Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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11/03/2017 (Nº 59) A RECICLAGEM DESENVOLVIDA EM AMBIENTE NÃO ESCOLAR COMO PRÁTICA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E INTERAÇÃO SOCIAL ENTRE PESSOAS IDOSAS
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A RECICLAGEM DESENVOLVIDA EM AMBIENTE NÃO ESCOLAR COMO PRÁTICA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E INTERAÇÃO SOCIAL ENTRE PESSOAS IDOSAS

 

Eliamar Cabral Silva

(Licenciada em Pedagogia (UFPA); Pós-graduada em Psicopedagogia institucional (ISPEF);Mestranda em Ciências da Educação (World Einstein University – Coral Springs/FL-EUA).

 

Márcia Cabral Silva

(Licenciada em Pedagogia (UFPA); Pós-graduada em Psicopedagogia institucional (ISPEF); Mestranda em Ciências da Educação (World Einstein University – Coral Springs/FL-EUA).

 

Maria Cristina Borges dos Santos

(Bacharela em Serviço Social (UNIGRAN-MT);Licenciada em Pedagogia (UFPA); Mestranda em Ciências da Educação (World Einstein University – Coral Springs/FL-EUA).

 

Marta Batista de Carvalho

(Licenciada em Pedagogia (UFPA); Pós-graduada em Psicopedagogia institucional (ISPEF);Mestranda em Ciências da Educação (World Einstein University – Coral Springs/FL-EUA).

 

RESUMO

 

O presente artigo versa sobre a educação ambiental ministrada em ambiente não escolar, tendo como foco o relato de uma experiência realizada no CRAS de Ourilândia do Norte, com idosos do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos,ressaltando que cuidar do meio ambiente é responsabilidade de todos.

 

Palavras-Chave: Educação Ambiental. Ambiente Escolar e não escolar.  Reciclagem.

 

 

I. Introdução

 

Muito tem se discutido em relação à educação ambiental por se tratar de uma necessidade real e urgente que precisa,além de regulamentação legal, também de uma formação de consciência, onde o ser humano assuma uma nova postura em relação a preservação do meio ambiente.

No entanto ao se abordar esta temática, vale ressaltar a importância do marco legal, a começar pela Constituição Federal brasileira de 1988, que disciplina no capítulo VI, artigo 225, que “Todos tem direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”

Mesmo estando legalmente prevista a responsabilidade (governo e sociedade em geral) no cuidado com o meio ambiente, na prática, não tem surtido muito efeito, em razão do consumismo desenfreado que tem servido de combustível principal para o fortalecimento do sistema econômico vigente, cuja preocupação maior está na produção de bens de consumo e na exploração máxima dos recursos naturais, sem muita preocupação com a preservação do meio ambiente.  

Embora a educação ambiental caracterize-se como sendo um tema transversal, cuja abordagem tem ocorrido em diversas nações e diferentes espaços sociais,tal temática tem sido direcionada,com maior intensidade,aos ambientes escolares.

No atual Plano Nacional de Educação,consta que a Educação Ambiental deve ser implementada no ensino fundamental e médio com a observância dos preceitos da Lei nº 9.795/99.

 

 

A Lei nº 9.795/99, que estabelece a PNEA, afirma, em seu artigo 2º, que “a educação ambiental é um componente essencial e permanente na educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e nãoformal”. O artigo 3º, inciso II, complementa a ideia ao prescrever que cabe às “instituições educativas promover a educação ambiental de maneira integrada aos programas educacionais que desenvolvem”.(BRASIL. Ministério da Educação, Coordenação Geral de Educação Ambiental/2007).

 

 

Abordar esse assunto na educação escolar é uma ação intencional, planejada, cujo propósito échamar a atenção dos alunos para os problemas ambientais causados pela ação do homem ou por fenômenos naturais, para que estes possam tornar-se cada vez mais conscientes da necessidade de preservação do meio ambiente (local e global), entendido nesse contexto como sendo,a escola, a residência, a biblioteca, o parque, a igreja, enfim, todo espaço ocupado pelo homem ou por outros seres (animais ou vegetais) no planeta Terra.

