Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Relatos de Experiências
27/11/2016 (Nº 58) TRILHA ECOLÓGICA COMO ESTRATÉGIA PARA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
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TRILHA ECOLÓGICA COMO ESTRATÉGIA PARA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM SALVATERRA, PARÁ, BRASIL

Ecological trail as learning strategy for environmental education in Salvaterra, Pará, Brazil

 

Jone Clebson Ribeiro Mendes1; Kelly Liane da Silva Sampaio1; Abraão de Jesus Barbosa Muribeca1; Alcindo da Silva Martins-Junior2; Ana Cláudia Caldeira Tavares-Martins2

 

 

1Bolsistas de Extensão, Departamento de Ciências Naturais, Universidade do Estado do Pará, Rua do Una, 156, Telegrafo, 66050-540, Belém, PA. E-mail: jhonnie321@hotmail.com

 

2Msc. e Dra. em Botânica, Departamento de Ciências Naturais, Universidade do Estado do Pará, Rua do Una, 156, Telegrafo, 66050-540, Belém, PA.

 

 

Resumo: A trilha ecológica como um recurso pedagógico tem se mostrado um elemento motivador na apropriação dos princípios da EA visando desenvolver principalmente, o sentimento de valorização, preservação e conservação do ambiente, no educando. Este estudo foi realizado com alunos do 5º e 6º ano do ensino fundamental (3ºciclo) da rede municipal do município de Salvaterra-PA, utilizando para tal a área da reserva “Mata do Bacurizal”, onde aproveitamos uma trilha que já existia na localidade. As temáticas que foram trabalhadas ao longo do percurso estavam divididas em cinco estações localizadas em pontos estratégicos, onde foram discutidos tópicos relacionados às questões ambientais com um forte apelo às problemáticas inerentes ao município. Os alunos que participaram da mesma desenvolveram o entendimento do que a EA, não se resume apenas à transmissão de informações, mas sim em valores, sentimentos e cuidados, visando enriquecer e desenvolver atitudes crítica e saberes necessários para a conservação do ambiente. Percebemos que houve uma reflexão através da vivência, dos conteúdos de EA assistidos no espaço formal de ensino e que o público-alvo conseguiu formar opiniões sobre as questões ambientais abordadas no decorrer da trilha.

 

Palavras-chave: Meio ambiente; Espaços de educação não-formal; Ilha de Marajó

 

Abstract: The nature trail as a teaching resource has been a motivating factor in the appropriation of the principles of EA in order to develop mainly the feeling of appreciation, preservation and conservation of the environment, the learner. This study was conducted with students from 5th and 6th grade of elementary school (3ºciclo) the municipal system of the municipality of Salvaterra-PA, using such the reserve area "Forest of Bacurizal" where we take a track that already existed in the locality. The themes that have been worked along the route were divided into five stations located at strategic points, which were discussed topics related to environmental issues with a strong appeal to the inherent problems of the municipality. Students who participated in the same developed the understanding of the EA, is not just the transmission of information, but rather on values, feelings and care, aiming to enrich and develop critical attitudes and knowledge necessary for the conservation of the environment. We realized that there was a reflection through experience, EA content assisted in the formal education space and the audience was able to form opinions on the environmental issues addressed in the course of the trail.

 

Keywords: Environment; non-formal education spaces; Marajo Island

 

1. Introdução

A intenção da Educação Ambiental (EA) é proporcionar, a todas as pessoas, a possibilidade de adquirir os conhecimentos, o sentido dos valores, o interesse ativo e as atitudes necessárias para proteger e melhorar o meio ambiente, buscando a sensibilização, compreensão, responsabilidade, competência e cidadania por parte dos cidadãos (EFFETING, 2007). À partir desta ideia, inicia-se a construção de um processo contínuo e permanente no ensino formal e não formal, aplicando-se um enfoque interdisciplinar, utilizando-se o conteúdo específico de cada disciplina (MARCATTO, 2002).

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PNCs), documento que reúne propostas contextualizadas e dinâmicas que devem nortear as ações pedagógicas no espaço escolar, apontam que a EA deve ser entendida como meio indispensável para se realizar ou aplicar formas que sejam sustentáveis de interação entre a sociedade e a natureza, a fim de que se obtenham soluções para os problemas ambientais (BRASIL, 1997).

