Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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27/11/2016 (Nº 58) O CONHECIMENTO AGROECOLÓGICO COMO FERRAMENTA PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
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O CONHECIMENTO AGROECOLÓGICO COMO FERRAMENTA PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

 

 

Neucy Teixeira Queiroz

 

 Pós-graduanda em Recursos Hídricos e Ambientais – Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. E-mail: neucyqueiroz@yahoo.com.br

Endereço Institucional: Avenida Universitária nº 1000, Bairro Universitário, Montes Claros – MG, CEP: 39404-547

iDOrcid: orcid.org/0000-0002-7387-1566

 

 

RESUMO

A atual crise hídrica e a falta de acesso às tecnologias têm sido alguns dos problemas enfrentados pelos pequenos agropecuários na atualidade. Entretanto, os problemas vão além. Muitos desses produtores desenvolvem cultivos sem a devida preocupação com o solo, com os recursos hídricos e até mesmo com plantações vizinhas, o que caracteriza despreocupação com o desenvolvimento sustentável. A agroecologia tem sido vista como um dos meios de reverter esse cenário, buscando uma maior sustentabilidade no desenvolvimento agrícola. Este trabalho tem como objetivo explicitar a importância do conhecimento agroecológico para os sistemas de cultivares e, com isso, contribuir para a sustentabilidade na agropecuária. Foi utilizada como metodologia a pesquisa bibliográfica. Muitos agricultores encontram dificuldades para adquirir o conhecimento agroecológico, já que, em sua maioria, moram em pequenos povoados e muitas vezes o poder público municipal não contribui para uma agricultura sustentável, através de projetos de auxílio aos agropecuários como, por exemplo, educação ambiental, ou extensão rural. Com o conhecimento agroecológico é possível uma produção sustentável, satisfazendo as necessidades da população atual sem comprometer a geração futura.

 

Palavras-chave: Agricultura;Agroecologia;Impactos ambientais.

 

INTRODUÇÃO

A Agricultura serve como fonte de renda para pequenos agricultores e em grandes empresas contribui para uma maior geração de empregos. Contudo, nem sempre os pequenos agricultores sabem tomar os devidos cuidados com suas culturas, o que compromete o uso sustentável dos recursos naturais. Já as grandes empresas, geralmente, possuem profissionais qualificados para atuar, o que faz com que a agricultura não cause danos ou que os mesmos sejam minimizados. Os métodos e estratégias de plantio são fundamentais para manter o equilíbrio natural da planta com o seu meio, incluindo a conservação do solo. Para Toledo et al., (1985), citado por Altieri: “a sustentabilidade não é possível sem a preservação da diversidade cultural que nutre as agriculturas locais.” Essa diversidade engloba o prévio conhecimento dos camponeses em relação aos sistemas de plantio e suas interações. Sendo assim, é possível, através da agroecologia considerar os conhecimentos existentes e acrescentar novos.

 A crise hídrica existente nos últimos tempos tem sido um problema relevante enfrentado por boa parte dos agropecuários na atualidade. Contudo, as dificuldades não se limitam a isso. O pouco de conhecimento de certos produtores também passa a ser um problema no meio agropecuário. Muitos deles desenvolvem cultivos sem saber até mesmo qual o melhor tipo de irrigação, por exemplo. Com isso, muitas vezes, são adotados procedimentos ecologicamente incorretos, o que acaba gerando desperdício ou esgotamento dos recursos hídricos. A agroecologia tem sido o meio capaz de apontar caminhos que possam sanar essas dificuldades. Altieri (1998) explica que ela engloba orientações de como fazer isso, cuidadosamente, sem provocar danos desnecessários ou irreparáveis. Para quea agricultura se desenvolva de forma sustentável, é necessário levar o conhecimento agroecológico aos camponeses a fim de ampliar seu aprendizado. Vale ressaltar que o manejo dos recursos é de extrema importância para manter a qualidade ambiental de todo o ecossistema. Apesar de muitos agricultores possuírem pouca informação no que se refere ao correto uso dos recursos naturais no sistema agropecuário, eles possuem algum conhecimento mínimo em relação ao plantio. Todavia, nem sempre esse saber é suficiente para o desenvolvimento sustentável.

Uma das medidas a serem tomadas em relação à insustentabilidade nos cultivares é o prévio conhecimento agroecológico.

