Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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15/12/2015 (Nº 54) INSTITUTOS DE PERMACULTURA: PROPOSTAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESPAÇOS NÃO-FORMAIS
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INSTITUTOS DE PERMACULTURA: PROPOSTAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESPAÇOS NÃO-FORMAIS

 

Lucy Mirian Campos Tavares Nascimento¹

 

Rita de Cássia Frenedozo²

 

¹Doutoranda em Ensino de Ciências e Matemática (UNICSUL); Professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás, Campus Formosa – lucycmb@gmail.com

 

²Doutora em Geociências e Meio Ambiente (Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho);Professora da Universidade Cruzeiro do Sul- rita.frenedozo@cruzeirodosul.edu.br

 

 

RESUMO: Este artigo tem o intuito de discutir os princípios defendidos pelos Institutos de Permacultura, no desenvolvimento de seus cursos e atividades, bem como o potencial desses centros enquanto espaços não formais de ensino para o desenvolvimento de ações voltadas ao ensino de Ciências, destacando-se possíveis abordagens para a educação ambiental. Trata-se de uma pesquisa descritiva, de natureza exploratória cujo foco são as atividades desenvolvidas pelos institutos de permacultura: EcoCentro-IPEC e IPOEMA, localizados respectivamente no estado de Goiás e no Distrito Federal. Os dados foram coletados das informações disponibilizadas pelas instituições em seus sites oficiais e em revisão bibliográfica. A base teórica fundamentou-se principalmente nos trabalhos de Mollison; Slay e de Holmgren. Identificamos que tanto o EcoCentro –IPEC quanto o IPOEMA desenvolvem projetos educativos envolvendo o público em geral e, em alguns casos, grupos de professores e alunos de escolas públicas e privadas com temas relacionados à educação ambiental visando estimular atitudes de natureza sustentável. Percebemos que o entendimento das ações desenvolvidas nesses centros por professores de ciências pode lhes possibilitar recursos significativos para a abordagem de temas relacionados à biodiversidade e à sustentabilidade e desencadear iniciativas de uso mais sustentável dos recursos naturais promovendo um maior envolvimento dos alunos nas atividades de educação ambiental.

 

Palavras-chave: Permacultura, Espaços Não Formais, Sustentabilidade, Educação Ambiental, Ensino.

 

 

1 Introdução

 

As discussões de temas relacionados ao meio ambiente ganharam destaque no cenário mundial a partir da década de 60 (CARVALHO, 1989; FREY e CAMARGO, 2003; CAMARGO, 2009), sendo o desenvolvimento sustentável um dos assuntos de grande repercussão.

Muitos dos debates ocorridos nas últimas décadas ora responsabilizam o modelo de produção capitalista pelos problemas ambientais, ora apresentam previsões alarmistas ou simplistas sobre as mudanças climáticas e suas consequências sobre a vida no planeta.

Acompanhando e mesmo desencadeando tais movimentos, vários eventos nacionais e mundiais vêm sendo realizados. Dentre eles, destacam-se os trabalhos da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, ocorrida em 1987, com o intuito de discutir os problemas relacionados à crise ambiental e ao desenvolvimento, resultando no relatório Nosso Futuro Comum, mais conhecido por relatório Brundtland. Nele consta pioneiramente a definição de desenvolvimento sustentável como “aquele que atende as necessidades do presente sem comprometer as possibilidades de as gerações futuras atenderem suas próprias necessidades” (CMMAD, 1988, p.46).

Apesar de ter influenciado vários discursos governamentais, ambientalistas e empresariais e ter desencadeado inúmeros pareceres e leis em todo o mundo, tal concepção de desenvolvimento é questionada por vários pesquisadores (VIZEU et al, 2012; BOFF, 2012) devido à dicotomia que o termo “desenvolvimento sustentável” pode representar, mascarando uma realidade insustentável nos moldes econômicos vigentes. Para garantir a sustentabilidade dos ecossistemas e consequentemente viabilizar que as necessidades básicas humanas, como alimentação, energia e habitação, sejam supridas, é necessária uma verdadeira revolução cultural (LEITE, 2011).  Nesse sentido acreditamos que seja mais viável a concepção de “sustentabilidade”, entendida aqui como:

 

[...] uso dos recursos renováveis de forma qualitativamente adequada e em quantidades compatíveis com sua capacidade de renovação, em soluções economicamente viáveis de suprimento das necessidades, além de relações sociais que permitam qualidade adequada de vida para todos (BRASIL, 1997a, p.178).

