Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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03/06/2016 (Nº 56) REVITALIZANDO A HORTA ESCOLAR: ISSO PODE DAR CERTO?
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TITULO EM PORTUGUÊS, MAIÚSCULA, NEGRITO, FONTE: TIMES NEW ROMAN, 12; CENTRALIZADO, ESPAÇO SIMPLES

REVITALIZANDO A HORTA ESCOLAR: ISSO PODE DAR CERTO?

Revitalizing SCHOOL GARDEN: THIS CAN BE GIVEN RIGHT?

Autores:

Joselita Henrique dos Santos

Jacqueline Ramos Machado Braga

 

RESUMO 

 

Buscou-se a revitalização da horta em Escola de Pedrão- BA, como ferramenta de Educação Ambiental. Utilizou-se 140 alunos do 5º e 6º  anos do E.F. Os resultados nos indicam que é possível utilizar espaços não formais revitalizados, levando a educação ambiental para além dos muros da escola.

 

Palavras-chave: Agroecologia. Educação ambiental. Meio ambiente.

 

 

ABSTRACT

 

Sought to revitalize the garden in Pedrão- BA School, as environmental education tool. We used 140 students of 5th and 6th years. The results indicate to us that it is possible to use non-formal spaces revitalized, leading to environmental education beyond the school walls

 

Key words: Agroecology. Environmental education. Environment.

 

 

Introdução

A Horta Escolar proporciona a interdisciplinaridade, visto que a alimentação saudável é um tema que deve ser abordado em sala de aula, não apenas nas aulas de Ciências, mais também em outras disciplinas. Hortas escolares são instrumentos que, dependendo do encaminhamento dado pelo educador, podem abordar diferentes conteúdos curriculares de forma significativa e contextualizada além de promover vivências que resgatam valores como respeito à natureza, o cuidado com o ambiente escolar, consigo e com o outro.  Segundo Santos et al (2012), a horta além de servir para enriquecer o cardápio da merenda escolar é um laboratório ao ar livre para o ensino de Ciências, Matemática, História, Geografia, Artes e Educação Física, pois permite integrar os temas abordados em sala de aula.

A inquietação gerada sobre a necessidade de promover ações que resgatem noções de consciência ambiental e utilização de espaços não formais na aprendizagem foi o que motivou nosso estudo. Nesta perspectiva, a horta escolar pode ser um valioso instrumento educativo que poderá contribuir significativamente para a reeducação alimentar, além de permitir a construção de uma consciência ecológica aplicada ao cotidiano dos estudantes.

 

Revisão da Literatura

 

A horta e a Educação Ambiental

A Educação Ambiental nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) é um dos temas transversais e deve ser trabalhado enfatizando-se os aspectos sociais, econômicos, políticos e ecológicos. A vantagem de uma abordagem assim é a possibilidade de uma visão mais integradora e melhoria na compreensão das questões socioambientais como um todo. Logo, como tema transversal, a Educação Ambiental deve estar presente em todas as disciplinas, perpassando seus conteúdos (BRASIL, 2005).

 

Vale ressaltar, que antes de falarmos em Educação Ambiental, faz-se necessário compreendermos o seu significado. A Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) conceitua essa temática como um processo facilitador, tanto para o indivíduo, como para a coletividade na construção de valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, e essencial à qualidade de vida e sua sustentabilidade (LIPAI et al, 2007).

 

Segundo Souza; Neves (2011), valores e atitudes podem ser adquiridos quando implementamos uma horta. O desenvolvimento de uma horta promove transformações no pensar, no trabalho em equipe, estimulando a solidariedade, a cooperação, o desenvolvimento da criatividade, o cuidado, o senso de responsabilidade, de autonomia e a busca de soluções para os problemas ambientais. Cribb (2007) enfatiza que a aquisição desses valores proporciona também, durante o cuidado com a horta, a compreensão de que os ciclos ecológicos estão presentes na vida de todos os seres vivos e os mesmos necessitam de respeito cuidado e atenção.

 

Apesar dos efeitos positivos citados, existe um paradoxo na relação Educação Ambiental e Horta. Como expõe Andrade (2000), implementar a educação ambiental nas escolas, tem se mostrado uma tarefa exaustiva, devido à existência de grandes dificuldades nas atividades de sensibilização e formação, na implantação de atividades e projetos e  principalmente, na manutenção e continuidade daqueles já existentes. Fatores como o tamanho da escola, número de alunos e de professores, predisposição destes professores em passar por um processo de treinamento, interesse da Direção em implantar um projeto ambiental que vai alterar a rotina na escola, além de fatores resultantes da integração destes motivos que podem servir como obstáculos à Educação Ambiental.