Dentre diversos recursos pedagógicos, a trilha ecológica tem se mostrado como um elemento motivador na apropriação dos princípios da educação ambiental para o educando, que através do contato com a natureza pode desenvolver sentimentos de valorização, preservação e conservação do ambiente (GUIMARÃES, 2001).

Segundo Araújo e Farias (2010) as trilhas ecológicas proporcionam a vivência prática dos conhecimentos teóricos, com vistas a facilitar os processos de aprendizagem, dinamizando as práticas e estimulando estudantes, professores e participantes, rumo a uma forma personalizada de aprendizagem, proporcionando a contemplação e valorização dos atrativos naturais do local.

Previstas dentro da Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), instituída por meio da Lei Federal nº 9.795, de 27 de abrilde 1999 (BRASIL, 1999), as trilhas ecológicas constituem-se como recurso que permite um intenso contato do visitante com os elementos ambientais, possibilitando múltiplos estímulos sensoriais e uma conscientização sobre a importância do meio ambiente, a partir da experiência prática e da reflexão (ROCHA et al., 2010).

Nesse sentido, as áreas florestais são ideais para demonstrações dos ecossistemas típicos de uma dada cidade ou região, o Brasil sendo um país tropical abriga uma diversidade de biomas com elevada riqueza de espécies (MMA, 2007). E dentre esses biomas a Amazônia figura entre os mais diversos, abrigando 53 grandes ecossistemas (SAYRE et al., 2008).

Desde a Constituição do Estado do Pará, de 1989, em seu Art. 13, parágrafo 2º, o arquipélago do Marajó foi considerado Área de Proteção Ambiental (APA) a qual compreende 12 municípios, e três microrregiões, dentre esses municípios encontra-se Salvaterra o qual faz parte da microrregião do Arari, situado na porção leste da ilha que dá nome ao arquipélago (SEMA, 2015).

Nesta cidade encontra-se a Mata do Bacurizal, uma reserva ecológica criada através da lei Municipal nº 109/87, de 19 de junhode 1987 (PARÁ, 1987). Esta possui uma área de 235 ha, localizada às margens da Baía do Marajó, dispondo de grande diversidade de flora e fauna, a qual apresenta um grande número de trilhas que recortam o centro da floresta, e são utilizadas pelos amantes da natureza para caminhadas matinais ou mesmo no final do dia (PALÁCIOS, 2013).

Diante desta perspectiva, utilizamos a trilha como uma ferramenta de educação ambiental, na intenção de despertar nos alunos, uma reflexão crítica através da vivência dos conteúdos de educação ambiental assistidos no espaço formal de ensino. Compreendemos que esta experiência no âmbito da educação não formal consiste em uma estratégia de ensino diferenciada e prazerosa, que pode contribuir para formação de valores e visões da realidade da região, disseminando uma postura desafiadora frente às problemáticas ambientais inerentes à região.

A presença da Universidade do Estado do Pará (UEPA) e o fato de todo o arquipélago marajoara se constituir como área de proteção e conservação corroboram com a necessidade de ações que visem à educação ambiental da população, sobretudo dos jovens estudantes de ensino fundamental do município, evitando as enormes fissuras socioambientais e expressivos danos ao meio ambiente.

Sendo assim, esse artigo tem como objetivo relatar a utilização de uma trilha ecológica com alunos do 5º e 6º ano do ensino fundamental como uma estratégia de aprendizagem da educação ambiental, em uma unidade de conservação, no município de Salvaterra, no estado do Pará.

 

2. Material e Métodos

A trilha foi estruturada na Mata do Bacurizal, área próxima à Praia Grande, um dos principais pontos turísticos da cidade de Salvaterra. Participaram desta atividade oito turmas, um total de 125 alunos, 100 do 5º ano e 115 do 6º ano das escolas E.M.E.F. “Dom Pedro I”, E.E.E.F.M. “Ademar Vasconcelos” E.M.E.F. “Bahay Olavo Novais”, E.E.E.F. “Oscarina Santos”.  Sendo duas turmas por dia, uma no turno da manhã com início às 08h e término às 12h e outra à tarde com início às 14h e término às 18h, no período do mês de novembro. A trilha foi autoguiada e dividida em cinco estações, onde em cada estação foram discutidos diferentes temas tais como:

