Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Relatos de Experiências
03/06/2016 (Nº 56) QUALIDADE DA ÁGUA DAS NASCENTES PARA CONSUMO NO ASSENTAMENTO MUQUILÃO NA BACIA DO RIO MUQUILÃO NO MUNICÍPIO DE IRETAMA – PR
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III Simpósio Nacional sobre Pequenas Cidades, II Simpósio de Georafia, X Semana de Geografia da UENP e I Mostra do Pibic Geografia. Universidade Estadual do Norte do Paraná, câmpus de Cornélio Procópio.

QUALIDADE DA ÁGUA DAS NASCENTES PARA CONSUMO NO ASSENTAMENTO MUQUILÃO NA BACIA DO RIO MUQUILÃO NO MUNICÍPIO DE IRETAMA – PR

 

VILLWOCK, Fernando Henrique [1]

CRISPIM, Jefferson de Queiroz [2]

 

RESUMO

Os agricultores familiares em sua maioria utilizam água das nascentes para consumo sem o tratamento adequado. Assim, neste trabalho, objetivamos investigar e avaliar a qualidade da água das nascentes utilizadas para consumo no Assentamento Muquilão, em Iretama – PR, a fim de propor ações de Educação Ambiental e melhorias na qualidade da água, visando à prevenção de doenças. Foram selecionadas 25 famílias de agricultores que utilizam a água de 19 nascentes para realização de atividades de sensibilização ambiental sobre os cuidados com a água; diagnóstico das condições de saneamento e análise da água das nascentes. A maioria das nascentes está desprotegida e as análises da água demonstraram contaminantes que podem prejudicar a saúde, sendo necessário o saneamento básico rural. Ações de educação ambiental e de proteção das nascentes com solo-cimento e reflorestamento do entorno foram efetivadas com os agricultores.

 

Palavras chave: Saúde. Água das nascentes. Agricultores familiares assentados.

 

1.   INTRODUÇÃO

 

A água é indispensável para a sobrevivência dos seres vivos, sem ela não haveria vida no planeta. O Brasil é um país que possui uma das maiores somas de recursos hídricos correntes de superfície do planeta. Essa disponibilidade ocorre devido à posição geográfica, alta pluviosidade, com drenagem rica de rios perenes e bem hierarquizados (BRASIL, 1977). Apesar da grande disponibilidade hídrica, este recurso não é bem distribuído pelo país e para as diferentes comunidades, e nem toda água disponível é própria para consumo humano, sendo que a poluição dos mananciais agrava o problema, e com isso muitas comunidades não tem água de boa qualidade disponível em quantidade suficiente para o consumo diário.

Nas comunidades rurais, os agricultores familiares em sua maioria, utilizam água das nascentes para o seu consumo, sem o tratamento adequado. No entanto a contaminação do lençol freático diminui a qualidade da água nas nascentes, assim como está é contaminada se estiver desprotegida. A água doce é habitat de diversos microorganismos e segundo o Ministério do Meio Ambiente (BRASIL, 2003) pouco se conhece sobre a biodiversidade microbiológica do ecossistema aquático. Dentre estes microorganismos, “os organismos patogênicos são responsáveis pela disseminação de doenças em homens e animais que entram em contato com a água contaminada ou venham a ingerir” (NUOLARI et al., 2003, p. 177).

Segundo Pinto & Hermes (2006), o meio rural é ausente de saneamento básico, apresentando grande risco de ocorrência de surtos de doenças de veiculação hídrica, principalmente pela possibilidade de contaminação bacteriana. De acordo a Agência Nacional das Águas (BRASIL, 2012, p. 33) “em termos globais, a diarréia é a principal causa de enfermidade e de morte, 88% das mortes por diarréia são causadas por falta de saneamento básico [...]”.

Neste contexto, objetivamos com este trabalho investigar a qualidade da água das nascentes utilizadas para uso doméstico em propriedades rurais de agricultores familiares no Assentamento Muquilão no Município de Iretama- PR para propor ações de Educação Ambiental e de melhorias no cuidado com a água, a fim de preservar a saúde dos agricultores. Para tanto foram selecionadas 25 famílias de agricultores familiares, que utilizam para consumo a água de 19 nascentes do Assentamento Muquilão. A escolha do local se deve porque Iretama está entre municípios paranaenses com baixo IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) e as famílias assentadas ao longo da referida bacia hidrográfica, não usufruem de saneamento básico: tratamento de água, de esgoto e de lixo, necessários para a boa saúde da população. A maioria das nascentes, objeto da pesquisa estão com problemas em relação à preservação, descobertas, sem proteção, com desmatamento no entorno.

