Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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03/06/2016 (Nº 56) CONSTRUÇÃO SOCIAL DOS PROBLEMAS AMBIENTAIS: UMA ANÁLISE PRELIMINAR SOBRE COMO PENSAM E AGEM OS ALUNOS DO ENSINO MÉDIO EM MATA- RS
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CONSTRUÇÃO SOCIAL DOS PROBLEMAS AMBIENTAIS: UMA ANÁLISE PRELIMINAR SOBRE COMO PENSAM E AGEM OS ALUNOS DO ENSINO MÉDIO EM MATA- RS

 

Social construction of environmental problems: a preliminar analysis on how to think and act the high school students in Mata- RS

 

 

Autor: Renata de Baco HARTMANN

Filiação: Universidade Federal de Santa Maria/Programa de Pós Graduação em Extensão Rural

e-mail: renatabhartmann@gmail.com

Autor: Nayara PASQUALOTTO

Filiação: Universidade Federal de Santa Maria/Programa de Pós Graduação em Extensão Rural

e-mail: nayarapasqualotto@hotmail.com

Autor: Tanny Oliveira Lima BOHNER

Filiação: Universidade Federal de Santa Maria/Programa de Pós Graduação em Extensão Rural

e-mail: tanny.bohner@hotmail.com

Autor: Luciano de Oliveira BATTISTI

Filiação: Universidade Federal de Santa Maria/Programa de Pós Graduação em Extensão Rural

e-mail: battistil@gmail.com

Autor: José Geraldo WIZNIEWSKY

Filiação: Universidade Federal de Santa Maria/Programa de Pós Graduação em Extensão Rural

e-mail: zecowiz@gmail.com

 

 

Resumo

Se a questão ambiental é dada como construção social, cabe uma discussão sobre a percepção da sociedade no que tange os riscos ambientais e como, percebendo e interpretando a realidade, as pessoas reagem. De modo que o que se pretende nesta pesquisa é analisar a forma como os estudantes de nível médio, no município de Mata- RS, percebem e reagem à realidade ambiental a que são expostos. Para alcançar o objetivo da pesquisa alguns passos foram seguidos: revisão de literatura acerca da sociologia ambiental; aplicação de um questionário e análise dos dados levantados. A pesquisa foi realizada na Escola Estadual de Ensino Médio D. Joaquina, que está situada no município de Mata- RS, que é conhecido mundialmente pela presença maciça de fósseis vegetais. Notadamente, a maioria dos respondentes ao questionário são alunos de origem rural, sendo esta, também, a realidade da escola, a única de ensino médio no município.

Da análise comparativa entre o que pensam os alunos oriundos do meio rural e do meio urbano quanto aos problemas ambientais, demonstrados na pesquisa, chama a atenção que, tanto urbanos quanto rurais, apontam a problemática do lixo como sendo a mais significativa, sobrepondo-se, para os alunos do meio rural, àqueles problemas mais característicos para sua realidade como: desmatamento, queimadas e uso indiscriminado de agrotóxicos nas lavouras, também apontados pelos alunos. Diante do exposto e dos resultados obtidos na pesquisa, é possível inferir que a comunidade escolar não demonstra desassossego diante dos problemas ambientais, demonstrando notório embaraço ao apontar quais seriam os problemas mais relevantes e quais as ações deveriam ser adotadas. Uma explicação plausível pode ser tanto a ausência de um grupo mobilizador que atue no município, como o fato da população não ter sofrido com nenhum desastre ambiental, ou mesmo com as consequências diretas dos problemas ambientais.

 

Palavras-chave: sociologia ambiental, meio ambiente, construção social

 

Abstract

If the environmental issue is given as a social construction, it is up a discussion of society's perception regarding environmental risks and how, perceiving and interpreting reality, people react. Thus, this research intends to analyze way that high school students from the city of Mata-RS, realize and react to the environmental reality in which they are exposed. In order to achieve the objective of this research the following steps were taken: review of literature about environmental sociology; application of a questionnaire and analysis of collected data. The research was conducted in Escola Estadual de Ensino Médio D. Joaquina, which is located in Mata-RS, known worldwide for the massive presence of fossil plants. Notably, most of the respondents to the questionnaire are students of rural origins, that is also the reality of the school, the only high school in the city. Notably, the majority of respondents to the questionnaire are students of rural origin, which is also the reality of the school, the only high school in the city.

In the analysis which proposes to compare what students from rural and urban areas think about environmental problems, the data collected draws attention that both urban and rural students point out the problems with waste as the most significative. Considering students from rural areas, it overlaps characteristic problems from their reality such as: deforestation, burning and indiscriminate use of pesticides on tillages, also pointed by the students. According to results obtained in the research, we infer that the school community shows no uneasiness against the environmental problems, thus showing notorious embarrassment on pointing the most relevant problems and the procedures should be adopted. A plausible explanation could be the absence of mobilizing groups acting in the city, the fact that the population has not suffered any environmental disaster, or even with direct consequences of the environmental problems.

