curso sobre temas relativos ao meio ambiente para despertar a consciência ambiental dos mesmos. Compareceram ao curso 18 moradores, entre eles, lavradores, professores, dona de casa e estudantes. Primeiramente houve a acolhida dos participantes no local do curso, a escola “Unidade Escolar Aires Portela de Sampaio” da própria comunidade, com explanação dos objetivos, conteúdos e atividades a serem realizados (Figura 1).
Figura 1. Momento inicial da oficina de educação ambiental, comunidade Pé-do-Morro, Município de Buriti dos Lopes, Piauí, Brasil.
Em seguida, iniciou-se a exposição e debate sobre os principais temas ambientais, considerando os exemplos locais do meio ambiente da comunidade. Ministrou-se o curso por meio da exposição oral dos conteúdos, usando recursos multimídia, reflexão, debate em grupo e atividades práticas, comtemplando os temas sobre preservação, degradação e reflorestamento. As atividades práticas foram relacionadas a preparação de adubos orgânicos, plantio de planta nativa na frente da escola e distribuição mudas de plantas nativas aos participantes do curso. Por último, cada participante avaliou o curso por meio de questionário fornecido pela Emprapa Meio-norte, dando contribuições e sugestões para a melhoria do mesmo (Figura 2).
Figura 2. Atividades da oficina desenvolvida na comunidade Pé-do-Morro, Município de Buriti dos Lopes-PI. A, B, C, D e E. Explicações sobre a produção e manejo de adubo orgânico para produção de mudas de plantas. F e G. Distribuição de mudas de plantas para os participantes da oficina. H e I. Plantio de mudas na comunidade.
Buscou-se estimular o interesse dos moradores da comunidade para construção de valores, conceitos e atitudes sustentáveis em relação ao meio ambiente no qual estão inseridos, promovendo a conscientização ambiental.Tal prática, apesar de pontual é uma ferramenta valiosa de interação de saberes da comunidade com o meio acadêmico e vice-versa, que pode culminar na elevação do nível de percepção ambiental, na valorização dos saberes tradicionais locais, no fortalecimento comunitário e do sentimento de pertencimento local (FRANCO et al., 2013). De acordo com as diretrizes estratégias do programa cerrado sustentável, a conservação da vegetação deve necessariamente passar pelo fortalecimento das comunidades e de seus modos de vida relacionados a sustentabilidade dos recursos naturais (MMA, 2006).Muitas espécies de árvores do cerrado são utilizadas pelas comunidades locaispara lenha, carvão, construção, estacas, carros de boi, móveis e utensílios domésticos, tais como as tigelas e colheres de pau usadas pela população rural, com a madeira sendo colhida de forma sustentável (ISPN, 2016). Segundo (JACOBI, 2003),o meio ambiente deve ser tratado em uma perspectiva holística que relaciona o homem, a natureza e o universo, tendo como referência que os recursos naturais se esgotam e que o principal responsável pela sua degradação é o ser humano. Durante o presente curso procurou-se refletir sobre as práticas sociais, em um contexto marcado pela degradação do meio ambiente, proporcionando a conscientização ambiental dos participantes. Como afirma (QUADROS, 2007), as atividades que viabilizam a participação, a responsabilidade socioambiental e o resgate de saberes tradicionais locais podem promover a sustentabilidade e a diminuição dos impactos ambientais.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A interação socioambiental proposta por meio do curso realizado na comunidade Pé-do-Morro, mesmo sendo pontual, foi importante para promover a formação da consciência e percepção ambiental dos moradores do entorno de uma área de cerrado ecotonal da parte setentrional do Piauí.
5. REFERÊNCIAS
CASTRO, A. A. J. F.; CASTRO, N. M. C. F.; COSTA, J. M.; FARIAS, R. R. S.; MENDES, M. R. A.; ALBINO, R. S.; BARROS, J. S.; OLIVEIRA, M. E. A. Cerrados marginais do Nordeste e ecótonos associados. Revista Brasileira de Biociências. Porto Alegre, v. 5. supl. 1, p. 273-275, jul. 2007.
FORPROEX. Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras. Extensão Universitária: organização e sistematização. Belo Horizonte: Coopmed, 2007. 112p.
FRANCO, A. R.; MORAIS, G. A. C.; ANDRADE, M. A.; SILVEIRA, G. T. R. Projeto de educação ambiental para os recursos hídricos do Parauninha:comunidades ribeirinhas como cidadãos ambientaispromotores de sustentabilidade na Região do ParqueEstadual da Serra do Intendente. Ambiente & Educação, v. 18, n. 2, p. 15-36, 2013.
ISPN. Instituto Sociedade, População e Natureza. Conservação Internacional. Perfil do Ecossistema Hotspot de Biodiversidade do Cerrado. ISPN: Brasil, 2016. 459p.
JACOBI, P. Educação ambiental, Cidadania e Sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, n. 118, p. 189-205, mar., 2003.
MMA. Ministério do Meio Ambiente. Programa Nacional de Conservação e Uso Sustentável do Bioma Cerrado. Brasília, DF: Esplanada dos Ministérios, 2006. 56p.
PLANAP. Plano de Ação para o Desenvolvimento Integrado da Bacia do Parnaíba: Território da Planície Litorânea/ CODEVASF. Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba. Brasília, DF: TDA Desenhos & Arte Ltda., 2006. 72p.
QUADROS, A. Educação ambiental: iniciativas populares e cidadania. Santa Maria: UFRM, 46p. Monografia (Especialização), Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria, 2007.
RIVAS, M. P. Macrozoneamento geoambiental da bacia hidrográfica do rio Parnaíba. Rio de Janeiro: IBGE, 1996.
SOUSA, N. V.; FILHO, F. A. V.; CASTRO, A. A. J. F.; WANDERLEY, L. L. Setores prioritários para fins de conservação em área de tensão ecológica da bacia do Parnaíba. In: FAÇANHA, A. C.; SOUSA, M. A. M. (Orgs.). Indicações geográficas e temas em foco. Teresina: EDUFPI, 2011. 384p.
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