Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 52) CIDADANIA E EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM FOCO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA EM UMA ESCOLA DA REDE PARTICULAR
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CIDADANIA E EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM FOCO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA EM UMA ESCOLA DA REDE PARTICULAR

Sabrina Gonçalves Raimundo

sa.goncalves@usp.br

 

 

RESUMO

 

Práticas que busquem a sustentabilidade e que discutam questões socioambientais em diversas escalas têm ganhado cada vez mais importância. Por essa razão, o presente trabalho visa relatar a experiência pedagógica com o projeto autoral: “Debatendo as questões ambientais no mundo”. Esta (experiência) foi realizada em 2010 com uma turma de 20 alunos de 8º ano, tendo como base o desenvolvimento de debates. Os grupos representavam diferentes países, seus problemas socioambientais e alternativas criadas para os mesmo. Ao final, o evento culminou em um grande debate público, no qual pais e convidados estavam presentes e podiam interagir por meio de questionamentos em momentos apropriados. Após depoimentos cedidos pelos estudantes, depreendeu-se que o projeto foi uma atividade que favoreceu a  aprendizagem significativa. O projeto foi particularmente relevante para: o  trabalho de conteúdos relacionados aos conflitos existentes entre as demandas sociais e problemas ambientais; trabalho em equipe e suas dificuldades; e, para o aprimoramento de habilidades específicas, necessárias para a realização de atividades públicas e de grande porte. Assim, o projeto parece ter tido impactos positivos na formação dos estudantes como cidadãos críticos, no tocante à temática socioambiental.

 

ABSTRACT

 

Practices that seek sustainability and that discuss environmental issues at various scales have gained increasingly importance. For this reason, this paper describes a teaching experience with an authorial project: "Debating environmental issues in the world." This was done in 2010 with a class of 20 students at the third year of Brazilian Junior High School, it was based on the development of debates. The groups were representing different countries, its social and environmental issues and alternatives. Finally, we end up in a large public debate, in which parents and guests were present and could participate through questions at appropriate times. After testimony assigned by the students it appears that the project was an activity that favored meaningful learning. The project was particularly relevant in the development of contents related to conflicts between social demands and environmental problems; related to the difficulties of working in teams, and to the improvement of specific skills required for carrying out public activities. Thus, the project appears to have had positive impacts in the formation of students as critical citizens regarding the socio-environmental theme.

 

Palavras-chave: educação – ambiente – cidadania – projeto – debate

 

 

INTRODUÇÃO

 

Vivemos, atualmente, em plena crise social, ambiental e de valores. Enfrentamos limites ambientais críticos em busca do melhoramento no bem-estar humano (O’RIORAN,T 2013). Os diversos problemas socioambientais não se restringem aos conflitos locais, mas também estão em escala regional e planetária. Diversas são as ações antrópicas que têm causado impactos que refletem nessas diversas proporções. Por exemplo, mudanças no clima, alterações na estabilidade da biosfera, a desigualdade social, entre tantos outros problemas são de preocupação global (STEFFEN et al; 2015; ROSCKSTROM et al; 2015). Neste sentido, o processo educacional tem ganhado cada vez mais relevância, visto que esta atua na formação e transformação singular de cada sujeito.

Segundo Jacobi (2003), a reflexão sobre as práticas sociais, em um contexto marcado pela degradação permanente do meio ambiente e do seu ecossistema, envolve articulação com a produção de sentidos sobre a educação ambiental. Para tal,

 

a produção de conhecimento deve necessariamente contemplar as inter-relações do meio natural com o social, incluindo a análise dos determinantes do processo, o papel dos diversos atores envolvidos e as formas de organização social que aumentam o poder das ações alternativas de um novo desenvolvimento, numa perspectiva que priorize novo perfil de desenvolvimento, com ênfase na sustentabilidade socioambiental. (JACOBI, 2003, p. 190)

 

Embora seja importante, muitas práticas em educação ambiental ainda são bastante simplistas. Fortemente conservacionistas ou recursistas, elas abordam as questões ambientais puramente como questões ecológicas ou biológicas. De modo que causas dos impactos ambientais se dão, entre outros fatores, na explosão demográfica, na agricultura intensiva e na crescente urbanização e industrialização, como se tais fenômenos estivessem dissociados da visão de mundo instrumental da sociedade na qual foram originados. (LAYRARGUES, 2000)

É por essa razão que Layrargues (2000) pontua que novas visões de educação ambiental devem  romper frontalmente com essa percepção ainda enraizada em muitos educadores.  É necessário que os estudantes compreendam melhor os sistemas e suas complexidades, já que não basta conhecer a estrutura e funcionamento dos sistemas ecológicos ameaçados pelo ser humano para que as pessoas tenham posição crítica sobre eles (LAYRARGUES, 2000).

Portanto, práticas que busquem a sustentabilidade e que discutam questões socioambientais são bastante importantes, uma vez que vivemos em um planeta com problemas e limites complexos.  Com base nesses pressupostos, em 2010 desenvolvi, com um grupo de alunos do 8º ano, um projeto de educação ambiental que pudesse dar a eles embasamento ético e conceitual para lidar com questões voltadas para meio ambiente e cidadania.