Tal direcionamentojustifica-se em razão da criança e do jovem, público maioritário das salas de aulas de Educação Básica, possuírem maior abertura para assimilar novos conhecimentos, hábitos e atitude,pelo fato deestaremem processo de formação no que tange aos aspectos físico, psicológico, moral e ético, peculiaridade que favorece a mudança, ao contrário do que ocorreria com uma pessoa adulta, que naturalmente apresentaria maior resistência.

É importante lembrar que o ensino-aprendizagem também ocorre em ambientes não escolares e que tais ambientes podem representar a oportunidade de aquisição de conhecimentos para pessoas de diferentes faixas etárias, inseridas tanto na política de educação pública ou em outras políticas sociais.

Para melhor compreensão,o “não escolar” é uma referência a uma proposta que emerge de planejamento e execução que não requerem relações de controle curricular. É também uma expansão da reflexão para além dos limites meramente escolares, isto é, reflexão sobre o papel de outros espaços como instâncias de reprodução ou mudança social.(PALHARES, 2008).

 

II. Educação Ambiental: Conceitualização e breve histórico

 

Entende-se que o ato de educar está presente em diferentes contextos sociais existentes dentro e fora do ambiente escolar, caracterizando-se como “prática social”,cujo objetivo é envolver o homem num processo de transformação constante, onde se ensina e também se aprende enquanto se ensina.

Educar é uma forma de entrar em contato com o outro e com a natureza, de criar e reproduzir os modos de vida e de comportamento em cada cultura. Esse entendimento de educação se aplica em qualquer área do conhecimento e, por conseguinte, também na Educação Ambiental. A Lei Federal nº 9.795/99 define a Educação Ambiental como sendo

 

O processo por meio do qual o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.”

 

É notório afirmar que a sociedade moderna possui um modo muito peculiar de pensar e desenvolver a educação ambiental, onde a natureza é concebida como fonte inesgotável de recursos e o homem o “senhor e dominador” desses recursos, deixando a negativa impressão de que não há limites entre a relação homem e natureza.

O ser humano necessita compreender, de uma vez por todas, que é totalmente dependente da natureza e que o homem está “junto com” e “na” natureza, o que implica afirmar que dela depende a sua existência.

A preocupação com o meio ambiente surgiu com maior destaque a partir da década de 60, através de movimentos ambientalistas, também conhecidos como “movimentos ecológicos”, que visavam chamar a atenção da sociedade em geral para os problemas ocasionados pela degradação do meio ambiente, em razão da ação do homem em nome do desenvolvimento econômico e do consumismo exacerbado.

 

 

O ambientalismo, movimento histórico originado a partir do reconhecimento dos assustadores efeitos da intervenção antrópica na biosfera, reprova os paradigmas norteadores da sociedade industrializada de consumo e propõe uma discussão no rumo do nosso desenvolvimento objetivando o início de um novo momento pautado na sustentabilidade.(GONÇALVES, 1998)

 

 

                        Na década de 70, em Estocolmo é realizada a primeira Conferência das Nações Unidas sobre questões ambientais, envolvendo a ação do homem sobre o meio ambiente e, segundo registros, pela primeira vez, a relação dos seres humanos com o meio ambiente começou a ser questionada.

 

A Conferência de Estocolmo, em 1972, levantou a necessidade de ser planejada todo um processo de educação ambiental, levando a criação do Programa Internacional de Educação AmbientalUNESCO/PNUMA, em 1975. Em 1973, ocorreu o primeiro registro mundial de programas de educação ambiental nos Estados Unidos da América. Na Finlândia, em 1974, a educação ambiental foi reconhecida como integral e permanente, e em Belgrado, foram estabelecidos metas e princípios desta educação. Em 1975, a divisão de Educação Ambiental da UNESCO enviou a 136 membros um questionário dirigido aos especialistas em EA e tomadores de decisão, buscando avaliar a tendência dos programas de educação ambiental. Este estudo chegou a seguinte conclusão: que os programas de educação ambiental vem sendo insuficientes para que o meio ambiente seja uma preocupação nacional, principalmente nos países em desenvolvimento, onde se constata a ausência de programas interdisciplinares. Não foram criados programas educativos articulados em torno de problemas reais e regidos por uma lógica funcional dirigida a sua resolução em nenhum dos países estudados. (MEDEIRO e MERCÊS,2001)