 

Dentre várias iniciativas de sustentabilidade, chamam-nos a atenção as desenvolvidas nos institutos de permacultura. Trata-se de práticas iniciadas na Austrália, no início da década de 70, como resultado dos trabalhos de Bill Mollison e David Holmgren, em decorrência da necessidade percebida por eles de desenvolverem uma alternativa à agricultura convencional decadente no país (MOLLISON, SLAY, 1998).

O termo permacultura, cunhado por eles em meados dos anos 70, surgiu no intuito de descreverem a “transformação da agricultura convencional em uma Permanente agricultura”; veio, portanto, da junção desses dois termos (SOARES, 1998, p. 4, grifo nosso). Tratava-se de “utilizar práticas tradicionais da agricultura aliadas a ideias inovadoras” (Ibidem).

Inicialmente a permacultura era considerada como um “sistema integrado de espécies animais e vegetais perenes ou que se perpetuam naturalmente e que são úteis ao homem” (HOLMGREN, 2007, p. 3). Todavia, o conceito se ampliou para uma forma de se perceber e lidar com a natureza, sendo descrita pelo mesmo autor como “paisagens conscientemente desenhadas que reproduzem padrões e relações encontradas na natureza e que, ao mesmo tempo, produzem alimentos, fibras e energia em abundância e suficientes para prover as necessidades locais” (Ibidem). Essa forma de planejar e lidar com a natureza é chamada, dentro da permacultura, de “design permacultural”, ou seja, “é o planejamento consciente, considerando todas as influências e os inter-relacionamentos que ocorrem entre os elementos de um sistema vivo” (SOARES, 1998, p.7).

Soares (1998) defende que a permacultura, ao envolver técnicas agrícolas tradicionais aliadas criativamente a técnicas modernas, é capaz de promover o desenvolvimento de um ecossistema produtivo, sustentável e em harmonia com a natureza, capaz de garantir ao homem o atendimento às necessidades básicas de alimentação, energia e habitação. Não se trata de simplesmente adotar antigas tradições de cultura e manejo da terra e dos animais, tampouco ignorar o que as técnicas modernas podem trazer de contribuições, mas, sim, de inspirar-se na “observação das florestas profundas, na sabedoria contida nos sistemas tradicionais do mundo rural, no conhecimento científico moderno e na tecnologia” (CORREIA, 2011, p.16).

Como analisado por Salgado (2011), a permacultura pode ser concebida em diferentes “vieses”: tanto como filosofia de vida, quanto pelas técnicas e tecnologias que ela adota. Nas palavras de Mollisson; Slay, a permacultura “é muito mais que uma agricultura permanente, ela é uma cultura permanente, pois a agricultura não pode sobreviver por muito tempo sem uma base para uma agricultura sustentável e uma ética para o uso da terra” (1994, p. 5).  Dessa forma, com a adoção de metodologias próprias e com o desenvolvimento de tecnologias inovadoras visando à convivência harmoniosa do ser humano com a natureza, a permacultura passou a assumir a ideologia de uma cultura sustentável, um modo de viver.

Com essa concepção, aliada aos resultados gratificantes obtidos nos projetos de permacultura desenvolvidos na Austrália e diante da efervescência dos discursos para o desenvolvimento sustentável, manifestos na teoria Gaia (LOVELOCK, 2006), na Teoria dos Sistemas (BERTALANFFY, 1975) e nos dados mundiais sobre a poluição mundial e o aquecimento global, a permacultura ganhou credibilidade e passou a ser difundida em todo o mundo.

No Brasil, atualmente existem institutos de permacultura em diversas regiões, como, por exemplo, EcoCentro -IPEC – Pirenópolis: GO; IPB – Salvador: BA; IPEMA – Ubatuba: SP; IPERS – Porto Alegre: RS; IPETERRAS – Irecê: BA; IPOEMA – Brasília: DF; OPA – Salvador: BA; IPC – Fortaleza: CE; EcoVIDA São Miguel – Moeda: MG, além de comunidades e outras redes voltadas à prática e à divulgação dos princípios da permacultura (REDE PERMEAR, 2012).