Assim, o presente trabalho visa relatar a experiência pedagógica que tive durante o desenvolvimento do projeto autoral “Debatendo as questões ambientais no mundo”. Por esta razão, deixo ao leitor o reconhecimento do caráter pessoal deste relato. À vista disso, este artigo tem a seguinte estrutura: Metodologia: Descrição do projeto realizado; Resultados e Discussão: O Relato de Experiência; Comentários Finais e Reflexão da Prática.

 

METODOLOGIA : DESCRIÇÃO DO PROJETO

 

Durante as aulas de ciências no Colégio João Friaza no município de Embu-Guaçu, sugeri um projeto para debater temas atuais envolvendo conflitos socioambientais. Embora tenha caráter bastante interdisciplinar como sugerido pela UNESCO (UNESCO, 2004), a dinâmica escolar inviabilizou a participação de outros educadores. De modo que se realizou dentro de uma única disciplina curricular (ciências), sendo formalizado como projeto paralelo ao currículo básico. O projeto foi intitulado “Debatendo as questões ambientais no mundo”.

Aqui, procuro descrever brevemente o projeto. Embora, dando maior peso posterior aos relatos dos estudantes sobre o desenvolvimento desta proposta. Desta forma, nesta seção será descrito o detalhamento prático a fim de facilitar sua replicação e crítica. Para tanto, temos a seguinte sequencia descritiva: objetivos, estrutura e organização geral do mesmo.

 

Objetivos do Projeto

 

Nesta atividade esperava-se que os estudantes pudessem desenvolver uma série de objetivos pedagógicos. Destaco aqui em três blocos de conhecimentos: conceituais e éticos, atitudinais e procedimentais (Tabela 1).

Conceituais e Éticos

Atitudinais

Procedimentais

Conflitos entre as questões ambientais emergentes e a demanda social

Facilitar processos de respeito mútuo em situações de debates e conflitos de opinião

Desenvolver e reconhecer diferentes métodos de pesquisa bibliográfica

Conservação, proteção da biodiversidade;

Serviços Ecossistêmicos;

 

Influenciar a promoção de lideranças capazes de coordenar coletivos com objetivos comuns, honrando a concatenação das partes na formação do todo;

Produção acadêmica escrita em regras padronizadas

 

Matrizes Energéticas, Produção primária e desenvolvimento sustentável;

Favorecer o reconhecimento das habilidades individuais dentro do coletivo, estimulando a participação ativa de todos;

Realizar apresentações formais acadêmicas e políticas;

Co-responsabilização política e cívica nos processos de sustentabilidade socioambiental;

Estimular o interesse pela participação em políticas públicas;

Praticar apresentações e debates orais em público e em pequenos grupos;

Conceito de Participação Política e Cidadania.

Sensibilizar o estudante para o papel construtivo e potencialmente destrutivo do ser humano enquanto organismo pertencente à natureza;

Produção de material para transposição didática de idéias e projetos

Cuidado e respeito à natureza;

Equidade e justiça como principio para desenvolvimento de sociedades sustentáveis.

Auxiliar no desenvolvimento da cidadania e criticidade nas variadas escalas (local regional e global).

 

 

Tabela 1. Objetivos do projeto “Debatendo as questões ambientais no mundo”.

 

A estrutura do projeto

 

O projeto foi desenvolvido em três momentos: pesquisa e planejamento, desenvolvimento e prática de debates e, apresentação final. Iniciou-se na apresentação das idéias e objetivos para os estudantes, tendo como pano de fundo a discussões que eles mesmos tiveram em sala sobre os noticiários em torno da COP15(Conferência de Copenhague) no de 2009. Assim, de forma geral os alunos sabiam que teriam que representar um país em um debate formal. Para esta atividade eles deveriam pesquisar a respeito da situação social, geográfica, econômica e ambiental de sua região e propor soluções para 3 conflitos encontrados. Estas soluções seriam colocadas em debate por seus colegas.

 

Organização Geral

 

O projeto foi realizado como parte das atividades de educação formal em sala de aula durante a disciplina de ciências do 8º ano do Ensino Fundamental no Colégio João Friaza, município de Embu-Guaçu, no ano de 2010. A turma era composta por 20 alunos.

Este projeto teve um período longo de duração: cerca de dois meses para sua conclusão. Ao longo deste período a turma disponha de um total de quatro aulas de ciências por semana, sendo que apenas uma aula de 50 minutos era dedicada ao projeto. Assim, atividades em casa eram frequentes, dada a limitação de tempo em sala.

Para acompanhar os grupos, em todas as aulas os estudantes desenvolviam cronogramas de atividades e objetivos para serem cumpridos semanalmente.  Havia um combinado de organização entre professora e alunos, visando um debate final de boa qualidade. Como forma de avaliação os alunos sabiam que alguns itens seriam considerados na formulação de sua nota: relatórios das atividades, cumprimento de cronograma e atividades semanais, produção coletiva e individual em sala, apresentação e debates. É importante ressaltar que nos relatórios os estudantes deveriam gerar textos em sala de aula com os seguintes temas: escolha dos países e justificativa, pesquisa a respeito dos países escolhidos, desenvolvimento de três propostas diferentes para três complicações socioambientais levantadas. Vale dizer que cada atividade teve o mesmo peso na composição final da nota.