O trabalho realizado contribuiu com o projeto “Melhoria da saúde dos agricultores familiares através da implantação de técnicas de saneamento e gerenciamento ambiental nos estabelecimentos agrícolas”, (programa Universidade Sem Fronteiras - USF/SETI).

 

2.   ÁGUA DAS NASCENTES PARA O ABASTECIMENTO DOS AGRICULTORES FAMILIARES: PROBLEMAS COM A CONTAMINAÇÃO

 

Conforme Calheiros, et al. (2004) “[...] nascente é o afloramento do lençol freático, que dá origem a uma fonte de água continua que formam os cursos de água (rios)”, através do qual, segundo Machado & Torres (2012, p. 137) “[...] podem possibilitar que todos os usuários de água da bacia, inclusive na cabeceira tenham água mesmo durante as estiagens”.

 Em virtude das nascentes de água se localizar dentro ou próxima da propriedade rural, está poderá ser utilizada para fins de potabilidade e irrigação. A maioria das fontes de água encontra-se em estado de degradação, sem vegetação ciliar ao entorno. De acordo com Martins (2001) a vegetação nas Áreas de Preservação Permanente (APPs), protege os cursos d’água contra o assoreamento e a contaminação com defensivos agrícolas, sendo essenciais para a conservação de resquícios florestais.

Sendo essa a causa de degradação ambiental de acordo com Moraes & Jordão (2002) contaminando os recursos hídricos causando sérios riscos à saúde humana, é necessária a conscientização ambiental da população, a fim de favorecer o presente e o futuro.

Durante o ciclo hidrológico, conforme Mezomo (2010) a água sofre alterações na sua qualidade, quando chega à superfície ela dissolve uma série de compostos orgânicos provenientes do processo de decomposição da matéria orgânica. Para o abastecimento da água de consumo, de acordo com Von Sperling (2005) ela tem que ser isenta de substâncias químicas e orgânicas prejudiciais à saúde, ser esteticamente agradável (baixa turbidez, cor, sabor e odor). É importante verificar a qualidade da água física, química e biológica para o consumo humano em propriedades rurais com periodicidade, comenta Amaral et al., (2003) por ser um grande fator de risco para a saúde dos seres humanos que a consomem.

As águas poluídas no meio rural são lançadas pelos esgotos domésticos conforme Kleerekoper (1990) das aglomerações humanas das regiões vizinhas as nascentes, que consistem principalmente em fezes humanas e substâncias orgânicas. Os coliformes fecais, corroboram Nuvolari et al., (2003, p. 179) “[...] existentes na água são eliminados pelas fezes de animais de sangue quente e intestino humano. Na definição da qualidade da água esse microorganismo somente existe em águas poluídas”. As bactérias coliformes que degradam nutrientes orgânicos não são provenientes da água, elas se reproduzem no intestino humano [...]” (MACHADO & TORRES, 2012, p. 153).   Do Reino Monera “[...] as bactérias heterotróficas incluem todas as bactérias que usam nutrientes orgânicos para o crescimento. Estão presentes na água, alimento, solo, vegetação e ar” (AMARAL, 2007, p. 13).

Conforme Machado & Torres (2012, p. 152):

 

[...] o lançamento de matéria orgânica na água causa a desestabilização, que é realizada por microorganismos aeróbios (respiram oxigênio) e se reproduzem rapidamente consumindo o oxigênio dissolvido (O.D.) dos corpos d’água. Quanto maior a quantidade de alimento, mais elas se reproduzem e maior o consumo de oxigênio na água, até o oxigênio se tornar ausente, onde ocorre a morte das bactérias e a vida aquática. Assim surgem os microorganismos anaeróbios (adaptados sem oxigênio) e de respiração facultativa e estes prosseguem no processo de decomposição.