Os Institutos de Permacultura podem ser entendidos como espaços não formais de ensino. Embora não tenham essa destinação, desencadeiam ações educativas relacionadas ao ensino e à aprendizagem de temas relacionados à educação ambiental. Assim, ao promoverem atividades direcionadas, com objetivos definidos e que envolvem conteúdos da escolarização formal, eles estão realizando uma educação não-formal (GOHN, 1999).

Vercelli (2011, p.3) aponta que os

 

[...] espaços educativos se diferenciam do espaço escolar por apresentarem, alguns de forma lúdica e interativa, produtos da experiência social e cultural de um determinado local. Além disso, dependendo do espaço, favorece ao aluno o contato direto com materiais, peças, relíquias, pinturas, esculturas etc, que na sala de aula poderiam não ser visualizados ou apenas visualizados por meio virtual.

 

Nesse sentido acreditamos que entender as proposições dos trabalhos desenvolvidos nos Institutos de Permacultura pode possibilitar aos docentes recursos significativos para a abordagem de temas relacionados à educação ambiental, à biodiversidade e à sustentabilidade, bem como desencadear iniciativas de uso mais sustentável dos recursos naturais e contribuições significativas para o ensino de ciências.

Dessa forma, é preciso inicialmente compreendermos as bases conceituais da permacultura, seus princípios e as atividades desenvolvidas nesses centros permaculturais. Para isso, buscamos compreender o seu cenário na região do Planalto Central, mais especificamente os projetos de EA desenvolvidos pelo instituto IPOEMA, localizado na região do entorno de Brasília-DF, e pelo EcoCentro - IPEC, situado na cidade de Pirenópolis-GO.

 

2 METODOLOGIA

 

Optamos neste estudo por uma abordagem qualitativa e exploratória com o objetivo de melhor conhecermos os projetos desenvolvidos pelos institutos de permacultura IPOEMA e EcoCentro-IPEC, localizados respectivamente na região do entorno de Brasília-DF e em Pirenópolis-GO, especialmente os relacionados à educação ambiental e os voltados a professores e alunos de escolas públicas e privadas.

O intuito é discutirmos os princípios defendidos por esses institutos no desenvolvimento de seus cursos e atividades, bem como o potencial desses centros enquanto espaços não-formais de ensino para o desenvolvimento de ações voltadas ao ensino de Ciências, destacando-se possíveis abordagens para a educação ambiental (EA), a biodiversidade e a sustentabilidade.

A pesquisa exploratória nos permite “familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito” (GIL, 2009, p. 41). Aliados a uma abordagem qualitativa, os dados obtidos nos permitirão melhor perceber o cenário do fenômeno pesquisado.

Nosso estudo primeiramente se volta a um levantamento bibliográfico sobre a permacultura, seus objetivos e princípios. Em seguida descreve sobre os institutos IPOEMA e EcoCentro - IPEC e analisa as informações contidas nos sites oficiais das duas instituições. A análise foi feita considerando os seguintes aspectos: i) layout dos sites; ii) disposição e organização das informações no site; iii) informações sobre a instituição e seus instrutores; iv) informações sobre os cursos e atividades desenvolvidas; v) e a relação dessas com a EA e os princípios da permacultura.

 

3 Permacultura: um cenário ainda a se compreender

 

O termo permacultura foi cunhado em meados dos anos 70, como resultado dos trabalhos de Bill Mollison e David Holmgren, em decorrência da necessidade percebida por eles de desenvolverem uma alternativa à agricultura convencional decadente na Austrália (MOLLISON, SLAY, 1998). O termo busca descrever a “transformação da agricultura convencional em uma Permanente agricultura” associando às práticas tradicionais novas ideias (SOARES, 1998, p. 4, grifo nosso).