Por tal razão, em primeiro lugar separaram-se grupos com número igual de pessoas. Os grupos deveriam escolher um país para que pudessem representar.  Assim, com dos recursos disponíveis na biblioteca, os estudantes deviam escolher seus países e justificar suas escolhas.

Durante as aulas, faziam-se acompanhamentos das pesquisas bibliográficas; usando livros, internet, revistas, documentários e etc. A principal ideia era levantar as dados dos países que escolhessem e, depois, terem condições de desenhar um panorama geral e propor soluções para os possíveis problemas encontrados. O acompanhamento da produção de relatórios era dado aula a aula.

Com os dados em mãos, os alunos eram auxiliados na criação de três estratégias e soluções que viabilizassem a mitigação ou adaptação social dos problemas encontrados. A solução deveria necessariamente refletir a realidade, proporcionando bem-estar social e viabilidade ambiental..

As propostas prontas, os grupos apresentaram suas estratégias e sugestões para a turma, ouvindo sugestões dos outros colegas, além de questionamentos críticos. A idéia dessa apresentação era proporcionar não apenas a demonstração das produções coletivas, mas favorecer o reconhecimento dos projetos para toda a turma. Assim, os grupos tiveram acesso aos projetos e estratégias antecipadamente, visando prepararem-se para novos debates prévios e para a apresentação final.

Em seguida foram expostos a três debates prévios.  De maneira que todos os grupos puderam aprimorar suas propostas e questionamentos. Além disso, através dessas práticas era favorecer a autoconfiança intelectual e psicologica para o debate público.

 Os debates eram estruturados em três fases: apresentação geral dos países, perguntas sorteadas aleatoriamente entre grupos e perguntas livres (tanto dos países quanto do público da audiência). Assim, depois de pesquisarem e praticarem, expuseram-se ao público de pais e convidados.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO - RELATO DE EXPERIÊNCIA:

 

Nesta seção do artigo pretendo elucidar a relevância dessa experiência segundo o relato de alguns estudantes. Não se trata de um levantamento quantitativo, mas de um breve descrição a partir de entrevistas cedidas por cinco alunos, três anônimos e 2 identificados. Embora, para este trabalho nenhuma das falas tenha sido identificada.

É importante ressaltar que a pesquisa qualitativa não precisa de uma amostra em massa. Dados numéricos não são capazes de demonstrar informações subjetivas próprias da formação dos indivíduos; tal como é proporcionado por processos educacionais (ZAGO, 2003). O ganho social, histórico e cultural faz parte do desenvolvimento humano (VYGOTSKY, 2001), e estes são de difícil mensuração exata. 

Assim, através de uma rede social ( na qual até os dias atuais os alunos mantém contato entre eles),  foi enviado aos alunos um link com um questionário semi-estruturado aberto. O link retornava com as respostas dadas, mas foi requerido anonimidade, afim de garantir liberdade de expressão aos entrevistados. Duas alunas*2 optaram por mandar suas respostas abertamente, identificando-se por meio de correio de mensagens pessoal, mas ressalto que neste relato nenhuma delas foi identificada.

As questões propostas foram idealizadas buscando conhecer suas memórias em torno do projeto, as lembranças sobre processo de desenvolvimento do mesmo, e a relevância desta proposta em suas vidas. Chegando a um total de cinco questões discursivas*1:

1. Em 2010 sua turma participou de uma atividade na qual o objetivo final era o debate de diferentes problemas relacionado ao meio ambiente.. Mencione livremente o que você se recorda da atividade.

2. Descreva o que você se lembra da construção da atividade? Liste em forma numérica suas lembranças em ordem de importância. Não há uma resposta correta, apenas diga o que para você foi mais importante, até o que foi menos importante.

3. Quais foram os problemas que você teve que enfrentar? Você considera que eles tiveram algum papel no seu desenvolvimento?

4. Depois de todos esses anos, o que você pensa da atividade e de todo o processo de desenvolvimento da mesma? Qual a relevância de atividades como essa?

 

Vale ressaltar que as questões foram elaboradas buscando compreender quais lembranças ficaram após todo o tempo que se passou depois da aplicação do projeto. Nas seções seguintes a ordem das questões não é levada em conta, pois o que nos interessa neste trabalho é analisar a relação de relevância do processo quando tomamos em consideração os objetivos pedagógicos do projeto. Além disso, as falas são apresentadas de acordo com análise de categorização de tópicos a posteriori.

De modo que alguns pontos da entrevista foram categorizados de acordo com elementos similares entre as falas. Por fim, obtive as seguintes categorias relevantes: ganhos de conceitos ambientais, ganhos de habilidades, ganhos afetivos e formação cidadã crítica; aprendizagem significativa e memorização do processo escolar; compreensão da realidade social, política e ambiental; processo educacional e desenvolvimento humano; cooperação e cidadania.