 

Segundo Von Sperling (2005) quanto aos parâmetros biológicos de qualidade, o potencial de uma água transmitir doenças é através dos organismos indicadores de contaminação fecal, pertencentes ao grupo dos coliformes. A Escherichia coli é uma espécie de bactéria do grupo coliforme que fermenta a lactose com produção de ácido e gás, sendo o mais específico indicador de contaminação fecal recente e com presença de organismos transmissores de doenças (patogênos) (BRASIL, 2005).

De acordo com Paviani; Stadnik; Heinek (2004) Pseudomonas aeruginosa é um agente patogênico no indivíduo cujas defesas estão alteradas. Está distribuído pela natureza como solo, água, alimentos, plantas, animais e o homem.

A seguir, os principais microorganismos de veiculação hídrica e as doenças causadas (Quadro 1):

 

 

Bactérias

Doenças relacionadas

Grupo de bactérias

Bactérias heterotróficas

(Escherichia coli, Entrococcus, Clostrídios e Pseudomonas aeruginosa)

Infecções intestinais, diarréia, endocardite, infecção pélvica e intra-abdominal, meningite, septicemia, infecções do trato urinário, do sistema respiratório, de pele, tecidos moles, oftalmológicas, ósseas, articulares, infecções de ouvidos, pneumonia, sepsis necrose hemorrágica de pele e outras infecções sistêmicas.

Grupo de bactérias

 

Coliformes totais

(Escherichia, Citrobacter, Enterobacter e Klebsiella)

Infecções intestinais, urinária, diarréia, gastroenterite, pneumonia, osteomielite, feridas e meningite.

 

Espécie de Bactéria

 

Escherichia coli

Infecções intestinais com diarréia aquosa, (entorohemorrágica) diarréia sanguinolenta (colite hemorrágica) com cólicas, náuseas e vômitos.

 

Espécie

de

Bactéria

 

Pseudomonas aeruginosa

Infecções do trato urinário, do sistema respiratório, de pele, tecidos moles, oftalmológicas, ósseas, articulares, ouvidos, pneumonia necrosante, sepsis necrose hemorrágica de pele, meningite e outras infecções sistêmicas.

Quadro 1- Doenças de veiculação hídrica causada por bactérias

Fonte: Macêdo (2007).

 

2.1 ÁREA DE ESTUDO

 

O “Assentamento Muquilão” localiza-se no município de Iretama-Pr, na Bacia do rio do Muquilão, que é um afluente do rio Ivaí, que pertence a bacia hidrográfica do rio Paraná. Conforme o Ipardes (2013) o Município de Iretama – PR., está localizado na latitude 24º25’26”S e longitude 52º06’21”W e na altitude de 595 metros acima do nível do mar.

Figura 1: Localização do Assentamento Muquilão em Iretama – PR

Fonte: WILLWOCK, 2013 - LAPEGE (Laboratório de Pesquisas Geoambientais), UNESPAR Campus Campo Mourão – PR

 

A região apresenta, segundo a classificação de Koppen, clima subtropical úmido mesotérmico (Cfa), verões quentes com fortes chuvas e geadas pouco freqüentes, sem estação seca definida, chuvas anuais entre 1300 e 1600 mm (AYOAD, 2006, p. 237). A vegetação nativa, praticamente devastada para dar lugar a agropecuária se caracteriza pela Floresta Ombrófila Mista (RODERJAN et al, 2002).

Com população estimada em 10.773 habitantes segundo o IBGE (2013), o município de Iretama - PR foi selecionado para o projeto considerando o baixo IDHM (0,699) e a problemática enfrentada por agricultores familiares em relação à qualidade e a disponibilidade de água. Apesar de bem drenado por rios, os solos litólicos, por serem muito rasos dificultam a retenção de água nos períodos de estiagem e a perfuração de poços comuns. Não há recursos para poços artesianos e nem todas as propriedades do assentamento estão margeadas por rios ou possuem nascentes. Neste sentido, é fundamental garantir a boa qualidade da água das nascentes utilizadas para o consumo das famílias dos agricultores. No caso da abrangência desta pesquisa, as 25 famílias contempladas são abastecidas por 19 nascentes, objeto das analises.