 

Silva (2012) relata que nos níveis de educação básica, a Educação Ambiental não pode ser trabalhada de forma isolada. Afirma ainda, que a Educação Ambiental se diferencia da educação tradicional, apresentando-se como um saber transversal e interdisciplinar. Entretanto, encontra dificuldades de assimilação por parte da educação tradicional formal, estruturada disciplinarmente, e passa a ser vista como um empecilho ao desenvolvimento de projetos pedagógicos. Segundo a autora, além de colocar em cheque certas premissas da educação tradicional, a exigência interdisciplinar desta atividade promove uma grande insegurança nos professores. 

 

Na abordagem de Morgado; Santos (2008), os temas transversais têm enfrentado um enorme descompasso entre a teoria e a prática, porém existe uma grande possibilidade de transpor este obstáculo a partir do momento em que os projetos forem simplificados, com objetivos claros, ajustados à realidade da comunidade escolar integrando casa – escola – comunidade, e sejam desenvolvidos de forma interdisciplinar, fundamentada teoricamente, dando espaço para questionamentos e a reflexão que são próprios destes temas, rompendo com o modelo educacional mais cartesiano.

 

A horta e a educação alimentar

Nos dias atuais, a má alimentação não é problema exclusivo de pobres nem de ricos, pois atualmente pessoas de todas as classes sociais se alimentam mal. Vários problemas provenientes de uma alimentação inadequada, como desnutrição, anemia, obesidade e doenças crônicas não transmissíveis, afetam tanto crianças, quanto jovens e adultos. Por esta razão, a educação alimentar desde a tenra idade é fundamental (HULSE, 2006). 

 

As escolhas alimentares são experiências aprendidas, e tais escolhas tendem ao consumo de alimentos inadequados para o crescimento saudável, e àqueles sem muito valor nutritivo ou com exageros em gorduras e açúcares. A familiaridade com o alimento é fator preponderante para sua aceitação, e a partir daí aprende-se a gostar do que está disponível (FERREIRA apud HÜLSE, 1998).  A escola é indiscutivelmente o melhor agente para promover a educação alimentar, uma vez que é na infância e na adolescência que se fixam atitudes e práticas alimentares difíceis de modificar na idade adulta (TURANO, 1990). 

 

O Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA) é parte dos direitos fundamentais à humanidade. Entretanto, no Brasil o direito à alimentação somente passou a fazer parte do texto constitucional, no rol dos demais direitos sociais, em 2010, a partir da Emenda Constitucional nº 64, representando o fortalecimento do Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN) (BERNARDON, 2011).

 

A horta escolar configura-se como uma das principais ações de promoção do DHAA, podendo envolver de modo transversal temas de saúde, educação e alimentação. A Portaria Interministerial 1.010 (BRASIL, 2006) prioriza o desenvolvimento de ações de educação alimentar e nutricional, assim como o estímulo à produção de hortas escolares a fim de desenvolver atividades com os alunos e utilizar os alimentos produzidos na própria escola.

 

Magalhães; Gazola (2002) sugerem que é na infância que o ato alimentar pode ser vastamente explorado, pois esta é fase onde a curiosidade é extremamente aguçada, os preconceitos ainda não foram adquiridos, e onde surge a possibilidade de formação de um senso crítico mais amplo. Por este motivo, a educação infantil desempenha um papel importante no desenvolvimento de bons hábitos alimentares nas crianças. Os autores enfatizam ainda que a educação alimentar deve estar bem definida no projeto pedagógico da instituição educativa, tendo por objetivo familiarizar as crianças aos alimentos. 

 

Segundo Castro; Coimbra (1985), a educação alimentar tem como finalidade transformar o alimento em um instrumento pedagógico, transpondo os limites do ato alimentar e fazendo com que este se transforme em um ponto de partida para novas descobertas. O autor ressalta ainda que, apesar de a alimentação ser servida nas instituições de ensino, raramente esta é vista como “conteúdo de ensino”. A educação alimentar deve ser levada para o ambiente escolar, a fim de reforçar a adoção de bons comportamentos alimentares por parte dos educandos.  

 

A melhoria da dieta das crianças é possível utilizando a horta escolar com estratégia para estimular o consumo de feijões, hortaliças e frutas. Os alunos despertam a vontade de experimentar esses produtos, quando presentes na alimentação, atribuindo valor, pois foram cultivados por eles, sendo portanto frutos do trabalho próprio. Sendo assim, a horta escolar pode ser um requisito importante para promover uma alimentação mais saudável (MAGALHÃES, 2003).