 

Ganhos de conceitos ambientais, ganhos de habilidades, ganhos afetivos e formação cidadã crítica

É sabido que a formação integral dos estudantes passa não somente por processos que gerem ganhos de conhecimentos conceituais, mas também pelo ganho de valores e de habilidades. Por isso, nesta seção procuro esclarecer quais dos objetivos propostos para o projeto foram manifestados nas falas destes alunos. Como pode ser observado na Tabela 2, muito do que foi proposto parece ter sido alcançado, embora alguns dos objetivos não foram revelados nas entrevistas.

 

Tabela 2.  Evidências do cumprimento dos objetivos específicos

TIPO

OBJETIVO ESPECÍFICO

EVIDÊNCIA

OBJETIVOS CONCEITUAIS E ÉTICOS

Conflitos entre as questões ambientais emergentes e a demanda social

“ conceito da importância ao adquirir práticas sustentáveis em prol à preservação do meio ambiente. E que isso pode apresentar crescimento socioeconômico no país ajudando no planejamento futuro diversos setores do campo humano” (Anônimo)

 

responder as dúvidas dos demais alunos e achar uma solução que encaixe ambos tópicos do assunto: ambiental e social” (Anônimo)

Conservação, proteção da biodiversidade;

Serviços Ecossistêmicos;

-

Matrizes Energéticas, Produção primária e desenvolvimento sustentável;

“A questão do petróleo no Estados Unidos foi a mais debatida, eu e os outros dois integrantes do grupo ficamos sem respostas em vários momento” (Joana)

Co-responsabilização política e cívica nos processos de sustentabilidade socioambiental;

“Foi uma atividade que fez com que alunos de pouca idade se sentisse importante para conscientizar uma escola toda sobre meio ambiente e que projetos que devidos países criassem poderia ajudar na construção de um futuro meio ambiente mais ‘saudavel’”

Conceito de Participação Política e Cidadania.

-

Cuidado e respeito à natureza;

Equidade e justiça como principio para desenvolvimento de sociedades sustentáveis.

-

OBJETIVOS ATITUDINAIS

Facilitar processos de respeito mútuo em situações de debates e conflitos de opinião;

“tornar mais responsáveis e aprender a lidar com prazos, pressão e com a relação com o outro.”

“Foi um trabalho que rendeu muita crítica, porém, gerou muito aprendizado e conhecimento”

Influenciar a promoção de lideranças capazes de coordenar coletivos com objetivos comuns, honrando a concatenação das partes na formação do todo;

-

Favorecer o reconhecimento das habilidades individuais dentro do coletivo, estimulando a participação ativa de todos;

Dentre os problemas o de trabalhar em grupo para algo grande, foi difícil principalmente no inicio, conciliar as ideias, ouvir o outro e decidir como seriam as coisas.”

Estimular o interesse pela participação cidadã ativa em políticas públicas;

“Faz com que ajude o estudante aprender sobre meio ambiente, mas além disso, política”

Sensibilizar o estudante para o papel construtivo e potencialmente destrutivo do ser humano enquanto organismo pertencente à natureza;

-

Auxiliar no desenvolvimento da cidadania e criticidade nas variadas escalas (local regional e global).

“A relevância desse tipo de atividades é alta pois ajuda a compreender de forma clara como funcionam as coisas no nosso mundo, ao nosso redor, e permite diferentes tipos de desenvolvimento que vão além da sustentabilidade, e da educação ambiental em si.”

OBJETIVOS PROCEDIMENTAIS

Desenvolver e reconhecer diferentes métodos de pesquisa bibliográfica

“não usar somente uma fonte de pesquisas para se construir uma opinião” (Anônimo)

“Um trabalho de muitas pesquisas, pensamentos e debates para construir um bom trabalho” (Anônimo)

“muitas pesquisas, conversas, perguntas, leituras, vídeos, debates”

Produção acadêmica escrita em regras padronizadas

 

“Aprender a escrever, planejar e apresentar um trabalho de grau mais elevado

Realizar apresentações formais acadêmicas e políticas;

“Postura em atividade naquele porte”

Praticar apresentações e debates orais em público e em pequenos grupos;

“ ajudaram a amadurecer de forma critica e comportamento em uma nova situação, diferente do cotidiano “

Produção de material para transposição didática de ideias e projetos

-

 

Segundo o discurso dos estudantes, percebemos alguns objetivos foram melhor sucedidos que outros. Pode-se depreender os seguintes propósitos tiveram mais êxito: àqueles relativos ao desenvolvimento de habilidades,  àqueles que visavam conceitos interface entre sociedade e meio ambiente e, àqueles que estavam correlacionados ao desenvolvimento valores  de respeito com alteridade na turma. No entanto, alguns outros não foram mencionados na entrevista. Em especial, alguns objetivos conceituais importantes como o conceito de participação política e de cidadania. Aqui temos que lidar com limitações metodológicas deste relato, limitações do próprio projeto, ou até mesmo em ambos.