3.   METODOLOGIA

 

O estudo foi realizado entre o mês de agosto de 2013 e junho de 2014, articulando, pesquisas bibliográficas para aprofundamento sobre a temática; coleta e analise de água em 19 nascentes que são utilizadas no abastecimento doméstico nas residências de 25 famílias de agricultores familiares, na dessedentação de animais e ordenha. As famílias foram pré-selecionadas a partir de reconhecimento de campo no local e convidadas a fazer parte do projeto. Os trabalhos iniciaram com palestras para os agricultores sobre os objetivos do trabalho, ressaltando a importância da preservação do ambiente.

Na sequência foram realizadas visita às famílias, com um trabalho de educação ambiental, com conversas informais em cada casa, sobre prevenção de doenças causadas pela falta de saneamento básico, preservação ambiental e apresentação da técnica de proteção de nascentes.

A próxima etapa foi o reconhecimento de cada nascente e coletas das amostras de água para análise. A água foi coletada em frascos de 100 ml estéreis e em seguida armazenada em caixa térmica, conforme as normas técnicas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) NBR 9898 (1987) preservação e técnicas de amostragem de efluentes líquidos e corpos receptores. As amostras foram levadas para análise microbiológica em laboratório particular onde foi utilizado o método de investigação pelo manual Standard Methods for the Examination of water end wastewater 20º ed. 1998 – Portaria nº 2.914 de 2011 (Água potável/Consumo humano) – USP 30/NF25,2007. Os indicadores ambientais selecionados foram às análises de Bactérias heterotróficas, Coliformes totais, Escherichia coli e Pseudomonas aeruginosa.

 Para observar as bactérias heterotróficas foram feitas análises em 100 ml de amostra de água pelo aparelho espectrofotômetro de chama azul, com resultados em UFC (Unidade Formadora de Colônia) conforme a análise de coliformes totais; Escherichia coli; e Pseudomonas aeruginosa foram feitos os testes pelo NMP (Método do Número Mais Provável). Esses procedimentos visaram verificar se ocorreu contaminação bacteriana na água de consumo.

Com o resultado em mãos, as famílias foram informadas sobre as condições de contaminação da água e orientadas em relação a procedimentos para melhorar a qualidade da água, como a limpeza da caixa d’água e atividades práticas com a proteção das nascentes. A proteção das nascentes foi realizada com a técnica solo cimento: Faz-se a limpeza do entorno da nascente, o preenchimento da nascente com pedra rachão, a instalação de tubulação, e a vedação com uma mistura de solo e cimento na proporção 3x1, proteção com uma tela sombrite na boca da tubulação (CRISPIM; PAROLIM e MALYSZ; 2012). Para desinfecção adiciona-se um copo de água sanitária uma vez por mês.  Os agricultores são orientados e recebem mudas para o reflorestamento do entorno das nascentes.

 

4.   DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

 

Os resultados dos questionários aplicados nas propriedades revelaram que todos os moradores se beneficiam da água das nascentes ao longo da Bacia Hidrográfica do rio Muquilão, que são canalizadas e armazenadas em caixas d’água.

 Foram realizadas análises microbiológicas de 19 nascentes das propriedades rurais que abastecem as 25 famílias atendidas pelo projeto e entrevistas e questionários com os agricultores. Constatou-se que 12,5% destes, não têm água disponível o ano inteiro, devido à estiagem, tendo que recorrer às nascentes de propriedades vizinhas e que estas nascentes estão contaminadas e desprotegidas.

Conforme a Portaria 2.914 do Ministério da Saúde (BRASIL, 2011), para os reservatórios ou redes da água de consumo humano recomenda-se que os resultados de bactérias heterotróficas não ultrapassem o limite de 500 UFC/ml, e não haja ocorrência de coliformes totais na água, Escherichia coli e Pseudomonas aeruginosa (Quadro 2).

Bactérias Heterotróficas

Coliformes Totais

Escherichia coli

Pseudomonas aeruginosa

Parâmetros

500 UFC/100ml

Ausência NMP/100ml

Ausência NMP/100ml

Ausência NMP/100ml

Quadro 2 - Parâmetros qualidade de água para consumo humano

Fonte: Portaria 2.914 do Ministério da Saúde (2011)

 

No entanto as análises das amostras de água coletadas nas 19 nascentes mostraram que todas estão fora dos padrões de normalidade para água de consumo humano. Os resultados podem ser verificados na (Tabela 1).