DESENVOLVIMENTO

O processo agropecuário de plantio de cultivares exige alguns cuidados que devem ser conhecidos pelos agricultores para evitar danos aos ecossistemas e manter uma relação de equilíbrio ambiental. A agroecologia aponta caminhos que levam a esse equilíbrio e sua falta compromete o desenvolvimento do atual mundo, que necessita preservar os seus recursos naturais.

Na agroecologia, a preservação e ampliação da biodiversidade dos agroecossistemas é o primeiro princípio utilizado para produzir auto-regulação e sustentabilidade (ALTIERI, ANDERSON E MERRICK, 1987, apud ALTIERI, 1998)”.

Há famílias que utilizam a agricultura como meio de manter a sua sobrevivência, o seu sustento. “É necessário um apoio externo para melhor produção da agricultura familiar. O produtor familiar, quando recebe apoio suficiente, é capaz de produzir uma renda total, incluindo a de autoconsumo, superior ao custo de oportunidade do trabalho.” (BUAINAIN, A. M et al., 2003). Os pequenos agricultores, em seus sistemas de cultivo, encontram ainda desafios no setor social, tecnológico e ambiental. No âmbito ambiental, a agricultura, como diz Altieri (1998), causa impactos ambientais, uma vez que a vegetação natural é substituída por uma vegetação cultivada com sucessivos tratamentos e o desafio consiste em buscar sistemas de produção agrícola adaptados ao ambiente; no âmbito social, auxilia na contenção migratória, pois contribui para a geração de empregos e o desafio consiste em adotar sistemas de produção que assegurem geração de renda para o trabalhador rural e que este disponha de condições dignas de trabalho; e no âmbito tecnológico, considerando que a agricultura é fortemente dependente de tecnologias para o aumento da produção, o desafio é desenvolver tecnologias que minimizem os impactos ambientais.

No que se refere a tecnologias, as dificuldades vão além do desenvolvimento de tecnologias que reduzam os impactos ao meio ambiente. Esse desafio também está relacionado a outros fatores. Vicente (1998) destaca que as dificuldades de acesso a capital, terra, crédito e de meios de transporte são fatores que restringem a adoção de tecnologias. Mesmo com esses problemas, é possível buscar formas que acelerem a modernização, visando a uma melhoria no meio agropecuário.

Políticas agrícolas e de desenvolvimento frequentemente procuram eliminar ou diminuir restrições, propiciando crédito, informações, suprimento de insumos, investindo em infra-estrutura, etc. (VICENTE, 1998).

É importante ressaltar que para a utilização das tecnologias é necessário que o agricultor conheça o manuseio dos meios tecnológicos para assim não utilizá-los de forma que possa haver prejuízos ao meio ambiente.

Dentre as dificuldades já citadas, cabe ainda dar uma maior ênfase na carência de informação em relação ao manejo correto nos processos de produção agropecuária, pois infelizmente, na maioria das vezes é por falta de oportunidade que muitos dos pequenos agricultores não possuem o conhecimento necessário para desenvolver seu cultivo e ao mesmo tempo preservar os recursos naturais. Muitos deles vivem em fazendas isoladas longe de escolas e dos grandes centros urbanos por isso nem sempre conseguem meios para ampliar as informações acerca do assunto. O conhecimento agroecológico é essencial para a sustentabilidade agropecuária. Sobre a sustentabilidade na agricultura, Chambers(1983) citado por Altieri, destaca que:

A produção estável somente pode acontecer no contexto de uma organização social que proteja a integridade dos recursos naturais e estimule a interação harmônica entre os seres humanos, o agroecossistema e o ambiente. A agroecologia fornece as ferramentas metodológicas necessárias para que a participação da comunidade venha a se tornar a força geradora dos objetivos e atividades dos projetos de desenvolvimento. O objetivo é que os camponeses se tornemos arquitetos e atores de seu próprio desenvolvimento (Chambers, 1983).