No entanto, os objetivos que foram alcançados são essenciais para o estabelecimento destes alunos enquanto cidadãos capazes de atuarem de forma democrática, crítica e sustentável na sociedade. Assim, neste relato podemos observar a integração de valores e conceitos importantes que visam esta finalidade . Em resumo, como citado por  Layrargues (2000, p. 2), “o documento de Tbilisi afirma que o processo da educação ambiental deve proporcionar, entre outros fatores, a construção de valores e a aquisição de conhecimentos, atitudes e habilidades voltadas para a participação responsável na gestão ambiental. Tanner (1978) lembra ainda que ela busca um envolvimento público através de programas de ação que ensinem os educandos a serem cidadãos ativos numa democracia.

Nas seções a seguir os conteúdos mais relevantes e mais frequentes serão discutidos mais aprofundadamente.

 

Memorização Escolar e Aprendizagem Significativa

 

Antes da apresentação final, nós tivemos muito tempo para discutirmos em sala sobre esses assuntos com os colegas e a professora. Durante essas discussões, faziamos pesquisas e pensávamos em melhoras que poderiam ser acarretadas, tanto ambientalmente quanto socialmente, essas mudanças pensadas para o país que cada um representava. no dia específico para a apresentação, nos vestimos socialmente e apresentamos as ideias pensadas na frente dos pais e convidados especiais. durante esse debate, podiamos fazer perguntas gerais e específicas de cada tema abordado. (Fala de aluno)

 

Neste trecho da fala de um aluno, podemos observar que a memória escolar é bastante detalhada. Mesmo depois de 5 anos, o estudante tem bastante claro como se deu o processo de desenvolvimento do projeto. Esse tipo de memória de longo prazo é decorrente de atividades e processos de alta relevância e repetição (BORUCHOVITCH, 1999). Atuando como indicativo da pertinência do projeto no momento de seu desenvolvimento. 

Deste modo, os tópicos desenvolvidos neste projeto e indicados pelos alunos também ganham significado. Assim, as questões socioambientais e políticas recorrentemente mencionadas nas entrevistas parecem ter sido muito vultosas. O trecho em destaque na fala acima elucida este argumento.

Dentro do processo de escolarização é comum que projetos e atividades sejam facilmente esquecidas, sugerindo seu baixo impacto nas vidas desses alunos. Uma das razões para a qual pode haver menor retenção de memória está ligada a não significatividade dos mesmos. Para Ausubel (1982), a chave para que a aprendizagem significativa aconteça é concatenarmos os conhecimentos prévios dos estudantes àquilo que se pretende ensinar. Neste sentido, as primeiras discussões, gerando novas perguntas, novas pesquisas subseqüentes e por fim uma apresentação final formal e pública pode ter influenciado para dar aos estudantes a memorização do processo.

Nesse sentido a fala de um dos estudantes vem agregar a esta hipótese: “Durante essas discussões, fazíamos pesquisas e pensávamos em melhoras que poderiam ser acarretadas”. As discussões recorrentes, mesmo com público de pouca idade, faziam com que o discurso no qual estavam trabalhando fosse ganhando maior força e consistência. Passando por processos de reflexões constantes a partir daquilo que tinha sido anteriormente proposto pelos grupos. Por esta razão, a sequencia do projeto parece ser bastante consistente com o que é proposto pelo teórico Ausubel (1982).

Em outras falas também podemos notar a lembrança minuciosa do projeto...

 

[...] Primeiro nos foi pedido que nos organizassemos em grupos de nossas escolha, depois nos foi apresentado o projeto onde deveriamos escolher um país e realizar uma pesquisa sobre a realidade do país em todos os aspectos possíveis como : economia, relevo, idh, pib,hidrografia, e um enfoque nos principais problemas ambientais, e projetos ambientais que estivessem em vigor nestes, depois de entender o máximo possível sobre os países passamos a discutir o que é a sustentabilidade e a desenvolver o nosso próprio projeto para ser apresentado na simulação da reunião, assistimos a diferentes livros e consultamos várias fontes, com o objetivo de algo que fosse o mais completo possível e e ao mesmo tempo acessível, no meu em especifico abordamos a utilização de energia solar no país, no caso a espanha, e formas de tornar mais fácil para a população reciclar, incentivos fiscais para empresas, e outros. (Fala de aluno)

 

Embora hajam  múltiplos fatores que possam ter favorecido o processo, os alunos parecem terem sido motivados para a atividade, sendo um forte aliado para aprendizagem significativa (AUSUBEL, 1982) que estimula a memorização (PERGHER, 2005).

 Além disso, é importante notar o grau de autonomia dado a estes estudantes durante o procedimento, tendo o professor papel exclusivo de mediar e auxiliar no direcionamento das ideias.   Como sugere Almeida (2002), à medida que avançam na escolaridade diminui-se peso direto do professor naquilo que os alunos aprendem, sendo importante descobrir formas de facilitação da aprendizagem.

 Assim, o processo de escolarização se inicia com o professor tendo papel direto para a aprendizagem do aluno; no entanto, quando os anos vão avançando o professor deve criar novos ambientes que favoreçam a motivação do estudante e dê a ele autonomia para construir o que se aprende. O professor deve ser humanizador, mediador do processo da construção paulatina da consciência crítica e libertária (FREIRE, 1991).

