Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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15/12/2015 (Nº 54) CIENTISTAS FORAM PAGOS PARA ESCREVER PESQUISAS DUVIDANDO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
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CIENTISTAS FORAM PAGOS PARA ESCREVER PESQUISAS DUVIDANDO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

 

Investigação do Greenpeace do Reino Unido mostrou que empresas de combustíveis fósseis financiaram secretamente estudos em grandes universidades.

 

Descrição: http://www.greenpeace.org/brasil/ReSizes/Medium/Global/brasil/image/2015/Dezembro/GP0STPHH1_PressMedia.jpg.png

Usina de carvão, na Grécia. Uma das fontes de energias que contribuem para as emissões de gases do efeito estufa. (© Anna Tagkalou / Greenpeace)

 

Uma investigação, realizada em segredo pelo Greenpeace do Reino Unido, descobriu que empresas do setor de combustíveis fósseis fazem pagamentos ocultos para que cientistas escrevam pesquisas questionando as mudanças climáticas e promovendo os interesses comerciais dessas empresas.

Repórteres do Greenpeace do Reino Unido se passaram por representantes de companhias de petróleo e carvão que estariam interessados em encomendar pesquisas “independentes”. Eles entraram em contato com os acadêmicos das universidades de Princeton e Penn State e pediram documentos defendendo os benefícios do gás carbônico, e o uso de carvão em países em desenvolvimento. Os professores universitários concordaram com a proposta e afirmaram que não seria necessário revelar a fonte do financiamento.

Citando documentos patrocinados pela indústria, como depoimentos em audiências públicas e artigos para jornais, o professor Frank Clemente, da universidade Penn State, declarou: “Em nenhum desses casos o financiador é identificado. Todos os meus trabalhos são publicados na condição de acadêmico independente”.

Já o professor William Happer, um dos principais representantes dos céticos às mudanças climáticas, concordou em desenvolver um relatório para uma empresa petrolífera do Oriente Médio, e disse que a companhia poderia manter o financiamento em segredo. 

Em e-mails enviados ao repórteres, Happer revelou ter recebido milhares de dólares da empresa Peabody Energy para prestar testemunho em audiências públicas estaduais e federais sobre o clima. E disse que os recursos foram transferidos a um grupo de cientistas céticos.

A reportagem completa e todos os documentos foram publicados no site Energy Desk. Lá, está relatado como o professor Frank Clemente, de Penn State, recebeu o pedido para escrever um relatório que “respondesse às perigosas pesquisas que ligam o carvão a mortes prematuras”. E para levar em conta os dados da Organização Mundial da Saúde que atribuem à poluição causada por combustíveis fósseis cerca de 3,7 milhões de mortes por ano. Clemente afirmou que o documento entre 8 e 10 páginas custaria cerca de 15 mil dólares.

Ele contou ao repórter que recebeu 50 mil dólares da Peabody Energy para escrever um relatório sobre o “valor global do carvão”. A origem dos recursos foi citada em letras minúsculas no texto, mas o valor não foi declarado.

A disposição desses estudiosos em esconder suas fontes de financiamento destoa de códigos de ética de periódicos influentes, como a revista Science. Na lista de requisitos para enviar estudos, a Scienceafirma que as pesquisas devem “vir acompanhadas de informações claras sobre todos os autores e suas afiliações, fontes de financiamento ou relações financeiras que possam por em dúvida a imparcialidade do texto”.

Diante da solicitação para que nenhum elo fosse estabelecido entre a encomenda do relatório e a empresa de petróleo e gás do Oriente Médio que financiaria o texto, o professor Happer entrou em contato com Bill O’Keefe, ex-lobista da Exxon e seu colega no conselho da CO2 Coalition. Happer sugeriu que o pagamento fosse feito por intermédio do Donors Trust, uma polêmica organização do movimento conservador que já foi chamada de “caixa eletrônico de dinheiro negro”.

Os investigadores perguntaram a Peter Lipsett, do Donors Trust, se o fundo aceitaria dinheiro de uma empresa de petróleo e gás sediada no Oriente Médio. Segundo Lipsett, embora a organização prefira recursos oriundos de contas bancárias americanas, seria possível “aceitar que venham de um órgão estrangeiro, desde que a gente tome ainda mais cuidado com isso”.

O professor Happer também recebeu dos supostos repórteres um pedido para submeter o relatório financiado pela empresa ao processo de “revisão detalhada por pares” pelo qual passaram relatórios anteriores da fundação. Happer, que integra o Conselho Consultivo Acadêmico da GWPF, explicou: nesse sistema, integrantes do Conselho e outros cientistas escolhidos revisam o trabalho, mas o texto não é submetido a um periódico acadêmico.

O processo de “revisão por pares" da GWPF foi usado recentemente num relatório da fundação sobre os benefícios do dióxido de carbono. De acordo com o autor do trabalho, o incentivo inicial para escrever o texto partiu do jornalista Matt Ridley, que também é consultor acadêmico da GWPF e um dos revisores. Ridley divulgou o documento em sua coluna no jornal britânico The Times.

John Sauven, diretor executivo do Greenpeace no Reino Unido, comenta a investigação: “Esse trabalho revela uma rede de especialistas 'de aluguel' e um canal de bastidores que permite a empresas do setor de combustíveis fósseis influenciar o debate sobre as mudanças climáticas – de forma oculta e sem deixar impressões digitais. Agora, estamos diante de uma pergunta simples: ao longo dos anos, quantos relatórios científicos questionando as mudanças climáticas foram financiados por empresas de petróleo, carvão e gás? Esta investigação mostra como isso é feito, mas agora temos de saber quando e onde foi feito. Chegou a hora dos céticos abrirem o jogo”.

Ele acrescenta que a GWPF precisa responder a algumas perguntas. “Já houve financiamento secreto pela indústria de combustíveis fósseis para relatórios produzidos por membros importantes da fundação? Eles estão de acordo com a sugestão do professor Happer de submeter o relatório ‘financiado pelo petróleo’ a um ‘processo de revisão’ semelhante ao sistema de ‘revisão por pares’ adotado pela própria GWPF? Ela admite que o chamado processo de ‘revisão por pares’ da fundação é falho, considerando as revelações do professor Happer sobre o funcionamento desse sistema?”. 

 

Fonte: http://www.greenpeace.org/brasil/pt/Noticias/Cientistas-foram-pagos-para-escrever-pesquisas-duvidando-das-mudancas-climaticas/

 

Ilustrações: Silvana Santos