 

                                                            

                   As questões sociais e ambientais começaram a ser repensada a partir do momento em que a sociedadecomeçou a se preocupar com questões sociais inerentes ao combate a fome, a preservação da natureza, a miséria, ao analfabetismo, a poluição e a exploração do homem pelo homem, levando a raça humana a entender que, ao destruir a natureza, também estaria se autodestruindo.

Além da Conferência de Estocolmo, como marco importante para ampliar a discussão das questões ambientais a nível mundial, outros eventos internacionais também contribuíramsignificadamente, para que a Educação Ambiental fosse reconhecida como necessária e seus fundamentos, metas e princípios fossem definidos.

Dentre esses eventos, como bem pontua ARAÚJO (2007), estão:

1) A primeira Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, realizada em outubro de 1.977, na cidade de Tbilisi, antiga URSS, considerado um dos mais importantes eventos internacional em favor da educação ambiental. A partir desse momento a educação ambiental passou por um projeto transformador, critico e politico;

2) Divulgação do Relatório “Nosso Futuro Comum”, em 1987, conhecido como “Relatório Brundtland”, que inauguraria a terminologia “desenvolvimento sustentável”. No mesmo ano, realiza-se o “Congresso Internacional da UNESCO-PNUMA sobre Educação e Formação Ambiental”, em Moscou. Tal Congresso teve por objetivo avaliar os avanços obtidos em educação ambiental desde Tbilisi, além de reafirmar os princípios de educação ambiental e assinalar a importância e necessidade da pesquisa e da formação em educação ambiental;

3) Formulação, em 1.988, da Declaração de Caracas sobre Gestão Ambiental na América, que denunciaria a necessidade de mudança no modelo de desenvolvimento;

4)Primeiro Seminário sobre materiais para a Educação Ambiental, realizado no ano de 1.989, em Santiago, no Chile;

5) Declaração de Haia, em 1.989, documento preparatório da RIO 92, que demonstra a importância da cooperação internacional nas questões ambientais;

6)Conferência Mundial sobre Educação para Todos: “Satisfação das Necessidades Básicas de Aprendizagem”, realizada em Jomtien, Tailândia em 1.990, que aprovou a “Declaração Mundial sobre Educação para Todos”;

7) Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como Eco-92, realizada em 1.992, no Rio de Janeiro;

8) Congresso Mundial para Educação e Comunicação sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada em Toronto, no Canadá,em 1.992 e o “I Congresso Ibero-americano de Educação Ambiental: uma estratégia para o futuro, realizado em 1.992, na cidade de Guadalajara, no México, que se manifestaria em sequência, nos seguintes eventos: “II Congresso Ibero-americano de Educação Ambiental: em busca das marcas de Tbilisi”, realizado também em Guadalajara, no México, no ano de 1.997;

9) III Congresso Ibero-americano de Educação Ambiental: povos e caminhos para o desenvolvimento sustentável, realizado no ano de 2000, em Caracas, Venezuela;

10) IV Congresso Ibero-americano de Educação Ambiental: um mundo melhor é possível, realizado em 2.003, na cidade de Havana, Cuba;

11) V Congresso Ibero-americano de Educação Ambiental, realizado no Brasil, na cidade deJoinville, em 2.006;

12)Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade: Educação e Conscientização Pública para a Sustentabilidade, realizada em Thessaloniki, na Grécia (no período de 8 a 12 de dezembro de 1.997). Organizada pela UNESCO e pelo Governo da Grécia, reuniu aproximadamente 1.200 especialistas de 83 países.