1ª estação: A educação ambiental e a relação do ser humano com os demais seres vivos com base em Suavé (2005). Procuramos nesta estação conceituar educação ambiental, e ressaltar o papel do ser humano na conservação do meio que o cerca. Com intuito de ampliar e fixar o conhecimento sobre o tema realizou uma dinâmica chamada “O que pensamos e sentimos em relação ambiente/seres vivos”, a dinâmica consistia em perguntas e respostas relacionadas ao tema proposto pela estação como: Você se considera parte da natureza? Por quê? O que você faz para colaborar com o meio ambiente?.

Na 2ª estação abordamos: Crescimento desenfreado da poluição da água, do ar e do solo baseado na obra “Crime contra a natureza” de Freitas (2012). Complementando essa abordagem, foi empregada a dinâmica “caça palavra”, onde os alunos encontraram palavras relacionadas com a natureza, extinção de espécies animais e vegetais, detritos encontrados no ar, na água e no solo. Depois de encontradas, produziram um pequeno texto em que davam sentido às palavras.

Na terceira 3ª estação foi abordado o tema: Amazônia: um bioma ameaçado, baseado em Freitas Ferraz (1999). Nessa estação os alunos puderam perceber através de vídeos, os vários tipos de ameaças que o referido bioma vem sofrendo, como a extração inadequada, e na maioria das vezes ilegal, de madeira, a qual altera de forma desordenada a composição florística e, consequentemente, de espécies animais. Para a culminância dessa estação os discentes elaboraram mapas mentais, onde essa análise se inspirou nos trabalhos de Boer (1994), Pedrini (2007) e Pedrini e De-Paula (2008), que utilizam a identificação de presença/ausência de elementos socioambientais.

Na 4ª estação abordamos: A importância da árvore para a manutenção da vida baseado em Colaço (2009). Para proporcionar aos alunos ensinamentos da natureza realizamos a atividade “O jogo de ser árvore”, um jogo lúdico e interativo que apresentava uma proposta de aprendizagem multisensorial de descobertas das árvores e seus poderosos ensinamentos, focado na importância das florestas e sua relação complexa com a localidade.

E na 5ª estação abordamos o tema: Reciclar para quê? Baseado em Rodrigues e Cavinatto (1997). Com intuito de ampliar e fixar o conhecimento sobre o tema apresentamos vídeos e músicas reflexivas da Turma da Mônica (“É preciso reciclar”) onde realizamos a leitura e a música foi cantada pelos alunos, posteriormente houve o diálogo sobre a interpretação e os significados das palavras.

Nessas estações houve paradas para interação entre os executores do projeto e o público alvo onde foram discutidos cada tópico das estações que estavam relacionados às questões ambientais, dando ênfase às problemáticas inerentes ao município, e assim buscou propiciar o aumento de conhecimentos, mudanças de valores e o aperfeiçoamento de habilidades, para que estes assumam atitudes e comportamentos que estejam em harmonia com o meio ambiente.

Após o trajeto ao longo da trilha, foram feitas duas perguntas para os participantes, acrescentando-se a seguinte: 1. A caminhada na trilha foi proveitosa? 2. O que vocês aprenderam sobre educação ambiental?. Assim, foi solicitada uma redação dissertativa acerca das impressões sobre o passeio para identificarmos alguma influência da trilha.

3. Resultados e Discussão

Ao analisar a importância da Trilha Ecológica como estratégia de ensino-aprendizagem de educação ambiental no município de Salvaterra/PA e suas contribuições na aprendizagem dos alunos, percebemos que o aprender ganhou um novo significado quando relacionado ao estudo do meio. Assim, buscou-se através das estações mostrar a relevante importância do conhecimento prévio sobre o meio local, observando as diferentes formas de preservação do meio ambiente. Já que o grande desafio para a educação é tornar oportuno e garantir uma aprendizagem-significativa, criando nos educandos, comportamentos e ações ditas “ambientalmente corretas”, como praticas aprendida no dia-a-dia (GIOVELLI, 2012). Acompanhando a ótica de Moreira (2006, p. 15) poderíamos afirmar que,

A aprendizagem significativa ocorre quando a nova informação ancora-se em conceitos relevantes (subsunçores), preexistentes na estrutura cognitiva, ou seja, novas ideias, conceitos, proposições, relevantes e inclusivos estejam, adequadamente claros e disponíveis, na estrutura cognitiva do indivíduo e funcione dessa forma, como ponto de ancoragem às primeiras.