 

 

Compreensão da Realidade Social, Política e Ambiental

 

[...] Aprender sobre meio ambiente, mas além disso, política, projetos, conscientização e não usar somente uma fonte de pesquisas para se construir uma opinião, não somente em trabalhos escolares, mas sim para todo senso critico que for criar em sua vida. (Fala de aluno)

 

Embora esteja contida em outros trechos, a fala destacada resume, de forma clara, uma das características mais comuns entre as falas dos entrevistados: a intersecção entre meio ambiente e questões sociopolíticas. Sendo uma parte da outra.

Na maior parte das vezes, os projetos de educação ambiental não enfatizam a sociedade e suas demandas da esfera ambiental. Garantindo uma visão menos abrangente das questões ambientais e toda sua complexidade. Muitas atividades atuam na direção de elevar a problemática da escassez de recursos, visando uma educação ambiental bastante recursista ( SAUVÉ, 2005). Sauvé diz, ainda, que: A concepção utilitarista da educação e a representação “recursista” do meio ambiente, adotada pela “educação para o desenvolvimento sustentável”, mostram-se nitidamente reducionistas com respeito a uma educação fundamental preocupada em otimizar a teia de relações entre as pessoas, o grupo social a que pertencem e o meio ambiente. (SAUVÉ, 2005, s/p)

Por esta razão, o alcance do discurso socioambiental pelos estudantes demonstra a possível compreensão desta temática. É sugerido que o entendimento desses assuntos facilita a formação de sujeitos mais críticos e capazes de participar nas tomadas de decisão.Isso porque o modo de vida no qual estamos engendrados é ainda bastante predatório.

É conhecido que o planeta Terra tem recursos finitos, gerando problemas planetários ambientais e sociais (STEFFEN, 2015; ROCKSTROM, 2015). Em especial, por conta do modo de produção e de consumo exacerbados (O’RIORDAN, 2012; ARROW, 2004). No entanto, questões tais: como lidar com o avanço tecnológico e conceito de bem-estar que o modo de produção atual construiu e deflagrou? são ainda superficial nas atividades que tem a sustentabilidade e o meio ambiente como panos de fundo e finalidade.

Assim, infelizmente, dentro das propostas de educação ambiental quase nunca se discute a relação conflituosa na qual a humanidade se encontra (KOLK, 2003). Aqui não se faz crítica a outros tipos de atividades de educação ambiental, mas ao longo do currículo escolar é importante que sejam abordadas múltiplas questões que se relacionem ao meio ambiente, às questões de sustentabilidade e à sociedade.

Em outra fala de estudante, a abrangência de conteúdos e suas variações podem ser evidenciadas.

 

[...] foi uma experiência única que propôs um aprendizado sobre questões tanto ambientais quanto políticas, que me trouxe um conhecimento melhor de ideias que representantes de países possuem um conceito da importância ao adquirir práticas sustentáveis em prol à preservação do meio ambiente. E que isso pode apresentar crescimento socioeconômico no país ajudando no planejamento futuro diversos setores do campo humano. (Fala de aluno)

 

Conteúdos conceituais e éticos demonstrados na fala acima (e em outras falas analisadas) são estrategicamente importantes durante a escolarização de crianças, jovens e adultos. Isso porque o conhecimento e apoderamento dos mesmos, favorecem a formação de um cidadão mais crítico.

Muitos cientistas da área relatam que um dos problemas no meio socioambiental é a pouca pressão desenvolvida pela sociedade sobre os responsáveis pelas decisões importantes. Este fato se dá exatamente pelo pouco domínio de conteúdos e valores na área. Deste modo, a escola ganha ainda mais relevância e peso em busca de melhores resultados neste cenário. Em seu trabalho sobre educação ambiental e cidadania, Jacobi (2003) resume o sentido que a educação pode dar aos rumos sociais

 

Nessa direção, a educação para a cidadania representa a possibilidade de motivar e sensibilizar as pessoas para transformar as diversas formas de participação em potenciais fatores de dinamização da sociedade e de ampliação do controle social da coisa pública, inclusive pelos setores menos mobilizados. Trata-se de criar as condições para a ruptura com a cultura política dominante e para uma nova proposta de sociabilidade baseada na educação para a participação. (JACOBI, 2003 pg.203)

 

Pelo exposto, é possível compreender que esta atividade foi capaz de romper barreiras importantes para a formação social desses estudantes.

 

Processo Educacional e Desenvolvimento Humano

 

Como sugere Vigotsky (2003),o desenvolvimento humano se dá tanto na esfera biológica quanto nas esferas social, histórico e cultural.  Ademais, a escola faz parte do desenvolvimento humano, sendo ela capaz de auxiliar na formação do sujeito a partir daquilo que o indivíduo é capaz de aprender. Isto posto, a riqueza  das experiências nas quais os indivíduos estão sujeitos pode aprimorá-los na qualidade de seres  humanos. Em algumas das falas, essa característica foi evidenciada.

