CONTINUAR A NAVEGAR É PRECISO - INSTITUTO MARTIM PESCADOR

São Leopoldo/Rio Grande do Sul

Por Júlio Agápio

Apresentação de Berenice G. Adams

Os tempos andam muito complicados, e prognósticos apontam para um cenário nada favorável. E como tudo está conectado, muitos projetos que se realizam para a melhoria da qualidade de vida, como um todo, incluindo todas as instâncias (social, política, ambiental, educacional, empresarial, organizacional), principalmente os programas realizados por Organizações não Governamentais (ONG’s), sofrem as consequências, e adentram em crises bem difíceis de serem superadas. E este é o caso do Instituto Martim Pescador, que tem como “âncora” o seu barco escola, e que agora, graças à mobilização de muitas pessoas e instituições, “renasce” para poder continuar a desenvolver seus programas de cunho socioambiental de conscientização e sensibilização, não somente pelo Rio dos Sinos, mas todos os rios existentes.

Créditos da imagem: Alan MacFadyen

“Após seis anos e 720 mil tentativas, o fotógrafo consegue a 'foto perfeita' da ave” (Trata-se de uma ave chamada alcião, também conhecida como martim pescador e outros nomes).

Para o Instituto, o barco é a “sala de aula”, e o mestre maior é o próprio rio, que nos ensina através dos nossos sentidos, o que faz despertar sentimentos de cuidado, preservação, contemplação, respeito e outras, muitas outras sensações que colaboram para resinificarmos nossas vidas, percebendo o rio não apenas como um recurso a ser utilizado (visão utilitarista de meio ambiente, que deve ser modificada com urgência), mas como um ser vivo, um ser desperto, uma entidade natural sem a qual não haveria a vida. Então, navegar é preciso, para conhecer; conhecer é preciso, para mudar; mudar é preciso, para preservar; e, preservar é preciso, para viver!

Foi por muito pouco que o Instituto não fechou as suas portas. Foi por muito pouco que o Martim Pescador não encerrou as atividades, graças ao empenho de uma das sócias fundadoras Marcia Zimmer Scherer, que aos primeiros sinais de socorro da entidade, arregaçou as mangas e começou a chamar pessoas e instituições que fizeram parte de ações realizadas desde dezembro de 2002, para que o Instituto pudesse prosseguir.

Agora, a luta se fortalece e muitas mãos se unem para a continuidade desta instituição tão importante, neste momento crítico em que, se não mudarmos as nossas atitudes, comprometeremos ainda mais o futuro da vida na Terra.

Recentemente foi empossada a nova diretoria, da qual faço parte, com muito orgulho, e os trabalhos já começam de forma muito intensa, principalmente por parte do Presidente Júlio Agápio que, a seguir, tece palavras de otimismo e garra sobre o objetivo de revitalizar as ações do Instituto.

Com a palavra, o presidente Júlio Agápio:

Desde sua criação, em dezembro de 2002, o Instituto Martim Pescador vem desenvolvendo uma importante missão junto à população da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos: estreitar a relação homem X rio. Centenas de milhares de pessoas já navegaram neste barco que apresenta a cada um a realidade do principal recurso hídrico do Vale. Parece algo simplório, corriqueiro ou mesmo banal. Mas, não é.

Um século após a ocupação de suas margens, pelos primeiros imigrantes alemães que chegaram à região, o Sinos se tornou um dos mais poluídos rios do País. Um triste legado de falta de planejamento e descumprimento de leis que dão hoje ao nosso rio este título nada nobre. E a única forma de tentarmos mudar este cenário é com a primordial mudança de hábito e atitude com aquele que nos sacia a sede diariamente.

A palavra chave é educação. Seja ela ambiental, social, cidadã. Se desejamos uma verdadeira mudança, precisamos começar pela sensibilização profunda e real da situação que queremos enfrentar. Como pretender que as pessoas, em suas casas, suas cidades, preservem um rio que sequer conhecem? Talvez alguns vejam este rio quando passam com seus carros ou de ônibus sobre as pontes. Talvez alguns morem às suas margens. Talvez uns poucos e privilegiados ainda pesquem neste rio. Mas, a maioria, a imensa maioria sequer sabe que a água limpa e potável que jorra de suas torneiras vem, justamente, deste castigado e quase já saturado Rio dos Sinos. Onde ele fica? Por quais cidades ele passa? Tem matas ainda nas suas margens? Ele é limpo? Tem lixo boiando? Entra esgoto? E animais? Tem? Eu bebo desta água? São várias e várias perguntas, por vezes inquietantes, que justamente o Instituto busca responder e mostrar às pessoas de forma que elas próprias obtenham suas respostas e tirem suas conclusões.

A nova caminhada que se inicia do Instituo Martim Pescador vai continuar focada neste singelo e crucial objetivo. Com uma nova equipe multidisciplinar, formada por pessoas que representam vários segmentos da sociedade, dispostas a contribuir para a mudança e fazer parte dela. Vamos lutar com todas as forças necessárias para que o barco continue navegando e mostrando às pessoas o guerreiro Rio dos Sinos. Um rio que já enfrentou mortandade de peixes de proporções terríveis, desmatamentos irregulares, dragagens clandestinas e que ainda continua vivo, correndo, matando a sede de mais de um milhão e meio de pessoas, dia após dia. Se cada um fizer sua parte, em casa, na escola, no bairro, num trabalho conjunto, como formiguinhas, o resultado que teremos, logo ali adiante, será espetacular. Que tal um banho no Sinos, uma pescaria descontraída, uma passeio na barranca do rio, uma navegação de contemplação?

Alie-se a esta corrente de vida. Sejas também parceiro do Martim Pescador e do nosso rio. O rio de nossas vidas.

Júlio Agápio – Presidente do Instituto Martim Pescador

Para mais informações de como participar ou colaborar, escreva para:

institutomartimpescador@gmail.com