Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Entrevistas
10/09/2018 (Nº 52) ENTREVISTA COM MÁRCIA ZIMMER SCHERER PARA A 52ª EDIÇÃO DA REVISTA VIRTUAL EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM AÇÃO
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ENTREVISTA COM MÁRCIA ZIMMER SCHERER PARA A 52ª EDIÇÃO DA REVISTA VIRTUAL EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM AÇÃO

Por Bere Adams

A Entrevistada desta edição é a pedagoga especialista em Gestão Regional de Recursos Hídricos /UFRG Márcia Zimmer Scherer, que é uma das sócias fundadoras (e por muito tempo esteve a frente das atividades) do Instituto Martim Pescador, cuja sede se localiza em São Leopoldo, RS, e mantém uma embarcação que possibilita à população um contato direto com o Rio dos Sinos. Em algumas ocasiões, participei de eventos e acompanhei de perto o empenho desta profissional por fazer uma Educação Ambiental de qualidade, não somente à bordo da embarcação do Martim Pescador, mas também nas ações promovidas pela instituição, como o caso das duas edições do Encontro Metropolitano de Educação Ambiental Martim Pescador, (Cujos anais estão disponíveis em http://www.apoema.com.br/EncontroMP2009.htm ). Atualmente, ela está mais do que empenhada para a retomada das atividades do Instituto que se encontra com dificuldades, sem uma equipe diretiva definida e atuante, razão pela qual esteve com suas atividades interrompidas até pouco tempo atrás. Vamos conhecer melhor esta história e a sua principal protagonista para a retomada das ações do Instituto Martim Pescador.

Bere - Márcia, é um prazer muito grande tê-la como nossa entrevistada. Vou começar com uma pergunta que sempre faço aos meus entrevistados. Quando você começou a se interessar pelas questões ambientais? Aconteceu algo específico que te sensibilizou para este campo?

Márcia – Meu interesse iniciou na adolescência, quando numa atividade externa com professores, fomos visitar uma exposição fotográfica sobre o Rio dos Sinos. Essa Exposição foi registro de uma expedição pelo Rio dos Sinos, da Universidade do Vale dos Sinos -Unisinos, Secretaria de Meio Ambiente de São Leopoldo e outras instituições que não me recordo no momento. Assim despertei sobre o espaço em que vivia. E muito mais tarde trabalhei e participei de projetos com as pessoas que estavam envolvidas nesta expedição.

Bere – E como foi o processo de nascimento do Instituto Martim Pescador?

Márcia – Bem, o envolvimento com o “ Meio”, passou a fazer parte da minha vida, na minha formação Magistério, depois em Pedagogia. Concursada para atuar na rede Municipal, minha trajetória na educação passa a ter um cuidado ainda maior por aquilo que ensino também pelo exemplo.

A frente do departamento de Educação Ambiental, junto a Secretaria de Meio Ambiente em São Leopoldo, resgatei de certa forma, minha experiência anterior, de quando aluna. Sair da escola, e vivenciar experiências de contato com o meio onde vivo, passou ser meu foco dos projetos e atividades.

Estando próxima ao Rio, não tinha como não provocar ações que viessem a trazer os sujeitos  a conhecer para perceber esse espaço. Foi quando então, para atender um grupo de 30 alunos, organizamos três atividades, em forma de circuito. Navegação pelo rio: navegávamos com embarcações de alumínio, capacidade de seis passageiros, num percurso de meia hora, onde o diálogo acontecia entre cheiros, olhares e informações sobre esse ecossistema do Rio; exposição fotográfica(aquela que me sensibilizou na adolescência) que percorria com imagens, desde a nascente até a foz, de forma dirigida, monitores buscavam focalizar aspectos de todo o ecossistema, bem como as intervenções humana; e a trilha da margem, que percorríamos o entorno do rio, na parte central de São Leopoldo, procurando compreender como se deu o processo de desenvolvimento da cidade e suas consequências para esse espaço.