Key words: environmental sociology, environment, social construction

 

1.    INTRODUÇÃO

 

       Considerando os avanços do campo científico comprometido com o deslindamento do fenômeno do aquecimento global (e sua repercussão); considerando o alcance da ação antrópica quando se fala em desestruturar ecossistemas (decréscimo da biodiversidade- causado pela erosão genética, que por sua vez parece ser fruto do desmatamento, de queimadas, da urbanização, da industrialização); considerando a poluição dos rios, do ar, do solo, é possível afirmar que se está aludindo à problemas ambientais.

Em decorrência destes- e de outros problemas ambientais, eleva-se o conceito de risco, que pode ser expresso pelo temor da escassez de alimentos, privação de água potável, poluição do ar, contaminação dos solos.  A questão é: o reconhecimento de tais riscos é óbvio para todas as pessoas e em qualquer circunstância? Os cidadãos, ao observar o seu meio, de fato conseguem descortinar esse leque de problemas ambientais e seus riscos associados, e, mais que isso, interpretá-los como um risco, chegando mesmo a agir buscando uma solução para o problema/risco que os atinge, ainda que indiretamente?

Então, se admitirmos que as pessoas tendem a interpretar essas situações problemáticas, quer dizer que essas pessoas reivindicam a própria existência dos problemas ambientais, dentro de contextos específicos (sociais, culturais, econômicos, políticos). Dentro de cada contexto, a história de intervenção se altera, de acordo com a realidade, levando a crer que um problema ambiental é uma questão de construção social. Com uma peculiaridade que merece ser consignada: os problemas ambientais surgem, em muitos casos, não da percepção direta, mas de uma descoberta científica. Como exemplo, citem-se: o aquecimento global, o efeito dos agrotóxicos, entre outros.

Logo, se a questão ambiental é dada como construção social, cabe, então, uma discussão sobre a percepção da sociedade no que tange os riscos ambientais e como, percebendo e interpretando a realidade, as pessoas reagem. O que se pretende, por hora, é analisar a forma como os estudantes de nível médio, sobretudo os de origem rural, no município de Mata- RS, percebem e reagem à realidade ambiental a que são expostos.

Para alcançar o objetivo da pesquisa alguns passos foram seguidos: revisão de literatura acerca da sociologia ambiental; aplicação de um questionário e análise dos dados levantados, cujos resultados são apresentados neste trabalho.

 

  1. Revisão de literatura

 

Para Köche (1997) é usual que se utilize o senso comum na interpretação da conduta da sociedade, em diversas situações e temáticas. Considerando que o senso comum nasce da necessidade em se resolver problemas imediatos e que estes mesmos problemas são “sentidos” pelas pessoas, também é possível deduzir que os conceitos são construídos cotidianamente, ao passo que a vida segue e os episódios vão se sucedendo. Isso pode ser aplicado à questão ambiental, onde todo o processo de definição, negociação e legitimação é dado pela interpretação da sociedade, que por fim, acabará dando uma magnitude a cada problema, colocando-os em escala (mesmo que nem sempre compatível com a gravidade real de cada um desses problemas). E, mesmo que, no fim das contas, não se permita escala alguma. Assim se dá a construção de um problema ambiental.

Yearley (apude Hannigan, 2009) diz que para que um problema ambiental ganhe notoriedade (a despeito de sua gravidade e amplitude), é necessário a presença de agentes de difusão, que tornem o problema amplamente conhecido e discutido. De modo que, ao que parece, não basta o problema existir em si. Mais que isso, o problema precisa ser sentido, vivido e repercutido.

Neste caso é reforçada a importância de organizações, locais ou não, que tratam dessa problemática, através de campanhas na mídia, ações globais ou intervenções locais. Esses grupos tem o papel de mobilizar a opinião pública para determinadas questões de acordo com seus estatutos. 

Supondo que um grupo social, para que perceba e aja sobre um determinado problema ambiental, Hannigan (2009) postula sobre a teoria da “disseminação gradual” do ambientalismo por setores da sociedade e do Estado –o “ambientalismo multissetorial”. Essa interpretação se ampara em uma perspectiva cognitiva: apresenta o ambientalismo como espécie de “ideia-força”, cuja difusão dependeria do empenho de um grupo especial de atores em favor da conscientização dos demais. Além da ação deste grupo mobilizador, para que um problema ambiental ganhe relevância junto ao grupo social, alguns princípios básicos devem ser observados: validação de uma autoridade científica; existência de um grupo mobilizador; atenção da mídia; simbologia do problema; incentivos econômicos para a ação positiva e recrutamento de um patrocinador institucional (garantia de legitimidade e continuidade).

       É possível afirmar, logo, que para um problema ambiental ter a atenção de um grupo social (uma comunidade, por exemplo) precisará, antes de tudo, da atenção de um grupo bem definido e identificável, que considerará necessário uma intervenção. Este mesmo grupo deverá ter força e notoriedade nas suas aparições e eloquência em seus discursos, a fim de “convencer” a sociedade de que aquele problema é realmente nocivo para a qualidade de vida da comunidade e merece receber atenção.

