Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Relatos de Experiências
27/11/2016 (Nº 58) EDUCAÇÃO AMBIENTAL E O AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE: UMA INTEGRAÇÃO NECESSÁRIA
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EDUCAÇÃO AMBIENTAL E O AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE: UMA INTEGRAÇÃO NECESSÁRIA

Elias Fernandes de Medeiros Junior¹; Maria José Lopes da Silva²; Orleans dos

Santos Brito³; Samara Teixeira dos Santos4

¹Engenheiro de Pesca. Mestre em Aquicultura e Recursos Aquáticos Tropicais. Docente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas-Campus São Gabriel da Cachoeira. email:elias.aqrat@gmail.com

²Licenciada em História pela Universidade Federal do Pará-Campus Bragança.

³ Zootecnista. Especialista em Gestão Escolar. Docente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas-Campus São Gabriel da Cachoeira.

4 Bacharel em Administração.Docente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas-Campus São Gabriel da Cachoeira.

RESUMO

O presente trabalho aborda a relação existente entre o Agente Comunitário de Saúde e a Educação Ambiental, considerando que entre as funções do agente está a atenção primária a saúde orientando as famílias quanto as medidas de prevenção contra as doenças. Este artigo tem como objetivo realizar uma ação de educação ambiental em saúde com os alunos do curso técnico em Agente Comunitário de Saúde em um bairro de ocorrência de malária e dengue em São Gabriel da Cachoeira-AM. A metodologia consistiu nas seguintes etapas: escolha do bairro que seria realizada a pesquisa, treinamento dos alunos em educação ambiental em saúde, visita as residências e aplicação de questionários semiestruturados. Entre os principais resultados verificou-se que as famílias já contraíram as doença dengue e malária, que elas adotam medidas preventivas e estão contribuindo para a possível redução das enfermidades no bairro visitado. Sendo assim, é necessário que os ACS em formação adotem práticas de educação ambiental nas visitas domiciliares orientando a comunidade sobre as causas ambientais que contribuem para a proliferação das doenças e quais medidas ambientais essas famílias podem adotar para erradicarem as doenças do bairro.

Palavras-chave: Educação Ambiental. Malária. Dengue. São Gabriel da Cachoeira. Agente Comunitário de Saúde.

Introdução

            O presente estudo tem como tema Educação ambiental e o agente comunitário de saúde: uma integração necessária. A pesquisa surgiu no decorrer da disciplina Situação de risco ambiental, cuja proposta era explicar aos alunos que as mudanças antrópicas realizadas na natureza podem contribuir para condições de desastres ambientais que resultam no surgimento e/ou contribuem para a proliferação de doenças como a malária e a dengue.

            De acordo com Beserra e colaboradores.

Para elaborar estratégias educativas sobre saúde ambiental é necessário, inicialmente, discutir sobre todo o processo de desequilíbrio ambiental, buscando conhecer a realidade para inferir de forma eficaz, reavaliando práticas sanitárias, para que, posteriormente, sejam executadas estratégias concretas de educação em saúde que permitam a proteção e a promoção da saúde de forma integral ás comunidades, como também capacitar o indivíduo e a sociedade a realizarem ações saudáveis para o meio ambiente, levando-os a uma consciência ecológica. (BESERRA et al, 2010).

            O município de São Gabriel da Cachoeira está localizado no noroeste do Estado do Amazonas, sua população em 2010 era de 37.896 habitantes com previsão de aumento populacional para o ano de 2016 de 43.831 habitantes (IBGE, 2016). O município apresenta sérios problemas relacionados a falta de saneamento básico que contribuem para a incidência de infeções causadas pelos mosquitos transmissores da dengue (Aedes aegypti) e da malária que pertence ao gênero Anopheles e a principal espécie transmissora é o (Anopheles darlingi).

            Segundo o Ministério da Saúde.

A dengue é uma doença endêmica no Brasil causada por um vírus chamado flavivirus, e transmitida ao homem pelo mosquito Aedes aegypti. O crescimento desordenado das cidades, deficiências no abastecimento regular de água e na coleta e no destino adequado do lixo, aumentam em muito os criadouros do mosquito da dengue. Além disso, a facilidade da movimentação das pessoas entre cidades de diferentes estados do nosso país, facilitam a circulação do vírus da dengue. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009, p. 8-9).

            Para oGuia de Vigilância Epidemiológico da Fundação Nacional de Saúde.

A malária é reconhecida como grave problema de Saúde Pública no mundo, ocorrendo em mais de 40% da população de mais de 100 países e territórios. Sua estimativa é de 300 a 500 milhões de novos casos, e 1 milhão de mortos ao ano. No Brasil, aproximadamente 99% dos casos de malária se concentram na região Amazônica. Esta é composta pelos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. A região é considerada a área endêmica do país para a malária. A maioria dos casos ocorre em áreas rurais, mas há registro da doença, também, em áreas urbanas. (FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 2002, p. 75).

