Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Relatos de Experiências
11/03/2017 (Nº 59) MEIO AMBIENTE E RESPONSABILIDADE AMBIENTAL
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MEIO AMBIENTE E RESPONSABILIDADE SOCIAL

Maria José Lopes da Silva¹, José Augusto Lopes da Silva², Elias Fernandes de Medeiros Junior³

¹ Licenciada em História pela Universidade Federal do Pará Campus Bragança. Email: maryufpa2011@gmail.com

² Licenciado em Matemática pela Universidade do Estado do Pará. Discente de Pós Graduação em Educação com Ênfase no Ensino Fundamental II e Médio pela Universidade do Norte do Paraná-UNOPAR.

³ Engenheiro de Pesca. Mestre em Aquicultura e Recursos Aquáticos Tropicais. Docente do Instituto Federa de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas Campus São Gabriel da Cachoeira. elias.aqrat@gmail.com

RESUMO

O presente artigo trata de reflexões pertinentes no âmbito da educação ambiental e da sociedade. O trabalho tem como objetivo fazer um estudo sobre a educação ambiental no cotidiano dos moradores e alunos que estudam e residem no bairro do centro da cidade de São Gabriel da Cachoeira, localizada no Noroeste do Estado do Amazonas há 850 km da capital Manaus e destacar possibilidades de indagações, problematizações e desafios sobre a educação ambiental. Tendo a conscientização que o ambiente é responsabilidade de toda a sociedade; questiona-se então porque essa sociedade não cuida do bem que é comum para todos? Sabendo que é importante para a formação de indivíduos críticos em nossa sociedade a educação ambiental não parece ser uma preocupação por parte dos alunos e moradores, uma vez que os indivíduos poluem o meio em que vivem fazendo com que conceitos importantes dentro do ensino da educação ambiental estejam presentes somente nas leis, e não na prática. Afirmações como essas foram tidas mediantes observações diárias do comportamento dos indivíduos observados.   Neste artigo a reflexão sobre meio ambiente e responsabilidade social nos permite elos com a temática das relações entre meio ambiente e educação, e é somente com práticas cotidianas que demandem iniciativas individuais que o ambiente será preservado e saberemos de fato o significado do termo responsabilidade social.

PALAVRAS-CHAVE: Ambiente, Educação, Social.

 

 

INTRODUÇÃO

Na segunda metade do século XX duas ideias principais marcam esse período uma é a noção de desenvolvimento e a outra está relacionada aos direitos humanos. Em ambos os casos o sistema das Nações Unidas desempenha o papel de promotor e impulsionador dos processos de debate e formulação de agentes que colocam estes temas para a sociedade (JACOBI, 2006). No caso do tema meio ambiente, a sua emergência é mais recente, como consequência dos debates sobre os ricos de degradação do meio ambiente, que de forma esparsa, começaram nos anos sessenta. A problemática da sustentabilidade assume um papel central na reflexão em torno das dimensões socioeconômicas e ambientais do desenvolvimento e das alternativas que se configuram. O quadro socioambiental que caracteriza as sociedades contemporâneas revela que a relação estabelecida entre os humanos e o meio ambiente está causando impactos cada vez mais complexos, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos, nas condições de vida das populações e na capacidade de suporte planetária com vistas a garantir a qualidade de vida das futuras gerações.

 