O grupo mobilizado deve, então, fornecer fatos básicos que moldarão o discurso da criação das exigências (exemplo: se a questão é o impacto negativo do uso de agrotóxicos na agricultura brasileira, deverá apresentar fatos e números- derivados de pesquisas científicas-  que comprovem esses efeitos). Ainda como estratégia deverá valer-se de histórias verdadeiras, que expressem esses perigos e que tornam mais fácil para o público identificar-se com os afetados diretamente pelo problema, despertando um sentimento de empatia. Por fim, o grupo problematizador deverá apresentar as garantias ou justificativas para que ações sejam tomadas. Essas garantias vão desde a apresentação das vítimas ou ligações dessas exigências (problemas) com o tolhimento de liberdades e direitos básicos. Definidas as ações, a próxima etapa seria o resultado das ações, culminando, quem sabe, na criação de políticas públicas ou instrumentos legais para erradicação do problema.

Ao definir-se os problemas ambientais, despertando a atenção da sociedade, ainda existem outros pontos a considerar: designação do problema; diferenciação em relação a outros problemas; determinação de uma base legal, moral ou técnica e estimativa dos agentes da ação.

A problemática ambiental encerra outra peculiaridade: o fato de, na maioria das vezes, o problema ser descoberto através de pesquisas científicas (exemplo a depleção da camada de ozônio), como já foi mencionado. Outras questões, por sua vez, relacionam-se de perto com a vida dos indivíduos (poluição de um rio, resíduos sólidos urbanos, escassez de água). Quando fala-se no segundo caso, de problemas tangíveis para o público de forma imediata, pode acontecer de um grupo de pessoas, que vive no seu cotidiano a problemática, constituir a fonte inicial das exigências e mobilização, devido ao fato de perceberem, diretamente, os efeitos desses problemas. Neste caso, o grupo problematizador não será um grupo constituído formalmente, pelo menos não de início.

Dos grupos que atuam atualmente na formulação e ação sobre os problemas ambientais, citam-se: Greenpeace, WWF, Akatu (nível nacional); Agapam, Fundação Gaia (nível estadual).

Contudo, os grandes acidentes ambientais que ocorreram e, eventualmente, ainda ocorrem, como os casos de Poluição em Minamata (1956), Three-Mile Island (1979), Love Canal, Bhopal (1984), Chernobyl (1986), Derrame do Exxon Valdez (1989), Queima de petróleo no golfo Pérsico (1991), Derrame do Prestige (2002), mortandade de peixes no Rio dos Sinos (2006), acirraram o debate público e científico sobre a questão dos riscos ambientais e a cada caso, um grupo problematizador é instado a agir, levando a questão para a discussão na sociedade e a construção da problemática ambiental. Nas sociedades contemporâneas, consequentemente, a questão da cidadania e da qualidade de vida ganha novos impulsos nesses momentos.

Pode-se afirmar que, em uma investigação social que visa compreender como a sociedade se comporta e se move quando o assunto é meio ambiente, a procura das origens das exigências dos problemas ambientais é importante. Cabe o investigador perguntar-se: De que problema se está falando? De ondem vem? Que interesses estão obscuros?

O que se quis dizer, resumidamente, é que os problemas ambientais são construídos pela sociedade, muito mais fruto de uma necessidade do que fruto da tomada de consciência do valor intrínseco da natureza. O homem, por seu comportamento auto destrutivo, não se vê como parte integrante do meio e só toma partido quando percebe que a manutenção da SUA vida está ameaçada. Da SUA vida, não da vida em nível planetário. Ao tomar parte na luta travada pelos grupos problematizadores, a comunidade age e, muitas vezes, até consegue realizar mudanças significativas, como a criação de uma política pública ou lei que regulamente e controle o conflito.

       Como sugerido até aqui, a problemática ambiental e sua construção social são questões complexas, que exigem uma análise minuciosa. Soriano (2004) sugere que a análise dos fenômenos sociais são elementares, tanto mais quando se trata da tomada decisões políticas, como o estabelecimento de uma política pública para setores da sociedade em situação de vulnerabilidade, exemplificando. Essa análise pormenorizada minimizaria os riscos de desperdício de recursos financeiros, ou, ainda, equívocos conceituais, que levariam ao colapso de determinados projetos sociais. Especialmente quando esses projetos são destinados a comunidades tradicionais ou em vulnerabilidade.

       Os cientistas sociais concordarão que existe a necessidade de se conhecer os problemas sociais. E, seria possível dizer que a questão ambiental não é uma questão eminentemente social? Cabe frisar, destarte, que o comprometimento em compreender como uma determinada comunidade reconhece e reage aos problemas ambientais pode ser de grande valia na instrumentalização de programas (de iniciativa pública ou não) que visem a resolução destes problemas.

       A separação entre a pesquisa e a realidade é para Soriano (2004), um problema a ser resolvido. Uma pesquisa social deve ir além da simples descrição de um problema de forma sistemática. Assim, entenda-se, quando se fala em crise ambiental, não se remetem apenas aos aspectos físico, biológico e químico das alterações do meio ambiente. Trata-se, mais além, de uma crise civilizatória (crise de valores, que é cultural e espiritual).