Inicialmente considerado por Holmgren e Bill Molisson (HOLMGREN, 2007, p. 3) como um “sistema integrado de espécies animais e vegetais perenes ou que se perpetuam naturalmente e que são úteis ao homem”, o conceito se ampliou para uma forma de se perceber e lidar com a natureza, sendo descrito pelo mesmo autor como “paisagens conscientemente desenhadas que reproduzem padrões e relações encontradas na natureza e que, ao mesmo tempo, produzem alimentos, fibras e energia em abundância e suficientes para prover as necessidades locais” (Ibidem).

Soares (1998) defende que a permacultura, ao envolver técnicas agrícolas tradicionais aliadas criativamente a técnicas modernas, é capaz de promover o desenvolvimento de um ecossistema produtivo, sustentável e em harmonia com a natureza, capaz de garantir ao homem o suprimento das necessidades básicas de alimentação, energia e habitação. Não se trata de simplesmente adotar antigas tradições de cultura e manejo da terra e dos animais, tampouco ignorar o que as técnicas modernas podem trazer de contribuições, mas, sim, de inspirar-se na “observação das florestas profundas, na sabedoria contida nos sistemas tradicionais do mundo rural, no conhecimento científico moderno e na tecnologia” (CORREIA, 2011, p.16).

 

4 A permacultura e seus princípios

 

A busca por um futuro sustentável é representada na flor da permacultura (figura 1). Nela podemos constatar a proposição de um manejo da natureza e da terra com princípios norteadores calcados na ética e no design permacultural.

A permacultura defende três valores éticos básicos que estão intimamente ligados entre si e orientam os princípios da permacultura: i) cuidar da terra; ii) cuidar das pessoas; iii) partilha justa (Mollison; Slay, 1998, pp. 2-3). Tais valores foram considerados, segundo Holmgren (2007, p. 8), após “pesquisa em ética comunitária, como adotada por culturas religiosas antigas e grupos cooperativos modernos”. Os valores descritos fundamentam as atividades propostas nos institutos e centros de permacultura e localizam-se no centro da flor que gira em espiral e cujas pétalas representam propostas de ação (figura 1).

Além dos valores éticos, doze princípios estão relacionados ao design de permacultura e são correlacionados a imagens, a ícones e a provérbios populares, como destacado na figura 1, idealizada por Holmgren para sintetizar os conceitos abordados pela permacultura.

FIGURA 1 - FLOR DA PERMACULTURA E SEUS PRINCÍPIOS

Fonte: Holmgren (2007, adaptado).

 

Segundo Holmgren (2007, p. 8-25), cada ícone tem um significado. Vejamos:

 

1-Observe e interaja: A beleza está nos olhos do observador;

2-Capte e armazene energia: Produza feno enquanto faz sol;

3-Obtenha um rendimento: Você não pode trabalhar de estômago vazio;

4-Pratique a autorregulação e aceite feedback: Os pecados dos pais recaem sobre os filhos até a sétima geração;

5-Use e valorize os serviços e recursos renováveis: Deixe a natureza seguir seu curso;

6-Produza, não desperdice: Não desperdice para que não falte e um ponto na hora certa economiza nove;

7-Proteja e planeje partindo de padrões para chegar a detalhes: Às vezes as árvores nos impedem de ver a floresta;

8-Integre ao invés de segregar: Muitos braços tornam o fardo mais leve;

9-Use soluções pequenas e lentas: Quanto maior, pior a queda e devagar e sempre se ganha a corrida;

10-Use e valorize a diversidade: Não coloque todos os ovos numa única cesta;

11-Utilize caminhos paralelos e ideias criativas: Não pense que está no caminho certo somente porque ele é o mais batido;

12-Utilize e responda à mudança criativamente: A verdadeira visão não é enxergar as coisas como elas são hoje, mas como serão no futuro.

 

5 IPOEMA

 

O instituto IPOEMA possui atualmente três sedes: as chácaras Asa Branca e Santa Rita e o Sítio Sementes, todos localizados na região do entorno de Brasília, capital federal. Ele foi idealizado e fundado em 2005 pelo permacultor Cláudio Jacintho, tendo como objetivo a:

 

[...] missão de viver, aprender, ensinar e disseminar a Permacultura, prática que envolve diversas dimensões da ocupação humana, como planejamento de ambientes sustentáveis, bioconstruções, uso racional da água, energias renováveis, sistemas agroflorestais, produção alimentar ecológica e recuperação de áreas degradadas (IPOEMA, s.d.)[1].