 

Tabela 1 - Resultados das análises da água coletada nas nascentes do baixo curso da Bacia do Rio Muquilão em Iretama (PR)

Pontos de

coleta de

amostra

Data da Coleta

Bactérias Heterotróficas

UFC/100ml*

Coliformes Totais

MNP /100ml**

Escherichia coli

MNP /100ml**

Pseudomonas aeruginosa

MNP /100ml**

P1

09/08/2013

1000

33

13

<1,1

P2

21/08/2013

1500

50

23

<1,1

P3

21/08/2013

730

30

17

<1,1

P4

21/08/2013

520

17

9

<1,1

P5

21/08/2013

390

12

6

<1,1

P6

23/08/2013

2400

110

70

<1,1

P7

04/09/2013

77

13

4

<1,1

P8

04/09/2013

960

30

17

<1,1

P9

11/09/2013

440

26

17

<1,1

P10

11/09/2013

710

30

22

<1,1

P11

11/09/2013

370

14

7

<1,1

P12

26/09/2013

560

80

50

<1,1

P13

26/09/2013

380

26

17

<1,1

P14

15/10/2013

130

22

11

3,3

P15

15/10/2013

1200

36

22

<1,1

P16

06/11/2013

420

14

8

<1,1

P17

06/11/2013

360

17

11

<1,1

P18

07/03/2014

430

14

9

3,6

P19

07/03/2014

83

20

9

<1,1

*Unidade Formadora de Colônia – UFC/100ml

**Método do Número Mais Provável – MNP/100ml

Organizadoras FERREIRA, S. R. e MALYSZ, S.T, 2014

 

As análises de cinco pontos: P1, P2, P6 e P15 apresentaram altos índices de bactérias heterotróficas, acima de 1000 UFC (Unidades Formadoras de Colônias), por 100 mL (mililitro) de água de cada amostra coletada. A amostra de água mais poluída foi observada no ponto P6, com, valor muito preocupante, necessitando de um monitoramento com mais análises. Em cinco pontos: P3, P4, P8, P10 e P12 verificaram-se entre 500 a 999 UFC/mL, índices considerados acima do ideal para o consumo humano. Em amostras de dez pontos, os índices de bactérias heterotróficas apresentaram valores menores que 499 UFC, sendo que as duas menores taxas foram nos pontos os P7, com de 77 UFC/mL e ponto P19, com 83 UFC/mL. Conforme a Portaria 2.914 do Ministério da Saúde (2011), para os reservatórios ou redes da água de consumo humano, recomenda-se que os resultados de bactérias heterotróficas não ultrapassem o limite de 500 UFC/100mL.

O padrão microbiológico da água de coliformes totais, conforme a Portaria 2.914 do Ministério da Saúde (2011), consta que deverá ocorrer ausência na água de consumo humano. Em todas as análises das águas das nascentes obtiveram índices acima do desejado, em que o Ponto P5 de menor valor apresentou 12 MNP/100mL e o Ponto 6 maior de 110 MNP/100mL.

Conforme a Portaria 2.914 do Ministério da Saúde (2011) que ressalva os parâmetros estabelecidos para a Escherichia coli ou bactérias termotolerantes deverão possuir ausência na água de consumo humano, que nesta pesquisa os resultados foram acima do valor máximo permitido, em todas as análises ocorreram a presença da bactéria variando de 70 MNP/mL no P6 os valor mínimo de 4 MNP/mL no P7. Quanto aos parâmetros do Ministério da Saúde (2011) nada se argumenta sobre a espécie na água Pseudomonas aeruginosa, até mesmo porque esta é bem comum rastejando em todos os lugares e a principal causa de infecção hospitalar em pacientes internados. Quanto aos resultados das análises, apresentaram apenas dois corpos d’água amostras positivas para essa espécie de bactéria, P14 com 3,3 MNP/100mL; e P18 com 3,6 MNP/100mL, o que torna preocupante, mesmo sendo um número baixo e visto que não é comum em todas as nascentes.

