GESTÃO DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO: INICIATIVA PARA CONCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL EM SANTA ERNESTINA - SP

Hélio Ângelo Lepre¹; Rener Luciano de Souza Ferraz²; João Teixeira Neto³; Michele Aparecida Reis¹; Ana Cristina Paganini¹

¹ Técnicos em Meio Ambiente pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial - Senac Jaboticabal, SP, E-mail: paganinicris@hotmail.com

² Graduado e Mestre em Ciências Agrárias, doutorando em Agronomia e docente do Curso Técnico em Meio Ambiente do Senac Jaboticabal, SP, E-mail: ferraz340@gmail.com

³ Biólogo, Esp. em Didática e Gestão Pedagógica, Docente do Curso Técnico em Meio Ambiente do Senac Jaboticabal, SP, E-mail: joao.tneto@sp.senac.br

Resumo

Atualmente, a população e a comunidade cientifica tem demostrado preocupação com as alterações ocorridas no planeta, de modo que os resíduos sólidos têm permeado o cerne desta inquietação. Assim, objetivou-se apresentar a gestão de resíduos oriundos de construções e demolições como iniciativa para conscientização e educação ambiental em Santa Ernestina, SP. Na cidade, embora inexista um plano específico para reutilização e reciclagem dos resíduos, consegue-se diminuir a quantidade dos mesmos, utilizando-os para manutenção de estradas rurais, sendo esta aplicabilidade passiva de conscientização ambiental da população local através de ações educativas.

Palavras-Chave: Entulhos, Reutilização, Educação ambiental.

Introdução

Atualmente, populares e pesquisadores espalhados pelo mundo têm demonstrado preocupação com a tendência de alterações passivas de causarem danos ao planeta, sendo estas alterações ameaçadoras ao meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável (ASTE et al., 2015). Muitos trabalhos de pesquisa têm sido desenvolvidos abordando temas diversos inerentes às questões ambientais. Como exemplo, podem ser citados trabalhos que abordam o meio ambiente e sociedade (TAN; LU, 2015), turismo (TANG, 2015), arborização urbana (KABISCH et al., 2015), aquecimento global (ASTE et al., 2015), energias renováveis provenientes de biomassa (DUREN et al., 2015), além de construções e demolições (QINGQIN; MIAO, 2015).

É importante salientar que atividades relacionadas ao setor da construção civil, como edificação, reforma e demolição podem gerar resíduos danosos ao meio ambiente (WU et al., 2014). Estes pesquisadores salientam que em tempos longínquos pouca importância era dada a estes “entulhos”, porém, na atualidade questões relacionadas a contaminantes do solo (GALVÍN et al., 2014), água (BUTERA et al., 2014) e atmosfera (MASIOL et al., 2015) impulsionaram a criação de sistemas de gestão destes materiais.

Tam (2014) reporta que a gestão de resíduos da construção e demolição é possível e real em muitos países, embora apresente algumas limitações em função da constituição destes materiais. De fato, estes resíduos, quando geridos de forma adequada, podem ser empregados para aterros, construção de rampas e restauração de estradas (BUTERA et al., 2014).

Salienta-se que, no Brasil existem pesquisas relevantes acerca dos resíduos gerados pelo setor em questão (SILVA et al., 2014). Entretanto, abordagens visando a conscientização humana por meio da educação ambiental ainda são escassos (JARDIM; FOFONKA, 2013), embora se saiba que praticas educativas possam mudar a realidade local no que tange a estes resíduos.

Diante do exposto, objetivou-se por meio deste trabalho apresentar a gestão de resíduos oriundos de construções e demolições como iniciativa para conscientização e educação ambiental em Santa Ernestina, SP.

Metodologia

O trabalho foi realizado entre os meses de fevereiro e março de 2014 na cidade de Santa Ernestina no interior do Estado de São Paulo. O município possui 5.568 habitantes, sendo a população estimada para 2014 de 5.691 habitantes, ocupando área territorial de 134,431 km² (IBGE, 2014).

Foi realizado estudo de caso aplicado para analisar a destinação dos resíduos sólidos advindos de construções e demolições. Para tanto, procedeu-se observações e registros fotográficos de diversos pontos com atividade pertinente e potencial para geração de resíduos. Utilizou-se de câmera fotográfica e fichas de anotações.

Para contemplar de forma plena o objetivo proposto foram observadas as variáveis inerentes aos locais de disposição, coleta, dispensa e reutilização dos resíduos. Com base nos resultados, buscou-se na literatura subsídios teóricos para conscientização ambiental da população da cidade onde o estudo foi realizado, demonstrando a possibilidade de reutilização com êxito para recuperação de estradas rurais.

Resultados e discussão

Com base nas observações realizadas no decorrer do estudo, constatou-se que, majoritariamente os resíduos são dispostos a céu-aberto (Figura 1A, B). Este fato se deve à ausência de um plano de gestão de resíduos sólidos da construção civil no município.

Figura 1. Resíduos de construção e demolição dispersos a céu-aberto. (A) Ponto 1 e (B) Ponto 2. Fonte: Hélio Ângelo Lepre, Santa Ernestina, SP, 2014.