Com essa intenção educativa, que buscamos através das estações realizadas na trilha a formação de um sujeito capaz de compreender o atual cenário no qual estamos inseridos, particularmente no que diz respeito às questões ambientais. Na primeira estação (Fig. 1 - A e B) ao abordarmos o tópico “A educação ambiental e a relação do ser humano com os demais seres vivos”, observamos que a EA ganha uma dimensão essencial da educação fundamental que diz respeito a uma esfera de interações que está na base do desenvolvimento pessoal e social.

 

A

 

B

 

Figura 1. A e B: Alunos observando a temática da 1ª estação

Fonte: Jone Mendes (2016)

Assim, os alunos quando questionados sobre o que pensavam e sentiam em relação ao meio ambiente/seres vivos, percebemos através das respostas um sentimento de pertencimento ao meio ambiente, entendendo que o ser humano é parte da natureza e por isso devem preservar como demonstra as falas dos discentes:

 

“Todos nós estamos ligados à natureza, somos responsáveis por cuidar, se não cuidarmos pouco a pouco ela vai morrendo, por causa que vai sendo poluída, desmatada, se o homem tirasse uma árvore e lá, depois plantasse outra, ela continuaria a reproduzir e o processo de reprodução sempre existiria até as próximas gerações” (ALUNO).

“Temos consciência que a natureza é importante para todos nós, dela tiramos muitas substâncias para fazer remédios, frutos para comer”(ALUNO).

“Se o homem não sabe, nós precisamos da natureza. Sem ela nós não podemos sobreviver” (ALUNO).

 

Sabe-se que as pessoas interagem com o meio ambiente de várias maneiras, desde os aspectos econômicos, políticos, culturais e, principalmente, sociais, na busca da qualidade de vida. Essa dimensão de interação é importante, pois o contato mais íntimo com a natureza e seus componentes fazem com que as pessoas despertem a sensibilização para a conservação do meio. Assim, afirma Castro e Spazziani (1998) que esse contato torna-se necessário para instruir as pessoas a se sentirem parte desse meio, preservando-o.

Silva et al. (2012) nos relata que a EA não pode ser vista somente pela relação de convívio entre o homem e o meio em que vive, pois vai além, devendo refletir sobre hábitos e costumes humanos, sendo fundamental na qualidade de vida, tanto no presente quanto no futuro, de forma que garanta a continuidade de forma sustentável.

Na segunda estação quando trabalhamos o tópico “crescimento desenfreado da poluição da água, do ar e do solo” percebemos através dos registros dos textos que o contato com a natureza tornou os indivíduos mais sensíveis às problemáticas ambientais em relação á realidade da região. Onde aparecem em seus textos com grande frequência (baldes, latas, sacos, pneus queimados, entulhos, rio utilizado como esgoto, etc.). Isso provavelmente se deu pela a observação da presença de lixo durante o percurso.

Na dinâmica “caça palavra” (Fig. 2 - C e D), a produção do texto solicitada confirmou a percepção dos alunos quanto à presença de resíduos na área:

C

 

D

 

Figura 2. C e D: Alunos observando a tematica da 2ª estação e o banner com caça palavras apresentado

Fonte: Jone Mendes (2016)

 

“Jogar lixo no planeta não ajuda em nada, só traz complicações, por isso que tem muitas enchentes, deslizamentos, o rio Caraparu que corta a praia fica muito feio, poluído porque as pessoas jogam todo o lixo lá a noite, quando a gente tá dormindo, isso acaba provocando um grande prejuízo para toda nossa população”(ALUNO).

            Nesse contexto, na terceira estação ressaltamos aos alunos sobre a Amazônia um bioma ameaçado, suas características e importância, fazendo uso das espécies da floresta que estavam na trilha. Com destaque nestes desenhos (Fig. 3 – E e F) observou-se a relação conflitante do homem com a natureza, isto é, para esses estudantes a presença do homem acaba gerando impactos negativos ao meio ambiente, e que o desmatamento da floresta amazônica causa enorme perda de plantas e animais viventes naquele local, aumentando a temperatura e mudanças no clima.