Assim, nasceu a proposta pedagógica do Instituto Martim Pescador, e consequentemente o próprio, pois não queríamos que esse processo finalizasse após quatro anos de governo, como sempre acontece. Fundar uma instituição que atendesse essa proposta de forma independente era nosso objetivo. Após veio o sonho de construir uma embarcação que atendesse mais pessoas numa hora de atividade, assim  como consequência o aprimoramento do projeto. Esse projeto em um ano atendeu 3500 alunos das redes escolares de toda região. A procura era grande, e os resultados então,  foram a justificativa da Proposta de fundação do Instituto e construção da embarcação Martim Pescador.

Bere – Quais foram as maiores dificuldades deste início?

Márcia – Acredito que a maior dificuldade foi desvincular a Instituição do poder público. Criar uma autonomia de gestão.

Bere – Como o Instituto contribui para a efetivação da Educação Ambiental?

Márcia – Pra mim não existe educação ambiental se não interagirmos com ele. Perceber e sentir esse ecossistema do Rio é extremamente necessário para desacomodar e conflitar as pessoas para reelaborar seus conceitos sobre a vida.

Bere – O que acontece – de forma resumida – em uma navegação? Há um roteiro a ser seguido?

Márcia –  Acho que coloquei na questão anterior, mas cada grupo é um grupo, depende da idade e do propósito daqueles que vem até a navegação. Mas procuramos situar a Bacia hidrográfica, contextualizar sobre esse recurso Hídrico e as cidades que se desenvolveram a partir dele, enfatizamos a vida que ainda pulsa, mas também os impactos que fazem dele o quarto rio mais poluído do Brasil. E isso acontece de forma dialogada, lúdica e com o prazer de se deslizar sobre as águas de um Rio. Eu, particularmente entendo, que o processo de construção de uma nova aprendizagem precisam passar por esses aspectos.

Bere – E como as pessoas reagem e participam durante a embarcação?

Márcia – Como a atividade de certa forma é um passeio, de forma muito gostosa, o diálogo acontece. No final, é muito comum, as pessoas saírem com novas ideias, com o sentimento de pertencimento da  situação. O registro fotográfico acho bastante importante, pois fica eternizado aquele momento. Tenho certeza que existe o “ ser” antes e o “ser” depois, da navegação. Tivemos uma situação esses dias de um casal que retornou a atividade após oito anos, trazendo o primeiro filho.

Bere – Tens ideia de quantas pessoas já foram alcançadas com Educação Ambiental, ao longo destes anos do Instituto?

Márcia – Olha, até 2009, os registros mostravam, 110 mil pessoas. Hoje, retornando ao Instituto, estamos buscando esses dados, mas acreditamos que já passam de 250 mil.

Bere – Qual é a situação do Instituto hoje?

Márcia – As instituições registradas como Organizações não Governamentais sofrem bastante, pois precisam de pessoas comprometidas a frente de seus objetivos. O Instituto esta passando por uma reorganização, com nova diretoria que deverá assumir nos próximos dias. Esteve, por um bom tempo sem um grupo técnico com autonomia para gerir projetos. Queremos resgatar um período que tínhamos muito qualidade, com grupo qualificado. Estamos em processo. A busca e o engajamento de parceiros acontecem quando essa qualidade é garantida. Vamos trabalhar pra isso.

Bere – Quais são as necessidades principais e como as pessoas podem ajudar?

Márcia – O Instituto passou por uma enchente, em 2014, que levou bens e estrutura de trabalho. Uma gestão individual, que levou ao afastamento de muitas pessoas que acreditavam e poderiam colaborar. Resgatamos neste primeiro momento, colaboradores voluntários, que estão atendendo na embarcação como monitores e outros na busca de projetos de parcerias. O Instituto tem três funcionários(tripulação) para atuarem na embarcação. Esse custo hoje é o grande problema, pois projetos estão parados por falta de equipe técnica para elaboração e busca de recursos.

Bere – Há espaço para estagiários e voluntários? Se sim, como é este processo?

Márcia – Estamos buscando voluntários comprometidos, para isso, importante mandar e-mail, contendo currículo, salientando qual sua forma de colaborar, disponibilidade de horário..

Bere – Qual é, para você, a importância do Instituto Martim Pescador para a população do Vale do Rio dos Sinos e para a Educação Ambiental?