Froehlich (2000) diz que os estudos ecológicos/ambientais, no âmbito das ciências sociais, só vieram a ter um reconhecimento enquanto “campo disciplinar” do conhecimento a partir dos anos 70 (História Ambiental, Sociologia Ambiental, etc). Em seu texto, Froehlich traz para um primeiro plano, as abordagens de Gilberto Freyre a respeito de questões ambientais e ecológicas.

Tratar-se-ia de uma “Ecologia Social”, nos termos de G. Freyre, que pretensamente se orgulha de ser o primeiro a usar a denominação “Ecologia” num sentido social ou humano. Todavia, o que é relevante neste “uso” é notar a insistente preocupação do autor em fugir do estreito ecologismo geométrico reducionista de fatos culturais e humanos a fatos físicos e naturalísticos, embora ressaltando a premente necessidade da utilização dos elementos naturais/ecológicos na compreensão e explicação dos fenômenos sociais. Froehlich 2000, p.4.

Já nas palavras de Alonso & Costa (2002) é somente a partir da metade dos anos 80 que pode-se falar realmente em um interesse sistemático das ciências sociais pela questão ambiental no Brasil. A produção acadêmica e literária na área ganha forma pela adesão individual de especialistas das mais diversas áreas das ciências naturais e humanas -filósofos, geógrafos, demógrafos, biólogos, dentre outros, sem, no entanto, dispor de planejamento para estabelecer programas e cursos específicos.

Ainda seguindo os autores, a partir dos anos 90, ocorre uma progressiva especialização na área. De um lado ocorre a divisão em subáreas de conhecimento, com o consequente aprofundamento teórico e metodológico em cada uma delas. Acirrando-se a competitividade por prestígio e recursos. Notadamente, a despeito de qualquer conflito, originou-se uma literatura politicamente engajada, que critica fortemente o modelo de desenvolvimento capitalista e o estilo de vida a ele associado, propondo amplas reformas econômicas e mesmo de hábitos e práticas sociais profundamente arraigadas.

Inúmeros estudos foram levados a cabo desde a emergência da sociologia ambiental no Brasil, e o que se nota (e os autores confirmam) é a prevalência de estudos de caso que dão conta de explorar e explicar os impactos socioambientais, quanto mais quando o objetivo era investigar as ações humanas sobre a natureza. Da mesma forma, encontram-se publicados múltiplos casos de investigação cujo escopo é a identificação dos efeitos nocivos associados à industrialização (poluição das águas, solos, atmosfera) e suas implicações sobre a saúde pública.

Essa abordagem, ainda que importante, não é suficiente para explicar formalmente como se construiu essa relação do homem com a natureza. E, talvez, seja este o ponto nevrálgico do problema: como as pessoas reconhecem e enfrentam os problemas ambientais, desde suas causas primárias até a tomada de decisão e ação efetiva contra o avanço da deterioração dos ecossistemas e esgotamento dos recursos naturais. É possível que a humanidade ainda venha a compreender-se como parte integrante do ecossistema global, como mais um animal na teia da vida e, assim, altere os rumos da história do homem sobre a Terra?

Parece que não tão cedo. A humanidade deu um salto em qualidade e produção tecnológica, é bem verdade. Mas, moralmente, não é arriscado dizer que o progresso foi bem menos impactante. Baseando-se nas “paixões” de Espinosa, o homem é egoísta e faz de tudo para satisfazer sua eterna necessidade de ter tudo aquilo de que não precisa para viver.

O resultado deste comportamento já foi desnudado em 1987, no documento Our Common Future (Nosso Futuro Comum) ou, como é bastante conhecido, Relatório Brundtland. que definiu, além disso, outro conceito: o de desenvolvimento sustentável, definindo-o como o processo que “satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”.

Vale lembrar que o documento foi elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, e aponta para a incompatibilidade entre desenvolvimento sustentável e os padrões de produção e consumo, trazendo à tona mais uma vez a necessidade de uma nova relação “ser humano-meio ambiente”. Enfatizou problemas ambientais, como o aquecimento global e a destruição da camada de ozônio e expressou preocupação em relação ao fato de a velocidade das mudanças estar excedendo a capacidade da ciência propor as soluções necessárias para o travamento das consequências já mencionadas. Ao mesmo tempo que aponta todos os problemas ambientais existentes, não sugere a estagnação do crescimento econômico, mas sim defende a possibilidade de conciliação entre o econômico e as questões ambientais e sociais.

A postura exposta no relatório, parece, dada a conjuntura atual, não dá conta de alterar os rumos que a humanidade resolveu seguir. Outra teoria, mais congruente à realidade e que se pode citar aqui é a Teoria do Decrescimento. Trata-se de um conceito, cunhado na década de 1970, por Nicholas Georgescu-Roegen, as quais foram publicadas em seu livro The Entropy Law and the Economic Process (1971).

A tese do decrescimento baseia-se na hipótese de que o crescimento econômico - entendido como aumento constante do Produto Interno Bruto (PIB) - não é sustentável pelo ecossistema global, que já dá claros sinais de esgotamento. A Teoria apresenta uma ideia diametralmente oposta ao pensamento econômico dominante, segundo o qual a melhoria do nível de vida seria decorrência do crescimento do PIB e portanto, o aumento do valor da produção deveria ser um objetivo permanente da sociedade, tendo no aumento do consumo a força motriz de todo o sistema econômico hegemônico.