 

 

A Horta Escolar como estratégia interdisciplinar de aprendizagem

 

A horta escolar agroecológica não é uma proposta nova, porém é inovadora porque proporciona aos educadores experiências múltiplas que envolvem diversos aspectos tais como: concretização de práticas de educação ambiental; melhoria dos hábitos alimentares das crianças e seus familiares; melhoria no aprendizado dos educandos; construção de ações efetivas de interdisciplinaridade e o desenvolvimento de reflexões sobre a utilização dos conhecimentos adquiridos no cotidiano (SOUZA; NEVES, 2011).

 

Essa abordagem nos remete ao estudo de Lima et al (2012) quando sugerem que a horta escolar é uma alternativa metodológica de unir o lúdico com o ambiente concreto e natural, despertando o interesse dos educandos pelo ambiente criado por eles além de proporcionar a oportunidade de se envolver de forma dinâmica no projeto, através de atividades formais e práticas, promovendo a socialização entre a horta escolar e a comunidade, e mediando uma educação ambiental sustentável e interdisciplinar.

 

A interdisciplinaridade é evidenciada no trabalho de Morgado; Santos (2008) quando os autores sugerem que a contribuição do agrônomo é também muito importante para o planejamento, execução e manutenção do projeto da horta escolar, pois este profissional orientará a comunidade escolar, levando as informações sobre a análise e preparação do solo, formas de produção de alimentos, tipos de hortaliças a serem cultivadas, época de plantio e colheita, entre outros. Esse acompanhamento é imprescindível para o bom funcionamento da horta escolar e para o sucesso do projeto.

 

Nesse sentido, a criação de uma horta escolar é uma ferramenta de cumprimento das sugestões dos PCNs, pois a mesma é uma excelente alternativa metodológica, sendo capaz de despertar um maior interesse nos educandos pelas aulas, aproximando a teoria da prática, proporcionando interatividade, senso de equipe, e consequente aprendizagem, foco de maior interesse dos educadores em toda e qualquer sala de aula.

 

Isso nos remete à abordagem de Morgano (2008):

 

As hortas inseridas no ambiente escolar podem ser um laboratório que possibilita o desenvolvimento de diversas atividades pedagógicas em educação ambiental e alimentar, unindo teoria e prática de forma contextualizada, auxiliando no processo ensino-aprendizagem, estreitando relações através da promoção do trabalho coletivo e cooperação solidária entre os agentes sociais envolvidos (MORGANO, 2008, p. 9).

 

O trabalho na horta oportuniza participação direta dos alunos e a valorização do ambiente escolar, além de promover uma convivência mais descontraída, fatores que são significativos para estimular a participação efetiva na conservação do ambiente. A horta é uma ferramenta que possibilita o resgate de valores desgastados, como a cooperação e a utilização sustentável dos recursos naturais, tornando o espaço escolar mais agradável e familiar (SEGURA, 2001).

 

Louro et.al (2011) já propõem a construção de horta em creche para o trabalho com a disciplina de Ciências. De acordo com os autores, o trabalho prático e as abordagens lúdicas com crianças, podem contribuir para a aquisição de valores éticos e sociais e a ampliação de seu vocabulário, ressaltando ainda que promove o desenvolvimento das habilidades ligadas a esse campo de conhecimento.

 

Segundo Oliveira (2004) a horta escolar é um instrumento que promove mudanças nos hábitos e atitudes dos alunos, em relação à percepção da natureza, é um modo diferente de reinventar o fazer pedagógico, pois há possibilidade de se trabalhar diversas atividades, dentre as quais os conceitos, princípios, histórico da agricultura, importância da educação ambiental e das hortaliças para a saúde. Além disso, as aulas práticas proporcionam o contato direto com o manejo do solo, permite também que se trabalhem as formas de plantio, o cultivo e o cuidado com as hortaliças.

 

A horta desenvolve a interdisciplinaridade na escola, desde que sejam elaboradas estratégias de forma didática, a fim de promover a construção do saber do educando através da prática, pois quando aluno tem contato direto com objeto de estudo, assimila o conteúdo que foi estudado em sala de aula (PEREIRA, 2008).