 

O site do IPOEMA[2] apresenta um layout bem elaborado, com ampla disponibilidade de informações, nele constando a apresentação e a descrição de toda a equipe interdisciplinar participante das atividades desenvolvidas pelo centro, dados sobre a instituição, os cursos, formato deles, projetos de inclusão social, mídias (livros, sites, blogs, vídeos, fotos, etc.), orçamento e contato.

Percebe-se que as atividades de EA são uma das prioridades da instituição, que busca, por meio de editais, a parceria com órgãos de fomento para realizar seus projetos e oferecer cursos à comunidade, incluindo-se nesse grupo alunos e professores da rede pública de ensino. A instituição oferece em torno de onze cursos diferentes, voltados a crianças, adolescentes e adultos. Dentre eles destacamos: Design de Permacultura; Princípios Avançados de Permacultura; Agroflorestal; Bioconstrução, Bambu e Educação para a Sustentabilidade.

Os cursos relacionados à educação para a sustentabilidade têm as aulas realizadas na Chácara Asa Branca e são descritos como turismo ecopedagógico, com duração de 4h, com os seguintes temas: 1) Água é Vida; 2) Terra nossa Casa; 3) Vivências com o Cerrado; 4) Ecocaminhada: conhecendo a Permacultura e; 5) Livre Aprendizado. As atividades propostas são apresentadas em forma de portfólio e podem ser acessadas na página online da instituição.

Além dos cursos e do turismo ecopedagógico, a instituição oferece atividades de vivência, que consistem em oportunizar aos interessados morar temporariamente ou frequentar uma das estações e participar dos projetos desenvolvidos, das oficinas e palestras temáticas relacionadas à permacultura. No entanto, muitos desses cursos e atividades são pagos, sendo oferecidos na sede e estações do IPOEMA ou nas instituições contratantes.

As atividades desenvolvidas no IPOEMA estão em consonância com os princípios defendidos pela permacultura e apresentados na flor da permacultura, sendo que algumas delas englobam um maior número desses princípios, como o curso de Princípios Avançados de Permacultura, o qual, pela descrição, facilmente se enquadra nos princípios 3, 4, 5, 6, 7 e 8.

 

6 EcoCentro - IPEC 

 

Localizado na cidade goiana de Pirenópolis, o EcoCentro - IPEC foi fundado em 1998, tendo como objetivo estabelecer soluções apropriadas para problemas na sociedade, promover a viabilidade de uma cultura sustentável, oportunizar experiências educativas e disseminar modelos no cerrado e no Brasil (ECOCENTRO-IPEC, s.d.)[3]. Atualmente os responsáveis são: André Soares, permacultor, e Lucy Legan, pedagoga e escritora.

O site da instituição[4] apresenta um layout agradável contendo informações sobre a instituição, os cursos, agendamento de visitações, hospedagem, eventos, consultoria, fotos do centro e das atividades, além de contar com uma loja virtual destinada à venda de livros e de camisetas temáticas.

Uma das peculiaridades desse instituto é ser um centro de referência em bioconstruções, promovendo cursos que atraem pessoas de várias partes do mundo. Na sua página virtual, encontramos também informações sobre as tecnologias empregadas, como o aquecedor solar, o sistema de filtragem natural da água, as valas de infiltração ou swales (técnica destinada a reter no solo maior quantidade de água), tanques de coleta de água da chuva, etc. Em tais tecnologias se destacam os princípios 11 e 12 da permacultura, que destacam a criatividade na resolução de problemas.

Quanto aos cursos, sobressaem-se os voltados à formação de permacultores, chamado de Permacultura, Design e Consultoria (PDC), e o de Bioconstrução, que objetiva capacitar as pessoas para construírem casas de baixo custo e com menor impacto ambiental, chamando-nos a atenção pelo cuidado artístico também presente nas construções, como podemos observar na figura 2.

 

Descrição: C:\Users\User\Downloads\IMG_1257 (1).JPG

FIGURA 2 - Bioconstrução - EcoCentro – IPEC

Fonte: Castro (2013).