Os agropecuários, evidentemente, já possuem um conhecimento prévio sobre agricultura, e esse não pode ser ignorado. Entretanto, é possível a ampliação do conhecimento desses agricultores através dos métodos agroecológicos.“A agroecologia, respeitando a diversidade ecológica e sociocultural e, portanto, outras formas de conhecimento, propugna pela necessidade de gerar um conhecimento holístico, sistêmico, contextualizador, subjetivo e pluralista, nascido a partir das culturas locais”. (GUSMÁN, 2001) A partir daí, tem-se a idéia de que o prévio conhecimento dos camponeses, está relacionado não somente com a transferência do conhecimento de uma geração para outra numa mesma família, mas também com informações de vizinhos, pelo fato de incluir culturas locais onde os mesmos discutem entre si formas de cultivo, acrescendo assim novas formas de aprendizado. A ampliação desse conhecimento pode ser feito através da extensão rural ou extensão agrária. Corporal e Costabeber (2004) enfatizam essa idéia da seguinte forma:

A Extensão Rural Agroecológica poderia ser definida como um processo de intervenção de caráter educativo e transformador, baseado em metodologias de investigação-ação participante, que permitam o desenvolvimento de uma prática social mediante a qual os sujeitos do processo buscam a construção e sistematização de conhecimentos que os leve a incidir conscientemente sobre a realidade, com o objeto de alcançar um modelo de desenvolvimento socialmente eqüitativo e ambientalmente sustentável, adotando os princípios teóricos da Agroecologia como critério para o desenvolvimento e seleção das soluções mais adequadas e compatíveis com as condições específicas de cada agroecossistema e do sistema cultural das pessoas implicadas em seu manejo. (CORPORAL e COSTABEBER, 2004).

Para melhor compreensão dos princípios básicos de uma agricultura sustentável, Altieri (1987) considera a conservação dos recursos renováveis, a adaptação dos cultivos ao ambiente e a manutenção de um nível moderado, porém sustentável, de produtividade.  Quando se esgotam os recursos, a produção ocorre a curto prazo. Mas para que ela possa ocorrer a longo prazo, Altieri (1987) enfatiza a importância de reduzir o uso de energia e recursos; diminuir as perdas de nutrientes detendo a lixiviação; incentivar a produção local de cultivos adaptados ao meio natural e socioeconômico; sustentar um excedente líquido desejável, preservando os recursos naturais, isto é, minimizando a degradação do solo; e reduzir custos e aumentar a eficiência e a viabilidade econômica das pequenas e médias unidades de produção agrícola, promovendo, assim, um sistema agrícola potencialmente resiliente. Corporal e Costabeber (2004) explicitam que uma agricultura que trata apenas de substituir insumos químicos convencionais por insumos “alternativos”, “ecológicos” ou “orgânicos” não necessariamente será uma agricultura ecológica em sentido mais amplo. É preciso ter presente que a simples substituição de agroquímicos por adubos orgânicos mal manejados pode não ser solução, podendo inclusive causar outro tipo de contaminação.

Quando se fala em conhecimento agroecológico, cabe aqui ressaltar sobre a extensão rural ou agrária, que é definida por Corporal e Costabeber (2004) como:  “uma deliberada intervenção, de natureza pública ou privada, num espaço rural dado(...)realizada por agentes externos ou por indivíduos do próprio meio, orientada à realização de mudanças no processo produtivo agrosilvopastoril(...).(CORPORAL E COSTABEBER,2004).

Desta forma, Corporal e Costabeber (2004) constata que: “trata-se de  interferência intencional que abrange pessoas com diferentes níveis de conhecimento e com poderes distintos. Neste cenário em que tanto o aspecto tecnológico quanto o conhecimento agroecológico se inserem, é urgente repensar também as estratégias ambientais que discutem a crise hídrica, principalmente sob o ponto de vista do esgotamento dos mananciais agredidos constantemente por ações de cunho econômico que, a despeito de reiterados alertas, ainda são o cerne avassalador contrário à preservação ambiental. Assim, a crise hídrica existente atualmente tem sido um fator bastante comprometedor no meio agrícola. Houve quedas nos índices pluviométricos, gerando grande carência de chuvas quando comparado a anos anteriores. É necessária uma preocupação grande com relação à utilização da água, pois seu uso é muito significativo nos sistemas agropecuários. Segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), apud Cerqueira (s.d) de cada cem litros de água consumidos no Brasil, 72 são usados na irrigação agrícola.