 

Além de servir de ferramenta para a melhoria da merenda escolar e alimentação de algumas famílias no referente à multidisciplinaridade, a horta epigrafada é um espaço laboral ao ar livre para aulas de Ciência, Matemática (ex: prática de medidas de áreas), Ciências Sociais (convívio social, solidariedade) e outras que permitam contextualizar os temas abordados no âmbito interno das salas de aulas (SANTOS et. al,  2012, p.1).

 

Como toda prática educativa, o projeto horta escolar é uma ação intencional, sistemática e planejada, que possibilita aos educandos desenvolver competências e consciência profissional, sem restringir-se ao ensino de habilidades imediatamente demandadas pelo mercado de trabalho. Associado a isso, pode-se trabalhar com diferentes tipos de técnicas de produção de alimentos, como por exemplo, produção orgânica. Quando o projeto de horta escolar é implantado, a escola praticamente tem um laboratório ao ar livre, dando subsídios a várias disciplinas como Ciências, Biologia, Química, Física, Geografia e Matemática (SANTOS et al, 2012).

 

 

Percurso Metodológico

 

Caracterização do local de estudo

A horta da Escola Luiz Viana Filha do município de Pedrão, Bahia, foi idealizada em 1988 por professores e alunos dos anos iniciais da educação básica (turmas de 1ª a 4ª série), a partir da necessidade de complementar e enriquecer o cardápio da merenda escolar e incentivar o cultivo de vegetais em suas casas. O município de Pedrão-BA é caracteristicamente rural, e os habitantes, em sua maioria, cultivam apenas amendoim, milho, feijão e mandioca. Nesta perspectiva, a escola tomou a iniciativa de implantar, no ano de 1998, a horta escolar, a fim de incentivar essa prática e estendê-la para além dos muros da escola (Figura 1). A atividade contou com o apoio dos pais e pessoas residentes no entorno da escola e foi supervisionada por um técnico agrícola da Secretaria da Agricultura do Estado.

 

 

FIGURA 1: Estudantes desenvolvendo o projeto “Horta na Escola”, Escola Luiz Viana Filho – Pedrão- BA (1998).

Fonte: Elaborada pelas autoras

Esse projeto perdurou por várias gestões até meados de 2006 quando, com a mudança da equipe gestora e do grupo de docentes, a atividade foi abandonada. Os docentes justificaram a baixa participação devido à elevada carga horária e conseqüente falta de tempo para atividades extraclasse. Até 2012, a horta da Escola Luiz Viana Filho permaneceu abandonada, com canteiros tomados pelo mato que crescia no local (Figura 2).

 

FIGURA 2: Horta abandonada da Escola Luiz Viana Filho, Pedrão – BA (2012).                                Fonte: Elaborada pelas autoras

 

Aplicação dos questionários e intervenção

No primeiro momento foi aplicado um questionário estruturado a 140 estudantes das turmas da 5ª série do turno vespertino e da 6ª série do turno matutino do ensino fundamental, todos dentro da faixa etária de 9 a 14 anos, da Escola Luiz Viana Filho, situada no Município de Pedrão, Bahia. Alguns alunos eram residentes na sede do município e outros na zona rural. .

 

 O questionário continha seis questões que avaliavam a inserção de hortaliças na alimentação diária dos estudantes, seus conhecimentos básicos relacionados à horta, seu interesse em participar do projeto, bem como a importância da horta como instrumento de aprendizagem na escola. Após isso, foi realizada pelos professores de Ciências da escola uma apresentação em slides (Power Point) e exibição de vídeos sobre a importância de uma alimentação saudável.

 

Na etapa seguinte, os alunos auxiliaram junto aos professores, a seleção das espécies que seriam cultivadas (coentro, alface, cebolinha, cenoura, beterraba e couve), a preparação do canteiro, a adubação das leiras com o auxilio de um membro da comunidade, utilizando adubo orgânico trazido por eles, e a obtenção das sementes e mudas. Após isso, foi realizada uma oficina ambiental, sob orientação voluntária de um técnico agrícola, que proporcionou a alunos e funcionários conhecimentos técnicos e teóricos para o plantio de hortaliças, leguminosas e tubérculos, fornecendo conhecimentos específicos sobre a temática do projeto. Os alunos então, realizaram a semeadura das espécies selecionadas e acompanharam o desenvolvimento dos vegetais. Todo esse processo foi realizado com a supervisão de um técnico agrícola. A maioria dos alunos do grupo estudado participaram ativamente do cuidado com a horta e no período combinado, fizeram a colheita. Todos se comprometiam com a manutenção da horta que ficava, a cada dia, sob a responsabilidade de uma turma.Uma parte do que foi produzido foi utilizada na merenda escolar e a outra foi distribuída para eles levarem para casa. Na etapa final, 60 dias após a intervenção, foi aplicado aos alunos o mesmo questionário anterior, e os resultados foram tabulados em planilhas Excel e convertidos em gráficos.