 

Eu considero a atividade importante até hoje, e acho que poderia ser adaptada e trabalhada por todas as escolas e ainda ser dividida em atividades menores para que desde mais jovens as crianças possam ir desenvolvendo um pensando critico a respeito da sustentabilidade, assim como eu tive a oportunidade. A relevância desse tipo de atividades é alta pois ajuda a compreender de forma clara como funcionam as coisas no nosso mundo, ao nosso redor, e permite diferentes tipos de desenvolvimento que vão além da sustentabilidade, e da educação ambiental em si. (Fala de aluno)

 

[...] até hoje penso que foi muito importante essa atividade para eu obter pebsamentos maduros sobre os problemas ambientais que o nosso mundo se encontra. observo que meus ideais, e de meus colegas, são diferentes dos demais jovens que não tiveram a oportunidade que tivemos. (Fala de aluno)

 

Ambas as falas destacadas exemplificam o que Paulo Freire chamou de educação libertadora. Aqui chegamos ao nível de autonomia educacional, de quando o estudante está consciente do papel que cumpre em sua própria história, na história de seus pares e as possibilidades que lhes são dadas pelos processos educacionais (FREIRE, 1997).  Os discursos aqui representados demonstram a relevância de atividades como esta para a sustentantação desse ideal pedagógico. Este argumento fica evidenciado quando, por exemplo, o estudante aponta reconhecer diferenças de pensamento entre ele e outros jovens que não tiveram a mesma oportunidade. Ou ainda, quando o próprio estudante, dotado de clareza, sugere que outras faixas etárias possam participar de exercícios como este.  Além disso, por este último exemplo também  evidencia-se a capacidade crítica do estudante para com  a própria atividade na qual esteve presente.

 Neste sentido, tomar posse de sua história e ser capaz de compreender os processos conversa com o que Vigotsky propõem como ponto importante para desenvolver o ser humano em sua plenitude. Desenvolver-se não está exclusivamente relacionado às questões inatas, mas também à fatores sócio-históricos que, ao aprimorar o pensamento e crítica do sujeito, pode torná-lo autônomo e capaz de ler a sua própria história, de modo contextualizado (VIGOSTY, 2003; FREIRE 1997).

Para reforçar esta ideia, é interessante observar que um dos requisitos mais importantes na formação do sujeito é que a ele seja dado a oportunidade de ser livre, e para ser livre o conhecimento atua como ferramenta para uma compreensão crítica durante toda a vida, em especial no processo de escolarização (FREIRE, 1997). Como já mencionado, a conquista da autonomia é essencial para o desenvolvimento holístico dos sujeitos quanto seres humanos.  Mas, para isso, não necessárias experiências educacionais contextualizadas e que ampliem a bagagem social, histórica e cultural são essenciais.

Portanto, a autonomia é uma das grandes finalidades da educação, e não podemos pensá-la sem espaços de liberdade. Por meio de diversas falas aqui transcritas, observações do andamento do projeto e outras falas não concedidas para este relato, os espaços dos debates e da liberdade de expressão dentro da complexidade deste projeto, atuaram de forma positiva para a formação de todos os envolvidos no projeto: pais, alunos e professor-mediador.

 

“Autonomia pode ser entendida como autodeterminação (ou auto-eco-determinação, uma  vez que o meio, o mundo externo, sempre participa deste processo – cf. Morin). Onde não se cultiva a liberdade, a lógica da (de)formação é da heteronomia, da opressão, da anulação. Ao contrário, através da liberdade, a pessoa vai fazendo opções e assim constituindo sua identidade” (VASCONCELLOS, 2007, p. 4)

 

Cooperação e Cidadania

 

Reconhecer as habilidades e singularidades em um grupo de trabalho parece ser alguns dos elementos mais relevantes, visto que isto foi repetidamente apontado por eles, como exemplificado nos seguimentos abaixo:

 

Aprender a trabalhar em grupo. 5-Desenvolver mais minhas habilidades de interpretação e o meu inglês (textos de pesquisa geralmente estavam neste idioma). 6. Ajudar a um garoto da turma que estava em meu grupo no projeto em geral, o que depois o ajudou em outras disciplinas. (Fala de aluno)

 

Dentre os problemas o de trabalhar em grupo para algo grande, foi difícil principalmente no início, conciliar as ideias, ouvir o outro e decidir como seriam as coisas. (Fala de aluno)

 

[...] Trabalho em equipe, debates, conversas entre os alunos e a professora, perguntas feitas para nós, apresentação final. (Fala de aluno)

 

As práticas de cooperação, coordenação, tolerância são importantes durante toda a vida do estudante. Estas atuam no desenvolvimento do sujeito, não apenas durante as suas atividades escolares, mas também em suas experiências sociais, profissionais e pessoais. Isso porque todas elas demandam diversas características e valores que nos habilitem a conviver de maneira mais parcimoniosa.

Estas habilidades são relevantes, em especial no tempo no qual estamos,  posto que a atual sociedade é um sistema plural. Convivemos entre uma variedade de valores, culturas, características físicas e psicológicas, preferências sexuais, étnicas, etc. Esse cenário complexo demanda que todos estejam livres de preconceitos, favorecendo o convívio e extração das qualidades de cada um. Assim, justifica-se a importância de atividades que proporcione a construção de valores, em especial o respeito, ao longo da escolarização nos dias atuais.