Foram observados também os aspectos físicos da água que interferem na potabilidade da água. A água de algumas nascentes tem um tom amarelado, resultante dos solos rasos, em outras, a água estava aparentemente limpa, pela cor (incolor), no entanto não foi o que revelou o resultado das amostras de água.

Em muitas das nascentes havia existência de fezes de animais, folhas e galhos de árvores, insetos, aracnídeos, sapo, matéria orgânica em decomposição, etc. No entanto, nas entrevistas, 68% dos agricultores relataram que fazem a limpeza das nascentes mais de duas vezes ao ano e 6% limpam as nascentes ao menos duas vezes ao ano. Conclui-se então que são necessárias limpezas mais freqüentes.

Todos os moradores das propriedades concordam que é importante a Técnica de Proteção de Nascentes com solo e cimento e o reflorestamento no entorno, porém nenhuma das nascentes estava em condições adequadas de proteção. Algumas apresentavam uma caixa de concreto, mas com cobertura deficiente, semi-abertas ou descobertas, sem vegetação no entorno, algumas no meio do “pasto”. Outras estavam sem proteção nenhuma (figura 2)

 

Figura 2: Coleta de amostra de água da nascente desprotegida

Fonte: LAPEGE, 31/07/2013

 

Os agricultores queimam ou enterram o lixo e todos possuem fossas negras. A existência de fossas sépticas ao invés de tratamento de esgoto e a percolação do chorume ocasionados pelo lixo enterrado no solo próximo aos corpos de água ocasionam certamente a contaminação do lençol freático.

Verificou-se que a localização das fossas negras na maioria das residências, está acima das nascentes e ocorre também o esgoto a céu aberto (Figura 3), em muitos locais, criando um círculo de doenças transmissíveis pela proliferação de seres microscópicos que buscam a água como meio de locomoção, ocasionando a contaminação microbiológica do solo, em seguida do lençol freático que abastece as nascentes, posteriormente os animais e o ser humano e voltando para o meio ambiente.

Figura 3: Esgoto a céu aberto do Ponto 14

 Fonte: Ferreira, S. R., 2014

 

O solo superficial faz com a água das nascentes do assentamento Muquilão escoe próximo ao solo, outro fator determinante na contaminação da água durante o percurso.

As caixas de água receptoras nas nascentes se encontram sujas, muitas em estado de abandono, com mato alto ao redor, cobertas de lona, com folhas de Eternit e praticamente semi-abertas facilitando a entrada de insetos e sujeira na água, como observados no ponto de coleta 1, com resultados da análise da água com altos índices de contaminação (Figura 4).

 

Figura 4: Aspectos na água no Ponto 1

Fonte: LAPEGE, 31/07/2013

 

Em relação à limpeza da caixa d’água nas residências, 18% das famílias entrevistadas fazem a limpeza duas vezes ao ano e 75% fazem a limpeza mais de duas vezes ao ano.

A água com contaminantes nas nascentes é consumida sem tratamento adequado pelas famílias dos agricultores. Assim a conscientização da população é um fator decisivo no combate as doenças.

Durante o desenvolvimento do trabalho, antes da coleta de água e depois foram efetuadas ações de educação ambiental. As análises da água mostrando os índices de contaminação foram mostradas para os agricultores a fim de sensibilizá-los para os cuidados com água. Foram realizadas com conversas com os agricultores em suas residências, alertando sobre os problemas causados pela água contaminada e orientando sobre limpeza das caixas d’água, cuidados com o entorno da residência, evitando a criação de animais soltos no quintal, o esgoto a céu aberto, manejo adequado do solo e dos agrotóxicos, e como realizar a proteção das nascentes com a técnica solo-cimento e o reflorestamento do entorno. Neste sentido foram realizadas atividades práticas com a proteção das nascentes das propriedades envolvendo os agricultores no trabalho e; distribuídas mudas para os agricultores realizarem o reflorestamento.

Houve muita receptividade e envolvimento dos agricultores tanto na coleta da água para analise, nas respostas aos questionários e entrevistas informais, quanto na orientação de ações a serem realizadas para melhorar a qualidade da água e nas atividades práticas efetuadas.

Foi verificada a mudança de atitude de famílias de agricultores, se comprometendo com a proteção das nascentes e a limpeza das caixas d’água.