A questão principal, segundo os defensores do decrescimento é que os recursos naturais são limitados e portanto não existe crescimento infinito. A melhoria das condições de vida deve, portanto, partir da diminuição do consumo, mudando-se o paradigma dominante. Mais uma vez é a sociedade o ente decisivo e o entendimento de como essa sociedade se comporta diante das questões ambientais é imprescindível.

Ao considerar que a problemática da escassez dos recursos naturais, apesar de propagada e discutida, não foi devidamente assimilada pela cultura política brasileira (ou mundial), orientada, como já dito, pelo mito do crescimento ilimitado, tem-se uma perspectiva, de onde se pode lançar a ideia de que a era Reagan representou a rejeição explícita à ideia de limites, e a promessa do sonho norte-americano de crescimento e prosperidade rompeu fronteiras internacionais e minimizou o pesadelo da escassez.

 

  1. Procedimentos metodológicos utilizados na pesquisa

 

Esta pesquisa traz um viés investigativo, aliando a pesquisa em si e a realidade social do grupo, ainda que de forma sutil. Ao questionar “existem problemas ambientais na sua cidade e quais são os mais relevantes”, a pesquisa lança mão de aproximar-se do investigado, instigando-o a refletir a sua realidade. Indo além, provoca o aluno, questionando “quais suas ações pró ativas” na resolução desses problemas. As questões buscam entender essa percepção de responsabilidade e cidadania do aluno. Para que ele pondere, em seu íntimo, qual a situação de sua comunidade e como se resolve isso.

A partir de observações empíricas é possível afirmar que o município possui uma realidade de problemas ambientais visíveis: o lixo que a população descarta nas ruas, terrenos baldios e sangas; os casos de queimadas em campos nativos, supressão vegetal para formação de pequenas lavouras, entre outros. Nada que impactasse significativamente a população, que nunca sofreu por escassez de água ou danos ambientais graves, com mortandades de animais, por exemplo. Desse modo, não existe no município, um grupo mobilizador, capaz de chamar a comunidade para o debate.

Neste trabalho, foi realizada uma pesquisa de caráter exploratório com delineamento descritivo, que para Gil (2014), são, respectivamente: as que visam esclarecer, desenvolver e modificar conceitos e ideias com intuito de proporcionar uma visão mais geral de um fenômeno, preparando terreno para pesquisas futuras e aquela cujo objetivo centra-se na descrição das características de determinada população ou fenômeno ou estabelecimento de relações entre variáveis. O trabalho em tela tem como propósito levantar as opiniões e atitudes do grupo pesquisado, no que tange a problemática ambiental do município de Mata- RS. O quê, para o autor, trata-se de pesquisa descritiva.

Quanto ao delineamento da pesquisa, o método utilizado é o levantamento de campo (survey), que ainda segundo Gil, caracterizam-se pela interrogação diretas das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer. Neste caso, mediante procedimentos estatísticos, foi calculada a amostra que representasse o universo de estudantes da Escola Estadual de Ensino Médio Dona Joaquina, no município de Mata, RS.

A Escola está situada no município de Mata- RS, que é conhecido mundialmente pela presença maciça de fósseis vegetais, ou como são popularmente chamados “madeira petrificada”, limita-se com os municípios de Jaguari, São Vicente do Sul, Jarí e Toropi, com uma área de 299,70 km², abrangendo, principalmente, uma faixa de transição entre a Depressão Central do Rio Grande do Sul e o rebordo do Planalto Central Brasileiro. Sua população é de 5.579 habitantes, sendo 3.052 na zona rural e 2.527 na zona urbana. Altitude: 103 m acima do nível do mar, Latitude: 54° 27` 29", Longitude: 29° 34` 07" (fonte site oficial do município).

Figura 1- localização do município no Rio Grande do Sul

 

Figura 2- Jardim Paleobotânico, imagem da internet

Figura 3- Jardim Paleobotânico, detalhe de um fóssil, imagem da internet 

 

 

Figura 4- Detalhe de um fóssil vegetal, museu municipal Pe. Daniel Cargnin

 

O primeiro passo no planejamento da pesquisa foi então, entrar em contato com a Diretoria de Escola, para definir a possibilidade de ser realizada a aplicação dos questionários e, mais tarde, como seria o procedimento. Ao passo que a Escola demonstrou interesse em cooperar, inclusive, solicitando que os dados fossem apresentados à diretoria e corpo docente, vez que a instituição de ensino pretende utilizar os dados coletados para implantar um programa ambiental no local, para atendimento dos alunos.

Os dados necessários para o cálculo da amostra foram repassados pela Escola, dando conta que estavam matriculados no ano letivo de 2014, cento e oitenta e oito alunos, divididos entre os turnos da tarde e da noite.

De posse do número de alunos, procedeu-se o cálculo da amostra, que para Barbetta (2014) constitui uma parte delimitada de um conjunto de elementos que é a população.