F

 

E

 

Figura 3. E e F: Manifestação artística dos alunos demonstrando sua observação durante a trilha E: Desflorestamento ilegal de árvore e escassez da vegetação ciliar; F: Degradação e queimada da floresta.

Fonte: Pesquisa de Campo

 

       Destacamos também nas falas dos discentes os valores que os alunos têm em relação à natureza, sempre como um espaço que deve ser preservado, e ao mesmo tempo como um lugar ameaçado que precisa ser protegido, pois os humanos estão interferindo negativamente e que esse ambiente é um lugar de equilíbrio e beleza estética para os seres humanos.

 

Uma floresta rica em vida, quando eu escuto a palavra “Amazônia”, eu vejo um monte de mata, que devemos preservar, por causa de... do desmatamento, estamos desmatando a natureza e sem ela a gente morre. Então você... É só isso... (ALUNO).

O ambiente verdadeiro com todas as árvores e o rio limpo. Porque a gente tem que preservar e conservar porque um dia vai acabar a água por causa do desmatamento, uns anos na terra a água vai se evaporando e o rio se acaba (ALUNO).

 

Na quarta estação reforçamos sobre “a importância da árvore para a manutenção da vida”. Para proporcionar aos alunos ensinamentos da natureza realizamos a atividade “O jogo de ser árvore” (Fig. 4 – G e H), onde ao gesticularmos os movimentos dos galhos das árvores, os discentes seguiam os movimentos e aprenderam os poderosos ensinamentos que as árvores proporcionam, focado na importância das florestas e sua relação complexa com a localidade.

Após a intervenção do jogo na trilha, os alunos passaram a conceber a natureza como modelo inspirador e os próprios alunos mostraram-se que eram os sábios personagens, onde refletiram sobre a importância e os benefícios que as árvores trazem associada à vida.

G

 

H

 

Figura 4. G e H: Alunos fazendo a demonstração no jogo de ser árvore

Fonte: Jone Mendes (2016)

 

É interessante ressaltar que a prática fez com que todos os alunos saíssem vencedores, pois passaram pelo desafio da imaginação criativa, encontrando a verdadeira árvore que mora dentro de cada um, tornando-os conscientes e participantes de mudanças voltadas para o meio ambiente, preservando-o, como vemos a seguir:

Me senti tão importante... Pois quase tudo vem da árvore, os objetos que usamos, o papal, a caneta, muitas de nossas alimentações, até mesmo as frutas que minha vô vendo lá na feira para ganhar dindin e se acabar as árvores a gente não vai conseguir sobreviver mais (ALUNO).

Agora que percebi que as árvores são boas! Porque as árvores dão frutos e nós podemos nos alimentar, é um meio que Deus nos deu pra sobreviver e claro respirar (ALUNO).

Percebe-se a concepção de dependência que os alunos têm referente às árvores, para os discentes ela é um recurso natural de matéria-prima e uma força de trabalho, assim como um recurso de subsistência. De acordo com MMA/MEC/IDEC (2005) as árvoresrealizam grandes serviços ambientais, que precisam ser conhecidos e valorizados devido o importante papel das florestas no equilíbrio ecológico que sustenta a vida no planeta.

Quando trabalhamos na quinta estação o tema “Reciclar para quê?”, observou-se que através da exposição da música e dos vídeos os alunos passaram a compreender o processo contínuo de EA como a soma de interações inerentes ao meio ambiente. Proporcionou aos discentes um novo olhar à temática ambiental, no sentido de fazê-los perceber que pequenos gestos podem fazer a diferença, tornando-os cidadãos conscientes e capazes de interferir no meio em que vivem.

Portanto, a interpretação e os significados das palavras da música despertaram aos alunos que o senso crítico, é o primeiro passo para a mudança de atitude. Essa postura ficou explícita, como podemos ver em alguns trechos abaixo:

Reciclar é uma forma tão simples, nossa pequena ação de separação de lixo em casa é um ponto de partida para a preservação do meio ambiente (ALUNO).