 

Percebemos que as estratégias traçadas nos trabalhos desenvolvidos na instituição visam contemplar as seguintes temáticas: habitação ecológica; saneamento responsável; energia renovável; segurança alimentar; cuidado com a água; processos de educação para a sustentabilidade de forma vivenciada. Essas atividades estão relacionadas aos doze princípios apresentados na flor da permacultura, destacando dentre eles o princípio 3, que corresponde à obtenção de rendimentos, quer seja pela economia obtida dos processos em si, quer seja pelo gerenciamento dos recursos financeiros obtidos por meio dos cursos dados.

O EcoCentro também oferece atividades de educação ambiental voltadas às escolas, as quais podem realizar excursões pedagógicas ao local; todavia os projetos e cursos desenvolvidos são serviços geralmente pagos e previamente agendados, sendo estruturados conforme o interesse da instituição de ensino e o tempo disponível. A instituição também desenvolve atividades voltadas ao público da terceira idade, descrita no site como “a melhor idade”, sendo apresentadas algumas opções como manuseio de barro, fabricação de papel reciclado, produção de labirinto de ervas. Tais atividades visam principalmente à integração dos indivíduos com o ambiente e estão relacionadas ao princípio 1, que é observar e interagir.

De acordo com esse princípio, as atividades desenvolvidas visam à integração ativa dos participantes e envolvem trilhas, podendo ainda conter algum tipo de curso prático e até alimentação (lanche e/ou almoço). É oferecida a proposta de quatro tipos de trilhas, cada uma com uma temática: Trilha 1-Abrigo:  voltado para bioconstrução e técnicas. Trilha 2- Alimentação: produção e processamento de alimentos e agricultura orgânica. Trilha 3- Água:  tratamento e consumo consciente da água. Trilha 4- Energias Renováveis: painel solar, panela solar.

Alguns dos cursos apresentados no site da instituição não contêm informações mais detalhadas sobre seus objetivos ou áreas de interesse, mas nos levam a inferir que estão relacionados principalmente aos princípios 5 e 6, que alertam para o uso de recursos renováveis e para a produção e não desperdício. São eles: Adobe, Superadobe, tintas naturais, Cob, reboco natural, compostagem, espiral de ervas, papel reciclado, BIOfertilizante, taipa leve, miniminhocário, solocimento e utilização de materiais reciclados na construção: mosaico, vidro, esculturas e garrafas.

Há ainda informação sobre a possibilidade de contratação de consultoria para a implementação de um programa chamado “Habitats – Sua Escola Sustentável”, cujo argumento central é que o contato com a natureza é capaz de propiciar uma aprendizagem mais efetiva, pois aproxima os alunos da prática e que o currículo das disciplinas básicas pode ser mais bem contemplado, considerando que o pátio escolar pode ser um laboratório vivo. Apesar de ter um discurso atrativo, não há maiores informações sobre o tipo de assistência prestada, os custos e detalhamento das atividades desenvolvidas.

 

7 Síntese das análises

 

Tanto o IPOEMA quanto o EcoCentro -IPEC utilizam, em seus cursos, uma proposta pedagógica calcada na participação ativa, na qual, além da parte teórica, se busca explorar o lúdico por meio de atividades que envolvem o trabalho prático em equipe e em contato direto com elementos da natureza. A imersão dos participantes no ambiente natural é um dos fatores explorados nas atividades educativas com base nos princípios éticos e de design permacultural. Além disso o lado lúdico das atividades apresenta-se em consonância com as proposições de um ambiente não-formal de ensino, como descrito por Vercelli (2001).

Segundo Legan, autora dos livros “A Escola Sustentável” e “Criando Habitats na Sua Escola Sustentável”, educadores preparados e entusiasmados podem determinar a motivação dos estudantes para o meio ambiente” (ECOCENTRO-IPEC, s.d.)[5], sendo ele a peça fundamental no fazer pedagógico. A autora argumenta ainda que um dos motivos para os alunos estarem virando as costas para o meio ambiente está relacionado “à pedagogia da transmissão do conhecimento e ao uso de literatura enlatada com conteúdo irrelevante e puramente chato e difícil, em comparação a outros assuntos que capturam a atenção dos pequenos” (Ibidem).