De fato, a ausência de estratégias para gerir a disposição dos “entulhos” gerados nas obras de construção e reforma consistem em fator agravante para a sanidade ambiental. Esta informação é ratificada por Silva et al. (2014) ao reportarem que o crescimento dos resíduos nas grandes cidades transforma-se no grande desafio dos municípios, não só em razão do aumento populacional e do uso de produtos descartáveis, mas pelo conceito de sustentabilidade. A construção civil é um grande gerador de resíduos e estes geralmente são produzidos em decorrência de excessiva quantidade de perdas e desperdícios.

Verificou-se que, semanalmente em dias aleatórios são disponibilizados veículos geridos sob jurisprudência municipal para coleta e destinação dos resíduos distribuídos na cidade. Especificamente, é disponibilizado trator implementado de pá carregadeira (Figura 2A) e caminhão tipo caçamba (Figura 2B) para carregamento do material.

Figura 2. Resíduos de construção sendo recolhidos (A) e inseridos na caçamba para transporte (B). Fonte: Hélio Ângelo Lepre, Santa Ernestina, SP, 2014.

Cabe a ressalva de que a utilização de veículos oficiais para realização destas atividades é de fundamental importância para garantir a legalidade da atividade. Assim, embora inexista um plano de gestão destes resíduos, as autoridades locais, ao disponibilizarem este veículo, evitam o transporte clandestino destes materiais e consequente descarte em locais impróprios. Por exemplo, Seror et al. (2014) realizaram um estudo de caso em três distritos de Israel (Haifa, Jerusalem e Southern) e verificaram que o transporte e descarte ilegal destes resíduos é duramente punido com a apreensão do veículo. Estes pesquisadores concluíram que a implementação da lei de apreensão mostrou-se excelente ferramenta de auxílio a gestão destes materiais.

Pode-se observar nas figuras 3A e B o descarregamento de resíduos da construção civil em estradas rurais visando o aterramento para evitar erosões, além de contribuir para a terraplanagem das referidas estradas facilitando o trafego de veículos em geral e transporte de pessoas e bens de consumo.

Figura 3. Resíduos de construção sendo descarregados nas estradas. (A) Ponto e (B) ponto 2. Fonte: Hélio Ângelo Lepre, Santa Ernestina, SP, 2014.

Pode-se inferir que, na atual conjuntura, tendo em vista a necessidade de destinação e ausência de plano gestor, a utilização destes resíduos está sendo aplicado de forma eficaz na correção de imperfeições em estradas rurais. Butera et al. (2014) ratificam esta informação ao informarem que 80% dos resíduos gerados, por exemplo na Holanda, Dinamarca, Alemanha e Estónia são empregados na recuperação de estradas.

De fato, no município de Santa Ernestina, SP, o emprego de resíduos oriundos de construções e demolições mostrou-se eficaz para fins de aterro em estradas rurais, notadamente por corrigir as imperfeições e possibilitar o transito de veículos de passeio, máquinas, motocicletas e pessoas, sem o risco de acidentes provocados por fendas existentes nas estradas. Conforme ilustrado nas figuras 4A e B, a aplicação de resíduos proporciona melhorias significativas em estradas danificadas.

Figura 4. Estrada (A) e entorno (B) após aplicação de resíduos para correção Fonte: Hélio Ângelo Lepre, Santa Ernestina, SP, 2014.

O sucesso de utilização de “entulhos” para recuperação de estradas não é restrito a locais específicos do planeta. Assim, a experiência realizada em Santa Ernestina, SP pode ser estendida a diversas outras localidades do planeta com igual ou melhor eficiência. Esta informação pode ser sustentada na contribuição científica de Tam (2014) que aborda a reutilização de resíduos de demolição e construção para finalidades diversas, inclusive recuperação de estradas.

Em comunicação oral, com base em informações empíricas, verificou-se que os populares do município de Santa Ernestina, SP, não contrapõem-se a esta prática. Contudo, percebeu-se que, embora a prática em questão seja corriqueira, a população local padece pela escassez de informações técnicas voltadas às questões ambientais envolvidas na atividade. Nesta conjectura, o desenvolvimento deste trabalho e sua extensão na forma de encontros técnicos, dias de campo e eventos ambientais consiste em importante ferramenta de educação ambiental e conscientização da população desta cidade.

Gusson et al. (2014) reportam que a educação ambiental no ambiente escolar é uma necessidade urgente, de modo que o engajamento pessoal e coletivo dos educadores e dos educandos no processo de transformação social é de grande importância. Este cenário denota a relevância e abrangência desta pesquisa, sobretudo pela possibilidade de ser utilizada em ambiente acadêmico, além de possibilitar a educação ambiental de pessoal que não estão inseridas nas escolas.

Considerações finais

Em diversos locais do planeta terra é possível encontrar resíduos de demolições e construções civis, sendo estes empregados para diversas finalidades. Na cidade de Santa Ernestina, SP, embora inexista um plano específico para reutilização e reciclagem dos resíduos, consegue-se diminuir a quantidade dos mesmos, utilizando-os para manutenção de estradas rurais, sendo esta aplicabilidade passiva de conscientização ambiental da população local através de ações educativas.

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