Márcia –  Tanto o Instituto como outras instituições, temos a necessidade de atuar no coletivo, resultados são urgentes, precisamos construir novos valores, novas formas de nos relacionarmos, entre nós e o ambiente. O primeiro passo que estamos dando, é neste sentido, nos unindo a outras instituições com o mesmo propósito. Hoje vivemos um momento histórico de mudança na educação, com o Plano Nacional de Educação, estadual e municipal. A Educação que não for ambiental, não é educação. Temos a conclusão do Plano de Saneamento da Bacia Sinos, concluído. Os municípios concluíram o plano de resíduos. Tudo converge para um futuro que promete, e o Instituto colabora na sensibilização da comunidade para as ações necessárias para essa transformação. Precisamos trabalhar juntos.

Bere – Quais são as principais dificuldades do Instituto hoje e quais as estatégias para contorná-las?

Márcia – A falta de recursos e equipe de trabalho, hoje, são as maiores dificuldades. A diferença de outras instituições do instituto, está num bem, a embarcação, que necessita de vários cuidados, e cumprimento de  muitas exigências da marinha, e isso são custos fixos.

Bere – Recentemente foi retomada a navegação, qual foi a sensação?

Márcia – Estar novamente, após cinco  anos afastada, junto a um projeto que ajudei a criar, me traz muita satisfação, mas também, muita responsabilidade.

Bere – Deixa um recado para os-as leitores/as da EA em Ação, pode ser uma palavra, uma frase, algo que seja significativo para você e para eles/as...

Márcia – Venha fazer parte desta história, o rio a cada dia luta para continuar vivo!

Bere – Querida, tu és um verdadeiro exemplo de cidadania planetária, que inspira, que renova, que nos dá esperanças, parabéns pelo seu trabalho e pelas suas iniciativas. E como agradecimento especial, colo a seguir um texto que foi publicado na minha coluna do JNH quando você estava viajando. Gratidão profunda e sucesso!!!

Meio ambiente e o Rio dos Sinos

Bere Adams

Para quem se preocupa com a preservação ambiental e busca uma vida mais sustentável, o mês de junho é uma vitrine de ações que podem ser replicadas, graças ao Dia Mundial do Meio Ambiente e da Ecologia, comemorado no dia 5. Muitas instituições vão além e comemoram não só o dia, mas a Semana do Meio Ambiente, aproveitando um período mais prolongado do mês para incentivar um olhar mais intenso para uma vida mais equilibrada. São realizadas inúmeras atividades, desde ações em instituições, até eventos culturais populares, com o objetivo de provocar uma mudança de postura para minimizar impactos no ambiente. Basta ficar atento para participar e colaborar. O mais importante destas comemorações é que, através delas, muitas pessoas despertam o interesse pelo cuidado da vida e fortalecem o ativismo ambiental, passando a atuar de forma consciente e crítica. Apesar de poucos avanços e muitos retrocessos relacionados às questões ambientais, é preciso reconhecer que cada pequena ação é bem-vinda e faz a diferença. Trago o exemplo da retomada animadora das navegações promovidas pelo Instituto Martim Pescador, uma atividade que coloca a população em contato direto com a vida do Rio dos Sinos. Em pleno Dia da Terra, ocorrido em 22 de abril, algumas pessoas se reuniram para definir o futuro da instituição,  que buscam driblar esse momento delicado pelo qual passa o Instituto. O empenho de sócios fundadores na reconstituição deste importante Instituto já começa a receber, não somente pessoas interessadas em navegar pelo rio, mas também voluntários e parceiros que arregaçam as mangas para a continuidade desta proposta. Marcia Scherer, idealizadora e sócia fundadora do Instituto, destaca que a navegação “é uma vivência que, mais do que passar informações sobre o rio em relação à sua biodiversidade, sensibiliza e compartilha a ideia do cuidado com a água, um dos principais agentes biológicos que proporciona vida”. Portanto, além do seu valor histórico e ambiental, o Instituto é um potente recurso de sensibilização e conscientização ambiental: “conhecer para preservar!”. Eis uma excelente oportunidade para colaborar. Escreva para  o e-mail do Instituto: institutomartimpescador@gmail.com a faça parte desta bela história. O Meio ambiente e o Rio dos Sinos agradecem!

Ilustrações: Silvana Santos