A qualidade de vida de gerações futuras e os impactos mais frequentes entre o homem e o meio ambiente passaram a se uma preocupação para autoridades e políticos, colocando a problemática da sustentabilidade no centro de importantes discursões, onde se buscava encontrar maneiras de frear os impactos entre a “aproximação” do homem no ambiente. A questão ambiental emerge como problema significativo, a nível mundial, em torno dos anos 70, expressando um conjunto de contradições entre o modelo dominante de desenvolvimento econômico-industrial e a realidade socioambiental. Essas contradições, engendradas pelo desenvolvimento técnico-científico e pela exploração econômica, se revelaram na degradação dos ecossistemas e na qualidade de vida das populações, levantando, inclusive, ameaças à continuidade da vida no longo prazo. Os reflexos desse processo podem ser observados nas múltiplas faces das crises social e ambiental e tem gerado reações sociais, em escala mundial, e despertado a formação de uma consciência e sensibilidade novas em torno das questões ambientais. Nacional e internacionalmente, embora de formas diferenciadas, essa consciência ecológica cresceu e, gradualmente, foi se materializando no seio da opinião pública, nos movimentos sociais, nos meios científicos, nas agências e políticas públicas, nos veículos de comunicação social, nos organismos e bancos internacionais, nas organizações não governamentais e nas iniciativas empresariais, entre outros. (LIMA,1999)

 

A Educação Ambiental e a sustentabilidade andam de mãos dadas para a formação de novos cidadãos preocupados com meio ambiente que faz parte do seu cotidiano.  As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental enfatizam bem o que é educação ambiental e a dimensão da sua importância para sociedade e para gerações futuras. Como podemos verificar no Artigo 2:

 

Art.2- A Educação Ambiental é uma dimensão da educação, é atividade intencional da prática social, que deve imprimir ao desenvolvimento individual um caráter social em sua relação com a natureza e com os outros seres humanos, visando potencializar essa atividade humana com a finalidade de torná-la plena de prática social e de ética ambiental.

 

Uma vez que a preocupação não tem que sair apenas de governantes e sim da própria população que de certa forma está “acostumada” a ver suas áreas verdes cheias de requisios de folhas de papel, sacos plásticos, chicletes, sem mencionar as garrafas pet´s que são tão comuns de ver entre vegetações, rios e lugares públicos que esquecemos que não fazem parte da paisagem.

A grande questão não é o sentimento por essa grande responsabilidade com o ambiente, mas sim, a sensação de um peso insuportável em que responsabilidade e impotência se confrontam, quando o resultado do processo educativo tão importante para a formação de cidadãos preocupados com meio em que vive; não se reverte e muitas vezes nem se aplica em práticas cotidianas significativas.

Segundo Tristão (2005), a Educação Ambiental está ligada a dois desafios vitais: a questão da perturbação dos equilíbrios ecológicos, dos desgastes da natureza, e a questão da educação.

A questão da educação se tornar o desafio maior, pois pouco adiantaria todo um processo de restruturação de um ambiente destruído, por exemplo, se a população que nele habita destruísse novamente. Os desequilíbrios e a educação são heranças de um modelo de desenvolvimento socioeconômico que se caracteriza pela redução da realidade a seu nível material econômico, pela divisão do conhecimento em disciplinas que fragmentam a realidade, pela redução do ser humano a um sujeito racional, pela divisão das culturas. ( TRISTÃO, 2005)

 

A educação como um todo não é somente responsabilidade dos políticos, governantes ou dos professores e sim da educação que é iniciada na residência do individuo, pois a educação que ele recebe em casa leva para convívio com a sociedade.

Este trabalho tem como objetivo fazer um estudo reflexivo sobre a educação ambiental no cotidiano dos moradores e alunos que estudam e residem no bairro do centro da cidade de São Gabriel da Cachoeira- AM.  Através de observações feitas em diferentes locais do bairro e especificamente no ambiente central onde está localizado um dos principais colégios do município (Colégio São Gabriel), e responder ao logo do trabalho, por que a sociedade não cuida do bem comum a todos, que é o ambiente?

METODOLOGIA

O trabalho se deu em diferentes momentos de percepção, registros, observações constantes e reflexões feitas sobre a educação ambiental dos moradores e alunos do bairro do Centro do município de São Gabriel da Cachoeira, localizado a noroeste do Estado do Amazonas onde as únicas vias de acesso à cidade ocorrem por meio de aeronaves ou embarcações. Sua população em 2010 era de 37.896 habitantes a estimativa de aumento populacional para o ano de 2016 foi de 43.831 habitantes (IBGE, 2016). Grande parte do município integra um conjunto das terras indígenas, em área contígua de 10,6 milhões de hectares, abrigando 22 etnias indígenas que ocupam a região há pelo menos dois mil anos, abrigando, cerca de 10% da diversidade indígena atual do Brasil (FOIRN, 2003).