 

Resultados e Discussão

 

Análise das respostas antes da intervenção

De acordo a Figura 3, observamos que a maioria dos alunos, entrevistados em todas as turmas, consome hortaliças em casa. Os dados corroboram com o estudo de Pomini et al (2009) onde os autores, numa pesquisa realizada entre escolares de idades semelhantes, constataram que a maioria dos estudantes também consumiam hortaliças.

 

FIGURA 3. Respostas à pergunta: Você consome hortaliças em casa?

 

Os resultados representados na Figura 4 revelam que dentre os alunos entrevistados, a maioria não possui horta em casa, portanto as hortaliças consumidas são provenientes de outros domicílios, muitas vezes de municípios vizinhos, adquiridos em feiras livres ou supermercados. Esses dados assemelham-se ao estudo realizado por Souza Neta (2013) onde a autora revela que a fonte de hortaliças consumidas pelos estudantes, não tinha origem em hortas caseiras, mas na compra em feira livre do município estudado.

FIGURA 4.  Respostas à pergunta: Existe horta em sua casa?

 

Quanto à procedência dos entrevistados, verificou-se que aqueles consumidores que residiam na zona urbana representavam 52%, contra 48% que residiam na zona rural. Esses resultados evidenciam a reduzida preocupação dos consumidores da zona rural em produzir suas próprias hortaliças em seus quintais, prática que seria bastante importante para incentivar o consumo destes vegetais pelos alunos.

 

De acordo com as respostas representadas na Figura 5,  nota-se que dentre as turmas estudadas, em duas, a maioria dos alunos desconheciam a existência do projeto de horta na escola.

 

FIGURA 5.  Respostas à pergunta: Você sabia que existiu uma horta na sua escola?

 

Quando foi questionado aos alunos: “Você considera importante um projeto de horta na escola?”, 98% de todas as turmas pesquisadas responderam “sim”. Nesta perspectiva, o resultado apresentado compartilha o estudo de Barros et al (2012) quando os autores reiteram o aprendizado adquirido pelos educandos sobre a importância dos vegetais em sua alimentação e na preservação do ambiente natural. Os autores enfatizam ainda que, com a continuidade do projeto, outras vivências podem ser experimentadas pelos educandos, como formas sustentáveis de adubação, a agregação de alimentos saudáveis à merenda escolar e a efetivação do trabalho em equipe.

                                                                                      

Quando foi questionado ao grupo estudado se gostariam de participar do projeto de revitalização da Horta na Escola, verificamos que 84% mostrou desejo em participar do mesmo.  Almeida Neta et al (2012), afirmam que a horta escolar é uma ferramenta eficaz, enfatizando que, após a criação da equipe gestora da horta, houve um aumento significativo no número de alunos que visitavam este espaço, além do incremento no interesse dos mesmos em participar das atividades ali desenvolvidas. A implantação de hortas escolares através de projetos tem se consolidado como uma estratégia de fundamental importância que, segundo Nogueira et al 2005, pode servir como fonte de alimentação e de atividades didáticas, oferecendo grandes vantagens aos sujeitos envolvidos, restabelecendo o contato das crianças e dos adolescentes com o meio ambiente e fortalecendo o vínculo positivo entre educação e saúde.

 

Com relação ao conhecimento sobre as propriedades nutritivas das hortaliças, nas turmas 6A e 6B, 32% e 42% respectivamente dos alunos não identificam a composição nutricional desses vegetais.  Nas outras turmas, entretanto, a maioria dos alunos mostrou conhecimento acerca das propriedades nutricionais dos vegetais cultivados em uma horta. O desenvolvimento de atividades relacionadas a horta escolar permite uma abordagem interdisciplinar dos conteúdos. A construção da horta escolar está atrelada à abordagem de outros conteúdos importantes que, ao serem transmitidos aos alunos, podem promover mudanças em seus hábitos alimentares. Em estudo recente, Alves; Santos; Alves-Oliveira (2013) evidenciam que a elaboração de diferentes refeições e a construção dos cardápios podem refletir na melhoria do conhecimento dos alunos sobre os nutrientes presentes nos vegetais.