Pelos relatos, pode ser sugerido que a atividade facilitou a cooperação entre os alunos. E, embora tenham surgido conflitos durante o processo, o exercício da escuta e do diálogo fez com os grupos ficassem mais concatenados por meio das especialidades de cada um deles. Neste viés, esta atividade atuou com eficiência na promoção individual e coletiva.

Assim como Prette (2012) encontrou em sua experiência em sala, esta também parece ter sido uma atividade que gerou um impacto positivo quanto ao respeito e à compreensão da alteridade da turma. Muito embora essa tenha sido uma intervenção breve e pontual, sua significância pode atuar de forma benéfica ao longo da vida destes estudantes.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS E REFLEXÃO DA PRÁTICA

 

Como esclarecido em etapas anteriores, esse artigo tem como objetivo central relatar a experiência de um dos diversos projetos desenvolvidos ao longo dos anos em que lecionei no Colégio João Friaza, no município de Embu-Guaçu. Para isso, este relato contou com algumas entrevistas, análises das mesmas e dos objetivos específicos do projeto.

Analisando as falas dos entrevistados, podemos considerar que a atividade foi bem-sucedida. Isso dado que a maior parte dos objetivos foram evidenciados nos discursos coletados.  Além disso, as  categorias  apresentadas aqui revelam que o projeto deve ter colaborado positivamente para o desenvolvimento dos estudantes enquanto cidadãos mais críticos. Assim, pode-se afirmar que o projeto foi uma atividade que provocou os estudantes, levando-os à uma aprendizagem significativa em torno das questões sociais, políticas e ambientais. O processo colaborou para a memorização, afirmando a relação de significância e afetividade para com esta intervenção. Como observado, alguns dos tópicos que devem ter especialmente favorecido esta relação com os conteúdos propostos foram as questões de conflitos sociais e ambientais, relacionamento entre os componentes de um mesmo grupo e as habilidades desenvolvidas, dada a complexidade da atividade em si.

É importante constatar, também, que não foram apenas os estudantes que se beneficiaram deste processo, mas também pais e professora. Observei a presença e o envolvimento maciço dos responsáveis, tanto ao longo do processo através de conversas informais e reuniões de pais, quanto no dia apresentação final, por meio da presença e das perguntas geradas. Mesmo depois de muitos anos, alguns desses pais ainda conversam comigo sobre o projeto e suas implicações.

Somado à isso, vale ressaltar meu próprio aprimoramento e desenvolvimento profissional e cidadão. Aprender a liderar e intermediar relações e compreender mais profundamente conceitos que os alunos traziam como resultados de suas pesquisas e dificuldades com a temática. Assim, a atividade foi enriquecedora e desafiadora para todos nós: sujeitos em contínua formação.

É primordial que seja considerado alguns pontos que influenciaram para o sucesso desta atividade. Como descrito, a turma tinha 20 alunos e este foi um fator que possivelmente viabilizou o melhor desempenho dos alunos ao longo do projeto, visto que o número pequeno de alunos facilita a coordenação, concentração e avaliação do rendimento coletivo e individual. Não obstante, a flexibilidade, participação, apoio e liberdade dada a mim pela coordenação e direção da escola durante todo o projeto foram relevantes. A gestão democrática da escola foi imprescindível para o andamento da proposta. Como professora, sempre participei de toda construção curricular, tanto na disciplina de ciências, quanto no desenho e planejamento da concepção de escola que queríamos construir, enquanto grupo escolar.

Além disso, devo considerar o contexto da escola, tratando-se de uma escola de pequeno porte,  inserida em ambiente bastante arborizado e com relações familiares estreitas. Uma situação bastante incomum no cenário educacional. Dadas essas reflexões e contextualização, o relato que traço aqui é bastante peculiar.

Concorda-se, também, que esta atividade foi um projeto breve, tendo havido outras experiências que atuaram para o desenvolvimento das pessoas aqui envolvidas. Embora, estes dados não mudem os resultados apresentados, mas tenham cumprido papel de influência sobre eles.

No entanto, muitos problemas aconteceram na execução do projeto. Algumas situações de conflito entre os estudantes tiveram que ser trabalhadas, a fim de evitar condições de desrespeito, em especial nos momentos em que os debates estavam mais acalorados. Outro ponto foi a impossibilidade de atuar de forma mais abrangente, envolvendo mais professores. Isso aconteceu dada a própria dinâmica escolar, na qual os professores têm diferentes demandas e horários.

Finalizo este relato com o apontamento de Sorrentino (2005) que diz que a educação ambiental cumpre um papel dialético entre sociedade e o Estado. Mas, para que isso possa acontecer de forma plena, o processo educacional deve dar a ambos condições de participação e equiparação. Assim, uma variedade de conhecimentos e valores cumprem um papel importante para que ambas as esferas estejam coesas entre si. Concorda-se, também, que a sustentabilidade e as questões ambientais não sejam sempre um fim claramente definido, mas sim um caminho para atingi-lo, cabendo a cada um traçá-lo de acordo com sua conveniência e contexto (SAUVÉ, 2005). 

 

 

REFERÊNCIAS

 

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Ilustrações: Silvana Santos