As observações feitas geraram reflexões preocupantes a respeito da educação ambiental dos moradores da cidade principalmente do centro e sobre as politicas publicas aplicada para a conscientização dos mesmos para a preservação dessas belezas naturais e a forma correta para o descarte de lixos como: papel, garrafa de refrigerantes, sacos de biscoitos entre outros que até então parecem inofensivos por se tratar de “pequenos”, mas que juntos causam um grande danos à natureza.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Inicialmente o impacto de ver que uma cidade tão distante da capital do Amazonas (Manaus), que deveria a princípio ter sua flora preservada; sofria dos mesmos problemas de diferentes cidades que são cortadas por rios, a falta de tratamento de esgoto, onde o mesmo e despejado no rio. Como é o caso da cidade de Moju, Bragança no Pará, entre outras, verificou-se que a cidade de São Gabriel da Cachoeira encontra-se na mesma situação tem parte do esgoto da cidade despejado às margens do Rio Negro que corta toda a cidade, sendo que os próprios morados das proximidades do rio jogam lixo, ou fazem cestas de lixo improvisadas que a mesma se corrompe pela ação da chuva e sol fazendo com que o lixo caia no chão sendo levado em dias de chuva para o rio. Fatos como esses podem ser facilmente observados e comprovados na cidade.

Outra observação foi a cerca da educação ambiental dada aos alunos do colégio São Gabriel, pois se é trabalhada por parte dos professores a conscientização em preservar o ambiente em que vivem os alunos não estão utilizando, sem generalizar observa-se diariamente lixo como: lenços de papel, plástico, latinhas de refrigerante, entre outros sendo jogados na praça central do bairro como podemos observar na figura 1.

 

Figura 1: Praça do Bairro do Centro de São Gabriel da Cachoeira- AM. Acervo pessoal

Na figura 1 pode-se perceber a falta de conscientização que há por parte da população em preservar um ambiente limpo e bem cuidado, essa é apenas uma de várias outras imagens vistas todos os dias. A Educação Ambiental deve proporcionar as condições para o desenvolvimento das capacidades necessárias; para que grupos sociais, em diferentes contextos socioambientais do país, intervenham de modo qualificado tanto na gestão do uso dos recursos ambientais quanto na concepção e aplicação de decisões que afetam a qualidade do ambiente, seja físico-natural ou construído, ou seja, educação ambiental como instrumento de participação e controle social na gestão ambiental pública.

A “educação ambiental como instrumento de participação social” como o autor bem enfatiza acima reforça a ideia que o ambiente é um bem comum de todos, e deve se preservado por todos, de criança a adultos, aprendendo desde convívio com familiares ao convívio com a comunidade. A educação ambiental é um processo de reconhecimento de valores e clarificações de conceitos, objetivando o desenvolvimento das habilidades e modificando as atitudes em relação ao meio, para entender e apreciar as inter-relações entre os seres humanos, suas culturas e seus meios biofísicos. A educação ambiental também está relacionada com a prática das tomadas de decisões e a ética que conduzem para a melhora da qualidade de vida. (Conferência Intergovernamental de Tbilisi 1977).

Nessa direção, a educação para a cidadania representa a possibilidade de motivar e sensibilizar as pessoas para transformar as diversas formas de participação em potenciais fatores de dinamização da sociedade e para uma nova proposta de sociabilidade baseada na educação para a participação, esta se concretizará principalmente pela presença crescente de uma pluralidade de atores que, através da ativação do seu potencial de participação terão cada vez mais condições de intervir consistentemente e sem tutela nos processos decisórios de interesse público, legitimando e consolidando propostas de gestão baseadas na garantia do acesso à informação, e na consolidação de canais abertos para a participação (JACOBI, 2003).