Para o cálculo do tamanho da amostra, para que fosse representativa, considerou-se 95% de grau de confiança e erro amostral máximo permitido de 5%.

Foram utilizados, como técnica de investigação, questionários estruturados, compostos de questões fechadas (ou seja, o respondente escolhe uma dentre as alternativas apresentadas) e duas questões abertas (onde o respondente é convidado a apresentar suas próprias respostas), definições dadas por Gil (2014).

As questões abertas tratam, especificamente, em questionar ao aluno quais são os mais relevantes problemas ambientais de sua cidade e o que cada um faz para auxiliar na resolução destes mesmos problemas.

A coleta de dados se deu em um momento apenas, ocasião em que procedeu-se a liberação do questionário para os alunos selecionados na amostragem aleatória simples que segundo Barbetta (2014) é aquela em que os elementos são selecionados via sorteio, sem restrição. Calculada a amostra, que ficou em 127 elementos, procedeu-se o cálculo por turma e o sorteio aleatório, através da tecla randômica da calculadora. O número sorteado equivalia ao número do aluno no livro de chamadas. Quando o aluno estava ausente, outro número era chamado em seu lugar. Dos 127 questionários, 124 foram respondidos e utilizados nas análises.

Para análise dos dados foi utilizado método estatístico para organização, tabulação e interpretação dos mesmos. Os cálculos foram efetuados através da ferramenta estatística SPSS (Statistical Package for the Social Sciences).

 

 

  1. Resultado e discussões

 

Nas avaliações dos dados coletados, optou-se, nesta ocasião, em concentrar a atenção nos alunos oriundos do meio rural, que perfazem um total de 69 alunos, em um universo de 124 entrevistados. Ou seja, 56% do total de alunos que responderam ao questionário.

Notadamente, a maioria dos respondentes ao questionário são alunos de origem rural, sendo esta, também, a realidade da escola, a única de ensino médio do município.

 

 

 

Figura 5- Local de origem dos estudantes, fonte: dados da pesquisa (2014)

 

       Da análise comparativa entre o que pensam os alunos oriundos do meio rural e do meio urbano quanto aos problemas ambientais, demonstrados pela tabela 1, a seguir, chama a atenção que, tanto urbanos quanto rurais, apontam a problemática do lixo como sendo a mais significativa, sobrepondo-se, para os alunos do meio rural, àqueles problemas mais característicos para sua realidade como: desmatamento, queimadas e uso indiscriminado de agrotóxicos nas lavouras, também apontados pelos alunos.

       Vale ressaltar que dos 124 alunos que responderam ao questionário, 30 alunos (15 de cada local de origem), ou 24%, apontam que não existem problemas ambientais no municípios ou que não sabem se os mesmos existem. Cinco alunos (um do meio rural) apontam que o município detém todos os problemas ambientais e 10 sequer responderam a questão.

Essas respostas indicam que os alunos: ou não detém interesse suficiente sobre o assunto, a ponto de não refletirem sobre a realidade em que estão inseridos; ou possuem conhecimento limitado sobre o assunto; ou, por não se sentirem atingidos de qualquer forma por problemas ambientais, realmente não os percebem.

Cabe informar que ambas as tabelas mostradas a seguir trazem informações colhidas das questões abertas do questionário. Ou seja, as respostas são, genuinamente, dos alunos.

 

 

Rural

Urbano

Total

Problemas apontados pelos alunos

 

 

 

Lixo

34

21

55

Desmatamento

8

4

12

Esgoto

2

3

5

Queimadas

1

0

1

Nada

8

7

15

Não sei

7

8

15

Falta de saneamento

1

2

3

Não respondeu

4

6

10

Todos os problemas

1

4

5

Uso indiscriminado de agrotóxicos

2

0

2

Desperdício de água

1

0

1

Total

69

55

124

Tabela 1- principais problemas ambientais do município, na visão dos alunos, dados da pesquisa (2014)

 

       Os alunos também foram questionados, através de questão aberta, sobre o que fazem, no seu dia a dia, para auxiliar na resolução dos problemas ambientais apontados por eles mesmos, como demonstra a tabela 2.

Novamente aparece a questão do lixo como preponderante, quando os alunos (38 deles, 25 oriundos do meio rural) afirmam que suas ações centram-se em não jogar lixo em locais inadequados. Porém, o fato de 40 alunos, num universo de 124 respondentes, dentre esses 23 do meio rural, responderem que fazem nada para auxiliar, e, ressalte-se, a resposta veio neste formato: “NADA”, demonstra certa coerência, se comparar-se com as respostas à questão anterior. Ou seja, se não existem problemas, ou se o aluno não sabe se eles existem, é coerente, então, que respondam dessa forma a questão sobre suas atitudes.