Em razão do foco deste estudo não ser o marco histórico da educação ambiental, não se aprofundará na explicação do objetivo de cada um dos eventos citados acima, porém, é importante ressaltar que, a Educação Ambiental passou a ser abordada de forma mais crítica e política,enfatizando a necessidade de preservar os meios naturais e sociais, a partir da reflexão proporcionada através desses eventos, despertando a atenção do mundo para as consequências da depredação ambiental.

Respeitar o meio ambiente é uma tarefa que exige ensino, dedicação, mudança de hábito e concepções. A partir desse entendimento, a educação ambiental visa a busca de valores, conhecimentos e atitudes voltadas para a preservação do meio ambiente, podendo ser desenvolvida dentro das escolas ou em ambientes não escolares como:sindicatos, empresas eentidades ligadas ao meio ambiente, entre outros.

 

III. Educação Ambiental em ambiente não escolar: relato de uma experiência

 

A experiência que será relatada neste tópico, trata-se de um projeto de educação ambiental desenvolvido no Centro de Referência de Assistência Social,no município de Ourilândia do Norte, Estado do Pará, com pessoas idosas usuárias do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos. O referido projeto foi acompanhado pelas autoras deste artigo, com o propósito de conhecer e refletir sobre a prática de Educação Ambiental em ambiente institucional fora da escola.

O Centro de Referência de Assistência Socialé uma unidade pública estatal descentralizada da política de assistência social, responsável pela oferta dos serviços socioassistenciais da Proteção Social Básica[1]do SUAS - Sistema Único de Assistência Social.(BRASIL. Política Nacional de Assistência Social/2004).

A referida unidade representa a estrutura física onde é ofertado o PAIF – Serviço de Proteção e Atendimento Integral a Famílias[2] e o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para Pessoas Idosas, tendo este último o objetivo de “promover ações e atividades pautadas nas características, interesses e demandas da pessoa idosa, considerando a vivência em grupo, as experiências artísticas, culturais, esportivas ede lazer e a valorização das experiências vividas”.(BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome/2012).

Considerando o objetivo do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para pessoas idosas, o Projeto de Educação Ambiental “Arte e reciclagem: terceira idade em ação”visa abordar a educação ambiental tendo como referência os 3Rs da sustentabilidade: Reduzir, Reutilizar e Reciclar, enfatizando a importância da reciclagem como ação mitigadora na redução do impacto ambiental.

O referido projeto utiliza a reciclagem de papel na produção artesanal de utensílios domésticos diversos como: bandeja, sousplat, puxa-saco, suporte para pratos, porta-pano, cesta de frutas, abajur, porta-revista e porta-lápis, para uso pessoal dos próprios idosos e com a participação ativa na construção desses produtos dos cinquenta usuários inseridos no serviço.

Segundo a educadora social- profissional que atua na política de assistência social, intervindo com diversas populações: crianças, jovens, adultos em contextos sociais, culturais e educativos diversos -,idealizadora doprojeto, este surgiu da necessidade de encontrar material alternativo para desenvolver atividades diversas com os idosos. A partir dessa iniciativa, percebeu-se que haveria possibilidade de introduzir, de forma descontraída e significativa, a Educação Ambiental.   

É importante citar que o projeto focou a reciclagem de papel como alternativa para o reaproveitamento do que, em tese, seria descartado, reutilizando o papel na construção de novos produtos, possibilitando momentos de reflexão sobre atitudes que podem contribuir para a preservação do meio ambiente.

A matéria prima (o papel) proveniente de revistas, livros e jornais, foram coletados através de busca ativa em instituições como: casas de distribuição de catálogos para venda direta, gráficas e bibliotecas, as quais se dispuseram a fornecê-los gratuitamente. Os idosos também contribuíram na coleta desses produtos, doando revistas e livros velhos de uso pessoal de seus familiares e vizinhos.