A educação ambiental e o meio em que indivíduos em sociedade constroem valores sociais, segundo o decreto de nº 4.281, de 25 de janeiro de 2002 que regulamenta a lei nº 9.795, de 27 de Abril de 1999, o Art.1º afirma que:

Entende-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.

 

Então podemos observar que com a participação ativa da comunidade em geral, tanto na limpeza da frente da sua casa, como levar até uma lixeira a garrafinha de refrigerante ingerida na rua ou na escola, teríamos resultados plausíveis para uma educação ambiental inserida na convivência diária com outras pessoas, uma vez que os exemplos são passados diariamente, tanto no convívio familiar, na escola quanto na sociedade.

Assim a educação ambiental não estaria apenas nas leis ou na consciência de poucos, mas sim inserida em todos os moradores da cidade de São Gabriel da Cachoeira e nos demais moradores de outras cidades, onde as belezas naturais são tão expressivas e tão necessitadas de cuidados.

 

CONCLUSÃO

A questão ambiental, neste sentido, define, justamente, o conjunto de contradições resultantes das interações internas ao sistema social e deste com o meio envolvente. Vale ressaltar a falta de propostas públicas para conscientização da população do município de São Gabriel da Cachoeira-AM, para uma maior preocupação com o meio em que vive conscientizações essas que perpassem da forma mais simples de ensinar a não jogar um papel no chão, até a conscientização em grupo, de jovens que ao longo dos finais de semanas se divertem as margens do Rio Negro na orla ficando depois um rastro de lixo como: vidros, metal, plásticos, poluindo assim o rio que os mesmos tomam banho.

A consciência ambiental tem que ser ministrada dentro de casa, para que a criança aprenda de pequeno preservar o ambiente em que vive, sabendo que não serão só elas a utilizar essas ambientes e sim diversas outras pessoas.

O grande desafio é de cada um, que formamos uma sociedade que precisa de mais exemplos práticos e de conscientização de que o ambiente assim como toda a sua composição precisa de cuidados para não se tornar passado e sim permanece no presente e se admirado por gerações futuras.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

CONFERÊNCIA INTERGOVERNAMENTAL de Tbilisi 1977 (). Acesso em 28/09/2015

FOIRN. Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro. Plano de proteção e fiscalização das terras indígenas do Alto Rio Negro, Médio Rio Negro I, Médio Rio Negro II, Rio Tea e Apaporis ( versão aprovada pelo PPTAL em 2003). In: [FOIRN/ISA]. Construíndo as políticas através do programa regional de desenvolvimento indígena sustentável do Rio Negro. Primeira Oficina do Programa Regional de Desenvolvimento Indígena Sustentável do Rio Negro. 26 a 29 ago. São Gabriel da Cachoeira, AM: FOIRN/ISA; 2003. P. 11-9.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades. Disponível em http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=130380&search=amazonas|sao-gabriel-da-cachoeira. Acesso em: 05. Outubro.2016.

JACOBI, Pedro. Educação ambiental e o desafio da sustentabilidade socioambiental. Prof.Dr. Titular da Faculdade de Educação e Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo. Publicado na Revista: Mundo da Saúde- vol30/4- Centro Universitário São Camilo- SP, 2006.

LEI Nº 9.795, DE 27 DE ABRIL DE 1999 DOU de 28/04/99 (Regulamentada pelo Decreto n° 4.281, de 25 de junho de 2002) Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e da outras providências.

LIMA, Gustavo Ferreira da Costa. "Questão ambiental e educação: contribuições para o debate". Ambiente & Sociedade, NEPAM/UNICAMP, Campinas, ano II, nº 5, 135-153, 1999.

TRISTÃO, Martha. Tecendo os fios da educação ambiental: o subjetivo e o coletivo, o pensado e o vivido. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 251-264, maio/ago. 2005 p, 254.

 

Ilustrações: Silvana Santos