Cerqueira(s.d.), evidencia que A Política Nacional de Mudanças Climáticas, instituída pela Lei n o 12.187, de 29 de dezembro de 2009 trata de forma indireta os recursos hídricos ao determinar como objetivos a preservação, conservação e recuperação dos recursos naturais e, como diretriz, medidas de adaptação para reduzir os efeitos adversos da mudança do clima e a vulnerabilidade dos sistemas ambiental, social e econômico. Isso explicita ainda mais a importância de se conservar os recursos hídricos. A água é utilizada no setor industrial, doméstico, rural e por isso precisa ser economizada, uma vez que é um recurso finito, por isso tamanha preocupação. Caso a água acabe, o planeta corre sérios riscos, pois é um bem fundamental da existência humana.A política Nacional de Recursos Hídricos cita os Planos de Recursos Hídricos como o primeiro instrumento de gestão. Tais planos têm por objetivo orientar o gerenciamento desses recursos”. (SANTOS, 2007).

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A agroecologia pode hoje contribuir para a reduçãodosproblemas ambientais. Os pequenos agricultores que não possuem o conhecimento agroecológico,ou que o possuem, mas de forma limitada, podem ter uma ampliação de seus conhecimentos através da extensão rural ou agrária. Isso pode ser feito através de parcerias das Prefeituras com o Ministério da Agricultura e Pecuária e Abastecimento-MAPA, por exemplo, ou outros órgãos como EMATER, Agência Nacional das Águas-ANA, Ministério do Meio Ambiente, dentre outros.  O auxílio aos camponeses pode ajudá-los a melhorar seus cultivares priorizando a sustentabilidade nos sistemas de plantações.A extensão rural é a solução para expandir o conhecimento agroecológico, pois educa, ensina, contribuindo assim para o desenvolvimento sustentável. O auxílio aos pequenos agricultores irá beneficiar não só a comunidade rural envolvida, mas todos os setores da sociedade, uma vez que o que é produzido no campo é levado para a cidade e a produção rural é útil e necessária a todos e não apenas aos produtores envolvidos. Além disso, o Desenvolvimento Sustentável beneficia a sociedade como um todo porque é definido como um sistema de produção capaz de satisfazer as necessidades da atualidade sem comprometer o desenvolvimento das gerações futuras. Zarth (s.d) ainda ressalta que “sob o domínio da idade da razão, a agricultura não poderia mais ser praticada por métodos transmitidos de geração a geração pela rotina e pelos costumes, sem submeter-se a métodos racionais e controlados”.

 

REFERÊNCIAS

CAPORA, F.R. (Org.). Uma estratégia de sustentabilidade a partir da Agroecologia. Revista:Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.2, n.1, jan./mar.2001.

Caporal, F. R.; Costabeber, J. A. Agroecologia e extensão rural: contribuições para a promoção do desenvolvimento rural sustentável. Brasília: MDA/SAF/DATER-IICA. 2004.

CAPORAL,F. R. e COSTABEBER,  J.A. Agroecologia e extensão rural Contribuições para a Promoção do Desenvolvimento Rural SUSTENTÁVEL.  Porto Alegre (RS) 2004

ALTIERI, M. Agroecologia: a dinâmica produtiva da agricultura sustentável. 4.e. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004.

VICENTE, J.R. Determinantes da Adoção de Tecnologia na Agricultura Paulista. EST. ECON., V. 28, N.3, P. 421-451-JULHO-SETEMBRO, 1998.

ZARTH, P.A.Tecnologia e agricultura: das “práticas rotineiras” aos exemplos dos “povos cultos”. Disponível em: Acesso em: 22/05/2016

BUAINAIN, A. M., ROMEIRO, A.R., GUANZIROLI, C. Agricultura Familiar e o Novo Mundo Rural. Sociologias, Porto Alegre, ano 5, nº 10, jul/dez 2003, p. 312-347.

 

CERQUEIRA, G.A. et. Al. A CRISE HÍDRICA E SUAS CONSEQUÊNCIAS. Boletim do Legislativo Nº 27. Núcleo de Pesquisas. Consultoria Legislativa. Senado Federal.

 

RICCI DOS SANTOS, R. Crise hídrica na irrigação: O caso do ribeirão Entre-Ribeiros (MG). Brasília: Universidade de Brasília-Centro de Desenvolvimento Sustentável, 2007. Dissertação de Mestrado.

Ilustrações: Silvana Santos