 

 

 

 

 

 

                                              

      

 

 

 

 

Rural

Urbano

Total

Atitudes apontadas pelos alunos para auxiliar na resolução dos problemas

 

 

 

Não jogo lixo no chão

25

13

38

Ajudo como posso

5

12

17

Nada

23

17

40

Separo lixo em casa

1

1

2

Não sei

2

2

4

Não respondeu

7

7

14

Estudo o assunto

0

1

1

Diminuo tempo do banho

2

1

3

Economizo energia

3

0

3

Aumentaria fiscalização e licenciamento

1

0

1

Voto de forma consciente

0

1

1

Total

69

55

124

Tabela 2- principais problemas ambientais do município, na visão dos alunos, dados da pesquisa (2014)

 

       Os alunos foram questionados sobre as informações que recebem na escola, que tratam das questões ambientais, de modo geral. Suas respostas apontam para uma deficiência na forma como os conteúdos são trazidos ao debate em sala de aula ou no dia a dia da comunidade escolar. Em torno de 48% dos alunos que participaram da pesquisa estão insatisfeitos com a abordagem da escola, o que se reflete nas demais respostas às questões propostas anteriormente.

       A tabela 3 traz os dados referentes a satisfação dos alunos, como segue.

 

 

Rural

Urbano

Total

As informações que recebes da escola são:

 

 

 

Insatisfatórias

11

9

20

Pouco satisfatórias

26

14

40

Indiferentes

23

17

40

Pouco insatisfatórias

9

5

14

Satisfatórias

20

23

43

Total

69

55

124

Tabela 3- Grau de satisfação dos alunos quanto às informações dadas pela escola, dados da pesquisa (2014)

 

Outras questões foram colocadas aos alunos, desta vez para que se pudesse realizar inferências quanto a sua visão sobre a questão ambiental, de modo mais geral. Por exemplo, foram questionados se os seres humanos tem o direito de alterar o meio a fim de satisfazer suas necessidades. Dos alunos respondentes, 37,9% concordam com a afirmação, deixando claro que acreditam que a natureza existe para satisfazer as necessidades dos seres humanos. Parecem crer que a produção de bens e serviços, visando atender a necessidade da humanidade, não deverá decrescer. Desconsiderando-se, pelo que se percebe, a capacidade de resiliência do ambiente, assim como as demais espécies vivas, habitantes desse planeta.

       Os dados são demonstrados através da tabela 4, a seguir.

 

 

Rural

Urbano

Total

Os seres humanos tem o direito de alterar o meio?

 

 

 

Concordo

29

18

47

Preciso pesquisar mais

7

5

12

Não sei

7

5

12

Não considero importante

2

1

3

Discordo

24

26

50

Total

69

55

124

Tabela 4- Opinião do aluno sobre o uso dos recursos naturais, dados da pesquisa (2014)

 

       Os alunos foram convidados a se auto definirem, através de uma escala de notas de 1 a 10, onde: de 1 a 3 definiu-se como baixo nível de consciência ambiental; de 4 a 7, médio; e de 8 a 10, alto nível de consciência ambiental.

       A maioria, 55,6% se auto definiram como de médio nível de consciência ambiental; 42,7% se auto definiram como pessoas dotadas de um alto nível de consciência ambiental. De modo que, chama a atenção o baixo índice de alunos que se consideram de baixo nível de consciência, apenas 1,6%.

       Analisando o comportamento descrito pelos próprios alunos e comparando com a auto análise demonstrada na pesquisa, os alunos demonstram incoerência, uma vez que se esperaria um grau maior de comprometimento diante dos níveis de consciência apontados.

 

 

 

Rural

Urbano

Total

Qual seu nível de consciência ambiental?

 

 

 

Baixo

0

2

2

Médio

40

29

69

Alto

29

24

53

Total

69

55

124

Tabela 5- Auto análise do aluno quanto seu grau de consciência ambiental, dados da pesquisa (2014)

 

  1. Considerações finais

 

       Diante do exposto e dos resultados obtidos na pesquisa, é possível inferir que a comunidade escolar não demonstra desassossego diante dos problemas ambientais, demonstrando notório embaraço ao apontar quais seriam os problemas mais relevantes e quais as ações deveriam ser adotadas.

       Uma explicação plausível pode ser tanto a ausência de um grupo mobilizador que atue no município, como o fato da população não ter sofrido com nenhum desastre ambiental, ou mesmo com as consequências diretas dos problemas ambientais (escassez de água por exemplo).

       Parece correto dizer, então, que a percepção dos problemas ambientais pode mesmo ser independente da grandeza dos próprios problemas, sugerindo, amiúde os resultados encontrados, que a preocupação do público, ou dessa comunidade, é independente da deterioração ambiental real. Sendo assim, é moldada por outros fatores, alheios a simples percepção individual.

       Analisando, através do conhecimento empírico do pesquisador, que é natural e reside no município, é possível dizer que a população matense não sofreu com escassez de água para abastecimento público. O Arroio que corta a cidade, apesar de receber todo o esgoto, sem tratamento, ainda tem capacidade de diluição do efluente, portanto também não é encarado como problema. Inclusive a população de mais baixa renda utiliza o arroio para refrescar-se nos dias mais quentes. O lixo nas ruas, apesar de ser um problema, uma vez que trata-se de um município turístico, ainda não ocasionou maiores contratempos. Em um único momento a população se une para reivindicar: quando há falta de energia elétrica. Todavia, nas conversas informais, as reclamações recaem sobre a concessionária. Dificilmente o indivíduo se posiciona no debate para defender a tese de que o consumo de energia é que está elevado ao extremo. Quanto mais no verão, onde as ondas de calor fazem com que aparelhos de ar condicionado sejam utilizados quase que ininterruptamente.