 

Análise das respostas após a intervenção

 

De acordo com os dados demonstrados nas Tabelas 1 e 2, podemos verificar que a maioria dos educandos envolvidos no projeto participaram efetivamente, estando todos motivados e engajados na prática do manejo da horta da escola. Após as atividades de intervenção, percebeu-se que foi criado um ambiente propício para o desenvolvimento de outras ações escolares, envolvendo não apenas os docentes de Ciências Naturais, mas também de Matemática e Geografia. Durante as intervenções, os alunos participaram de maneira efetiva, pois tornaram-se sujeitos ativos do conhecimento, promovendo a aprendizagem de forma significativa. Nossos achados corroboram o estudo de Barros et al (2012), pois os valores agroecológicos apreendidos com o nosso estudo ultrapassaram os muros da escola, no momento em que os alunos puderam levar conhecimento adquirido para suas residências, disseminando a ideia de agricultura sustentável.

 


TABELA 1. Respostas dos estudantes, referentes às questões 1 a 3 do questionário antes e depois da intervenção na horta.

TURMAS 

QUESTÕES

 

1

2

3

Periodo

Antes

Depois

Antes

Depois

Antes

Depois

Resposta

Sim

Não

Sim

Não

Sim

Não

Sim

Não

Sim

Não

Sim

Não

5ª A

14

4

16

2

4

14

10

8

11

7

15

3

5ª B

19

1

19

1

6

14

13

7

5

15

20

0

5ª C

19

2

20

1

6

15

18

3

18

3

21

0

6ª A

30

1

30

1

8

23

13

18

11

20

29

2

6ª B

24

2

24

2

17

9

17

9

24

2

26

0

6ª C

20

0

20

4

16

8

16

8

20

3

19

2

Total Relativo (%)

93

7

92

8

41

59

62

38

95

36

95

 

Questão 1: Você consome hortaliças em casa?

Questão 2: Em sua casa existe horta?

Questão 3:Você sabia que existiu uma horta na sua escola?

 

 

 

TABELA 2. Respostas dos estudantes, referentes às questões 4 a 6 do questionário  antes e  depois da intervenção na horta.

TURMAS 

QUESTÕES

 

4

5

6

Periodo

Antes

Depois

Antes

Depois

Antes

Depois

Resposta

Sim

Não

Sim

Não

Sim

Não

Sim

Não

Sim

Não

Sim

Não

5ª A

18

0

18

0

16

2

16

2

13

5

18

0

5ª B

20

0

20

0

10

10

16

4

18

2

20

0

5ª C

21

0

21

0

20

1

20

1

16

5

21

0

6ª A

31

0

31

0

27

4

29

2

21

10

31

0

6ª B

26

0

26

0

23

3

25

1

15

11

26

0

6ª C

23

1

24

0

23

1

24

0

21

3

24

0

Total Relativo (%)

99

1

100

0

85

15

93

7

74

26

100

0

 

Questão 4: Você considera importante um projeto de horta na escola?

Questão 5: Você teria interesse em participar do projeto de horta na escola?

Questão 6: Você sabe quais os nutrientes encontrados nas hortaliças?

 

A Figura 6 mostra como ficou o trabalho final de revitalização da horta da Escola Municipal Viana Filho, após o projeto de interveção proposto. A horta desta escola vem sendo utilizada não apenas como ferramenta de Educação Ambiental nas disciplinas de Ciências e Biologia, mas também nas aulas de disciplinas como Matemática e Geografia. Além disso, tudo que é produzido neste local tem sido utilizado para enrriquecer a merenda escolar, e o que sobra ainda é distribuído com a comunidade.

 

 

 

Figura 6:  Alunos trabalhando na horta revitalizada da Escola Luiz Viana Filho, Pedrão –BA (2014).

Fonte: Elaborada pelas autoras

 

 

Conclusão

 

Os dados do presente estudo revelaram que a revitalização da horta da escola Luiz Viana Filho incentivou os alunos ao desenvolvimento do trabalho em equipe, além de trazer noções agroecológicas para a implementação de hortas caseiras. O projeto de revitalização da horta escolar estimulou a participação dos alunos, proporcionando-lhes novos conhecimentos acerca da importância de uma alimentação saudável, tanto em casa quanto no ambiente escolar.  Desta forma, com a revitalização da horta foi possível permitir aos alunos um aprender fazendo e, à medida que se reconheciam com autores daquilo que produziam, por meio de situações de investigação, eram impulsionados a contextualizar e socializar os conhecimentos construídos, que foram levados além dos muros da escola.

 

 

 

 

 

 

Referências Bibliográficas

 

 

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Ilustrações: Silvana Santos