Para Lima, a escola que adota um processo de “ecologização” tanto teórica, quanto prática pode ser a principal colaboradora para a formação de indivíduos mais integrados (LIMA, 2012, p. 41), o que se coaduna com a proposição de escolas sustentáveis pelo EcoCentro-IPEC e com as atividades de imersão oferecidas pelo IPOEMA.

Percebemos que, em todas as atividades propostas pelo EcoCentro - IPEC e pelo IPOEMA, há a intencionalidade de tratá-las com enfoque em EA e de forma a promover atitudes sustentáveis. Contudo, precisaríamos participar delas para poder compreender como isso é realizado e quais conceitos são trabalhados em cada uma, uma vez que as informações disponibilizadas nos sites não nos permitem maiores esclarecimentos. Além disso, devemos considerar que a mera participação em atividades planejadas e desenvolvidas com o objetivo de conscientizar sobre a necessidade de se adotarem atitudes ecologicamente adequadas não é suficiente, pois “existem fatores culturais importantes que determinam a impossibilidade de existência de numa relação direta entre informação-mudança de atitudes; é fundamental considerá-los na prática de ensino e aprendizagem de valores” (BRASIL, 1998, p. 34).

As atividades desenvolvidas nas duas instituições declaradamente têm um enfoque de sustentabilidade com base nos doze princípios destacados na flor da permacultura, além de serem estruturadas de forma a atender públicos com faixas etárias diferenciadas e de acordo com a disponibilidade de horário e de interesse. Independente do princípio que mais se destaca em cada atividade, é preciso considerar que:

 

[...] cada princípio pode ser visto como uma porta de entrada ao labirinto do pensamento sistêmico. Qualquer exemplo utilizado para ilustrar um princípio também incorporará outros, de modo que os princípios são apenas simples ferramentas para o pensamento para nos ajudar na identificação, design e evolução de soluções de design (IPOEMA, s.d.)[6].

 

CONCLUSÃO

 

A permacultura, inicialmente desenvolvida para ser uma técnica agrícola voltada ao manejo sustentável do solo e dos recursos naturais nele envolvidos, no decorrer de sua evolução foi incorporando ações voltadas a despertar no homem a percepção de sua estreita relação com o ambiente e com isso desencadear atitudes de uso sustentável dos recursos ambientais.

Nesse propósito os institutos IPOEMA e EcoCentro-IPEC, com base nos princípios éticos e de design de permacultura, têm oferecido atividades de EA a toda comunidade, tendo muitas vezes como público alvo professores e alunos. A abordagem pedagógica dos cursos e das atividades desenvolvidas, ao primar pela participação ativa dos envolvidos, por meio do contato com elementos naturais, da interação entre os envolvidos, da harmonia interior e com os outros, e do conhecimento teórico e prático relacionado à EA e à sustentabilidade, apresenta-se como facilitadora do processo de ensino e de aprendizagem.

Percebemos com isso que os Institutos de Permacultura são espaços não formais de ensino que devem ser explorados a fim de possibilitar aos docentes, em específico os de Ciências, recursos significativos para a abordagem de temas relacionados à EA, como a biodiversidade e a sustentabilidade, desencadeando iniciativas de uso mais sustentável dos recursos naturais.

A análise de propostas de cursos e atividades divulgadas em meios eletrônicos possibilita um importante recurso para os indivíduos interessados em realizá-las. Contudo, alertamos que, para participar de atividades educativas que envolvam o deslocamento de grupos de alunos e mesmo de docentes, faz-se necessário buscar maiores informações junto aos proponentes a fim de se realizar um planejamento adequado.

 

Referências

 

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos: apresentação dos temas transversais. Brasília, DF, 1998. 436p.

CAMARGO, R. Z. Responsabilidade social das empresas: formações discursivas em confronto. 2009. 229f. Tese (Doutorado em Ciências da Comunicação) - Departamento de Propaganda, Relações Públicas e Turismo Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo. 2009.

 

CARVALHO, L. M. A temática ambiental e a escola de 1º grau. 1989, 224 f. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo. 1989.