       Ao se considerar conceitos da sociologia ambiental, como demonstrado, a população, por não “sofrer” diretamente, não percebe que existe uma necessidade de mudança comportamental que daria conta de resolver alguns desses distúrbios.

       A prática cotidiana dos alunos, no que tange a questão ambiental permanece em nível superficial, sem aprofundamento crítico. O comportamento da comunidade escolar aponta para a falta de informação de qualidade, falta de debate e reflexão. De modo que os alunos mostraram, na pesquisa, incapacidade elaborativa na busca de compreensão dos problemas ambientais e suas formas de ação. Isso implica, entre outros, em baixo poder de crítica dos alunos que, parece, não compreendem as correlações existentes entre suas ações e o meio.            No entanto, importante ressaltar que foram surpreendentes as respostas ao questionário onde os alunos indicam que o município não tem problemas ambientais, ou que tem todos os problemas. O alto percentual de alunos apontando para essas duas respostas indica alto grau de descomprometimento social. Além disso, o alto percentual de alunos que responderam que fazem nada para auxiliar, vem para corroborar a inferência do pesquisador, quanto a falta de comprometimento do grupo de alunos.

Cumpre sugerir então, que a escola trabalhe com os alunos para a formação de um sujeito ecológico, utilizando os temas ambientais que fazem sentido para a realidade desse grupo (visando instigá-los a participar). O trabalho em Educação Ambiental que poderia utilizar os temas ambientais como geradores da formação crítica e como importante diretriz metodológica. Como Paulo Freire pregava, o processo de tomada de consciência pela educação (ação-reflexão-ação), é a possibilidade de superação da consciência ingênua em busca da consciência crítica e, consequentemente, um passo para uma ação mais condizente com as circunstâncias atuais em que se vive de crise ambiental.

Para Tozoni-Reis, de modo geral, a sensibilização e a conscientização fazem parte de um processo de ação concreta e reflexão e ao incorporar o tema ambiental, o processo da educação conscientizadora tem como objetivo a transformação das relações entre os sujeitos e desses com o ambiente, estabelecidas pela história das relações sociais.

A educação ambiental como mediadora dessas relações se estabelece sobre a idéia de conscientização, na articulação entre conhecimentos, valores, atitudes e comportamentos, se puder promover a transformação radical da sociedade de hoje rumo à sustentabilidade, também radical, que implica transformar a relação dos sujeitos com o ambiente, compreendendo-o social e histórico. Conscientização é, portanto, um processo de construção, ativa e refletida dos sujeitos, rumo à consciência crítica, assim, supera a apropriação de conhecimentos, referindo-se a articulação radical entre conhecimento e ação, não qualquer ação, mas uma ação política, transformadora, libertadora e emancipatória. Esse processo é histórico e concreto, não imediato. Conscientização, como princípio da educação ambiental, não é um resultado imediato da aquisição de conhecimentos sobre os processos naturais, mas a reflexão filosófica e política, carregada de escolhas históricas que resultam na busca de uma sociedade sustentável. (TOZONI-REIS, 2006, p. 106)

       O grande desafio lançado aos professores da escola está em tratar os temas ambientais como temas geradores do processo de ação-reflexão-ação. E isso somente vai ser possível com uma base metodológica para a educação ambiental que tenha como perspectiva a mudança comportamental, garantindo minimamente a harmonia do ser humano com o ambiente e as outras formas de vida desse planeta.

 

 

 

  1. Referências bibliográficas

 

BARBETTA, Pedro Alberto, Estatística aplicada às ciências sociais. Florianópolis: Ed. Da UFSC, 2014.

FROEHLICH, J. Marcos. Gilberto Freyre, a história ambiental e a rurbanização. Revista História Ciência Saúde- Manguinhos, Rio de Janeiro: (FIOCRUZ), v. VII (2); jul-out 2000, 1-20

GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo, SP: Atlas, 2014

HANNIGAN, John. Sociologia ambiental/ tradução de Annahid Burnett; Petrópolis, RJ: Vozes, 2009

KÖCHE, José Carlos. Fundamentos de metodologia científica: teoria de ciência e iniciação à pesquisa. Petropólis, RJ: Vozes, 1997

SORIANO, Raúl Rojas. Manual de pesquisa social/tradução de Ricardo Rosenbusch. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004

TOZONI-REIS, Marília Freitas de Campos. Temas ambientais como "temas geradores": contribuições para uma metodologia educativa ambiental crítica, transformadora e emancipatória. Educ. rev. [online]. 2006, n.27, pp. 93-110. ISSN 0104-4060. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-40602006000100007

TOZONI-REIS, Marília Freitas de Campos. Temas ambientais como "temas geradores": contribuições para uma metodologia educativa ambiental crítica, transformadora e emancipatória. Educ. rev. [online]. 2006, n.27, pp. 93-110. ISSN 0104-4060. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-40602006000100007man and Hall, 1989.

Ilustrações: Silvana Santos