No desenvolver do projeto foram realizadas oficinas temáticas abordando o conceito sobre Meio Ambiente como espaço social, instigando os usuários a refletir sobre “como poderiam contribuir na preservação da natureza e suas diversidades, transformando lixo em arte” e também “como poderiam contribuir para minimizar o impacto ambiental, a partir de atitudes cotidianas, envolvendo desde a coleta dos resíduos ao seu destino final.”

Os usuários puderam compreender de forma mais significativa, o conceito sobre desenvolvimento sustentável, lixo e reciclagem, a relação de dependência existente entre o homem e a natureza. A partir da introdução do significado de “Reduzir, Reutilizar e Reciclar”, abordou-se sobre o consumismo desenfreado do ser humano e sobre a necessidade de combater o desperdício de materiais e contribuir para a diminuição de passivos nos aterros e da exploração de recursos naturais. Ao prolongarmos a vida útil dos resíduos, tanto pela reciclagem quanto por sua reutilização, cumprimos o papel essencial de reduzir o consumo de energia e matéria-prima para a produção de novos produtos.(DEL CHIARO, 2015).

Abordar questões inerentes ao meio ambiente no Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para pessoas idosas, de forma descontraída e com a participação ativa dos usuários, além de propiciar a reflexão e construção de novas aprendizagens, serviu para que ambos socializassem suas histórias de vida, resgatando suas memórias e vivências, estimulando o desenvolvimento de sentimentos positivos como: autoestima, pertencimento, alegria, solidariedade, amizade e respeito, atendendo ao disposto nos fundamentos e princípios da Educação Ambiental.

 

 “Uma educação ambiental crítica aponta para transformações radicais nas relações de produção, nas relações sociais, nas relações homem natureza, na relação do homem com sua própria subjetividade, num processo de construção coletiva de uma ética, uma nova cultura, novos conhecimentos. Processos esses assumidos por sujeitos individuais e coletivos que desvelam a necessidade da construção de novo paradigma, um novo modelo de relacionamento com a natureza e de intervenção na história.”(GUIMARÃES, 2000).

 

 

 

            Portanto, a educação ambiental ministrada dentro dessa perspectiva poderá contribuir para o desenvolvimento de competências e habilidades que favorecerão a socialização de valores capazes de somar namudança de hábitos e atitudes em relação ao cuidado com o meio ambiente.

É necessário citar que o Projeto “Arte e reciclagem: terceira idade em ação” é uma atividade socioeducativa projetada para ser desenvolvida durante todo o ano de 2016, sendo que, neste primeiro semestre os idosos aprenderam a confeccionar, através da reciclagem de papel,apenas sousplat, bandeja para comportar garrafa de café e xícaras.

Já no segundo semestre, segundo a educadora social que coordena o projeto, serão confeccionados suporte para pratos, porta-pano, cesta de frutas, porta-revista e porta-lápis, sendo que os dois últimos produtos citados serão doados às crianças que também são atendidas no CRAS – Centro de Referência de Assistência Social, por ocasião do dia das crianças.

Percebe-se que, as ações do projeto em referência, enquanto estratégia de educação em ambiente não escolar, sem o rigor metódico de uma sala de aula, tem contribuído para criar um espaço de aprendizagem onde os idosos tem a liberdade de expor suas opiniões, explorar sua criatividade, adquirir novos conhecimentos sobre o homem e sua relação com o meio ambiente ao longo da história da humanidade, direcionando-os para uma reflexão crítica sobre a exploração dos recursos naturais e sobre a responsabilidade da coletividade em zelar e preservar o meio ambiente.

 

 

 

 

 

 

 

 

IV. Considerações finais

 

A educação Ambiental como proposta de mudanças de paradigmas em relação à visão do homem sobre o cuidado com o meio ambiente, tem sido discutida, definida e redefinida ao longo da história, nos diferentes contextos sociais, sempre partindo da preocupação em satisfazer as necessidades de ordem material da humanidade e garantir que os recursos naturais, matéria prima essencial à essa demanda, esteja sempre disponível para ser explorado.