 

5.   CONCLUSÃO

 

Aparentemente a água está transparente, sem odor, sem espuma ou óleo na superfície, que faz ter a falsa sensação de limpeza, mas a água apresenta indícios de contaminação por esgoto doméstico e dejetos de animais ao entorno.

O índice de qualidade da água mostrou que os valores foram considerados preocupantes, principalmente em quatro nascentes, necessitando de maiores cuidados. As nascentes abaixo e próximas das residências, de áreas de agricultura e pastoreio necessitam de monitoramento periodicamente.

Os resultados das análises de água mostraram resultados de contaminação acima dos parâmetros estabelecidos em muitas das amostras analisadas, que podem estar relacionados a diversos fatores tais como à criação de animais (bovinos, eqüinos, suínos, aves e etc.) que circulam nas proximidades das nascentes, ao despejo de esgoto das residências a céu aberto, a existência de fossas sépticas ao invés de tratamento de esgoto, a percolação do chorume ocasionados pelo lixo enterrado no solo próximo aos corpos de água que podem estar contaminando o lençol freático. O solo litólico raso, também pode ser fator determinante na contaminação da água.

O conhecimento da população sobre a Técnica de Proteção de Nascentes pode ser uma forma de impedir que o escoamento pluvial passe pela nascente, que seja contaminada por agrotóxicos, excrementos de animais soltos, entrada de insetos e pequenos animais. A conscientização da população do Assentamento Muquilão, em relação aos cuidados com a qualidade da água, pode evitar as doenças causadas pela falta de saneamento básico, como por exemplo, a mais comum, a diarréia, maior causa de mortalidade infantil em crianças até os cinco anos em países pobres, causada pela bactéria Escherichia coli (KALE; FERNANDES; NOBRE; 2004), encontrada em todas as amostras de água analisadas neste estudo. Esta importância se torna ainda maior, considerando que o acesso a assistência a saúde, principalmente em hospitais é muito precário para esta população, que além de não ter as condições financeiras adequadas, não possuem estradas e veículos adequados para o transporte aos postos de atendimento à saúde. Neste caso, a prevenção de doenças, é a melhor opção.

          Há ainda muito trabalho a fazer para garantir água de boa qualidade para o consumo dos agricultores familiares do Assentamento Muquilão, entre eles, novas análise de água para monitorar a sua qualidade; um trabalho para melhoria efetiva da qualidade da água nas caixas d’água das residências; melhoria do sistema de esgoto, com alternativas que substituam a fossa séptica; melhorias na foram de manejo do solo e proteção do ambiente.

Tendo em conta, argumenta Roesler (2010), é necessária a participação de todos os moradores do local para combater os problemas socioambientais decorrentes da falta de recursos disponíveis e para a construção de uma comunidade sustentável que visa à melhoria da qualidade de vida no campo.

O trabalho de Educação ambiental e monitoramento da qualidade da água com orientação em relação à qualidade da água são fundamentais para preservar a saúde dos agricultores familiares do Assentamento Muquilão.

 

6.   REFERÊNCIAS

 

AYOADE; J. O. Introdução à Climatologia para os Trópicos. 2006. Rio de Janeiro – RJ. Editora Bertrand Brasil. 11ª Edição. 332p.

 

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (ANA) BRASIL. Água na medida certa: a hidrometria do Brasil/Agência nacional de águas; Texto elaborado por Antônio Cardoso Neto – Brasilia: ANA, 2012. Disponível em: . Acessado em: 23/04/2014. 72p. 

 

AMARAL, L. A.; NADER FILHO, A.; ROSSI JUNIOR, O. D.; FERREIRA, L. A.; BARROS, L. S. S. Água de consumo como fator de risco à saúde em propriedades rurais. Revista: Rev Saúde Pública 2003;37(4):510-4. 510- 514 p.

 

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[1] Mestrando em Geografia pela UEM - Universidade Estadual de Maringá. Email: fernandovillwock@hotmail.com.

[2] Dr. Geografia pela UEM. Docente do curso de Geografia da Unespar, Campus de Campo Mourão, jeffersoncrispim@hotmail.com

Ilustrações: Silvana Santos