Pequenas ações geram grandes mudanças para se atingir! É chique reciclar... coisas que iam pro lixo, se tornam verdadeiros produtos novos... e além do mais ajudam na preservação do meio ambiente (ALUNO).

Reciclar é tão fácil, é uma coisa muito legal, criamos coisas interessantes e podemos fazer lindos objetos... achei uma coisa fantástica, me vi como uma verdadeira artista (ALUNO).

Em nosso entendimento, se os processos que envolvem a reciclagem do lixo forem praticados conscientemente por todos os alunos, certamente o reflexo econômico, social e ambiental estará caminhando para a sustentabilidade, pois se tornarão adultos ecologicamente conscientes sem comprometer o futuro das próximas gerações. Para o MMA/MEC/IDEC (2005) a reciclagem é uma das alternativas de tratamento de resíduos sólidos mais vantajosos, tanto do ponto de vista ambiental como do social, reduz o consumo de recursos naturais, poupa energia e água e ainda diminui o volume de lixo e a poluição.

Mas para que isso aconteça, precisamos de mudanças de hábitos, a partir da incorporação do conceito de consumo sustentável no nosso dia-a-dia. Para tanto, é necessário que cada um promova essas mudanças, envolvendo, por exemplo, a reutilização de materiais e embalagens; separação dos materiais recicláveis, quando for possível organizar-se em seu trabalho/escola/bairro/comunidade/igreja um projeto piloto de separação desses materiais recicláveis.

       Acreditamos que ao final de cada estação, a trilha foi capaz de despertar nos visitantes a reflexão crítica através da vivência com os conteúdos de EA, de forma diferenciada e prazerosa. Isso foi confirmado, quando os alunos responderam as duas perguntas no final da trilha em forma de uma redação dissertativa, onde 92% dos estudantes participantes afirmaram em seus textos que esse tipo de atividade é muito proveitoso e que aprenderam muito sobre EA. Para Copatti et al. (2010) as trilhas apresentam grande valor para as práticas de EA, auxiliando na formação de cidadãos críticos, atuantes sobre a realidade ambiental.

Essas redações demostraram que a utilização da trilha ecológica pode ser um elemento motivador de EA, proporcionando acréscimo de conhecimento. Mesmo sendo uma atividade pontual, a prática trouxe efeitos que contribuíram para que os estudantes entendessem e ampliassem a capacidade de observação e reflexão, possibilitando a transmissão de conhecimento e sensibilização para os problemas ambientais da região.

Com essa experiência espera-se que os educadores possam fazer o uso dessa alternativa em suas práticas, tornando suas aulas dinâmicas, prazerosas e contextualizadas, aproximando seus educandos da natureza, a fim de proporcionar maior motivação e, consequentemente, aquisição de saberes ecológicos e ambientais sobre a natureza. 

4. Considerações finais

Em virtude dos fatos mencionados sobre a trilha ecológica na Mata do Bacurizal, somos levados a acreditar que essa estratégia de aprendizagem proporcionou experiências práticas aos visitantes através do contato direto com a natureza, condicionando um conhecimento melhor de sua realidade e na formação de uma visão crítica acerca da preservação dos recursos naturais e ecossistemas com os quais interagem.

Através das explicações de cada estação e das atividades propostas, verificamos a postura ativa dos alunos como verdadeiros agentes sociais durante a caminhada na trilha, participando de todas as atividades e sensibilizando-se em relação ao meio ambiente e sua importância. Entendemos que as atividades de EA realizadas por meio da trilha proporcionaram uma maior aproximação dos alunos com o meio natural, contribuindo assim com os aspectos afetivos e emocionais dos mesmos.

Dessa forma, acreditamos que as trilhas são boas ferramentas de trabalho na busca pela EA, pois possibilitam a aplicação de conceitos, raciocínios, representações, reflexões e relatos despertando entre os participantes o sentimento de valorização, preservação e conservação do ambiente.

Agradecimentos

A Pró-reitoria de extensão da Universidade do Estado do Pará que concedeu as bolsas de extensão, ao Campus de Salvaterra da mencionada Universidade, à Secretaria Municipal de Educação de Salvaterra e à Pousada dos Guarás que gentilmente colaboraram com o apoio logístico para a realização deste trabalho.

 

Referências

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Ilustrações: Silvana Santos