Ocorre que o homem já percebeu que a mãe natureza, sempre tão disponível, também possui seus limites de doação, os quais devem ser respeitadossob pena de extinção da raça humana. E por reconhecer tais limites, cada vez mais tem se preocupado, teoricamente, com a preservação do meio ambiente local e global, tentando-se implantar a cultura do desenvolvimento sustentável.

Essa preocupação tem se materializado através da criação de leis visando disciplinar a exploração dos recursos naturais e também a conduta humana em relação ao meio ambiente.Porém, apesar da existência de um vasto arcabouço legal, a atitude do homem ainda tem sido mais de exploração e degradação ambiental do que de cuidado e preservação. 

O projeto “Arte e reciclagem: terceira idade em ação” se apresenta como uma proposta metodológica que poderáser utilizada para ministrar a Educação Ambiental, possibilitando que os sujeitos envolvidos no processo possam interagir uns com os outros na socialização do conhecimento e a partir de ações descomplexas, prazerosas e criativas, promover a transformação em si e no meio onde vivem.

Toda ação voltada a informar e educar o homem em relação àpreservação ambiental deve ser reconhecida como legítima, independentemente de como e onde ela ocorra, afinal, a Educação Ambiental é única e esta distinção é feita apenas para diferenciar onde será realizada, se dentro de um ambiente formal de ensino ou se fora deste.

 

 

 

 

Referências

 

ARAÚJO, Thiago Cássio d’Ávila. “Principais marcos históricos mundiais da educação ambiental”, disponível no site: http://noticias.ambientebrasil.com.br, acesso realizado no dia 08/06/2016.

 

BRASIL.Ministério de Desenvolvimento e Combate à Fome. “Orientações Técnicas do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para Pessoas Idosas”. Ed.2012.

 

__________. Ministério da Educação, Coordenação Geral de Educação Ambiental. “Vamos cuidar do Brasil: conceitos e práticas em educação ambiental na escola”. UNESCO, 2007.

 

__________.Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 05 de outubro de 1.988. Brasília, 1988.

 

________. Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da Educação Nacional. Brasília, 1996.

 

________. Lei nº 9.795 de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a Educação Ambiental, institui a política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Brasília, 1999.

 

________. Lei n° 13.005, de 25 de junho de 2014, que aprova o Plano Nacional de Educação. Brasília, 2014.

 

________. Política Nacional de Assistência Social/2004 Lei nº 9.795 de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a Educação Ambiental, institui a política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Brasília, 1999.

 

________. Política Nacional de Assistência Social,Brasília, 2004.

 

DEL CHIARO, Valdir. “Você sabe qual a diferença entre reciclar e reutilizar?” – texto disponível no site http://www.teraambiental.com.br/blog-da-tera-ambiental, acesso realizado em 09/06/2016.

 

GONÇALVES, C.W.P. Os descaminhos para o meio ambiente. São Paulo: Contexto, 1998.  

 

GUIMARÃES, M. Por uma educação ambiental critica. In: GUIMARÃES, M. Educação ambiental, no consenso um embate? Ed. Papirus. Campinas - 2000

 

MEDEIROS, R.; MERCÊS, M. “Educação Ambiental: história e prática”. Apostila NADC, Rio de Janeiro:UFRJ,2001.

 

PALHARES, José Augusto. Os sítios de educação e socialização juvenis: experiências e representações num contexto não escolar. Educação, Sociedade & Culturas, n. 27, 2008.



[1] Tem como objetivo prevenir situações de risco por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições, e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. Destina-se à população que vive em situação de vulnerabilidade social decorrente da pobreza, privação (ausência de renda, precário ou nulo acesso aos serviços públicos, dentre outros).

[2]Objetiva desenvolver ações e serviços básicos continuados para famílias em situação de vulnerabilidadesocial na unidade do CRAS, tendo por perspectivas o fortalecimento de vínculos familiares ecomunitários, o direito à Proteção Social Básica e a ampliação da capacidade de proteção social ede prevençãode situações de risco no território de abrangência do CRAS.

Ilustrações: Silvana Santos