            Na Figura 1 retirada do Guia de Vigilância Epidemiológica da Fundação Nacional de saúde, podemos inferir que a região do Alto Rio Negro a qual o município de São Gabriel da Cachoeira-AM está inserido foi classificada como de alto risco para malária segundo a incidência parasitária anual.

Figura 1. Classificação das áreas de risco para malária, segundo a incidência parasitária anual (IPA). Brasil, 2001.

Fonte: GT Malária/CENEPI/FUNASA. Retirado do Guia de Vigilância Epidemiológico da Fundação Nacional de Saúde, 2002.

            Nesse contexto de aumento dos casos de dengue e malária no Brasil e especialmente na região Norte,o Agente Comunitário de Saúde assume papel decisivo na transmissão de informações a respeito da conservação do meio ambiente por meio de práticas de educação ambiental em saúde que possam contribuir para a redução do desmatamento, do lançamento de lixo em lugares inadequados e da proliferação dos mosquitos transmissores das doenças. Para Confalonieri (2005), o alto índice de desenvolvimento por migração, o crescimento urbano desordenado e o desmatamento são responsáveis por altos riscos a saúde humana.

            O objetivo dessa pesquisa foi realizar uma ação de educação ambiental em saúde com os alunos do curso técnico em Agente Comunitário de Saúde em um bairro de ocorrência de malária e dengue em São Gabriel da Cachoeira-AM

Desenvolvimento

            O trabalho foi realizado no município de São Gabriel da Cachoeira-AM no período de agosto a setembro de 2015 e contou com o apoio do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas-Campus São Gabriel da Cachoeira. Foi desenvolvido com ampla participação dos alunos do curso Técnico em Agente Comunitário de Saúde que através do Edital 01/2015 foram contemplados com bolsa institucional no projeto intitulado ‘’ Ações ambientais em bairro de ocorrência de malária e dengue em São Gabriel da Cachoeira’’.

            Durante a disciplina ‘’Situação de Risco Ambiental’’ foi realizado vários questionamentos sobre as ações antrópicas que contribuem para o surgimento de doenças em nossa sociedade, nessa oportunidade foi discutido com os alunos e professores a elevada taxa de infecção pelas doenças dengue e malária no município, sendo que, em alguns bairros a prevalência das doenças era maior quando comparado a outros bairros. Diante dessa realidade surgiu a ideia de promover uma ação de educação ambiental em saúde em um desses bairros.

            Os agentes comunitários de saúde em formação escolheram por unanimidade o bairro Areal para realização das ações ambientais. A metodologia adotada nesse trabalho foi a pesquisa-ação.De acordo com Engel (2000) uma das características deste tipo de pesquisa é que através dela se procura intervir na prática de modo inovador já no decorrer do próprio processo de pesquisa.Os alunos passaram por um treinamento de educação ambiental em saúde, recebendoinformações sobre as características epidemiológicas das doenças e como deveriam abordar os cidadãos que seriam entrevistados em suas residências. Foi elaborado um questionário semiestruturado composto de perguntas objetivas e subjetivas sobre questões ambientais associadas a ocorrência da dengue e da malária no bairro.

            No dia da ação os alunos foram divididos em grupos no setores norte, sul, leste e oeste do bairro para que conseguissem entrevistar o maior número de pessoas possíveis. No total foram aplicados 72 questionários. Os dados coletados foram tabulados em planilhas do EXCEL versão 2010, para melhor tratamento das informações que foram coletadas.

            Foi verificado que das 72 casas visitadas 62,5% abrigam entre uma a cinco pessoas, que 50% já foram infectadas pelo vírus causador da dengue e que a idade média das pessoas que contraíram a doença é de 32 anos, sendo que 79% das pessoas infectadas são constituídas por mulheres.Quando os entrevistados foram perguntados se sabiam o que é a dengue e qual o vetor transmissor da doença 72% das pessoas entrevistadas disseram que estão esclarecidas sobre o transmissor da doença.

            Cerca de 62,5% dos cidadãos residentes no bairro Areal e que participaram dessa pesquisa já foram infectadas pela malária, em média eles tem 39 anos, sendo formado em sua maioria por mulheres o que representou 62,5% das pessoas infectadas. Quando perguntados se sabiam o que era a malária 71% disseram que sabiam, porém, em relação ao transmissor da doença os entrevistados ainda apresentavam dúvidas.

            Diante da ocorrência das doenças no bairro e o esclarecimento dos cidadãos sobre os fatores que podem contribuir para a proliferação das mesmas, foi perguntado a eles quais motivos podem contribuir para a ocorrência da dengue e da malária no bairro. Entre os itens apontados pelos entrevistados cita-se: falta de prevenção e aplicação de inseticidas no bairro por meio da borrifação, esgoto a céu aberto, destruição das florestas, água parada, terrenos baldios que acumulam lixo principalmente garrafas, falta de saneamento básico, não fechar as caixas d’água e a falta da vigilância sanitária pela Secretaria de Saúde doMunicípio.