 

CASTRO, N.A.S. Instituto Federal de Goiás. Visita técnica ao EcoCentro –IPEC. 2013.1 Álbum.

 

CMMAD – Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Nosso futuro comum. Relatório Brundtland. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1988.

 

ECOCENTRO-IPEC. instituto de permacultura e ecovilas do cerrado. Página on-line, [data desconhecida]. Pirenópolis – GO. Disponível em:< http://www.ecocentro.org/>. Acesso em: 24 mai. 2014.

 

FREY, M. R.; CAMARGO, M. E. Análise dos indutores da evolução da consciência ambiental. Qualit@as (UEPB), Paraíba - PB, v. 2, p. 1-15, 2003.

 

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

 

GOHN, M. G. Educação não-formal e cultura política: impactos sobre o associativismo do terceiro setor. São Paulo: Cortez, 1999.

 

HOLMGREN, D. Os Fundamentos da Permacultura. Versão resumida em português. Santo Antônio do Pinhal, SP: Ecossistemas, 2007. Disponível em:

<http://www.fca.unesp.br/Home/Extensao/GrupoTimbo/permaculturaFundamentos.pdf > Acesso em: 10 abr. 2008.

 

IPOEMA. Instituto de permacultura: organização, ecovilas e meio ambiente. Página on-line,  [data desconhecida]. Disponível em: < http://www.ipoema.org.br/>. Acesso em: 24 mai. 2014.

 

LIMA, C.S. Vivências permaculturais na escola: explorando as relações afetivas – ecológica e socialmente – na educação formal. 2012. 154 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Pós-Graduação em Educação – Linha de Pesquisa: Cognição, Aprendizagem e Desenvolvimento Humano, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2012.

 

MOLLISON, B.; SLAY, R. M. Introdução à permacultura.   Tradução por André Luis Jaeger Soares. Brasília: MA/SDR/PNFC, 1998. 204 p.

 

REDE PERMEAR. Permacultura no Brasil. Página on line. 2012. Disponível em: <http://www.permacultura.org.br/>. Acesso em: 22 jul. 2014.

 

SALGADO, S. P. F. S. M. Permacultura no ensino de Biologia e educação ambiental. Monografia (Graduação) – Consórcio Setentrional de Educação a Distância, Universidade de Brasília – UnB/ Universidade Estadual de Goiás – UEG, Brasília, 2011. Disponível em: <http://bdm.bce.unb.br/bitstream/10483/2013/1/2011_PedroFarinhaSoutoMaiorSalgado.pdf>. Acesso em: 07 jun. 2014.

 

SOARES, A. L. J. Conceitos básicos sobre permacultura. Brasília: MA/SDR/PNFC, 1998. 53 p.

 

VERCELLI, L. C. A. Estação Ciência: espaço educativo institucional não formal de aprendizagem. Anais do IV encontro de pesquisa discente do programa de pós-graduação da UNINOVE. 15 a 17 de set. 2011. Disponível em: < http://www.uninove.br/PDFs/Mestrados/Educa%C3%A7%C3%A3o/Encontro/24.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2014.

 

VIZEU, F.; MENEGHETTI, F. K.; SELFERT, R. E. Por uma crítica ao desenvolvimento sustentável. Cad. EBAPE.BR, v. 10, nº 3, artigo 6, Rio de Janeiro, Set. 2012. Disponível em: < http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/cadernosebape/article/viewFile/5480/4202>. Acesso em: 12 mai. 2014.

 

 

 

 

 



[1],2 Link do site do IPOEMA. Disponível em: < http://www.ipoema.org.br/ipoema/instituto/>. Acesso em:19 abr. 2014.

 

[3],4 Link do site do EcoCentro-IPEC. Disponível em:< http://www.ecocentro.org/>. Acesso em:19 abr. 2014.

 

 

 

[5] Disponível em: <http://www.ecocentro.org/blog/post-no-blog-04/>. Acesso em: 22 abr. 2014.

[6] Disponível em:<http://www.ipoema.org.br/ipoema/portfolios/pcavanc/>. Acesso em: 20 abr.2014.

Ilustrações: Silvana Santos