O lixo doméstico representou cerca de 47,25% dos criadouros do mosquito Aedes aegypti no ano de 2005 na cidade de Jaru-RO, evidenciando a estrita ligação entre a má destinação dos resíduos domésticos, seus impactos ambientais e a problemática vetorial da dengue ( FERREIRA; ROCHA; SILVA, 2008, p. 4).

            Em função da realidade encontrada pelos agentes comunitários de saúde nas residências visitadas, perguntamos quais medidas preventivas são adotadas por eles para não voltarem a serem infectados pelas doenças. Entre as atitudes tomadas elenca-se: o uso de mosquiteiros, o correto acondicionamento dos lixos orgânicos e inorgânicos, a instalação de telas protetoras nas janelas e portas, o não acúmulo de água em recipientes abertos, a troca periódica de água acumulada para uso doméstico, o uso de repelentes, a utilização de inseticidas e deixar o terreno residencial sempre limpo, foram algumas medidas citadas pelos entrevistados.

            Tendo em vista que os formandos do curso técnico em Agente Comunitário de Saúde tiveram a oportunidade de vivenciar os sérios problemas ambientais que o bairro Areal vivencia e que a educação ambiental em saúde é necessária para tentar combater os focos das doenças, foi perguntado aos moradores qual a frequência das visitas dos agentes já formados e que estão trabalhando na área. Segundo os moradores 50% dos agentes visitam as casas mensalmente, 28% visitam semanalmente, 10% a cada trimestre e 12,5% nunca receberam visita dos agentes de saúde. As visitas pelos agentes, além de representar uma importância social em relação a saúde das famílias visitadas contribuem também para as práticas de educação ambiental, pois ao realizarem as orientações de não deixarem água acumulada em recipientes plásticos, de acondicionar melhor o lixo e identificarem focos das doenças os agentes estão indiretamente contribuindo para a erradicação das doenças por meio da educação ambiental.

A Educação Ambiental é uma estratégia viável para a Atenção Primária a Saúde que pode ter alcance comunitário e trabalhar questões socioambientais que interferem na condição de saúde das pessoas, configurando-se num trabalho de prevenção de doenças e promoção da saúde (PEREIRA; MELO, FERNANDES, 2012, p. 116).

Conclusão

            Diante do exposto, verifica-se que a educação ambiental em saúde se faz necessária, uma vez que o Agente Comunitário de Saúde realiza atividades de atenção primária a saúde nas comunidades que visita e nessa oportunidade ele poderá estar orientando as famílias quanto a prevenção das doenças dengue e malária no bairro em estudo e realizar atividades de educação ambiental tais como: campanhas de preservação da natureza, acondicionamento do lixo em locais adequados e palestras sobre o ciclo biológico dos vetores das doenças. Com isso o Agente Comunitário de Saúde passará a conscientizar os cidadãos e espera-se que ocorra a redução de casos das doenças no bairro.

REFERÊNCIAS

BESERRA, Eveline Pinheiro et al. Educação ambiental e enfermagem: uma integração necessária. Rev Bras Enferm, Brasília, v. 63, n. 5, p. 848-52, 2010.

CONFALONIERI, U. E. Saúde na Amazônia: um modelo conceitual para a análise de paisagens e doenças. Estudos Avançados, v. 19, n. 53, p. 221-236, 2005.

ENGEL, G. I. Pesquisa-ação. Educar, Curitiba, n. 16, p. 181-191, 2000.

FERREIRA, GIRLENE M.; ROCHA, TATHYANA R. L.; SILVA, VERA L.DA. A Educação Ambiental Aplicada nas Atividades de Controle da Transmissão da Dengue no Município de Jaru, RO. Educação ambiental em ação, n.25, p. 1-7, novembro. 2008.

FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE. Guia de vigilância epidemiológica, p. 842, 2002. Disponível em . Acesso em: 05. outubro. 2016.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades. Disponível em http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=130380&search=amazonas|sao-gabriel-da-cachoeira. Acesso em: 05. Outubro.2016.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE. SECRETÁRIA DE ATENÇÃO A SAÚDE. O agente comunitário de saúde no controle da dengue, p. 36, 2009. Disponível em . Acesso em: 05. outubro. 2016.

PEREIRA, CARLOS A. R.; MELO, JULIANA V. DE.; FERNANDES, ANDRÉ L. T. A educação ambiental como estratégia da Atenção Primária á Saúde. Rev bras med fam comunidade. Florianópolis, v.7, n.23, p. 108-16, Abr-Jun, 2012.

Ilustrações: Silvana Santos